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Transformação da periferia e novas

formas de desigualdades nas metrópoles


brasileiras: um olhar sobre as mudanças
na produção habitacional
Transformation of the urban periphery and new forms
of inequality in Brazilian cities: a view on the recent
changes in housing production
Maria Beatriz Cruz Rufino

Resumo
Este artigo tem como objetivo discutir as recentes Abstract
transformações nas periferias das grandes me- This article’s objective is to discuss recent
trópoles brasileiras, considerando a expansão da transformations in the periphery of Brazil’s
produção imobiliária nesses territórios, suportada largest cities, considering the expansion of real
em grande medida pelo lançamento do Programa estate in these territories, strongly supported by
Habitacional Minha Casa Minha Vida. Partindo de the Government’s housing program Minha Casa
uma análise histórica e teórica, procuramos mostrar Minha Vida. Using historical and theoretical
o deslocamento da primazia da contradição entre analyses, we demonstrate the shift in the primacy
capital-trabalho, sob o domínio do capital indus- of the contradiction between capital and labor,
trial, para a primazia de uma contradição urbana, dominated by industrial capital, towards the
sob domínio do capital financeiro. Nossa hipótese primacy of an urban contradiction, dominated
é que a periferia, cuja formação foi caracterizada by financial capital. Our hypothesis is that the
“trinômio casa própria-loteamento periférico-auto­ appropriation of the periphery has consolidated
construção”, consolida-se na atualidade como es- into an essential strategy in the amplification
tratégia essencial na ampliação dos ganhos e na of gains and in the expansion of real estate.
expansão da produção imobiliária. Essa estratégia This strategy of capital appreciation seems to
de valorização do capital parece impor novas for- impose new forms of inequality, which we have
mas de desigualdades, que procuramos explorar. attempted to explore here.
Palavras-chave: financeirização; metrópole; peri- Keywords: financialization; metropolis; periphery;
feria; mercado imobiliário. real estate market.

Cad. Metrop., São Paulo, v. 18, n. 35, pp. 217-236, abr 2016
http://dx.doi.org/10.1590/2236-9996.2016-3510
Maria Beatriz Cruz Rufino

Introdução do estoque de crédito habitacional (Mendonça


e Sachsida, 2012).
Entre 2005 e 2010, a contratação de re-
A primeira década do século XXI é marcada por cursos para a habitação a partir da utilização
uma intensificação da produção imobiliária no do FGTS foi multiplicada em cerca de cinco
Brasil, manifestada pelo aumento do volume vezes. Esse aumento foi ainda mais expressivo
da produção e por forte valorização imobiliá- no caso do SBPE, em que os volumes contrata-
ria. Em 2010, a valorização imobiliária alcan- dos em 2010 superam em mais de dez vezes as
çada foi de 23%, representando a segunda contrações do ano de 2005.
maior taxa mundial (Cf. revista Exame, de 30 Nesse cenário fortemente favorável à ex-
de maio de 2012). Um conjunto de trabalhos e pansão do consumo da produção imobiliária, a
pesquisas desenvolvidos recentemente (Royer, abertura de capital das grandes incorporadoras
2009; Fix, 2012; Shimbo, 2010; Rufino, 2012) se consolidou como uma nova possibilidade de
mostram que esse quadro de intensificação captar recursos do mercado financeiro. Num
da produção imobiliária das cidades brasilei- primeiro ciclo de captação, entre 2005 e 2007,
ras insere-se no movimento geral de conver- 25 empresas, predominantemente localizadas
gência entre capital financeiro e imobiliário e no eixo Rio-São Paulo, conseguiram captar cer-
repercute­em mudanças estruturais na organi- ca de 12 bilhões de reais, consolidando o setor
zação do setor imobiliário e na reconfiguração imobiliário como uma importante área do mer-
das cidades brasileiras. cado de capital financeiro e atraindo grande
No Brasil, a aproximação do capital fi- atenção de investidores estrangeiros, que che-
nanceiro ao setor imobiliário foi suportada, garam a representar “mais de 75% desse vo-
em grande medida, pela redefinição do mar- lume dos capitais” (Rocha Lima Jr. e Gregório,
co regulatório do setor e pelo crescimento da 2008). Procurando ampliar seus investimentos,
oferta de financiamentos, a partir da impor- muitas dessas empresas passaram a se desta-
tante recupe­r ação das principais fontes de car por direcionar sua produção para a popula-
financiamento habitacional, organizadas pelo ção de menor renda (Shimbo, 2010).
Estado no Sistema Financeiro Habitacional Essa nova estratégia do mercado imo­
(SFH) e posteriormente reforçadas na imple- biliá­rio impulsionou um importante movimen-
mentação do Programa Habitacional Minha to de transformação e expansão das periferias
Casa Minha Vida. das grandes metrópoles, cuja formação ori-
Relacionado ao crescimento econômico ginal, esteve particularmente relacionada ao
do país, as tradicionais fontes do SFH – o Fun- intenso processo de urbanização da América
do de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e Latina a partir dos anos 1960, sendo pautada
o Sistema Brasileiro de Poupança e Emprésti- pelo “trinômio casa própria-loteamento perifé-
mos (SBPE) – começam a apresentar resulta- rico-autocontrução” (Bonduki, 2004).
dos excepcionais, configurando-se como base Tradicionalmente a produção imobiliária
fundamental da expansão do setor, sendo res- de mercado, principalmente concentrada nas
ponsáveis no ano de 2012 por cerca de 95% áreas centrais, tendeu a reforçar a dicotomia

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entre centro equipado e territórios precaria- sob domínio do capital financeiro, responsável
mente ocupados. Esses territórios precários pela produção de novas desigualdades.­
contrastavam e valorizavam ainda mais os No desenvolvimento deste artigo, ini-
espaços mais bem servidos e mais equipados. cialmente recuperamos e discutimos uma im-
Esse duplo movimento explicitava diferenças e portante produção bibliográfica que proble-
levava a cidade a um rápido processo de ex- matizou a formação da periferia, interpretada
pansão, pautado por baixa densidade e infor- como expediente de rebaixamento do custo de
malidade nas construções, que passou a ser reprodução da força de trabalho e importante
descrito como sendo “um padrão periférico instrumento de ampliação dos ganhos na in-
de crescimento urbano” (Bolaffi, 1979). Nesse dústria, expressando dessa maneira as intensas
contexto se fortaleceu uma visão segmentada desigualdades da urbanização brasileira.
e dual da urbanização, “onde uma produção Considerando um salto de mais de 30
organizada do espaço – moderna e indus- anos, passamos a investigar as mudanças nas
trial – se contrapunha a outro espaço, onde à periferias das grandes metrópoles na atualida-
apropriação desorganizada do lote se somava de, manifestadas pela disseminação de grandes
a produção precária da casa-própria por traba- condomínios residenciais direcionados para a
lhadores” (Pereira, 2005). população de menor renda. A atuação do setor
É sobre essas periferias, que na atuali- público, por meio de uma política de financia-
dade se evidenciará a expansão da produção mentos e subsídios com meta de construção de
imobiliária de mercado, consubstanciando no- três milhões de habitações, o Programa Minha
vas relações de produção das periferias. Esse Casa Minha Vida foi decisivo na complexifica-
movimento faz com que a forma de produção ção desses territórios.
para mercado, dominante nos mecanismos de Essa nova estratégia de produção do
valorização, se torne também predominante espaço, compreendida dentro de um proces-
no processo de urbanização. Em sua obra, so de financeirização da produção imobiliária,
a Produção Social do Espaço, Gottidiener impõe uma nova lógica de produção da perife-
(2007) já pontuava que a produção do espaço ria que faz emergir novas formas de desigual-
decorria não apenas dos processos econômi- dades. São essas questões que procuramos
cos, mas também e, mais especificamente, de discutir na última parte, antecedendo as con-
uma articulação conjunta entre Estado e setor siderações finais.
imobiliário, que formavam uma coalizão de
interesses entorno da valorização imobiliária
e representavam a vanguarda das transforma-
ções espaciais.
A formação da periferia como
Partindo de uma análise histórica e teó­
expediente de rebaixamento
rica da periferia, procuramos mostrar o desloca- da força de trabalho
mento da primazia da contradição entre capital-
-trabalho, sob o domínio do capital industrial, Em 1970, pela primeira vez a população urba-
para a primazia de uma contradição­urbana,­ na havia superado a rural no Brasil.1 O rápido

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crescimento da população urbana representou ilegais em relação à legislação de uso do solo


ainda a consolidação de grandes aglomerados e ocupados sem qualquer infraestrutura, asso-
metropolitanos. Institucionalizadas em 1973, ciou-se à percepção de um quadro crescente
as regiões metropolitanas passam a concentrar de problemáticas urbanas – insuficiência de
mais da metade da população urbana (Brito e transporte público, incapacidade do poder pú-
Pinho, 2012). O acelerado processo de urbani- blico em prover saneamento, infraestruturas e
zação no Brasil, muito superior ao dos países serviços urbanos para toda a cidade.
desenvolvidos nesse mesmo período, foi um Ao procurar compreender a lógica de
fenômeno até então sem precedentes, direta- produção desse espaço, vários estudos acadê-
mente relacionado ao forte crescimento indus- micos contribuirão para o desenvolvimento de
trial e seu caráter concentrador. uma importante crítica ao Estado e a visão de
Entre 1940 e 1980, o PIB brasileiro cres- planejamento urbano dominante, que se nega-
ceu com média de 7% ao ano, correspondendo va a considerar a cidade real (Tanaka, 2007).
ao período de maior crescimento econômico in- As periferias metropolitanas brasileiras foram
dustrial brasileiro, resultante em grande medi- caracterizadas de uma forma bastante precisa
da da maior diversificação do parque industrial, pela literatura sociológica e urbana nos anos
com o crescimento das indústrias voltadas a 1970 e 1980.
bens de produção como os automóveis, princi- Oliveira (1979) tem um importante papel
palmente concentrado no estado de São Paulo na transposição do pensamento crítico brasi-
(Singer, 1968). leiro para o urbano, articulando a produção da
Conforme desenvolve Maricato (2001), periferia com as condições de super exploração
as mudanças na economia brasileira influen- da força de trabalho na industrialização. Para
ciaram diretamente o padrão de produção esse autor, o moderno (a industrialização) cres-
da cidade, atraindo imenso contingente de ce e se alimenta do atrasado (a super explora-
população rural (dada as condições precárias ção do trabalho); disso resulta, “a contradição,
de vida no campo e as dificuldades de acesso e não apenas o paradoxo, de como uma enor-
aos meios de produção), mas mantendo as me massa de assalariados não chega a consti-
intensas desigualdades que impunham à po- tuir-se um mercado para a produção capitalis-
pulação mais pobre a moradia em áreas com- ta, seja na residência, seja em melhoramentos
pletamente inadequadas ao desenvolvimento urbanos” (Oliveira, 1979).
urbano racional. Estando a autoconstrução no cerne da
Nas décadas de 1950 e 1960, a cidade produção da periferia, como forma de produ-
de São Paulo, por exemplo, registrou taxas de ção predominante, o autor destaca sua relevân-
crescimento superiores a 5%, correspondentes, cia como mecanismo de rebaixamento do custo
no plano espacial, a um forte espraiamento da de reprodução da força de trabalho:
metrópole, associado em grande medida à in-
Trata-se, também neste caso, de como se
tensa migração da população pobre. Essa ex-
dá a produção de uma riqueza social que
pansão, viabilizada pela abertura de loteamen- não é valor, que não é capital, mas é pos-
tos populares distantes das áreas urbanizadas, ta a serviço do capital, na medida em que

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contribua para rebaixar seja o custo da fortalecimento­da habitação como problema,


reprodução da força de trabalho, no caso assumindo quantitativamente a forma de um
da residência, seja o custo da urbaniza-
gigantesco déficit habitacional. Se durante
ção, no caso das pequenas obras públicas
muitos anos o rebaixamento do custo de re-
feitas por moradores em seus bairros, em
suas ruas. (Oliveira, 1979, p.16) produção da força de trabalho a partir da pre-
carização da habitação vinha sendo funcional
Nesse mesmo debate, Kowarick (1979) ao capital, o enfrentamento da questão habi-
também destaca a autoconstrução como meca- tacional revela-se como prioridade, sendo in-
nismo essencial para o rebaixamento do custo corporado no discurso político e resultando no
de reprodução da força de trabalho. Referen- desenho de políticas de maior vulto.
ciando-se nas dinâmicas de São Paulo, o autor Ao mostrar sensibilidade a um grave
afirma que: problema social, no qual até então a ação do
Estado havia sido bastante limitada, o Go-
A solução mais importante do ponto de
verno Militar procurava assegurar o apoio da
vista quantitativo na cidade de São Paulo
é a autoconstrução, esta magnífica fórmu- população e garantia à manutenção da ordem
la que o capitalismo dependente defla- social. Ao mesmo tempo, ao incorporar me-
grou para rebaixar o custo da reprodução canismos financeiros na expansão do crédito,
da força de trabalho, compatibilizando
suportava a expansão das empresas de cons-
uma alta taxa de acumulação com salá-
trução. Em 1964, é instituído o Plano Nacional
rios crescentemente deteriorados. (Kowa-
rick, 1979) da Habitação e criado o Banco Nacional da
Habitação (BNH), órgão gestor do SFH e da
A formação da periferia é nesse sentido política habitacional.
produto da espoliação urbana, termo defini- Para Bolaffi (1979), a ampliação dos in-
do por Kowarick (1979) como a sistemática vestimentos do Estado, principalmente a partir
exclusão­das camadas populares do acesso aos da habitação e de melhorias urbanas, consoli-
serviços de consumo coletivo. da-se como uma importante estratégia de en-
Os espaços periféricos são assim carac- frentamento da crise. “Tudo indica, portanto
terizados como os mais distantes e de menor que o ‘problema da habitação popular’...não
renda diferencial, ocupados pela população de passou de um artifício político formulado para
mais baixa renda inserida de maneira mais pre- enfrentar um problema econômico conjuntu-
cária no mundo do trabalho (Kowarick, 1979; ral” (Bolaffi, 1979).
Bonduki e Rolnik, 1979). Representariam terri- A intervenção do Estado, pautada em
tórios sem Estado, quase totalmente intocados grandes conjuntos habitacionais periféricos
pelas políticas públicas, exceto pelos empreen- impulsionaram novas frentes de desenvolvi-
dimentos habitacionais massificados, implanta- mento metropolitano, tornando mais complexa
dos a partir de finais dos anos 1960. a organização desses territórios e sinalizando
A expansão da periferia nas grandes algumas transformações.
cidades e mais claramente o agravamento A partir da década de 1980, o contexto
dos processos de favelização sustentaram o de estagnação e inflação mudou a dinâmica de

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crescimento urbano que se estruturava desde A consolidação de grandes conjuntos


o início dos anos 1940 do século passado. No habitacionais­populares e o início da implanta-
Brasil, entre 1991 e 2000, houve um aumento ção de condomínios fechados, embora não re-
de 22,5% do número de favelas. Enquanto os presentem processos predominantes na expan-
domicílios cresceram 1,01% em todo o país, os são da periferia são indicativos da ampliação
domicílios em favelas cresceram 4,18%. A fa- da complexidade desses territórios. No contí-
vela, no momento de crise, se coloca como um nuo processo de expansão metropolitana, es-
espaço privilegiado para reprodução da força sas novas dinâmicas se mesclaram ainda com
de trabalho, por garantir acesso mais fácil ao retenção especulativa da terra, tida como im-
mercado de trabalho por sua proximidade a re- portante estratégia para ampliação dos ganhos
giões centrais (Torres e Oliveira, 2001). dos loteadores.
Apesar do grande incremento de fave-
las, representando o aumento do adensamen-
to e empobrecimento de porções mais cen-
trais (Sempla,1990), as periferias das grandes
A produção imobiliária
metrópoles continuaram a crescer em ritmo
na periferia: o Programa
muito mais acelerado que as áreas já conso- Minha Casa Minha Vida
lidadas. Essa relação fica evidente quando se
examinam as taxas de crescimento dos aglo- O mercado imobiliário brasileiro historicamen-
merados metropolitanos ao longo das quatro te foi caracterizado por seu caráter restrito,
últimas décadas. Apesar da sensível redução oferecendo apenas produtos de luxo, que
das taxas de crescimento populacional, a par- normalmente abrangiam menos de 30% da
tir da década de 1980, a periferia dos núcleos população e estavam principalmente localiza-
metropolitanos crescerá com taxas mais ele- das nas áreas mais consolidadas e valorizadas.
vadas repercutindo em maior incremento po- Nesse contexto a classe média tendia a se
pulacional. Essa dinâmica reafirma o padrão apropriar dos recursos subsidiados utilizados
de urbanização extensiva – processo de incor- na promoção pública de moradias, deixando
poração horizontal de áreas rurais adjacentes a população de baixa renda sem alternativas,
aos núcleos urbanos – impondo um caráter que não a ocupação de terras e a construção
metropolitano às nossas periferias (Torres e ilegal de suas casas. Tais dinâmicas levaram a
Oliveira, 2001). uma massiva concentração do déficit habita-
É também a partir da década de 1980 cional entre as famílias mais pobres (Marica-
que começa a se discutir a transformação na to, 2001).
estrutura das cidades a partir da implantação A partir de 2003, com o governo Lula, é
pontual de condomínios fechados, gerando possível observar maiores esforços no sentido
espaços onde os diferentes grupos sociais es- de construção de uma política habitacional
tão muitas vezes próximos, porém separados (Cardoso et al., 2011), garantindo o direciona-
por muros e dispositivos de segurança (Cal- mento dos recursos subsidiados para a popula-
deira, 2000). ção de menor renda.

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Figura 1 – FGTS – Unidades financiadas por faixas de renda

100%

75%

50%

25%

0%
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

0 a 3 SM 3 a 5 SM mais de 5 SM

Fonte: Estatísticas Básicas do Bacen (SFH–FGTS) organizados pelo Observatório das Metrópoles.

Nesse sentido, em paralelo ao vertigino- momento,­ há uma inversão dessa tendên-


so incremento dos fundos paraestatais, como cia, com o avanço da importância do finan-
Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FG- ciamento para as faixas consideradas de
TS), procurou-se garantir seu direcionamen- mercado, mas ainda com rendimentos infe-
to para Habitação de Interesse Social (HIS), riores a 10 salários mínimos.
2
conforme os objetivos originais do fundo. A Além do direcionamento de maior parte
reformulação na constituição e na forma de dos financiamentos oriundos do FGTS para fa-
3
atua­ção Conselho Curador do FGTS em 2003 mílias com mais de três salários, constatou-se
e as resoluções editadas principalmente a par- nesse período uma expressiva recuperação dos
4
tir de 2004 conseguiram dar maior efetivida- valores absolutos do fundo. Recuperação ain-
de ao direcionamento do fundo para a produ- da mais evidente para o caso do FGTS. Entre
ção de Habitação de Interesse Social (HIS), 2005 e 2010, a contratação de recursos para
viabilizada em vários casos pela concessão de a habitação a partir da utilização do FGTS foi
subsídios (Royer, 2009). multiplicado em cerca de cinco vezes, sendo
Essa tendência de reforço da HIS é esse aumento ainda mais expressivo no caso
bastante evidente até 2007, quando 65% do SBPE, em que os volumes contratados em
das unidades financiadas pelo FGTS foram­ 2010 superam em mais de dez vezes as contra-
direcionadas para população de até três ções do ano de 2005, como pode se observar
Salários Mínimos ( SM ) . A par tir desse no Gráfico 2.

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Figura 2 – Contratação de recursos para habitação SBPE/FGTS


(em R$ bilhões)
R$90 bi

R$60 bi

R$30 bi

R$0 bi
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

SBPE FGTS

Fonte: Estatísticas Básicas do Bacen (SFH – SBPE/FGTS) organizadas pelo CBIC Dados.

Na raiz dessa mudança estariam um am- Shimbo (2010) ilumina com bastante
biente macroeconômico favorável e o “apri- clareza os processos que levaram ao cresci-
moramento” institucional por meio da lei mento exponencial de uma produção de mer-
10.931/2004, que ampliou a segurança jurídica cado mais direcionada para a população de
do crédito imobiliário facilitando a retomada menor renda, mostrando os nítidos vínculos
de imóveis através de instrumentos como a com o processo de abertura de capitais de
Alienação Fiduciária. grandes empresas de incorporação. Como a
Com taxas de juros um pouco mais precificação das empresas no mercado de ação
baixas, “tanto o interesse de investidores esteve baseada na projeção de lançamentos
pelo mercado da construção civil pareceu imobiliários a partir da propriedade da terra, a
aumentar,­ como o interesse das institui- abertura de capital dessas empresas foi ante-
ções financeiras pela concessão de crédito cedida da consolidação de grandes bancos de
de longo prazo deu sinais de que essa con- terras, que se tornaram condição central para
cessão poderia ser uma atividade lucrativa” uma valorização fictícia das empresas. Segun-
(Royer, 2009, p. 72). O crescimento econômi- do Shimbo (2010), no final de 2007 as empre-
co evidenciado no período ajuda a explicar o sas de capital aberto dispunham de terrenos
aumen­to da captação de recursos para esses espalhados por todo país num montante total
fundos, que retomam um papel essencial no correspondente a cerca de 37 bilhões de reais,
financiamento imobiliário e na expansão e di- suficientes para construir mais de 400 mil ha-
versificação do mercado imobiliário. bitações (Shimbo, 2010).

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Fundados no discurso do grande déficit condomínios­/bairros­­ imobiliários em periferias


habitacional, na ascensão das classes C e D e metropolitanas de várias regiões do Brasil,
na disponibilidade de financiamento no âmbito desenvolvendo em grandes glebas empreendi-
do SFH, grande parte da produção é direciona- mentos semelhantes que passam a reunir até
da para o chamado segmento econômico. Es- mais de 5.000 unidades.
sas condições são exacerbadas nos relatórios Nesse momento fica evidente a associa-
de grandes consultorias internacionais e nas ção entre a intensificação de uma produção
análises dos jornais e revistas, que apontam residencial massificada em áreas periféricas e o
importantes mudanças no setor em decorrência processo crescente de centralização do capital
desse direcionamento: nas grandes empresas de incorporação – que
se consolidam como as principais beneficiadas
Esse nicho é o grande filão da indústria,
tendo em vista o déficit habitacional do do projeto de articulação entre Mercado Imobi-
país, estimado em 7,2 milhões de mora- liário e Estado, proposto no início da década de
dias. E como já há um leque de possibi- 2000, quando fora lançado o Projeto Moradia.
lidades de financiamentos bancários a Concebido como um dos projetos de desenvol-
prestações baixas, os investimentos em
vimento para o país na campanha de Lula, a
empreendimentos econômicos não ape-
nas se tornaram viáveis, como assumiram proposta visava associar o enfrentamento da
o status de "projetos principais" das em- questão social a crescimento e geração de em-
presas, que, agora, precisam ampliar seu pregos, considerando para isso a ativação do
portfólio para adentrar em um modelo de mercado imobiliário. Como explicita Bonduki
negócio com características peculiares e
(2009) “para concentrar o FGTS na baixa ren-
até então pouco explorado.5
da, seria indispensável a retomada da produ-
Visando assegurar a ampliação dos ga- ção habitacional pelo mercado, para atender a
nhos na produção de habitação para esse seg- classe média, reativando o crédito imobiliário,
mento, evidencia-se a articulação de três estra- particularmente do SPBE (recursos da poupan-
tégias fundamentais: padronização da constru- ça), que não vinha cumprindo os dispositivos
ção, geração de economia de escala e procura legais que exigem a aplicação dos seus fundos
de terrenos baratos. A busca pela disponibilida- em habitação, pois o governo FHC, baseado no
de de grandes glebas e terrenos mais baratos rigor monetarista, enxergava o financiamento
irá direcionar investimentos para as periferias, habitacional como inflacionário”.
ativando as regiões das metrópoles antes não Na sequência da ativação da produção
consideradas pela atuação do mercado formal. imobiliária para setores anteriormente não
Paradigmáticos nesse processo são os atendidos pelo mercado, evidencia-se uma
empreendimentos da empresa Bairro Novo. forte aliança “entre movimentos de luta pela
Originada de uma parceria celebrada em 2007 moradia e setores empresariais representados
entre uma grande incorporadora nacional no Conselho Nacional das Cidades” (Santo
(Gafisa) e uma empreiteira de atuação inter- Amore, 2015, p. 16). Essa aliança é oficializa-
nacional (Odebrecht), essa empresa passa a da com o lançamento da Campanha Nacional
ser responsável pelo lançamento de grandes pela Moradia Digna – uma prioridade social,6

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“cuja meta era a aprovação de uma Proposta produção,­reforçando a expansão da produ-


de Emenda Constitucional (PEC) que vinculas- ção do segmento econômico dos grandes gru-
se 2% dos recursos orçamentários da União e pos imobiliários.
1% dos estados, Distrito Federal e municípios Com o objetivo de criar condições de
aos seus respectivos Fundos de Habitação de ampliação do mercado habitacional para
Interesse Social, lastreando permanentemente atendimento das famílias com renda de até
a política nacional de produção habitacional” 10 SM, o Programa MCMV estabeleceu um
(Santo Amore, 2015). conjunto de subsídios proporcionais à renda
No contexto de lançamentos grandiosos das famílias.­Além dos subsídios, o Programa
e de avanço de articulação de setores e grupos garantiu o aumento do volume de crédito para
antes vistos como rivais, a crise internacional aquisição e produção de moradias, a redução
de 2008 colocou em ameaça a liquidez dos de juros,­e segurança ao negócio imobiliário a
grandes empreendimentos em construção, im- partir da criação do Fundo Garantidor da Habi-
pondo ainda sérias dificuldades financeiras às tação – que aporta recursos para pagamento
grandes empresas que naquele momento deti- das prestações em caso de inadimplência por
nham grande soma de investimentos imobiliza- desemprego e outras eventualidades (Cardoso
dos em bancos de terra. et al., 2011).
Nesse momento, a retórica da importân- Segundo dados do Ministério das Cida-
cia da atividade da construção imobiliária foi des, nos últimos quatro anos foram investidos
reforçada, seja pelo seu papel na provisão de mais 190 bilhões de reais, considerando os
novas habitações contribuindo na solução do subsídios diretos e linhas de crédito disponibi-
‘déficit habitacional’, seja como motor de rea­ lizadas. Esses recursos foram responsáveis pela
tivação da economia nacional, legitimando a contratação 2.980.177 unidades imobiliárias
condução de massivos esforços para ampliação em todo o Brasil. O Programa está atualmente
dos financiamentos e subsídios ao setor. Esses dividido em três faixas de renda (1, 2, 3). Na
esforços ganharam status de Programa habi- faixa 1, que abrange as famílias com renda
tacional e de política anticíclica, com o lança- até 1.600 reais, os subsídios podem chegar até
mento do Programa Minha Casa Minha Vida 96%, dependendo da renda da família. Nesta
(MCMV) em março de 2009 e a promessa de faixa o crédito disponibilizado para as famílias
produção de um milhão de casas. Em junho de deve ser pago em 10 anos. Na faixa de 2, os
2011, foi lançada a segunda etapa do Progra- subsídios podem chegar até 25.000 reais e o
ma, considerando agora a construção de mais crédito disponibilizado deve ser pago em 30
dois milhões de habitações. anos. Na faixa 3, não existe subsídios diretos,
O socorro questionável prestado pelo mas cumpre lembrar que os juros do crédito
Governo Federal, por meio do lançamento do disponibilizado são bastante inferiores aos do
Programa MCMV, garantiu a solvência do es- mercado, e conta-se ainda com isenção de ta-
toque construído, reforçou a valorização das xas e impostos.
ações das grandes empresas do setor e deu No desenho do Programa MCMV, as
fôlego para a retomada do crescimento da grandes empresas participaram de maneira

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Transformação da periferia e novas formas de desigualdades...

decisiva, tornando-se protagonistas em sua Como os preços finais estão pré-deter-


implementação. A importância dessas gran- minados pelos tetos estabelecidos para as
des empresas pode ser também mensurada diferentes faixas, a maximização dos ganhos
pela grande concentração da produção por um do setor privado continua a ser garantida pe-
número pequeno de grandes empresas. Uma la redução do custo de construção e do preço
análise de uma amostra específica dos empre- da terra. A necessidade de redução de custos
endimentos contratados até agosto de 2012, de construção reforçou os esforços em curso
revelou que apenas dez empresas participaram no sentido de padronização, industrialização e
da produção de cerca de 44% das unidades ampliação da escala dos empreendimentos.
produzidas. Dessas dez empresas, seis tinham Apesar de inicialmente o PMCMV ter
capital aberto na bolsa de valores. definido como limite máximo para cada em-
No Programa cabe ao mercado a pro- preendimento a construção de 500 unidades
moção dos empreendimentos imobiliários, habitacionais ou condomínios segmentados em
elaborados de acordo com as exigências até 250 habitações, o que se verificou foi a con-
técnicas mínimas estabelecidas pela Caixa solidação de grandes blocos, acomodando mais
Econômica Federal (CEF), responsável pela de mil unidades (Cardoso et al., 2011). A partir
gestão e operacionalização do PMCMV. O de 2011, o Programa passa a permitir empreen­
papel dos estados e municípios, nesse mo- dimentos de até 1.500 unidades, e em 2012,
delo, passou a ser o de organizar a demanda esse máximo é elevado para 5.000 unidades.
para a faixa de menor renda (faixa 1) e criar Embora tenham sido constantes alguns esfor-
condições complementares para facilitar a ços no sentido de assegurar condições mínimas
produção em todas as faixas, através da de- de qualidade dos empreendimentos, a partir da
soneração tributária e da flexibilização da le- edição das sucessivas normativas do Programa,
gislação urbanística e edilícia dos municípios o que parece prevalecer são as estratégias de
(Cardoso et al., 2011). Para as demais faixas, ampliação dos ganhos por parte das empresas.
os imóveis são disponibilizados no mercado Quando se analisa a localização da produ-
para compradores que se adequem ao perfil ção dos empreendimentos Minha Casa Minha
do Programa. Vida nas regiões metropolitanas, verifica-se
Mesmo prevalecendo o discurso da fina- a predominância da localização dos empre-
lidade social do Programa, a distribuição dos endimentos fora dos municípios-polo, mos-
recursos entre as diferentes faixas de renda trando desarticula­ção do ProgramaPrograma
tendeu a privilegiar os produtos direcionados com a concentração dos déficits e políticas
a faixas de maior renda nas quais a atuação habitacionais­locais. Embora no Brasil pratica-
das grandes empresas nacionais de incorpo- mente não exista planejamento na esfera me-
ração era mais dominante. Embora o déficit tropolitana, o Programa legitimou a metropoli-
para as faixas 2 e 3 juntas correspondesse a zação do déficit, permitindo que os empreendi-
7
23,5% do total do déficit em 2007, 55% das mentos fossem implementados nos municípios
unidades contratadas até abril de 2013 foram mais distantes do núcleo, assegurando maiores
destinadas para as famílias nessas faixas. ganhos ao setor privado.

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Até agosto de 2011, 8 das cerca de existentes tem, entretanto, caráter seletivo,
440.000 unidades contratadas pelo Programa associando basicamente dois aspectos princi-
nas Regiões Metropolitanas, cerca de 57% pais: menor custo da terra e disponibilidade
estavam localizadas nos municípios da perife- de alguma infraestrutura de mobilidade. Tal
ria metropolitana. Para os empreendimentos seletividade tende a reforçar uma metropoli-
da faixa 1, essa tendência é ainda mais forte. zação linear, ao longo dos eixos e infraestru-
Nessa faixa, cerca de 65% dos empreendi- turas de mobilidade existentes, tornando mais
mentos construídos pelo Programa estão lo- custosa a implementação de infraestruturas e
calizados nos municípios mais periféricos das ampliando a distância dos moradores aos lo-
Regiões Metropolitanas. Nesses municípios cais de emprego.
o recebimento de grandes empreendimentos Com a produção simultânea de empreen­
habitacionais é visto como alternativa de di- dimentos para as diferentes faixas, a faixa 1 é
namização econômica, substituindo o papel direcionada para as piores localizações na me-
outrora desempenhado pela indústria, e fonte trópole. Como o Programa não previu, em sua
de imensos ganhos políticos ao possibilitar um primeira etapa, a construção de equipamentos
grande número de unidades de HIS, anterior- públicos, essas áreas, mesmo produzidas a par-
mente inviabilizadas pela dependência de re- tir de relações capitalistas avançadas, surgem
cursos municipais. Nesse sentido, se justificam com carências de equipamentos públicos e per-
amplas isenções fiscais, recomendadas nas manecem sem acesso a comércios e serviços,
normativas do Programa, e flexibilização dos os quais muitas vezes passam a ser oferecidos
instrumentos urbanísticos. por meios informais.
Estudos mais recentes, que apresentam Embora existam particularidades regio-
com precisão a localização geográfica desses nais, um dos resultados claros do Programa é
empreendimentos em regiões metropolitanas o esgarçamento das periferias, consolidando o
específicas, como Rio de Janeiro, Fortaleza e alargamento e a metropolização da produção
Belém (Cardoso et al., 2011; Pequeno, 2013; imobiliária, disseminando a valorização imobi-
Lima et al., 2013), mostram ainda que o fato liária em áreas que até então não haviam sido
de parte desses empreendimentos estar loca- objeto de investimentos imobiliários.
lizada no município-polo não assegura con- O horizonte desse processo parece ser
dições de localização satisfatórias. Nesses a extensão de uma urbanização segregada
municípios, prevalece a localização em áreas e privada (Lencioni, 2003) às periferias, mul-
precárias e periféricas, onde já se localizavam tiplicando sociabilidades restritas a grandes
grandes loteamentos populares, conjuntos condomínios que oferecem como áreas coleti-
habitacionais e favelas. Assim, os empreendi- vas espaços precários e pouco apropriados por
mentos do Programa, além de abrirem frentes seus moradores.
pioneiras de urbanização, têm contribuído pa- Até janeiro de 2014, o Programa Minha
ra o adensamento de áreas periféricas, apro- Casa Minha Vida já havia contratado mais de
priando-se de grandes lotes remanescentes. 3,2 milhões de moradias, tendo sido entregue
A apropriação de novas áreas e dos tecidos 1,51 milhão de unidades.

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Transformação da periferia e novas formas de desigualdades...

Novas periferias ou novas ambientais. “Áreas de inundação, sujeitas a


deslizamentos, localizadas próximas a aterros
formas de produção de lixo e junto a depósitos de resíduos tóxicos
de desigualdades? caracterizam, muitas vezes, as mais precárias
condições residenciais da periferia metropolita-
A partir dos anos 1990, um conjunto de novos na, onde diversas situações de desigualdades e
estudos passa a revelar o sensível avanço de risco se sobrepõem” (Torres e Oliveira, 2001).
investimentos do Estado nas periferias, princi- Esses processos revelam a imposição de cres-
palmente nas áreas de saneamento e educa- centes dificuldades de acesso à moradia pe-
ção, além dos investimentos pontuais em pa- los mais pobres, reforçando a importância da
vimentação das ruas locais (Marques e Bichir, propriedade privada da terra mesmo em áreas
2001). Muitos dos avanços alcançados podem mais periféricas.
ser vistos como resultado da crescente organi- O reconhecimento de novas estratégias
zação dos movimentos sociais, que emergem de reprodução do capital, manifestada pelo
do contexto de precariedade e ausência dos avanço das relações capitalistas na produção
bens de consumo coletivo, e passam a reivindi- imobiliária na periferia, indica importantes
car pelo direito à cidade. transformações no processo de urbanização,
Para Torres e Oliveira (2001), a presença sinalizando novas relações com o processo de
desses serviços não significa que as desigual- industrialização. De fato, a produção de uma
dades tenham sido eliminadas, manifestando- “nova periferia” não se articula mais a um ace-
-se por outras dimensões menos óbvias, como lerado crescimento industrial, pelo contrário,
a ausência ou precariedade de emprego, au- pode ser vista como um importante meio de
mento dos níveis de violência e maior distância dinamização da economia em si. Para Volochko
dos equipamentos de saúde, entre outros as- (2011), já a partir da década de 1980, fica mais
pectos (Torres e Oliveira, 2001). Nessa mesma claro um descolamento da questão habitacio-
periferia também passam a se reconhecer no- nal e da problemática industrial, dando relevo
vas desigualdades, manifestadas pelas “favelas à urbanização como processo autônomo e do-
de periferia” e ampliação das moradias em si- minante, não mais diretamente relacionado à
tuação de risco ambiental. industrialização (Pereira, 2005).
Embora o crescimento das favelas te- Se antes a indústria estava presente co-
nha sido interpretado como consequência de mo um forte elemento de atração dos trabalha-
um cenário de crise, configurado a partir dos dores, a nova lógica de produção imobiliária fi-
anos 1980 e resultando no adensamento e nanceirizada repõe a importância industrial vi-
empobrecimento de porções mais centrais, o sando uma verdadeira fabricação habitacional,
que passa a se verificar a partir da década de que segue escalas e métodos crescentemente
1990 é a emergência das favelas na periferia, industrializados e se apoia na retórica de um
dando origem a um fenômeno da “hiperperife- déficit habitacional como poder de barganha de
ria” (Torres e Marques, 2001, apud Torres e Oli- seus interesses e estratégias (Volochko,­2011).
veira, 2001), muitas vezes associadas a riscos­ A partir de uma ação do Estado, manifestada­

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pela implementação do Programa MCMV, essa um empresário do setor imobiliário, “Não exis-
lógica é estendida e legitimada. te terreno ruim. Tem terreno caro e terreno juri-
Nesse Programa, uma ampla conver- dicamente incomprável [sic]. Qualquer terreno
gência de interesses entre agentes públicos e você viabiliza um empreendimento, por mais
privados, acaba por reforçar o movimento de popular que ele seja”. Impõe-se, assim, uma
confluência do capital financeiro à produção grande fluidez ao valor da terra, que assume
imobiliária (Fix, 2012). Essa aproximação re- sua condição potencial de ativo financeiro.
sultará por vezes em arranjos em que a frágil Pelo desenho do Programa, o conflito
correlação de forças entre os agentes envolvi- mais latente, da órbita que envolvia a empresa
dos (grandes empresas versus prefeituras mu- de construção e os proprietários fundiários, é
nicipais) favorecerá a imposição de um padrão deslocado para o âmbito do Estado, que pe-
de produção imobiliária que preconiza amplia- la elevação sucessiva dos valores limites das
ção crescente dos ganhos na reprodução do unidades e flexibilização das normas de uso e
capital no espaço. Esse padrão se sobreporá ocupação, passa a legitimar o aumento do pre-
a condições extremamente desiguais de de- ço da terra e apropriações de áreas cada vez
senvolvimento urbano das cidades brasileiras, mais precárias.
que, por influír no preço da terra, são determi- A ausência de equipamentos, comércios
nantes na definição das estratégias da produ- e serviços e a grande distância a áreas que
ção do espaço. concentram empregos são minimizadas pela
Aqui cabe lembrar que esse movimen- satisfação da propriedade privada da casa,
to, antes de encontrar a propriedade privada modalidade exclusiva de acesso à habitação
da terra como obstáculo, a potencializa como no âmbito do Programa MCMV. Essa dissemi-
condição à sobrevida do capitalismo, concreti- nação da propriedade privada, associada a sua
zando as reflexões de Lefebvre sobre a centra- intensa valorização, permite ao governo fede-
lidade da propriedade privada (2008, p. 160): ral contabilizar o aumento do capital residen-
cial como um dos resultados mais positivos do
Longe de constituir um obstáculo ao cres- Programa,9 exaltando e legitimando a valoriza-
cimento no quadro do capitalismo, ela
ção imobiliária.
foi seu ponto de apoio, e, entretanto, ela
destina esta sociedade a um caos espacial Essa valorização imobiliária vem susten-
sobre o qual peço que lhes reflitam... tando imensos ganhos às empresas e aos pro-
prietários de terra. De acordo com ranking da
A disseminação dessa lógica de produção consultoria Economatica, no terceiro trimestre
às periferias faz com que a expansão da produ- de 2009, estavam no Brasil 12 das 20 constru-
ção imobiliária capitalista aconteça em muitos toras de capital aberto mais lucrativas da Amé-
casos dissociada das condições gerais de urba- rica Latina e Estados Unidos.
nização, antes tidas como determinantes para Por outro lado, a capacidade de reali-
viabilização de empreendimentos imobiliários. zação do valor desses imóveis para seus pro-
Nessa lógica, qualquer terreno adquire poten- prietários é limitada. Primeiro, porque pelas
cial para a valorização do capital. Na fala de condições estabelecidas pelo Programa, a

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Transformação da periferia e novas formas de desigualdades...

população beneficiada com os maiores níveis absoluto de 52.960 domicílios (IBGE-PNAD


de subsídios só poderá realizar a venda legal 2007-2012). A redução relativa do déficit nesse
desses imóveis após dez anos. Segundo, por- período,­de 9% para 8,53%, deve-se, entre-
que a baixa qualidade construtiva e rápida tanto, ao contexto de intensificação da produ-
obsolescência desses grandes empreendimen- ção imobiliária, com aumento significativo do
tos, constatada por pesquisas e reportagens número total de domicílios.
em diferentes meios de comunicação, põe em Os resultados do Programa podem ser
questão a capacidade de venda desses móveis questionados principalmente quando se exami-
pelos preços indicados no mercado. Esses en- na com maior cuidado a distribuição do déficit
traves, entretanto, não vêm impedindo a conti- entre as diferentes classes e entre seus com-
nuidade de práticas de vendas irregulares, nor- ponentes.10 Em 2008, 70,2% do déficit estava
malmente feitas a preços bastante inferiores concentrado entre a população de até três SM.
aos praticados no mercado. Além disso, a sele- Essa proporção avançou para 73,6% em 2012.
ção dos beneficiários do Programa vem sendo Para essa faixa de renda, o aumento absoluto
objeto de alguns questionamentos. do déficit foi 215.492 domicílios.
Os impactos da disseminação dessa lógi- Cumpre ressaltar que o déficit brasileiro
ca de produção sobre as periferias não se res- é essencialmente urbano. Em 2012, 85% do
tringem aos proprietários, tende ainda a pro- déficit estava concentrado nas áreas urbanas.
mover novas formas de desigualdades, à medi- Foi justamente nessas áreas que o déficit ha-
da que dificulta a produção de habitação mais bitacional apresentou maior aumento absoluto,
acessível e entrava o seu acesso por outros com ampliação de cerca de 224.000 domicílios.
meios de produção, que permanecem a aconte- Quando se avaliam os componentes des-
cer com maior precariedade. Essa contradição, se déficit urbano, é importante reconhecer que
levada à periferia, tende a extinguir as condi- houve um importante avanço na resolução das
ções de acesso à moradia dos mais empobreci- situações de precariedade, que representavam
dos na cidade. Nesse sentido, as desigualdades cerca de 12% do déficit em 2008 e passaram a
se impõem com maior força entre os mais em- representar 8% do déficit em 2012 (ver Figura
pobrecidos e não beneficiados por essa lógica 3). Por outro lado, houve um importante avan-
de disseminação da propriedade imobiliária. ço do déficit relacionado ao ônus excessivo
Tal contradição se explicita nas limita- com aluguel, que representava 40% em 2008
ções do Programa MCMV na resolução do pro- e passou a representar cerca de 50% em 2012.
blema que se propõe resolver – o déficit ha- Cumpre lembrar que a componente “ônus ex-
bitacional. Quando se observa a evolução do cessivo de aluguel”, que corresponde às situa-
déficit entre 2008 (ano que antecede a imple- ções em que as despesas com o aluguel são su-
mentação do Programa) e 2012, constata-se periores ou igual a 30% do orçamento familiar,
que esse avançou de 5.191.565 domicílios para só incluem domicílios com renda total de até
5.244.525, representando um acrescimento três salários mínimos.

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Figura 3 – Distribuição do Déficit habitacional por componente (urbano)%


% Déficit habitacional

Precariedade habitacional
Densidade excessiva
Coabitação
Ônus excessivo em aluguel
2008 2009 2011 2012

Fonte: Estatísticas Básicas do Bacen (SFH–SBPE/FGTS) organizadas pelo CBIC Dados.

Esses números iluminam com clareza os aluguéis aumentado, em média, 138% (dados
aspectos contraditórios do avanço das relações Fipe-Zap). Esses aumentos foram significativa-
capitalistas sobre na produção do espaço. Se mente superiores à inflação, que no referido
por um lado, pode-se perceber a superação de período foi de 43,2 % (IGPM).
parte das situações de precariedade, caracteri- A disseminação de uma lógica estri-
zadas por domicílios produzidos com materiais tamente capitalista vem contraditoriamente
precários e normalmente autoconstruídos, o reforçando processos antigos, como as ocupa-
avanço do déficit por ônus excessivo de aluguel ções. As mobilizações de junho de 2013, que
é muito mais expressivo. trouxeram em suas raízes reivindicações urba-
Nesse sentido, a produção imobiliária da nas, fizeram disparar na cidade de São Paulo
periferia não pode ser compreendida de manei- as ocupações, em resposta a essa lógica que
ra isolada, inserindo-se em todo o movimento impõe o afastamento contínuo dos mais pobres
de ampliação da valorização imobiliária da das cidades.
metrópole, que por sua vez reforça os desloca-
mentos para a periferia e influencia também a
valorização do estoque já construído, elevando Considerações finais
os aluguéis de maneira geral. Essa dinâmica
explica o significativo avanço do ônus excessi- Embora a força do termo periferia permaneça
vo por aluguel. presente nas leituras da metrópole contempo-
Na cidade de São Paulo, entre janeiro de rânea, o que se evidencia na atualidade é um
2008 e janeiro de 2014, os aluguéis tiveram esvaziamento da carga teórica que o constituiu
um aumento médio de 96,2%. No Rio de Ja- (Tanaka, 2007). Grande parte das interpre-
neiro, esse aumento foi ainda maior, tendo os tações da época partia da análise da relação

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Transformação da periferia e novas formas de desigualdades...

entre­ os processos de urbanização e de in- socioespacial­que ora aproxima, ora distancia


dustrialização, os quais tendiam a promover as atividades urbanas e os grupos sociais.
graves desequilíbrios socioespaciais. O reco- De certa maneira, há uma substituição
nhecimento de dinâmicas diferenciadas, que da ideia anteriormente preponderante do es-
já aparecem desde finais da década de 1980 e paço urbano como condição de reprodução do
são reforçadas com o avanço de uma produção capital (industrial em geral) para a de que o ob-
imobiliária nesses territórios na atualidade, jetivo é, imediatamente, a produção do espaço,
impõe o desafio de uma atualização teórica, passando a ocorrer, então, uma subordinação
que considere uma nova lógica de produção direta do espaço ao investimento industrial
do espaço e as novas formas de produção de (imobiliário) e à reprodução do capital, como
desigualdades. problematizou Lefebvre:
A busca contínua de oportunidades pa-
O processo que subordina as forças pro-
ra a valorização imobiliária, representada pela
dutivas ao capitalismo se reproduz aqui,
incorporação de novos espaços e pela inten- visando à subordinação do espaço que
sificação da ocupação dos espaços existentes, entra no mercado para o investimento
define o atual processo de crescimento da me- dos capitais, isto é, simultaneamente o
trópole e reforça o espaço como raridade. A ge- lucro e a reprodução das relações de pro-
dução capitalistas. Os lucros são imensos
neralização dessa nova lógica de produção do
e a lei (tendencial) de queda da taxa de
espaço encontrará nas bordas das metrópoles lucro médio é muito eficazmente bloquea-
um espaço marcado por grande desigualdade da. (Lefebvre, 1999, p. 164)
que se expressa em extremos como a apropria-
ção de espaços públicos por moradias precárias Se, originalmente, as periferias eram in-
e a forte retenção especulativa da terra. terpretadas como a resultante da contradição
A produção imobiliária organizada na entre capital trabalho no curso do processo
metrópole por um nível de centralização do de industrialização, sua análise na atualidade
capital muito mais elevado tende a tornar a revela a primazia de uma contradição urba-
estrutura urbana ainda mais desigual e segre- na que se exprime na totalidade da produção
gada. Parte da enorme rentabilidade obtida do espaço. O avanço de uma nova lógica de
pelo setor imobiliário é alcançada a partir da produção nesses espaços tende a exacerbar a
reprodução da segregação herdada e da his- reprodução do capital em detrimento das ne-
tórica valorização imobiliária dessa estrutura cessidades da reprodução social. É nesse sen-
desigual, que se dá pela contínua redefinição tido que toma força uma contradição urbana,
da segregação e elevação do gradiente de pre- representada pela transição de uma produção
ços. As diferenças entre áreas centrais, mais ca- urbana entendida como meio para a reprodu-
ras, e as periféricas, mais baratas, continuarão ção das relações sociais para uma hegemonia
existindo, mas serão redefinidas e multiplica- da produção imobiliária, representada pela pri-
das pela fragmentação, numa hierarquização vatização do espaço e do valor.

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Maria Beatriz Cruz Rufino

Maria Beatriz Cruz Rufino


Universidade de São Paulo, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. São Paulo/SP, Brasil.
beatrizrufino@usp.br

Notas
(1) De acordo com dados do Censo/IBGE, 1970.

(2) O Fundo de Garantia por Tempo de Serviço foi criado pela Lei n. 5107/66, como um fundo
indenizatório que garantisse uma reserva de recursos para a manutenção do trabalhador
durante os períodos de desemprego, que, já se previa, se tornariam mais frequentes com
a flexibilização das relações de trabalho decorrentes das mudanças na Consolidação das Leis
do Trabalho. O fundo foi formado com a poupança compulsória de 8% dos salários mensais
recolhidos pelo empregador sobre as folhas de pagamento, acumulando um montante que
foi usado pelo Estado para financiar investimentos nos setores sociais como Habitação e
Saneamento, mas também na infraestrutura (Castro, 1999, p. 74).

(3) Em 2003, após a criação do Ministério das Cidades, esse passou a ser o responsável pela gestão
da aplicação dos recursos do Fundo, tendo, entre outras atribuições, “a de estabelecer metas
a serem alcançadas nos Programas de habitação popular, saneamento básico e infraestrutura
urbana” (Royer, 2009, p. 87).

(4) Com destaque para a Resolução nº 460 do CCFGTS, de 14 de dezembro de 2004, que “garantiu
60% dos recursos de aplicação do FGTS para a área de habitação popular, de acordo com a lei
8.036/90, 30% para saneamento básico, 5% para infraestrutura urbana e 5% para operações
especiais (percentual progressivamente reduzido até sua extinção a partir de 2008)” (Royer,
2010, p.87). A resolução 460 também foi responsável pela constituição de um novo modelo
de subsídios “permitindo que os recursos do Fundo alcançassem efetivamente a população de
mais baixa renda, até um salário mínimo” (Royer, 2009, p. 88). Essa resolução permitiu ainda a
ampliação das aplicações globais dos recursos, que atingiram o montante de R$4.447.337 mil,
em 2005 (Relatório de Gestão do FGTS do ano de 2006, apud Royer, 2009, p. 88).

(5) Reportagem “O assédio das grandes” na revista Construção Mercado n. 79, de fevereiro de 2008.

(6) Ver histórico da Campanha na página da internet, disponível em: http://www.moradiadigna.org.


br/moradiadigna/v1/index2.asp?p=11. Acesso em: maio 2015.

(7) De acordo com dados do IBGE/PNAD 2007.

(8) De acordo com dados do Ministério das Cidades.

(9) De acordo com o Sumário Executivo da Pesquisa “Casa Própria: Capital Residencial e Qualidade de
Vida”. Desenvolvida pelo Ipea, 2013.

(10) Habitações precárias, coabitação familiar, ônus excessivo com aluguel e adensamento excessivo
em domicílios locados.

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Texto recebido em 25/maio/2015


Texto aprovado em 4/out/2015

236 Cad. Metrop., São Paulo, v. 18, n. 35, pp. 217-236, abr 2016

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