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A BUSCA DA COMPETITIVIDADE

NAS EMPRESAS

*Rlcardo Motta

Análise do atual ambiente competitivo e as estratégias que devem ser


adotadas pelas empresas para obterem sucesso.
The current competitive environment and the key strategies to be
implemented by the companies to succeed.

PALAVRAS-CHAVE: Estamos passando por um período de


Competitividade, processos No mundo específico dos negócios, no-
do neg6cio, corporação hori- profundas transformações tanto no cená- tamos não apenas novas oportunidades,
zontal, globalização, adminis- rio econômico quanto no político, no mas também uma mudança nas formas de
tração por processos, alianças
estratégicas, estratégia.
social, no empresarial e no cultural. En- planejamento e realização de negócios, de
fim, estamos vivendo em uma época de utilização de recursos e de atendimento e
KEYWORDS: mudanças que, embora sem padrões, dá-
Competitiveness, business relacionamento com clientes, fornecedo-
process, horizontal corpora- se em um ambiente de evolução e desen- res, funcionários, acionistas e ainda com a
tion, globalization, process volvimento bastante acelerado. comunidade. Na era da competitividade
management, strategic allian-
ces, strategies.

*Gerente de Programas de Qua-


lidade da IBM/Brasil.

12 Revista de Administração de Empresas São Paulo, v. 35, n.1, p. 12-16 Mar.lAbr. 1995
A BUSCA DA COMPETITIVIDADE NAS EMPRESAS

global, o grande desafio das empresas está dutos e serviços em âmbito global deman-
centrado na capacidade de busca de no- dará um amplo investimento em sistemas
vas tecnologias, novos mercados e novos de informação. A eliminação de níveis hi-
métodos de gerenciamento ou do redese- erárquicos será decorrente dessa concep-
nho dos processos de negócio e de inte- ção, já que a informação estará disponível
gração total das cadeias de valor da em- em tempo real, via modem, em qualquer
presa, clientes e fornecedores. local, em qualquer momento. Todos os
As bases para a competição têm muda- funcionários na empresa terão informa-
do drasticamente nos anos 90. O que era ções em nível suficiente para conhecê-la
considerado inovador e criativo constituía- tão bem quanto o seu presidente.
se em base para a obtenção de vantagens Para ser competitiva, a empresa terá que
competitivas na década de 80, como, por assimilar muito bem o significado da ex-
exemplo, qualidade e custo baixo. Hoje, pressão flexibilidade. Diante de mudança
isso simplesmente é visto como requisito no mercado, ela deverá ser capaz de recon-
mínimo para se penetrar até mesmo em figurar-se anual, mensal ou até mesmo
segmentos de mercados diferentes. Atual- diariamente. Para tornar possível esse tipo
mente, não é mais possível desenvolver e de agilidade nas empresas, seus líderes
comercializar um produto somente para estão enfatizando o rápido desenvolvi-
o mercado de origem da empresa. O es- mento de produtos e serviços, sistemas fle-
pectro da concorrência estende-se por todo xíveis e adaptáveis de produção e incenti-
o mundo, solicitando-nos a pensar global- vos para o trabalho em equipe.
mente, a obter ecomomias de escala mun- As empresas de sucesso adotarão estra-
dial. Um exemplo da velocidade do pro- tégias muito mais amplas e integradas e
cesso de globalização é o número de cha- centrarão esforços em processos de melho-
madas telefônicas internacionais nos EUA, ria que irão afetar a cadeia de valor/ como
tanto daquelas efetuadas para fora do país um todo. Será necessário redefinir as rela- 1. WELCOME to true revolu-
ções entre fornecedores, distribuidores e tion. Fortune, New York, v.
como no sentido inverso, que simplesmen-
128, n. 15, Dec. 1993, p. 32-
te dobrou no período de 1988 a 199F Os clientes, buscando o desenvolvimento de 8.
investimentos americanos feito fora dos uma parceria ao longo de toda a cadeia de
EUA aumentaram 35%, para US$ 776 bi- valor, que inclui a estruturação conjunta 2. PORTER, Michel E. Vanta-
gem competitiva: criando e
lhões, de 1987 a 1992. de uma estratégia competitiva, com bene- sustentando desempenho
As mudanças que estão ocorrendo atu- fícios claros para todos. Essas empresas se superior. Rio de Janeiro:
almente não são meras tendências mas sim anteciparão às necessidades dos seus clien- Campus, 1989.
transformações radicais guia-
das pela globalização dos
mercados, tais como o uso
I Gráfico 1 I
cada vez maior da tecnologia Bilhões de
dólares
INVESTIMENTOS EM INFORMÁTICA NOS EUA
da informação, como ilustra o
175
gráfico 1, e de redes de com-
putadores ligando o mundo
todo. Além disso, as empresas 150
têm promovido também uma
reorganização estrutural, por

-
meio do achatamento das 125
~
suas estruturas hierárquicas.
Como conseqüência dessa
100
•••••

",.
transformação está nascendo •••••••••• ~
uma nova economia da era da
._ .
,
informação, cujas fontes de ri- 75
•••• 0
o •• ~ •••• _...;

queza são o conhecimento e o I


I I
poder da comunicação, dife- ~ ._~.J ....~~J.~~
50
rentemente, por exemplo, da
importância que era dada aos
recursos naturais e ao traba- 25
82 84 86 88 90
I 92
lho físico.
Fonte: Departamento de Comércio dos EUA. ano
A comercialização dos pro-

© 1995, Revista de Administração de Empresas / EAESP / FGV, São Paulo, Brasil. 13


EXECUTIVA

tes, devendo, por isso, enxergar além do Assim, alianças estratégicas com parceiros
horizonte do negócio atual, a fim de até inseridos em mercados distantes, com ex-
mesmo influenciar fatores ambientais ex- celente nível de conhecimento e poder de
ternos e fora do seu controle direto. comunicação, além de compreensão das
O mercado demanda um novo foco de necessidades específicas desses mercados,
melhoria que supera a eficiência e a eficá- tornam-se cruciais para o sucesso global
cia. Até recentemente, a melhoria da com- da empresa.
petição global de uma empresa ocorria por
meio de ações localizadas, específicas de
suas áreas funcionais internas, gerando
ações isoladas que quase sempre não pro- É muito importante que a empresa co-
duziam resultados claramente percebidos nheça claramente as forças que a cercam,
pelos clientes. Esse enfoque limitado para para poder, após análise detalhada dessas
testar problemas não lhe permitia fazer forças, escolher efetivamente a sua estra-
uso de todo o potencial de direcionamento tégia competitiva.
das ações para aquele que é o objetivo As regras da concorrência que determi-
principal de qualquer em- nam a atratividade do segmento de mer-
presa, ou seja, atender ou cado na qual a empresa está inserida -
até mesmo superar neces- tal como em qualquer indústria, seja ela
o que era considerado inovador e sidades e expectativas dos local ou multinacional, produzindo um
criativo constituía-se em base para clientes. produto ou um serviço - estão definidas
a obtenção de vantagens As novas ferramentas e nestas cinco forças compctitivas'': a entra-
técnicas para o ganho de da de novos concorrentes, a ameaça de
competitivas na década de 80, vantagem competitiva ofe- produtos substitutos, o poder de negocia-
como, por exemplo, qualidade e recem à companhia enfo- ção dos compradores, o poder de negocia-
custo baixo. Hoje, isso ques que superam as bar- ção dos fornecedores e a rivalidade dos
simplesmente é visto como reiras funcionais, utilizan- concorrentes.
Essas forças determinam a rentabilida-
requisito mínimo para se penetrar do a sinergia de sua cadeia de da indústria porque influenciam defi-
de valor como um todo. O
até mesmo em segmentos de objetivo principal está no nitivamente os seus custos, os preços e o
mercados diferentes. entendimento dos princi- investimento necessário em um dado seg-
pais impu lsionadores do mento. Assim, o entendimento das forças
desempenho e do custo, que a cercam vai permitir à empresa esco-
examinados de forma holística por toda lher efetivamente a sua estratégia compe-
aquela cadeia. titiva. Essa metodologia permite que uma
Outro fator importante de competivida- empresa perceba a complexidade e apon-
de das empresas em busca de novos mer- te os fatores críticos de sucesso frente à sua
cados está na formação de alianças econô- concorrência, além da identificação de ino-
micas globais. A estratégia que as empre- vações estratégicas para a melhoria de sua
sas adotam nessa área possui implicações rentabilidade.
significativas na sua habilidade de buscar O conhecimento da base da concorrên-
e de manter a qualidade de seus produtos cia permitirá, então, a determinação da
e serviços. vantagem competitiva a ser adotada: baixo
Nesse caso, a assimilação de necessi- custo ou diferenciação. Essas vantagens re-
dades e expectativas dos clientes, dos sultam de uma melhor habilidade da em-
ambientes de negócios e das diferenças presa, comparada com a dos seus concor-
culturais são fatores críticos de sucesso no rentes, em lidar com estas cinco forças. Es-
gerenciamento de empresas inseridas em ses dois tipos básicos de vantagem levam
negócios globalmente cada vez mais dis- a empresa a adotar uma destas três estra-
persos. tégias competitivas: de liderança de cus-
O maior desafio das empresas, que atu- tos, de diferenciação ou de enfoque. Esta
am em mercados globais multiculturais, é última pode ser de enfoque no custo ou
3. . Técnicas para ajustar seus enfoques e estratégias às ne- na diferenciação. As duas primeiras bus-
análise das indústrias e da cam a vantagem competitiva em um limi-
concorrência. Rio de Janei-
cessidades individuais dos mercados sem
ro: Campus, 1991. perder de vista a missão da organização. te amplo de segmentos industriais, en-

14 RAE· v.35 • n.2 • Mar./Abr. 1995


A BUSCA DA COMPETIT/VIDADE NAS EMPRESAS

quanto a estratégia do enfoque visa a uma


vantagem de custo ou a uma diferencia-
I Figura 1 I
ção em segmento de mercado específico. ORGANIZAÇÃO HORIZONTAL
Dado o papel fundamental da vanta-
gem competitiva, que oferece valor supe- II1II
"''' •.••DOS ALTOS EXECUTIVOS
rior aos clientes, resultando em desempe- L.u'cn' •.••

nho igualmente superior, a principal peça


no processo de planejamento estratégico
da empresa deve ser sua estratégia gené- C RESULTADOS:
L Satisfação dos
rica. Esta especifica o método primordial I Clientes,
para a vantagem competitiva que a em- E Acionistas,
N Funcionários,
presa está buscando e fornece o contexto T Parceiros,
para a tomada de ações em cada área fun- E Comunidade.
S
cional.
Neste novo cenário de negócios, a ca-
pacidade de transformar uma estratégia OBJETIVOS DA
em algo que possa ser executado com su- ORGANIZAÇÃO
cesso torna-se tarefa considerável. A idéia
é incorporar essa estratégia sob uma úni- provê meios de efetivar, mais rapida-
ca visão, permitindo a tomada de decisões mente, mudanças complexas;
coerentes entre si, e estabelecer novo fun- auxilia a organização a gerenciar efeti-
damento competitivo, focalizando esfor- vamente seus inter-relacionamentos;
ços e direcionando as ações a um objetivo provê uma visão sistêrnica das ativida-
comum. Essa estratégia também é incor- des da organização;
porada sob a forma de missão, mas isso só mantém o foco no processo;
não é suficiente, pois a estratégia deve ser previne a ocorrência de erros;
traduzida em uma ação clara, com fatores auxilia a organização a entender melhor
críticos de sucesso definidos. Esses fato- a sua cadeia de valor;
res definem o que é necessário para o al- desenvolve um sistema de avaliação
cance da missão e, conseqüentemente, completo para as áreas de negócios.
para a obtenção das vantagens competiti-
vas planejadas. Alguns exemplos típicos de processos
de negócio são: gerência de mercado, co-
mercialização, satisfação de clientes, fatu-
ramento, compras, análise financeira, de-
senvolvimento de novos produtos, produ-
A eliminação de barreiras dentro de ção, gestão da qualidade, desenvolvimen-
uma organização funcional e a visuali- to de recursos humanos, dentre outros.
zação da empresa como um todo permite Nos tempos em que os negócios eram
um maior inter-relacionamento dentro da 4. Processo é uma organiza-
mais facilmente previsíveis e estáveis, as ção de pessoas, equipamen-
cadeia de valor, por meio do conceito de empresas organizavam-se verticalmente tos, procedimentos, informa-
processo- de negócio. Processos de negó- para obter vantagem dos recursos especia- ções, energia e materiais em
cio são os meios pelos quais uma empresa atividades de trabalho logica-
lizados, indispensáveis. Todos tinham um mente relacionados e que
conduz seus negócios. Ao se centrar nes- lugar e todos entendiam sua "micro" ta- agregam valor para o cliente
ses processos, a empresa estará trabalhan- refa dentro da organização; o poder de com o objetivo de produzir
resultados específicos.
do com todas as dimensões complexas do decisão estava visivelmente no topo. Por
seu negócio e poderá usar, não mais de outro lado, com o aumento da complexida- 5. MARQUES, Geraldo Lúcio.
forma isolada, todos os seus esforços para de interfuncional, ficou cada vez mais di- Além da qualidade total: a
reengenharia de processos e
adquirir as vantagens competitivas. Para fícil para cada membro da organização a transformação do negócio.
a empresa, alguns dos benefícios advindos entender a missão da empresa como um In: A era da competitividade
desses processos sáo-: todo e como relacionar essa missão com global. Apostila de Seminário
Executivo, Rio de Janeiro,
seu trabalho. 1992.
habilita a organização a ter seu foco di- A competição global e a alta velocida-
recionado aos clientes; permite à orga- 6. THE HORIZONTAL corpo-
de das mudanças tecnológicas têm força-
ration. Business Week, New
nização antecipar e controlar mudanças; do a revisão de estruturas organizacíonaís-, York, Dec. 20, 1993, p. 44-9.

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11~GEXECUTIVA
rumo à corporação horizontal. Com isso, por meio de benefícios equivalentes, ou de
todos estão voltados ao negócio principal fornecimento de benefícios únicos,que
da empresa, trabalhando nos processos do mais do que compensam um preço-prê-
negócio, por meio de uma administração mio.
por processos. Por meio da cadeia de valores de uma
Como demonstrado na figura 1, a cor- empresa podemos identificar e entender,
poração horizontal, é um novo modelo de maneira sistemática, as fontes potenci-
organizacional, organizado por processos ais de acréscimo de valor ao cliente.
e não por tarefas. Cada processo possui um
proprietário e objetivos de desempenho A EMPRESA COMPETITIVA
específicos. A hierarquia é, por definição,
achatada, com grande uso de equipes de O conceito moderno de empresas com-
trabalho auto-sustentadas e gerenciadas. petitivas abrange uma série de caracterís-
A organização é voltada para o cliente; a ticas-chave, que certamente são funda-
satisfação deste é a medida primária do mentais para a sustentação de vantagens
desempenho da empresa. Os lucros virão competitivas globais. São elas:
como conseqüência da satisfação dos
clientes. • orientação global para a satisfação dos
Os contatos com os clientes e fornece- clientes I consumidores, por meio do en-
dores devem ser maximizados e, finalmen- tendimento de suas necessidades e ex-
te, os funcionários devem ter o máximo de pectativas, atuais e futuras, suas prefe-
informações compartilhado, além do trei- rências, seu conceito de valor percebi-
namento necessário para que possam to- do, com o objetivo de sempre se anteci-
mar suas próprias decisões. par aos seus desejos, superando suas
expectativas;
FORNECENDO VALOR SUPERIOR AOS • ter vantagem competitiva no mercado
CLIENTES em que atua, oferecendo produtos e ser-
viços com valor superior ao oferecido
Os processos de negócio devem ser por seus concorrentes;
redesenhados levando-se em conta aspec- • garantir que a noção de valor superior
tos de custo e valor para o cli- para o cliente esteja difundida, inte-
ente. O valor total percebido grada e disseminada em todas as
é definido como aquele do be- atividades da cadeia de valor
nefício do produto menos o do da empresa e dos distribui-
preço percebido. O cliente per- dores;
cebe valor no produto vendi- • ter o conceito de lucro
do se o valor do benefício for como conseqüência da
maior que aquele do preço. orientação para o mer-
Para que a empresa seja cado, ou seja, satisfa-
competitiva, o valor percebido ção dos clientes.
deve ser positivo. Se o cliente
não perceber valor no produto Entendendo seus pro-
da empresa, esta torna-se uma cessos, os escopos da
séria candidata a deixar o mer- competição global, o uso
cado. da tecnologia da infor-
Alguns atributos de valor para o cliente, mação e suas possibilidades, o uso de re-
que devem ser considerados no processo des computacionais e a horizontalização
de negócio, são qualidade, confiabilidade, da empresa, por meio de uma liderança
conveniência, praticidade, beleza, status, forte dos altos executivos, as organizações
garantia, dentre outros. estarão prontas para atingirem vantagens
A vantagem competitiva surge funda- competitivas durante a década de 90 e nas
mentalmente do valor que uma empresa seguintes. O
tem ao criar condições para seus compra-
dores. Esta vantagem pode tomar a forma
~ 0950202
de preços inferiores aos da concorrência, ~

16 Artigo recebido pela Redação da RAE em junho/1994, avaliado em agosto/1994 e aprovado para pUblicação em setembro/1994.

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