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CARVALHO-ROSEVICS Org Diálogos Internacionais (E-Book)
CARVALHO-ROSEVICS Org Diálogos Internacionais (E-Book)
Larissa Rosevics
(Orgs.)
DIÁLOGOS
INTERNACIONAIS
REFLEXÕES CRÍTICAS DO MUNDO CONTEMPORÂNEO
1a ed.
Rio de Janeiro
2017
@2017 Os autores
CDU 327(100)
Porque os homens, quase sempre, caminham por
estradas batidas por outros e agem por imitação.
Mesmo sem conseguir repetir completamente as
mesmas experiências, nem acrescer às virtudes de
quem imita, deve um homem prudente utilizar os
caminhos já traçados pelos grandes. Sendo
excelentíssimo imitador, se não alcançar o sucesso,
que ao menos aprenda alguma coisa.
Nicolau Maquiavel
(O Príncipe, 1513)
D
iálogo Internacionais: Reflexões Críticas do Mundo Contemporâneo é
a consolidação do projeto iniciado em junho de 2014 com a
criação de um blog, cuja motivação inicial foi a promoção do
debate, o exercício da escrita, da reflexão e da crítica de temas da
atualidade e da história com foco, não exclusivo, na cena internacional.
As nossas pretensões eram, portanto, singelas. Dentro deste vasto
universo em que consiste a internet, com milhares de websites e blogs,
procuramos oferecer aos nossos leitores um conteúdo atualizado, com
embasamento teórico e reflexão crítica.
Optamos desde o início pela não monetização de nosso espaço,
cientes de que seu crescimento dependeria do contato interpessoal.
Escolhemos, também, não o vincular a nenhuma instituição de ensino
e/ou pesquisa, por entender que independência e certa rebeldia devem
fazer parte da nossa identidade enquanto blogueiros.
Apesar do aparente isolamento em que nos encontrávamos,
fomos construindo nossa história. Entre 2014 e 2017, foram publicados
134 textos de 28 autores diferentes, com mais de 3.000 visualizações
semanais. Procuramos ser regulares em nossas publicações, que
acontecem (quase sempre) uma vez por semana.
Para nossa felicidade, os textos do blog passaram a ser citados
em trabalhos acadêmicos e tornaram-se instrumento de estudo didático
para muitos estudantes das ciências sociais e humanas com pesquisas
ligadas à área internacional. Foi a partir desse momento que decidimos
seguir este caminho que extrapola o mundo virtual, ainda que nele
esteja contido, e materializar esta publicação, cuja seleção dos textos
seguiu dois critérios: o número de visualizações do texto e temas mais
recorrentes.
O livro está dividido em 9 seções. A primeira, intitulada
“Diálogos com as Relações Internacionais” apresenta os textos de
Ingrid Sarti, Mônica Leite Lessa e Williams Gonçalves, nossos
professores, orientadores e nossos maiores incentivadores, que
discutem a atualidade das Relações Internacionais no mundo
contemporâneo, a integração regional e a busca pela autonomia. São os
únicos textos cedidos para a publicação que não passaram pelo blog. A
segunda seção “Diálogos sobre Economia Política Internacional” é
composta pelos textos de Hélio Farias, Patrícia Nasser de Carvalho e
André Saboya que nos ajudam a refletir a complexidade do momento
atual internacional através do olhar da EPI. Em seguida apresentamos
“Diálogos sobre Desenvolvimento” com os textos de Glauber Cardoso
Carvalho, Túlio Sene e Luiza Bizzo Affonso, que nos apresentam os
dilemas do desenvolvimento em um contexto neoliberalizante. Em
“Diálogos sobre Política Externa”, o leitor encontrará textos relevantes
sobre paradiplomacia e a necessidade de pensar a política externa como
uma política pública, através das perspectivas de Leonardo Granato,
Suellen Lannes e Victor Tibau. Na quinta seção retornamos nosso olhar
para os “Diálogos sobre Segurança e Defesa”, com os textos de Larissa
Rosevics e de Ricardo Zortéa Vieira. Em seguida, os “Diálogos sobre
Geopolítica” são promovidos pelos textos de Hélio Farias, Bernardo
Salgado Rodrigues e Marcelo Campello. Na sétima seção estão os
“Diálogos sobre Integração Regional” com as contribuições de Luiz
Felipe Brandão Osório, Glauber Cardoso Carvalho, Larissa Rosevics e
Thauan dos Santos. A oitava seção traz os “Diálogos sobre a América
Latina”, com a busca pela desconstrução do senso comum promovido
pelos textos de Larissa Rosevics, Bernardo Salgado Rodrigues e Licio
Caetano do Rego Monteiro. A nona seção denominada “Diálogos com a
História Contemporânea” apresenta as análises de Edilson Nunes dos
Santos Junior, Julia Monteath de França e Suellen Lannes.
Agradecemos a todos aqueles que colaboraram com o blog
“Diálogos Internacionais” e que por ventura não fazem parte dessa
edição: Beatriz Guimarães de Araújo; Caroline Rangel Travassos Burity;
Janaína Pinto; Jessika Cardoso de Medeiros; Mario Afonso Lima; Natalia
Rezende; Tiago Nasser Appel; Victor Carneiro Corrêa Vieira; Wagner
Souza, Wesley S.T Guerra (do Blog NEMRI/FESPSP). Aos nossos
leitores dos cursos de Defesa e Gestão Estratégica Internacional da UFRJ
e de Relações Internacionais da UFRRJ, da UniLaSalle e da
Universidade Católica de Petrópolis por contribuírem para a divulgação
dos textos publicados. E aos professores e colegas da Pós-Graduação em
Economia Política Internacional da UFRJ pelos intensos debates e
reflexões valorosas.
A UTONOMIA ....................................................................... 47
Williams Gonçalves
Ingrid Sarti
Introduction
T
he world literature on regionalism has privileged the need
to differentiate between integration levels and
institutionalization processes since the first attempts to
understand integration experiences other then the European
one. Some important comparative analyses have concluded that,
despite their convergent characteristics, new experiences did not
fit easily in the theories of regional integration that were
developed from the European case. According to Schmitter
(2004:1), the so-called new theories of integration which have
emerged from the eighties often mistakenly relied on the
European historical process to such an extension that turned out
not to be theories at all, but just more or less elaborate languages
for describing what the authors thought had taken place in the
recent past.
Texto originalmente apresentado no 8th European Consortium of Political Research, 2013,
Glasgow.
Theoretical and developmental challenges to contemporary South American integration
to the regional bloc where they are placed. Five out of the 12
Unasul States are also permanent Mercosul State-partners, hence
their deep commitment to the integration ideals, which is not
found, however, in some of the Unasul partners, who are not
aligned to the regional autonomous strategy and have had a
historical experience in economic, commercial and defense
bilateral agreements under the United States influence
(Colombia, Chile and Peru). However, they share some of the
Unasul developmental strategies, especially the ones regarding
energy and transportation infrastructure.
It is inevitable to approach the new face revealed by
Mercosur when thinking about its twenty-year trajectory, in
other words, to approach rupture into continuity. Mercosur
institutionalization (1990) was a result of previous projects
(FUNAG, 2010), which were thought - in short - to promote
internal market by easing a commercial trend basically between
the two countries which had already had a cooperation tradition,
i. e, Argentina and Brasil. The new face begins in 2004 as the
result of a broad rejection to the Free Trade Area of the Americas
- FTAA, the outcome being a rupture with the open regionalism
trend from the nineties, when a considering commercial activity
had a profitable outcome for the main entrepreneurs partners.
Under the influence of popular governments and the
changes in their foreign policies, the new model sought to build a
Mercosul new identity and consolidate a new democratic social,
political, economic and cultural pattern. Remarkable policies
advance was achieved in different areas, such as education,
family farming and immigration, human rights and social
development. New important institutional mechanisms were
created, but their prosperity require a better financial support,
such as the Social Mercosul Institute (IMS) and the Mercosul
Structure Convergence Fund (Focem), the last of which turned to
be the most relevant concrete measure aimed at overcoming
asymmetries within the bloc.
However, despite the whole innovative policies, the
previous Mercosul institutional structure was preserved – which
Diálogos Internacionais: reflexões críticas do mundo contemporâneo
Final observations
Bibliography
AMORIM, C. La Argentina está presente en cada política de Brasil.
Entrevista. Página 12, Buenos Aires, 20/4/2014
Diálogos Internacionais: reflexões críticas do mundo contemporâneo
O contexto
N
o início do século XXI, em um contexto sul-americano
transformado pelas eleições de governos de
progressistas, e pela consequente reformulação das
agendas desses países, o Mercosul adquire renovado impulso e se
afirma para além da dimensão estritamente econômica até então
praticada. Apresenta-se como espaço de uma política regional
empenhada na redução das desigualdades sociais, na redução das
assimetrias entre os países sul-americanos, na promoção de uma
nova inserção da região no sistema internacional.
Essas novas forças políticas constituem a reação mais
evidente ao Consenso de Washington, prescrito, e adotado na
América do Sul, na década de 1990, como a “conduta econômica”
mais “acertada” para os países em crise, ou em desenvolvimento,
e que, afinal, provocou resultados altamente negativos para as
Texto adaptado do apresentado no XXXIV International Congress of LASA, 2016, Nova
York. Cultural Mercosur: path and prospects from 2003 to 2015. Nova York: LASA, 2016. v.
1. p. 1-17.
Mercosul Cultural: caminho e perspectivas de 2003 a 2015
Desafios e avanços
5 A Reunião dos Ministros da Cultura do MERCOSUR (RMC) foi criada em agosto de 1995,
Decisão do Conselho do Mercado Comum Nº 02/95, como instancia do diálogo entre as
máximas autoridades de cultura dentro da estrutura institucional do Bloco, para promover a
difusão das culturas dos Estados Parte por meio da apresentação das propostas de
cooperação cultural ao Conselho do Mercado Comum (CMC). Em 1996, com a aprovação
do Protocolo de Integração Cultural do Mercosul, e da Declaração de Integração Cultural,
de 2008, foi possível o avanço da institucionalização do compromisso dos Estados em
assumir a cultura como elemento primordial para o aprofundamento do processo de
integração. A estrutura e o regulamento interno (Dec. CMC Nº22/14) do Mercosul Cultural
é composto pela RMC e os seguintes órgãos subordinados: Comité Coordenador Regional
(CCR), Secretaria do Mercosul Cultural (SMC), Comissão do Patrimônio Cultural (CPC),
Comissão da Diversidade Cultural (CDC), Comissão de Economia Criativa e Indústrias
Culturais (CECIC), Comissão de Artes (CA), Foro do Sistema de Informação Cultural do
Mercosul (SICSUR). http://www.mercosurcultural.org/index.php/2015-10-06-13-01-
45/que-es-el-mercosur-cultural
6 Dentre as ações previstas pelo Mercosul Cultural na ata de Canela, da Primeira Reunião
de Ministros de Cultura do Mercosul, realizada na cidade de Canela, Rio Grande do Sul,
nos dias 2, 3 e 4 de fevereiro de 1996, foram definidas as seguintes metas, com destaque
para o projeto de criação de um Centro de Documentação e Pesquisa; do Museu das
Missões, em San Miguel (Brasil); o projeto argentino da construção de três Centros de
Interpretação e Apoio nas Missões Jesuíticas de San Ignácio, Santa Ana e Loreto; cursos
capacitação (organizados pela Argentina e pelo Brasil) sobre Projetos Culturais para o
Mercosul; cursos de capacitação sobre Gestão e Administração do Mercosul;
desenvolvimento de redes nacionais de informação cultural entre os países mercosulinos e
Mercosul Cultural: caminho e perspectivas de 2003 a 2015
10 “As atividades culturais mais importantes e com maior regularidade no Mercosul, têm
resultado, principalmente, de iniciativas de novos atores internacionais como artistas,
intelectuais, professores e pesquisadores universitários, alguns empresários e ONGs.”
(SOARES, 2008).
Diálogos Internacionais: reflexões críticas do mundo contemporâneo
11 www2.cultura.gov.br/.../Programa%20Mais%20Cultur.
12 Segundo dados da Unesco, por exemplo, o comércio geral de bens culturais passou de
U$ 39,3 bilhões em 1994 para U$ 59,2 bilhões em 2002, tendo em 2002, a União
Europeia continuado como principal exportador controlando 51,8% do mercado, em
decréscimo, no entanto, em relação a 1994, quando detinha 54,3%; seguida da Ásia com
20,6%; dos Estados Unidos, que caiu de 25%, em 1994, para 16,9% em 2002; da
América do Sul e do Caribe, que subiram de 0,8% em 1994 para 3% em 2002; da África
Diálogos Internacionais: reflexões críticas do mundo contemporâneo
e Oceania, com apenas 1%. Os mesmos números apontam ainda que do ponto de vista das
importações os países com altos índices de desenvolvimento são responsáveis por 90% do
mercado consumidor: os EUA lideram essa posição, seguidos do Reino Unido e da
Alemanha. Em 2003, 45,1% das importações brasileiras de bens culturais de base eram
provenientes dos Estados Unidos (28%), do Reino Unido (16,3%), e da América Latina e
Caribe (14%). Em 2003 os números de importação/exportação na balança brasileira
revelavam o mesmo desequilíbrio registrado em 1994, o registro anterior ao de 2003:
importação US$ 105,7 milhões e exportação US$ 56 milhões. Unesco, 2005: 10 e 33.
http://www.uis.unesco.org/Library/Documents/culture05_fr.pdf
Mercosul Cultural: caminho e perspectivas de 2003 a 2015
13 A CIC foi criada para garantir a cooperação horizontal entre os Estados, de forma a
promover as relações culturais entre os países participantes, contribuir para a proteção e
desenvolvimento da diversidade cultural sustentável e informar, qualitativa e
quantitativamente, o Observatório Interamericano de Políticas Culturais de forma subsidiar
as Reuniões Interamericanas dos Ministros da Cultura e das Altas Autoridades da Cultura do
Conselho Interamericano de Desenvolvimento Integral - CIDI, bem como a Comissão
Executiva Permanente do Conselho Interamericano do Desenvolvimento Integral - Cepcidi.
Desde 2002, encontra-se também em estudo estratégias para a construção dos Sistemas de
Informação Cultural - CIS, com atividades compartilhadas entre os países. Em 2004, três
temas fundamentais de debate: a cultura como geradora de crescimento econômico,
emprego e desenvolvimento; desafios das indústrias culturais; a cultura como instrumento de
coesão social e combate contra a pobreza. Uma terceira reunião, em 2006, no Canadá,
fixou quatro temas para discussão: preservação e apresentação do patrimônio cultural;
cultura e criação de trabalho decente e superação da pobreza; cultura e realce da
dignidade e da identidade; a cultura e o papel dos povos indígenas (Unesco, 2005).
14 Unesco, 2003. http://www.sedi.oas.org/dec/espanol/.
Mercosul Cultural: caminho e perspectivas de 2003 a 2015
15O desafio posto ao Brasil é duplo: cabe ao país, exclusivamente, assegurar a construção
e o funcionamento da universidade e, ao mesmo tempo, desenvolver um projeto
pedagógico que privilegie a multidisciplinariedade, promova a integração do conhecimento
Diálogos Internacionais: reflexões críticas do mundo contemporâneo
Considerações finais
Referências
Williams Gonçalves
Introdução
A
palavra autonomia, do ponto de vista etimológico, é
originalmente francesa – autonomie. Ela tem origem grega,
formada pelo adjetivo “autos”, que significa “de si
mesmo”, “por si mesmo”, “espontaneamente”, e pela palavra
“nomos” que significa “uso”, “lei”, “convenção”.
Etimologicamente, portanto, autonomia significa “dar-se nas
suas próprias leis” e implica propriedade constitutiva da pessoa
humana, na medida em que lhe cabe escolher as suas normas e
valores, fazer projetos, tomar decisões e agir em consequência
dessas escolhas16.
No sentido político, autonomia significa ter liberdade para
fazer escolhas, para tomar decisões, independentemente das
ideias, influências, interesses, pareceres ou intenções de outrem.
Este texto tem objetivo bem limitado. Ele responde a uma provocação feita por Ingrid
Sarti, que tive a audácia de aceitar. A provocação foi apresentar ao Seminário
Permanente reflexões sobre o conceito de autonomia na Política Externa Brasileira. Em vista
disso, não se deve aqui buscar um texto bem articulado e harmonioso. Não é isso que o
eventual leitor encontrará. Mas sim algumas ideias descosidas que, espero, cumpram a
função de estimular uma discussão sobre o assunto. Caso esse objetivo seja alcançado,
poderei me sentir recompensado.
16 CUNHA, Antônio Geraldo da. Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa. Rio de
19 HURRELL, Andrews James. The Quest for Autonomy. The evolution of Brazil’s role in the
international system, 1964-1985. Brasília: FUNAG, 2013.
Autonomia
CINTRA, Rodrigo. Política externa no período FHC: a busca da autonomia pela integração.
Tempo Social. V. 15, n. 2, p. 31-61, 2003; (e) VIGEVANI, Tullo; OLIVEIRA, Marcelo F. de.
Brazilian foreign policy in the Cardoso era: the search for autonomy through integration.
Latin American Perspectives. V. 34, n. 5, p. 58-80, 2007.
Diálogos Internacionais: reflexões críticas do mundo contemporâneo
Conclusão
Hélio Farias
R
eza a lenda grega que Sísifo foi condenado por desafiar os
deuses, teria tentado enganar a morte, coisa ingênua num
tempo em que os deuses a tudo controlavam. Sua
punição: rolar uma imensa pedra ao topo da montanha.
Eternamente. Sísifo toda vez que se aproximava de concluir a
tarefa, faltava-lhe força e a pedra tornava a descer, o que lhe
obrigava a recomeçar todo o trabalho. E sempre assim. Na
história do sistema interestatal capitalista, a dissociação entre
política e economia parece herdar uma tarefa de Sísifo aos países
da periferia.
O continente africano, depois de mais de quatro séculos de
sujeição, em diferentes graus, ao domínio europeu, começa a
redesenhar sua própria história. Sua inserção no sistema
internacional corresponde há pelo menos três grandes
momentos. O primeiro remete ao século XV, ao período de
formação e consolidação dos primeiros Estados nacionais
europeus. Portugal, Espanha, Inglaterra, Holanda e França
Publicado em 26/11/2014
Superando Sísifo? A África e o sistema interestatal capitalista
Referências
D
ados mais recentes sobre o desempenho da economia
dos Estados Unidos mostram que ela está se
recuperando, embora a um ritmo bem mais lento do que
o esperado, desde o fim da Great Recession, – como os norte-
americanos designam a sua última crise econômica, que
aconteceu do fim de 2007 até a metade de 2009, – e cujas
consequências ainda não foram totalmente revertidas quase
cinco anos depois. Desde então, muitas pesquisas e análises
tentam fazer uma leitura dessas informações para pensar quais
serão as suas repercussões no curto e médio prazo. Embora
muito se discuta sobre isso e diversas opiniões positivas sejam
apresentadas, grande parte delas atualmente repercutem
prognósticos bastante pessimistas sobre as reais possibilidades de
retomada do crescimento da economia norte-americana para os
próximos anos.
Publicado em 27/08/2014
Reflexões sobre a recuperação da mais recente Great Recession...
Referências
André Saboya
O
fenômeno dos desequilíbrios globais refere-se ao
aumento dos superávits e dos déficits em conta corrente
em nível mundial. No período anterior à crise de 2008,
esse desequilíbrio aumentou com o aumento dos déficits dos
grandes países importadores e dos superávits dos grandes países
exportadores. A suscetibilidade da economia mundial à crise
aumenta caso os gastos relacionados a essas trocas internacionais
não sejam sustentados. Esse fenômeno pode ser explicado pelos
conceitos de moeda estatal e demanda efetiva.
Sob a perspectiva dos desequilíbrios globais, o crescimento
da economia mundial nos últimos anos, principalmente no
período anterior à crise de 2008, tem sido acompanhado por um
aumento do desequilíbrio entre as contas correntes dos países.
Em períodos de crescimento econômico, os grandes países
exportadores (Alemanha, Japão, China,) exportam (ofertam)
mais, enquanto os grandes países importadores (Estados Unidos e
outros países europeus) importam (demandam) mais. Ao mesmo
Publicado em 01/08/2016
Desequilíbrios globais, moeda estatal e demanda efetiva
Fonte: <https://www.imf.org/external/pubs/ft/weo/2014/02/pdf/c4.pdf>
Referências
O
ntem, 20 de novembro de 2014, fez dez anos que Celso
Furtado nos deixou. Seu pensamento, porém, guardado
e divulgado com excepcionalidade por Rosa Freire
d’Aguiar, continua vivo. Via Centro Celso Furtado, do qual tenho
a honra de ser o primeiro funcionário e a colaborar desde seu
princípio, ela mandou uma linda nota com lembranças que nos
transportam no tempo e trouxe palavras do mestre que as novas
e antigas gerações precisam refletir.
Destaco de imediato um trecho de “Os desafios da nova
geração”:
Publicado em 21/11/2014
Celso Furtado (1920-2004): dez anos sem o internacionalista
Referências
C
om o clima da disputa eleitoral que segue ainda até o
domingo, parece que falar de outra coisa é fugir de nossa
realidade, mas claro que não é. Basta que façamos os links
necessários e conseguiremos aproveitar para tirar conclusões
sobre o futuro do Brasil.
Me refiro, mais especificamente, à oportunidade que
acabei de ter de participar de uma aula com Jorge Máttar, diretor
do Ilpes – Instituto Latinoamericano y del Caribe de
Planificación Económica y Social, da Cepal, em videoconferência
direta do Chile para uma turma de interessados alunos da UFRJ a
cargo dos professores Ricardo Bielschowsky e Lena Lavinas. A
proposta era que ele falasse sobre o México, como estudioso
mexicano que é, mas com foco a partir da década de 90, sem
retornar aos contornos do outro país que foi antes desse período.
O tema não poderia ser mais relevante e guarda profunda
relação com a comoção internacional (sim, há vida fora das
Publicado em 24/10/2014
"Pobre México. Tão longe de Deus e tão perto dos Estados Unidos."
Túlio Sene
Publicado em 03/09/2014
Notas sobre a retórica do desenvolvimento e a cooperação internacional desde 1945
Referências
E
m 1960, o Comitê de Ajuda ao Desenvolvimento (CAD) foi
criado pela Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE) com o objetivo de
coordenar e promover a ajuda internacional entre os principais
Estados doadores (RIDDELL, 2007, p. 18). Segundo o CAD, a
definição de Assistência Oficial para o Desenvolvimento (ODA)
consiste em:
Flows of official financing administered with the promotion
of the economic development and welfare of developing
countries as the main objective, and which are concessional
in character with a grant element of at least 25 percent
(using a fixed 10 percent rate of discount). By convention,
ODA flows comprise contributions of donor government
agencies, at all levels, to developing countries (“bilateral
ODA”) and to multilateral institutions. (OCDE, 2003).
Publicado em 05/04/2016
A ajuda externa sob a perspectiva da Teoria da Dependência: o caso de Moçambique
Referências
Leonardo Granato
A
s cidades e regiões têm, atualmente, um crescente
protagonismo no âmbito da teoria das relações
internacionais e da política externa. As origens desse
protagonismo podem ser encontradas nas perspectivas teóricas
transnacionalistas da década de 70, representadas por autores
como Keohane e Nye (1977). Estes autores reconheceram a
presença de novos atores na arena internacional e a
diversificação dos canais a partir dos quais se transmitam tais
relações, em um contexto definido em termos de
interdependência complexa, entendida esta como o conjunto de
situações caracterizadas por efeitos recíprocos entre países ou
entre atores em diferentes países.
Por sua vez, Cox (1986), crítico da ideia de um sistema
internacional governado por uma lógica que privilegia um
pequeno número de Estados poderosos que limitam as
possibilidades de mudança, desenvolveu um modelo com três
dimensões básicas a fim de compreender a dinâmica da política
Publicado em 13/08/2014
Paradiplomacia e relações internacionais: breve abordagem teórica
Referências
Suellen Lannes
Publicado em 10/10/2014
O outro lado da diplomacia
[1] No Brasil muitos Cônsules arcam com todo o custo que a sua
atuação exige, como contas de telefone, correio, deslocamento.
Em alguns casos, o governo dos estados e municípios ajudam na
manutenção das atividades consulares.
O outro lado da diplomacia
Referências
ACONBRAS:
http://www.aconbras.com.br/internas.php?menu=0001&interna=
27045
LUPI, João. Cônsul Honorário: A Experiência do estado de Santa
Catarina. Florianópolis: Insular, 2014.
POLÍTICA EXTERNA COMO
POLÍTICA PÚBLICA: PRIMEIRAS
APROXIMAÇÕES A PARTIR DO
CASO BRASILEIRO
Victor Tibau
A
o longo do século XX, as Relações Internacionais se
firmaram como disciplina e campo de estudos e análises
sobre os eventos internacionais. Contribuiu muito para
isto a tradição do Realismo político, que teve grande influência
sobre o desenvolvimento do campo de estudos e logo conseguiu
firmar-se como mainstream. Grosso modo, o Realismo entende
o sistema internacional como um ambiente anárquico, no qual os
atores eram os Estados que agiam racionalmente para garantir
sua sobrevivência e maximizar seus benefícios. Os Estados, para
o Realismo, eram tal qual uma bola de bilhar, hermética e sólida,
portanto, sem que importasse sua política doméstica.
Estabeleceu-se, então, logo de início, uma clara separação entre
política externa (também considerada “alta política”) – a ação dos
Estados no sistema internacional – e política pública (“baixa
política”), que, segundo Jobert e Muller [1987], pode ser
entendida como “o Estado em ação” no plano doméstico.
Embora esta dicotomia tenha sobrevivido por muito tempo –
Publicado em 05/11/2014
Política Externa como Política Pública: primeiras aproximações a partir do caso brasileiro
Referências
Larissa Rosevics
N
as duas últimas décadas, a capacidade explicativa das
abordagens teóricas tradicionais de Segurança
Internacional oscilou da ineficiência à renovação com os
eventos que sucederam a fragmentação da União Soviética, em
1989, e os ataques terroristas nos Estados Unidos em 2001. Isso se
deve, de maneira geral, à centralidade do Estado, da guerra
interestatal e da defesa militar como fundamentos das
abordagens tradicionais.
Para a América do Sul, o quadro explicativo tradicional da
Segurança Internacional teve sua complexidade ampliada já na
década de 1980. A posição norte-americana em relação à Guerra
das Malvinas provocou nas Forças Armadas sul-americanas,
especialmente na argentina e na brasileira, o descrédito em
relação ao sistema de segurança coletiva continental
institucionalizado pelo TIAR e ao apoio militar dos Estados
Unidos à região. O novo contexto fez com que Brasil e Argentina
fossem da rivalidade em relação aos seus projetos de
Publicado em 18/05/2015
Perspectiva tradicional de Segurança Internacional e a América do Sul
Referências
E
m junho desse ano, o mundo se surpreendeu com a
tomada da segunda maior cidade do Iraque, Mossul, uma
metrópole de 1,8 milhões de habitantes, pelos insurgentes
sunitas do Estado Islâmico do Iraque e do Levante, conhecido
pela sigla em inglês ISIS. Em seguida, os militantes do ISIS
proclamaram um novo califado islâmico, e tentaram avançar
sobre a capital iraquiana, Bagdá, movimento que até agora foi
frustrado pelas forças aéreas anglo-americanas e pelo apoio
iraniano ao governo iraquiano.
Apesar do ISIS ter sido entendido na mídia estrangeira e
nacional como um movimento terrorista, ou um exemplo da
barbárie religiosa, sua ascensão na realidade reflete diversos
elementos da disputa geopolítica regional e global atualmente
em curso.
O surgimento do ISIS é parte da instabilidade no Oriente
Médio que se seguiu a invasão do Iraque pelas forças americanas
em 2003. Até aquele momento, boa parte da estabilidade
regional era garantida por regimes laicos baseados ou derivados
do Nacionalismo Árabe, com Kadafi na Líbia, o regime militar no
Publicado em 29/10/2014
A ascensão do ISIS e o jogo geopolítico global
Larissa Rosevics
C
om a redemocratização no Brasil, as políticas públicas
passaram por um período de revisão, redefinição e
readaptação ao novo contexto nacional. Em democracias
representativas, as políticas públicas devem (em tese) resultar de
intensa interação entre os diferentes atores políticos e sociais, que
buscam estabelecer princípios norteadores para a implantação de
ações e medidas de combate à problemas específicos da vida
nacional. A área da Defesa foi aquela que mais tardiamente
retomou seus rumos a partir dos princípios da participação
democrática. Por Política de Defesa, entende-se como sendo toda
política pública, com ênfase na expressão militar, que busca
defender o território, a soberania e os interesses nacionais contra
ameaças preponderantemente externas, potenciais ou manifestas
(ALMEIDA, 2010; LIMA, 2010).
O processo de redefinição e revisão da área de Defesa
deve-se a três contextos: o contexto nacional de
redemocratização, de perda da preponderância política das
classes militares e da necessidade crescente de ampliação da
participação dos diferentes atores políticos e sociais nos
processos decisórios das políticas públicas nacionais; o contexto
Publicado em 03/08/2015
A área de Defesa no Brasil: avanços e limitações
Referências
Hélio Farias
S
etenta anos depois dos acordos de Bretton Woods, a cidade
de Fortaleza transformou-se numa espécie de epicentro da
geopolítica e das finanças globais. Palco da sexta cúpula dos
BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), a capital
cearense assistiu a criação de um acordo de cooperação
financeira e monetária de fortes impactos no redesenho
estratégico das finanças globais. Surgiram deste encontro um
fundo de estabilização e um banco de desenvolvimento.
O fundo, denominado Arranjo Contingente de Reservas,
conta, de início, com recursos na ordem de US$ 100 bilhões, uma
garantia de socorro que poderá ser utilizada para evitar os efeitos
deletérios de uma crise no balanço de pagamentos, um
mecanismo para se prevenir das pressões por liquidez de curto
prazo. A China proverá a maior parte do fundo, com US$ 41
bilhões, seguido por US$ 18 bilhões de Brasil, Índia e Rússia, e
US$ 5 bilhões da África do Sul.
Publicado em 06/08/2014
O retorno da geopolítica no ordenamento das finanças globais
Referência
A
estrutura produtiva mundial de energia oriunda dos
recursos naturais energéticos se encontra num processo
de permanente reorganização. A competição e o controle
por parte das grandes economias sobre as reservas de petróleo e
gás se tornam, assim, essenciais para a reprodução dos padrões
de desenvolvimento capitalista, tornando-os bens estratégicos
por excelência. Neste contexto, a América do Sul, principalmente
no atual contexto mundial de hidrocarbonetos, tende a se
constituir como um player decisivo no mercado mundial no
século XXI “com as descobertas dos campos do pré-sal brasileiro,
de óleo ultrapesado na bacia do Orenoco na Venezuela e as
possibilidades de aproveitamento de gás de xisto na Patagônia
argentina.” (MONIÉ, BINSZTOK, 2012, p.83)
A região possui um grande peso das reservas mundiais de
petróleo, com 19,5%, mais ainda não proporcional com a sua
produção, de apenas 8,8%. Pode-se verificar um horizonte médio
Publicado em 03/06/2015
Nova geopolítica do petróleo na América do Sul: quem tem medo da Petrobras?
[11]
http://www.opec.org/opec_web/static_files_project/media/dow
nloads/publications/MOMR_March_2015.pdf
[12] http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2015/04/1613596-
pib-global-pode-ter-anos-de-fraqueza-afirma-fmi.shtml
[13] http://cartamaior.com.br/?%2FEditoria%2FPolitica%2FA-
importancia-do-Pre-Sal-na-geopolitica-do-
petroleo%2F4%2F32497
[14] http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/O-petroleo-a-
Petrobras-e-a-geopolitica-Entrevista-com-Paulo-Metri-/4/32822
[15] http://www.extraclasse.org.br/edicoes/2015/03/a-petrobras-
e-os-interesses-em-jogo-na-geopolitica-do-petroleo/
[16] http://www.brasil247.com/pt/247/economia/176389/US$-70-
bi-da-Shell-mostram-o-valor-real-do-pr%C3%A9-sal.htm
[17] http://brasildebate.com.br/defender-a-petrobras-e-
defender-o-brasil-leia-e-assine-o-manifesto/
[18] Este esplêndido estudo de Gullo culmina com reflexões
extremamente pertinentes acerca das possibilidades que a
América do Sul tem de realizar essa “insubordinação fundadora”
e, com o apoio do Estado, sair de sua condição periférica para se
converter, desse modo, em um importante interlocutor
internacional independente. (GULLO, 2014, p.16)
Referências
Marcelo Campello
O
campo de pesquisa em Economia Política Internacional
nasceu juntamente com a ciência moderna, ainda no
século XVII, a partir de um movimento histórico no qual
aparecem os primeiros Estados nacionais e a afirmação do
capitalismo como sistema socioeconômico. Esta área do saber
tem como propósito a elaboração de respostas a uma agenda de
desafios e problemas concretos que se mantém, em alguns casos,
até hoje. Entretanto, o debate ecológico no sistema interestatal
capitalista como um paradigma geopolítico é um tema
relativamente novo e carece de questionamentos teóricos e
análise crítica
Publicado em 20/08/2014
A ecologia como questão geopolítica na atual conjuntura do sistema interestatal capitalista
Referências
A
integração regional promovida por países de históricos e
condições sociais e político-econômicas distintas precisa
de um elemento unificador. A forma jurídica é o
amálgama desta dinâmica, visto que é sob a forma de
organização internacional que a tendência integracionista
desenrola-se e consolida-se. Muito distante dos ideais europeístas
de outrora, a cooperação estruturou-se pragmaticamente,
conforme as condicionalidades do panorama internacional. O
regionalismo europeu, inserido no contexto de hegemonia
estadunidense e constituído na interação entre a geopolítica dos
capitais e dos Estados (POULANTZAS, 1975), foi pautado nos
fundamentos político-econômicos da ideologia capitalista liberal.
Esta dualidade permeou o soerguimento de uma engrenagem
inédita, porém, repleta de fraturas. O Direito é o arcabouço que
Publicado em 10/09/2014
Reflexões sobre a Integração Regional via União Europeia...
Referências
A
implicação do uso de conceitos criados desde fora para
analisar situações específicas em matérias próprias de
outras realidades políticas, sociais e econômicas pode
encontrar muita resistência no meio acadêmico. É próprio das
teorias, entretanto, o papel de sintetizadoras de ideias e
ideologias de seus formuladores, mas uma vez misturadas
podem confundir ou, raras vezes, podem jogar novas luzes em
velhas análises.
Uma recente leitura do livro “Checkerboards and Shatterbelts:
the geopolitics of South America”, escrito por Philip Kelly em 1997,
me conduziu a duas indagações. A primeira está sinteticamente
indicada no parágrafo acima, ou seja, como é atrativo separar e
qualificar fatos e números, agrupando-os por afinidade,
encontrar uma lógica estatística e colocar no mesmo balaio,
assim, alhos e bugalhos. Depois disso, usa-se para testar qualquer
Publicado em 01/08/2014
Em terra sem teoria, quem tem um ditado faz lei
Referências
Larissa Rosevics
D
o ponto de vista histórico, as integrações regionais
inserem-se no que comumente denomina-se como
regionalismo, característico do século XX, fortalecido no
pós-Guerra Fria (HURRELL, 1995) e questionado atualmente.
Dois fatos apontam para singularidade do momento
contemporâneo nas integrações regionais da Europa e da
América do Sul: 1) a aprovação via referendo popular da saída do
Reino Unido da União Europeia (Brexit) e; 2) a decisão dos
demais sócios do Mercosul de impedir a presidência pró-
tempore do bloco pela Venezuela. Dada a excepcionalidade
política dos dois acontecimentos e o contexto econômico de crise
que persiste em ambos os projetos, diversos questionamentos
surgiram quanto efetividade e o futuro da União Europeia e do
Mercosul.
Publicado em 22/11/2016. Parte do artigo apresentado no VII SIMPORI -
UERJ/Santiago Dantas.
Integração Regional: reflexões teóricas e práticas a partir da Europa e da América do Sul
Referências
A
integração regional é frequentemente associada aos mais
diversos temas, como, por exemplo, economia, política,
sociedade, cultura, infraestrutura, instituições, entre
outros. Muito embora essa riqueza de abordagens seja
extremamente importante e fundamental para o debate da área,
o que ocorre frequentemente é a abordagem da questão
exclusivamente baseada em um desses temas.
Como consequência direta disso, diversos trabalhos e
diferentes pesquisas, ainda que tratem de uma mesma questão,
não dialogam entre si. Pegando-se o caso do Mercado Comum
do Sul (MERCOSUL), a abordagem econômica avalia o aumento
do fluxo de comércio e investimento “intra-bloco”, por exemplo,
evidenciando o aumento das variáveis como o produto interno
bruto (PIB) ou mesmo a inflação na região. A abordagem física
avaliaria a evolução do investimento em infraestrutura de
Publicado em 09/01/2017
Integração Energética: mais do que apenas um tema econômico e técnico, um tema político
Referências
Larissa Rosevics
O
declínio da capacidade europeia em manter seu poder
direto sobre as suas colônias asiáticas e africanas após a
Segunda Guerra Mundial, bem como as mudanças nas
estruturas do poder internacional a favor dos Estados Unidos
possibilitaram uma nova onda de independências ao sul do globo
e o surgimento de reflexões teóricas denominadas de pós-
coloniais.
O projeto pós-colonial é aquele que, ao identificar a
relação antagônica entre colonizador e colonizando, busca
denunciar as diferentes formas de dominação e opressão dos
povos. Como uma escola de pensamento, o pós-colonialismo não
tem uma matriz teórica única, sendo associado aos trabalhos de
teóricos como Franz Fanon, Albert Memmi, Aimé Césaire,
Edward Said, Stuart Hall e ao Grupo de Estudos Subalternos,
criado na década de 1970 pelo indiano Ranajit Guha.
Dentre as influências que inspiraram os estudos pós-
coloniais, Sérgio Costa (2006) destaca três: a formação do
Publicado em 28/11/2014
Do pós-colonial à decolonialidade
Referências
N
o último dia 21/02/2016, o presidente Evo Morales foi
derrotado no plebiscito de reforma constitucional,
inviabilizando que dispute mais um mandato na eleição
de 2019, após ter sido eleito presidente em 2006, reeleito em
2010 e novamente em 2014.
Apesar do resultado desfavorável, a popularidade do
presidente segue em alta, explicado pelos dados econômicos e
sociais: uma revolução política e econômica num país que, até
sua chegada ao governo, era recordista na região em quantidade
de golpes de Estado e dos mais pobres de toda a América Latina.
Iniciado em 2006, seu governo lançou políticas ousadas de
redistribuição de renda com políticas sociais, em especial,
aumento das aposentadorias e uma versão local do Bolsa Família;
o percentual da população vivendo em extrema pobreza caiu de
38% para 24%, em seis anos[1]; nacionalizou setores estratégicos,
como o gás e o lítio; possui uma média de crescimento de 5,5%
a.a. nos seus dois primeiros mandatos, além do investimento
estatal ter aumentado em 75%.
Publicado em 22/02/2016
Liderança carismática na América Latina
[1] http://www.cartacapital.com.br/blogs/outras-
palavras/economia-o-notavel-exemplo-da-bolivia-6693.html
Liderança carismática na América Latina
[2]
http://www.scielo.org.ve/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1012
-25082006000200004
Referências
E
m julho de 2014, na VI Cúpula dos Brics, foi estabelecida a
criação de um acordo de cooperação financeira e
monetária com impactos no redesenho estratégico das
finanças globais, com o surgimento de um fundo de estabilização
e um banco de desenvolvimento. Ambos são expressão da
assimetria e do déficit democrático na governança global, em que
os países dos Brics demandam a democratização da arquitetura
financeira internacional e a reforma das instituições oriundas de
Bretton Woods, visando tornar realidade seus anseios de uma
ordem internacional mais inclusiva, democrática e multilateral,
assim como na construção de um novo polo de liderança global.
Uma rota semelhante tem o Banco do Sul no contexto
latino-americano, podendo ser atualmente – ainda que surgido
anteriormente – considerado um "Banco dos Brics latino-
americano". Criado em 2007, é composto por um fundo
monetário e uma organização financeira da Unasul, destinado a
promover o desenvolvimento com o objetivo de conceder
Publicado em 01/10/2014
Por uma discussão do Banco do Sul, o “Banco dos Brics latino-americano”
Referências
<http://www.corecon-rj.org.br/pdf/je_novembro_2007.pdf>.
Acesso em: 25 jul. 2014
SEVERO, Luciano Wexell. Mecanismos regionales para el
financiamiento de la integración de América del Sur. In: COSTA,
Darc (Org.). América del Sur: Integración e infraestructura. Rio
de Janeiro: Capax Dei, 2011. p. 289-347
VALENCIA, Alberto Rocha; RUVALCABA, Daniel Efrén Morales.
Desafíos en la construcción de la Unión de Naciones de
Suramérica. In: GADELHA, Regina Maria A. F. (Org.). Mercosul a
Unasul - avanços do processo de integração. São Paulo: Educ,
2013. p. 69-117
NARCOS E A RETÓRICA
CONSERVADORA NA NARRATIVA
DA GUERRA ÀS DROGAS
A
série Narcos é como um caminhão cheio de mercadorias
importadas dos EUA para o público latino-americano que
tenta passar a fronteira no sentido norte-sul. Mas entre
mercadorias lícitas e de qualidade, o motorista escondeu a carga
mais valiosa: substâncias que prometem entorpecer o público
para aceitar uma versão enlatada da história da guerra às drogas
na América Latina.
A sinopse diz que é sobre Pablo Escobar. Mas é sobre a
guerra às drogas. E a julgar pelo fato de que alguns meses depois
de seu lançamento o governo do Estado do Rio de Janeiro
solicitou à DEA que abrisse uma representação na cidade do Rio
de Janeiro em 2015, parece que o filme é parte ativa na
propagação dos mecanismos que mantêm a falida guerra às
drogas ainda ativa na América Latina, alimentando os clichês que
inibem qualquer reflexão mais crítica sobre a questão das drogas
na América Latina.
Publicado em 05/09/2016
NARCOS e a retórica conservadora na narrativa da guerra às drogas
E
m outubro completaram-se treze anos do Programa Bolsa
Família (PBF). Lançado em 2003 pelo presidente Luís
Inácio Lula da Silva, o programa tem sido responsável pela
inclusão social de famílias que vivem em situação de pobreza e
de extrema pobreza. Com forte inspiração na Speenhamland, ou
“sistemas de abonos”, inglesa de 1795, o PBF é um programa de
transferência de renda para famílias que vivem abaixo da linha
da pobreza. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento
Agrário e Social, somente em outubro deste ano já foram pagos
mais de 20 milhões dos chamados Benefícios Variáveis, ou seja,
“concedido às famílias com renda mensal de até R$ 154,00 per
capita, desde que tenham crianças, adolescentes de até 15 anos,
gestantes e/ou nutrizes”[1].
A data é importante e merece ser comemorada. No
entanto, as perspectivas futuras dos diversos programas sociais
criados nos últimos anos e os avanços conquistados através deles
Publicado em 08/11/2016
13 anos de Bolsa Família: a contemporaneidade da transferência de renda...
Referências
Suellen Lannes
O
início de março foi marcado por declarações
importantes sobre a questão nuclear iraniana. Os cinco
membros permanentes do Conselho de Segurança e a
Alemanha se prontificaram a chegar a um acordo com o governo
de Teerã, com previsão de conclusão para o final de março e
seria seguido por um acordo mais geral até final de junho. Em
linhas gerais, o acordo prevê a autorização do desenvolvimento
de algumas atividades nucleares civis e visa impedir,
definitivamente, o acesso a bomba atômica. Em troca, as sanções
contra o Irã seriam suspensas. Apesar dos esforços, um possível
acordo já apresenta grande oposição impulsionada pelo discurso
do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu no
Congresso dos Estados Unidos. Independentemente da posição
israelense, ou talvez, por causa dela, um possível acordo se
Publicado em 13/03/2015
Há muito mais entre o céu e a terra do que possa imaginar nossa vã política
Referências
Publicado em 14/11/2014
A ética dos Direitos Humanos e o “Espírito de Cartagena”
A
s décadas de 1970 e 1980 foram especialmente duras para
a América Latina e toda sua população, com uma série de
golpes e conflitos em diversos países e, como geralmente
acontece, esses eventos históricos geraram grandes e
significativos fluxos de pessoas procurando a proteção que seus
próprios países não estavam oferecendo.
Conflitos como os da Nicarágua, de El Salvador e da
Guatemala, dentre outros, geraram uma movimentação de mais
de dois milhões de pessoas nessa situação. Destas, no entanto,
apenas 150 mil poderiam ser reconhecidas como refugiadas
propriamente ditas naquele momento, isto é, dentro dos termos
definidos pela Convenção de 1951 Relativa ao Estatuto dos
Refugiados e alargada pelo Protocolo de 1967, a saber: pessoas
que
Referência
N
ação não é tema fácil de se tratar ou mesmo definir.
Consciente ou inconscientemente, a formação da nação
geralmente implica a formulação de um ideário nacional
que precisa ser permanentemente reformulado e adaptado às
vivências e experiências do grupo a que se reporta. Um elemento
fundamental para esta a imagem que a nação faz de si mesma é a
memória nacional, associada à autoimagem dominante em cada
período da história nacional. A noção de memória, que muitas
vezes nos remeta à ideia de lembrança, passa necessariamente
pela construção do esquecimento – esquecimento este que
recorrentemente recai sobre o campo político.
Toda e qualquer sociedade, ao selecionar aquilo que
acredita valer a pena lembrar-se e, ao mesmo tempo, aquilo de
que acredita ser melhor esquecer, estabelece uma relação com
seu passado a partir da qual este se reconstrói e passa a afetar
ativamente o processo de (re)formulação de sua identidade, bem
como as formas de conduta da população. Assim, a construção da
memória coletiva, ou memória social, de certa forma também
influencia a relação da sociedade com o futuro. No entanto, este
processo de construção não pode ser visto como uma repetição
exata do passado, mas sim como uma permanente reconstrução
Publicado em 07/03/2016
Espaços sobre a memória
Referência
ORGANIZADORES
AUTORES
Leonardo Granato.
Possui graduação em Direito pela
Universidad de Belgrano (Argentina), mestrado em Direito da
Integração Econômica pela Universidad del Salvador (Argentina)
e pela Université Paris 1 Panthéon-Sorbonne (França) e
doutorado em Economia Política Internacional pela
Diálogos Internacionais: reflexões críticas do mundo contemporâneo
Formato 17 x 24 cm.
A iniciativa Diálogos Internacionais surgiu
para discutir temas da atualidade e da história,
com foco na cena internacional, na política, na
economia e na sociedade. Nossa motivação
inicial foi o debate, o exercício da escrita, da
reflexão e da crítica. Nosso objetivo não foi ser
estritamente acadêmico, mas compartilhar
opiniões, pesquisas e experiências, dados e
informações.
A palavra sempre esteve aberta a quem
estivesse disposto a dialogar. A palavra
continuará aberta. Com a consolidação do
livro, pretendemos atingir um público maior.
O nosso desejo é continuar mobilizando,
dividindo, compartilhando e multiplicando as
ideias e o conhecimento.
www.dialogosinternacionais.com.br