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1ª edição
Outras Expressões
São Paulo – 2016
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OUTRAS EXPRESSÕES
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Prefácio................................................................................................7
Severino E. Ngoenha
Introdução ........................................................................................11
José Rivair Macedo
PARTE 1
DESCOLONIZAÇÃO
PARTE 2
REVOLUÇÃO AFRICANA
PARTE 3
PÓS-COLONIALSMO
Bibliografia Comentada...................................................................361
Sobre os autores...............................................................................365
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p. 219-252.
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Descolonização
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Na definição do conceito de négritude, a palavra será sempre será em itálico e em
minúscula, por se tratar de um conceito em outro idioma. Quando estiver fazendo
referência ao movimento, a palavra será escrita em “N” maiúsculo, definindo o mo-
vimento da Négritude.
A formação de Senghor
O papel de Léopold Sédar Senghor não se restringiu ao
campo das produções escritas, tendo esse pensador sido uma im-
portante personalidade no cenário político do Senegal e da Áfri-
ca como um todo. Compreendendo como Senghor idealizou seu
pensamento em torno da négritude, percebe-se que esse conceito
pode ter representado uma forma de questionamento em relação
à colonização francesa. Abordar um pouco de sua trajetória no
debate intelectual entre Europa e África contribuiu para a expan-
são de um campo profundo de reflexões.
Nascido em 1906, no vilarejo de Joal, Senegal, Senghor foi
um dos primeiros pensadores africanos a se oporem à hipótese
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ros denominado Frontstalag 230, lhe foi útil a leitura das obras
do humanismo francês, pois ajudaram-no a relembrar seu lugar
de origem. Ele aceitava a ideia dessa missão da França de condu-
zir as civilizações exóticas rumo a um ideal de cultura e avanço
intelectual. Encontra-se aí, em parte, a razão da ambiguidade
que o levava a pensar que Négritude e francité (francidade) fos-
sem conceitos complementares e que o escritor negro não preci-
saria escolher entre um ou outro (Vaillant, 2006, p. 340-341).
Talvez esse tenha sido seu primeiro impulso diante de um
ideal de civilização francesa, o que sempre fez questão de enun-
ciar de modo claro e objetivo em seus discursos: “Hoje, mais do
que nunca, estamos conscientes de nossas deficiências: as lacunas
da civilização negro-africana. Eis porque nós sempre nos recusa-
mos em recusar as contribuições europeias, principalmente os
valores franceses. Estes são complementares aos nossos” (Sen-
ghor, 1964, p. 318).
O vínculo com o ideal de uma civilização europeia levou os
escritores da Négritude a expressarem-se preferencialmente em
língua francesa; mesmo depois da independência, esse foi o mol-
de em que se formariam as elites africanas. Entretanto, havia
mais do que um problema técnico, havia um problema cultural.
Para “tratar da formação do Homem Integral” (Senghor, 1964,
p. 318), o intelectual Senghor compreendeu que, de alguma for-
ma, a colonização era construída através do ideal de cultura (ou
civilização) e isso o levou a atuar no campo da cultura na tenta-
tiva de romper com o estatuto de submissão dos povos africanos.
O projeto inicial era articular a atuação política e o embate cul-
tural, um em conformidade com o outro. Ou seja, a colonização
vista como um ato econômico (ou político) também buscava o
âmbito cultural e, de alguma maneira, as uniões transnacionais
da Négritude laboravam para que o combate tivesse início no
campo da produção intelectual (Mazrui, 2010, p. 576).
Como tantos outros pensadores de seu tempo, Senghor
estava inserido nos movimentos que almejavam a unidade. É
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Em 1946, a França tinha controle sobre duas regiões previamente definidas: a África
Ocidental Francesa (AOF) e a África Equatorial Francesa (AEF). A AOF englobava
8 territórios: Senegal, Mauritânia, Sudão Francês, parte da Nigéria, Costa do Mar-
fim, Guiné e Daomé; enquanto a AEF englobava apenas quatro, Médio Congo, Ga-
bão, Oubangui-Chari (atualmente República Centro Africana) e o Chade (Kipré,
1989, p. 22).
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Interessante lembrar que Senghor foi criticado por escritores afro-americanos por
causa do nome dado ao movimento Négritude, o que ele não entendia, já que se
imaginava herdeiro do Movimento do Harlem Renaissance que carregava, igual-
mente, uma palavra francesa, sem ter sido por isso vilipendiado. Em relação ao mo-
vimento do Renascimento do Harlem ver: Huggins, Nathan Irvin. The Harlem
Renaissance. NY: Oxford University Press, 1971.
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Sob esse aspecto, Maran era o antilhano que não via a sepa-
ração entre africanos e antilhanos, rompendo com a perspectiva de
que uns teriam mais prestígio que outros. Ele foi tido por Senghor
como humanista por excelência, pois percebia que sua identidade
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René Maran, na condição de administrador de um território da África Equatorial
Francesa (atualmente República Centro-Africana), narrou as dificuldades pelas
quais passou em seu cargo, durante seis anos. Ao constatar o tratamento que a Fran-
ça impunha aos africanos, sem considerá-los como seres humanos, Maran foi afas-
tado das funções administrativas (Chevrier, 2003, p. 31).
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A Cidade Universitária (Cité Internacionale Universitaire de Paris) foi criada em 1920,
graças à iniciativa de grandes mecenas, para abrigar estudantes sem condições de habi-
tar o centro de Paris. Senghor morou algum tempo na Fondation Deutch de la Meurthe
e Aimé Césaire passou algum tempo nessa mesma casa (Wilder, 2005, p. 187).
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Senghor entrou para o khâgne no ano de 1928. Ele escreveu como trabalho final a
tese L’Exotisme chez Baudelaire (O Exotismo em Baudelaire). Em 1935, tornou-se
um dos primeiros negros a ter a agrégation, título máximo que possibilita aos pro-
fessores ensinar nos liceus, nos cursos preparatórios e, inclusive, lecionar nas univer-
sidades francesas (Wilder, 2005, p. 153). De certo modo, ser um agrégé representava,
automaticamente, a obtenção da cidadania francesa.
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Césaire entrou para a École Normale Supérieure (Escola Normal Superior) no mes-
mo ano em que Senghor se formava na Sorbonne, em 1935 (Wilder, 2005, p. 153).
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David Macey, na biografia de Fanon, aponta que o pensador da Martinica não se
adaptou à realidade parisiense e teria ido para Lyon, onde havia uma comunidade de
estudantes martinicanos numerosa em solo francês (Macey, 2012, p. 132-133).
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: movimento e conceito
A négritude (enquanto conceito) não foi simplesmente um
conjunto de teorias elaborado contra o colonialismo, mas uma
pró-africanidade, uma espécie de formação discursiva e uma
produção pan-africana pública, produzida por (e através de) indi-
víduos e instituições que formavam uma rede específica, histori-
camente constituída (Wilder, 2005, p. 150-151).
O conceito de négritude deve ser diferenciado do movimen-
to da Négritude. Enquanto o primeiro é plural e encontra ainda
hoje inúmeras definições, o movimento teve um lugar específico
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As primeiras organizações de estudantes africanos foram a Indépendants d’Outre-Mer (In-
dependentes do Além-Mar) e a Société Africaine de Culture (Sociedade Africana de Cultu-
ra). Ambas puderam contar com a participação de Léopold Senghor. Esta última deu origem à
editora Présence Africaine (M’Bokolo, 2011, p. 588-616).
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As críticas ao movimento
Tachado de desatualizado (dépassé), o conceito de négritu-
de ainda assim, voltou ao debate, principalmente entre filósofos
africanos como Kwame Anthony Appiah, Achille Mbembe, Pau-
lin Hountondji e Valentin Yves Mudimbe. De algum modo, esses
autores foram obrigados a reconhecer que a négritude foi algo
importante em um período crucial da história africana e na tra-
jetória dos escritores ligados à luta anticolonial.
Durante o período de maturação política da África france-
sa, o conceito de négritude foi atrelado à trajetória de Léopold
Senghor. Para os intelectuais de língua inglesa, esse conceito e
Senghor representavam quase a mesma coisa. Desse modo, nos
anos de 1960 e 1970, pensadores negros como o beninense Sta-
nislas Speros Adotevi e o camaronense Marcien Towa aborda-
ram o tema como uma ideologia, prevendo perigos em sua
disseminação (M’Bokolo, 2008, p. 532; Benot, 1974, p. 146-161).
O Festival Pan-africano de Alger (1969) representou uma
ocasião especial para o refinamento das apreciações do movi-
mento. Nesse encontro, ficou evidenciada a distância entre os es-
critores negros de língua inglesa e os de francesa. Os autores da
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Nesse ponto, Simon Njami discorda da ideia de Marcien Towa de que Senghor tenha
feito da Négritude sua aventura pessoal. “A négritude é uma palavra valise, uma
palavra metáfora. Uma palavra que conta histórias, mais do que relata os fatos”
(Njami, 2006, p. 144-145).
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Foi preciso abandonar um pouco a divulgação do conceito para que Senghor pudes-
se investir no campo político. O pensador senegalês teve grande abertura na política,
pois a França já o reconhecia como cidadão francês e ele já possuía uma vantagem
diante dos diálogos entre a metrópole e os territórios coloniais.
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Desde 1947, a Revista Présence Africaine, organizada por Alioune Diop, reuniu
publicações e encontros intelectuais entre Aimé Césaire, Léopold Senghor, Jean Pri-
ce-Mars (Haiti), Richard Wright (Estados Unidos), Amadou Hampaté Bâ (Daomé),
Frantz Fanon (Martinica), entre outros influentes escritores negros (Chevrier, 2006,
p.156-157).
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Como se vê, Senghor atribui as críticas à Négritude aos pensadores de língua ingle-
sa que estavam ligados às grandes potências imperialistas da época: Grã-Bretanha e
Estados Unidos.
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Considerações finais
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Referências bibliográficas
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