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NAS EMPRESAS
*Rlcardo Motta
12 Revista de Administração de Empresas São Paulo, v. 35, n.1, p. 12-16 Mar.lAbr. 1995
A BUSCA DA COMPETITIVIDADE NAS EMPRESAS
global, o grande desafio das empresas está dutos e serviços em âmbito global deman-
centrado na capacidade de busca de no- dará um amplo investimento em sistemas
vas tecnologias, novos mercados e novos de informação. A eliminação de níveis hi-
métodos de gerenciamento ou do redese- erárquicos será decorrente dessa concep-
nho dos processos de negócio e de inte- ção, já que a informação estará disponível
gração total das cadeias de valor da em- em tempo real, via modem, em qualquer
presa, clientes e fornecedores. local, em qualquer momento. Todos os
As bases para a competição têm muda- funcionários na empresa terão informa-
do drasticamente nos anos 90. O que era ções em nível suficiente para conhecê-la
considerado inovador e criativo constituía- tão bem quanto o seu presidente.
se em base para a obtenção de vantagens Para ser competitiva, a empresa terá que
competitivas na década de 80, como, por assimilar muito bem o significado da ex-
exemplo, qualidade e custo baixo. Hoje, pressão flexibilidade. Diante de mudança
isso simplesmente é visto como requisito no mercado, ela deverá ser capaz de recon-
mínimo para se penetrar até mesmo em figurar-se anual, mensal ou até mesmo
segmentos de mercados diferentes. Atual- diariamente. Para tornar possível esse tipo
mente, não é mais possível desenvolver e de agilidade nas empresas, seus líderes
comercializar um produto somente para estão enfatizando o rápido desenvolvi-
o mercado de origem da empresa. O es- mento de produtos e serviços, sistemas fle-
pectro da concorrência estende-se por todo xíveis e adaptáveis de produção e incenti-
o mundo, solicitando-nos a pensar global- vos para o trabalho em equipe.
mente, a obter ecomomias de escala mun- As empresas de sucesso adotarão estra-
dial. Um exemplo da velocidade do pro- tégias muito mais amplas e integradas e
cesso de globalização é o número de cha- centrarão esforços em processos de melho-
madas telefônicas internacionais nos EUA, ria que irão afetar a cadeia de valor/ como
tanto daquelas efetuadas para fora do país um todo. Será necessário redefinir as rela- 1. WELCOME to true revolu-
ções entre fornecedores, distribuidores e tion. Fortune, New York, v.
como no sentido inverso, que simplesmen-
128, n. 15, Dec. 1993, p. 32-
te dobrou no período de 1988 a 199F Os clientes, buscando o desenvolvimento de 8.
investimentos americanos feito fora dos uma parceria ao longo de toda a cadeia de
EUA aumentaram 35%, para US$ 776 bi- valor, que inclui a estruturação conjunta 2. PORTER, Michel E. Vanta-
gem competitiva: criando e
lhões, de 1987 a 1992. de uma estratégia competitiva, com bene- sustentando desempenho
As mudanças que estão ocorrendo atu- fícios claros para todos. Essas empresas se superior. Rio de Janeiro:
almente não são meras tendências mas sim anteciparão às necessidades dos seus clien- Campus, 1989.
transformações radicais guia-
das pela globalização dos
mercados, tais como o uso
I Gráfico 1 I
cada vez maior da tecnologia Bilhões de
dólares
INVESTIMENTOS EM INFORMÁTICA NOS EUA
da informação, como ilustra o
175
gráfico 1, e de redes de com-
putadores ligando o mundo
todo. Além disso, as empresas 150
têm promovido também uma
reorganização estrutural, por
-
meio do achatamento das 125
~
suas estruturas hierárquicas.
Como conseqüência dessa
100
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transformação está nascendo •••••••••• ~
uma nova economia da era da
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informação, cujas fontes de ri- 75
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tes, devendo, por isso, enxergar além do Assim, alianças estratégicas com parceiros
horizonte do negócio atual, a fim de até inseridos em mercados distantes, com ex-
mesmo influenciar fatores ambientais ex- celente nível de conhecimento e poder de
ternos e fora do seu controle direto. comunicação, além de compreensão das
O mercado demanda um novo foco de necessidades específicas desses mercados,
melhoria que supera a eficiência e a eficá- tornam-se cruciais para o sucesso global
cia. Até recentemente, a melhoria da com- da empresa.
petição global de uma empresa ocorria por
meio de ações localizadas, específicas de
suas áreas funcionais internas, gerando
ações isoladas que quase sempre não pro- É muito importante que a empresa co-
duziam resultados claramente percebidos nheça claramente as forças que a cercam,
pelos clientes. Esse enfoque limitado para para poder, após análise detalhada dessas
testar problemas não lhe permitia fazer forças, escolher efetivamente a sua estra-
uso de todo o potencial de direcionamento tégia competitiva.
das ações para aquele que é o objetivo As regras da concorrência que determi-
principal de qualquer em- nam a atratividade do segmento de mer-
presa, ou seja, atender ou cado na qual a empresa está inserida -
até mesmo superar neces- tal como em qualquer indústria, seja ela
o que era considerado inovador e sidades e expectativas dos local ou multinacional, produzindo um
criativo constituía-se em base para clientes. produto ou um serviço - estão definidas
a obtenção de vantagens As novas ferramentas e nestas cinco forças compctitivas'': a entra-
técnicas para o ganho de da de novos concorrentes, a ameaça de
competitivas na década de 80, vantagem competitiva ofe- produtos substitutos, o poder de negocia-
como, por exemplo, qualidade e recem à companhia enfo- ção dos compradores, o poder de negocia-
custo baixo. Hoje, isso ques que superam as bar- ção dos fornecedores e a rivalidade dos
simplesmente é visto como reiras funcionais, utilizan- concorrentes.
Essas forças determinam a rentabilida-
requisito mínimo para se penetrar do a sinergia de sua cadeia de da indústria porque influenciam defi-
de valor como um todo. O
até mesmo em segmentos de objetivo principal está no nitivamente os seus custos, os preços e o
mercados diferentes. entendimento dos princi- investimento necessário em um dado seg-
pais impu lsionadores do mento. Assim, o entendimento das forças
desempenho e do custo, que a cercam vai permitir à empresa esco-
examinados de forma holística por toda lher efetivamente a sua estratégia compe-
aquela cadeia. titiva. Essa metodologia permite que uma
Outro fator importante de competivida- empresa perceba a complexidade e apon-
de das empresas em busca de novos mer- te os fatores críticos de sucesso frente à sua
cados está na formação de alianças econô- concorrência, além da identificação de ino-
micas globais. A estratégia que as empre- vações estratégicas para a melhoria de sua
sas adotam nessa área possui implicações rentabilidade.
significativas na sua habilidade de buscar O conhecimento da base da concorrên-
e de manter a qualidade de seus produtos cia permitirá, então, a determinação da
e serviços. vantagem competitiva a ser adotada: baixo
Nesse caso, a assimilação de necessi- custo ou diferenciação. Essas vantagens re-
dades e expectativas dos clientes, dos sultam de uma melhor habilidade da em-
ambientes de negócios e das diferenças presa, comparada com a dos seus concor-
culturais são fatores críticos de sucesso no rentes, em lidar com estas cinco forças. Es-
gerenciamento de empresas inseridas em ses dois tipos básicos de vantagem levam
negócios globalmente cada vez mais dis- a empresa a adotar uma destas três estra-
persos. tégias competitivas: de liderança de cus-
O maior desafio das empresas, que atu- tos, de diferenciação ou de enfoque. Esta
am em mercados globais multiculturais, é última pode ser de enfoque no custo ou
3. . Técnicas para ajustar seus enfoques e estratégias às ne- na diferenciação. As duas primeiras bus-
análise das indústrias e da cam a vantagem competitiva em um limi-
concorrência. Rio de Janei-
cessidades individuais dos mercados sem
ro: Campus, 1991. perder de vista a missão da organização. te amplo de segmentos industriais, en-
16 Artigo recebido pela Redação da RAE em junho/1994, avaliado em agosto/1994 e aprovado para pUblicação em setembro/1994.