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15/01/2021 A Batalha de Poitiers (732) por um cronista árabe anônimo | Idade Média - Prof. Dr.

Ricardo da Costa

A Batalha de Poitiers (732) por um cronista


árabe anônimo
Trad: Andréia Cristina Lopes Frazão da Silva (mailto:andmar@centroin.com.br)
(PEM-UFRJ (http://www.pem.historia.ufrj.br/))
Notas: Ricardo da Costa (mailto:ricardo@ricardocosta.com)

(...)
Os muçulmanos golpearam os seus inimigos e atravessaram o rio Garonne, assolando
o país e levando inúmeros cativos. Aquele exército passou por todos os lugares como
uma tempestade devastadora. A prosperidade tornou esses guerreiros insaciáveis.
Ao cruzarem o rio, Abderrahman arruinou o condado. O conde refugiou-se em sua
fortaleza, mas os muçulmanos avançaram contra ele e, entrando à força no castelo,
mataram o conde. Para tudo cediam suas cimitarras, que eram ladrões de vidas.
Todas as regiões do reino dos francos temiam aquele exército terrível, assim, os
francos recorreram a seu rei Caldus [Carlos Martel]1 e lhes contaram sobre a
destruição feita pelos cavaleiros muçulmanos, e como subjugaram, ao atravessarem,
toda a terra de Narbonne, Toulouse e Bordeaux. Eles também relataram a morte do
conde. Então o rei alegrou-os, declarando que iria ajudá-los...
O rei montou em seu cavalo, e levou um exército que não pode ser contado, e dirigiu-
se contra os muçulmanos. Ele os encontrou na grande cidade de Tours.
Abderrahman e outros cavaleiros prudentes viram a desordem das tropas
muçulmanas, que estavam pesadas devido aos espólios de guerra; mas eles não se
aventuraram a desagradar os soldados ordenando que eles abandonassem tudo, com
exceção de suas armas e cavalos de guerra. Abderrahman confiou no valor dos seus
soldados e na boa sorte que estava lhe acompanhando. Mas a falta de disciplina é
sempre fatal aos exércitos.
Assim, Abderrahman2 e suas hostes atacaram Tours para ainda adquirir mais espólio.
Eles lutaram contra esta cidade tão ferozmente que a fúria e a crueldade dos
muçulmanos para com os seus habitantes da cidade eram como a fúria e crueldade de
tigres raivosos. Eles assaltaram a cidade quase diante dos olhos do exército que veio
salvá-la. Era manifesto que Deus iria castigar tais excessos; e a sorte logo virou-se
contra os muçulmanos.

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15/01/2021 A Batalha de Poitiers (732) por um cronista árabe anônimo | Idade Média - Prof. Dr. Ricardo da Costa

Próximo ao rio Owar [Loire], os dois grandes exércitos, de duas línguas e de dois
credos, estavam em ordem, um frente ao outro. Os corações de Abderrahman, de seus
capitães e de seus homens estavam cheios de ira e orgulho, e eles foram os que
primeiro começaram a lutar.3 Os cavaleiros muçulmanos dirigiram-se com ferocidade
contra os batalhões dos francos, que resistiram virilmente. Muitos caíram mortos de
ambos os lados, até o pôr do sol.
A noite separou os dois exércitos: mas ao amanhecer os muçulmanos voltaram à
batalha. Os cavaleiros logo chegaram, sem muito esforço, no centro do batalhão
cristão. Mas muitos os muçulmanos estavam temerosos pela segurança do espólio
que tinham armazenado em suas barracas. Um falso grito surgiu nas suas fileiras,
alertando que alguns dentre os inimigos estavam saqueando o acampamento; o que
levou vários esquadrões da cavalaria muçulmana a voltarem atrás para proteger suas
barracas.
Porém, parecia que eles estavam fugindo dos cristãos e todo o exército muçulmano
ficou preocupado. E enquanto Abderrahman se esforçava para controlar o tumulto e
conduzir os seus homens novamente para a luta, guerreiros francos o cercaram e ele
foi perfurado por muitas lanças, de forma que morreu. Então todo o exército
muçulmano evadiu-se ante o inimigo e muitos morreram na fuga (...)4

Notas
1. Carlos Martel (686-741) foi mordomo do Palácio da Austrásia (715-741)

2. Abu Said Abd ar-Rahman ibn Abd Allah al-Gafiqi, Wali (governador) de al-Andaluz

3. Aqui o cronista anônimo faz um grande elogio aos seus, pois a iniciativa do combate era um
ato muito considerado em batalha na Idade Média, tanto por muçulmanos quanto por
cristãos.

4. Traduzido e adaptado de CREASY, Edward.  Fifteen Decisive Battles of the World. New
York, E. P. Dutton & Co., s/d, p. 168-169.

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