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42º Encontro Anual da ANPOCS 2018

Grupo de trabalho 29 – Religião, política e direitos na contemporaneidade

AS ATUAÇÕES DAS IGREJAS CRISTÃS EM DUAS


CONSTITUINTES DEMOCRÁTICAS BRASILEIRAS

Guilherme Arduini1
Vinicius Wohnrath2

Resumo: Este trabalho se insere nos debates sobre a cultura constitucional brasileira e a participação
de diferentes grupos nas disputas para regulamentação jurídica do País. Nossa proposta é examinar a
incursão dos agentes religiosos nos debates que resultaram nas Constituições de 1934 e 1988, promul-
gadas em diferentes contextos e cenários. Tomando como fontes as atas das duas constituintes, publi-
cações institucionais e a cobertura da imprensa, nossa ênfase estará nas posições dos católicos e, mais
recentemente, dos evangélicos, nas discussões públicas sobre a organização da vida privada. Isto por-
que, tópicos como a educação dos filhos, o casamento e os direitos reprodutivos vêm se mostrando, em
diferentes épocas, como bandeiras estruturantes das igrejas cristãs capazes de participar das disputas
pelo Estado. Como resultado, podemos apontar o sucesso, repetido historicamente, que as igrejas cristãs
tiveram em ocupar postos-chave na cadeia de decisões sobre temas de seu interesse, assim como suas
formas de mobilização, com acordos costurados com os deputados constituintes, partidos ou bancadas.

Palavras-chave: Constituição de 1988; Estado laico; Constituição de 1934; Direitos Reprodutivos;


Igreja Católica.

Abstract: This paper is incorporated in the debates on Brazilian constitutional culture and the partici-
pation of diferente groups in the disputes over the legal framework of the country. Our proposal is to
examine the foray of religious agents in the debates that resulted in the Constitutions of 1934 and 1988,
enacted in different contexts and scenarios. Taking as sources the minutes of both constituent assem-
blies, institutional publications and press coverage, our emphasis will be in the political stance of Cath-
olics and, more recently, of evangelicals, in public discussions on the organization of private life. This
is because topics such as the education of children, marriage and reproductive rights have proven to
be, in different times, a banner to fight for to Christian churches able to participate in the disputes for
the State. As a result, we can point out the success, historically repeated, that Christian churches had
in occupying key-places in the chain of decisions on themes of their interest, as well as methods of
mobilization, with agreements knitted with main constituent parliamentarians, parties or informal po-
litical groups (bancada).

Keywords: Constitution of 1988; Secular State; Constitution of 1934; Reproductive rights; Catholic
Church.

1
Doutor em Sociologia pela USP, professor no IFSP. Lattes: <http://lattes.cnpq.br/4213387772904874>.
Contato: guilherme-arduini@gmail.com.
2
Pós-doutorando na FE-Unicamp, na linha Educação e Ciências Sociais, com bolsa Fapesp (2017/18251-0).
Lattes: <http://lattes.cnpq.br/1701305518221688>. Contato: vinicius.wohnrath@gmail.com.
As atuações das igrejas cristãs em duas Constituintes democráticas brasileiras 2

Introdução

Em momentos de grave crise política e social, como a que o Brasil vem atravessando desde
o segundo governo de Dilma Rousseff, aparece a urgência de uma constante revisitação e
exame das bases sobre as quais nossa República está sustentada. Averiguar como as cartas
magnas foram produzidas ao longo do século XX, sobretudo as promulgadas em contextos
democráticos, parece-nos uma contribuição importante, considerando que diferentes gru-
pos, em disputa ou aliançados, participaram de suas dinâmicas constituintes, oferecendo
os limites, condições e legitimidades necessários para a formatação jurídica e política do
Estado Nacional. Muitos desses equilíbrios vêm se mostrando frágeis em nossa história
republicana e democrática.

Neste paper, propomos averiguar, comparativamente, a produção de duas cartas


em constituintes democráticas, com foco nos agentes que disputaram temas caros ao Es-
tado, às igrejas e à organização da vida privada, como a educação dos filhos, o casamento
e os direitos reprodutivos. Na esteira de estudos que vimos desenvolvendo individualmente
e coletivamente, sobretudo no Projeto Temático Fapesp Congregações Católicas, Educa-
ção e Estado Nacional no Brasil3, nosso interesse principal recai sobre grupos, militantes
e experts ligados – ou em disputa, no campo religioso – à Igreja Católica4, cuja tradição
no trato com os poderes públicos data da própria conformação de nosso Estado.

Se, num passado mais distante, o catolicismo era tomado como sendo religião ofi-
cial do Estado, submetendo-se através do regime do padroado e do beneplácito ao controle
imperial sobre as nomeações episcopais em troca do financiamento para suas empresas,
durante a República a Igreja Católica teve de refazer seus vínculos com os ocupantes da
burocracia estatal, começando pelo nível estadual (MICELI, 2009), relativamente fortale-
cido em sua autonomia orçamentária pelo pacto federativo celebrado na Constituição de
1891, a primeira no período republicano. O sucesso dessa iniciativa se deve à atuação con-
junta dos poderes temporal e religioso no tocante à educação das elites (em seminários ou

3
O referido projeto temático, recentemente concluído, teve lugar na Faculdade de Educação da Unicamp,
sob coordenação de Agueda Bittencourt. Contou com pesquisadores de diferentes regiões do Brasil e do
estrangeiro. Processo Fapesp 2011/51829-0. Ver: <http://www.bv.fapesp.br/pt/auxilios/46833/congrega-
coes-catolicas-educacao-e-estado-nacional-no-brasil-1840-1950/>. Acesso em 9 jul. 2018.
4
Leia-se: Igreja Católica Apostólica Romana.
As atuações das igrejas cristãs em duas Constituintes democráticas brasileiras 3

colégios renomados, mormente administrados por congregações com experiência pre-


gressa no trabalho escolar), das classes populares (em liceus de ofícios ou, nos casos mais
graves, em orfanatos), ambos financiados com verba pública. O embaralhamento entre o
público e o religioso se reproduzia nas famílias que estavam no controle das oligarquias
estaduais, das quais saíam tanto os líderes políticos como os religiosos. Para além dos laços
familiares, as afinidades eletivas na produção de narrativas políticas que legitimassem a
cultura política hegemônica na Primeira República ajudam a explicar esse mútuo apoio.

Neste aspecto, a Revolução de 1930 impôs uma reconfiguração dos termos da ali-
ança entre o Estado Nacional e a Igreja Católica, da qual resultou a inclusão desta institui-
ção religiosa no Estado de Compromisso (FAUSTO, 1997) comandado por Getúlio Var-
gas. A aproximação entre a Igreja, representada pelo único Cardeal brasileiro, Dom Sebas-
tião Leme (arcebispo do Rio de Janeiro), e o novo arreglo de frações da elite que ocupou
o Executivo federal se iniciou por uma série de gestos simbólicos, tais como a construção
do Cristo Redentor e a consagração do país à Nossa Senhora Aparecida, cujo dia torna-se
um feriado nacional.

Não obstante a importância de tais ações, a intensificação da referida aliança ocor-


reu no momento em que a Constituição de 1934, em seu artigo 17, inciso III, previu o
financiamento das empresas sociais católicas: “Art 17 – É vedado à União, aos Estados, ao
Distrito Federal e aos Municípios: [...] III – ter relação de aliança ou dependência com
qualquer culto, ou igreja sem prejuízo da colaboração recíproca em prol do interesse cole-
tivo” (BRASIL, 1934). A interpretação conferida a esse trecho por Alceu Amoroso Lima,
logo após a promulgação da Lei Magna, demonstra a satisfação com a qual celebra a pos-
sibilidade da união como um princípio legitimamente requisitado pela Igreja:

O que desejamos, e obtivemos, era a definição de um princípio: o de colabora-


ção entre o Estado e a Igreja. (...) Não era um privilégio, que solicitávamos; sim,
um princípio e a expressão jurídica de um fato social brasileiro. E foi o que a
Assembleia votou por enorme maioria (AMOROSO LIMA, 1934, p. 335).

Dentre as diversas possibilidades de apoio mútuo entre Igreja e Estado, algumas


ganharam força com a implementação do Estado Novo a partir de 1937: a Confederação
Nacional dos Operários Católicos, escamoteada em favor dos sindicatos oficiais ligados ao
Ministério, retorna ao universo das instituições financiadas por ele como uma organização
As atuações das igrejas cristãs em duas Constituintes democráticas brasileiras 4

paraestatal, cuja missão consistiria em oferecer opções de lazer, saúde e formação profis-
sionalizante para os operários e suas famílias. Há, portanto, um traço de continuidade entre
tais círculos operários e o “sistema S”, criado em meados da década de 1940. Outra insti-
tuição que atua na interface entre os interesses da Igreja Católica e do regime varguista, no
processo de socialização da juventude universitária e secundarista, foi a Ação Católica.
Trata-se de uma mobilização da juventude que não se traduz por um projeto político-parti-
dário a favor ou contra Vargas; as vias de transformação social escolhidas – o exemplo
individual, a interiorização de uma conduta moral tida como exemplar – pressupõem o
esvaziamento da política que favorece a manutenção de Vargas no poder e a ausência de
discussão sobre as liberdades individuais.
De 1946 até 1964, o Estado brasileiro e a Igreja no Brasil se consolidam por vias
diversas, mas interligadas. No primeiro caso, há uma rotina de eleições e pressões por
demandas sociais, ao mesmo tempo em que o populismo desemboca em personalizações
da política; na Igreja, sua estrutura interna ganha de fato contornos nacionais com a criação
da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil, que se por um lado representa uma ins-
tância de possível controle sobre os bispos locais por outro significa um relativo fortaleci-
mento do episcopado nacional frente às ordenações da Santa Sé. Nos planos dos direitos
sociais, há experiências conjuntas na defesa do nacional-desenvolvimentismo, com a
crença de que o empresariado nacional possa construir uma modernização do país que
assegure certos direitos básicos como a moradia (parceria entre Lebret e FIESP), assim
como o emprego, saúde, alimentação (Helder Câmara e Sudene) (BOSI, 2012).
No plano das liberdades civis, os assuntos familiares não são pautados e a Igreja
não enfrenta grandes entraves para manter as leis sobre família, educação e direitos repro-
dutivos da maneira como lhe interessa. Há de se destacar, no início do período “democrá-
tico”, a defesa empenhada de intelectuais católicos pelo direito de existência na legalidade
do Partido Comunista (Hamilton Nogueira nas tribunas do Senado, Amoroso Lima nas
tribunas da imprensa). Há razões ligadas ao perfil intelectual desses nomes que ajudam a
compreender suas escolhas: sintonizados ao pensamento social da democracia cristã euro-
peia, tais autores interpretam a experiência daqueles países na parceria entre católicos e
comunistas na resistência ao nazifascismo como a possibilidade e a necessidade de uma
solidariedade entre estes grupos políticos; contribui para isso o fato de que o padrão moral
de ambos os grupos é bastante próximo (ambos atuariam em favor do modelo tradicional
de família contra propostas mais liberais em costume, por exemplo).
As atuações das igrejas cristãs em duas Constituintes democráticas brasileiras 5

O golpe de 1964 representa uma ruptura na Igreja: pois há uma minoria de estu-
dantes e religiosos que passariam à luta armada, enquanto um grupo majoritário que em-
barca na narrativa sobre a “necessidade” do golpe para impedir a tomada do país pelo
comunismo. A narrativa persiste mesmo após 1968, mas com certas fraturas: D. Pedro
Casáldaliga, em primeiro lugar, D. Paulo Evaristo Arns, depois, puxam a fila de uma série
de prelados que denunciam a tortuna. Na abertura, a hierarquia eclesial é majoritariamente
identificada com o lado que luta por direitos, alguns dos quais incidem diretamente sobre
as mulheres (Irma Passoni e o movimento pelas creches, por exemplo).
Atualmente, a Igreja Católica possui um status privilegiado. Trata-se da única de-
nominação religiosa a possuir um estatuto jurídico próprio, firmado recentemente entre o
Poder Executivo e a Santa Sé, conferindo prerrogativas à instituição religiosa e às suas
atividades (religiosas, sociais, filantrópicas, educacionais, etc.), além de promover o seu
reconhecimento como um Estado independente (BITTENCOURT; WOHNRATH, 2013).

*
* *

Para melhor delimitação de nosso objeto, propomos, inicialmente, uma breve observação
metodológica. Nosso primeiro passo é estipular o que estamos entendendo como sendo
essa norma que rege o Estado e que é alvo de disputas para sua produção, incluindo, no
Brasil, setores da Igreja Católica. Afinal, “em todos os lugares e a todas horas, à tarde, pela
manhã e à noite, estamos ouvindo falar da Constituição e de seus problemas constitucio-
nais. Na imprensa, nos clubes, nos cafés e nos restaurantes, é este o assunto obrigatório de
todas as conversas...” (LASSALLE, 1933, p. 4)5.

Lassalle oferta uma interpretação sociológica, aqui tomada como referência. Ques-
tiona o que é uma Constituição e, sobretudo, qual é o sentido de uma Constituição – essa
lei que é mais que uma “simples lei”. Representa “a lei fundamental de uma nação”, que
submete todo o ordenamento jurídico dela decorrente6. O autor aponta alguns caminhos,

5
A obra de Ferdinand Lassalle, tomada como clássico nos estudos sobre Direito Constitucional, pode ser
encontrada em domínio público, inclusive disponibilizada na página do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Endereço: <http://www.cnj.jus.br/eadcnj/mod/resource/view.php?id=47731>. Acesso em 11 jul. 2018.
6
“Atuando como padrão jurídico fundamental, que se impõe ao Estado, aos governantes e aos governados,
as normas constitucionais condicionam todo o sistema jurídico, daí resultando a exigência absoluta de que
lhes sejam conformes todos os atos que pretendam produzir efeitos jurídicos dentro do sistema” (DALLARI,
2000, p. 197-205).
As atuações das igrejas cristãs em duas Constituintes democráticas brasileiras 6

iniciando por duas interpretações dignas de jurisconsultos: “‘Constituição é um pacto ju-


ramentado entre o rei e o povo, estabelecendo os princípios alicerçais da legislação e do
governo dentro de um país’. Ou generalizando, pois existe também a Constituição nos
países de governo republicano: ‘A Constituição é a lei fundamental proclamada pelo país,
na qual baseia-se a organização do Direito público dessa nação’” (LASSALLE, 1933).

Ainda que essas respostas jurídicas sejam válidas como explicações, Lassalle en-
tende que elas estão distantes da essência da pergunta que propõe responder. Isso porque,
considera que “o conceito de Constituição é a fonte primitiva da qual nascem a arte e a
sabedoria constitucionais”. E mais: a própria produção constitucional está diretamente as-
sociada às forças que se conflitam no interior de uma sociedade: “a soma dos fatores reais
do poder que regem um país” constituem, “em essência, a Constituição desse país”. A
condição de existência de uma Constituição está relacionada diretamente com esses pode-
res, que nem sempre apontam na mesma direção e com o mesmo interesse. Em suma, para
o autor, “a verdadeira Constituição de um país somente tem por base os fatores reais e
efetivos do poder que naquele país regem, e as constituições escritas não têm valor nem
são duráveis a não ser que exprimam fielmente os fatores do poder que imperam na reali-
dade social” (LASSALLE, 1933).

Importante salientar que essa posição de Lassalle não é a única possível, nem unâ-
nime. Outras interpretações sobre os sentidos da Constituição também se destacam, como
as teorias de Hesse (2009) e Kelsen (1987)7. Neste instante, não nos importa explorar o

7
O constitucionalista português Jorge Miranda faz um balanço dos principais autores preocupados com as
teorias da Constituição. Contrapõe os argumentos de Lassalle (para quem “há necessidade de distinguir entre
constituições reais e constituições escritas. A verdadeira Constituição de um país reside sempre e unicamente
nos fatores reais e efetivos de poder que dominem nessa sociedade; a Constituição escrita, quando não cor-
responda a tais fatores, está condenada a ser por eles afastada; e, nessas condições, ou é reformada para ser
posta em sintonia com os fatores materiais do poder da sociedade organizada ou esta, com o seu poder inor-
gânico, levanta-se para demonstrar que é mais forte, deslocando os pilares em que repousa a Constituição.
Os problemas constitucionais não são primariamente problemas de direito, mas de poder”), Kelsen (“que
configura o Direito como ordem normativa, cuja unidade tem de assentar numa norma fundamental – pois o
fundamento de validade de uma norma apenas pode ser a validade de outra norma, de uma norma superior.
Há uma estrutura hierárquica de diferentes graus do processo de criação do Direito, que desemboca numa
norma fundamental. Tal norma superior é a Constituição, mas esta tem de ser entendida em dois sentidos,
em sentido jurídico-positivo e em sentido lógico-jurídico”), Hesse (que considera “a Constituição como or-
dem jurídica fundamental e aberta da comunidade. A sua função consiste em prosseguir a unidade do Estado
e da ordem jurídica; a sua qualidade em constituir, estabilizar, racionalizar e limitar o poder e, assim, em
assegurar a liberdade individual”), Hauriou, Schmitt, Heller, Smend, Mortati, Burdeau e Modugno
(MIRANDA, 2003, p. 340-351).
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rico – e, sem dúvidas, importante, sobretudo na área dos estudos constitucionais e de con-
formação do Estado – debate sobre a efetividade de uma Constituição em si. Nosso inte-
resse reside em acentuar o caráter de disputas políticas que está abrigado no interior de
uma produção constitucional. A perspectiva teórica centrada nos debates propostos por
Lassalle é particularmente útil quando observamos, desde uma perspectiva empírica, os
desequilíbrios e relações de poder que levaram à elaboração das constituições brasileiras
no século passado. Aquelas produzidas em contextos democráticos, como as que tomamos
para exame neste paper, são importantes para entendermos como nosso Estado foi sendo
moldado em diferentes momentos, com limitação de poderes, inscrição de direitos e su-
bordinação à lei.

Isso porque Estado democrático e constitucionalismo são duas perspectivas quase


indissociáveis na contemporaneidade. Em gênese, o próprio “Estado constitucional, no
sentido de Estado enquadrado num sistema normativo fundamental, é uma criação mo-
derna que surgiu paralelamente ao Estado democrático e, em parte, sob influência dos mes-
mos princípios” (DALLARI, 2000, p. 197). Devemos considerar, para tanto, que o tipo de
Constituição pelo qual estamos interessados demanda maneiras de produção específicas,
além de apresentar características próprias.

Estamos examinando constituições que, embora produzidas em momentos históri-


cos e políticos distintos (condições das décadas de 1930 e de 1980, em contextos demo-
cráticos diversos), descendem da tradição jurídica romano-germânica e apresentam certas
características semelhantes: [i] foram promulgadas, e não outorgadas; [ii] são escritas e
formais, e não orais; [iii] são analíticas, e não sintéticas; [iv] são dogmáticas; e, sobretudo,
[v] são dirigentes, numa classificação usual das constituições (cf. CANOTILHO, 2003;
MIRANDA, 2003).

Tomamos em conta que as constituições não têm as mesmas características e con-


dições de produção – advertência imprescindível para análise comparada entre cartas mag-
nas. Ademais, as duas constituições aqui examinadas estão condicionadas a relações de
força próprias, portanto imbricadas com os grupos políticos em disputa pelo controle do
Estado, em determinado momento histórico. Tanto é que, no século passado, no Brasil,
foram produzidas cinco constituições, cada uma tendo a possibilidade de trazer em seu
bojo conceitos de Estado e de direção da sociedade. Cada qual à sua maneira, refundaram
o Estado, na "medida que estabeleceram os pressupostos de criação, vigência e execução
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das normas do resto do ordenamento jurídico, determinando amplamente o seu conteúdo,


convertendo-se em elemento de unidade do ordenamento jurídico" e político (MIRANDA,
2003, passim).

Em comum, as Cartas de 1934 e de 1988 resultaram de processos constituintes ori-


ginários. Esse fato reafirma que “da própria noção de Constituição, resultante da conjuga-
ção dos sentidos material e formal, resulta que o titular do poder constituinte é sempre o
povo” (DALLARI, 2000, p. 197-205). A formação da Constituição, sob essa concepção,
resulta processos constituintes complementares: material e formal. “São duas faces da
mesma realidade (...). O primeiro em que o poder constituinte é só material, o segundo em
que é, simultaneamente, material e formal” (MIRANDA, 2003, p. 357).

O poder constituinte material precede o formal. Precede-o logicamente, porque


a ideia de Direito precede a regra de Direito, o valor comanda a norma, a opção
política fundamental a forma que elege para agir sobre os fatos, a legitimidade
a legalidade. E precede-o historicamente, porque (sem considerar, mesmo, a
Constituição institucional de antes do constitucionalismo), há sempre dois tem-
pos no processo constituinte, o do triunfo de certa ideia de Direito ou do nasci-
mento de certo regime e o da formalização dessa ideia ou desse regime; e o que
se diz da construção de um regime político, vale também para a transformação
de um Estado (MIRANDA, 2003, p. 355-377).

Nesse sentido, conforme Jorge Miranda, o poder constituinte originário “equivale


à capacidade de escolher entre um ou outro rumo. E nele consiste o conteúdo essencial da
soberania (na ordem interna)”. As constituições aqui tomadas para exame se situam, em
diferentes medidas, justamente nesse momento de “corte ou contraposição frente à situação
ou ao regime então vigente, seja por revolução ou outro meio” em que uma ideia de Direito
é convertida na produção do Direito em si e, mais que isso, conformando o próprio modelo
de Estado (MIRANDA, 2003, p. 358-360). Por outro lado, essa identificação entre sistema
jurídico, Direito, exercício do poder e vontade geral, manifestado em assembleias consti-
tuintes, é uma construção histórica e política; portanto, passível de ser identificada, deba-
tida e questionada – o que escapa ao nosso objetivo nesse trabalho8.

*
* *

8
Para um debate apurado, ver Do processo legislativo (FERREIRA FILHO, 2001).
As atuações das igrejas cristãs em duas Constituintes democráticas brasileiras 9

Considerando que nossa proposta de trabalho é realizar uma abordagem comparativa entre
duas constituições brasileiras promulgadas em experiências democráticas, elegemos para
exame a Constituição de 1934 e a Constituição de 1988. Isto porque, pesquisas anteriores
vêm mostrando que, em diferentes medidas e posições, agentes ligados às atuações das
igrejas cristãs participaram de seus processos de produção, seja nos anos 1930 (ARDUINI,
2015) ou na década de 1980 (FRESTON, 1993; MARIANO, 2017; WOHNRATH, 2017a).
Portanto, o trabalho deverá fornecer elementos para uma melhor interpretação das disputas
ocorridas no espaço das experiências constitucionais brasileiras e, com isso, dos próprios
rumos do nosso Estado republicano. Também permitirá, ao iluminar dois momentos para-
digmáticos da história política recente, realizar outros estudos – colocando em perspectiva
a produção legislativa, a organização da sociedade e a participação de militantes religiosos.

A comparação entre processos constituintes de períodos tão afastados impõe algu-


mas questões metodológicas a ser definidas previamente, tais como as singularidades de
cada período histórico. Ao longo do texto, ficará evidente que mesmo quando se discutem
os mesmos temas nas décadas de 1930 e 1980, o significado que eles assumem tem o sen-
tido possível para aquela quadra histórica. Exemplo disso são as discussões sobre os direi-
tos reprodutivos: na década de 1930, a questão do aborto sequer aparece no horizonte in-
telectual do período, enquanto a obrigatoriedade de conceder os mesmos direitos legais
aos filhos juridicamente legítimos e aos naturais parecia ser a maior ameaça à família. Na
década de 1980, por sua vez, essa última questão era um ponto pacífico e a possibilidade
de uma mulher decidir sobre a continuidade de sua gestação, uma temática que merecia
longo e controverso debate. Outro aspecto completamente distinto entre uma e outra época
é a configuração política do país: nos anos 1930, os partidos se organizavam basicamente
em nível estadual, o que excluía a possibilidade de uma articulação das agremiações polí-
ticas em torno das grandes questões nacionais, programáticas.

No momento da última reabertura democrática, e dado a imposição de lidar com o


legado de duas décadas de regime autoritário, seria difícil um partido não se afirmar a partir
de um projeto nacional. Afirmar isso não significa dizer que os partidos fossem coerentes
com os projetos enunciados por eles próprios na década de 1980, tendo em vista que os
acordos políticos casuísticos tomavam a dianteira. Tampouco que grandes questões ma-
croeconômicas, culturais e políticas não tivessem de ser enfrentadas na década de 1930. O
cerne da questão está no fato de que a vida partidária dos anos 1980 se organizava sob uma
As atuações das igrejas cristãs em duas Constituintes democráticas brasileiras 10

lógica completamente distinta da dos anos 1930, nas quais as questões regionais e prag-
máticas emergiam mediadas por vínculos estabelecidos nacionalmente, por ora em torno
da discussão sobre princípios básicos, como uma ampliação da lista de direitos sociais a
serem assegurados na Constituição. Uma terceira diferença reside na participação dos
evangélicos, que na década de 1930 reduz-se a apenas dois parlamentares sem grande ex-
pressividade, mas que em 1988 desempenham um papel relevante em determinadas sub-
comissões, como na da família e do menor.

Ainda assim, é possível ver traços de continuidade: em ambas as constituições, o


interesse principal das igrejas cristãs com poder para atuar politicamente nas assembleias
nacionais estava em participar dos debates que resultaram na organização constitucional
sobre: [i] família, [ii] casamento, [iii] educação da prole e [iv] direitos reprodutivos. Nesses
dois momentos, dentre outros, as igrejas cristãs – com destaque para a atuação da Igreja
Católica, seja por meio da Liga Eleitoral Católica (LEC, anos 1930) ou da agenda da Con-
ferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB, pós-1952) – estão diretamente interessadas
pela produção normativa sobre a organização jurídica da família (casamento, divórcio...),
a reprodução sexual (métodos contraceptivos, aborto...) e a educação das crianças. Nesse
cenário, os católicos produzem discursos próprios e, em maior ou menor medida, têm en-
tradas nos poderes do Estado. Participam, na qualidade de experts ou representados por
parlamentares que comungam de sua doutrina religiosa, dos debates públicos e das dispu-
tas políticas, inclusive dentro do Congresso Nacional e das assembleias constituintes.

Para melhor explorarmos o material empírico acumulado, organizamos este paper


em dois tópicos. No primeiro, nosso foco estará sobre os processos que levaram à promul-
gação da Carta de 1934, na qual os católicos obtiveram vitórias no tocante à organização
sindical e aos temas mencionados acima. No segundo tópico, propomos uma interpretação
das igrejas cristãs no processo Assembleia Nacional Constituinte de 1987-1988 (ANC
1987-1988). Partindo do protagonismo de religiosos e setores da CNBB na luta pela rede-
mocratização do País, detalhamos os resultados de uma pesquisa anterior que examinou a
Subcomissão da Família, do Menor e do Idoso. Destacamos as composições na Assembleia
Nacional, que reuniram sob a mesma bandeira da moralidade cristã setores evangélicos
tradicionalistas e religiosos católicos com larga história de militância em defesa dos mo-
vimentos sociais, seus discursos e disputas (WOHNRATH, 2017a).
As atuações das igrejas cristãs em duas Constituintes democráticas brasileiras 11

Em um terceiro item, estabelecemos os elementos comuns e os distanciamentos nas


estratégias católicas durante os dois períodos examinados. Ao que parece, a defesa da fa-
mília nuclear, do casamento juridicamente formal e das crianças, além do combate à lega-
lização jurídica do aborto, vem se mantendo uma constante na prática política da Igreja
Católica, e das outras igrejas cristãs que a seguem de perto, quando no Congresso Nacio-
nal. Nas considerações finais, arriscam-se algumas linhas interpretativas a se projetarem
após a década de 1980, algumas das quais atingem o presente.

Observamos uma maior pluralidade de vozes na última Assembleia Constituinte,


ainda que as grandes decisões estivessem bastante concentradas na cúpula da CNBB. Con-
trariando as análises iniciais sobre a ANC, políticos comprometidos com outras denomi-
nações religiosas cristãs encamparam as bandeiras majoritariamente veiculadas pelos reli-
giosos e experts católicos que discursaram em Brasília. A experiência da Igreja no trato
com o Estado ficou evidente, garantindo sucessos em suas tentativas. Já nos anos 1930, a
hierarquia da Igreja agiu principalmente por meio da Liga Eleitoral Católica (doravante,
chamada apenas de LEC), mobilizando fortemente as bases da instituição e impondo forte
adesão aos candidatos aos cargos eletivos. A estratégia de funcionamento da LEC se pau-
tou pela formação de um grupo suprapartidário, unificado em torno de uma plataforma de
reivindicações, algumas das quais tratava diretamente de temas que reaparecem na consti-
tuinte: a invocação do nome de Deus no preâmbulo da Constituição, a definição da família
tradicional (monogâmica, estável por toda a vida, registrada em cerimônia religiosa) como
a única que poderia receber legitimamente toda a proteção jurídica do Estado. Desse modo,
o salário, os benefícios sociais – e para alguns pensadores, até o voto – seriam organizados
a partir do pertencimento a uma família e de sua posição no interior desse microgrupo.

A maioria esmagadora dos eleitos para a Constituinte havia pessoalmente assinado


o compromisso de defender a plataforma da LEC; em alguns casos, embora o parlamentar
não tivesse formalmente se comprometido com o tema, seu partido o fez. Portanto, surgem
limites e contradições na vitória: embora a LEC desfrutasse da hegemonia dentro da opi-
nião pública, percebe-se uma preocupação com a ausência de garantias que os compromis-
sos seriam cumpridos uma vez que os parlamentares se reunissem. Os próprios católicos
admitem certa preocupação com o grau de confiabilidade da empreitada que levavam a
cabo, em textos, perguntam-se o que aconteceria se os que tivessem se comprometido pes-
As atuações das igrejas cristãs em duas Constituintes democráticas brasileiras 12

soalmente com a defesa da plataforma alegassem que mudaram de opinião. Os que só con-
tavam com a aprovação do partido estavam em uma situação mais frágil ainda. Além disso,
em dois estados (São Paulo e Ceará) a Liga se tornou um partido político específico, con-
trariando as recomendações expressas da direção nacional.

1 Grupos religiosos, condições e disputas pela Constituição de 1934

Apesar desse cenário inicialmente confuso, a Constituinte de 1934 se desenvolveu de ma-


neira bastante satisfatória para os interesses do grupo da Liga Eleitoral Católica. Nas emen-
tas ao projeto inicial da Constituição, registram-se casos como a validade civil para o ca-
samento religioso, sob a justificativa de que o povo brasileiro respeita mais a religião do
que as próprias leis estatais, ou de que essas não podem continuar a contrariar o interesse
geral do povo, definido como essencialmente afeito a uma religião (BRASIL, 1935a).

Além de ser apresentada isoladamente por alguns deputados, uma dessas ementas,
que pede a volta da validade civil para o casamento religioso, é assinada por dezessete
parlamentares de uma única vez. Ainda sobre o casamento, Guaracy Silveira já desponta
como um dos poucos adversários dos católicos, ao propor uma ementa (a de número 207)
em favor da retirada da indissolubilidade do casamento do texto constitucional. Mas, sua
argumentação em favor dessa ideia evoca a Bíblia, em passagem na qual Jesus teria afir-
mado ser lícito às mulheres abandonadas pelo marido exigirem sua separação (Livro de
Mateus, capítulo 19, versículo 9). Oriundo dos meios protestantes e com passagem pelos
partidos trabalhistas, Silveira expõe uma trajetória que tenta desmontar o argumento cen-
tral dos defensores dos interesses católicos a partir da associação entre defesa da religião
e defesa do Estado brasileiro, tal como exposto abaixo.

No que tange ao ensino religioso, a principal emenda em favor de sua inclusão


contém texto explicitamente copiado do programa da Liga Eleitoral Católica e recebido
como a Emenda n. 1089, assinada por nada menos do que 64 deputados9 e justificada como
o instrumento de salvação do Estado:

9
“Fernando Magalhães – Arruda Camara – Abelardo Marinho – Arnaldo Bastos – Mario Domingues – Souto
Filho – Augusto Cavalcanti – José de Sá – Luiz Cedro – Mario de A. Ramos – Barreto Campello – Arruda
Falcão – Humberto Moura – João Alberto Lins de Barros – Lacerda Pinto – J. Ferreira de Souza – Teixeira
Leite – Cunha Vasconcellos – Lemgruber Filho – Oliveira Castro – Walter James Gosling – Agamenon
As atuações das igrejas cristãs em duas Constituintes democráticas brasileiras 13

Na Escola entrava a criança a respirar um ambiente espiritual diverso do que


respirava em casa. Criava-se, como até hoje ainda se cria, no espírito infantil,
uma luta, a princípio subconsciente, e a seguir cada vez mais patente, entre o
espírito agnóstico da escola e o espírito religioso da família. (...) O ensino moral
e religioso é o complemento absolutamente necessário para dar um sentido geral
a todo o esforço educativo. Vedando-o nas escolas públicas brasileiras, por imi-
tação serôdia do que, em hora de sectarismo político extremado, se fizera na
França, tirou-lhe a lei brasileira a própria chave final da sua eficácia, fulmi-
nando-o nas insubstituíveis fontes de sua vitalidade (BRASIL, 1935a).

As fontes de vitalidade mencionadas pelo trecho se referem à ideia de que a existência do


Estado Nacional brasileiro tem como sua fiadora as instituições que teriam criado o país e,
entre elas, a principal seria a Igreja Católica, trazida pelos colonizadores portugueses com
as primeiras naus. Em uma provável referência indireta aos grupos anarquistas, anarcos-
sindicalistas e comunistas, os constituintes associam a crítica à religião católica com a
quebra da ordem política e social por eles desejada para o país. Ainda segundo esses agen-
tes, essa ordem só voltaria a se reestabelecer quando o pressuposto básico de um Estado
liberal, que se concebe como o governante de indivíduos, fosse substituído por uma con-
cepção corporativista do Estado como interlocutor de grupos associados conforme os in-
teresses que lhe definem – a família no âmbito político, a escola no âmbito cultural e o
sindicato no âmbito econômico. O Estado é definido como uma “Sociedade de sociedades”
(BRASIL, 1935a).

Logo nos primeiros meses de sessões sobre o tema da família e da educação, as


motivações que levam ao apoio ou ao ataque das propostas da LEC reaparecem. Em sessão
de 23 de dezembro de 1933, o deputado Costa Fernandes profere discurso em que cita um
pensador católico, Alceu Amoroso Lima, em trecho no qual a laicização do Estado é no-
vamente vista como uma etapa inicial do processo que passa pela perseguição religiosa e
atinge seu objetivo ao dissolver a Nação e o Estado. Em aparte a esse discurso, o deputado
Lino Machado tece também elogios a Mussolini. Em sessões seguintes, Plínio Tourinho e
Tomaz Lobo apresentam justificativas ainda calcadas em uma visão liberal da separação

Magalhães – Plinio Corrêa de Oliveira – Costa Fernandes – Arruda Falcão – Leandro Pinheiro – Godofredo
Vianna – Magalhães de Almeida – Augusto Leite – Rodrigues Moreira – Adroaldo Mesquita da Costa –
Moura Carvalho – Irineu Joffily – Herectiano Zenaide – Leonel Bezerra – Pires Gayoso – Waldemar Falcão
– Jeová Motta – Leão Sampaio – Xavier de Oliveira – Luiz Sucupira – Figueiredo Rodrigues – Fernandes
Tavora – Pontes Vieira – José de Borba – João Pandiá Calógeras – Bueno Brandão Filho – Augusto de Lima
– Bias Fortes – Polycarpo Viotti – Furtado de Menezes – Waldomiro Magalhães – Negrão de Lima – Raul
Sá – Mello Franco – José Alkmim – P. Matta Machado – Martins Soares – Vieira Marques – Levindo Coelho
– Lycurgo Leite – Celso Machado – João Penido – Alberto Diniz.” (BRASIL, 1935a)
As atuações das igrejas cristãs em duas Constituintes democráticas brasileiras 14

entre Igreja e Estado para se declararem contrários a diversas das reivindicações da Liga
Eleitoral Católica (BRASIL, 1935c, b). Apesar das manifestações em contrário, a validade
civil do casamento religioso permanece no texto da lei.

No quesito educação, o embate entre os favoráveis e os contrários à LEC reaparece,


com novos personagens, como Zoroastro Gouveia, deputado pelo PSB-SP e que de forma
isolada10, toma para si a defesa da separação entre Igreja e Estado. Em longo discurso
proferido no dia 11 de abril de 1934, Gouveia tece um quadro sombrio para o estágio de
momento dos trabalhos legislativos e deixa claro qual é seu entendimento sobre a organi-
zação escolar:

A democracia brasileira, ao contrário, está em vésperas de rojar-se aos pés... das


Ligas eleitorais católicas! E essa imoralidade republicana consumar-se-á em
nome, entre outros pretextos, da moral – que, segundo a filosofia dos sacristãos,
depende indissoluvelmente da religião! Contudo, é a moral, no sentido social
com que ora a estudam os educadores e filósofos, que impõe às democracias a
dissociação entre ela e o dogma, nas escolas. A quem compete a direção e a
organização da escola? (...) Se a escola deve reunir num intento comum todos
os homens, se o seu fim é aproximar e não dividir, natural é que a sociedade, e
precipuamente a sua organização política, isto é, o Estado, assuma a respeito da
escola as funções de direção e de vigilância, e procure que ela cumpra realmente
a sua missão nacional e social (BRASIL, 1936).

Nos discursos seguintes, poucos parlamentares se dão ao trabalho de responder a


Gouveia. A favor de suas ideias, apenas Plínio Tourinho e Osorio Borga. Do outro lado,
Lêoncio Galrão, que além de deputado constituinte pela Bahia era também sacerdote, li-
mita-se a criticar a veemência de Gouveia, a lembrar as Encíclicas Sociais (Rerum No-
varum e Quadragesimo Anno) como prova da preocupação da Igreja com a sorte dos ope-
rários e a dizer que o ensino religioso seria uma realidade já presente em diversos estados
do País, como Rio Grande do Sul, Sergipe e Bahia (BRASIL, 1936). Outros parlamentares,
como Adroaldo Costa, Clemente Medrado e Plínio Correia de Oliveira, apenas discursam
em favor do atendimento na integralidade das reivindicações da LEC. Os momentos de
votação parecem indicar que estes últimos escreviam em nome de uma maioria silenciosa,

10
Gouveia iniciou sua trajetória política no Partido Democrático de São Paulo, criado pelos opositores ao
tradicional Partido Republicano Paulista. Recebeu apoio do Partido Comunista Brasileiro durante suas cam-
panhas e, em meio ao turbilhão da política paulista nos anos 1930, apoiou a Revolução de 1930 e a Consti-
tucionalista de 1932, serviu de base política para o mandato do interventor estadual Valdomiro Lima (1933-
1934), mas afastou-se interventores seguintes; sua base social era o operariado, mas ele não mostrou solida-
riedade com as lideranças sindicais presas durante o Governo Provisório. (ISRAEL BELOCH; ALZIRA
ALVES DE ABREU, 1984)
As atuações das igrejas cristãs em duas Constituintes democráticas brasileiras 15

como se pode depreender do texto final da Constituição de 1934, cujo preâmbulo invoca
para si a proteção de Deus e cujos capítulos sobre a família e a cultura consagram: a indis-
solubilidade do casamento (art. 144), os efeitos civis do casamento religioso (art. 146), a
possibilidade de oferta do ensino religioso “de frequência facultativa e ministrado de
acordo com os princípios da confissão religiosa do aluno manifestada pelos pais ou res-
ponsáveis e constituirá matéria dos horários nas escolas públicas primárias, secundárias,
profissionais e normais” (art. 153) (BRASIL, 1934).

2 Grupos religiosos, condições e disputas pela Constituição de 198811

Já dentro do cenário político, jurídico e social dos anos 1980, a Assembleia Nacional Cons-
tituinte 1987-88 (ANC 1987-88) foi um momento paradigmático para a Nova República
brasileira. Depois de duas décadas de civil-militar, o País estava recuperando suas bases
democráticas e estabelecendo as margens da legislação que nortearia o novo contexto po-
lítico e na buscaria por mudanças sociais. Para isso, também era preciso desarticular os
quadros jurídicos elaborados durante o período autoritário, considerando que os gabinetes
militares produziram a Constituição até então vigente, a de 1967, além de grande volume
de atos institucionais e decretos-leis de alto impacto na vida nacional, como a Lei de Im-
prensa e a Lei de Segurança Nacional (KINZO, 1999, p. 104).

A produção constitucional, portanto, estava diretamente relacionada com os pro-


cessos de reabertura democrática e de desmonte dos quadros jurídicos pretéritos, além de
carregar a esperança, conforme se pôde apreender dos discursos da época e das manifes-
tações na ANC, de um novo País – surgido de projetos que efetivamente pensassem o
Brasil como um todo. Nosso interesse imediato, nesse tópico, é acompanhar o movimento
de alianças e disputas da Igreja Católica, e de outras igrejas cristãs, nesse contexto. Para
tanto, nos servimos das atas de reunião da Subcomissão da Família, do Menor e do Idoso
(Sub. 8c), obtidas nos Diários da Assembleia Nacional Constituinte (BRASIL, 1987), e
também de documentos institucionais produzidos pela CNBB, como os livros-base de

11
Este tópico recupera parte dos debates e resultados da tese Constituindo a Nova República: agentes cató-
licos na Assembleia Nacional 1987-88 (WOHNRATH, 2017a), desenvolvida com fomento da Fapesp
(2014/03203-2). O trabalho completo pode ser encontrado no endereço: <http://www.repositorio.uni-
camp.br/handle/REPOSIP/322751>. Também recomendamos o artigo Duas dinâmicas, dois resultados: a
Igreja Católica na Assembleia Nacional Constituinte 1987-1988 (WOHNRATH, 2017b), disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-73072017000300242&lng=pt&tlng=pt>.
As atuações das igrejas cristãs em duas Constituintes democráticas brasileiras 16

Campanhas da Fraternidade da época, além de biografias e discursos públicos de religio-


sos, militantes e experts que participaram dos debates sobre a conformação jurídica da
família, a educação dos filhos e os direitos sexuais e reprodutivos.

A CNBB, fundada nos anos 1950 com a proposta de organizar o episcopado brasi-
leiro, servia, institucionalmente, como norte para as ações da Igreja no País. Assim sendo,
esse é o ponto inicial de nossa interpretação.

Tradicionalmente acostumada a coadunar com o Estado patrimonialista e con-


servador, com a edição de atos institucionais pelos militares golpistas no final
dos 1960 e a perseguição da ditadura militar aos seus opositores, incluindo reli-
giosos alinhados com correntes católicas menos tradicionais, a CNBB passou
por uma mudança de orientação, comandada por prelados com formações na
Europa do pós-guerra e em busca de novas eclesiologias para um mundo em
rápida transformação. O contexto político nacional e internacional, os novos
comportamentos sociais, a influência da doutrina marxista, o aggiornamento e
as acomodações entre lideranças religiosas redimensionaram a política do órgão
de cúpula da Igreja no País, que passou a denunciar os crimes de Estado e a
reivindicar seu papel como defensora dos direitos humanos e da democracia,
palavras de ordem no discurso recém-assumido. Seus projetos, como, por exem-
plo, o Brasil Nunca Mais!, foram amplamente reconhecidos e garantiram a le-
gitimidade necessária para que os setores classificados como progressistas par-
ticipassem, junto com políticos contrários aos militares, muitos dos quais cassa-
dos e/ou exilados, das reivindicações democráticas (WOHNRATH, 2017b).

Acompanhar os câmbios na cúpula da Conferência Nacional dos Bispos nos serviu


como indicativo das linhas de força que atravessavam a instituição religiosa e também das
tendências de orientação ao episcopado para ações junto ao Estado. Assim, iluminamos a
trajetória do grupo de religiosos que assumiu o controle da CNBB no instante da Consti-
tuinte, sobretudo suas políticas e propostas para a organização jurídica da família que che-
garam nos debates congressuais.

À época, a CNBB era presidida por D. Luciano Mendes de Almeida – bispo jesuíta
alinhado com D. Paulo Evaristo Arns, e seus apoiadores, na Arquidiocese de São Paulo.
Membro de uma das mais tradicionais famílias católicas brasileiras, sediada no Rio de
Janeiro e cuja gênese remete ao Brasil Imperial e à diferentes momentos da Igreja Católica
no País, como o Centro D. Vital, trata-se de uma das figuras centrais na gênese da Pastoral
do Menor e na organização dos agentes nela engajados (MENDES, 2007). Ainda nesse
conjunto de religiosos ligados à militância social, podemos localizar iniciativas de resis-
tência à ditadura militar e visando a defesa dos direitos humanos, como o Projeto Brasil,
As atuações das igrejas cristãs em duas Constituintes democráticas brasileiras 17

Nunca Mais!, e a proximidade com religiosos que idealizaram a Teologia da Libertação,


como os irmãos Boff e Frei Betto (ARNS, 2011).

Foi justamente esse grupo de religiosos, internacionalmente reconhecido e presti-


giado, que assumiu a dianteira das propostas católicas para a refundação da República bra-
sileira, já no pós-ditadura. Dinamizaram boa parte das propostas cristãs, promovendo in-
tensos debates públicos – nas Campanhas da Fraternidade, em atividades pastorais ou por
meio da imprensa, por exemplo – que chegaram às portas da Assembleia Constituinte.
Colocaram-se, assim, no cerne das disputas entre diferentes grupos, religiosos ou não, com
diferentes interpretações sobre os rumos do Brasil. Isso significa que estavam diretamente
imbricados com os processos que formataram os modelos de Estado e ação social que
viriam a ser estruturados durante a Nova República.

Especificamente quanto aos temas morais com os quais nos preocupamos neste
paper, importa a realização do Ano Internacional da Criança, articulado pelas Nações Uni-
das e promovido, no Brasil, pela Igreja em 1979, dentre outros grupos. Menos de dois anos
antes, foi fundada a Pastoral do Menor – a partir da atuação de D. Luciano nas comunida-
des de base nas periferias de São Paulo – e, já no começo da década de 1980, da Pastoral
da Criança – a partir da íntima relação entre lideranças do UNICEF e redes católicas inter-
nacionais, mobilizadas pela família Arns. Esses eventos estão rememorados, quase que
exaustivamente, nas biografias e autobiografias de seus fundadores, sublinhando sua cen-
tralidade nos discursos produzidos por uma das correntes da Igreja Católica (ARNS, 2001;
MENDES, 2007).

Ao lado de outros movimentos que tiveram lugar no final dos anos 1970 e começo
dos 1980, como as conferências nacionais de educação e demais iniciativas classistas, parte
desse setor mais politicamente progressista da CNBB, altamente legitimado pela sua atu-
ação social em defesa dos direitos humanos durante a ditadura civil-militar, também assu-
miu a dianteira dos debates públicos sobre família e infância, com destaque para as relações
com os congressistas. Historicamente, essas pautas são fundamentais para a instituição re-
ligiosa. Não à toa, às vésperas da Constituinte foi realizada, pela CNBB, a campanha da
fraternidade que nos interessa especificamente.

A Campanha da Fraternidade de 1987 apresentou como preocupação a estrutura da


família, os modos de convivência privada e os direitos das crianças e dos adolescentes.
As atuações das igrejas cristãs em duas Constituintes democráticas brasileiras 18

Assim sendo, logo no ano de instalação da ANC, a Campanha teve como tema A Frater-
nidade e o Menor. O lema proposto não era menos sugestivo: Quem acolhe o menor, a
mim acolhe (CNBB, 1987). Esse documento foi um dos principais norteadores dos discur-
sos dos agentes católicos presentes no Congresso. Serviu, igualmente, para orientações que
superaram essa instituição religiosa. Muitos dos deputados cristãos, não católicos, assen-
tados na Constituinte comungavam da mesma doutrina.

A Campanha da Fraternidade de 1987 (...) tinha como objetivo o tratamento so-


cial das crianças e dos adolescentes “empobrecidos, abandonados e marginali-
zados”. Para tanto, os católicos condenavam o Código de Menores de 1979, es-
pecialmente a política de internatos decorrente do Plano Nacional do Bem-Estar
do Menor, que originou a Fundação Nacional do Bem-Estado do Menor e, nos
estados federados, as FEBEMs. A Pastoral do Menor teve participação ativa na-
quele instante, uma vez que a Pastoral da Criança, projeto da família Arns em
comunhão com o UNICEF, ainda estava em vias de consolidação (CNBB, 1987;
WOHNRATH, 2017b, p. 58-76; 85-90).

Diante dessas condições, percebemos algumas estratégias da Igreja Católica, espe-


cificamente quanto aos temas da organização jurídica da família, dos direitos reprodutivos
e dos cuidados com os menores de idade. A partir das suas bases (fiéis, apoiadores, espe-
cialistas, intelectuais, religiosos, etc.), mobilizou a opinião pública – seja pelas atividades
realizadas diretamente por suas redes ou por meio de campanhas de ampla repercussão
nacional – e participou dos trabalhos constituintes, assumindo sua legitimidade histórica
de atuar junto ao Estado.

Todavia, diferentemente do que apreendemos da análise de outra constituinte de-


mocrática, a Igreja Católica não apoiou diretamente candidaturas de parlamentares. Isso
não significa que a instituição religiosa, seja por meio da CNBB ou de posições de suas
lideranças, tenha deixado de tomar partido nesse processo político. Sobre essa estratégia
concentramos a análise. Entendemos que essa postura serviu para manter certa coesão nas
atuações da Igreja quando em Brasília, mas sobretudo, para acumular apoio de parlamen-
tares que não estavam necessariamente ligados aos católicos. O caso da bancada evangé-
lica, em vias de formação, é exemplar – principalmente na Subcomissão da Família, do
Menor e do Idoso. Também é importante salientar que o fato de não apoiar formalmente
candidaturas parlamentares não significa que a instituição religiosa não apresentasse um
As atuações das igrejas cristãs em duas Constituintes democráticas brasileiras 19

projeto de País, para ser aplicado na Nova República. Recuperamos as propostas da Igreja,
segundo D. Paulo Evaristo Arns, para a Constituinte como um todo.

Quadro 1 – Propostas da Igreja para a ANC 1987-88, por D. Paulo Evaristo Arns

(ARNS, 1985, p. 78–80; WOHNRATH, 2017a, p. 63)

Os trabalhos da última Constituinte foram divididos em etapas subsequentes, sendo


que a primeira delas foi a fase de subcomissões temáticas. A Subcomissão da Família, do
Menor e do Idoso (Sub. 8c) deveria remeter os resultados de seus trabalhos, ou seja, um
anteprojeto cuidado dos temas que lhe cabiam, diretamente à Comissão da Família, da
Educação, Cultura e Esportes, da Ciência e Tecnologia e da Comunicação (Comissão 8)12.
Nesse espaço, ocorreu a participação da sociedade de maneira mais direta, inclusive por
meio dos expositores externos que tiveram lugar durante as audiências, funcionando como
representantes de grupos de interesse ou na qualidade de especialistas. Também devemos
considerar que durante todo o processo constituinte – como se pode apreender da imagem
em Wohnrath (2017a, p. 183) – religiosos católicos, como o presidente da CNBB, D. Lu-
ciano Mendes de Almeida, ocuparam diuturnamente as tribunas e os salões do Congresso.

12
Sobre a formatação da Constituinte 1987-88 e as disputas pela sua realização, ver o primeiro capítulo da
tese Constituindo a Nova República (WOHNRATH, 2017a).
As atuações das igrejas cristãs em duas Constituintes democráticas brasileiras 20

Suas presenças, conforme a dinâmica geral apreendida naquele espaço político, foram bem
acomodadas pelos parlamentares.

Dos quase 560 constituintes que compuseram a ANC, apenas 16 foram titulares na
Subcomissão da Família e do Menor. Todos eram originalmente deputados federais – ou
seja, nenhum senador ocupou posto naquele espaço – e respondiam a seis legendas dife-
rentes. Em comum, conforme melhor explicitamos em análises anteriores (WOHNRATH,
2017b), todos apresentavam trajetórias no quadrante conservador da política brasileira. Al-
guns deles, inclusive, serviram de base de apoio para os governos golpistas que controla-
ram o Estado até o começo da década de 1980. Esse é um elemento importante para ser
observado, considerando que o predomínio, dentre os expositores externos da Subcomis-
são, foi dos religiosos católicos que lutaram para sanar as violações aos Direitos Humanos
cometidas pelo Estado de exceção.

Outro elemento central é que os deputados apoiados por denominações neopente-


costais, pela primeira vez assumindo maciçamente posições no Congresso, na gênese do
que hoje conhecemos como bancada evangélica, também optaram por ingressar naquele
espaço da Constituinte (FRESTON, 1993; MARIANO, 2017; PIERUCCI, 1989). Como
sabemos, esse grupo, atualmente, está recorrentemente envolvido em polêmicas decorren-
tes de suas posições conservadoras, principalmente quanto às moralidades privadas, mas,
também, no espectro político.

Esse dado, referente aos deputados neopentecostais na Constituinte, permite duas


conclusões: a primeira é que parlamentares mais novos e sem experiência na vida pública
em Brasília encontraram receptividade, e, sobretudo, possibilidade de entrada, na Subco-
missão do Menor e da Família. Certamente, caso buscassem espaços mais tradicionais e
concorridos no meio político (as comissões de Orçamento ou de Organização do Estado,
por exemplo), enfrentariam dificuldades maiores e/ou não teriam êxito. Já a segunda con-
clusão reafirma uma situação que interpretamos para a Igreja Católica: a organização jurí-
dica da família e o cuidado social com os filhos é central para as moralidades cristãs e para
os próprios discursos das diferentes denominações religiosas (WOHNRATH, 2017a, b).
Além do mais, quanto à filiação religiosa desses parlamentares, com destaque para a
grande presença de deputados neopentecostais, salientamos que parte deles acumulava ati-
vidades de direção em suas igrejas. Eram bispos ou pastores – padrão de inserção política
mantida nas décadas posteriores.
As atuações das igrejas cristãs em duas Constituintes democráticas brasileiras 21

Encontramos a seguinte composição política na Subcomissão examinada: deputa-


dos constituintes Antônio Salim Curiati, Caio Pompeo de Toledo, Cássio Cunha Lima,
Ervin Bonkoski, Iberê Ferreira, Maria Lúcia, Rita Camata e Vinght Rosado (conservadores
politicamente, mas sem ligações explícitas com igrejas evangélicas); e deputados consti-
tuintes Eliel Rodrigues, João de Deus, Mateus Iensen, Roberto Augusto, Sotero Cunha,
Eraldo Tinoco, Eunice Michiles e Nelson Aguiar (conservadores politicamente, articu-
lando ligações com as igrejas Assembleia de Deus, Universal do Reino de Deus, Adven-
tista ou Batista) (RODRIGUES, 1987; WOHNRATH, 2017b).

Além desses constituintes titulares (os únicos com voz e voto garantidos na Subco-
missão), outros mais participaram de maneira menos assídua de seus trabalhos ou se fize-
ram presentes em momentos específicos. O senador Ronan Tito, do PMDB mineiro, por
exemplo, compareceu exclusivamente para ciceronear o presidente da CNBB, que funcio-
nou como expositor externo. Já Sandra Cavalcanti, do PFL fluminense, posicionou-se con-
tra as poucas representantes do movimento feminista que compareceram, como exposito-
ras, na Subcomissão. Foi ativa na audiência cujo mote foi a debater o aborto legal ou, na
gramática dos agentes religiosos, a defesa da vida desde a concepção. Em comum, ambos
os parlamentares são católicos militantes, inclusive com publicações que deixam explícitas
essas suas ligações. O senador publicou uma autobiografia intitulada Fé e política, já a
deputada tem um livro nomeado Os arquivos de Deus, documentos nos quais se colocam
quase que à serviço da Igreja Católica – ainda que sem explicitar à qual grupo, dentro da
instituição, estão filiados.

Na questão do aborto, esses conservadores serviram como suporte para as propostas


católicas dentro do Congresso. Todavia, a linha de frente foi desempenhada pelos deputa-
dos evangélicos, inclusive com certa agressividade. Os ânimos ficaram acirrados e, se por
um lado, expositoras feministas conseguiram uma breve entrada naquele espaço político –
representadas por militantes e experts do calibre de Eleonora Menicucci, representante do
Conselho Nacional dos Direitos das Mulheres, apoiada pela deputada carioca Benedita da
Silva, evangélica progressista, histórica militante do PT, por outro, houve uma grande mo-
bilização dos religiosos conservadores para manter a proibição do aborto. Os argumentos,
pelo lado das feministas, foram políticos e científicos (saúde da mulher, direito das mulhe-
res à livre escolha, etc.). Por outro lado, boa parte dos deputados manifestaram suas crenças
As atuações das igrejas cristãs em duas Constituintes democráticas brasileiras 22

religiosas para argumentar que a “vida começa desde o instante da concepção”, e inter-
rompê-la seria pecado13. Mais exaltado, o deputado gaúcho João de Deus, pastor da As-
sembleia de Deus, além de delegado de polícia civil, foi até mesmo advertido pela mesa
diretora por conta de suas posições: chegou a comparar os defensores ao direito ao aborto
a assassinos, não admitindo, sequer, a possibilidade de interrupção da gravidez em caso
de estupro, risco de vida para a mãe ou para o feto. Não podemos desprezar, também, que
a CNBB foi representada por especialista da área da saúde, um médico ginecologista. Esse
agente, ouvido na Subcomissão, notadamente defendeu as políticas familiares propostas
pela Igreja, obviamente contrárias ao aborto, ainda que seu discurso tenha apresentado uma
argumentação religiosa menos explícita; por outro lado, privilegiou dados técnicos sobre
o momento de origem da vida, produzindo uma interpretação própria sobre essas informa-
ções.

Importante saber que os princípios constitucionais referentes à organização legal


da família, posteriormente absorvidos pela legislação infraconstitucional (estatutos, como
o Estatuto da Criança e do Adolescente; códigos, como o Código Civil de 2002; etc.),
criticados pela doutrina jurídica e apropriados pela jurisprudência dos tribunais foram de-
batidos e, em parte elaborados, pelas mãos de expositores externos e parlamentares com
alto grau de comprometimento com igrejas cristãs, sobretudo com a Igreja Católica. Esta
é uma conclusão central em nosso trabalho.

O interesse institucional pelos assuntos morais, quando associado à capacidade re-


conhecida para além do campo religioso para discursar sobre esses assuntos, em dado mo-
mento histórico vivenciado pelo País, permitiu que diferentes grupos religiosos, bastante
centrados em políticos e experts comprometidos com os católicos, quando não os próprios
religiosos da CNBB (os casos de D. Luciano Mendes de Almeida e da freira Maria do
Rosário Cintra são exemplares), disputassem a transcrição das práticas socialmente pres-
critas pelas instituições cristãs para seus fiéis no ordenamento jurídico, sendo este ordena-
mento obrigatório para toda a sociedade, uma manifestação de prerrogativa do Estado.
Com isso, de certo modo, sob a aparente e suposta neutralidade da legislação, parte de
suas propostas passaram a ter vigência universal. Por outro lado, isso não significa que não

13
Passados 30 anos da Constituinte, esses mesmos argumentos, manifestados por militantes religiosos ou
conservadores, como a Associação Pró-Vida, podem ser apreendidos na audiência pública recentemente re-
alizada pelo STF. Esse é um elemento que merecerá melhor atenção em trabalho vindouro.
As atuações das igrejas cristãs em duas Constituintes democráticas brasileiras 23

haja intensa militância social visando reconfigurar a legislação em vigência ou as interpre-


tações judiciais. Essa resistência resulta, pensando no campo jurídico, de um movimento
pautado em novas interpretações dos princípios constitucionais e da própria Carta Magna.
Vemos, então, recentemente, lutas pelo reconhecimento do casamento civil homoafetivo14
ou pela descriminalização do aborto – pauta mobilizada sobretudo pelo movimento femi-
nista e em vias de debate em audiências públicas no Supremo Tribunal Federal no instante
da redação deste paper15.

No exame dos documentos da última ANC, percebemos que os debates políticos


referentes à moralidade familiar tiveram seus limites bastante desenhados pelas bandeiras
que os agentes religiosos levaram ao Congresso. Posteriormente convertido em norma ju-
rídica, o conceito de família, por exemplo, estava marcado pela noção de nuclearidade.
Sequer foram mencionadas, nos trabalhos políticos em Brasília, as relações afetivas fora
do esquema “homem + mulher + filhos”. Isso mostra que não eram preocupações políticas
válidas para os agentes políticos dominantes naquele espaço, mas, também, que os grupos
que ali estavam não conferiam legitimidade jurídica, social, etc., para essas maneiras de
convivência. Ao silenciarem sobre algumas temáticas, deputados conservadores e/ou evan-
gélicos acentuaram suas eleições e visões de mundo, em parte transcritas, posteriormente,
na legislação. Quando muito, foram toleradas famílias recompostas e as formadas somente
por um dos progenitores e seus filhos – ainda que, a todo momento, os agentes católicos
colocassem que este não era o modelo ideal em suas visões. Juntamente com o direito ao
divórcio, cujo debate remetia à década anterior (lembrando que a Igreja Católica atuou
fortemente para que a lei 6.515, de 1977, não fosse aprovada), foi o máximo de abertura
que permitiram, apoiados firmemente pelos deputados de base evangélica.

Na Constituinte, a relação entre deputados evangélicos e expositores católicos re-


sultou em uma aliança improvável. Segundo Paul Freston, à época, parte da literatura, in-
clusive, colocava sob suspeição que essas relações fossem vingar, efetivamente, no Con-
gresso. Observava, para tanto, as disputas no campo religioso, com a tomada de posição
cada vez mais intensas das igrejas neopentecostais no espaço político e o incômodo que
esse fenômeno vinha causando em parte da cúpula episcopal brasileira (FRESTON, 1993,

14
Ver: <http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/84740-lei-sobre-casamento-entre-pessoas-do-mesmo-sexo-com-
pleta-4-anos>. Acesso em 1 ago. 2018.
15
Ver: <http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=373569>. Acesso em 1 ago.
2018.
As atuações das igrejas cristãs em duas Constituintes democráticas brasileiras 24

p. 149-277). Interpretamos, porém, que as relações na Subcomissão examinada moldaram


parte dos ditames sobre organização da família promulgados em 1988. Já nas décadas pos-
teriores, esses princípios constitucionais foram reafirmados ou vem sendo alvo de lutas
para sua alteração – no bojo de mobilizações de juristas, intelectuais e militantes sociais
pela reinterpretação constitucional.

Considerações finais

Neste último momento do texto, buscaremos apresentar alguns elementos de comparação


entre os dois momentos históricos contemplados. No primeiro item já abordamos as difi-
culdades singulares de um esforço comparativo para as configurações políticas em tela;
ainda assim, é possível delinear algumas conclusões provisórias desse trabalho a serem
testadas como hipóteses em pesquisas futuras.

A primeira conclusão diz respeito às pautas escolhidas pelas igrejas cristãs para sua
participação nos processos democráticos de redação das novas constituições. Há uma forte
tendência de manutenção entre as décadas de 1930 e 1980 a partir de três temas principais
e inter-relacionados: a definição do que é família, os (não) direitos reprodutivos e a defi-
nição das políticas públicas de formação de crianças e jovens. Nos dois primeiros casos,
tratam-se de pautas majoritariamente simbólicas; no tangente às definições sobre famílias,
por exemplo, permitir ou não o divórcio (1934) ou o casamento homoafetivo (1988) equi-
vale a confirmar ou diminuir o poder dos chefes religiosos sobre o conjunto da sociedade
em termos da moral socialmente aceita. A aliança entre os representantes do poder político
e do poder religioso se dá com base na mútua confirmação de poderes, escorada em um
discurso refratário à aceitação das mudanças que, na prática, sempre existiram. Tais mu-
danças, por sua vez, deixam de se esconder à medida em que tal constatação se torna ine-
vitável, o que ajuda a explicar a transladação da questão do divórcio – inicialmente vista
como um escândalo e, já na década de 1980, vista com naturalidade – para o casamento
homoafetivo. Se tal raciocínio estiver correto, poder-se-ia imaginar que este último tema
também deixará de ser o cavalo de luta dos setores conservadores em questão de décadas,
quando o peso das excrescências políticas de momento puder ser avaliado na sua real di-
mensão. A disputa em torno dos direitos reprodutivos está mais próxima do que Foucault
denomina de biopoder (FOUCAULT, 1998); o efeito de poder oriundo de uma prática
As atuações das igrejas cristãs em duas Constituintes democráticas brasileiras 25

discursiva em torno do controle dos corpos ou, mais precisamente, do corpo feminino, é
uma engrenagem central no mecanismo de organização das sociedades contemporâneas,
independentemente de pensar a qual tradição pertencem – no caso da ibero-americana, de
um mimetismo do ocidente fruto de um pensamento colonizado incapaz de superar-se.
Novamente, é óbvio que não se trata de afirmar que a prática discursiva se mostrará capaz
de apagar completamente as evidências de outras práticas, pois todos sabem que os abortos
continuam acontecendo, ainda que muitos se neguem a efetivamente enfrentar a questão.

Já a questão das definições das políticas públicas de educação – em seu sentido


mais lato – atingem diretamente a receita da Igreja. Na década de 1930, permitir o ensino
religioso seria uma forma de ocupar postos, inclusive na rede pública de educação básica;
na década de 1980, o interesse econômico das instituições religiosas se volta ao mercado
do que hoje é definido como terceiro setor, e que, no caso da educação, implica em finan-
ciamento público de modo direto ou através de renúncias fiscais a ser aproveitado pela
mão-de-obra controlada pelos estabelecimentos católicos (padres, freiras e seus funcioná-
rios). Dentro da tradição fisiologista do Estado brasileiro, os constituintes agem como fia-
dores da abertura desses novos mercados para os agentes religiosos, porque certamente
sabem que existe uma alta recompensa por isso, a ser resgatada nas campanhas eleitorais
seguintes.

Mas não basta compreender as razões das confluências de interesse entre agentes
políticos e religiosos. Por isso, a segunda conclusão provisória diz respeito à forma de
celebração do pacto entre estes dois lados e aqui se revela uma transformação importante.
Na década de 1930, o virtual monopólio da Igreja Católica na cena pública e a relativa
fraqueza dos partidos políticos, circunscritos ao âmbito dos Estados-província, ajudam a
explicar a possibilidade de estruturar sua ação sob uma aparente neutralidade partidária,
cuja contestação ocorreu de forma significativa apenas em São Paulo, Ceará e Rio Grande
do Sul (ARDUINI, 2015). Em comparação, os anos 1980 e os seguintes se definem por
um quadro inflacionado tanto em termos de quantidade de igrejas disputando alianças
quanto de partidos e políticos profissionais em busca do apoio necessário para as eleições
seguintes. Nesse quadro, a “promiscuidade” entre o religioso e o político é muito mais
aparente, com a formação e atuação na ANC da chamada bancada evangélica – apoiadora
e também apoiada por representantes católicos em pautas políticas em comum, demons-
tradas ao longo do texto. A junção em um único termo do político (bancada) e do religioso
As atuações das igrejas cristãs em duas Constituintes democráticas brasileiras 26

(evangélica) naturaliza uma convergência da qual resultam muitos conflitos de interesse.


Entretanto, seria incorreto afirmar que o problema se restringe ao lado conservador, haja
visto que a mistura entre política e religião também se verificou com força em uma parte
do Partido dos Trabalhadores, em suas primeiras décadas de existência, enquanto movi-
mentos sociais como as Comunidades Eclesiais de Base tiveram poder de arregimentar
eleitores. Já em todos os assuntos concernentes à família, direitos reprodutivos e educação,
esse grupo de religiosos católicos esteve ao lado dos evangélicos na Constituinte.

Tais observações precisam ser completadas com um terceiro feixe de conclusões


provisórias, a respeito das respostas emitidas por outras frações da sociedade brasileira em
sentido contrário ao da união entre política e religião. Há mudanças fundamentais na con-
figuração da sociedade brasileira entre os anos 1930 e 1980: processos como a urbaniza-
ção, a maior circulação de informações, a maior dispersão de produtores de notícias e for-
madores de opinião (inclusive ao largo dos meios de comunicação de massa), a diminuição
dramática da parcela de estudantes formados em estabelecimentos confessionais – e, no
caso da Igreja Católica, agravado pela crise no recrutamento dos novos profissionais intei-
ramente devotados – contribui para o fortalecimento dos setores que se aliam para barrar
a influência das igrejas cristãs nas leis que regem a sociedade brasileira discutidas a partir
da década de 1980.

Restaria, entretanto, a pergunta que foge aos objetivos desse artigo: o que ocorreu,
nos últimos trinta anos, para o crescimento de uma bancada hoje identificada pela sigla
“BBB” (boi, Bíblia e bala)? Houve um enfraquecimento dos setores laicizantes do Estado
e da sociedade ou, pelo contrário, a bancada é uma resposta de um grupo que se vê acerta-
damente como uma minoria? No bojo dessa questão, há outra de fundo mais amplo, a
saber, qual é o grau efetivo de representatividade dos parlamentares eleitos sob o signo de
sua fé – seriam eles sintomas de uma tendência geral do eleitorado ou um caso de super-
representação de um setor altamente mobilizado pelas eleições?
As atuações das igrejas cristãs em duas Constituintes democráticas brasileiras 27

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