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234.05 ecletismo
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original: português
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234
234.00 projeto
Dois edifícios
industriais de Gregório
Zolko
Os projetos da Amortex
(1968) e Belzer (1976)
Ricardo José Rossin de
Oliveira e Fernando
Guillermo Vázquez Ramos
234.01 arte e
arquitetura
Residência José Pereira Resende [Acervo Rafael Alves Pinto Junior] O museu na margem do
1/3 Tâmega
Um diálogo entre Álvaro
Siza Vieira e Nadir
Afonso
Adriano Tomitão Canas e
Maria Teresa Fonseca
234.02 ecologia e
paisagens urbanas
Contexto social da produção arquitetônica Hortas urbanas e
paisagem
Sudoeste de Goiás, 1928. O grande certão do gentio cayapó – nomeado nos Juan José Mascaró
mapas no lugar do grande vazio no Centro-Oeste – havia se transformado
radicalmente. Ocupado desde a segunda metade do século 19, não era mais 234.03 urbanismo
aquele reduto vazio, improdutivo. Ocupado por extensas fazendas, formava Urbanismo sob pórticos
um aglomerado contínuo: um polígono que alcançava o Rio Paranaíba ao Sul, no Brasil e suas
o rio dos Bois a Leste, as cabeceiras dos rios Claro e Verde ao Norte e repercussões
os rios Jacuba e Verde a Sudoeste. Uma área imensa no centro do país Os casos do Rio de
encravada entre Minas Gerais e Mato Grosso, representando aproximadamente Janeiro e Santos
consideráveis 70.000 km2, ou 20% da área do território estadual. José Marques Carriço e
Ana Elena Salvi
Articulados em torno de núcleos urbanos incipientes, os moradores do 234.04 patrimônio
Sudoeste de Goiás seguiam seus ritmos. Esforçavam-se para manter cultural
minimamente coesa sua comunidade, ainda que imaginária. Mesmo que de Arquitetura e urbanismo
forma precária, pretendiam manter uma política de unidade, e garantir a em alta qualidade
posse de um território comum. Sabiam que a base era plural, mas estava A experiência jesuítica
fixada em um território conquistado à força e defendido à bala. na região da
Chiquitania boliviana
Os municípios não podiam ser construídos apenas pela elite. Exatamente Antonio Claudio Pinto
por ser elite, necessitava conceitualmente ser distinta, de estipular da Fonseca
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18/01/2021 arquitextos 234.05 ecletismo: Novas formas no sertão | vitruvius
diferenças. As cidades cresciam, a população aumentava e não se tratava 234.06 crítica
mais de um punhado de fazendeiros conquistadores de terras. Não eram mais Coworking e cohousing
fazendeiros isolados, mas moradores do Sudoeste de Goiás. Esforçavam-se Desterritorialização e
para unir-se. Ainda que, considerando a horizontalidade daquela arquitetura de lugar
comunidade, o tempo homogêneo das narrativas sociais (1) seguia a nenhum
afirmação condutiva dos poderes estaduais que lutava para não perder Luiz Felipe da Cunha e
aquela parte do território. Silva
Com isto, não quero dizer que algo os condicionava. O jogo social sempre
foi muito mais rico que qualquer associação de causa e efeito. Maior que
qualquer reducionismo. Aparece como um jogo complexo de condicionantes
econômicas, sociais e culturais que não são impostos puramente, mas
negociados. Filtrados, aceitos ou refugados. Variáveis que criam uma
equação dinâmica que põe em ação os sujeitos, em nada passivos.
Como o colocado por pensadores como Homi Bhabha (2), esta ambivalência é
a marca destas estratégias narrativas: produzir um deslizamento contínuo
de categorias, tais como povo, território, diferenças culturais e
identidades. Exatamente o que aconteceu na ocupação do Sudoeste de Goiás.
Neste recorte, creio que três vetores de forças formaram, neste período,
a base para a construção da alteridade territorial local. Ainda que esta
alteridade territorial seja entendida como uma licença poética. No caso,
as ligações com Minas Gerais, as tensões com Mato Grosso e a afirmação
política do poder estadual no final da década de 1920, formaram estes
vetores. Evidentemente que esta separação é puramente acadêmica. Muitas
destas forças – senão todas – são sobrepostas e relacionadas. E muitas
vezes seguem rumo a um somatório e a um agravamento; outras vezes,
atenuam-se. Mudam de rumo, alternam-se, entrecruzam-se. Como forças
sociais, raramente seguem rumos determinados. Nisto identificamos a fonte
de seu fascínio.
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possibilidades formais e construtivas das conhecidas tradicionalmente.
Como observou Gustavo Neiva Coelho, as regiões da estrada de ferro
passaram a se diferenciar das demais, por uma série de elementos
inovadores e modernizantes, assim como passou a apresentar uma produção
inovando em novos materiais, ao mesmo tempo em que apresentava uma nova
implantação no terreno (5).
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mercantil regional. Em primeiro lugar, a posição estratégica evidente em
relação ao acesso a São Paulo. Em segundo lugar, a oferta de recursos,
tanto próprios quanto oferecidos por Goiás. Por último, a inexistência de
resistências culturais ou repulsas entre os grupos sociais vizinhos, como
ocorriam nas regiões Norte e Nordeste do estado por exemplo. Parecia
haver uma mútua afinidade entre os moradores da região mineira e as
limítrofes de Goiás. Tanto nas relações econômicas, sócias e culturais.
Desfrutavam de uma mesma origem comum, partilhavam os mesmos costumes e o
meio sócio-geográfico era praticamente idêntico (8).
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Medidas impopulares como estas foram suavizadas com medidas mais amenas,
como concurso de jardins por exemplo. A residência com jardins mais
cuidados ganhava isenção fiscal. Com isto a prefeitura procurava
embelezar a cidade ao mesmo tempo em que trazia a comunidade para perto
das iniciativas do executivo. Batia-se com uma mão, mas acariciava com
outra. Ao mesmo tempo, a prefeitura mostrava-se sintonizada com a opinião
difundida amplamente nos periódicos que o jardim era um local tão
importante quanto o espaço doméstico. Era o lugar onde a dona de casa
encontrava uma pausa nas atividades da casa e uma fonte infinita de
satisfação pessoal. Em relação à arquitetura, era a moldura da casa, o
complemento equilibrado para o espaço construído, considerando que da
natureza brotam as plantas, do homem, a ideia.
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Na política da capital, o interventor Pedro Ludovico agia como médico:
depois de diagnosticar o mal, de localizar a doença no espaço, o médico
vai tornar o ambiente salubre, através da medicalização, da higienização
da sociedade e do espaço. Convicto de que salubridade é um estado das
coisas, do meio, transformado e racionalmente preparado de modo que a
saúde dos indivíduos possa ser assegurada Através da higiene pública ele
implementaria o controle político-científico do meio, modificando-o para
torná-lo salubre.
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As obras foram relativamente rápidas. Em meados de 1932 o Mercado já
estava funcionando. A prefeitura precisava de dinheiro e a renda de 5%
sobre as vendas diárias do Mercado não podia ser desperdiçada. O Açougue
seria inaugurado em maio de 1934. As obras da praça estavam adiantadas e
em março de 1933 as lideranças políticas locais criaram uma oportunidade
de afirmação de poder. O interventor Pedro Ludovico veio à região para
inaugurar as obras da prefeitura. Discursos, bailes, churrascos e
jantares se sucederam por três dias. Pedro Ludovico encontrou estradas
cascalhadas, pontes refeitas e cidade urbanizada. O cenário para Manoel
Balbino dificilmente poderia ser mais positivo. Ele próprio dizia ter
encontrado a prefeitura com uma renda de cerca de 150 contos e que em
dois anos de governo esta renda havia excedido 200 contos. Que o
município possuía um rebanho superior a um milhão de cabeças e que sua
administração tinha por preocupação:
notas
1
BHABHA, Homi K. Nacion e Narracion. Buenos Aires, Siglo Veintiuno Editora,
2010, p. 398.
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2
Idem, ibidem, p. 386.
3
Idem, ibidem, p. 412.
4
O Jatahy, n. 66, Jataí, 10 mai. 1912. apud FRANÇA, Basileu Toledo. Cavalo de
roda: a entrada do automóvel em Goiás. Vol. 279. Oriente, 1979, p. 209-210.
5
COELHO, Gustavo Neiva. Arquitetura em Goiás IV. O Ecletismo na arquitetura
Goiana. Casa Abalcoada, 24 jan. 2015
<http://casaabalcoada.blogspot.com/2015/01/arquitetura-em-goias-iii_24.html>.
6
PALACIN, Luis; MORAES, Maria Augusta de Santanna. História de Goiás. Goiânia,
Editora UFG, 1975, p. 94.
7
Mensagem apresentada ao Congresso Legislativo a 13 de maio de 1925 pelo coronel
Miguel da Rocha Lima, Presidente do Estado de Goyaz. Goiás, 13 mai. 1925, p.
24. Disponível in: <http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?
bib=720399&pasta=ano%20191>.
8
CHAUL, Nasr Faial (Org.). Coronelismo em Goiás. Goiânia, Kelps, 1998, p. 83.
9
ARAGÃO, Solange de. A casa, o jardim e a rua no Brasil do século 19. Em Tempo
de Histórias – Publicação do Programa de Pós-Graduação em História PPG-HIS/UnB,
n. 12, Brasília, 2008, p. 152 <
https://periodicos.unb.br/index.php/emtempos/article/view/20061/18460>
10
Diário de Notícias, Rio de Janeiro, 16 jul. 1933. Apud MELLO, Dorival Carvalho.
Jatahy. Páginas esquecidas. Jatai, Sudográfica, 2001, p. 152-153.
11
BHABHA, Homi K. O local da cultura. Belo Horizonte, Editora UFMG, 2014, p. 20.
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