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SILVA, Ricardo. A Ideologia do Estado Autoritário no Brasil. Chapecó, Argos, 2004, 300 p.
Em fins de 2004, foi lançado no mercado editorial brasileiro, com uma pequena tiragem
(mil cópias, apenas), Ideologia do Estado Autoritário no Brasil, de Ricardo Silva, que,
quase um ano depois de ter saído do prelo é pouco conhecido. Uma das razões disso talvez
seja o fato de a editora estar fora do eixo Rio-São Paulo, pois foi editada pela Editora Argos,
de Chapecó, Santa Catarina. Sendo assim, esperamos que a resenha possa contribuir para
tornar mais conhecidos, editora, publicação e autor.
O livro vai ao encontro da ausência de estudos sobre a ideologia autoritária no Brasil
que ultrapassem o período do Estado Novo, lacuna que o autor pretende preencher, sem,
no entanto, esgotar. Um dos méritos de seu trabalho é justamente este: ser um estudo
pioneiro sobre a ideologia autoritária pós-1945. Conforme ele, seu modelo de análise se
coloca como alternativo em relação aos até então adotados pela historiografia, pois parte
de uma compreensão dos componentes temáticos que organizam a estrutura argumentati-
va do sistema ideológico sob exame. Serão as suas influências mais visíveis Debrun e
Lamounier, dos quais busca ultrapassar os limites relativos às suas interpretações sobre o
núcleo do sistema ideológico do Estado autoritário e sua estrutura argumentativa.
O conceito de ideologia, que explicita como sendo o conjunto de idéias, representa-
ções e símbolos que são mobilizados para legitimar uma estrutura de dominação já existente
ou o estabelecimento de uma nova estrutura de dominação, conforme discutido no primeiro
capítulo, é utilizado como fundamento de sua percepção de que alguns autores, em suas
análises sobre a ideologia autoritária, acabam por legitimar a constituição de um Estado
fortemente centralizado. Com essa finalidade analisa tanto os ideólogos da geração de 20 e
30 (Alberto Torres, Francisco Campos, Oliveira Vianna, Azevedo Amaral), quanto Eugenio
Gudin e Roberto Campos.
(...) confluem para formar uma concepção de Estado considerada a única compatível com a
realidade social brasileira. Para que a crise fosse superada, para que a nação pudesse ser
organizada e para que o povo [incapaz politicamente] fosse educado, seria necessária a institui-
ção de uma forma de Estado que atribuísse ampla liberdade de movimentos aos governantes (...)
O executivo é considerado o poder estatal responsável pela ação do Estado sobre a sociedade.
É por meio do executivo que o Estado age para criar uma sociedade de características
homogêneas, disciplinada e de povo obediente, capaz de dar suporte a uma nação orga-
nizada. (p. 185)
Nota
*
Mestrando no Programa de Estudos Pós-graduado em História da PUC-SP, bolsista Fundação Ford.