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”TELEMANIA”

Série I – 1º Episódio

Uma série da autoria de:

JOSÉ JOAQUIM RODRIGUES

Argumento de:

JOSÉ JOAQUIM RODRIGUES


“Telemania” – Série I 1º Episódio Página 2

ZÉ QUIM GADGET – TRAILER DA MINI-SÉRIE

(A série começa com uma vista privilegiada sobre o Tejo,


acompanhada pelo nascer do sol.)

(Entra a voz-off.)

VOZ-OFF

Num mundo cada vez mais perigoso, onde os ricos ficam cada
vez mais ricos…

(Aparece uma „imagem‟ de uma vivenda de luxo, onde um rico


saí de casa, com o pijama vestido. De repente, aparece um
camião, onde descarrega um montante de dinheiro, à porta da
vivenda. A seguir, saí do camião, três raparigas, bem
vistosas, em bikini. E, depois, saí do camião, um „rapper‟,
com uma rádio na mão. Ele liga a rádio e começa a tocar a
música “Levo no Pacote”. Toda a gente, começa a dançar
pimba.)

VOZ-OFF

E, onde os pobres ficam cada vez mais pobres…

(Aparece uma segunda „imagem‟, onde um pobre, deitado no


chão, em cima de uma toalha, está a pedir esmola às
pessoas. Numa primeira aparência, as pessoas não ligam, ao
pedido do pobre. Até que, uma pessoa repara nele, e dá os
trocos que ele tem. Essa pessoa vai-se embora e, de
repente, aparece, um outro pobre, que está apenas com uns
boxers vestidos. Começa a falar com o pobre deitado no
chão.)

POBRE 2

Oh, meu amigo…

POBRE 1

Diz, meu camarada…


“Telemania” – Série I 1º Episódio Página 3

POBRE 2

Olha, para o céu…

POBRE 1

Porquê?

POBRE 2

Porque está a passar um pássaro morto a voar…

POBRE 1

(Ele apercebe-se, de que o segundo pobre está a enganá-lo)


Tu estás a querer-me enganar…

POBRE 2

(Tenta convence-lo, de que não o está a enganar) Achas


mesmo, meu querido camarada?

POBRE 1

(Ele levanta-se e deixa os trocos em cima da toalha) Eu


acho que sim, camarada…

POBRE 2

(Continua a engana-lo, de uma forma convincente) Olhe, nós


vivemos juntos, durante a luta, a favor da liberdade,
contra a ditadura e contra o Salazar…

POBRE 1

(Começa a pensar e chega a uma conclusão) Mas, nós não


estivemos juntos…

POBRE 2

(Continua a persuadir sobre esse facto) Estivemos sim, meu


caro camarada…

POBRE 1

Não, não estivemos. Eu nasci em 1985…

(Há um compasso de espera. E os dois ficam a pensar, por


alguns segundos. Até que, de repente, o segundo pobre,
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aponta para o céu e, tenta mais uma vez, enganar o primeiro


pobre.)

POBRE 2

Olha… O Michael Jackson no céu…

POBRE 1

(Acredita naquilo e, começa a olhar para o céu, muito


estupefacto e, com muito entusiasmo) Aonde, aonde?

(O segundo pobre pega nos trocos e, começa a correr. O


primeiro pobre, sente o segundo pobre a correr, vê a toalha
e ele percebe que não estavam lá os trocos. Ele fica
completamente zangado e, começa também a correr atrás
dele.)

(A seguir, começam a aparecer mais imagens da cidade de


Lisboa, numa dupla velocidade, passando as horas e os
dias.)

VOZ-OFF

Só há uma pessoa capaz de mudar o paradigma do nosso país…

(Aparece uma nova imagem com três rapazes, a olharem para o


céu, a verem uma „coisa a voar‟, que nem sabiam bem o que
era… As três pessoas estão espantadas, com aquilo que
estavam a ver.)

RAPAZ 1

Será que é um helicóptero?

RAPAZ 2

Será que é um avião?

RAPAZ 3

Será que é a Cicciolina?


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(A „coisa‟ que estava a voar no céu, afinal… era o


anfitrião da série. Os rapazes quando viram, na realidade,
quem era a „coisa‟, mudaram de cara e de opinião. Estavam
todas espantadas e insatisfeitas.)

RAPAZ 1

Não é possível…

RAPAZ 2

Não posso acreditar…

RAPAZES 1/2

(Todos juntos) Um preto a voar no céu?

(Há um compasso de espera, e, a terceira pessoa, muito


pensativa, começa a desabafar um assunto.)

RAPAZ 3

Eu tenho a morar lá em casa, um homossexual. E qual é o


problema?

(Há novamente, um compasso de espera. Os rapazes 1 e 2,


ficaram sem palavras. O terceiro rapaz volta novamente a
falar.)

RAPAZ 3

Ele até é muito fofinho, quando está na minha cama…

(Os rapazes 1 e 2, começaram a ficar com nojo do terceiro


rapaz - e, com algum racismo, pelo meio -, começaram a ir
embora. O terceiro rapaz, ficou indignado, pela altitude
dos seus parceiros.)
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RAPAZ 3

Racistas de merda! É por isso, que o nosso país, nunca vai


para a frente… (Dá um grito de coragem, ao anfitrião da
série) Força preto!

(O anfitrião continua a voar, pela cidade de Lisboa, à


procura do melhor sítio para aterrar.)

VOZ-OFF

Este rapaz vai até ao fim do mundo, para conseguir uma boa
gargalhada dos portugueses…

(O anfitrião começa a falar para as pessoas que conhece,


que andam a passar pela rua.)

ANFITRIÃO

Então, jovem? (Acena para o suposto jovem) Como é que


estás? Estás bom, pá? (Começa-se a rir) Estás com uma
garina? Muita fixe, men! E é toda boa! Cuidado com ela!
Porque, os lobos maus, andam a solta, para a comerem! E
atenção! Aquilo não é, de se botar fora! (Volta novamente a
rir-se da piada) Adeus, tudo de bom!

(Continua a sobrevoar pelas ruas de Lisboa, passando pelo


Terreiro do Paço. Ele começa a falar com outra pessoa.)

ANFITRIÃO

Oh, Dona Almerinda, então como está? Está boa? (Há um


compasso de espera) Ainda bem… (Começa a falar baixinho,
para ele mesmo) Não deve estar muito boa, não… Por isso, é
que tem a patareca a arder… (A senhora percebe que ele está
a falar baixinho e ele continua a falar para ela, começando
a disfarçar) Nada, nada… Estava a dizer, que a senhora está
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muito bonita… (Começa-se a rir, disfarçadamente. A senhora,


agradece-lhe pelo elogio e, ele retribui esse gesto.) De
nada, minha senhora. Adeus, adeus, adeus…

(Ele entretanto, chega ao Cristo-Rei, e pára em dentro do


terraço, junto à estátua. Começa a olhar para Lisboa e, ele
começa a ficar muito pensativo.)

VOZ-OFF

Este homem é o Inspector Zé Quim Gagdet!

(Aparece o logótipo do „Inspector Zé Quim Gadget‟, em cima


dele. O mesmo logótipo, pára em cima da cabeça dele, ele
começa a ficar tonto, acabando por desmaiar, e, cair para o
chão do terraço.)

VOZ-OFF

Afinal, não é assim tão potente como eu pensava…

(E começa a falar um homem completamente broeiro, sem


sequer aparecer no ecrã.)

VALENTE DA SILVA

Normal, o gajo é preto, e basta!

(Começa a ser posto o genérico do programa)

(A banda residente começa a tocar a música do genérico)

(A voz-off começa a preparar a recepção do anfitrião)


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INTRODUÇÃO E MONÓLOGO – PRIMEIRA PARTE

VOZ-OFF

Boa noite e sejam bem-vindos ao primeiro programa da


„Telemania‟. Um programa, onde promete tudo e mais alguma
coisa. Menos, revolucionar a televisão portuguesa. Porque,
para isso, basta juntar 6 gajas boas, 3 gajos bonitos, 2
gajos estúpidos e 1 pastor, para fazerem um “reality-show”,
onde toda a gente sabe os segredos dos concorrentes.
Senhoras e senhores, meninos e meninas, convosco, o
anfitrião desta noite, José Joaquim Rodrigues!

(O anfitrião saí da porta principal e dirige-se ao centro


do palco.)

(O anfitrião começa o seu monólogo)

ANFITRIÃO

Boa noite, o mundo da televisão vai mudar. Mas, só um


bocadinho, porque para mudar a televisão, basta termos o
Valentim Loureiro e o Alberto João Jardim, para começarem a
fazer uma grande festa do Carnaval. Sim, porque para eles,
o Carnaval, é quando um homem quiser…

(Há um compasso de espera)

ANFITRIÃO

Este, é sem dúvida alguma, o programa humorístico, onde


promete tudo e mais alguma coisa, menos revolucionar a
televisão portuguesa. E, porquê? Porque, este programa, não
vai trazer nenhuma novidade. Quer dizer, trazer, traz…
Assim, de repente, acho que este programa, é o primeiro
programa de humor, na história do humor em Portugal, onde
um… Um… Um…
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(Há uma pequena interrupção no monólogo, para que o


anfitrião comece a fingir, que está a pensar naquilo que
vai dizer a seguir.)

ANFITRIÃO

Uma pessoa de origem portuguesa, com descendência africana,


tenha um grande protagonismo. Pois bem, seja como for, este
é um programa que – espero eu, que toda a gente goste.
Porque, se não gostarem, basta irem ao „YouTube‟ e comecem
a ver os vídeos dos melhores momentos do „Secret Story – A
Casa dos Segredos‟…

(Há um segundo compasso de espera)

ANFITRIÃO

De facto, os „reality-shows‟ estiveram de volta, às nossas


antenas e, pude constatar que, os concorrentes já não
tinham a mesma inocência, dos concorrentes do primeiro „Big
Brother‟. Nem muito menos, do Zé Maria. A começar, aquilo
foi uma autêntica fantochada. Porque – supostamente, toda a
gente, já se conhecia, mesmo antes de entrar para lá. Um
facto bastante surpreendente, porque, se aquilo, era para
ser a „Casa dos Segredos‟ – como o nome indica, acabou por
a „Casa dos Segredos‟, numa versão mais ficcional, tipo,
novelas da TVI. Aliás, eu nem sei, como este „reality-
show‟, não ganhou o prémio de „Melhor Reality-Show
Ficcional Internacional‟.

(Há um terceiro compasso de espera)

ANFITRIÃO

Senão, vejamos: o argumento era muito bom, tendo como


personagens principais, uma vaca… (Começa a fingir que se
engana) Quer dizer, uma rapariga que faz de tudo, para
tentar „meter os cornos‟, ao seu namorado; por sua vez, o
namorado, sem saber, naquilo que se estava a meter, ficava
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cheio de ciúmes, por causa das atitudes dela; e, claro, não


podia faltar, o outro rapazito, que andava sempre por volta
dela, a dizer-lhe que iria estar sempre com ela, sempre que
ela precisar. Não me admira, que só por isto, isto seja
mais uma novela da TVI. Depois, temos uma acompanhante de
luxo, onde diz que, o seu coração é apenas e só, azul e
branco. Não me admira também, como esta acompanhante de
luxo, não tenha sido chamada, para o processo „Apito
Dourado‟. Até aposto, que não fez apenas, „favores sexuais‟
ao Pintinho… Ele deve ter recomendado, esta rapariga, aos
seus ex-maridos…

(Há um quarto compasso de espera)

ANFITRIÃO

Bom, depois dentro da casa, temos um pastor, que


aparentemente, parecia um burrinho, mas afinal, era mais
esperto, do que aquilo que se parecia. Afinal, o menino
gostava de mandar, nas “meninas de programa”, como se diz
no Brasil. Mas, aquilo também, só durou 3 meses. E ele,
deve ter experimentado pouco, deve… Imaginem só o diálogo
entre ele e a „menina‟:

- (Pastor) Então, garota, como é?

- (Garota) Como é, o quê, pastor?

- (Pastor) Eu já te disse, que não me chames „pastor‟, à


frente dos clientes…

- (Garota) Desculpa, pastor, mas… É mais forte do que eu.

- (Pastor) Vá, vá… Então, hoje temos carninha nova?

- (Garota) Temos sim. Hoje chegou uma moça muito linda…

- (Pastor) Uma moçoila nova? Humm… Tem que idade?

- (Garota) Tem 20 anos, mas tem um corpinho, que parece a


Samantha Fox, quando tinha 25 anos…

- (Pastor) Calma, calma… (Há um compasso de espera) Quem é


a Samantha Fox?

- (Garota) Eu já te trago a miúda…


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Entretanto, o pastor vai fumando uns charutos, como se não


houvesse amanhã… Segundos depois, chega a miúda de 20 anos.
O pastor fica todo espantado, pela qualidade da rapariga.

- (Pastor) Então, moçoila, tu é que és a nova aquisição?

- (2ª Garota) Sim, sou, patrão.

- (Pastor) Então, senta-te em cima do pai, que eu deixo.

E ela senta-se em cima dele.

- (Pastor) Donde és, minha filha?

- (2ª Garota) Sou de Gaia…

- (Pastor) És de Gaia, minha filha? Então, até aposto, que


estiveste com senhores da bola…

- (2ª Garota) Estive sim, patrão.

- (Pastor) Trata-me por Pastor, Sr. Pastor.

- (2ª Garota) Tá bem… Sr. Pastor.

Com isto, devo concluir que, as aparências iludem. Mas,


agora a TVI, está a estudar a hipótese de fazer um novo
„reality-show‟, relativamente parecido com a „Casa dos
Segredos‟, que se chama, „O Quintal dos Segredos‟. Como o
próprio nome indica, toda a história se passa, num quintal,
onde os concorrentes, submetem às ordens, do „dono da
quinta‟, a quem se dá o nome de… „O Campónio‟.

“QUINTAL STORY – O QUINTAL DOS SEGREDOS”

(Aparece uma primeira imagem do quintal. A seguir, mostra


a casa de campo por fora. A seguir, aparece todas as
divisões da casa, aos poucos e poucos.)

(Começa a falar a voz-off.)

VOZ-OFF

12 Concorrentes dentro de um quintal…

…durante 4 meses…
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…sem acesso à privacidade…

…à submeterem às ordens do „Campónio‟.

(Aparece um separador, com o genérico do „Quintal dos


Segredos‟)

VOZ-OFF

Será que eles resistem fechados dentro da casa?

Será que eles conseguem guardar os seus segredos?

Só um deles poderá ganhar…

…um fantástico tractor, com um monte de ovelhas no reboque.

(No genérico, aparecem os concorrentes, com o nome deles.)

VOZ-OFF

Quem conseguirá resistir até ao fim?

„Quintal Story – O Quintal dos Segredos‟!

(A seguir, aparecem os concorrentes, a entrarem na casa,


todos admirados com o estado da mesma. Aqui, os
concorrentes estabelecem um primeiro diálogo.)

LUÍS NORTE

Muito bom! Isto sim, é que é, uma casa em condições…

JOEL PINTO

Não dúvida nenhuma: Não há vida, como à do campo!

LUÍS NORTE

Tens razão, meu amigo. Como te chamas?


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JOEL PINTO

Joel. (Estica a mão para se cumprimentarem)

LUÍS NORTE

Luís Norte é um prazer conhecer-te. (Os dois cumprimentam-


se)

JOEL PINTO

Eu retribuo-o, com as mesmas palavras.

LUÍS NORTE

(Fica confuso) Com as mesmas palavras, não…

JOEL PINTO

Sim, com as mesmas palavras…

LUÍS NORTE

(Continua confuso) Então, afinal não chamavas Joel e, agora


chamas-te Luís?

JOEL PINTO

Exactamente. Já viste como as coisas são?

LUÍS NORTE

Ah pois…

(Entretanto, entre mais um par de concorrentes, desta vez,


um homem e uma mulher.)

SARA MADUREIRA

Oh amor, ainda bem que nós viemos juntos para esta casa…

FELIPE SANTOS

Eu sei que sim. Nós vamos reforçar a nossa relação.

SARA MADUREIRA

Ainda bem que já não tenho que aturar a tua mãe…


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FELIPE SANTOS

(Começa a ficar irritado) Então, amor? Tás-te a passar ou


quê?

SARA MADUREIRA

É verdade. Achas bonito, a tua mãe estar-nos sempre a


acordar, a fazer barulho como o caraças, e, a bater-me com
o bacalhau demolhado da Noruega, em cima de mim?

(Aqui, faz-se um flashback muito rápido, para mostrar a


situação que a Sara contou. A Sara e o Felipe, estavam no
quarto dele, a dormir profundamente, com as persianas
completamente fechadas. De repente, a mãe do Felipe, com o
bacalhau na mão, abre a porta, de rompão e, começa a
acordar a Sara, gritando bem alto, para ela ouvir.)

MÃE DO FELIPE

Acorda, vagabunda! Saí do quarto do meu filho!

SARA MADUREIRA

(Ainda está rabugenta) Deixe-me dormir, por favor…

MÃE DO FELIPE

Acorda, sua vagabunda, saí da cama!

(Ela dirige-se até às persianas, e começa a abri-las, com


muita força. Ela ainda meio sonolenta, começa a acordar
lentamente.)

MÃE DO FELIPE

Como é que é? Sais da cama do meu filho, a bem ou mal?

SARA MADUREIRA

Olhe, sabe que mais? Vá, mas é, apanhar azeitonas!

MÃE DO FELIPE
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(Fica bastante irritada com a boca) O quê? Eu já te digo…


(Leva o bacalhau e, começa a dar-lhe na cabeça da Sara) O
que é apanhar azeitonas…

SARA MADUREIRA

(Fica bastante irritada) Mas, você está-se a passar ou quê?

MÃE DO FELIPE

Eu estou-me a passar? É que ainda não me viste furibunda!


Saí daqui, sua atrevida!

SARA MADUREIRA

(Ela continua a levar com o bacalhau em cima, e, depois,


começa a sair da cama) Você não tem respeito por ninguém!

MÃE DO FELIPE

Quantas vezes é que já te disse, que não deves dormir no


quarto do meu menino, sua badalhoca?

SARA MADUREIRA

(Começa-se a queixar da violência da mãe do Felipe) Pare,


por favor, peço-lhe… Paree!

MÃE DO FELIPE

Não paro nada, enquanto não aprenderes a lição, minha porca


desvairada… Saí daqui! Vai dormir no sofá!

(A mãe do Felipe acaba por expulsar a Sara do quarto do


Felipe. A mãe dele, começa a fechar as persianas, puxa o
lençol da cama para cima, para o Felipe dormir melhor, e
ela saí do quarto, fechando a porta.)

(Voltando ao „Quintal dos Segredos‟.)

FELIPE SANTOS

Por acaso, foi muito mau…

SARA MADUREIRA

Por isso, é que estamos aqui. Para termos a nossa


privacidade…
“Telemania” – Série I 1º Episódio Página 16

FELIPE SANTOS

E, certamente, vamos ter, amorzinho.

(A Sara e o Felipe dão um beijo na boca.)

FELIPE SANTOS

O problema é que, vamos ter milhares de pessoas, a verem-


nos dentro da casa…

SARA MADUREIRA

Não te preocupes, antes as pessoas verem-nos pela


televisão, do que ter que aturar a tua mãe…

FELIPE SANTOS

(Fica novamente irritado) Amor…

(Entra o 5º concorrente, que estava admirado, por ver, o


estado da casa.)

RUI ANTÓNIO

(Começa a gritar) Que casa é esta?

(Entretanto, o Luís e o Joel, vão ao pé do Rui, falar com


ele.)

LUÍS NORTE

Mas, passa-se alguma coisa?

RUI ANTÓNIO

Esta casa mete-me um nojo, só de olhar para ela…

JOEL PINTO

Então, porquê, meu?


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RUI ANTÓNIO

(Faz uma cara feia, por causa da decoração da casa) Porquê


esta decoração está um horror…

JOEL PINTO

A sério? (Pouco importado com a decoração da casa, quer


acabar o assunto, pela parte dele) Eu até acho que a
decoração está bem feita…

RUI ANTÓNIO

(Completamente irritado) Mas, afinal, eu vim para a „Secret


Story‟ ou para o programa do Goucha?

LUÍS NORTE

Nem para uma coisa, nem para outra…

JOEL PINTO

Tu vieste para o „Quintal dos Segredos‟…

RUI ANTÓNIO

Desculpem? „Quintal dos Segredos‟?

LUÍS NORTE

Sim… „Quintal dos Segredos‟…

RUI ANTÓNIO

(Começa a deduzir que está num campo) Mas, isso quer dizer
que…

LUÍS NORTE

Estás num quintal, onde vais estar às ordens do „Campónio‟


e, fazer as tarefas normais da casa, como se estivesses num
quinta de verdade…

RUI ANTÓNIO

(Começa a ficar incrédulo) Eu não estou a acreditar…

JOEL PINTO

Mas, chegas aqui, nem sequer nos cumprimentas, nem nada…

RUI ANTÓNIO
“Telemania” – Série I 1º Episódio Página 18

(Começa a gritar para o Joel) Eu cumprimento-vos, se eu


quiser! (Começa-se a acalmar) Mas, como vocês, até são uns
queridos… Eu chamo-me António.

LUÍS NORTE

Eu chamo-me…

RUI ANTÓNIO

(Interrompe o Luís, de imediato) António… Rui António é o


meu nome. E o vosso?

LUÍS NORTE

(O Luís e o Joel ficam espantados com o nome do Rui, mas,


mesmo assim, continuam a fazer o procedimento habitual, de
conhecerem o Rui) Eu chamo-me Luís.

JOEL PINTO

Eu chamo-me Roberto.

LUÍS NORTE

(Fica cada vez mais espantado com o Joel) Roberto?

JOEL PINTO

Sim, Roberto.

RUI ANTÓNIO

Você, por acaso, não é o guarda-redes do Benfica?

JOEL PINTO

Sou sim.

LUÍS NORTE

(Fica cada vez mais espantado e surpreendido) És o guarda-


redes do Benfica?

RUI ANTÓNIO

Então, desculpe-me a incoerência, mas você está muito


gordo…

JOEL PINTO
“Telemania” – Série I 1º Episódio Página 19

(Fica surpreendido com a afirmação do Rui) Estou gordo, mas


porquê?

RUI ANTÓNIO

Porque você, já andou a comer muitos frangos…

(Aparece o genérico final do „Quintal dos Segredos‟)

COMUNICADO DO PRIMEIRO-MINISTRO – PRIMEIRA PARTE

(Aparece o genérico do noticiário: „Especial Informação‟.)

(Logo a seguir, aparece a cara do pivô.)

PIVÔ

Boa noite. Interrompemos esta emissão, para uma notícia de


última hora. O nosso primeiro-ministro irá fazer uma
declaração aos portugueses. Ainda não se sabe, qual irá ser
o tema de fundo desta declaração, no entanto, no comunicado
que foram entregues às redacções – através do Gabinete do
Primeiro-Ministro, sabe-se que é um comunicado bastante
importante e, que deverá mexer directamente com a vida dos
portugueses. Vamos em directo, à partir do palácio de São
Bento, onde está a repórter, Mafalda Garganta.

(Aparece um separador com o pivô e com a repórter. A


repórter tem a característica, de ter a boca completamente
aberta.)

PIVÔ

Mafalda, boa noite. O que nos podes contar daqui, a partir


de São Bento?

(Depois fica, somente a imagem da repórter)


“Telemania” – Série I 1º Episódio Página 20

MAFALDA GARGANTA

Boa noite. Neste momento, ainda estamos à espera, daquilo


que se poderá passar, esta noite. Estão aqui praticamente
todos os jornalistas, a cobrirem esta notícia de última
hora, que chegou às redacções, há menos de… (Começa a olhar
para o relógio) 18 minutos.

(Aparece novamente o separador com o pivô e com a


repórter.)

PIVÔ

Isso é o tempo, que este programa está a durar.

(Depois fica, novamente a imagem da repórter. Nesta nova


imagem, a repórter tem na sua mão esquerda, o comunicado do
Gabinete do Primeiro-Ministro)

MAFALDA GARGANTA

Exactamente. As redacções receberam repentinamente, este


comunicado do Gabinete do Primeiro-Ministro, que tenho
aqui, diz que, „o gabinete do primeiro-ministro informa a
todos os jornalistas, a todas as redacções, à Maria Alberta
do talho, ao sr. Custódio da sapataria, à Manuela Moura
Guedes e ao José Castelo Branco, que o Primeiro-Ministro
irá fazer um comunicado bastante importante para os
portugueses, ainda durante este programa de televisão‟.
Este comunicado acrescenta que „o tema só irá ser
divulgado, no devido comunicado aos portugueses, pelo que,
este comunicado será o último momento de humor, a ser
transmitido no mesmo programa de televisão, para não sofrer
pressões internas, nomeadamente do Conselho de
Administração desta estação.‟.
“Telemania” – Série I 1º Episódio Página 21

(Aparece, pela penúltima vez, o separador com o pivô e com


a repórter.)

PIVÔ

Então, quer dizer, que temos de esperar, até ao final deste


programa, para saber aquilo que o Primeiro-Ministro quer
divulgar aos portugueses, Mafalda Garganta.

(Aparece pela última vez, somente a imagem da repórter)

MAFALDA GARGANTA

Parece que sim. Daqui para já, é tudo.

(Aparece, pela última vez, o separador com o pivô e com a


repórter.)

PIVÔ

Obrigado, Mafalda. Nós voltaremos ao contacto contigo,


assim que se justificar. Ou então, no final deste programa.

(Agora aparece o pivô, a falar para a câmara.)

PIVÔ

E, senhores telespectadores, esta edição especial de


informação, fica por aqui. Nós voltaremos à antena, quando
tivermos mais informações, sobre esta notícia. Se não
tivermos, só voltaremos no final do programa, ou assim, que
o autor desta série de merda, justificar que há novos
elementos de humor sobre este assunto. Então, continuação
de uma, muito boa noite.

(Fica um plano geral do estúdio de informação.)


“Telemania” – Série I 1º Episódio Página 22

INSPECTOR ZÉ QUIM GADGET – PRIMEIRA PARTE

(Numa rua deserta, estava um drogado, a fumar o seu charro,


quando se dirige, uma outra pessoa, ao pé dele e, começa a
falar com ele. A outra pessoa, estava completamente
coberta, de cima para baixo. Mesmo a cara dela, não está
visível.)

DROGADO

O que é que queres, pá?

CARLA MONTEIRO

Quero capar-te todo!

DROGADO

(Ficou surpreendido com a afirmação dela) Ha? Como é que é?

CARLA MONTEIRO

Quero captar-te todo! Não entendes à primeira, meu?

DROGADO

Tens que compreender que eu já estou completamente maluco…

(O drogado começa a ter a visão de duas pessoas.)

DROGADO

(Fica começa a delirar e fica excitado, ao ver o decote a


dobrar) Eh lá, ou é impressão minha, ou estou a ver, duas
pessoas, só para mim?

CARLA MONTEIRO

(Fica espantada) Mas, estás maluco, ou estás mocado?

DROGADO

(Continua a delirar) Maluco, mocado, é tudo a mesma merda…


(Há um compasso de espera) Isto parece o belo par, que a
“Telemania” – Série I 1º Episódio Página 23

Rita Pereira mostrou ao mundo nos „Emmy‟s‟, mas em vez de


serem duas… São quatro irmãs. Todas bonitas… E são tão
boas!

CARLA MONTEIRO

Sabes de uma coisa?

(A Carla tira a arma do bolso das calças.)

CARLA MONTEIRO

Pega lá uns tirinhos!

(Ela dá 3 tirinhos no corpo do drogado. Ele começa a cair


para o chão, aos poucos e poucos, acabando com ficar de
joelhos, com algum sofrimento.)

DROGADO

Mas, o que foi esta merda, minha… Minha…

CARLA MONTEIRO

Minha, quê?

DROGADO

Minha porca!

(Ela não gostou daquilo que ele lhe chamou e, dá-lhe mais 3
tiros.)

CARLA MONTEIRO

Eu queria-te capar… E eu capei-te! (Começa-se a rir)

(Ele acaba por cair ao chão, ficando todo estendido. A


Carla continua-se a rir, por ter matado o drogado. De
“Telemania” – Série I 1º Episódio Página 24

repente, ele levanta-se, mas já, no seu estado normal,


estranhando aquilo que ela disse. Quando o vê levantado e
vivo, ela fica totalmente espantada.)

DROGADO

Olha lá, captar um gajo, não é matá-lo com uma pistola…

CARLA MONTEIRO

Não?

DROGADO

Não, minha senhora…

CARLA MONTEIRO

Então, como é que é?

DROGADO

É muito simples: basta ter uma faca na mão, e, começa-se a


capar os tomates…

CARLA MONTEIRO

Mas, isso deve doer muito…

DROGADO

(Começa-se a rir) Ai não, que não dói… Ainda no outro dia,


estava com um colega meu, nós estávamos a fumar uns
charritos, quando de repente, aparece um gajo, que nos
queria tirar o guito. Depois, eu fugi.

CARLA MONTEIRO

(Começa a ficar com medo) Oh meu Deus! E o seu colega?

DROGADO

O meu colega? O gajo capou-lhe os tomates todinhos! Como se


estivesse a fazer, uma sopa de tomates…

CARLA MONTEIRO

(Fica com pena do colega) Então, morreu…

DROGADO
“Telemania” – Série I 1º Episódio Página 25

Nada disso!

CARLA MONTEIRO

(Fica novamente espantada) O quê?

DROGADO

Para ele, até que lhe fizeram um favor! Como ele queria ser
uma mulher desde pequeno, aquilo foi um primeiro passo
para, transformar o pénis numa… Numa…

(Há um compasso de espera. Entretanto, aparece o anfitrião,


para despachar com esta treta.)

ANFITRIÃO

Importam-se de despachar isto? É que só temos 50 minutos de


emissão e, eu ainda quero fazer a segunda parte do
monólogo…

CARLA MONTEIRO

É assim, oh Zé, nós só estamos a seguir o texto.

DROGADO

Sim… (Ele tira o guião, que estava dentro do casaco)


Segundo o guião, ainda temos mais algumas falas…

ANFITRIÃO

Então, vamos lá acabar isto, que eu ainda quero ir para


casa dormir, pode ser?

DROGADO

Tem calma, pode ser?

ANFITRIÃO

(Começa a ficar irritado) Uma pessoa não pode ter calma!


Uma pessoa não pode ter calma!

CARLA MONTEIRO

Olha, se tu não escrevesses esta parte, já podíamos ter


acabado, com a parte do assassinato…
“Telemania” – Série I 1º Episódio Página 26

ANFITRIÃO

(Começa a pensar e chega a conclusão, de que ela tinha


razão) Realmente… (Ele começa a acabar com o assunto) Bom
despachem lá isso… Vá lá, vá lá…

(O anfitrião sai da cena e os restantes actores continuam


com a sua cena.)

CARLA MONTEIRO

Como é que é? Dou-te um último tiro e vou-me embora, ou,


continuamos aqui a conversar?

DROGADO

Já nem sei, se quer que te diga… Eu não gostava de morrer…

CARLA MONTEIRO

Mas, não gostavas de morrer, por alguma ocasião, em


especial?

DROGADO

Eu não gostava de morrer… (Pega na mão esquerda da Carla)


Porque, gostava de ficar consigo.

CARLA MONTEIRO

(Fica surpreendida) A sério, meu drogado fofinho?

DROGADO

Sim, meu amor…

CARLA MONTEIRO

(Começa a ficar corada) Oh, que fofinho…

(Aparece novamente o anfitrião, todo zangado, pega na


pistola e, dá 4 tiros no drogado. O drogado fica
completamente deitado e morre definitivamente.)
“Telemania” – Série I 1º Episódio Página 27

ANFITRIÃO

Desculpa lá… Mas, uma pessoa não pode ter calma!

(O anfitrião tira um lenço do bolso do seu casaco, e começa


a limpar a arma, para não encontrarem impressões digitais.
Ele deita a arma para o chão e, arruma o lenço no bolso do
casaco. A seguir, ele vai-se embora e, mais tarde, ela
também saí do local do crime.)

VOZ-OFF

Quem será o assassínio deste crime horrendo? Será que o


nosso inspector está preparado para resolver mais um caso
terrível? Não percam a segunda parte da nossa série
policial: „Inspector Zé Quim Gadget‟!

(Aparece o genérico final do „Inspector Zé Quim Gadget‟.)

(Aparece o genérico final da 1ª Parte.)

FIM DA 1ª PARTE
“Telemania” – Série I 1º Episódio Página 28

MONÓLOGO – SEGUNDA PARTE

(Aparece o genérico inicial da 2ª Parte.)

(A banda toca uma música de fundo, para fazer a transição


da segunda parte do programa, para a segunda parte do
monólogo.)

(Começa a falar o anfitrião do programa.)

ANFITRIÃO

Meus amigos, bem-vindos à segunda parte do „Telemania‟ e,


continuamos a falar sobre a televisão. Toda a gente sabe
que a televisão mudou de uma forma tão drástica, mas tão
drástica, que chega ao ponto, de terem de meter, por
exemplo, programas de „late-night‟, onde as pessoas podem
ganhar dinheiro, se acertarem nos jogos que são
proporcionados pelas apresentadoras. Toda a gente sabe que,
como dizia o Dias da Cunha, quando estava na presidência do
Sporting, „o sistema está completamente viciado‟.

- (Apresentadora) Boa noite, telespectadores. Bem-vindos a


mais uma edição do „Ligar para Gastar‟, onde você liga para
gastar e não ganha nada! Temos aqui um jogo para vocês e
podem não ganhar 1000 euros. (Ouve-se o som do telefone a
tocar) E já temos um concorrente em linha. Boa noite.

- (Concorrente) Boa noite.

- (Apresentadora) Como se chama?

- (Concorrente) Manel.

- (Apresentadora) Que idade tem o Manel?

- (Concorrente) Tenho 43 anos.

- (Apresentadora) E o Manel é de onde?

- (Concorrente) Sou de Mogadouro. Mas, oh menina, posso-lhe


dizer uma coisa, antes de dizer a palavra-chave?

- (Apresentadora) Pode sim, Manel. Mas, tem que ser muito


rápido, que temos outros concorrentes em linha, que estão à
espera.
“Telemania” – Série I 1º Episódio Página 29

- (Concorrente) Eu só gostava de lhe dizer que… (Há um


compasso de espera) Você é uma gaja podre de boa e que a
comi-a toda!

(Houve-se o barulho do telefone a desligar-se)

Mas, não só são estes programas, que vieram para o ar. Os


verdadeiros „late-night‟ estão cada vez mais na moda. Temos
3 grandes exemplos: o Herman, o Nogueira e o Unas. Mas,
imaginem agora, a Manuela Moura Guedes, a fazer um „late-
night‟, 100% humorístico. Quer dizer… Ela não mete assim
muita piada. Só o facto de vermos aquela boca grossa mete
medo. Muito medo…

(Há um compasso de espera.)

ANFITRIÃO

A verdade é que ver televisão, hoje em dia, é um verdadeiro


milagre. Por hoje, mais de 50% da programação que vemos nas
estações generalistas, são… novelas. Novelas, novelas, e
mais novelas… As novelas brasileiras, tiveram um grande
impacto, logo nos finais dos anos 70, com a exibição da
novela brasileira que, iria parar Portugal… e a Assembleia
da República.

(Começa a cantar a música do genérico da Gabriela)

Eu nasci assim,
Eu cresci assim,
E sou mesmo assim,
Vou ser sempre assim,
Gabriela, sempre Gabriela.

(INSTRUMENTAL)

Quem me baptizou,
Quem me nomeou,
Pouco me importou,
É assim que sou,
Gabriela, sempre Gabriela.

Foi a novela que concretizou Sónia Braga, como actriz


principal. Eu confesso que aquilo, até nem era assim nada
“Telemania” – Série I 1º Episódio Página 30

de especial. Comparado com a forma física dela,


actualmente… Via-se de longe, no que podia sair dali…
Depois, os portugueses começaram a consumir novelas
brasileiras, atrás de novelas brasileiras, até que, Nicolau
Breyner… (A banda começa a tocar a música original da
novela „Vila Faia‟) Meteu na cabeça, aquela que seria a
ideia mais revolucionária dos anos 80 em Portugal: fazer
uma novela 100% portuguesa. E, concretizou. Esta era a
prova, de que os artistas estavam unidos, para tornar
realidade um sonho: o início da ficção nacional, a sério.
(A banda para de tocar a música do genérico da „Vila Faia‟)
Mais tarde, a ficção nacional, estaria a passar pelas
privadas e a, concentrar-se toda… na TVI. O que me mete
bastante impressão, porque cada vez que ouço falar das
novelas da TVI, só me apetece cortar os pulsos, de ver a
mesma coisa, os mesmos enredos em 3 novelas e de ver,
repetitivamente, algumas „personagens‟ – sim, como puderam
concluir, não estava a falar das personagens das histórias.

(Há um compasso de espera)

ANFITRIÃO

Mas, agora que a TVI ganhou o „Emmy‟ de „Melhor Novela


Internacional‟, vai aparecer uma coisa que possa ser digna,
de vencer, todos os prémios internacionais de televisão que
existem. Em rigoroso exclusivo, gravado com o sistema de
alta definição, a „Telemania‟ tem o prazer de vos
apresentar, para vocês todos, a grandiosa novela de ficção
nacional… Quer dizer, a grandiosa mini novela humorística
de ficção nacional: “Eu sou a Outra”.

MINI-NOVELA: “EU SOU A OUTRA”

(Aparece o genérico da mini novela.)

(Música da mini novela: “Eu sou a Outra” – Matias Damásio)


“Telemania” – Série I 1º Episódio Página 31

(A mini novela começa num bairro social, onde os problemas


da droga e da criminalidade, são cada vez maiores. Depois,
a mini novela centra-se, numa casa, onde moram uma senhora
de 40 e tais anos, e 3 filhos. Uma rapariga e dois irmãos.
Na sala, estavam apenas, a mãe, a rapariga e um dos
rapazes. A mãe estava sentada no cadeirão, a fazer tricô. O
rapaz estava a ler o jornal, sentado no sofá. A rapariga
estava a sair do quarto, para se sentar no sofá. Eles
começam a conversar sobre a vida deles.)

ALMERINDA COSTA

(Fala para a Matilde) Então, filha, quando é que vais


arranjar emprego, para te começares a sustentar?

MATILDE COSTA

Vou hoje a uma entrevista de emprego.

ALMERINDA COSTA

A sério? Onde é a entrevista?

MATILDE COSTA

É numa empresa de comunicação social.

ALMERINDA COSTA

A sério? Aí, que bom, minha filha…

TIAGO COSTA

(Começa a mandar uma boca à Matilde) Que bom? A mãe acha


que isto é bom, 6 anos depois de ter acabado o curso,
quando o curso era de 3 anos?

ALMERINDA COSTA

(Fica a favor da Matilde) Cala-te, Tiago! Eu ainda gostava


de saber, quais são os negócios que tu tens…

TIAGO COSTA

Mãe, os meus negócios são muito sérios…

MATILDE COSTA
“Telemania” – Série I 1º Episódio Página 32

(Começa a discutir com o Tiago) Pois são… São tão sérios,


como o Governo…

TIAGO COSTA

Oh minha querida irmã… Eu, pelo menos, cumpro as promessas.


Não ando a dizer, que vou arranjar 150.000 empregos em 4
anos… Isto, no primeiro mandato…

MATILDE COSTA

E tu alguma vez tiveste algum mandato?

TIAGO COSTA

(Agarra no pescoço da Matilde) Olha lá, mas o que é que


estás insinuar, minha vaca? (Aperta cada vez mais o pescoço
dela. Ela começa a ficar asfixiada) Que eu ando metido em
negócios escuros? Que ando metido, no negócio da droga?

(A Almerinda levanta-se para separar a Matilde, do Tiago.)

ALMERINDA COSTA

Parem quietos, os 2! Sempre a mesma merda…

MATILDE COSTA

(Começa a fazer fitas, como se fosse uma criança) Oh mãe… É


sempre ele que arranja as confusões…

TIAGO COSTA

Mas, quer dizer… Ela é que provoca e eu é que levo sempre


com as culpas…

ALMERINDA COSTA

Parem de discutir! (Fala para o Tiago) Tiago, sabes muito


bem que, a partir do momento, em que confundiste a tua
irmã, com uma „Barbie‟, quando eram putos, e, tentaste mete
os dois dedos, na vagina dela, não te podes meter mais com
ela.

TIAGO COSTA
“Telemania” – Série I 1º Episódio Página 33

(Fica arrependido das coisas que fez) Eu sei, mama.


Desculpa, mana.

MATILDE COSTA

Na boa, mano.

ALMERINDA COSTA

Vá lá, abracem-se. Mas, com juizinho…

(A Matilde e o Tiago abraçam-se. Entretanto, aparece o


outro rapaz, filho da Almerinda.)

FÁBIO COSTA

Então, agora estão num ambiente familiar, é? Até parecem


que não têm mais nada para fazerem… (Fala para o Tiago)
Tiago, vamos embora, que o gajo já me telefonou…

TIAGO COSTA

Mas, o que é que o gajo disse, ao certo?

FÁBIO COSTA

Disse que temos de descarregar a mercadoria…

ALMERINDA COSTA

(Fica a estranhar a conversa dos dois filhos) Mas, que


mercadoria, vocês estão a falar?

FÁBIO COSTA

Mãe, isto são negócios, que não tens nada a ver…

ALMERINDA COSTA

Eu quero saber, onde vocês andam metidos…

FÁBIO COSTA

Vais, vais… (Muda de assunto) Vamos embora, Tiago?

TIAGO COSTA

Vamos embora. (Dirige-se para a mãe, para se despedir dela,


dando-lhe um beijo terno na testa) Vá, mãe… Ficas bem?
“Telemania” – Série I 1º Episódio Página 34

ALMERINDA COSTA

Fico, meu filho, fico…

TIAGO COSTA

Olha, adeus e até logo…

ALMERINDA COSTA

Até logo, Tiago… (Ele dirige-se à porta da entrada de casa,


e abre-a. O Fábio também tenta sair com ele, mas, a
Almerinda chama o mesmo) Então, Fábio, não vens dar um
beijo à tua mãezinha?

FÁBIO COSTA

(Pensa um bocado e manda uma directa) Vou dar os beijos, ao


caralho, pode ser?

ALMERINDA COSTA

Pode ser, meu filho.

FÁBIO COSTA

(Ele fica com medo) Oh mãe… (Há um compasso de espera) Mas


tem mesmo que ser?

ALMERINDA COSTA

Tem que ser, meu filho. Já sabes como é a dose…

(O Fábio chega-se ao pé da Almerinda, põe-se de joelhos e,


direcciona a sua cara, em frente à vagina dela.)

FÁBIO COSTA

Mas, oh mãe… Eu não quero dar um beijo na… Na… (Há um


pequeno compasso de espera) Na tua coisinha.

ALMERINDA COSTA

Tem que ser. Vamos, que eu tenho mais que fazer…

FÁBIO COSTA

Anda lá, mãe… Deixa-me dar-te um beijo na testa, por favor…


“Telemania” – Série I 1º Episódio Página 35

ALMERINDA COSTA

(Pensa um bocado e volta atrás, naquilo que disse) Vá,


podes dar um beijo na testa.

(O Fábio levanta-se e dá um beijo na testa à Almerinda.)

FÁBIO COSTA

Vá, vamos embora, Tiago.

ALMERINDA COSTA

(Chama novamente o Fábio) Fábio…

FÁBIO COSTA

O que foi agora, mãe?

ALMERINDA COSTA

Da próxima vez, se não deres o beijo no caralho, ficas todo


negro, como aquele preto, que está a aparecer na televisão,
ouviste?

(Eles olham para a televisão e está o anfitrião deste


programa, a falar para o público.)

FÁBIO COSTA

Ouvi, mãe. Vá, xau!

MATILDE COSTA

(O Fábio e o Tiago saem de casa. O Fábio acaba por fechar a


porta. A Matilde vai para ao pé da mãe) Estes rapazes…

ALMERINDA COSTA

Sabes, filha… Faço tudo, por estes rapazes…

MATILDE COSTA

Bom, eu também vou-me embora. Aliás… (Olha para o relógio)


Estou atrasada.
“Telemania” – Série I 1º Episódio Página 36

ALMERINDA COSTA

Vai lá, filha, vai lá…

MATILDE COSTA

Vá, mãezinha… (Dá dois beijos na cara) Vou indo… Até logo.

ALMERINDA COSTA

Até logo.

(A Almerinda pega no tricô, senta-se no cadeirão e continua


a fazer os panos.)

(Muda-se de cena, e, a acção decorre agora na casa dos


Ribeiro. Estava o Nuno a tomar o seu pequeno-almoço, quando
aparece a sua empregada para falar com ele.)

EMPREGADA

Senhor Nuno… Deseja mais alguma coisa?

NUNO RIBEIRO

Não, muito obrigado.

EMPREGADA

Está lá fora, o Gonçalo, que precisa de falar consigo.

NUNO RIBEIRO

(Fica incomodado) O que é que esse marmelo quer?

EMPREGADA

Não sei, ao certo. Mas, ele disse-me que queria falar


consigo, sobre assuntos de máxima urgência.

NUNO RIBEIRO

Urgência, urgência… Ele só tem urgência, quando vai ao


pito…

(A empregada do Nuno fica chocada com aquilo que ele disse.


Ele tenta remediar a questão.)
“Telemania” – Série I 1º Episódio Página 37

NUNO RIBEIRO

Quer dizer… Quando digo pito, digo… Frangos. Ele compra


frangos. (A empregada ainda não fica convencida) Frangos,
para dar a instituições de solidariedade social.

EMPREGADA

(Fica mais aliviada) Ah bom. Pensei, por momentos, que


estava a falar em pito, no sentido de comer gajas, menino.
(O Nuno fica chocado) Bom, vou chamar o menino Gonçalo.

NUNO RIBEIRO

Mande, mande.

(Ela vai para a porta principal abrir a porta ao Gonçalo.


Ele começa a falar com a empregada.)

GONÇALO MENDONÇA

Posso entrar?

EMPREGADA

Entre, menino, entre.

GONÇALO MENDONÇA

Então, como é que está?

EMPREGADA

Eu estou bem, muito obrigado.

(O Gonçalo caminha para a mesa da sala de jantar. O Nuno


levanta-se para o cumprimentar.)

NUNO RIBEIRO

Então, como está isso?

GONÇALO MENDONÇA
“Telemania” – Série I 1º Episódio Página 38

Vai indo. Eu só tenho tido problemas…

NUNO RIBEIRO

(Eles sentam-se à mesa) O que se passa contigo?

GONÇALO MENDONÇA

Olha, a minha mulher já não me dá mais prazer…

NUNO RIBEIRO

Então, é que por isso que, andas mais ao pito…

GONÇALO MENDONÇA

Nada disso… Eu já ia ao pito, antes de me casar com ela…

NUNO RIBEIRO

Mas, afinal, o que se passa com a tua mulher?

GONÇALO MENDONÇA

Ela já não dá fogo. Já não arde dentro de mim.

NUNO RIBEIRO

Não arde?

GONÇALO MENDONÇA

Nada. Nem sequer faz faísca…

NUNO RIBEIRO

Então, não te preocupes. Que ela precisa de recarregar


baterias…

GONÇALO MENDONÇA

Não é nada disso. Quando vamos iniciar a prática sexual,


ela diz que está cansada.

NUNO RIBEIRO

(Fica estranho com a reacção da mulher dele) Cansada? De


não fazer nada?

GONÇALO MENDONÇA

Até parece… Ela anda sempre em actividade.


“Telemania” – Série I 1º Episódio Página 39

NUNO RIBEIRO

Então, não anda? A fazer compras, a ir para o ginásio, a


tomar o chá das 5 com as amigas…

(Entretanto, aparece a mulher do Nuno. Ela começa a


cumprimentar o marido.)

JOANA RIBEIRO

Então, como é que está, o meu querido marido?

NUNO RIBEIRO

Estou, minha querida. E você?

JOANA RIBEIRO

Dormi muito mal, hoje… (Ela vê o Gonçalo e cumprimenta-o)


Então Gonçalo, como é que está?

GONÇALO MENDONÇA

Vai indo… Olha, Nuno, já estamos atrasados.

NUNO RIBEIRO

Vamos embora, vamos. (O Nuno e o Gonçalo levantam-se. O


Nuno dá um beijo à Joana) Querida, até logo.

JOANA RIBEIRO

Até logo, querido. (Fala para o Gonçalo) Até logo, Gonçalo.

GONÇALO MENDONÇA

Adeus, Joana.

(O Nuno e o Gonçalo saem de casa. Entretanto, a Joana pega


no telemóvel para fazer uma chamada.)

JOANA RIBEIRO

Estou sim? És tu, meu lindo? Olha, temos que tratar do


nosso problema. E depressa! (Há um compasso de espera) Sim,
“Telemania” – Série I 1º Episódio Página 40

claro que sim. É hoje, o jantar de aniversário dele. (Há


outro compasso de espera) Bem, bem, bem. Se pensas que,
esta tarde, vou dar aos pulinhos contigo na cama, estás
muito enganado. Hoje nada pode falhar. (Há um grande
compasso de espera) Sabe, é que hoje, o Nuno vai ter um
final de jantar completamente infeliz.

(A Joana começa-se a rir. Entretanto, a Matilde estava a


caminhar, em direcção à empresa, onde viria a realizar a
entrevista para a proposta de trabalho. Minutos depois, um
carro passa por uma poça de lama e molha a Matilde. Depois,
o Nuno saí do carro, para ver, se a rapariga estava bem.)

NUNO RIBEIRO

Peço desculpa. É que estava com pressa de estacionar e, nem


reparei que estava uma poça de água…

MATILDE COSTA

(Dá uma estalada ao Nuno) Você pensa que chega aqui e, que
tudo se vai resolver com dinheiro sujo, está muito
enganado…

NUNO RIBEIRO

(Fica assustado com a reacção dela) Mas, mas…

MATILDE COSTA

(Dá outra estalada ao Nuno) Você pensa que chega aqui e que
me conquista, com um convite de um café, está muito
enganado…

NUNO RIBEIRO

(Continua assustado) Mas…

MATILDE COSTA

(Dá mais uma estalada ao Nuno) Se pensa que isto vai ficar
assim está muito enganado…

NUNO RIBEIRO

(Fala, mas um pouco assustado) Mas, o que eu ia dizer era


que, aceitava secar a roupa na minha empresa…
“Telemania” – Série I 1º Episódio Página 41

MATILDE COSTA

(Dá outra estalada ao Nuno) Na sua empresa?

NUNO RIBEIRO

(Fica irritado com as estaladas da Matilde) Sim, na minha


empresa…

MATILDE COSTA

(Dá a última estalada ao Nuno) Aonde fica a sua empresa?

NUNO RIBEIRO

(Começa a falar, irritadíssimo) Você importa-se de me parar


de dar estaladas? (Começa a falar mais calmamente) Sim, a
minha empresa… É já aqui.

MATILDE COSTA

É mesmo aqui? Então, você é que é o patrão da empresa?

NUNO RIBEIRO

Sim, sou.

GONÇALO MENDONÇA

(Sai do carro e começa a falar para o Nuno) Então, o que


estás a fazer? A conversar com uma sem-abrigo?

(Aparece a parte final da mini-novela.)

VOZ-OFF

E agora, qual será o negócio que o Fábio e o Tiago tem em


mão? Será que Matilde irá conseguir o emprego, depois de
ter dado tantas estaladas ao Nuno? E será que a Joana vai
conseguir levar o seu plano avante? Não perca o próximo
episódio da sua nova mini-novela humorística, “Eu Sou a
Outra”, porque nós também não!
“Telemania” – Série I 1º Episódio Página 42

INSPECTOR ZÉ QUIM GADGET – SEGUNDA PARTE

(Começa a mostrar o genérico do „Inspector Zé Quim Gadget‟,


mostrando as imagens das ruas de Lisboa à noite.)

VOZ-OFF

Numa altura, onde as ruas continuam cada vez mais


perigosas, vai aparecer um inspector capaz de resolver
todos os crimes. E todas as mulheres, que lhe aparecerem à
frente… É o homem capaz de enfrentar os maiores perigos,
que existem na sociedade. Ele é valente. Ele é forte. Ele é
trapalhão. Ele chama-se Gadget. Inspector Zé Quim Gadget.

Música do Genérico – Versão Original Francesa do „Inspector


Gadget‟, com adaptação da letra

Ele é trapalhão!

(Inspector Zé Quim Gadget)

Pensa que é o maior…

(Uh Uuuh!)

Mas ele é parvalhão!

(Inspector Zé Quim Gadget)

Ele com as gajas

(Inspector Zé Quim Gadget)

Leva sempre na peida…

(Uh Uuuh!)

Mas ele a investigar…

(Inspector Zé Quim Gadget)

É uma grande merdaa!


“Telemania” – Série I 1º Episódio Página 43

(Uh Uuuh!)

Ele é um polícia

(Gadget!)

Sempre atento

(Uh Uuuh!)

A resolver casos

(Gadget!)

É um peneirento!

Ele é um machão

(Inspector Zé Quim Gadget)

Porque na Pê Jota

(Uh Uuuh!)

Mostra sempre às gajas

(Inspector Zé Quim Gadget)

A sua pandeiretaa!

(INSTRUMENTAL)

(Uh Uuuh!)

Mas, mesmo assim

(Gadget!)

Ele é o herói

(Uh Uuuh!)

Para manter a forma

(Gadget!)

Come que nem um boi!


“Telemania” – Série I 1º Episódio Página 44

(Aparece uma imagem geral da Polícia Judiciária. A seguir


aparece o departamento, onde está o Inspector Gadget a
trabalhar, mais o seu ajudante.)

ZÉ QUIM GADGET

Então, o que é que temos em mão?

BARROSO

Temos um caso meio perdido.

ZÉ QUIM GADGET

Meio perdido? Como assim?

BARROSO

É um assassino em série. Parece que mataram um gajo, um


drogado, num bairro social…

ZÉ QUIM GADGET

O que se sucedeu?

BARROSO

Esse assassino deu um tiro nos… Nos…

ZÉ QUIM GADGET

Nos… quê?

BARROSO

Nos… Nos tomates.

ZÉ QUIM GADGET

Nos tomates?

BARROSO

Sim, nos tomates.

ZÉ QUIM GADGET
“Telemania” – Série I 1º Episódio Página 45

A sério? Nos tomates?

BARROSO

(Começa a ficar irritado) Sim, nos tomates, chefe…

ZÉ QUIM GADGET

Então, foi praticamente capado…

BARROSO

Sim, chefe.

ZÉ QUIM GAGDET

Capado?

BARROSO

(Começa a ficar cada vez mais irritado) Sim, chefe…

ZÉ QUIM GADGET

Mas… foi mesmo capado?

BARROSO

(Fica furioso e bate com as mãos na mesa, para expressar a


sua irritação) SIM, CHEFE, CAPADOOO!

ZÉ QUIM GADGET

Tem calma, pode ser? (Fica com medo do Barroso. Há um


compasso de espera e ele começa a falar de novo) Capado,
num bairro social? Mas, isso está OUT…

BARROSO

(Fica surpreendido) OUT?

ZÉ QUIM GAGDET

Sim, está OUT. Agora o que está IN, é morrer todo capado,
com um saca-rolhas, em Nova Iorque…

(Entretanto, aparece o director-adjunto para dar os


resultados das impressões digitais e com um mandado de
captura.)
“Telemania” – Série I 1º Episódio Página 46

DIRECTOR-ADJUNTO

Olhem, temos um mandado de captura.

ZÉ QUIM GADGET

Já? Então, porquê?

DIRECTOR-ADJUNTO

Porquê falta pouco tempo para acabar com o programa…

BARROSO

E temos que ir à casa de quem?

DIRECTOR-ADJUNTO

Vamos à casa da senhora, Carla Monteiro. Saíram as


impressões digitais e confirmamos que foi essa senhora que
matou o gajo…

BARROSO

Então, de que é que estamos à espera? Vamos embora!

(O Barroso e o Zé Quim Gadget levantam-se e vestem os


casacos. Sai primeiro do departamento, o director-adjunto.
Depois, o Zé Quim Gadget começa a sair da porta, mas bate
com a cabeça na parede lateral da porta. O Barroso a
seguir, escorrega e caí em cima do Zé Quim Gadget. Depois,
os dois levantam-se e saem do departamento. Descem as
escadas e tentam entrar no carro. O Zé Quim Gadget entra
primeiro no carro, liga o carro e começa a andar com ele. O
Barroso não consegue entrar no carro e começa a correr,
todo doido, atrás dele. Chegam à casa da Carla Monteiro, os
dois já dentro do carro. Quando chegaram à casa dela, a
Carla estava a sair de casa, para fazer o seu jogging. Eles
saem do carro e começam a falar com ela.)

BARROSO

(Fala para a Carla) Carla Monteiro?

CARLA MONTEIRO

Sim, o que se passa?


“Telemania” – Série I 1º Episódio Página 47

ZÉ QUIM GADGET

(Mostra o distintivo) Polícia Judiciária. Está presa, pelo


assassinato do drogado, ali na esquina do bairro social.
(Mete o distintivo, dentro do bolso esquerdo do casaco)

CARLA MONTEIRO

Eu sabia que um dia, isto ia chegar…

ZÉ QUIM GADGET

Normal! Este programa tem 50 minutos e daqui a nada, vamos


exceder o tempo… Portanto, começa a confessar, porque é que
mataste o gajo…

CARLA MONTEIRO

Eu matei o drogado… Porque ele me fornecia, material puro e


duro, como toda a gente que fuma marijuana gosta…

BARROSO

Há quanto tempo é que fuma marijuana?

CARLA MONTEIRO

Há 4 anos.

(Entretanto, aparece o Valente da Silva.)

VALENTE DA SILVA

Mas, o que é isto, pá? Mas, que pouca vergonha é esta, pá?
Então, nós é que somos os exemplos para os putos e andam
aqui a falar em marijuana? Essa merda que faz mal como
tudo, pá… (Desaparece por uns momentos) Ainda por cima, os
putos, pá, precisam de ter noções daquilo que faz bem e
daquilo que faz mal e andam aqui, a falar de uma coisa
bastante perigosa. (Aparece de novo) Quem é que escreveu
isto, pá?

ZÉ QUIM GADGET / ANFITRIÃO

(Fala com medo) Foi eu…

VALENTE DA SILVA
“Telemania” – Série I 1º Episódio Página 48

Normal, o gajo é preto, e basta!

(Desaparece novamente do ecrã. Segundos volta a aparecer,


fazendo uma pergunta aos três protagonistas da cena.)

VALENTE DA SILVA

Alguém tem um charro de marijuana para eu fumar?

MONÓLOGO – TERCEIRA PARTE

(A banda toca uma música de fundo, para fazer a transição


da segunda parte do programa, para a última parte do
monólogo.)

(Começa a falar, pela última vez, o anfitrião do programa.)

ANFITRIÃO

Meus amigos… Foi um prazer ter estado convosco. Marcamos


encontro, para a próxima semana. Muito obrigado. Até para a
semana. Adeus.

(Aparece a ficha técnica do programa.)

COMUNICADO DO PRIMEIRO-MINISTRO – SEGUNDA PARTE

(Aparece novamente o pivô, para falar aos espectadores.)

PIVÔ

E estamos de volta, tal como prometemos e, vamos


rapidamente para São Bento, onde o assessor de imprensa do
“Telemania” – Série I 1º Episódio Página 49

primeiro-ministro vai falar aos portugueses. Não é assim,


Mafalda Garganta?

(A emissão passa para São Bento.)

MAFALDA GARGANTA

É verdade, à última hora, José Sócrates, não pode


comparecer na conferência de imprensa, mas vai falar o seu
assessor de imprensa, que poderá aparecer, à qualquer
instante. (Há um compasso de espera. E momentos depois,
aparece o assessor de imprensa.) E cá está, o assessor de
imprensa, que… (Fica chocada com a pessoa que aparece)
Outra vez, este gajo?

(E quem vai falar é o Valente da Silva.)

VALENTE DA SILVA

Portuguesas e portugueses. Hoje vim fazer um comunicado de


imprensa, em nome do primeiro-ministro. Esta primeira
emissão do programa „Telemania‟ foi um fraco autêntico.
Então, não é que o autor queria fazer uma rábula sobre o
primeiro-ministro, pá? Mas, afinal, pá, isto é a república
da Madeira, porque afinal, aquilo com o Alberto João
Jardim, é a república das bananas… (Há um compasso de
espera) Ou estamos, no Carnaval de Torres Vedras, ou quê?
Para aqueles que ainda não sabem quem eu sou, eu sou o
Valente da Silva, e, eu vou andar em cima de todos vocês,
pá! Porque isto não é assim, pá! Tudo muito bem, que
estamos em liberdade, pá, mas tem que haver respeito pelo
25 de Abril, pá! Pelos valores do 25 de Abril, pá! É que
não se admite, aquilo que se viu hoje, pá! (Há um segundo
compasso de espera) Quintal dos Ranhosos? Mini-novela
humorística? Assassinato em série, com um drogado todo
capado, nos tomates, pá? Para isso, mais-valia, ver o Canal
Parlamento, pá! Que ao menos, morríamos todos… (Há um
pequeno compasso de espera) de tédio! Bom, o que venho aqui
dizer, é uma coisa muito simples. A partir de agora, podem
contar com a minha presença, para controlar aquilo que se
“Telemania” – Série I 1º Episódio Página 50

anda aqui a fazer, em nome da liberdade. A liberdade,


camaradas… É a coisa mais bonita que ganhamos em Portugal,
pá! Vamos lutar todos, pelos trabalhadores, pá! Os
trabalhadores merecem o nosso devido respeito!

(Começa a gritar: „25 de Abril… Sempre!‟. E, os restantes


jornalistas, menos a Mafalda Garganta, também começam a
gritar o hino e juntam-se ao Valente da Silva. Momentos
depois, a Mafalda Garganta, aparece de novo, para terminar
a emissão.)

MAFALDA GARGANTA

E daqui é tudo. Vamos terminar este directo, com esta


revolução, aqui no São Bento.

(Passa a emissão para o pivô.)

PIVÔ

E terminamos assim, a nossa emissão especial de informação,


já a seguir, teremos na nossa emissão, o filme erótico,
para maiores de 18 anos, “Fui enrrabada por dois paus de
Cabinda e agora não sei o que fazer com eles”. Boa noite.

(Aparece o genérico final do programa.)

FIM DO 1º EPISÓDIO

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