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desafio geopolítico, de
Dominique Kerouedan
POR SAÚDE GLOBAL (DV) 17/08/2013
Diplô Brasil – Nem o altruísmo nem a filantropia explicam a preocupação
das grandes potências com a saúde mundial, mas sim interesses
econômicos, geopolíticos e de segurança. Contudo, a Europa poderia
utilizar melhor os fundos concedidos às instituições internacionais
Em 1996, Bill Clinton, então presidente dos Estados Unidos, publicou uma
norma convocando uma estratégia mais orientada para as doenças
infecciosas. Era menos um impulso de altruísmo que uma preocupação de
segurança nacional. Propagação, consequências econômicas, atraso no
desenvolvimento de novas moléculas, resistência de agentes infecciosos
aos antibióticos, mobilidade das populações, crescimento das megalópoles,
fragilidade dos sistemas de saúde dos países pobres: esses eram os tópicos
que perturbavam a administração norte-americana, e isso bem antes dos
ataques de 11 de setembro de 2001.
A “ameaça” chegou até a ONU. Pela primeira vez em sua história, no dia
10 de janeiro de 2000, em Nova York, o Conselho de Segurança incluiu na
ordem do dia de sua reunião um assunto não relacionado a um risco direto
de conflito: “A situação na África: o impacto da aids sobre a paz e a
segurança na África”. Os Estados Unidos presidiam as comunicações, com
o vice-presidente Al Gore de manhã e o embaixador norte-americano na
ONU, Richard Holbrooke, à tarde. Dali saíram várias resoluções. O artigo
90 da resolução da sessão especial da Assembleia Geral das Nações Unidas
de 27 de junho de 2001 solicitava a criação de um “fundo global de saúde e
HIV/aids para financiar uma resposta urgente à epidemia em uma
abordagem integrada de prevenção, cuidado, apoio e tratamento, e para
apoiar os Estados em seus esforços contra a aids, com prioridade para os
países mais afetados, especialmente na África subsaariana e Caribe”.
Essas observações contribuem para entender por que a ajuda tem uma
eficácia limitada: quaisquer que sejam os montantes alocados pelo Fundo
Global ou pelo governo norte-americano por meio do Plano de Emergência
para o Combate à Aids (Pepfar,8 na sigla em inglês), o desempenho desses
programas em campo revela-se decepcionante. A pertinência do
financiamento para a prevenção, além do ajuste das intervenções a
dinâmicas demográficas, urbanas, sociais, econômicas e de conflitos, e às
especificidades nacionais de propagação são elementos fundamentais que
recebem relativamente pouca atenção.
BOX:
BOX 2:
Saúde, um investimento
Severamente criticado pelo dano social causado por suas políticas de ajuste
estrutural, o Banco Mundial decidiu então “investir na saúde” – título de
seu relatório sobre o desenvolvimento no mundo em 1993. Nele podemos
ler: “Visto que um indivíduo saudável é economicamente mais produtivo e
a taxa de crescimento econômico do país ganha com isso, o investimento
na saúde é um meio, entre outros, de acelerar o desenvolvimento”. Pela
primeira vez, a OMS se viu obrigada a dividir suas prerrogativas em
matéria de saúde e desenvolvimento.
BOX 3:
•HIV/aids: 70% das mortes em todo o mundo; 75% das novas infecções –
a maioria de jovens, meninas e mulheres (60% dos casos).
Dominique Kerouedan
02 de Julho de 2013