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Apresenta

A Rede

Novela de:

Evana Ribeiro

CAPÍTULO 08
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CENA 01 – BAR – INT – TARDE


Alexandre ainda está no telefone, sem reação, esperando que Ilma
diga alguma coisa. Catarina se levanta e vai saindo.

JOYCE (levantando) – Ei, eu vou contigo...

CATARINA (a detém) – Não, brigada, quero ficar sozinha. (sai)

ALEXANDRE (nervoso) – Ilma? Ilma, fala alguma coisa! Não me deixa


aqui falando sozinho que nem um idiota, fala!

GEYSA (tira o celular da mão dele) – Cara, já chega. (no celular) Ilma,
cê ta aí? (pausa) Acho que ela desligou. Enfim... Eu vou pagar a conta e
vamos embora. (levanta e vai saindo) Essa comemoração já deu o que
tinha que dar...

Alexandre, sozinho, bebe o resto de uma cerveja.

CORTA PARA

CENA 02
Tomada de Recife. Efeito de transição tarde-noite.

CORTA PARA

CENA 03 – CASA DE Mª EDUARDA – SALA – INT – NOITE


Tudo pronto para a festa de boas vindas de Anuska e Rodrigo.
Maria Eduarda assiste a um noticiário na televisão.
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ÂNCORA – Jovem é encontrada morta na linha férrea. A estudante Ilma


Camargo Rodrigues, 21 anos, foi encontrada esta tarde sobre a linha
férrea, na cidade de Ipojuca, na mata sul do Estado. O corpo foi
encontrado por uma amiga da vítima, que mora perto do local. Ao lado
do corpo, que estava dilacerado pelas rodas do trem, foi encontrado um
celular modelo V3, da Motorola. Provavelmente, a jovem estava
conversando com alguém no momento da colisão.

Mª EDUARDA (faz o sinal da cruz) – Misericórdia! Coitada da menina...

ELOÍSE (passando por trás do sofá) – Que é isso, mãe?

Mª EDUARDA – Uma tragédia, minha filha… Uma menina foi morta na


linha do trem em Ipojuca. Pobrezinha... Atropelada! Teve o corpinho
partido em dois...

ELOÍSE – Ai, mãe, misericórdia! Eu tão feliz e a senhora com essas


coisas? Por favor...

Mª EDUARDA – Tá bom, parei. Jackie tava procurando você, tá lá no


quarto agora.

ELOÍSE – Vou lá atrás dela.

Eloíse sai. Eduarda continua assistindo a TV, impressionada com a


má notícia.

CORTA PARA
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CENA 04 – CASA DE Mª EDUARDA/QUARTO DAS MENINAS – INT


– NOITE
Eloíse vai entrando no quarto.

ELOÍSE – Oi?

JACQUELINE (off) – Tava te procurando mesmo... Me diz aí: tô boa?

Corta rápido para os pés de Jacqueline. Ela usa um scarpin rosa-


choque, salto alto. A câmera vai subindo lentamente, revelando a
produção dela. Meia calça da cor da pele, um vestido negro curto com
uma larga faixa da mesma cor do scarpin na cintura, colar de contas
grandes de acrílico, também cor-de-rosa, mas num tom menos
chamativo, brinco do mesmo material e cor do colar, maquiagem
específica para a noite, também em tons róseos. Jacqueline sorri,
triunfante.

JACQUELINE – Que tal? Fala alguma coisa.

ELOÍSE – Tá perfeita!

JACQUELINE – Ah, bom... Achei que eu estivesse meio gordinha dentro


desse vestido. Desenterrei ele, sabe...

ELOÍSE – Pois nem parece. Agora eu é que tenho que ir me arrumar,


daqui a pouco o povo chega.

Eloíse corre para dentro do banheiro.

JACQUELINE – Capricha pra ver o príncipe, gata! Capricha mesmo...


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Jacuqeline, sorrindo, se olha no espelho.

CORTA PARA

CENA 05 – CASA DE ALEXANDRE/SALA – INT – NOITE


Alexandre está dormindo no sofá, Catarina e Joyce ao lado dele.

JOYCE – Ai, Cristo... Agora a gente tá aqui, de babá de cachaceiro!

CATARINA – O pior é que Ilma não ligou de volta...

JOYCE – Normal! Ela deve ter ficado tão fula com ele que tem mais é
que dar um belo gelo. Se eu fosse ela, também dava.

CATARINA – É...

JOYCE – Ainda bem que eu não sou! Vamos comer alguma coisa? Tô
com uma fome danada e o nosso amigo aí não vai acordar tão cedo...

Elas saem para a cozinha.

CORTA PARA

CENA 06 – CASA DE WALTER/QUARTO DO CASAL – INT – NOITE


Beth está sozinha, assistindo TV, muito entediada. Walter entra.

WALTER – Oi...

BETH (fria, sem olhar para ele) – Oi.


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WALTER – Ainda tá chateada comigo por causa dos tapas?

BETH – Não é só isso. Tô mais chateada por você ficar decidindo as


coisas sem me consultar. Custava me perguntar o que eu achava da
Jéssica e do Júnior passarem o resto do fim de semana juntos?

WALTER – Mas você já controla demais as coisas...

BETH – É meu jeito, pôxa.

WALTER – Precisa esquecer um pouco os meninos. (beijo na testa) Que


tal se a gente fosse ao cinema hoje, ou jantar fora, ou as duas coisas...
Faz tempo que a gente não faz isso.

BETH (sorri) – Ah, é verdade, você nunca tem tempo...

WALTER – Mas agora tô de férias. Topa o passeio?

BETH – Topo! Me dá só um minuto que eu vou tomar banho.

Beth beija Walter e vai para o banheiro.

CORTA PARA

CENA 07 – CASA DE Mª EDUARDA/SALA – INT – NOITE


Alguns convidados já estão na sala, conversando, rindo. A
campainha toca e Eloíse vai abrir a porta, encontrando Rodrigo. Eles se
beijam apaixonadamente.
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RODRIGO – Você tá linda...

ELOÍSE – Cadê sua prima?

RODRIGO – Tá chegando.

ELOÍSE (o puxando pela mão) – Vem, o pessoal tá querendo te ver aqui.

Eloíse e Rodrigo vão atravessando a sala de mãos dadas. No meio


do caminho, Jacqueline pára na frente deles.

JACQUELINE – Oi!

ELOÍSE – Rodrigo, essa é minha irmã, Jacqueline. Jackie, esse é o


Rodrigo, meu namorado.

JACQUELINE – Muito prazer!

Jacqueline vai dar um beijo no rosto de Rodrigo, mas dá um


selinho. Eloíse fica constrangida.

JACQUELINE – Opa, desculpa...

Corta para a entrada da casa. Anuska entra, olhando em volta,


meio perdida. Amanda a vê e se aproxima dela.

AMANDA – Que coincidência! Nós de novo na mesma festa...

ANUSKA – Eu devia ter pedido pro Rodrigo me esperar, quase não


acertava a casa. Se não fosse o barulho de festa...
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Amanda ri.

ANUSKA – Acabei de achar meu primo! Vou ali falar com ele, com
licença.

Anuska se afasta de Amanda, que começa a conversar em off com


outra pessoa. Travelling seguindo os passos de Anuska. Ela esbarra em
Jorge, e os dois ficam se encarando por um instante, muito sérios.

JORGE – Eu pedi tanto pra isso não acontecer...

ANUSKA – Boa noite pra você também. Chegou há muito tempo?

JORGE – Se dependesse só da minha vontade, nem teria chegado.

ANUSKA – Nossa, que humor... Come um docinho.

JORGE (levanta um pouco a voz) – Mas tu é cínica, né? Depois de ter


me sacaneado como me sacaneou, ainda me aparece oferecendo
docinho? Mas é muita cara de pau!

ANUSKA – Desculpe, mas... A festa é minha.

JORGE – E você não sabe o sacrifício que eu faço estando aqui.

Anuska tenta responder, mas Jorge passa direto por ela. Amanda
o aborda.

AMANDA – Que foi, amor? Cara estranha.


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JORGE – É que eu trombei com uma pessoa muito desagradável.

Amanda vê Anuska sozinha, comendo um doce.

AMANDA – Ela? Ela é a sua... Ex-noiva?

JORGE – Ela mesma.

AMANDA – Eu já tinha conhecido, hoje de manhã. Mas não liguei o


nome à pessoa...

Amanda fica olhando para Anuska, que também olha para ela,
mas logo desvia o olhar.

CORTA PARA

CENA 08
Tomada do Shopping Tacaruna.

CORTA PARA

CENA 09 – SHOPPING TACARUNA/PÇA DE ALIMENTAÇÃO – INT –


NOITE
Helena está sozinha, bebendo. Geysa chega, um pouco apressada
e com a respiração ofegante.

HELENA – Eu disse que viesse logo, mas não precisava correr tanto!
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GEYSA (impaciente) – Da próxima vez, explique melhor como quer que


eu venha.

HELENA – Vamos, sente aí... Quer beber alguma coisa?

GEYSA – Não, obrigada.

HELENA – Primeiramente, quero dar as minhas condolências pela perca


de sua amiga...

GEYSA – Como? Que amiga?

HELENA – Ilma não era sua amiga?

GEYSA – Sim, mas... Que papo viajado é esse de perca? Ela só viajou...

HELENA – Ai... Achei que vocês já soubessem da morte.

GEYSA (rindo) – Acho que você tá bebendo demais desse treco aí...

HELENA – É sério.

Geysa fica olhando para Helena, incrédula. Seu celular toca.

CORTA PARA

CENA 10 – CASA DE ALEXANDRE/SALA – INT – NOITE


Alexandre continua dormindo. Catarina está em outro sofá, em
estado de choque, e Joyce fala ao telefone com Geysa, chorando.
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JOYCE – É... É verdade! Tá dando em todos os jornais, Geysa. Foi


naquela hora que o Xando tava gritando com ela no telefone...

Close em Catarina, completamente chocada.


Surgem em flashs várias lembranças: Ilma e Alexandre
namorando no Bar do Abacaxi, a despedida de Ilma na rodoviária, várias
festas nas quais Alexandre e Ilma estão sempre juntos. Em seguida,
volta para a realidade. Os olhos de Catarina estão marejados, mas ela
não chora.

JOYCE (off, chorosa) – Catarina... Ei, Catarina!

CATARINA (como que despertando de um transe) – Oi...

JOYCE – Eu já liguei pra todo mundo. Agora só podemos sentar e...


esperar.

CATARINA – Como é que a gente vai contar pra ele? (indica Alexandre
adormecido) Ele vai se sentir tão culpado quando souber...

JOYCE – Cacá, você vai me odiar pelo que eu vou dizer, mas... Eu acho
que o Alexandre tem uma parcela de culpa na história sim.

Em Joyce,

CORTA PARA
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CENA 11 – SHOPPING TACARUNA/PÇA DE ALIMENTAÇÃO – INT –


NOITE
Continuação da cena 09. Geysa vai se levantando para sair.

HELENA – Ei, espera aí! Ainda nem falei porque te chamei aqui!

GEYSA – Vai me desculpar, mas tem que ficar pra outra hora.

HELENA – Vai, senta aí, menina. O máximo que você vai poder fazer é ir
pro enterro.

Geysa fica parada por alguns instantes, ponderando, depois volta


a se sentar.

GEYSA – Vai, fala logo o que você quer.

HELENA – Preciso de sua ajuda pra algumas coisinhas...

GEYSA – Ajuda minha? Qual é, Helena? Eu te odeio e você sabe disso.

HELENA – Por isso mesmo quero sua ajuda, flor. Não conhece aquele
princípio maquiavélico de que se unir com o inimigo nos deixa mais
fortes? Então...

GEYSA – Tá, tá beleza. Agora me diz no que eu posso ser útil pra
PHdeusa!

HELENA (ri) – Bom, primeiro quero que você me ajude a melhorar um


pouco a minha popularidade, pelo menos entre seus amigos. Já que se
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mostrou tão eficiente em tentar me derrubar, agora faça justamente o


contrário.

GEYSA – Ah, é isso?

HELENA – Também. Você também vai me fazer uns favores... Pessoais.

GEYSA – E o que eu ganho com isso?

HELENA – Posso agilizar muitas coisas pra você dentro do curso. Talvez
até um mestrado mais pra frente...

GEYSA – Tá pouco.

HELENA – O que você quer? Dinheiro?

GEYSA – Mas é claro!

HELENA – Vou pensar no seu caso, bem. Mas o que eu quero que você
faça, pelo menos por agora, é bem simplezinho. Quero que você faça
uma investigação básica sobre a vida do professor Walter Tavares fora
da Universidade.

Neste momento, Walter e Beth passam a uma certa distância de


onde Geysa e Helena estão.

HELENA – E por falar neles...

GEYSA – Tá, mas eu não entendi por que investigar a vida do professor
Walter!
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HELENA – Bom, eu ouvi tanto vocês falando que eu precisava de um


homem...

GEYSA – Mas o cara é casado, pô. Olha a mulher dele ali. (indica Beth,
sentada em uma mesa do outro lado da praça de alimentação)

HELENA – Mas vocês disseram homem. Não especificaram se era


casado, solteiro, viúvo, desquitado, gay...

Helena ri e bebe um pouco do seu drink.

CORTA PARA

CENA 12
Tomada aérea de Nova York.

CORTA PARA

CENA 13 – NY/CASA DE ALIENA/SALA DE ESTUDOS – INT –


NOITE
Teresa está sozinha na sala mal-iluminada, tentando escrever um
e-mail para Mick. Ela parece estar triste em fazê-lo; escreve e logo
apaga tudo o que escreveu.

TERESA (escrevendo) – Peraí, vamos lá, de novo. (t) Querido Mick,


aconteceram muitas coisas nos últimos dias e eu não vou mais... Não,
assim não. (t) Mick, eu espero que você me perdoe pelo vacilo. Foi
muito bom o tempo que convivi com você, mas... Ai, não, cruel demais!
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Teresa continua digitando, até que desiste, aborrecida.

CORTA PARA

CENA 14 – RECIFE/CASA DE EMÍLIO/QUARTO DE MICK – INT –


NOITE
Mick está na frente do computador, olhando constantemente para
a lista de contatos do MSN. Teresa não está online.

MICK (triste) – Ela só pode estar fugindo de mim! Tantos dias de


ausência, nenhum recado... Miranda deve ter razão, ela arrumou outro
cara e resolveu esquecer de mim. (t) É, Mick, você foi um idiota de
acreditar que isso ia pra frente.

Mick fecha o MSN, desliga o computador e vai dormir.

CORTA PARA

CENA 15 – CASA DE Mª EDUARDA/SALA – INT – NOITE


A festa continua, muito animada. Eloíse e Rodrigo namoram no
sofá, sob o olhar atento de Jacqueline. Anuska e Jorge ficam em lados
opostos. Ele não pára de beber.

AMANDA – Jorge, não acha que tá na hora de parar?

JORGE – Você não insistiu pra eu vir? Agora agüente.

AMANDA – Mas beber demais, ainda com o humor que tu tá hoje, não
vai prestar!
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JORGE – E quem disse que eu tô de mau humor aqui? Tô é feliz, minha


filha!

Jorge dá uma sonora gargalhada, que chama a atenção de todos


na festa. Amanda desvia o olhar para o chão, envergonhada.

AMANDA – Vou pegar uma bebida, volto logo.

Amanda se afasta rápido de Jorge. Anuska a interpela.

ANUSKA – Oi de novo...

AMANDA – Oi. Eu... Eu devia ter adivinhado que você era a ex-noiva do
Jorge.

ANUSKA – E você é a atual, certo?

AMANDA – Isso.

ANUSKA – Que coisa...

AMANDA – Ele não gosta muito de você.

ANUSKA – Não gosta nada, isso já dá pra notar a quilômetros. E pensar


que antes ele matava e morria por mim...

AMANDA – Naquela hora que vocês se falaram, ele te tratou muito mal?

ANUSKA – Até que não, sabe? Achei que quando me visse pela primeira
vez depois de toda a baixaria, ele fosse me pegar pelos cabelos, me
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humilhar na frente de todo mundo, tirar uma peixeira de algum lugar e


enfiar na minha barriga... Enfim.

AMANDA – Ele nunca faria isso.

ANUSKA – Eu não confio. Um homem com o sangue fervendo de ódio


pode fazer qualquer coisa.

AMANDA – E você acha que ele ainda está com ódio de você?

ANUSKA (sorri) – Quem convive melhor com ele hoje é você, devia ter a
resposta pra essa pergunta.

JORGE – Amanda, você não disse que ia pegar uma bebida?

AMANDA – E eu ia...

JORGE – Tá fazendo o que com... Com essa aí, então?

ANUSKA – Peraí, meu filho...

JORGE (levanta a voz) – Peraí uma conversa! Tá querendo o quê?


Seduzir a minha noiva?

AMANDA – Que besteira, Jorge, onde já se viu...

JORGE – Vai pro teu canto, Amanda, vai pro teu canto. E você, dona
Anuska, volta pro antro de onde tu nunca devia ter saído! Volta pro
cabaré!
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ELOÍSE – Ai, meu Deus!

RODRIGO – Peraí, eu vou tentar acalmar as coisas...

JORGE – Ninguém chega perto! Deixa eu falar! (segura Anuska pelo


braço, a machucando)

ANUSKA – Me solta!

JORGE (aperta mais) – Agüente! Isso é o mínimo que eu posso fazer


contigo aqui. Essa mulher aqui que vocês tão vendo é a criatura mais
abominável que já cruzou o meu caminho, e o caminho de todo mundo.
Ela não merece nada disso que tá acontecendo aqui, porque ela é uma
traidora! Uma traidora nojenta! Ela me chifrou faltando quinze dias pro
nosso casamento, e adivinhem com quem? Com uma mulher! Ela, ela
me traiu com outra mulher! Feriu meu orgulho de morte e eu nunca,
nunca vou perdoar ela por isso. Nunca, ouviu bem? Eu quero que você
morra, e vá pro inferno, vá pagar pela sua... Sua... Pelos seus pecados!

ANUSKA (consegue se soltar dele) – Já chega! (t) E pensar que um dia


desses me passou pela cabeça um pingo de arrependimento por ter te
traído... Pois fique sabendo agora, fiquem todos sabendo que eu não me
arrependo de droga nenhuma! Você merecia isso e mais, porque você é
um estúpido, um bruto, um preconceituoso nojento que não vale o ar
que respira! E você, Amanda, se eu fosse você, largava logo esse
imbecil, antes que ele te contamine com a amargura dele.

JORGE – Não ouve, Amanda!


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AMANDA – Vocês querem calar a boca? Eu não devia nem ter vindo, ora
essa...

Amanda sai batendo a porta.

PEDRO (baixinho, para as filhas) – Acho que essa festa já deu o que
tinha que dar...

JACQUELINE – Nada, pai. O bom ainda vai começar...

Pedro se afasta de Eloíse e Jacqueline e tira Jorge da sala.


Jacqueline fica passeando por ali e se aproxima sorrateiramente de
Rodrigo.

JACQUELINE – Ei... Tá precisando de alguma coisa?

RODRIGO – Nada não, obrigado. Só quero falar com a Elô.

JACQUELINE – Tá bom... Ela tá ali atrás.

RODRIGO – Valeu, Jacqueline.

Rodrigo sai. Jacqueline suspira, insatisfeita.

JACQUELINE – Ai, ai... A gente se arruma toda, pra quê? Pra ele preferir
a outra, que não tem nem um décimo da minha graça! Certo tava o
sujeito que disse pela primeira vez que o amor é cego...

Jacqueline percebe que Gustavo, um adolescente de mais ou


menos 16 anos, olha insistentemente para ela.
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JACQUELINE – O que foi, pirralho?

GUSTAVO – Tá bonitona, Jackie.

JACQUELINE – Ah, baby. Eu não estou. Eu sou! E outra; tu não tem uma
namorada do teu tamanho, não? Vai atrás dela...

Jacqueline dá um sorrisinho irônico para Gustavo, que fica a


observando com cara de bobo.

CORTA PARA

CENA 16 – RUA – EXT – NOITE


Amanda e Gabrielle caminham juntas, a passos lentos. As duas
estão chateadas.

AMANDA – Eu não devia ter insistido pra ele ir! Quer dizer, eu até tinha
parado de pedir, mas...

GABRIELLE – Agora já tá feito, não adianta ficar se lamentando. E no


fim das contas, ninguém ia adivinhar que ele ia ficar tão bêbado, tão
inconveniente e tão furioso, né?

AMANDA – Pois é. Mesmo assim tô me sentindo culpada.

GABRIELLE – Não sinta. Isso não é um problema seu, é problema lá


deles, eles que resolvam. (t) Mesmo que precisem se matar pra isso,
mas que resolvam.
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Elas continuam caminhando, e dobram a esquina.

CORTA PARA

CENA 17
Tomadas de Recife e Nova York. Efeito de transição noite-dia.

CORTA PARA

CENA 18 – NY/CASA DE ALIENA/SALA DE ESTUDOS – INT – DIA


Teresa está adormecida no chão, ao lado da escrivaninha. Maria
vai entrando e a acorda. Teresa olha para a menina, muito sonolenta.

MARIA – Você dormiu aqui?

TERESA – É... Acho que sim. (levanta) Ai, que dor nas costas... Agora
sei como vovó se sentia.

MARIA – A gente preparou uns sanduíches pro café da manhã. Aí fui ver
se você tava no quarto e não tinha ninguém.

TERESA – Ah, que legal, tô morrendo de fome... Passei a noite toda


tentando mandar um e-mail imbecil, acabei não mandando nada.

MARIA – Por que não? A conexão caiu?

TERESA – Mais ou menos. Na verdade a caída aqui sou eu... (ri) É que é
muito difícil ter que se despedir das pessoas que gostamos.

MARIA – Eu sei.
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TERESA – E agora eu não sei o que é pior, se é dar ou levar um fora!


Enfim, é melhor esquecer isso. Vamos lá comer os sanduíches...

Elas saem. Teresa ainda vai resmungando de dor nas costas.

CORTA PARA

CENA 19 – RECIFE/CASA DE EMÍLIO/SALA DE JANTAR – INT –


DIA
A família está tomando café da manhã. Amélia serve leite para
Mick e estranha sua expressão triste.

AMÉLIA – Filho? Aconteceu alguma coisa?

MICK – Nada não, mãe. Eu só não consegui dormir direito.

AMÉLIA – Grudado naquele computador, né?

MICK – Pior que não foi. Ontem aquilo lá não teve a menor graça...

MIRANDA – Misericórdia. Tu tá doente, criatura?

MICK – Não... Na verdade eu pensei um bocado naquilo que tu me falou


outro dia e acho que caí na real.

MIRANDA – Sobre a garota?

MICK – É, sobre ela. Acho que ela desistiu mesmo de mim. Deve ter
arrumado um namorado que mora mais perto...
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AMÉLIA – Mas meu filho, pense no lado bom. Isso nunca ia dar certo!
Você aqui, ela lá em outro país... E se ela for uma pessoa ruim?

MICK – Mas ela não é.

AMÉLIA – Tá, mesmo não sendo, isso nunca ia pra frente, concorda?

EMÍLIO – Amélia, lembra que quando a gente começou a namorar, era


eu no começo do mundo e tu no fim!

AMÉLIA – Mas era diferente...

EMÍLIO – É, diferente mesmo. Agora ficou mais rápido.

AMÉLIA – Mesmo assim, eu preferia que Mickey namorasse uma moça


que morasse mais perto.

MICK – Bom, acho que agora vou mesmo me abrir pra novas
possibilidades.

MIRANDA – Se quiser, a minha cadernetinha de telefones tá lá em cima,


toda disponível pra você.

MICK – Valeu, Miranda, mas as tuas amigas não fazem o meu tipo.

MIRANDA – Como você vai saber, se nem conhece elas?

MICK – Elas parecem com você, não é?


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MIRANDA – É.

MICK – Então.

MIRANDA – Bom, se mudar de idéia, tá lá. Vou subir pra dormir mais
um pouquinho. (vai saindo)

MICHELLE – Hoje sai o resultado do vestibular, né?

MIRANDA – Eita, é mesmo! Depois eu olho.

MICHELLE – Então aproveite pra dormir muito enquanto pode, porque


depois...

MINERVA – Ela sabe... Já largou três faculdades, lembram?

MIRANDA – Lá vem vocês comentando essa história!

MINERVA - Vamos recapitular o histórico acadêmico da Miranda. Quando


terminou o Ensino Médio, prestou vestibular pra Administração. Passou
e largou o curso no fim do segundo semestre. Depois se encantou com
Educação Física... Ou foi com o Marcelo, aquele deus grego que você
namorou ano passado? Acabou o namoro, acabou a faculdade.

MICHELLE - Por fim, apostou nas artes plásticas e foi reprovada em


quatro das cinco cadeiras do primeiro período. Desiludida, abandonou.
Resultado...

MINERVA/MICHELLE – Fracasso total!


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MIRANDA – A forma como vocês me apóiam é realmente


impressionante.

MICK – Esquenta não, irmã. Você não tá sozinha no rol de fracassados


da família.

MINERVA – Cristo, que deprê essa conversa!

MICHELLE – Com essa eu vou embora.

MIRANDA – Também vou.

Todos vão se dispersando.

CORTA PARA

CENA 20 – CEMITÉRIO/VELÓRIO – INT – DIA


Uma grande quantidade de pessoas está presente no velório de
Ilma. Alexandre está bem perto do caixão, chorando muito em silêncio.
Depois ele sai, cabisbaixo. Catarina sai atrás dele.

CATARINA – Alexandre...

ALEXANDRE – Eu preciso ficar sozinho, Cacá. Tenho que pensar na


minha culpa em tudo isso.

CATARINA – Mas você não teve culpa de nada...


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ALEXANDRE – Não, eu tive! Se eu não tivesse ligado, nem gritado com


ela, talvez... Seria muito melhor se eu tivesse morrido no lugar dela.

CATARINA – Não, isso não, nunca!

Catarina segura fortemente as mãos de Alexandre, os dois ficam


assim por alguns instantes, até que ele se solta lentamente.

ALEXANDRE – Muito obrigado pela força, Cacá. Você tem sido mais do
que uma amiga pra mim... Na verdade, sempre foi... Eu é que nunca
tive muito jeito pra dizer o quanto você é importante na minha vida...

Catarina abaixa um pouco a cabeça e sorri, envergonhada.

ALEXANDRE – A irmã que eu não tive, sabe?

O sorriso desaparece imediatamente do rosto de Catarina.

CATARINA – Sei.

JOYCE (se aproxima deles) – O cortejo já vai sair.

Os três voltam para dentro.

CORTA PARA

CENA 21 – CEMITÉRIO – INT – DIA


O enterro de Ilma transcorre em silêncio. Todos choram. Depois
do enterro, Alexandre, Catarina, Geysa e Joyce caminham em direção a
saída do cemitério, sozinhos, de mãos dadas.
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CORTA PARA

CENA 22
Tomada aérea de Nova York.

CORTA PARA

CENA 23 – NY/AP. DE FELÍCIA/QUARTO – INT – TARDE


Felícia está se arrumando para sair e falando com Julia ao telefone
(o aparelho está no modo viva voz).

JULIA (off) – Tô com uma dó da Catarina! Perdeu a melhor amiga de um


jeito tão trágico.

FELÍCIA – Ela ainda vem?

JULIA – Desistiu. Eu até entendo, sabe... Os amigos precisam estar


juntos nessas horas. (t) E você, vai fazer o quê?

FELÍCIA – Vou me encontrar hoje com o Ed.

JULIA – Aquele Ed?

FELÍCIA – Ele mesmo.

JULIA – Felícia...
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FELÍCIA – Pode ficar tranqüila, mamãe. A gente vai se encontrar no


Rockefeller Center, e lá tem muita gente, ninguém vai poder mexer
comigo.

JULIA – Bom, já que você me garante... Vou tentar não ficar


preocupada.

FELÍCIA – Se quiser pode ligar pro meu celular daqui a meia hora, até te
coloco pra falar com o Ed.

JULIA – Olhe que ligo mesmo, hein?

FELÍCIA – Vou esperar. Agora tenho que ir, beijos!

JULIA – Tchau, filha. E toma cuidado por aí, hein?

A ligação é encerrada. Felícia começa a se maquiar.

CORTA PARA

CENA 24 – NY/CASA DE ALIENA/SALA – INT – TARDE


Maria e Olga estão assistindo TV na sala. Teresa entra, vinda do
quarto, carregando Irina.

OLGA – Vai sair?

TERESA – Vou.

OLGA – Encontrar aquele cara?


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TERESA – É.

Olga e Maria lançam olhares de reprovação para Teresa.

TERESA – Não vou demorar. Eu ia deixar ela com vocês, mas resolvi
levar. Qualquer coisa, podem chamar no celular.

MARIA – Tá bom.

Teresa dá um beijo em cada uma das meninas e sai com Irina.

CORTA PARA

CENA 25 – NY/AP. DE ED/SALA – INT – NOITE


Ed entra, vindo do quarto. Bradley está deitado no sofá, lendo
jornal.

ED – Ei, tá fazendo o quê assim? Levanta, a gente tem que sair.

BRADLEY – Sair?

ED – Esqueceu do encontro de hoje?

BRADLEY – Seu encontro.

ED – Nosso encontro. Você vai comigo, só pra dar um reforço.

BRADLEY – Qual é, cara, eu não tô disposto...


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ED – Qual é digo eu! Tá cansado de guerra, é? Tem grana em jogo,


rapaz, grana boa. E uma mocinha bonita, dá pra divertir um pouquinho.
(t) Vai perder?

Bradley fica olhando para Ed, indeciso.

********** FIM DO CAPÍTULO 08 **********

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