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caderno do

professor
A arte e a educação são campos revolucionários O projeto educativo concebido especialmente
por natureza. Por meio deles adquirimos novas para a mostra 30 × Bienal completa-se ainda por
maneiras de enxergar e viver o mundo. A atua- uma série de ações voltadas às relações do pú-
ção da Fundação Bienal de São Paulo no plano blico com a arte contemporânea e com artistas
educacional remonta à sua segunda edição, em e trabalhos apresentados na exposição. Desde o
1953. Desde então, a cada exposição, são ofereci- início de 2013, promovemos encontros de forma-
dos ao público instrumentos para uma investiga- ção para cinco mil professores das redes pública
ção sobre a essência do trabalho dos artistas e as e privada de ensino e educadores sociais. Esse
urgências da vida contemporânea. trabalho, multiplicado em sala de aula, tem seu
Em sintonia com essa tradição, e imbuído do ca- ponto culminante nas atividades em ateliês e visi-
ráter retrospectivo da mostra 30 × Bienal – Trans- tas orientadas para o público previsto de cerca de
formações na arte brasileira da 1ª à 30ª edição, cinquenta mil crianças e jovens durante a mostra.
cuja curadoria é de Paulo Venancio Filho, o Edu- O material educativo que temos o prazer de
cativo Bienal se pautou pelo sentimento de tributo apresentar é um dos principais componentes
àqueles que contribuíram historicamente para a desse conjunto de iniciativas. Fruto da colabora-
sua própria construção. Em conjunto com o Sesc- ção entre Educativo Bienal, curadoria e demais
-SP – instituição parceira da Fundação Bienal –, equipes da Fundação Bienal, não apenas reúne
empreendemos uma extensa pesquisa sobre as obras e artistas brasileiros que participaram das
ações educativas que acompanharam as Bienais. trinta edições da Bienal de São Paulo, mas, de
Esse trabalho, apresentado em um seminário de maneira criativa e inteligente, investiga as rela-
dois dias aberto ao público, resultou em um docu- ções que esses trabalhos e artistas podem estabe-
mento valioso, no qual, pela primeira vez, educa- lecer com momentos determinantes na história da
dores, críticos e curadores de diferentes gerações Bienal e da arte brasileira.
que fizeram parte dessa história de seis décadas
relataram suas experiências.

Luis Terepins
presidente da Fundação Bienal de São Paulo
A formulação deste material educativo, parte da A Bienal de São Paulo detém do mais impor- Há mais de dez anos, o Instituto Votorantim in- O Grupo AES Brasil acredita que investir na for-
programação da mostra 30 × Bienal, vai ao en- tante acervo documental latino-americano das veste recursos, diretamente ou por meio das em- mação de profissionais da área de educação é
contro das diretrizes do Ministério da Cultura que artes moderna e contemporânea. Construiu, ao presas do Grupo Votorantim, para contribuir com contribuir com o desenvolvimento do país, pois
visam ampliar o acesso a diferentes linguagens longo de toda sua trajetória, reconhecida exper- o desenvolvimento socioeconômico das localida- são eles que disseminam o conhecimento para
artísticas. tise na reflexão sobre a evolução do processo edu- des em que estamos presentes. as gerações atuais e futuras. É por isso que, or-
O Vale-Cultura faz parte desse conjunto de ini- cativo pelas artes. É desejo de todos que esse pro- Para nós, a cultura é um dos pilares para o al- gulhosamente, a AES Eletropaulo patrocina o
ciativas que possibilitarão a trabalhadores bra- jeto educativo, que desde 2011 passou a ser per- cance do nosso objetivo e, por essa razão, inves- Projeto Educativo da 30 × Bienal.
sileiros, com renda de até cinco salários míni- manente, alimente reflexões sobre a vida e a arte timos na democratização cultural, pois acredita- Nosso compromisso com o desenvolvimento
mos, receberem a quantia de R$ 50 mensais vol- contemporâneas com alunos e professores de es- mos no poder transformador da arte. Temos con- das comunidades em que atuamos nos leva a
tados exclusivamente para o consumo de bens colas públicas e particulares. tribuído para ampliar a oferta, qualificar a expe- buscar e a fortalecer vínculos nestes locais por
culturais. Estamos certos de que, com a realização de riência e incentivar a população, principalmente meio de uma atuação social incisiva e transfor-
Em parceria com o Ministério da Educação, materiais de excelência como este e de eventos os jovens, a conhecer, vivenciar, discutir e pro- madora, como a Casa de Cultura e Cidadania
lançamos o Mais Cultura nas Escolas. Este pro- como esta mostra, acompanhadas de políticas duzir arte e cultura. e o Centro Educacional Infantil Luz e Lápis, pro-
grama possibilitará a artistas e iniciativas cultu- culturais e leis de incentivo, atingiremos o obje- Nossa parceria com a Fundação Bienal está jetos educativos e sociais da AES Brasil que tem
rais a elaboração de projetos em parceria com es- tivo do Governo Dilma de promover a inclusão so- pautada na bandeira da ampliação do acesso como objetivo transformar a realidade de milha-
colas públicas em todo o Brasil, dialogando com cial dos brasileiros por meio da Cultura. à cultura. Apoiamos principalmente os proje- res de crianças, jovens e adultos por meio de ati-
suas propostas pedagógicas. tos educativos de suas exposições, para que a vidades voltadas à educação, arte, cultura, cida-
Estão em construção os CEUs das Artes pelo formação de monitores, a realização de visitas dania, qualidade de vida e geração de renda.
Brasil. São espaços situados nas regiões mais ca- guiadas e as atividades complementares com Presente no país desde 1997, o Grupo AES Bra-
rentes do país, dedicados à formação de artis- professores e alunos possam prolongar e apro- sil é formado por empresas que geram, comer-
tas. Serão 360 até o fim de 2014. Esperamos que fundar o contato do público com as obras e as cializam e distribuem energia elétrica e contam
em breve, esta e tantas outras Bienais pelo Bra- propostas dos curadores. com a força de trabalho de mais de 7.400 cola-
sil e pelo mundo abriguem artistas surgidos nes- Parabenizamos a Fundação pelas trinta edi- boradores. A AES Brasil faz parte da AES Corpo-
ses espaços. ções da Bienal e firmamos mais uma parceria, ration, maior grupo de energia do mundo, pre-
na exposição 30 × Bienal, para celebrarmos os sente em 23 países.
artistas, os acervos, os debates e toda a arte pro-
duzida ao longo dessa história.
Desejamos a todos uma ótima exposição!
Marta Suplicy
Ministra da Cultura Instituto Votorantim AES Eletropaulo
30 × bienal: um processo transformador

A história das exposições de arte é um instru- de uma regular rotina expositiva que ao longo de mais de estímulo, discussão, polêmica e renova- modos da presença da imagem, ações participa-
mento imprescindível para a compreensão da décadas estabeleceu conexões sucessivas entre ção. Dessa maneira, constituiu uma tradição mo- tivas e performáticas, as recorrências abstrato-ge-
história da arte. Nela se tornam visíveis as forças experiências de movimentos artísticos, artistas e derna e contemporânea brasileira, hoje reconhe- ométricas, a sempre presente importância da cor,
sociais, culturais, políticas e econômicas que de- obras nacionais e internacionais, que aconteciam cida internacionalmente, num processo sucessivo certas trajetórias da tridimensionalidade que se
terminam a produção e consumo das obras de pela primeira vez no mesmo plano. Foi formada, de articulações e influências, que, sem um ins- renovam etc. A Bienal foi e é um lugar onde os ar-
arte; as pressões exercidas por artistas, críticos, assim, uma expectativa pública e artística até en- trumento da regularidade como a Bienal, dificil- tistas brasileiros podem tanto se localizar entre si
público e instituições na formação de um contexto tão inédita para as artes plásticas no país; expec- mente teria se constituído. Como então conciliar como também com a produção internacional, es-
artístico. Como nunca antes, as exposições do sé- tativa que hoje atrai todo o mundo artístico. uma revisão histórica com o espírito fundamen- tabelecendo conexões, divergências, oposições e
culo 20 agiram tanto nas transformações artísti- Dito isso, como então reconstituir numa só ex- talmente renovador do evento? rejeições, cujas combinações servem ora de estí-
cas quanto no espectador, seja na esfera global posição a presença dos artistas brasileiros nas O propósito desta exposição não é o de recons- mulo, ora de influência, ora de afastamento, for-
ou na local. O caso da Bienal de São Paulo é es- trinta edições da Bienal de São Paulo, de 1951 tituir integralmente o passado tal como foi, o que mando esse complexo histórico que chamo da tra-
pecialmente singular, pois, sendo a primeira bie- até 2012? Se a Bienal foi, ela própria, ao longo seria impossível e inverossímil, mas verificar hoje, dição moderna e contemporânea brasileira.
nal de arte em um país periférico, gerou, a partir do tempo, um dos principais elementos estrutu- na atualidade contemporânea, a presença dessa Evidentemente que esta exposição não pre-
dos anos 1950, uma dinâmica capaz de elaborar radores da arte brasileira da segunda metade do tradição da qual a Bienal é parte fundamental. tende fazer a reconstituição ou revisão definitiva
e reelaborar com originalidade própria dos artis- século 20, não pode ser outro, creio, senão a re- Daí propormos uma orientação, flexível e dinâ- da arte brasileira desde a 1ª Bienal. Nossa pers-
tas brasileiros as possibilidades artísticas presen- lação íntima entre história da arte brasileira e a mica, que possa ultrapassar tempo e espaço sem, pectiva não parte só do passado, de 1951, mas é
tes nos grandes movimentos internacionais que trajetória da Bienal o critério determinante na es- entretanto, deixar de observar a continuidade his- também, de certo modo, invertida, parte do pre-
ali se apresentavam ao longo de sessenta anos. colha dos artistas e obras. Das Bienais participa- tórica de seis décadas. O eixo temporal então se sente para verificar nele a atualidade do passado;
Um dos mais importantes eventos artísticos ram artistas de gerações anteriores – desde a ge- estenderia do princípio ao fim, dos anos 1950 aos para trazer essa tradição viva para o presente e
mundiais, a Bienal de São Paulo – a segunda ração moderna de 1922 –, mas o “efeito Bienal”, dias de hoje, permitindo, entretanto, certas justa- indicar seus nexos, sua estrutura, seus componen-
bienal de arte, criada após a Bienal de Veneza a dinâmica que provocou desde o seu início, foi o posições, idas e vindas, recorrências e superpo- tes que estão vivos e ativos; para recriar nesta ex-
– se confunde com a história da arte da segunda de se projetar à frente, apresentando a cada dois sições de obras de tempos distintos. Essas super- posição histórica a vitalidade e a dinâmica do
metade do século 20 e se tornou um dos elemen- anos as direções contemporâneas da época, sus- posições, recorrências e justaposições que a expo- processo artístico que a Bienal de São Paulo inau-
tos fundamentais e estruturantes da história da citando e estimulando desenvolvimentos futuros. sição pretende demonstrar em determinados mo- gurou entre nós.
arte brasileira. Além disso, constituiu uma tradi- O espírito da Bienal foi e, acredito, ainda é o da mentos são nada menos aquelas que as próprias
ção moderna e contemporânea no Brasil por meio atualidade, menos talvez de reconhecimento, e obras sugerem: certas operações conceituais, os

Paulo Venancio Filho


curador da 30 × Bienal
Costuras do tempo

A linguagem é a chave para saber quem Revisitar o percurso do ensino da arte e o da O trabalho educativo é feito de delicadezas, de O material traz aspectos conceituais e formais
somos como indivíduos. Nós somos nossas história da arte nas Bienais trouxe outros cami- relações humanas, junto à arte e no diálogo en- que permeiam a história da arte que considera-
conversas: quando mudamos nossa forma nhos para pensar a educação não formal, com tre pessoas. Para isso é necessário trabalhar com mos que possam ser úteis para o professor, pois
de ser, mudamos nossas conversas e quando estratégias de continuidade e ruptura. O artista e dispositivos que atendam à desconstrução do que entendemos a arte como um espaço de liber-
mudamos a forma de conversar, mudamos educador Paulo Portella, mediador de três mesas está estagnado e ponham em movimento a maté- dade que ativa nossa subjetividade e também
a forma de ser. A linguagem nos constrói. nesse seminário, definiu os encontros como “uma ria do pensamento, ativando o corpo como ferra- como área de conhecimento que nos desafia a
– Bernardo Toro jornada para o futuro”. menta para um pensar diferente. estudá-la.
Inventar e reconstruir a história, tornar vivas Dando continuidade a suas ações neste ano, o Em ano de celebração, o exercício de olhar a
O trabalho do Educativo na Fundação Bienal de experiências passadas têm uma relação direta Educativo Bienal propôs outras possibilidades de arte e a linguagem através dos tempos é uma
São Paulo ao longo dos anos foi marcado pela com as proposições curatoriais que a Bienal quer encontros e conversas estendidas: Plantão Educa- oportunidade de arejar o presente, de olhar de
força da invenção, da experimentação com uma ativar e trouxe ao Educativo a possibilidade de tivo Bienal, Bienal nas escolas, Ações nas comuni- novo, com olhos novos. Conhecer as questões mo-
vida intensa, extensa e entrecortada. Os educa- revisitar diversas ações. A curadoria do Educa- dades e publicações (veja definição em nosso site: bilizadoras que geraram os trabalhos nos instiga
tivos que se seguiram com diferentes gestões e tivo, hoje, é uma curadoria ateliê, um laborató- educativo.bienal.org.br). a fazer outras perguntas, assim como a desen-
abordagens cooperaram na formação de muitas rio de ideias, percepções, riscos, com intenções Os materiais educativos produzidos pela Bienal volver um trabalho cujo empenho é em busca da
pessoas que hoje trabalham na área de artes: his- claras, em um caminho que se faz passo a passo: são tentativas de criar novas brechas para pensar profundidade sem perder o caráter experimental.
toriadores, educadores, curadores, artistas, críti- um aprendizado que se dá pelo exercício de to- a vida e a arte. Cada um dos cadernos deste ma- Caro professor, fica aqui um convite para mer-
cos de arte, arquitetos, galeristas entre outros. mar consciência da própria experiência. Com terial sugere um exercício para fazer aproxima- gulhar nessa nova experiência, revisitando obras,
Para celebrar as trinta edições da Bienal e ho- uma equipe constituída por artistas, educadores, ções entre as obras escolhidas pelo curador Paulo poéticas e conceitos que compõem seu repertório
menagear aqueles que colaboraram com esta poetas, bailarinos, fotógrafos, curadores e cine- Venancio Filho para a 30 × Bienal – Transforma- de arte moderna e contemporânea por meio de
história, resgatando a memória das experiências astas, o Educativo desenvolve seu trabalho la- ções na arte brasileira da 1ª à 30ª edição, produ- novas perguntas.
vividas na instituição, o Educativo Bienal, em par- boratorial estudando, planejando e sempre de zidas ao longo das trinta edições da Bienal. As
ceria com o Sesc, realizou o seminário Arte em prontidão para o aqui agora. As visitas orienta- relações criadas entre os trabalhos propõem um
tempo em junho deste ano, no Sesc Belenzinho, das também são consideradas ateliês: espaços la- jogo a partir de conceitos levantados pela cura-
em São Paulo. boratoriais de aproximação com a arte, em uma doria geral: vermelho, forma, memória, objeto e
alternância de protagonismos entre obras, públi- linguagem.
cos e educadores.

Stela Barbieri
curadora do Educativo Bienal
instruções de uso artistas

Abraham Almir
Olá professor, Palatnik Mavignier
Este é o material educativo da 30 × Bienal – Trans- O material traz também uma linha do tempo 1928, Natal, RN. Vive no Rio de Janeiro, RJ. 1925, Rio de Janeiro, RJ. Vive na Alemanha desde
formações da arte brasileira da 1ª à 30ª edição, sobre os educativos das várias Bienais, contando Abraham Palatnik, antes de se tornar um dos 1953. Para Almir Mavignier, artista concreto, “fa-
feito especialmente para você e seus alunos. um pouco da história da instituição por meio de destaques da 1ª Bienal (1951), quase teve seu zer desaparecer a forma é o que interessa”. Qua-
Esta edição é composta de seis cadernos, 49 fi- sua ação educativa ao longo desses sessenta trabalho vetado por não se enquadrar em ne- drados são deformados visualmente em uma
chas de artistas e 23 pistas educativas. Cinco ca- anos. nhuma das duas categorias de suporte que tra- busca por novas geometrias: representados na
dernos temáticos trazem um assunto principal As publicações do Educativo Bienal são pensa- dicionalmente organizavam as obras: a pintura diagonal, em relevo, em repouso ou sugerindo
cada e têm a intenção de gerar discussões em das para o professor a fim de que trabalhe com ou a escultura. Pela mesma razão, só pôde ser movimento, como quadrado, pontos, retículas
torno da vida – do mundo que nos rodeia – e da crianças (a partir dos seis anos de idade) em lei- premiado pelo júri com menção honrosa. A obra e causando efeitos ópticos, como nas obras de
arte. Esses cadernos, que conversam entre si, tura e uso compartilhados. A linguagem muitas apresentada era um de seus primeiros apare- 1971, Deslocamento e mudança de cores: côn-
transitam entre os conceitos de geometria, cor, vezes precisa ser adequada por cada professor lhos cinecromáticos, caixas com estruturas me- cava e Deslocamento e mudança de cores: con-
memória, tempo, espaço, linguagem, objeto e em função das características de seu grupo de cânicas que projetam luzes coloridas e sombras vexa – apresentadas na exposição Bienal Brasil
imagem. Eles ainda trazem algumas obras que alunos. de objetos móveis em telas translúcidas, criando Século 20 (1994). Na década de 1960, Mavignier
são relacionadas ao assunto abordado, como su- Além disso, em nosso site (www.bienal.org.br), uma imagem bidimensional sempre em muta- iniciou uma produção gráfica de cartazes que
gestão – pois você pode encontrar outras obras você pode criar seus diagramas on-line e compar- ção. Um aparato de engenharia complexa e dialogou intensamente com sua pintura, mui-
que apresentam esses conceitos ao fazer suas pró- tilhar nas redes sociais. movimentos lentos, serviu como início de sua tas vezes inspirada por ela ou se desdobrando
prias conexões. pesquisa pioneira no campo da arte cinética. em novas telas. “A alma de qualquer trabalho é
O caderno do professor traz textos sobre os ar- Contém: Palatnik desenhou e construiu diversos objetos o conceito”, diz. Se a reprodutibilidade proble-
tistas, privilegiando sua poética e processo cria- • 49 fichas de artistas em que a composição se modifica conforme as matiza a ideia de originalidade na arte, na pro-
dor, assim como o glossário. As fichas de artistas • 23 fichas de pistas educativas partes se movem. Alguns deles se assemelham a dução de Mavignier os cartazes são potencial-
com imagens de obras possibilitam a criação de • 6 cadernos sistemas solares mecânicos com as engrenagens mente “aditivos”, como os chama. Um se junta
diagramas de relações que podem tornar visíveis • linha do tempo do educativo expostas, outros são interativos e até poderiam a outros, se complementando indefinidamente,
elementos da história da arte brasileira, partindo ser brinquedos infantis. Mas, em todos, está pre- como Form (1967), constituído por aditivos insta-
da relação entre os trabalhos que permearam o sente a vontade de experimentar como as cores lados em espaços públicos de Ulm, na Alema-
período das trinta Bienais. e formas podem se alterar no tempo e no espaço. nha (1963), formando visualidades inéditas, mui-
tas vezes cobrindo grandes dimensões ou dando
origem a novos trabalhos.
Amilcar Angelo Anna Bella Anna Maria
de Castro Venosa Geiger Maiolino
1920, Paraisópolis, MG – 2002, Belo Horizonte, 1954, São Paulo, SP. Vive no Rio de Janeiro, RJ. 1933, Rio de Janeiro, RJ. Vive no Rio de Janeiro. 1942, Scalea, Itália. Vive em São Paulo, SP.
MG. “Quando corto e dobro/ uma chapa de Areia, fibra de vidro, galho de árvore, osso de boi Anna Bella Geiger atua em uma impressionante A obra de Anna Maria Maiolino é caracterizada
ferro/ ou somente corto/ pretendo/ abrir um es- e piche. Com uma mistura de elementos na- diversidade de suportes e procedimentos artísti- pela presença do hibridismo. Não só pelos meios
paço/ ao amanhecer na matéria bruta”, escre- turais e sintéticos, as obras apresentadas pelo cos. Sua pesquisa plástica começou na década pelos quais transita – pintura, gravura, desenho,
veu Amilcar de Castro sobre sua obra. Conce- artista na 19ª Bienal (1987) inauguram sua de 1950, no ateliê de Fayga Ostrower. Em mea- escultura, livro, performance, filme, instalação –,
bia suas esculturas em papel e, em seguida, pro- pesquisa no universo escultórico. Integrante da dos de 1960, tem início o que Mário Pedrosa qua- mas por sua capacidade de costurar e nomear
duzia maquetes. Se satisfeito, realizava-as em Geração 80, Angelo Venosa começou seu traba- lificou como “fase visceral”, na qual se destaca seus territórios sensíveis como mapas visuais ou
ferro em pequena escala, para depois fazê-las lho com pintura e, no início de 1990, tornou-se a representação do corpo fragmentado. Com a verbais. A artista mudou-se para o Rio de Janeiro
em grande formato. A passagem do bidimensio- definitivamente um escultor. Seu percurso cria- instauração da ditadura miltar no Brasil, passa em 1960, momento marcado pela reativação da
nal para o tridimensional acontece através do dor parece apresentar uma questão fundamen- a questionar o papel social e político do artista. antropofagia. Integrou a Nova Figuração, o
corte e da dobra de chapas de ferro. A partir de tal para a arte: como a escultura, prática mar- Seu desencanto com a situação política do país neoconcretismo e a movimentação artística crí-
um círculo, Amilcar corta um triângulo e o dobra cada pelo peso da tradição histórica, pode se e a aproximação com as reflexões de Joseph Ko- tica produzida apesar da ditadura militar. Seu
para que se torne a base da escultura; é a diago- atualizar e se inscrever como problema contem- suth e Joseph Beuys a lançam em uma fase de primeiro filme em Super-8 chamou-se In-Out
nal de um quadrado que o sustenta em pé. Esses porâneo? Tempo histórico e tempo natural são experimentação com fotografia, fotogravura, fo- (antropofagia) (1973) e foi exposto na 12ª Bienal
dois gestos não anulam a natureza do material: tensões presentes em seus trabalhos. Suas pe- tocópia, cartões postais, filmes em Super-8, vi- (1973). Nessa época, o uso da xilogravura mes-
a ferrugem aparente e os cortes levemente irre- ças simulam elementos orgânicos, existe nelas deoteipe e instalações. Em 1970, inicia sua pes- clou-se com elementos tradicionais como o cor-
gulares, feitos a maçarico, nos lembram de que uma relação de mimese com o mundo animal quisa cartográfica, na qual questiona as noções del e técnicas da arte pop, demonstradas pelas
estamos diante de ferro maciço ou aço patinável. – se parecem com ossos, vértebras, cartilagens. estáveis de identidade cultural. Em Sobre a arte composições que remetem aos quadrinhos que
A aparência pesada das esculturas chama aten- Para Lorenzo Mammí, Venosa não se recusa a (1976), a artista explora o repertório visual das aparecem em Glu glu (1967). A partir da década
ção para a maneira como suas obras se equili- imitar a natureza nem a reduz a um sistema de cartilhas e livros didáticos para problematizar a de 1990, começou a utilizar o barro em modela-
bram. O trabalho do artista, que inclui desenhos, signos, “como se esta fosse produzida por seu construção de uma suposta hegemonia nacio- gem simples e a realizar trabalhos em série, que
gravuras e projetos gráficos, acontece na ten- gesto: o artista assume literalmente o papel de nal que apresenta o mapa do território brasileiro enfatizam o gesto e sua relação com a matéria
são entre a forma que quer moldar o material e criador”. Para este crítico, tal arqueologia acaba como instrumento ideológico e político. na invenção de formas. Para Suely Rolnik, Maio-
o material que determina a forma. por “revelar a fragilidade da distinção entre or- lino encontrou no Brasil, país de formação tão
gânico e inorgânico”. híbrida quanto a vida da artista, uma enorme
ressonância.
Antonio Antonio Arthur Carlito
Dias Manuel Luiz Piza Carvalhosa
1944, Campina Grande, PB. Vive em Milão, Itá- 1947, Avelãs de Caminho, Portugal. Vive no Rio 1928, São Paulo, SP. Vive em Paris, França. A 1961, São Paulo, SP. Vive no Rio de Janeiro, RJ.
lia, e Rio de Janeiro, RJ. Pintura, instalação, fo- de Janeiro, RJ. A obra de Antonio Manuel ques- gravura em metal tem certa qualidade tátil, Quando iniciou seu trabalho na década de
tografia, livro de artista, vídeo, trabalhos sono- tiona as estruturas sociopolíticas e a forma como uma vez que, no processo de impressão a su- 1980 – época de sua participação no grupo
ros e artes gráficas; Antonio Dias desenvolve se manifestam no cotidiano. Sua obra é conside- perfície do papel fica impregnada pelos sulcos Casa 7 – Carlito Carvalhosa produziu pinturas
tanto investigações de técnicas tradicionais rada essencialmente subversiva, pois desafia os esculpidos na matriz. Os relevos criados por Piza de grandes dimensões, expostas na 18ª Bienal
(como os estudos em gravura com Oswaldo mecanismos repressivos instituídos e é provoca- com pequenas peças de metal sobre sisal pare- (1985), que registravam movimentos pictóricos
Goeldi ou em métodos tradicionais de confec- tiva, pois reivindica uma intervenção direta nos cem se voltar justamente para essa qualidade na escala de seu corpo. Em seguida, passou
ção de papel no Nepal) quanto desafia as fron- circuitos de produção do discurso oficial. Frente tátil e escultórica da gravura, ou mesmo a ex- a experimentar novos materiais, como cera e
teiras convencionadas entre as práticas artísti- à coerção política, desenvolve uma poética de- trapolar. O artista estudou a fundo as técnicas espelhos, que levaram o espectador para
cas. Desde a década de 1960, a recorrência da nunciativa. Seus flans de intervenções em jor- da gravura em metal e em suas obras conse- dentro da obra. Sua produção mantém uma
palavra em sua obra revela um particular in- nais (inserindo ou omitindo notícias) revelam ar- gue aliar o refinamento técnico a uma poética preocupação construtiva, envolvendo tanto
teresse pela tensão entre o registro escrito e tifícios de controle dos meios de comunicação, de formas delicadas e ritmadas. Vários desses re- questões da pintura quanto da escultura. O
o registro visual. Esse interesse manifesta-se ao passo que a apresentação de sua proposta levos provêm dos próprios materiais utilizados, espaço físico e simbólico onde a obra acontece
por vezes em uma aparente criptografia, que em O corpo é a obra (1970) – originalmente re- que criam as texturas que dão forma às compo- é importante. Com gesso, blocos de asfalto,
aponta para a própria ineficácia da produ- cusada no Salão de Arte Moderna do MAM-RJ e sições: nas obras em papel, os pequenos triân- peças de luz, som, madeira, tecidos e outros
ção de discurso por meio da ênfase nas qua- exposta à revelia do júri, na noite da abertura gulos e retângulos juntam-se e separam-se como materiais, seus trabalhos não apenas partem dos
lidades gráficas – como em Campo de ener- do evento – questiona os critérios de seleção e em uma dança para dar a luz à forma; em ou- lugares onde acontecem, como criam lugares.
gia (1991) e no projeto The Illustration of Art o processo de institucionalização do gesto artís- tros trabalhos, superfícies “prontas” se aliam a Em 2013, em uma exposição no Museu de Arte
(1971-1978) – ou no emprego de estruturas nar- tico. Sua postura de enfrentamento por vezes se formas recortadas, construídas e organizadas Contemporânea da Universidade de São Paulo
rativas – exemplo em Fumaça do prisioneiro formaliza em uma demanda por um posiciona- pelo artista. Assim, a matéria nos é apresentada ( MAC-USP ), troncos de árvores usados como
(1964). Assim, os atributos expressivos de sua mento ativo e participativo do público: em Re- tanto em sua forma bruta quanto domesticada postes de luz foram montados na horizontal e
obra emergem desse espaço de conflito se- pressão outra vez – eis o saldo (1968), o público pela ação do artista. elevados do chão, produzindo diferentes eixos,
mântico, institucional e subjetivo e reivindi- deve desvelar uma série de imagens erguendo em uma relação de tensão com o museu. Mais
cam um território livre: livre não porque pací- os tecidos negros que as escondem. do que objetos dispostos no espaço, suas obras
fico, mas porque convertido em um exercício inventam, em conjunto com os espectadores
poético da liberdade. e seus percursos, novas possibilidades de
espacialização.
Carlos Carmela Cildo Claudia
Vergara Gross Meireles Andujar
1941, Santa Maria, RS. Vive no Rio de Janeiro, 1946, São Paulo, SP. Vive em São Paulo. Qual é 1948, Rio de Janeiro, RJ. Vive no Rio de Janeiro. 1931, Neuchâtel, Suíça. Vive em São Paulo, SP.
RJ. “A produção que me interessa de arte é a a cor de uma palavra? Artista atuante desde a Cildo Meireles se interessa pelo espaço, enten- Vida e arte estão intimamente ligadas na obra
que inventa uma imagem que por si só se sus- década de 1960, Carmela Gross desenvolve uma dido não só como lugar, mas como uma estru- de Claudia Andujar. Sua prática possui uma
tente, ela é o seu próprio drama”, diz Carlos Ver- vasta pesquisa em diversos meios, incluindo de- tura que contém todos os mecanismos da vida ampla dimensão política desde a década de
gara. A presença de figuras reais e o uso de ma- senhos, pinturas, instalações, artes gráficas e in- humana que nos envolvem, e acredita em obras 1970, quando deixou o fotojornalismo para “co-
teriais industriais, como acrílico moldado, carac- tervenções urbanas. Em sua obra, o imprevisto, que possam ser reproduzidas por qualquer pes- nhecer os índios ianomâmis e também fotogra-
terizam seus trabalhos das décadas de 1960 e o impreciso, o imensurável e o inapreensível ga- soa. Suas Inserções em circuitos ideológicos pro- far”, conta a artista. Mais do que ter um papel
1970. Nesse período, produziu painéis, desenhos, nham forma, como se as substâncias do mundo põem a inclusão de mensagens de cunho polí- fundamental na defesa desse povo, Andujar se
happenings, objetos-módulos de papelão, tra- incorporassem o incomensurável, dotando-lhe tico em objetos de grande circulação, como no- propôs a conhecer, a se misturar ao outro para
balhos tridimensionais, como Berço esplêndido não apenas de materialidade, mas de uma cor- tas de dinheiro e garrafas de refrigerante. Entre- entender seus costumes e suas crenças. A partir
(1967) – no qual bancos com a frase “sente-se e poreidade que desafia os processos e sistemas tanto, suas criações ou intervenções nem sempre dessa experiência é que surgem suas imagens.
pense” ao redor de uma figura deitada e coberta convencionais de representação. Ao inserir a possuem carga política. Por exemplo, na série Para a artista, os ianomâmis têm uma compre-
com as cores da bandeira nacional convidam palavra “hotel”, escrita em luzes vermelhas e Espaços virtuais: Cantos (1967-1968), Cildo cria ensão do mundo na qual o homem e a natu-
o espectador. A fotografia foi adotada nos anos afixada à fachada lateral do Pavilhão da Bienal “cantos de sala”, que são investigações formais reza são um único ser e seu desafio é reproduzir
1970, quando o artista identificou no carnaval para a 25ª Bienal (2002), a artista propunha uma de como a geometria pode ocupar o espaço fí- isso em fotografia. A série Marcados, exposta na
carioca uma potência transgressora. A pintura, intervenção que ressignifica o evento. O hotel sico. Apesar de ser frequentemente considerado 27ª Bienal (2006), nos mostra indivíduos, por um
que a partir da década de 1980 foi retomada em constitui essa morada provisória, local de breve um artista conceitual, ele rejeita essa denomi- lado, fragilizados pela condição de vida que lhes
uma pesquisa com pigmentos naturais, se funde estadia ou rápida passagem. Constitui também nação por considerá-la restritiva: em sua visão, é imposta, mas, por outro, rostos que encaram a
a técnicas de impressão, como a monotipia. Para um termo compreendido por distintas culturas seu trabalho não opera em função de conceitos. câmera e afirmam sua identidade e força – apre-
o artista, a tela é um acontecimento, uma cons- em todo mundo. Carmela sublinhava, assim, a Também não pretende que sua obra seja com- sentam-se em sua integridade e dignidade de
trução lenta, em que se instaura um embate pro- transitoriedade da Bienal, como espaço que hos- preendida de maneira fechada: “O erro não está ser. As fotografias de Andujar parecem suge-
dutivo carregado de tensões, vontades e possi- peda obras, sentidos, sensações, que promove em participar da Bienal, mas de fazer trabalhos rir que a sobrevivência se dá pela afirmação da
bilidades, capaz de criar pulsações e energias encontros temporários ou reincidentes. Compu- ‘bienálticos’. A Bienal propõe um nível de leitura cultura, do orgulho de pertencer a um grupo e
gráficas que suscitam poética e estimulam su- nha, portanto, um repertório poético e simbólico, da nossa criação, mas existem outros”. da preservação da identidade.
tilmente o olhar. por meio do qual o mundo é intuído e apreen-
dido em sua sensualidade.
Claudio Daniel Eduardo Geraldo
Tozzi Senise Sued de Barros
1944, São Paulo, SP. Vive em São Paulo. Na dé- 1955, Rio de Janeiro, RJ. Vive no Rio de Janeiro. 1925, Rio de Janeiro, RJ. Vive no Rio de Janeiro. 1923, Xavante, SP – 1998, São Paulo, SP. Diante
cada de 1960, Claudio Tozzi iniciou seu trabalho Um dos mais emblemáticos representantes da “Quando estou em dúvida a respeito de um tra- das obras produzidas com placas de madeira
com apropriações de elementos gráficos do coti- geração de pintores da década de 1980, Daniel balho, fecho os olhos e aproximo o ouvido da pintada, fórmica ou plástico que Geraldo de Bar-
diano – imagens de jornal e HQs – e de ícones ur- Senise frequentou a Escola de Artes Visuais do tela. As cores servem para serem vistas e ouvi- ros começou a produzir na década de 1950, é
banos, comentando situações do contexto socio- Parque Lage, participou da antológica exposi- das”, diz Eduardo Sued, artista que se dedicou possível perceber que a pintura tradicional foi
político – uma operação comum à arte pop. Uti- ção Como vai você, geração 80? (1984) e da 18ª quase exclusivamente à pintura. Como Verme- substituída por um objeto que propõe uma nova
lizou justaposições e montagens, buscando gra- Bienal (1985). Sua pesquisa aponta a condição lho/vermelho, exposto na 16ª Bienal (1981), mui- percepção estética. Nessa obras, o gesto único
nulações e contrastes. Destacam-se nessa fase material da prática pictórica; de fato, é a pró- tos de seus trabalhos se constituem de planos li- e subjetivo do artista não é privilegiado: a ên-
as pinturas Bandido da luz vermelha (1967), Gue- pria pintura (sua história, repertório como su- sos, de materialidade uniforme. A partir de 1990, fase recai sobre a forma geométrica, a linha, o
vara vivo ou morto (1967), O público (1968) - ex- porte artístico e sua fatura como materialidade) passou a evidenciar a fatura (a expressividade jogo de planos e o formato do painel, que, ape-
posta na 10ª Bienal (1969) – e os painéis da sé- o tema predominante na obra de Senise. Dis- de seus gestos), e então a investigação da cor sar de considerados dados neutros, também são
rie Multidão, que retrata manifestações políti- tanciando-se dos métodos convencionais da e o movimento do artista se equilibraram. Pin- capazes de comunicar e difundir ideias e sensa-
cas da época. Produziu a obra Zebra (1992), ins- pintura, direciona-se, desde o final da década celadas turbulentas, telas amplas, tridimensio- ções sobre o fazer artístico e a percepção que te-
talada na praça da República, em São Paulo. de 1980, ao que ele chama de sudários: um con- nalidade; novos materiais foram incorporados mos da arte. Barros foi artista e designer, dupla
A partir de 1980, intensificou o uso de elemen- junto de práticas nas quais o contato de diferen- – como papel, metal e plástico – e novas opera- atuação que remete ao projeto concretista, no
tos físicos da pintura: linha, plano, cor, textura, tes materiais com a tela – impressões, decalques, ções introduzidas – sobreposições, cortes e uma qual e pelo qual o artista se formou e trabalhou
matéria. Contudo, Tozzi foi abandonando o for- vestígios, depósito ou acúmulos –, marcam a su- releitura da colagem. Como disse Roberto Con- – uma filosofia baseada na ideia da arte como
malismo e se aproximando da pintura abstrata perfície pictórica. Esses registros processuais se duru, “se, além da forma e da cor, algo permeia uma área de conhecimento objetivo que pode
e do construtivismo. Para Frederico Morais, compõem poeticamente como evidência da me- o seu embate com a pintura é a própria tela”. impactar o ambiente em que se vive. Ainda que
“Tozzi não usa a imagem como mediadora, em mória desses encontros. Para esse historiador da arte, Sued produz um as formas geométricas tratassem sutilmente da
seu aspecto referencial, mas a sua imagicidade. “problema-tela”, pressupondo-a como um ob- sociedade, o enfoque não estava na arte como
Trabalha com aquilo que constitui o subsolo da jeto, quase escultura. Sua pintura não é um meio meio para a solução de problemas sociais, mas
imagem - retícula, grão. Trata a imagem como para se alcançar um tema, questão ou narrativa; na construção de um projeto que envolvesse
um designer: isola, agiganta, congela, junta, re- ela é o próprio fim, a própria forma, o reflexo de uma nova maneira de ver e produzir em uma
pete, fragmenta, divide, soma, multiplica”. um percurso que questiona constantemente seus sociedade industrial e moderna.
limites; é uma pesquisa relacionada com a pró-
pria história da pintura.
German Hélio Iberê Iole de
Lorca Oiticica Camargo Freitas
1922, São Paulo, SP. Vive em São Paulo. German 1937, Rio de Janeiro, RJ – 1980, Rio de Janeiro. 1914, Restinga Seca, RS – 1994, Porto Alegre, RS. 1945, Belo Horizonte, MG. Vive no Rio de Janeiro,
Lorca desempenhou um papel decisivo na for- Registro de um percurso em que Hélio Oiticica A matéria tinta é espessa, escura, espalhada RJ. Luz e transparências, a pele como superfície
mulação e desenvolvimento da fotografia mo- abandona o quadro para explorar o espaço, os na tela por pinceladas e “espatuladas”. A lem- que delineia o corpo, planos retorcidos no es-
derna no Brasil. Afastando-se do registro estri- retângulos da série Metaesquemas criam espa- brança dos carretéis estrutura a composição e é paço. Esses elementos, que aparecem nos pri-
tamente documental, sua obra revela um pro- cialidades e parecem fugir da forma justa do pa- elemento edificador da poética. Fiada de carre- meiros filmes de Iole de Freitas Light Work e Ele-
fundo interesse pela plasticidade do cotidiano, pel – inaugurando um lugar onde essas formas téis, nº 5 (1961), exposta na 6ª Bienal (1961), apro- ments produzidos em Super-8 em 1973, estão na
reelaborado em suas fotografias por meio de com cores vivas envolvem o espectador. Sua funda a pesquisa de Iberê Camargo, que teve gênese de seu percurso. A relação entre corpo
composições que tendem à geometria. Por ve- série Relevo espacial também faz parte dessa início anos antes com as naturezas-mortas e de- e espaço marca sua obra: “A primeira coisa que
zes o caráter onírico de sua obra é intensificado trajetória. Tal caminho culmina na criação dos pois com o mergulho nesses objetos da infância, aprendi a fazer foi dançar, antes mesmo de ler
com o emprego de recursos técnicos e laborato- Parangolés, em 1968, com suas vestimentas cro- os carretéis. Em Mesa com cinco carretéis (1959), e escrever”, diz a artista. No começo de sua car-
riais (múltiplas exposições, solarização, superex- máticas que exigiam a participação do público os objetos se equilibram de maneira frágil, como reira, se aproximou da body art e experimentou
posição e reenquadramentos). Essas caracterís- para que a obra fosse ativada: o público veste se estivessem prestes a cair sobre a linha hori- diferentes mídias. A relação imagem-câmera-
ticas estavam em consonância com as propos- a obra e explicita o pensamento do artista, que zontal da mesa; já em Jogo de carretéis (1960), a -artista foi determinante: Iole realizou perfor-
tas experimentais do Foto Cine Clube Bandei- pressupõe o espectador como centro ativo e co- linha do horizonte desaparece e resta apenas o mances em seu ateliê e transformou os vestígios
rante, no qual Lorca atuou ativamente a partir criador de seus trabalhos. “Não se trata mais de espaço do quadro organizado pelas formas sin- deixados por seu corpo no espaço em imagens.
de 1948, junto com Geraldo de Barros, Thomaz impor um acervo de ideias e estruturas acaba- téticas dos carretéis. É intuitivo pensar que Iberê Fragmentos fotográficos de seus filmes se desdo-
Farkas, José Yalenti e Eduardo Salvatore. Foto- das ao espectador, mas de procurar uma des- realiza um desenvolvimento lógico e evolutivo braram em novos trabalhos. Suas esculturas ini-
grafias como Ladeira dr. Falcão (1950) ou Início centralização da ‘arte’ […] do campo intelectual da figuração rumo à abstração. Entretanto, se cialmente refletiram a medida do gesto, depois a
da obra da av. 23 de Maio (1954) evidenciam a racional para o da proposição criativa viven- ora os carretéis explodem deixando vazar toda escala do corpo e, mais tarde, passaram a dia-
sensibilidade e as propostas formais de Lorca, cial”, explica. Oiticica, ao longo de sua pesquisa, sua energia potencial, ora se tornam triângulos, logar com o espaço arquitetônico no qual esta-
além de seu encantamento diante do cresci- propôs obras que se tornaram verdadeiras expe- podem também tornar-se bicicletas e emprestar vam instaladas e com o espectador que por elas
mento da construção civil e dos processos de ur- riências sensoriais, ambientes e espaços constru- seu torpor às figuras humanas. Não há evolu- transitava. A artista investiga reflexos, luminosi-
banização da cidade de São Paulo, impulsio- ídos nos quais a cor é um dos elementos que dis- ção: há a necessidade interior de se expressar dades, questões de estrutura e equilíbrio ao criar
nada pela expansão industrial entre as déca- para a percepção. por meio da pintura, do embate da solidão do peças de grandes dimensões.
das de 1940 e 1950. homem diante da certeza da matéria.
Ivan Ivens Jac Jorge
Serpa Machado Leirner Guinle
1923, Rio de Janeiro, RJ – 1973, Rio de Janeiro. Na 1942, Florianópolis, SC. Vive no Rio de Janeiro, 1961, São Paulo, SP. Vive em São Paulo. Talvez 1947, Nova York, Estados Unidos – 1987, Nova
1ª Bienal (1951), Ivan Serpa ganhou o prêmio de RJ. Na década de 1970, Ivens Machado começou um olhar atento a questões ambientais em voga York. Classificar Jorge Guinle é uma tarefa difí-
melhor pintor jovem por sua tela Formas (1951). a fazer interferências gráficas em papéis pau- nos últimos anos possa considerar que as obras cil: poderia se falar em neoexpressionismo, mas
Mais do que o anúncio da abstração que estava tados e quadriculados. Essa subversão de ma- de Jac Leirner sejam um manifesto contra o ex- não se faria jus ao colorido intenso, ao prazer e à
por vir, tanto a tela como o prêmio indicam a teriais que supostamente garantiriam uma exa- cesso de plástico ou de coisas produzidas e logo luminosidade que suas obras guardam. Em sete
nova pesquisa empreendida por vários dos ar- tidão ou regularidade ao traço da escrita ou do descartadas. Entretanto, ao ponderar a trajetó- anos, produziu uma gestualidade frenética que
tistas e críticos brasileiros: não por qualquer abs- desenho técnico parece manter-se ao longo de ria da artista – seus trabalhos, declarações, tex- ora mostra algo, ora esconde, afirmando a abs-
tração, mas por uma abstração geométrica, re- sua obra tridimensional. Os materiais que em- tos críticos, exposições já realizadas –, percebe- tração como um caminho possível, sem perder
grada, filha do pensamento construtivista que prega – cimento, pedra, azulejo, vergalhões, to- -se que seu ponto de partida – e talvez de che- de vista que o fantasma da figura está ali, nas
buscava o “equilíbrio dinâmico”, como pontuou ras de madeira, telhas, telas de proteção, vidro – gada – seja o tempo. Os objetos por ela colecio- pinceladas desenhadas e nos títulos irônicos ou
Mário Pedrosa. As formas na tela de Serpa pa- o aproximam formalmente mais da construção nados – sacolas, cartões de visita, cédulas de poéticos. Suas grandes telas impoem algo, mas
recem estar em suspensão, no exato ponto de civil do que da prática da escultura conven- cruzeiro, objetos e bilhetes de avião – marcam não se trata de respeito pela habilidade do ar-
pausa ou de equilíbrio antes da queda, gerando cional. É a partir das qualidades formais des- a passagem do tempo ou a passagem de uma tista: ao olhar pinturas como Bella Ciao! (1985) e
uma estranha sensação de movimento. Em suas ses materiais, ou seja, sua maleabilidade, aspe- vida por determinados tempo, espaço e cultura. Quem tem medo de Virginia Woolf (1985) é im-
colagens posteriores – depois da fundação do reza, possibilidades de equilíbrio e tensão, que Esses “parasitas” ou excessos acabam por ser a posta a sensação de presença. Elas atestam que
Grupo Frente e da aproximação com o concre- o artista investiga o espaço, suas possíveis ocu- areia da ampulheta, os grãos que atestam a pre- Guinle esteve ali, como uma pegada na areia. O
tismo –, há uma clara pesquisa em relação às pações e ativações. Isso exige um rigor técnico, sença e a vida que passou. Jac Leirner não in- artista se faz presente em sua ausência, ao dei-
texturas e qualidades dos materiais e pode-se que ele concilia com certa precariedade, preser- tenciona construir uma obra biográfica, lhe in- xar sua marca nessa teia em que transforma a
perceber como as formas e os planos se rela- vando irregularidades e assimetrias ao longo do teressa a plasticidade das pequenas coisas e a tela. Entretanto, isso não se dá de maneira ingê-
cionam por meio dessa tensão produzida pelo processo. Disso resultam volumes que remetem possibilidade de transformá-las pela ação do ar- nua: informado pela história da arte e pela arte
equilíbrio. As várias obras intituladas Constru- a uma prática construtiva popular, à arquitetura tista. Ao utilizar os objetos que estão em seu en- contemporânea, Guinle traz diversas referências
ção (1955) dão destaque à cor, à transparência e informal e às dinâmicas sociais dos centros ur- torno, a artista traz o espectador para a obra e – cabe ao espectador as investigar.
à sutileza dos materiais empregados. banos industrializados. carrega nesse ato um ser cultural, marcado pe-
las coisas do mundo.
José José José José Roberto
Damasceno Leonilson Resende Aguilar
1968, Rio de Janeiro, RJ. Vive no Rio de Janeiro. 1957, Fortaleza, CE – 1993, São Paulo, SP. A obra 1945, São Paulo, SP. Vive em São Paulo. José Re- 1941, São Paulo, SP. Vive em São Paulo. José Ro-
A obra de José Damasceno alia o emprego de de Leonilson é marcadamente autorreferencial sende desenvolve sua pesquisa escultórica a berto Aguilar comparou seu processo criativo ao
materiais convencionalmente associados à tra- e problematiza as noções de corpo, identidade e partir do potencial expressivo de materiais tão “estar prenhe, grávido de uma ideia, grávido em
dição da escultura – como mármore e bronze – desejo. Em suas pinturas, desenhos, aquarelas, distintos quanto chumbo, cobre, estanho, aço, todo corpo” para, assim, fazer o “parto em cima
a objetos cotidianos apropriados como elemen- bordados e instalações, o artista parece consti- gesso, chapas e ampolas de vidro, borracha, de uma tela”, com todas as entranhas. O ar-
tos de composição – martelos, cadeiras, suporte tuir uma iconografia afetiva por meio da asso- feltro, seda, veludo, couro, parafina, óleo, cloro- tista diz ainda que sua fascinação pela pintura
para partituras, lápis, massa de modelar, com- ciação sutil entre imagem e texto. A palavra es- fórmio, mercúrio, água, tinta, fotografias, contêi- se deu ao abrir um pote de terebintina, quando
passos, peças de xadrez etc. – e cria, muitas ve- crita migra gradualmente de seus esboços e ca- neres e vagões de trem. As diferentes densida- “o cheiro evocou todas as maravilhas imagina-
zes, um jogo que parece estar presente em suas dernos até constituir, no fim da década de 1980 e des, cores e texturas desses materiais produzem das e não imaginadas. Senti na hora que pin-
esculturas, instalações, fotografias e desenhos. O início da de 1990, um recurso plástico emblemá- um conjunto inusitado de tensões em composi- tar seria muito mágico, um ritual…”. Sua pin-
resultado são obras que reivindicam o potencial tico de sua obra. Seus textos e os títulos de seus ções volumétricas pós-minimalistas, próximas tura teve a presença constante do spray – resul-
poético dos objetos que nos cercam e uma sofis- trabalhos tendem a salientar a ambiguidade, o formalmente das propostas do construtivismo e tando em um traço rápido que recobre, aponta e
ticada reflexão acerca das qualidades plásticas caráter parcial, provisório e potencialmente fic- da arte povera. O resultado é uma nova elastici- constrói caminhos – e também das tintas indus-
dos elementos arquitetônicos com os quais suas cional de qualquer produção de discurso. No dade das formas, um sutil equilíbrio fruto desse triais. São esses os materiais presentes na série
obras dialogam. Na obra Trilha sonora (2002), mesmo período, a costura e o bordado passam embate. Em Homenagem ao horizonte longínquo Futebol (1966): os pingos escorridos, as manchas
apresentada na 25ª Bienal, martelos foram fi- a ser recorrentes em sua pesquisa. Essas duas (1967), Resende trata de memórias de infância e as transparências precárias constroem um am-
xados na parede com pregos por sua face bi- tendências unem-se em obras como O Recruta acerca de narrativas fantasiosas de um amigo biente tenso em torno desse tema tão popular.
furcada e dispostos em uma sequência que su- O Aranha O Penélope (1992), na qual Leonilson sobre criaturas hipotéticas que habitariam um Essas telas revelam o uso do futebol pela dita-
gere linhas oscilantes, remetendo à representa- questiona o bordar e o tecer como práticas tra- horizonte longínquo; na obra, esses elementos se dura militar: o entusiasmo provocado pelas co-
ção gráfica de ondas sonoras e aludindo à di- dicionalmente femininas. A obra se refere à nar- misturam: os suspensórios do narrador fundem- pas do mundo e pela “seleção canarinho” con-
nâmica de dispersão do som. Assim, o objeto se rativa clássica de Penélope na Odisseia a fim de -se com as patas de animais inventados. tribuía para uma aparente sensação de norma-
torna suporte gráfico em potencial, que significa propor as práticas da tessitura como atividade lidade e de orgulho da nação, enquanto um go-
a qualidade do ruído sugerido. de enredamento ou enlace amoroso. verno ditatorial calava as vozes dissonantes.
Judith Leda Lothar Luiz
Lauand Catunda Charoux Sacilotto
1922, Pontal, SP. Vive em São Paulo, SP. A ma- 1961, São Paulo, SP. Vive em São Paulo. Recém- 1912, Viena, Áustria – 1987, São Paulo, SP. Dese- 1924, Santo André, SP – 2003, São Bernardo do
neira pela qual a artista lida com o movimento -formada em artes plásticas, Leda Catunda par- nho e pintura se entrelaçam na obra de Lothar Campo, SP. É característica de seu trabalho a
e, em decorrência dele, com a noção de tempo ticipou da exposição Como vai você, geração 80? Charoux. As superfícies contínuas de cor criam precisão que compõe um jogo óptico dinâmico.
é flagrante de sua formação concretista. Um motivada pela vontade de retomar a pintura, divisas – uma espécie de linha imaginária entre Nele se revelam tanto a geometria como símbolo
se traduz no outro: não mais o tempo infinito mas ainda influenciada por sua formação con- massas homogêneas e harmônicas. As cores não de uma linguagem quanto a experiência com
da obra de arte, mas o tempo que provém do ceitual e questionadora com professores como se misturam na tela, cada uma delas ocupa um desenho de letras em gráficas e projetos de es-
ritmo, do aparente e ilusório mover das formas. Regina Silveira, Julio Plaza e Nelson Leirner. Em espaço delimitado, e as relações cromáticas se quadrias metálicas. Luiz Sacilotto nasceu e vi-
Lauand foi a única mulher a participar do Grupo vez da tela, Leda escolheu como suporte e ma- dão pela percepção visual. Se em Construção veu na região do ABC em um contexto de indus-
Ruptura e esteve presente em cinco edições da terial tecidos estampados industrializados, ini- geométrica (1951) o desenho se faz presente pe- trialização da Grande São Paulo. Na década de
Bienal. Quatro grupos de elementos (1959) traz ciando a busca do que, anos depois, chamaria los limites entre os blocos geométricos, em outras 1950, o artista incorporou definitivamente os con-
a ideia da seriação, algo como “uma coisa de- de “poética da maciez”. Em Vedação rosa (1983), obras Charoux explora o desenho como linhas e ceitos da pintura geométrica e somou a isso a
pois da outra”; entretanto, as linhas não se co- toalhas com personagens de desenhos anima- traços (retângulos) sobre um fundo monocromá- prática escultórica. Integrou, em 1952, a expo-
locam em uma sequência monótona, mas se ar- dos são cobertas por tinta rosa e opaca, que es- tico, conferindo à obra um ritmo: espessura, cor e sição Ruptura no MAM-SP, e assinou, com ou-
ranjam e se contrapõem no espaço branco da conde a maior parte das figuras e revela seus linhas criam um jogo óptico. Os volumes criados tros artistas, o manifesto concretista. Defendeu
tela que ocupam. Suas pinturas da década de detalhes, como um revólver vermelho e uma pelos finos fios dão a impressão de movimento a arte como “meio de conhecimento deduzível
1950 são marcadas pela presença linear do de- bota de xerife. Suas obras costumam ser rele- e parecem presos ao anteparo plano e estático de conceitos, pondo-a acima de uma opinião”.
senho sobreposto a fundos monocromáticos – vos, uma região intermediária entre o bi e o tridi- que é a tela. É como se a composição se equili- No começo da década de 1970, durante o Ato
o espaço como um campo de interação de linhas mensional, como se os objetos tivessem sido as- brasse entre o dinâmico e o estático. Charoux foi Institucional n. 5 da ditadura militar, Sacilotto
ou barras. Seu trabalho posterior apresenta co- similados pela superfície e pela tinta para se tor- um dos fundadores do Grupo Ruptura e aprofun- parou de produzir e por sete anos reviu sua
res mais intensas e contrastantes, que ganham narem imagem – como as tiras de couro cober- dou sua pesquisa concreta, criando quase trava- obra. “Senti uma necessidade que todos os ele-
áreas maiores e conduzem o olhar para este tas por tinta acrílica em Couros (1993). -línguas visuais – imagens que brincam com a mentos pudessem criar mais movimento”, afir-
exercício que pode ser a percepção. visão. mou sobre esse período. Trabalhou, então, de
forma sintética e dinâmica, fazendo superfícies
bidimensionais inesperadamente ganharem es-
paço, alcançarem ritmo, torções, sendo capazes
de transformar o espaço.
Lygia Marcello Marcius Maria
Pape Nitsche Galan Martins
1927, Nova Friburgo, RJ – 2004, Rio de Janeiro, RJ. 1942, São Paulo, SP. Vive em São Paulo. A ideia 1972, Indianápolis, Estados Unidos. Vive em São 1894, Campanha, MG – 1973, Rio de Janeiro, RJ.
“O que me interessava era abrir espaços (os de apropriação motiva Marcello Nitsche desde o Paulo, SP. No texto “Sobre o rigor na ciência”, Conhecida por suas esculturas em bronze, que
brancos) cada vez maiores, atingir o limite ex- fim da década de 1960 – quando produzia ima- Jorge Luis Borges concebe um hipotético mapa começou a desenvolver em 1939, Maria Martins
tremo da expressão através de um mínimo de gens carregadas de ironia e inspiradas nas his- com escala real. Com dimensões equivalentes propôs uma instigante obra como desenhista,
elementos”, disse Lygia Pape sobre as xilogra- tórias em quadrinhos –, até seus trabalhos mais àquelas do território que ele se propõe a ma- gravadora e escritora. Celebrada por André
vuras feitas na década de 1950 – como a série recentes, nos quais utiliza códigos de barras pear, esse mapa torna-se uma cartografia impos- Breton, residiu em Washington (EUA) entre 1939
Tecelar (1955-1959), exposta na Bienal Brasil Sé- como matriz. A influência da arte pop atravessa sível, um devaneio. A obra Entre (2010), do artista e 1948 com o marido, o embaixador Carlos Mar-
culo 20 (1994). Essas obras são radicais pela ma- sua obra diversificada, que passa por gravura, Marcius Galan, parece próxima a esse exercício tins, estabelecendo ateliê em Nova York e parti-
neira como a artista trata a técnica. “No dia em desenho, pintura, escultura, instalação e cinema. ficcional. Ao ampliar zonas de conflitos em um cipando dos ciclos artísticos da época (conheceu
que fiz uma gravura toda branca, parei. Che- De maneira lúdica também está presente em mapa, por meio de recursos de microscopia ele- André Masson, Max Ernst e Marcel Duchamp).
guei à luz.” Essa pesquisa, presente em suas pri- sua obra a tensão entre imagens bidimensio- trônica, revela-se não o espaço que ele suposta- Sua obra gradualmente se afastou da represen-
meiras pinturas, desenhos e relevos, quando era nais e objetos tridimensionais: em Buum (1966), mente representa, mas uma paisagem fruto da tação figurativa tradicional e se aproximou da
integrante do Grupo Frente, trata de questões uma seta sai fisicamente de uma placa de trân- interação das fibras do papel e da tinta. É pos- expressividade surrealista: formas orgânicas
do espaço (típicas da arte concreta), ao mesmo sito e termina em um balão com a onomatopeia sível, portanto, compreender o rigor formal pre- sensuais sugerem corpos humanos, referências
tempo que introduz elementos subjetivos, que “buum!”; Bolha amarela (1967-1968), primeiro sente na produção do artista como uma estra- botânicas e animais, insinuando um misterioso
rompem com o pensamento formal. O caráter inflável apresentado numa Bienal, é um tecido tégia de questionamento da arbitrariedade de embate erótico no qual o desejo constitui mani-
experimental, elaborado dentro do movimento costurado de náilon que, quando inflado, invade nossos sistemas de representação e uma deses- festação selvagem da psique humana. A recep-
neoconcreto, marca sua obra. Da gravura foi o espaço expositivo e se transforma em objeto in- tabilização de nossa percepção do mundo. De ção de sua obra no Brasil foi controversa. Parte
para o cinema, para poemas criados com pro- terativo – ao exercer pressão sobre os corpos do modo lúdico e irônico, suas propostas tendem a da crítica estava comprometida com o desenro-
jeções de palavras e cor-luz, para os balés, espectador fazia referência ao universo infan- subverter nossos referenciais materiais, noções lar da abstração como princípio constitutivo da
nos quais dançarinos eram motores para pul- til e, simultaneamente, à opressão da ditadura de equilíbrio e profundidade. Em sua série mais visualidade moderna, de modo que sua premia-
sações de formas geométricas, e livros-obras. militar; sua Pincelada tridimensional (2000), que conhecida, por exemplo, o artista cria a ilusão ção na 3ª Bienal (1955), nesse contexto, a asso-
A partir de 1960, quando rompeu com o neocon- habita o parque da Luz em São Paulo, é o gesto de painéis de vidro que secionam o espaço ex- ciou às tendências figurativas nacionais.
creto, dissolveu linguagens e técnicas e introdu- da pintura transformado em escultura pública. positivo, utilizando molduras e pigmentos que si-
ziu a participação do espectador, consolidando mulam o efeito refratário e sugerem a presença
sua produção dentro do pensamento artístico de um vidro.
contemporâneo.
Miguel Milton Mira Nelson
Rio Branco Dacosta Schendel Leirner
1946, Las Palmas de Gran Canaria, Espanha. 1915, Niterói, RJ – 1988, Rio de Janeiro, RJ. A tra- 1919, Zurique, Suíça – 1988, São Paulo, SP. “Vou 1932, São Paulo, SP. Vive em São Paulo. Nelson
Vive no Rio de Janeiro, RJ. Miguel Rio Branco é jetória de Milton Dacosta até a década de 1960 só dar um histórico de como surgiram os objetos Leirner discute as bases do sistema de arte de
um viajante: filho de diplomata, nasceu na Es- é similar ao percurso da abstração brasileira. O que fiz. Eles surgiram, de certo modo, do acaso dentro do próprio sistema, criticando o mercado,
panha, viveu em países como Brasil, Portugal, artista parte de uma pesquisa figurativa para e da curiosidade. Uma vez eu ganhei um pa- as instituições, os curadores e os artistas. Her-
Suíça e Estados Unidos e expôs sua obra pelo adentrar, aos poucos, nas formas geométricas. pel japonês finíssimo aos montes. Deixei guar- deiro de muitos conceitos de Marcel Duchamp,
mundo desde o início de sua carreira. O artista Figura (1951) mostra uma mulher dividida por dado.” Mira Schendel conta que esses papéis de Leirner tem a apropriação irônica como princi-
transita entre diferentes linguagens, passando planos quase uniformes de cor e diferentes tona- arroz deram origem, tempos depois, às monoti- pal procedimento. A última ação do Grupo Rex,
pela pintura, fotografia, cinema (como diretor e lidades registram certa memória de volume. Má- pias expostas na 8ª Bienal (1965) – séries de “li- do qual Leirner foi integrante, foi a Exposição-
diretor de fotografia, em filmes tradicionais ou rio Pedrosa, em algumas de suas críticas, falava nhas”, “arquiteturas”, “letras” e “escritas”. Dese- -não-exposição (1967), em que suas obras po-
experimentais) e instalações audiovisuais. Ele da busca de Dacosta pelo estilo. No entanto, no nhista, pintora, poetisa e escultora, Mira se inte- diam ser levadas gratuitamente pelo público.
propõe o encontro entre esses diferentes meios final dos anos 1950, percebe que esse estilo era, ressa por qualquer material, por qualquer coisa Houve tumulto dentro e fora da galeria, onde as
para criar imagens de contrastes intensos: entre na verdade, sua entrada para abstração. Nas feita com as mãos, por tudo que está a sua volta pessoas vendiam as obras que tinham acabado
luz e sombra, entre as cores, entre a distância do telas em que organiza pequenos quadrados e e desperta seu olhar. Palavras, letras, sinais se de pegar de graça. A série Homenagem a Fon-
olhar estrangeiro e a proximidade da empatia, retângulos sobre um fundo monocromático há misturam a círculos, linhas e espirais, criando tana (1967) se refere à obra de Lucio Fontana,
entre a visão objetiva e o ensaio subjetivo, como uma referência distante às cidades e castelos. gestos por meio dos quais a artista experimenta em especial às telas monocromáticas que este
se tentasse entender e dizer algo sobre o mundo Entretanto, o predomínio da geometria e da cor o tempo e o espaço. Assim, questões recorren- artista perfurava, criando cortes que demonstra-
que passa diante dele, mas sem julgá-lo definiti- permite entrever a grade que organiza os cam- tes, formais ou não, são desveladas enquanto se vam que toda pintura é superfície. Apenas um
vamente. Em Nada levarei qundo morrer aque- pos sólidos de cor, que definem e constroem o es- atualizam junto a suas intenções. Os intervalos rasgo na tela poderia criar profundidade real.
les que mim deve cobrarei no inferno (1979-1980), paço da pintura. O artista aproximou-se da pes- e respiros são potências em suas obras, suge- Na homenagem de Leirner, composições simila-
uma série de fotografias realizadas em Maciel, quisa construtivista e encarou a tela em sua ple- rindo espaço para possibilidades. E ecoam em res às de Fontana foram criadas com camadas
bairro pobre e decadente no Pelourinho, em Sal- nitude de objeto; ultrapassou o formalismo ao sua preferência pela têmpera, com a porosidade de lona colorida e zíper, de forma que o espec-
vador, mistura-se a trechos de vídeo para criar perceber a potência das relações cromáticas e de seus sulcos e passagens, em pinturas que tador podia interagir com a obra, criando “ras-
um retrato fílmico que, a princípio, revela intimi- a cor como matéria e forma, em telas como Em ganham corpo escultórico ao combinar-se com gos” temporários e revelando as camadas infe-
dade com os moradores e aos poucos se torna o marrom (1957) e Em vermelho (1956-57), expostas areia, pedra, argila ou grossas camadas de tinta. riores de tecido.
retrato da violência presente no local. na 4ª Bienal (1957).
Nuno Paulo Rubens Sérgio
Ramos Monteiro Gerchman Camargo
1960, São Paulo, SP. Vive em São Paulo. Nuno 1961, São Paulo, SP. Vive em São Paulo. Voltar à 1942, Rio de Janeiro, RJ – 2008, São Paulo, SP. 1930, Rio de Janeiro, RJ – 1990, Rio de Janeiro.
Ramos trabalha com diferentes linguagens, tela poderia parecer uma incongruência para La television (1967) e Che Guevara (1967) apre- Sérgio Camargo dedicou-se à escultura, em sin-
como pintura, escultura, literatura, cinema e alguns artistas da década de 1970; contudo, foi sentam características importantes do trabalho tonia com questões construtivistas – a ocupa-
música, variando do romance ao samba, dos isso o que fez a Geração 80. A morte da pintura, de Rubens Gerchman nas décadas de 1960 e ção do espaço, os ritmos dos volumes, as formas
pequenos objetos às instalações monumentais tantas vezes profetizada, não se concretizou. Na 1970, quando imagens já eram intensamente vei- geométricas, ainda que sua opção pelos cilin-
– os suportes tradicionais não dão vazão apro- 16ª Bienal (1981), Paulo Monteiro expôs pinturas culadas pelos meios de comunicação de massa e dros e pelas curvas insinue algo mais orgânico.
priada à poética do artista, o que o leva a bus- ao lado de seus companheiros do ateliê Casa 7. a ditadura militar criava obstáculos para a cir- Segundo Paulo Venancio Filho, “poucas obras
car incessantemente novas possibilidades. “Eu Carregadas de uma massa espessa de tinta, culação de ideias. Esse foi o contexto da Nova Fi- apresentam de maneira tão clara seu sistema e
acredito muito na matéria. Eu acho que a ma- suas obras transitam no limiar entre a abstra- guração. O artista se apropriou de ícones da so- o expõem coerentemente ao longo de uma traje-
téria não mente. Ela cai antes de mentir”, disse ção e a figuração: vemos as linhas pretas contor- ciedade moderna, cartazes e imagens de jornal tória de quarenta anos. Camargo foi mesmo um
certa vez. No início de sua carreira, fez parte do nando certos corpos, definindo formas; as áreas para produzir investigações estéticas que dia- precursor ao fazer da obra o próprio sistema, le-
grupo Casa 7 e se dedicou à pintura neoexpres- de cor parecem se derreter, se espalhar e es- logavam diretamente com tensões sociais e po- vando-o até seu limite material e formal”. Em-
sionista, como na obra Lamentação (1985), ima- capar do cerceamento da linha. Diversas refe- líticas. SOS (1967-1968) e Lute (1967) – presentes bora figurativa, a série de esculturas em bronze
gem de grande formato e com indícios de figu- rências poderiam ser supostas, desde a estética nas exposições Bienal Tradição e Ruptura (1984) que representam mulheres sentadas e curva-
ração, exposta na 18ª Bienal (1985). No entanto, das histórias em quadrinhos até o neoexpressio- e Bienal Brasil Século 20 (1994) – são esculturas das sobre si mesmas, de meados de 1950, apre-
Nuno logo forjou outro percurso com obras sim- nismo alemão e americano. Como afirma o ar- de palavras, criadas para espaços ao ar livre sentam a coesão entre forma, cor e material,
bólicas e potencialmente provocantes, como tista, esse foi um período de formação, quando e denominadas Cartilhas no Superlativo. Suas o que é comum a sua obra posterior, abstrata.
Bandeira branca (2010), em que estruturas de pesquisa maneiras de usar a cor, materiais bara- imagens marcaram época, como Lindoneia, a Suas obras intituladas Relevo são compostas de
areia comprimida e granito, caixas de som de tos e de efeitos inesperados (como a tinta indus- Gioconda do subúrbio (1966) – uma “síntese do madeira, cilindros e cubos irregulares, que pa-
vidro e três urubus vivos ocuparam o vão cen- trial sobre o papel kraft) – aqueles foram anos tropicalismo”, de acordo com Frederico Morais –, recem sair de uma superfície plana. Diferente-
tral da 29ª Bienal (2010) – atraindo a atenção e fundamentais de seu trabalho com a realidade obra que deu nome à canção de Caetano Ve- mente de outros artistas da época, que traçavam
gerando indagações do público. física e material, com os quais anuncia o que es- loso. Nos anos 1980 e 1990 continuou desenvol- um percurso do bidimensional ao tridimensional,
taria por vir. vendo pinturas a partir de imagens comuns da Camargo invade o plano, com o qual questiona
imprensa, como as relacionadas a futebol. o lugar-comum da escultura.
Tatiana Tomie Willys
Blass Ohtake de Castro
1979, São Paulo, SP. Vive em São Paulo. No final 1913, Kyoto, Japão. Vive em São Paulo, SP. Ao 1926, Uberlândia, MG – 1988, São Paulo, SP.
da década de 1990, Tatiana Blass começa sua transitar por linguagens variadas – campos plás- Willys de Castro, formado em química, iniciou
trajetória artística desenvolvendo uma pintura ticos, técnicos e poéticos que exigem diferentes sua carreira artística de maneira autodidata.
de forte apelo cromático, da qual a obra Sem tí- posturas e problemas – a artista construiu em Pintando temas figurativos com um olhar geo-
tulo (2003) é exemplo. Em 2004, começa a explo- mais de sessenta anos de carreira uma obra plu- métrico, transformava o mundo em linhas e
rar mídias tridimensionais e, em seguida o ví- ral em seus meios e coerente em sua poética. campos de cor, estudando a superfície da tela
deo. Sua obra problematiza o espetáculo como Exceto pelos primeiros trabalhos, a abstração e os efeitos das imagens sobre a percepção do
dispositivo de mediação e explora o corte, a frag- sempre foi seu caminho: suas pinturas, escul- espectador – vinculou-se assim ao abstracio-
mentação, a fissura, os intervalos e as mutilações turas e gravuras exploram as relações cromáti- nismo geométrico. A pesquisa sobre a autono-
em diversas variações formais. Rompendo com a cas na pureza das formas, guiadas por uma geo- mia e a universalidade do discurso visual moti-
lógica da ação dramática, suas esculturas-atores metria manual. A pincelada, unidade mínima vou seu trabalho multifacetado como pintor, de-
derretem sob holofotes e seus instrumentos musi- de sua pintura, traduz ritmos e evidencia o pro- signer, cenógrafo e crítico. Embora sua trajetó-
cais fossilizam-se em pleno uso ou são impedidos cesso de construção de suas obras: camadas de ria seja comum à de outros artistas concretos,
de produzir som. Durante a 29ª Bienal (2010), Ta- cor que ora se revelam, ora se ocultam. As rela- a independência de seu pensamento e o com-
tiana Blass apresentou a obra Metade da fala no ções de equilíbrio, força e movimento estão ex- prometimento com a pesquisa o tornam único.
chão – piano surdo (2010), na qual um pianista plícitas em suas esculturas, principalmente no Junto a Hércules Barsotti, distanciou-se do grupo
tocava peças de Chopin enquanto cera líquida conjunto dos arcos de aço expostos na 23ª Bie- concretista paulistano e aproximou-se dos neo-
era derramada sobre as cordas do piano. Ao es- nal (1996), mas também em várias de suas pin- concretistas cariocas por afinidade de projeto.
friar e passar ao estado sólido, a cera desafinava turas, nas quais as cores são campos de força Sua investigação sobre a imagem bidimensional
o piano até emudecê-lo por completo. Segundo controlados e cerceados pela precisão do gesto, culminou nos Objetos ativos (1959-1962), parale-
a artista, essa impossibilidade aponta os limites mesmo quando livre e solto. Tomie chegou ao lepípedos de madeira cobertos por telas pinta-
da comunicação como prática política e social. Brasil em 1936 e diz que desde o início se impres- das de cores sólidas em todas suas faces visíveis.
sionou com a vivacidade das cores no novo país. Quando pendurados na parede, parecem telas
Talvez seja essa luz intensa que algumas de suas que se libertaram da passividade da superfície
telas registram. para ocupar o espaço do observador.
glossário
abstração  a arte abstrata, ou abstracionismo, brasileira. Segundo ele, a antropofagia seria a ca- e na afinidade com elementos formais de investiga- predileção por materiais rústicos e resíduos natu-
refere-se aos meios de expressão artísticas visuais pacidade de se apropriar criticamente de modelos ção linguística. rais em suas obras. Posteriormente, fica claro que o
que não são condicionadas pela figuração ou por e ideias europeias, digeri-las e depois aplicá-las na grupo propõe a indistinção entre cultura e natureza,
ambições representativas. Como modalidade artís- produção de algo genuinamente brasileiro. arte concreta  (ver concretismo) sobrepondo materiais industriais, manufaturados e
tica, remonta à ruptura da pintura moderna com os elementos naturais.
métodos e técnicas de imitação da realidade, lan- apropriação  o uso, por uma pessoa ou um arte figurativa  (ver figurativo)
çando mão de relações de ordem formal e cromá- grupo, de algo pertencente ou criado por outro(s), body art  vertente da arte que marcou os anos
tica como recursos expressivos. Convencionalmente geralmente sem o conhecimento ou aprovação arte pop  em meados da década de 1950, artistas 1970. Nas proposições dessa prática o corpo é um
organiza-se em duas tendências distintas: abstra- deste(s). O termo é empregado pela história e pela ingleses e norte-americanos passaram a incorpo- campo de experimentações que muitas vezes é le-
cionismo geométrico (ênfase nas relações formais e crítica da arte para indicar a incorporação de obje- rar em suas obras materiais, referências e técnicas vado aos seus limites. As ações acontecem tanto
matemáticas da composição) e abstracionismo lírico tos extra-artísticos e/ou de outras obras em trabalhos da publicidade, do cinema, das histórias em qua- em público quanto em registros (filmes ou fotogra-
ou expressivo (ênfase no caráter expressivo, subje- de arte. Acusações de roubo ou plágio são comuns drinhos, de imagens televisivas e de revistas popu- fias). Exemplo: em 1974, a artista iugoslava Marina
tivo e emocional da composição). (ver Claudio Tozzi, contra artistas em cuja(s) obra(s) aparecem, parcial lares, extrapolando as fronteiras entre arte erudita Abramović (1946-) marcou a produção artística da
Almir Mavignier) ou integralmente, declaradamente ou não, conteú- e arte popular, ou entre arte elevada e cultura de época com a obra Rhythm 0, na qual dispôs sobre
dos apropriados de outra. massa. Sem programas ou manifestos, os trabalhos uma mesa 72 objetos (como uma arma, fósforos, ál-
abstrato  (ver abstração) de Andy Warhol (1928-1987), Roy Lichtenstein (1923- cool, mel, pluma) para serem usados pelo público
arte cinética  “cinético” é uma palavra que indica 1997), Claes Oldenburg (1929-) e Richard Hamilton em seu corpo como desejasse.
André Breton  (1896-1966) escritor e poeta francês movimento (deriva do grego: kínesis, movimento). (1922-2011) se assemelham pelas temáticas aborda-
conhecido como principal idealizador do movimento Mais do que representar movimentos do mundo, das, pelo desenho simplificado, pelas cores satura- Casa 7  grupo de jovens artistas paulistas – Nuno
surrealista; estudou medicina e psiquiatria. Aproxi- o artista cinético tem interesse no próprio movi- das e pela atenção concedida aos objetos comuns, Ramos, Carlito Carvalhosa, Paulo Monteiro, Fábio Miguez
mou-se inicialmente dos dadaístas, desenvolvendo mento como parte da obra. Nem toda obra que se à vida cotidiana e, em particular, ao universo do e Rodrigo Andrade – que se reunia para pintar na dé-
investigações com a escrita automática. Seu inte- move é cinética e nem toda obra cinética tem movi- consumo. Em carta de 1957, o artista Richard Hamil- cada de 1980. Trabalhavam com materiais baratos,
resse pelas propostas da psicanálise, em especial a mento real, mas existe a intenção de produzir uma ton definiu os princípios centrais da nova sensibili- como papel kraft e tinta industrial, e dedicavam-se
noção de inconsciente, o levaram a refletir profun- impressão de movimento, seja na obra, seja como dade artística como uma arte “popular, transitória, à pintura, à procura de uma gestualidade intensa e
damente sobre as implicações estéticas das teorias resultado dos deslocamentos do espectador. A ideia consumível, de baixo custo, produzida em massa, de experimentações. Para todos eles, esse foi um pe-
freudianas. Em 1924, publicou o Manifesto surrea- foi concebida na Rússia com o Manifesto realístico, jovem, espirituosa, sexy, chamativa, glamourosa e ríodo de aprendizagem e de início de carreira, que
lista e Peixe solúvel. publicado em 1920. Na década de 1930, o artista um grande negócio”. Deve-se distinguir, no entanto, acabou eclodindo com a participação do grupo na
norte-americano Alexandre Calder (1898-1976) pro- o termo “arte pop” de “arte popular”, esta última li- 16ª Bienal (1981).
André Masson  (1896-1987) artista plástico fran- duziu esculturas cinéticas conhecidas como “mó- gada à produção artística de pessoas sem educa-
cês filiado ao movimento surrealista. Entusiasta do biles”, que se movimentam impulsionadas pelo ar. ção formal em artes (geralmente autodidatas), vin- Como vai você, geração 80?  exposição rea-
desenho automático, desenvolveu diversos procedi- das de regiões afastadas dos grandes centros eco- lizada na Escola de Artes Visuais do Parque Lage,
mentos artísticos com o intuito de reduzir o controle arte conceito  (ver arte conceitual) nômico-culturais e que retratam costumes, cenas tí- em 1984, com curadoria de Marcos Lontra, Paulo Ro-
do consciente sobre seu processo criativo. picas e crenças da região em que habitam (como os berto Leal e Sandra Magger. A exposição abrigou
arte conceitual  prática artística na qual o con- escultores de carrancas no interior brasileiro ou os obras de 123 artistas, a maioria vinculada à EAV (RJ)
antropofagia  prática de consumo de carne ceito (planejamento e decisões tomadas antecipa- pintores de festividades religiosas populares, como ou à Faap (SP). Participaram Beatriz Milhazes (1960-),
humana, canibalismo. Em 1928, a pintora moder- damente) tem primazia sobre as etapas de execu- a festa junina). (ver Claudio Tozzi, Marcello nitsche) Daniel Senise, Leda Catunda, josé Leonilson e Luiz Zerbini
nista brasileira Tarsila do Amaral (1886-1973) pin- ção da obra. O termo compreende um conjunto de entre outros. A exposição propunha uma reflexão
tou uma figura selvagem e solitária e intitulou práticas artísticas adotadas no contexto cultural das arte povera  o termo arte povera (pobre, em ita- acerca das especificidades da arte do período, como
o quadro de Abaporu, que em tupi-guarani sig- décadas de 1960 e 1970, que privilegiam a noção de liano), cunhado pelo crítico Germano Celant (1940-) a busca pela renovação da prática pictórica, o en-
nifica “antropófago”. No mesmo ano, o poeta obra como projeto artístico acima da perícia técnica, em 1967, se refere a uma tendência associada a um tusiasmo com a produção coletiva, a precariedade
Oswald de Andrade (1890-1945) publicou o Mani- com ênfase na efemeridade do gesto (registros foto- grupo de artistas italianos. Inicialmente, o termo como valor estético e as influências da arte pop,
festo antropófago, que usava a antropofagia como gráficos, fotocópias, filmes, descrições, mapas etc.) “povera” referia-se a uma suposta rejeição da so- transvanguarda e expressionismo abstrato na arte
metáfora do processo crítico de formação da cultura ciedade de consumo, manifestada, sobretudo, na brasileira. (ver Geração 80)
conceitual  (ver arte conceitual) Brasil. Os autores tradicionalmente penduravam tos (formais ou expressivos) por meio dos quais de- fotógrafos participantes contam com estúdio e labo-
os folhetos em cordas para vendê-los, daí a origem terminada obra pode ser associada a um período ratório fotográfico.
conceitualismo  (ver arte conceitual) do nome. Os textos poéticos são rimados e se inspi- histórico, a uma região geográfica, a uma corrente
ram em narrativas da cultura popular, perpetuadas estética, a um autor específico ou a uma fase de Frederico Morais  (1936-) crítico que teve partici-
concretismo  um dos movimentos da pintura mo- pela oralidade. sua produção. pação importante na produção artística da década
derna abstrata. A arte concreta pretendia lidar ape- de 1970. Foi quando surgiu a “nova crítica”, como
nas com planos, formas, cores e linhas, que foram ditadura militar  regime político em que as for- Fayga Ostrower  (1920-2001) artista plástica bra- explica: “uma crítica que fosse ela mesma criadora
considerados elementos os mais concretos e univer- ças armadas ou um grupo de militares toma o poder sileira nascida na Polônia que desenvolveu carreira e que portanto agisse, por assim dizer, do lado de
sais possíveis. Partia da concepção de que a tela desrespeitando a democracia, limitando ou impe- diversificada, centrada nas diferentes técnicas de dentro da arte, em parceria direta com os artistas”.
não era um espaço ilusório ou simbólico, uma ja- dido as liberdades individuais. O Brasil esteve sob gravura (xilo, metal e serigrafia), na programa- Escreveu para jornais como O Globo, foi curador
nela para o mundo, mas um objeto plano sobre o uma ditadura militar entre 1964 e 1985. Os sucessi- ção visual e em estampas para tecido. Influenciada de mais de sessenta exposições e publicou cerca
qual se organizavam formas e cores. Um dos maio- vos governos comandados pelo militares deixaram pelo expressionismo alemão, produziu gravuras de de quarenta livros sobre a produção brasileira e la-
res divulgadores da arte concreta foi o artista ale- na ilegalidade vários partidos políticos e cidadãos cunho crítico social que apresentavam elementos tino-americana de arte, como O Brasil na visão dos
mão Max Bill (1908-1994) – inclusive na América La- que se manifestavam contra as ideias e práticas puramente gráficos, desenvolvendo uma obra abs- artistas – A natureza e as artes plásticas (2001).
tina, em especial no Brasil e na Argentina. A exposi- vigentes. Por causa da dura repressão e censura, trata informal, carregada de lirismo e subjetividade.
ção do artista no Masp e sua participação na 1ª Bie- muitos foram os que lutaram pelo fim da ditadura. Também é relevante sua carreira como pesquisa- Geração 80  esse termo é aplicado, de modo
nal foram um importante fomento à arte abstrata no A produção cultural da época também foi vasta: dora acadêmica, teórica e professora em diferentes amplo, a uma variada gama de produções artísti-
país e à formação do Grupo Ruptura em São Paulo. a música, o teatro, as artes plásticas e a literatura instituições, nacionais e internacionais. cas brasileiras desenvolvidas na década de 1980.
(ver Luiz Sacilotto, Almir Mavignier, Geraldo de Barros, eram maneiras de se engajar e se expressar contra Embora abarque uma diversidade de suportes e
Judith Lauand) o sistema opressor. figuração  (ver figurativo) meios, formalmente essa produção está associada
ao contexto histórico de abertura política no Brasil,
concretista  (ver concretismo) Eduardo Salvatore  (1914-2006) foi um fotógrafo figurativo  a arte figurativa refere-se aos meios à tendência de contraposição aos movimentos con-
brasileiro que se dedicou desde 1937 à fotografia, de expressão artísticas visuais que se utilizam de ceituais da década de 1970, à valorização dos pro-
concreto  (ver concretismo, Grupo Ruptura) cofundando o Foto Cine Clube Bandeirante em 1939 recursos técnicos e métodos específicos para pro- cessos e procedimentos de fatura artística e à in-
e presidindo a agremiação entre 1943 e 1990. duzir representações de objetos, forma e seres de tensa produção pictórica (aludida como um “retorno
construtivismo  (ver construtivista) modo reconhecível. da pintura”). São marcos das atividades dessa gera-
Escola de Artes Visuais do Parque Lage ção as exposições Como vai você, geração 80? (1984)
construtivista  é possível falar em tendências (EAV)  fundada em 1975, no Rio de Janeiro, pelo formalismo  termo que pode ser usado em dife- e a 18ª Bienal (1985). (ver Angelo Venosa, Daniel Senise,
construtivistas ou projeto construtivista no intuito Departamento de Cultura da Secretaria de Estado rentes áreas do conhecimento; no caso das artes vi- Leda Catunda, JOSÉ Leonilson, Luiz Zerbini, Beatriz Milhazes)
de se remeter ao movimento que ficou conhecido de Educação, é um centro de ensino que promove suais, denota uma atenção exacerbada à forma e
na história da arte como construtivismo. Com suas diversos programas voltados à formação de artis- à estética em detrimento a um conteúdo, narrativa gravura em metal  linguagem e processo no
origens na Rússia (na época parte da União Sovié- tas, pesquisadores, profissionais da área de artes ou metáfora. Vários foram os movimentos de arte qual uma superfície de metal é utilizada para gra-
tica), esse conjunto de ideias esteve presente em di- e demais interessados. Em suas dependências são moderna que se basearam no formalismo para se var uma imagem. O carimbo, por exemplo, é uma
ferentes contextos e partes do mundo, tanto na Eu- realizadas atividades culturais como exposições, opor a uma espiritualidade ou subjetivismo na obra espécie de gravura: em uma matriz está gravada
ropa quanto na América Latina, ganhando especi- peças teatrais, shows e ciclos de cinema. Importante de arte. uma imagem que pode ser reproduzida diversas ve-
ficidade em cada localidade. Buscava-se uma arte local de convivência para intelectuais e artistas, zes. Na gravura em metal, utiliza-se, normalmente,
não representativa e não metafórica que tivesse um a escola privilegia discussões das modalidades ar- Foto Cine Clube Bandeirante  é um fotoclube uma placa de cobre como matriz, sobre a qual são
papel progressista no interior da sociedade – uma tísticas mais recentes. fundado em São Paulo em 1939, que teve importante realizadas incisões com ferramentas específicas ou
sociedade industrial e tecnológica –, colaborando papel no desenvolvimento e na divulgação da foto- se desenha por meio de processos indiretos que uti-
para sua construção ideológica.  (ver Claudio Tozzi) estilo  modo distinto de expressão ou conjunto de grafia moderna no Brasil. Organizou o Salão Brasi- lizam vernizes e ácidos, para proteger e corroer a
características distinguíveis recorrentes em um de- leiro de Arte Fotográfica e outras mostras e salões, superfície, respectivamente.
cordel  gênero literário popular, também conhe- terminado grupo de obras. O estilo, no contexto cursos, workshops, passeios de fotografia, além da
cido como folheto, muito encontrado no nordeste do da história da arte, identifica uma série de atribu- Sala Especial de fotografias na 2ª Bienal (1953). Os
Grupo Frente  em 1954 a primeira exposição do escolhas plásticas destaca-se o uso reduzido da cor, na Crimeia, em 1943, e ele teria sido resgatado pe- segue influenciando experiências artísticas que têm
grupo, liderado por Ivan Serpa, reuniu artistas que, a recusa à ilusão na pintura e o uso de recursos ópti- los tártaros. Esse incidente teria um grande impacto como expressão o desejo de aproximar arte e vida.
apesar de possuírem poéticas distintas, estavam in- cos para criação de uma aparente movimento. (ver no desenvolvimento de sua obra, em especial na de-
teressados em desenvolver pesquisas em torno da Luiz Sacilotto, Hércules Barsotti) cisão de usar como materiais o feltro e a gordura – Mário Pedrosa  (1900-1981) foi um pensador da
abstração e não mais no eixo figurativo modernista usados nos cuidados medicinais que salvaram sua arte e da política, muito atuante nas cenas cultu-
valorizado até então. Dessa primeira mostra partici- happening criado no final dos anos 1950 pelo vida –, bem como seu interesse por figuras arquetí- ral e social brasileiras – como crítico e diretor do
param nomes – a maioria alunos de Ivan Serpa no norte-americano Allan Kaprow (1927-2006), o termo picas e simbologias associadas a animais (como le- Museu de Arte de Moderna de São Paulo (MAM–SP)
Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro – como se refere à arte que acontece entre as artes visuais bre, ovelha, abelhas, coiotes etc.). e colaborador do museu de mesmo nome no Rio
Aluísio Carvão, Décio Vieira, Lygia Clark, Lygia Pape e o crí- e as artes cênicas. São acontecimentos nos quais de Janeiro. Na década de 1930, quando a crítica de
tico Ferreira Gullar (1930-) – que apresentou o grupo diferentes materiais e elementos podem ser or- Joseph Kosuth  (1945-) artista conceitual norte- arte começou a se difundir no país, Pedrosa pro-
–, além do próprio Serpa. Posteriormente outros ar- questrados pelo artista, aproximando a proposta e -americano, professor, curador e teórico da arte. duziu seus primeiros textos. Foi crítico, historiador
tistas, como Abraham Palatnik, Franz Weissmann e Hélio os espectadores, que também participam da obra. Desde 1965 desenvolve obras utilizando palavras em da arte, teórico, referência para movimentos artísti-
Oiticica, se juntaram a eles. O happening acontece em tempo real, tem estrutura instalações, objetos e fotografias. Seu interesse pela cos e militante político de esquerda. Participou ati-
flexível e, portanto, não pode ser repetido. A cada linguagem o aproxima gradualmente das teorias de vamente do debate das artes plásticas, estimulou a
Grupo Rex  fundado em 1966, foi uma coopera- nova ação surge um novo acontecimento. Sigmund Freud (1853-1939), Ludwig Wittgenstein produção abstrata e foi responsável pela criação do
tiva de artistas plásticos idealizada por Wesley Duke (1889-1951) e da filosofia da linguagem. É particular- primeiro núcleo de artistas concretos no Rio de Ja-
Lee, Geraldo de Barros e Nelson Leirner, da qual partici- iconografia  é o campo de estudo que inves- mente conhecido por sua produção artística envol- neiro. Acompanhou de perto a carreira de artistas
param José Resende, Carlos Fajardo e Frederico Nas- tiga, identifica, descreve, classifica e interpreta a vendo a utilização de definições de dicionário, como como Almir Mavignier, Amilcar de Castro, Lygia Clark e
ser (1945-). Fruto da insatisfação de seus proposi- recorrência temática e o valor simbólico atribuído a série Arte como ideia como ideia (1966-1968) ou Hélio Oiticica. Foi organizador do programa artístico
tores, o grupo era particularmente crítico ao sis- a determinado grupo de imagens (em geral, re- Uma e três cadeiras (1965), sua obra mais famosa. da 2ª Bienal (1953) e secretário-geral da 4ª Bienal
tema da arte que se configurava e de seus agentes. presentações figurativas). O teórico alemão Erwin (1957). Foi também vice-presidente da Associação
Buscavam a aproximação entre arte e vida e a su- Panofsky (1892-1968) a descreve como o estudo do Lorenzo Mammi  (1957-) é um importante crítico Internacional dos Críticos de Arte e presidente da
peração das modalidades artísticas tradicionais. tema ou assunto, distinto de iconologia, que seria de arte brasileiro nascido na Itália. Doutor em filoso- Associação Brasileira de Críticos de Arte.
Sua irreverente contestação se dava principalmente o estudo do significado de imagens. O termo é hoje fia, é professor da Universidade de São Paulo desde
por meio da publicação Rex Time e da ação da Rex também amplamente empregado no campo edito- 2003. Organizou e publicou diversos ensaios e livros, matriz  a matriz contém e é a imagem original a
Gallery & Sons (1966-1967). rial, no qual descreve o processo de levantamento, como Carlito Carvalhosa (Cosac Naify, 1999) e a co- partir da qual podem ser produzidas cópias. O ar-
pesquisa e seleção de imagens que comporão de- letânea de textos O que resta (Companhia das Le- tista desenha e grava sobre a matriz; suas ações
Grupo Ruptura  em 1952 uma exposição e um terminada publicação. tras, 2012), na qual reflete sobre o estado da arte criam relevos ou sulcos nessa superfície para, por
manifesto marcam o início da arte concreta no contemporânea no Brasil e no mundo. meio da impressão, compor seu trabalho. Diversos
Brasil. Da exposição no Museu de Arte Moderna de José Yalenti  (1895-1967) filho de imigrantes ita- materiais podem ser usados como matriz de uma
São Paulo faziam parte Waldemar Cordeiro, Geraldo de lianos, foi um dos fundadores do Foto Cine Clube Marcel Duchamp  (1887-1968) artista francês que gravura. Tradicionalmente, utiliza-se metal, madeira
Barros, Luiz Sacilotto, Lothar Charoux, Kazmer Féjer e Bandeirante. Entusiasta do contraluz, é atribuída a desafiou o pensamento convencional sobre proces- ou linóleo.
Anatol Wladyslaw. Posteriormente, fizeram também ele a introdução da tendência geométrica nas expe- sos artísticos e as dinâmicas de comercialização de
parte do grupo Judith Lauand, Mauricio Nogueira Lima rimentações dos fotógrafos bandeirantes, o que é obras de arte. Inicialmente próximo aos cubistas, o Max Ernst  (1891-1976) pintor, escultor, artista
e Hermelindo Fiaminghi. Tais artistas queriam não só uma das principais marcas do grupo. artista se envolveu com uma investigação sobre a gráfico e poeta alemão, um dos expoentes do mo-
produzir arte abstrata, mas também discutir quais recontextualização dos objetos do cotidiano, como vimento surrealista. Pintor autodidata, interes-
os termos dessa nova corrente no Brasil. A questão Joseph Beuys  (1921-1986) escultor, desenhista, proposta artística – os ready-mades. Para Duchamp, sou-se profundamente pela obra de Vincent van
não era apenas se posicionar em detrimento da fi- artista gráfico, performer, propositor de happenings essas operações deslocavam a atenção do objeto Gogh e De Chirico. Fundou em 1919 o grupo da-
guração, mas estabelecer bases para uma arte ba- e instalações, teórico da arte, agitador político e pro- de arte e enfatizar a atitude ou pensamento do ar- daísta de Colônia. Desenvolveu uma pesquisa com
seada na geometria e na matemática, que fosse fessor, é considerado um dos artistas mais influen- tista. Roda de bicicleta (1913), Porta-garrafas (1914) e a sobreposição de imagens, primeiro em colagem
objetiva e deixasse de lado os subjetivismos e os tes da segunda metade do século 20. O artista ale- Fonte (1917) são seus ready-mades mais conhecidos. e posteriormente em pintura. Mudou-se em 1922
expressionismos. A produção concreta esteve inti- mão foi piloto durante a Segunda Guerra Mundial, A concepção e criação desses objetos por Duchamp para Paris e participou ativamente do movimento
mamente ligada à indústria e à tecnologia. Como quando seu avião foi abatido durante uma missão
surrealista. Propôs a técnica da frottage em 1925. tos, flores, frutas, vegetais, formavam a composição. em um campo crítico e politizado da arte, que pro- experiência e buscando fundir a arte com a vida.
Imigrou para os Estados Unidos em 1941, onde vi- Apesar de a categorização da pintura em gêneros duziu figuras e narrativas mergulhadas nos proble- É uma modalidade interdisciplinar capaz de combi-
veu até retornar a Paris em 1950. não fazer parte do vocabulário contemporâneo, são mas urbanos e sociais do país. nar diversas linguagens, como vídeo, teatro e poe-
muitos os artistas que lidam com a natureza-morta, sia. Por seu caráter efêmero e presencial, sobrevive
mídia  qualquer meio, suporte ou veículo de difu- atrelando também à obra todas as conotações his- Oswaldo Goeldi  (1895-1961) gravador, dese- com auxílio de registros em fotografia, vídeo ou me-
são de informações ou conteúdos que constitua si- tóricas que o gênero carrega. nhista, ilustrador e professor carioca de ascendên- moriais descritivos.
multaneamente uma forma de expressão e um in- cia suíça, Goeldi é conhecido por sua produção grá-
termediário capaz de transmitir uma mensagem. neoconcreto  (ver neoconcretismo) fica, principalmente em xilogravura, que teve início pintura abstrata  (ver abstração)
Enquanto “mídia” se refere tanto a suportes de me- na década de 1920. Suas xilos costumam retratar
nor alcance (livro, fotografia, vídeo etc.) quanto aos neoexpressionismo  o termo faz referência à cenas citadinas noturnas, em que o preto da tinta e pintura figurativa  (ver figurativo)
principais veículos de um determinado sistema retomada de alguns aspectos do expressionismo, o branco dos sulcos na madeira produzem intenso
de comunicação social (televisão, rádio, jornais), principalmente na Alemanha a partir da década contraste de influência expressionista. plasticidade  de forma bastante ampla, é a quali-
“grande mídia” refere-se apenas ao segundo grupo, de 1970. Entre as variadas poéticas de artistas como dade de modelagem de alguma substância que lhe
que desde o início do século 20 tem influenciado a Jörg Immendorff (1945-2007), Georg Baselitz (1938-), Pablo Picasso  (1881-1973) talvez o artista oci- dá forma. Embora se refira inicialmente ao embate
opinião pública, muitas vezes determinando suas A. R. Penck (1939-), Anselm Kiefer (1945-) e Markus dental mais conhecido do século 20, Picasso foi material do qual resulta a forma, ao longo do século
escolhas – sendo, por isso, apelidada de “quarto po- Lüpertz (1941-) se faz presente a preocupação com um dos pintores a criar e a conceituar o cubismo 20, teóricos do cinema, da música e das artes perfor-
der” (em alusão aos três poderes – Executivo, Legis- questões políticas, com a identidade e com o cená- ao apresentar ao público sua obra Les demoisel- máticas reivindicaram para seus campos de atua-
lativo e Judiciário). rio do pós-guerra. Suas pinturas de grande formato les d’Avignon, em 1907. O cubismo gerou uma revo- ção qualidades “plásticas”, fazendo com que com-
aliam a figuração a uma superfície consciente de lução nos modos de representação, propondo uma preendamos hoje “plasticidade” como o conjunto de
monotipia  entre o desenho, a gravura e a pin- seu meio – construída pelas pinceladas expressivas nova compreensão do espaço pictórico. A produ- qualidades formais (de implicações estéticas e ex-
tura, a monotipia é uma técnica de impressão rica e pela massa pictórica. No Brasil, foi uma importante ção de Picasso foi vasta e passou por várias fases, pressivas) envolvidas na composição de uma obra.
em possibilidades. Chama-se monotipia uma placa, referência para os artistas da Casa 7. sempre atentando às mudanças e às novas discus-
lona ou superfície sobre a qual uma imagem é exe- sões no mundo da arte – o artista também foi autor poesia concreta  termo cunhado por Augusto de
cutada, usando tinta ou outro material adequado. A neoconcretismo  movimento artístico surgido no de Guernica (1937), que esteve na 2ª Bienal (1953). Campos (1931-) para descrever uma modalidade de
imagem é impressa, tornando-se uma cópia única: Rio de Janeiro em 1959, formado por Amilcar de Castro, poesia de caráter experimental eminentemente vi-
“mono”, único, e “tipia”, impressão. Historicamente, Ferreira Gullar (1930-), Franz Weissmann, Hélio Oiticica, Paul Cézanne  (1839-1906) artista francês que, no sual surgida na década de 1950. A poesia concreta
a monotipia teve origem no século 17, com Giovanni Lygia Clark, Lygia Pape, Reynaldo Jardim (1926-2011) e fim do século 19, ao continuar e extrapolar a pes- propunha uma ruptura do verso como a unidade
Benedetto Castiglione (1616-1670). Embebendo lo- Theon Spanudis (1915-1986). Foi uma resposta ao quisa impressionista, criou as bases nas quais o rítmico-formal do poema, utilizando-se marcada-
nas cruas com cola, o artista brasileiro Carlos Vergara concretismo, movimento anterior que aproximava cubismo poderá se desenvolver. Cézanne realizou mente da paronomásia e da disposição espacial de
produziu uma série de monotipias. As lonas, ao o artístico do industrial por meio do uso das cores e diversas pinturas da região da Provença, em espe- palavras, frases e elementos gráficos, combinando,
serem pressionadas sobre as paredes e bocas de das formas geométricas. Os neoconcretos também cial o Monte Santa Victória, com as quais buscou assim, elementos verbais e não verbais.
grandes fornos em atividade, produziram imagens estavam atentos ao caráter construtivo da arte, mas compreender a representação do espaço natural
que registram desde tijolos, fumaça até outros ele- ressaltaram a fusão entre arte e vida, reformularam no espaço pictórico. A síntese que realizou da pai- pós-minimalismo  termo que designa os desdo-
mentos do lugar. o objeto artístico como plurissensorial e incorpora- sagem abriu caminho para outra ordem de pensa- bramentos formais do minimalismo. De modo ge-
ram efetivamente o observador, que passa a poder mento sobre a representação e a pintura. ral, relaciona-se a propostas artísticas com particu-
movimento neoconcreto  (ver neoconcretismo) manipular as obras. (ver Hélio Oiticica, Hércules Bar- lar ênfase no processo de produção, características
sotti, Lygia Pape) performance  gênero artístico surgido na dé- formais dos materiais empregados, uma simplifi-
natureza-morta  tradicionalmente é um dos gê- cada de 1960, ganha evidência quase simultanea- cação das formas plásticas e tendência conceitual.
neros da pintura (outros são as paisagens, retratos, nova figuração  movimento artístico que marcou mente à arte conceitual e ao happening, num con- Em geral, as obras denominadas pós-minimalistas
cenas históricas) que se fez presente na história da a década de 1960 no Brasil e em outros países, como texto de revisão crítica dos preceitos até então vi- são relacionadas às atividades plásticas e ao itine-
arte a partir do século 16. Sob essa categoria eram França, Alemanha e Itália. Trata-se do retorno à fi- gentes, buscando romper a divisão entre categorias rário teórico de Robert Morris (1931-), seu conceito de
realizadas pinturas de cenas internas (ou domésti- gura após um declínio das tendências abstratas da tradicionais da arte (como dança, teatro, artes visu- antiforma e a interação que propõe entre a massa
cas), nas quais elementos inanimados, como obje- década anterior. No Brasil, esse movimento se deu ais e música), valorizando o corpo como suporte da escultórica e o espaço que ela ocupa.
FUNDAÇÃO BIENAL DE SÃO PAULO 30 × Bienal - Transformações na arte brasileira
projeto concretista  (ver concretismo) Super-8  formato cinematográfico desenvolvido da 1ª à 30ª edição
nos anos 1960 de filmes com 8 milímetros de lar- Fundador
Francisco Matarazzo Sobrinho · 1898-1977 presidente perpétuo Curadoria
ready-made termo cunhado por Marcel Duchamp gura, o que permitiu um aumento na qualidade da Paulo Venancio Filho
em 1912 para designar uma peça elaborada a par- imagem. Conselho de honra
Oscar P. Landmann † presidente Projetos e produção
tir de um ou mais objetos de uso do cotidiano, pro- Conselho de Honra de ex-presidentes  Alex Periscinoto, Carlos Bratke, Produtores  Felipe Isola, Helena Ramos, Joaquim Millan, Waleria Dias,
duzidos em larga escala e expostos como obras de Thomaz Farkas  (1924-2011) brasileiro nascido Celso Neves †, Edemar Cid Ferreira, Heitor Martins, Jorge Eduardo Viviane Teixeira assistente geral, Lilian Bado assistente, Veridiana Simons
arte em museus e galerias. Ao elevar à condição ar- na Hungria, foi pioneiro da fotografia moderna no Stockler, Jorge Wilheim, Julio Landmann, Luiz Diederichsen Villares, assistente, Vivian Bernfeld assistente, Luiz Santorio logística de transporte,
Luiz Fernando Rodrigues Alves †, Maria Rodrigues Alves †, Manoel Patricia Lima transporte
tística esses objetos, Duchamp realizou uma crítica Brasil. Filho do fundador da empresa Fotoptica, foi
Francisco Pires da Costa, Oscar P. Landmann †, Roberto Muylaert Conservação  Bernadette Ferreira, Graziela Carbonari
radical ao sistema da arte, em que a assinatura da um dos membros do Foto Cine Clube Bandeirante. Expografia  T+T Projetos: Felipe Tassara, Guilherme Zoldan arquiteto
Conselho de administração
obra e o espaço expositivo seriam decisivos para a Destacam-se em sua obra os registros fotográficos coordenador
Tito Enrique da Silva Neto presidente, Alfredo Egydio Setubal vice-
imputação do termo “obra de arte”. A criação de da construção e inauguração de Brasília. Pesquisa  Thiago Gil
presidente
Projeto Luminotécnico  Samuel Betts
Fonte (1917), um mictório sobre um pedestal, assi- Membros vitalícios  Adolpho Leirner, Alex Periscinoto, Carlos Bratke,
Cenotecnia  Fresh Design
nado por R. Mutt (pseudônimo de Duchamp), foi o Waldemar Cordeiro  (1925-1973) artista brasi- Gilberto Chateaubriand, Hélène Matarazzo, Jorge Wilheim, Julio
Transporte  ArtQuality
Landmann, Manoel Ferraz Whitaker Salles, Miguel Alves Pereira,
marco inicial para a utilização de ready-mades. leiro nascido na Itália, que antes de dedicar-se à Pedro Aranha Corrêa do Lago, Pedro Franco Piva, Pedro Paulo de
Seguro  Affinite Corretora de Seguros
Montagem de obras  Manuseio
arte com computadores, trabalhou como pintor e Sena Madureira, Roberto Duailibi, Roberto Pinto de Souza, Rubens
registro  documentação de acontecimentos, per- paisagista. Atributos de arte concreta, como o en- José Mattos Cunha Lima Comunicação
Membros  Alberto Emmanuel Whitaker, Alfredo Egydio Setubal, Coordenação de comunicação  Felipe Taboada coordenador, Julia
formances, instalações ou objetos por meio de es- foque estrutural nos materiais e processos, a lin-
Aluizio Rebello de Araujo, Álvaro Augusto Vidigal, Antonio Bias Bolliger Murari assistente, Gabriela Longman assessora de imprensa
crita, fotografia, filme, vídeo etc. Às vezes é apre- guagem e a busca pela redução geral dos meios Bueno Guillon, Antonio Bonchristiano, Antonio Henrique Cunha internacional
sentado como parte de uma obra, como objeto de expressão emanam de sua prática. Da mesma Bueno, Beatriz Pimenta Camargo, Beno Suchodolski, Cacilda Teixeira Coordenação de design  Ana Elisa de Carvalho Price coordenadora,
autônomo ou como último resquício de uma ação forma, lógica e racionalidade se tornaram prin- da Costa, Carlos Alberto Frederico, Carlos Francisco Bandeira Felipe Kaizer designer gráfico, Adriano Campos assistente de design,
Lins, Carlos Jereissati Filho, Cesar Giobbi, Claudio Thomas Lobo Douglas Higa assistente de design
que aconteceu uma única vez. cípios fundadores do Grupo Ruptura, com o qual Coordenação editorial  Cristina Fino coordenadora, Diana Dobránszky
Sonder, Danilo Santos de Miranda, Decio Tozzi, Eduardo Saron,
Cordeiro esteve envolvido de 1952 em diante. Mais Elizabeth Machado, Emanoel Alves de Araújo, Evelyn Ioschpe, Fábio editora, Luciana Araujo editora assistente
Roberto Conduru  (1964-) doutor em história tarde, o artista percebeu na arte eletrônica a possi- Magalhães, Fernando Greiber, Fersen Lamas Lembranho, Gian Carlo Coordenação de internet  Victor Bergmann coordenador
Gasperini, Gustavo Halbreich, Heitor Martins, Jackson Schneider, Apoio à coordenação geral  Eduardo Lirani assistente administrativo e
pela Universidade Federal Fluminense, especialista bilidade de formar uma cultura artística de alcance
Jean-Marc Robert Nogueira Baptista Etlin, Jens Olesen, Jorge Gerdau produtor gráfico
em história da arte e da arquitetura no Brasil pela internacional. Johannpeter, José Olympio da Veiga Pereira, Marcos Arbaitman, Assessoria de imprensa  Pool de Comunicação
PUC-RJ, professor de história da arte e de artes vi- Maria Ignez Corrêa da Costa Barbosa, Marisa Moreira Salles, Audioguia  Matheus Leston, Narração: Barbara Arvanitidis, Américo
suais. Atua também como crítico, curador, autor de xilogravura  trata-se da técnica de gravura que Meyer Nigri, Nizan Guanaes, Paulo Sérgio Coutinho Galvão, Roberto Martins
Muylaert, Ronaldo Cezar Coelho, Sérgio Spinelli Silva Jr., Susana Desenvolvimento de website  Estúdio Existo
textos e livros, pesquisador de arte, especialmente utiliza uma peça de madeira (xilo) como matriz.
Leirner Steinbruch, Tito Enrique da Silva Neto Documentário  Mira Filmes
da história da arte, das relações entre arte e cultura, A madeira é entalhada por uma ferramenta cor- Gerenciamento de documentação audiovisual  Pedro Ivo Trasferetti von Ah
Conselho fiscal
arquitetura, modernidade e contemporaneidade. tante com o objetivo de se criar uma imagem; pos- Produção gráfica  Signorini Produção Gráfica
Carlos Alberto Frederico, Gustavo Halbreich, Tito Enrique da Silva
Registro fotógrafico  Leo Eloy
teriormente a peça é entintada e em seguida essa Neto, Pedro Aranha Corrêa do Lago
Ruptura  (ver Grupo Ruptura)  imagem desenhada é gravada (reproduzida) sobre Diretoria executiva
Educativo Bienal
Coordenação geral  Carolina Melo, Guga Queiroga assistente
papel, tecido ou outro suporte. Luis Terepins presidente
Supervisão geral  Helena Kavaliunas relações externas e comunicação,
Suely Rolnik  é psicanalista, crítica de arte e Diretores  Flavia Buarque de Almeida, Justo Werlang, Lidia Goldenstein,
Laura Barboza formação e administrativo
Mario Cunha Campos, Rodrigo Bresser Pereira, Salo Kibrit
cultura, curadora, professora titular da PUC–SP e, Relações externas  Ana Lua Contatore assistente, Juliana Duarte
desde 2007, docente convidada do programa de es- Consultor assistente, Maíra Martinez assistente, Luan Inarra estagiário
Emilio Kalil Formações  Pablo Tallavera coordenador de educadores, Elaine
tudos independentes do Museu d’Art Contemporani Fontana coordenadora de educadores, Matias Monteiro produtor
de Barcelona ( MACBA). Estuda cultura contem- Superintendente
de conteúdo e palestrante, Ricardo Miyada produtor de conteúdo e
Rodolfo Walder Viana
porânea, centrada nas relações de poder, fragili- palestrante, Sueli Vital professora do Plantão Educativo
Coordenações Projetos e parcerias  Daniela Azevedo, Elisa Matos, Bob Borges
dade, trauma, formação do desejo, nos diferentes
Coordenadora geral de produção  Dora Silveira Corrêa Comunicação  Daniela Gutfreund coordenadora, Vivian Lobato
contextos de nossa época (ditaduras e neolibera- Coordenador geral de comunicação  André Stolarski jornalista, Amauri Carvalho documentação audiovisual, Sofia Colucci
lismo, comparando principalmente América Latina Curadoria educacional  Stela Barbieri fotógrafa estagiária
e Europa).
Produção  Alexandre Furtado coordenador de produção e logística, Revisão  Alícia Toffani, Bruno Tenan, Luciana Araujo Cortesia Galeria Fortes Vilaça.  11 Coleção Augusto Livio Malzoni. Clelia Pastorello, Conselho de Educação de Bertioga, Conselho
Marcelo Tamassia assistente de coordenação, Dayves Vegini produtor, Design gráfico  Design Bienal Foto: Rômulo Fialdini / Augusto Livio Malzoni.  12 Coleção Museu Municipal de Políticas Culturais de Bertioga, Coordenadoria de
Cecília Bracale produtora, Bianca Casemiro produtora, André Bitinas Produção gráfica  Eduardo Lirani de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC-USP), Museus e Galerias - Prefeitura de Santos, Daisy Peccinini, Danilo
assistente, Pedro Nascimento assistente Pré-impressão e Impressão  Pancron doação do Projeto Hélio Oiticica. Foto: Sérgio Guerini / MAC-USP.  15 Miranda, Denise Grinspum, Denise Ortiz, Denise Pollini, Devanil
Administrativo  Celso Rabetti coordenador, Simone Martins assistente Tiragem  5000 exemplares Foto: Andreas Valentin / Projeto Hélio Oiticica. Cortesia Projeto Hélio Tozzi, Diretoria de Ensino Centro, Diretoria de Ensino Centro Oeste,
Voluntários  Rosa Maria Maia Antunes coordenadora, Cláudia Oiticica.  21 Foto: Arquivo Cildo Meireles. Cortesia do artista. Diretoria de Ensino da Região de Mauá, Diretoria de Ensino Sul 2,
© Copyright da publicação Fundação Bienal de São Paulo, 2013.
Prechedes, Jéssica Rodrigues da Silva, Marcelle Sartori, Matheus Diretoria de Ensino Sul 3, EE Cliciano José Ennes, EE Padre Manoel
Todos os direitos reservados. Como o mundo fala? / Quais as linguagens da arte?  2-3 Fotos:
Gumerato, Vera Cerqueira da Nóbrega, EE Senador Alexandre Marcondes Filho, Elisabeth
Sofia Colucci / Fundação Bienal de São Paulo.  4-5 Coleção José
Seminário Arte em Tempo  Pesquisadores: Bruno Garibaldi, Cadu Todos os textos e imagens reproduzidos nesta publicação foram Scatolin, EMEF General Osório, EMEF Rogê Ferrerira, EE Professor
Marton. Foto: Marilá Dardot.  6 Foto: acervo do artista. Cortesia
Valadão, Carlos Negrini, Cássia Rosicler Galvão, Clara Alves, cedidas pelos artistas e seus representantes legais e são protegidos Ceciliano José Ennes , EE Senador Alexandre Marcondes Filho, EMEF
do artista.  13 Coleção João Sattamini, comodante Museu de Arte
Débora Rosa, Diogo de Moraes, Eri Alves, Fábio Caiana, Filippa por leis de direitos autorais. Sua reprodução é proibida sem a Deputado Rogê Ferreira, EMEF General Osório, Evelyn Ioschpe,
Contemporânea de Niterói. Foto: Paulinho Muniz / MAC-Niterói.  14
Jorge, Gabriela K. Sacchetto, José Minerini Neto, Júlia Milaré, Juliana expressa autorização dos artistas, representantes legais e fotógrafos. Fábio Magalhães, Fábrica de Cultura Belém, Fábrica de Cultura
Coleção do artista. Foto: Arquivo Cildo Meireles. Cortesia do artista. 
Okuda Campaneli, Juraci Silva, Kelly Teixeira, Laura Gorski, Leonardo Itam Paulista, Fábrica de Cultura Jardim São Luis, Fábrica de Cultura
Todos os esforços foram feitos para determinar a origem das imagens 17 Coleção do Museu de Arte Contemporânea de Niterói. Foto:
Matsuhei, Nilva Luz, Simone Francischetti Sapopemba, Fábrica de Cultura Vila Nova Cachoeirinha, Faculdade
desta publicações e autorizar seu uso junto aos artistas, fotógrafos Ricardo Basbaum.
Mozarteum de São Paulo (FAMOSP), Felipe Chaimovich, Felix Cury,
Arquivo Bienal ou seus representantes legais. Nem sempre isso foi possível. Teremos
Onde termina uma forma? / Onde começa uma forma?  2-3 Fotos: Fernanda Beraldi, Fernando Carvalho, Folha de São Paulo, Faculdade
Ana Luiza de Oliveira Mattos coordenadora, Ana Paula Andrade prazer em creditar as fontes, caso se manifestem.
Sofia Colucci e Gregório Soares / Fundação Bienal de São Paulo.  Paulista de Arte (FPA), Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP)
Marques pesquisadora, Fernanda Curi pesquisadora, Giselle Rocha
Esse material educativo foi publicado por ocasião da exposição 4-5 Coleção Marcello Nitsche. Foto: acervo Marcello Nitsche.  8 Riberão Preto, Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP) São José
conservação, José Leite de A. Silva auxiliar administrativo
30 × Bienal – Transformações na arte brasileira da 1ª à 30ª edição, Coleção João Sattamini, comodante Museu de Arte Contemporânea dos Campos, Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP) São Paulo,
Assessoria jurídica produzida pela Fundação Bienal de São Paulo e realizada entre de Niterói. Foto: Paulinho Muniz / MAC-niterói.  11 Acervo Banco Fundação Clovis Salgado - Minas Gerais, Fundação Julita, Gisa
Marcello Ferreira Netto 19 de setembro e 8 de dezembro de 2013 no Pavilhão Ciccillo Itaú. Foto: Iara Venanzi / Banco Itaú.  12 Coleção Museu de Arte Picosque, Giselda Pistelli, Guilherme Teixeira, Heitor Martins, Herman
Matarazzo, Parque do Ibirapuera. Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC-USP), doação do Jacobus Cornelis Voorwald, Hermes de Sousa, Instituto Superior de
Finanças e controladoria
Projeto Hélio Oiticica. Foto: Sérgio Guerini / MAC-USP.  17 Foto: Andrés Educação (ISE) Vera Cruz, Iveta Maria Borges, Ivo Mesquita, J. C.
Vagner Carvalho gerente, Amarildo Firmino Gomes contador, Fábio
Créditos de imagens Otero /Fundação Bienal de São Paulo. Serroni, João Spinelli, Judith Lauand, Júlia Ribeiro, Juliana Braga,
Kato auxiliar financeiro, Lisânia Praxedes dos Santos assistente de contas
Juliana Santos, Julio Landman, Jussara Fonseca, Justo Werlang, Lilian
a pagar, Thatiane Pinheiro Ribeiro assistente financeiro Embalagem  19ª Bienal Foto: Arquivo Histórico Wanda Quais os tempos da memória? / Quais os espaços da memória? 
Amaral, Lilian Grazieli, Luis Terepins, Luiz Munari, Marcelo Mattos
Svevo / Fundação Bienal de São Paulo  30ª Bienal Foto: Leo 2-3 Fotos: Sofia Colucci /Fundação Bienal de São Paulo.  4-5
Marketing e captação de recursos Araújo, Márcia Mathias de Castro, Maria Cecília França Lourenço,
Eloy / Fundação Bienal de São Paulo  Coleção Museu de Arte Moderna de São Paulo, doação do artista.
Marta Delpoio coordenadora, Bruna Azevedo analista, Gláucia Ribeiro Maria Izabel Meirelles Reis Branco Ribeiro, Martin Grossmann,
Foto: German Lorca / MAM-SP.  9 Coleção Pinacoteca do Estado de
analista, Raquel Silva assistente Linha do tempo Educativo Bienal  2ª Bienal Foto: Arquivo Histórico Mauro Lucas, Mila Chiovatto, Mirca Bonano, Mirian Celeste Martins,
São Paulo / Foto: Acervo Documental Fotográfico da Pinacoteca do
Wanda Svevo / Fundação Bienal de São Paulo  3ª Bienal Foto: Museu da Cidade de São Paulo, Museu de Arte Contemporânea
Recursos humanos, materiais e manutenção Estado de São Paulo.  10 Foto: Duas Águas /Fundação Bienal de
Arquivo Histórico Wanda Svevo / Fundação Bienal de São Paulo  de Jataí - GO, Museu de Arte Moderna Murilo Mendes - Juiz de
Mário Rodrigues gerente, Rodrigo Martins analista de recursos humanos São Paulo.  13 Coleção João Sattamini, comodante Museu de Arte
4ª Bienal Foto: Arquivo Histórico Wanda Svevo / Fundação Bienal Fora, Museu Lasar Segall, Nazareth Pacheco, Nilva Manosso, Nova
e administrativo, Manoel Lindolfo C. Batista engenheiro consultor, Contemporânea de Niterói. Foto: Rômulo Fialdini / MAC-Niterói.  21
de São Paulo  5ª Bienal Foto: Folhapress  7ª Bienal Foto: Arquivo União da Arte (NUA) / Valentes de Davi, Núcleo Educativo Bolha de
Valdemiro Rodrigues da Silva coordenador de compras e almoxarifado, Foto: Arquivo Histórico Wanda Svevo / Fundação Bienal de São Paulo.
Histórico Wanda Svevo / Fundação Bienal de São Paulo  10ª bienal Sabão, Paulo Portella Filho, Paulo von Poser, Poiesis - Organização
Vinícius Robson da Silva Araújo comprador sênior, Albert Cabral
Foto: Folhapress  18ª Bienal Foto: Arquivo Histórico Wanda Quantos mundos existem no vermelho? / Quantos vermelhos Social de Cultura, Projeto Arrastão, Regina Teixeira de Barros, Rejane
dos Santos auxiliar de recursos humanos, Wagner Pereira de Andrade
Svevo / Fundação Bienal de São Paulo  19ª Bienal Foto: Arquivo existem no mundo?  2-3 Fotos: Sofia Colucci / Fundação Bienal de Coutinho, Renata Bittencourt, Renata Motta, Renivaldo Brito, Ricardo
zelador
Histórico Wanda Svevo / Fundação Bienal de São Paulo  21ª Bienal São Paulo.  4-5 Acervo Sesc de Arte Brasileira, São Paulo. Foto: Sofia Ohtake, Rodrigo de Faria e Silva, Roseli Ventrella, Salete dos Anjos,
Secretaria geral Foto: Sérgio Amaral / Agência Estado  25ª Bienal Foto: Juan Colucci / Fundação Bienal de São Paulo.  9 Coleção João Sattamini, Saleti de Abreu, Santoro, Sapienti Tecnologia Educacional, Secretaria
Maria Rita Marinho gerente, Angélica de Oliveira Divino auxiliar Guerra / Fundação Bienal de São Paulo  28ª Bienal Foto: Eduardo comodante Museu de Arte Contemporânea de Niterói / Foto: Rômulo de Cultura de Santos, Secretaria de Educação de Caieiras, Serviço
administrativa, Maria da Glória do E. S. de Araújo copeira, Josefa Anizelli / Folhapress  30ª Bienal Foto: Leo Eloy / Fundação Bienal de Fialdini / MAC-Niterói.  10 Acervo Banco Itaú. Foto: João L. Musa / Itaú Social da Indústria (SESI) São José dos Campos, Serviço Social da
Gomes auxiliar de copa São Paulo Cultural.  13 Foto: Eduardo Eckenfels / Arquivo Cildo Meireles. Indústria (SESI-SP), Serviço Social do Comércio (SESC) Belenzinho, Serviço
Cortesia do artista.  16-17 Coleção de Rose e Alfredo Setubal. Foto: Social do Comércio (SESC) Bertioga, Serviço Social do Comércio (SESC)
Tecnologia da informação Como a arte se apropria do mundo? / Como o mundo se
Galeria Nara Roesler. Araraquara , Serviço Social do Comércio (SESC) Bauru, Serviço Social
Leandro Takegami coordenador, Jefferson Pedro assistente apropria da arte?  2-3 Carlos Zilio (inferior-direita) Coleção do
do Comércio (SESC) Campinas, Serviço Social do Comércio (SESC)
artista. Foto: Pedro Oswaldo Cruz / Arquivo Carlos Zilio.  Carlos Zilio
Relações institucionais Agradecimentos São José do Rio Preto, Silvio Ariente, Sindicato dos Professores de
(superior-centro) Coleção Lili e João Avelar. Foto: Pedro Oswaldo
Flávia Abbud coordenadora, Mônica Shiroma de Carvalho analista São Paulo (SINPRO-SP), Solange Lemos, Suely Rolnik, Tadeu Chiarelli,
Cruz / Arquivo Carlos Zilio.  Marilá Dardot Coleção José Marton. Adriana Galindo, Agnaldo Farias, Alexandre Wollner, Alvaro Alves
União de Núcleos (UNAS), Associações dos Moradores de Heliópolis e
Foto: Ding Musa / Marilá Dardot.  Maria Leontina Coleção Museu Filho, Amelia Toledo, Ana Mae Barbosa, Anna Maria Maiolino,
Publicação Região, Universidade de Brasília (UNB), Universidade Cidade de São
de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAc-uSP), Andrea Tonacci, Andressa Gois e Silva, Angela Fontana, Ani Rocco,
Paulo (UNICID), Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) Guarulhos,
Concepção  Stela Barbieri, Paulo Venancio Filho doação MAM-SP. Foto: Sérgio Guerini / MAC-USP.  Paulo Bruscky Acervo Anny Lima, Aracy Amaral, Arlete Persoli, Arquivo Bienal, Arquivo
Valquíria Prates, Vera Barros, Vitor Lotufo, Walter Vicioni
Coordenação geral  Daniela Gutfreund Banco Itaú. Foto: Iara Venanzi / Itaú Cultural.  Rosângela Rennó Estadão, Banco de Dados da Folha de São Paulo, Berenice Arvani,
Coordenação editorial  Cristina Fino, Diana Dobránszky Acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo, aquisição por CAIS - Centro de Atividades Integradas de Santos, Carlos Barmak,
Pesquisa e redação de textos  Cibele Lucena, Fernanda Albuquerque, meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura / Ministério da Cultura. Carlos Brakte, Carlos Eduardo Povinha, Carlos Eduardo Uchôa,
Helenira Paulino, Matias Monteiro, Ricardo Miyada Patrocínio Credit Suisse por meio da Assossiação dos Amigos da Caru Duprat, Catavento Cultural, Cauê Alves, Celio Jorge Deffendi,
Gerenciamento de imagens  Pedro Ivo Trasferetti von Ah Pinacoteca do Estado, 2010. Foto: Ding Musa / Pinacoteca do Estado Chaké Ekizian, Chris Moraes, Christina Rizzi, Claudia Rosenberg
Fotografia  Sofia Colucci, Gregório Soares de São Paulo.  4-5 Foto: Rômulo Fialdini / Galeria Fortes Vilaça. Aratangy, Cláudio Barros, Cláudio Cretti, Cleide do Amaral Terzi,

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