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O Feminino em Carne Trêmula de Pedro Almodóvar

Caio Vilanova
Resumo
A proposta do presente artigo é refletir acerca da interpretação do cineasta espanhol Pedro
Almodóvar e sua representação do feminino em uma Espanha pós-franquista e repressora,
para tanto, utilizaremos o filme Carne trêmula como objeto de referência para essa análise.
Almodóvar se comunica com um amplo universo “marginalizado” em seus filmes, os
homossexuais masculinos e femininos, os bissexuais, os travestis e outros, principalmente nos
seus primeiros filmes, incluindo o gênero feminino e sua leitura sobre o lugar desse grupo na
sociedade da Espanha pós-franquista, onde o mesmo demonstra o processo de construção
desses grupos em um espaço vazio, possibilitado por uma Espanha livre e sem censura, onde
o movimento cultural chamado “la movida madrileña”, compõe o pano de fundo de seus
primeiros filmes.
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Ao se debruçar sobre um objeto para compreender uma das muitas possibilidades de
um trabalho cinematográfico é compreender seu contexto e meio de criação, quem foram seus
mentores e suas inspirações, como eram suas relações com o mundo. Detalhes que fazem
parte dessa compreensão, mas, que não são dispensáveis. Pois, aqui se faz fundamental um
breve entendimento da situação política em que a Espanha se encontrava, debatendo-se para
se reencontrar em país livre.
Com a morte do ditador Francisco Franco, em novembro de 1975, se inicia em
Espanha um processo de transição política, do autoritarismo para a democracia utilizando o
sistema de uma monarquia parlamentar, onde a sociedade espanhola se percebe livre, sem
medo e sem censura. Sem as amarras do Estado e da Igreja, que durante esse período possuiu
grande influência em todo o país. Todo o sistema que compunha a estrutura responsável pela
censura, foi sendo paulatinamente desmantelado.
No tocante a censura cinematográfica em novembro de 1977, já não mais vigorava, já
em fevereiro de 1976, parte dessas censuras já haviam sido derrubadas e a liberdade de
criação intelectual e artística, só foi oficialmente reconhecida em dezembro de 1978, com a
aprovação da Carta Magna. Nos anos seguintes houve uma grande explosão de criações no
meio cultural, a liberação tornou oportuno o surgimento de muitas variedades de gêneros e
estilos, que não era permitido pela conjuntura anterior, foi o momento de maior
multiplicidade temática do cinema espanhol. Filmes espanhóis e estrangeiros, antes
censurados, agora estreavam nos cinemas, foram produzidos temáticas antes nunca
exploradas, e os documentários surgiram para mostrar o cotiado de uma sociedade que não se
conhecia. Carecia, porém, de qualidade técnica e estética, que só seria aperfeiçoada nos anos
90.
Su obra se ubica en un periodo en el que el cine español busca su identidad, tras una
larga etapa que se remonta al final de la Guerra Civil y de la que todavía no ha
podido desligarse por completo. Si bien es cierto que desde los años sesenta existe
una corriente en la que la cinematografía española ha iniciado un proceso de cambio
y distanciamiento con el antiguo régimen, su consolidación no puede completarse
hasta la llegada de la democracia y la abolición de la censura (BAZO, 2008, p. 283)

O cinema que nascia no pós-franquismo, estava interessado em revelar os flagelos de


uma sociedade que a décadas viveu em opressão, mostrar as mazelas sociais ignoradas e
causadas pelo Estado, até então. O momento de transição para a democracia em muito
significou para os artistas como um todo, entre 1975 e 1986, foram produzidos um grande
número de filmes com a proposta de descortinar o escondido, anos em que os assuntos
políticos ainda estavam latentes na memória da população, incluindo o próprio processo de
transição política, que também foi abordado por alguns cineastas. Esse período foi de grande
importância para os cineastas, muitos utilizaram seus filmes como uma maneira não só de
criticar a sociedade em que estavam inseridos, mas também todo contexto externo que
colaborou para sua formação.
As sequelas do autoritarismo de Franco foram muitas, estas foram retratadas por
diversos cineastas espanhóis nos anos seguintes ao fim de seu regime, esses cineastas faziam
inúmeras referências para retratar sua sociedade e uma das mais utilizadas foi o sexo, a
sexualidade foi muito utilizada por cineastas nesse período.
Os jovens espanhóis iniciaram um movimento profundamente ligado a liberdade de
expressão, afrontoso para uma sociedade tão conservadora e intrinsicamente ligada a religião,
chamado “la movida madrileña”, que segundo especialistas durou, aproximadamente, de
1977 a 1983. “La movida” tem a ver com a necessidade de mostrar, não somente para a
Espanha como para todo o mundo fora da Espanha, o que havia sido escondido e suprimido
pelo regime de Franco, um movimento cultural e político, que nasceu em um universo pop
universal livre, mas, que foi gerado em uma Espanha oprimida e sufocada pelo autoritarismo,
inserido nesse contexto, estava Pedro Almodóvar, que iniciava sua brilhante carreira.
No começo dos anos oitenta, os intelectuais e artistas aderem a “la movida”, e a
reformulam como movimento estético e cultural, para alguns críticos o movimento expressa
dois opostos as festas e a visão desiludida e pessimista de mundo. Uma forma de decadência
da sociedade, que se envolviam em muita violência e drogas, algo muito retratado por
Almodóvar, os jovens buscavam o máximo de caos possível, sempre associado as drogas,
pois é impossível entender a “la movida” sem entender a importância das drogas
(ESCUDEIRO, 1998).
...“la movida” se caracteriza por su oposición a las expresiones culturales de “la
modernidad”: al rechazo de todo compromiso político y transcendental, se suma la
exaltación de los géneres populares e, incluso, marginales, con la consiguiente
búsqueda de nuevas formas de expresión en el cine, la música, los cómics, la
fotografía, la pintura, la moda y el diseño (ESCUDERO, 1998, p. 147).
Essa nova forma de expressão trazia em seu bojo os contrastes sociais de que
Almodóvar tanto se apropria em suas produções cinematográficas, pois o movimente em sua
origem é marginal e rebelde. Como já foi dito, segundo Escudeiro, não se é possível entender
o movimento “la movida” sem considerar a importância das drogas nesse universo, estas
faziam parte do movimento, o movimento não existia sem a drogas e Almodóvar evidência
isso em seus filmes, através de seus personagens, que de alguma forma estavam envolvidos
em “la movida”. O movimento teve grande influência nas produções artísticas do período e
mesmo anos depois, ainda se via seus traços nas expressões culturais, fazendo críticas as
problemáticas sociais, que foram herdados de uma Espanha patriarcal e dominadora, traços
visíveis nos filmes de Almodóvar.
A cultura espanhola se articula constantemente entre o sagrado e o profano, sempre
presente nos trabalhos de seus artistas, colocando as grandes contradições entre os dogmas
religiosos e os ímpetos das paixões humanas, perceptíveis nas visões dos cineastas espanhóis
quando representam as paixões de seus personagens. O cinema reelabora essas
características, e Almodóvar as expressa de maneira a destacar, principalmente em seus
primeiros filmes, as grandes complexidades amorosas dos mesmos, por vezes, até fazendo
alusões ao estado político e social de Espanha. Todavia, o cinema espanhol, enquanto
submetido ao regime de Franco, “voltou-se mais para a educação moralizante e para as
comédias sentimentais que alienavam o povo dos reais problemas que a Espanha enfrentava”
(SILVA,2009).
Na década de 1970 surgiu uma corrente cinematográfica que rompia com os
paradigmas impostos pelo regime e pela censura, distanciando-se do controle do Estado,
corrente essa liderada principalmente por Luis Buñuel e Carlos Saura, que por sua vez,
exerceram muito influência na obra de Almodóvar.
A arte espanhola da década de 1980, esteve envolto por muita euforia e liberdade,
após, os anos de regime os tabus estabelecidos pelo Estado foram se dissolvendo e a
juventude queria esquecer o seu passado, porém, não sabiam como lidar com um presente tão
dinâmico, onde tudo estava sempre em constante modificação. O cinema, por ser uma das
maneiras de expressão artística em maior destaque, demonstra algumas características desse
período.
Até o momento a trajetória cinematográfica de Almodóvar ainda está em construção,
o que dificulta uma análise que nos permita definir exatamente quais foram suas fazes. Mas,
até o atual momento, foram produzidos cerca de 21 filmes, que no geral nos apresentam
peculiaridades e lembranças de sua vida e particularidades de sua sociedade. Uma breve
retrospectiva de sua produção nos ajudará a entender melhor esse cineasta, que em muito
contribui para a história do cinema.
Seu primeiro longa foi Pepi, Luci, Bom y otras chicas de montón (1980), o filme
questiona os clássicos comportamentos sociais e urbanos da sociedade da época. Dois anos
depois do lançamento de seu primeiro longa, em 1982, lança Laberinto de Passiones, onde
ocorre um inesperado amor entre um jovem ninfomaníaco e um árabe homossexual, em uma
Madri divertida e selvagem.
Em 1983, Entre Tinieblas é lançado, onde a cocaína, os bordéis e outros hábitos
incompatíveis com o contexto cotidiano de freiras católicas nos é apresentado. Já em 1984,
¿Qué he hecho yo para merecer esto?, é lançado, uma divertida diarista viciada em calmantes
nos revela seu cotidiano e a todo a trama, se questionada sobre suas razões para se preocupar
com a família. Seu quinto longa é lançado em 1986, Matador, um toureiro, precocemente
aposentado se apaixona por uma advogada criminalista que admira a arte dos matadores.
La ley del deseo, de 1987, gira em torno de um diretor de teatro homossexual e seus
dilemas ao criar uma peça, para a sua irmã transsexual, que muda de sexo para manter um
caso incestuoso com um pai. Mujeres al borde de un ataque de nervios de 1988, foi seu
sétimo filme, considerado um dos seus trabalhos de maior prestígio até os dias atuais. Nele
conhecemos Pepe, que vê a sua casa ser invadida pela mulher e filho do seu amante, pela
namorada de seu filho e por uma amiga que está amorosamente envolvida por um terrorista,
filme em que os valores morais e estéticos da classe média são mais uma vez, contestados
pelo seu criador.
Nos anos seguintes ele lança ¡Átame! de 1990, Tacones lejanos de 1991, Kika em
1993, La flor de mi segredo em 1995, Carne Trémula de 1997. No primeiro, nos é
apresentado um jovem que após receber alta de um hospital psiquiátrico deseja reencontrar
uma atriz de filmes pornográficos com quem passara uma noite no passado. Como a jovem
não reage da maneira esperada, ele a amarra em uma cama, e decide solta-la somente quando
a mesma, aprender a amá-lo. O segundo mostra a tentativa de reconciliação de Becky com a
filha que a muitos anos abandonou, sendo que descobrem que dividem o mesmo amante. Em
Kika, narra a história de uma maquiadora que é chamada para maquiar um defunto, todavia, a
mesma descobre que o defunto está vivo e partir de então, vivem uma instigante história de
amor e intrigas. La flor de mi segredo narra a trajetória de uma escritora que ganha a vida
escrevendo romances de pouca qualidade, mas de muito alcance, junto com seus dilemas.
Finalmente chegamos a Carne Trêmula, objeto desse trabalho que discutiremos mais a fundo,
mais para frente. Victor, jovem que vai preso injustamente e após sua estadia na cadeia, sai
para encontrar Elena, mulher com quem teve um caso ocasional e que reluta em vê-lo.
Em 1999 é lançado Todo Sobre Mi Madre, que é considerado a grande obra prima do
diretor e que ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro. Obra essa, que usa e abusa dos
excessos da cidade de Madri, a Barcelona que nos é apresentada é ados “marginalizados”, a
história de Manuela, mãe que tem o filho morto no dia de seu aniversário, resolve ir em busco
do pai seu filho, Lola, um travesti. Aqui os estereótipos de gênero e sexualidade
desconstroem, a trama traz uma freia grávida e com AIDS, assim como um travesti, um
personagem único.
O cineasta nos apresenta em 2002 Hable Com Ella, de 2002, e La Mala Educación, de
2004, filmes com cenas fortes e com influências diversas, totalmente destoantes dos
primeiros filmes de Almodóvar. O primeiro conta a história de Benigno, enfermeiro
apaixonado por uma jovem em coma e sua amizade com Marco, amante de uma toureira, que
após um acidente, também entra em coma. Em La Mala Educación, Almodóvar nos traz um
filme dentre de um filme, onde, onde nos mostra a trajetória de um cineasta, e seu retorno a
criação junto com suas memórias de infância no colégio.
Depois temos Volver de 2006, e Abrazos Rotos de 2009. Em Volver a figura feminina
é idealizada e em Abrazos Rotos a figura masculina mais interessante de sua filmografia, até
então. Em seguida temos La Piel Que Habito, um suspense que aborda a violência física,
emocional e a transição de sexo. Los Amantes Pasajeros, de 2013, é uma comédia
completamente diferente dos demais filmes da trajetória do cineasta, demostrando a mudança
na arte do mesmo, o filme retrata crises e confissões em um avião em pane, onde somente os
comissários e os passageiros da classe executiva não estão dopados, decisão tomada para não
gerar pânico a bordo. Temos também Julieta de 2016, onde Almodóvar adentra novamente
nas dúvidas e questionamentos de seus personagens. E por fim, temos Dolor y Gloria,
lançado em 2019, onde Almodóvar intencionar fazer uma autorreflexão de sua própria
trajetória e carreia.
Não tivemos pretensão de nos deter a descrições criteriosas de cada filme feito por
Almodóvar, por razões de tempo e espaço, apesar de sua obra ser digna de tal esforço, mas
sim, traçar um panorama de sua trajetória no cinema, a fim de resumidamente demostrar as
mudanças ocorridas em sua carreira como criador e cineasta. Apesar de alguns estudiosos
sobre o mesmo afirmarem que seus personagens são homogêneos e se completam, talvez,
isso não corresponda a realidade, se for levado em consideração os filmes de sua mais recente
fase, onde o humor crítico e ácido se articula com a melancolia de sua vida.
Como já foi dito o filme destacado para esse trabalho é Carne Trêmula (1997), esta
trama pode ser dividida em três partes: do trabalho de parto de Isabel – interpretada por
Penélope Cruz – que se inicia em um bordel, mas que termina em um ônibus a caminho de
um hospital, até o momento em que a criança é apresentada para toda Madri, período que
ocorre em 1970; a segunda parte inicia-se quando Victor – interpretado por Liberto Rabal –
vai ao encontro de Elena – interpretada por Francesca Neri – com quem teve um encontro
amoroso e noites antes, em sua obsessão pela mesma se envolve em briga corporal que
terminar por deixar um policial paraplégico e deixá-lo preso por anos na cadeia, onde dois
anos depois, enquanto ainda estava preso, descobre que Elena tinha se casado com David –
interpretado por Javier Bardem – o policial que ficou paraplégico no ocorrido; e na terceira
parte Victor sai da prisão formado em pedagogia e procura Elena, com quem ainda intenciona
se relacionar.
Como já foi dito “la movida” possui uma grande influência nos trabalhos de
Almodóvar, inclusive na sua representação do feminino, da mulher que estava imersa no
movimento, algo possível de ser observado logo na segunda parte do filme, quando Elena
utiliza drogas e demostra enorme irritação por não haver mais, uma característica clara do
movimento segundo Escudeiro (1998) “...se produce ahora uma trivialización sin precedentes
em su uso.” O que evidencia o que já foi dito, após o fim do longo regime de Franco a
sociedade espanhola se percebeu necessitada de usufruir essa liberdade e não havia modelo a
ser seguido, era um enorme espaço vazio que necessitava ser preenchido, todavia, o
movimento não é o objeto, mas tratar desde de forma sucinta se faz importante para
compreender de maneira nítida o contexto inusitado em que se encontrava Elena, mulher que
que aqui trataremos. Esta era filha de um cônsul, alguém de destaque para a sociedade
madrilenha, mas que não cumpria com os arquétipos que lhe foram impostos. Almodóvar, em
certo momento, ainda na segunda parte do filme dá um close da câmera em sua foto quando
criança, com uma roupa religiosa e em posição de oração, vestida de branco. Fazendo alusão
a Espanha conservadora em que ela foi criada, em uma Espanha que as mulheres,
principalmente de famílias ilustres, deveriam cumprir determinados padrões e obedecer
determinados dogmas, mas não ela, não a Elena, que podemos utilizar como modelo para
toda uma sociedade em que as mulheres estavam rompendo os padrões tradicionalistas que
lhes foi imposto pelo regime de Franco.
Almodóvar nos apresenta em seus filmes mulheres de variadas origens e em variados
contextos: cafetinas, prostitutas, donas de casa, jovens desamparadas, travestis, dentre outras.
O que torna essas mulheres interessantes é sua trajetória repleta de obstáculos. Suas
trajetórias estão repletas de superações e nuances e romances. Mulheres presas a
relacionamentos opressores que por vezes conseguem sair e por vezes não.
Paralelo a isso, acho importante acrescentar resumidamente que existem pesquisas
científicas produzidas há anos com objetivo de analisar essas manifestações da imagem do
feminino no cinema, ou mesmo, as representações de violência vivenciadas exclusivamente
pelas mulheres, no cinema. Existem eventos organizados por mulheres que atuam no cinema
ou o estudam.

As teóricas feministas do cinema não falavam de guetos, nos idos de 1970:


dialogavam com as principais correntes da sociologia, da psicanálise, da semiótica.
Integravam o campo recém-constituído dos “estudos de cinema”, que, desde
meados dos anos de 1960, fundamentavam os primeiros cursos acadêmicos
estadunidenses (CAVALCANTE, 2019, p. 334).

Quanto à prostituição Almodóvar tem muita sensibilidade ao abordar o tema em seus


personagens subversivos, a prostituta serve de símbolo da desordem social, da imoralidade e
da doença (SOHIET, 2019, p. 617), porém, o tema por si possui suas próprias nuances e
problemáticas. Em Tudo sobre minha Mãe, o cineasta coloca a prostituição como alva de
violências e abusos físicos e morais, já que frequentemente clientes batem nelas e ou são
inferiorizadas e rejeitadas por serem prostitutas, assim como, grupo de risco em relação a
AIDS, no caso desse filme em específico, o foco são as prostitutas travestis, já em Carne
Tremula, a abordagem está sobre uma mulher prostituta. Mulheres e prostituição em si
mesmo já trazem questões e reflexões, no cinema ainda mais, já que filmes são expressões de
arte e que trazem posicionamento político e questionamento social e se posto um personagem
feminino que se prostitui, gera um filho onde a paternidade não é reconhecida, morre se
prostituindo e vítima de AIDS, não é possível ignorar que a prostituição da mulher é um tema
que sozinho já sustenta muitas páginas de escrita, mas aqui, nos serve como tema de uma leve
digressão que não poderia ser ignorado.

Via de regra, a prostituição é apresentada como “a mais velha profissão do mundo”,


o que contribui para evitar qualquer questionamento, concorrendo para aceitá-la
como um fatalismo, naturalizando a sua existência através dos tempos. Esta, porém,
é uma visão anacrônica, pois práticas da antiguidade oriental, envolvendo rituais
simbólicos de renovação da vida – união sagrada entre a grande sacerdotisa e o
futuro Rei ou entre uma sacerdotisa e o visitante do templo – são interpretadas, a
partir de valores do presente, ou seja, como de sexo mercantilizado. Na realidade, a
forma como ela se apresenta em nossos dias, está ligada à urbanização massiva e à
sociedade de mercado. Ao longo desse tempo, os Estados têm oscilado entre sua
proibição ou sua regulamentação e, via de regra, o peso do pecado tem incidido
sobre as prostitutas, enclausuradas, estigmatizadas, desprezadas (SOHIET, 2019, p.
617).

Em Carne Trêmula, podemos analisar a trajetória de duas personagens Elena e Clara –


interpretada por Ângela Molina – que suporta e se sobrepõe a dor pelo amor que sente de
forma dúbia entre o esposo e o amante, Victor. Claramente Almodóvar contesta os padrões
familiares e tradicionais das famílias conservadoras ao retratar Clara, que é casada com um
policial, aquele que representa a lei e é encarregado de cumpri-la, que a espanca como
punição de suas supostas traições e a mesma aceita, sem conseguir sair do enclausuramento
que o seu relacionamento abusivo lhe impõe. Mas a violência e o uso compulsório por drogas
não são a única característica, possível de ser observada. Clara é uma mulher fina e elegante e
a Elena da terceira fase do filme, também o é.

Almodóvar muestra una clara predilección por la mujer que suporta el dolor y se
sobrepone a él. El universo feminino está compuesto por personajes atractivos y
elegantes, capaces de entregarse a una poderosa pasión sin que el miedo las
paralice; seres valientes ante la vida y ante uma sociedad puritana cuya intolerancia
recae pesadamente sobre sus hombros (BAZO, 2008, p. 287).

Pensar em Almodóvar é pensar no feminino, não o feminino frágil ou afetado, mas no


forte e emancipador, a figura da mulher nos filmes de Almodóvar sempre está associada a
força e superação, sem perder a sua sensualidade, estas sempre estão em busca de algo,
prontas para conquistar o que lhes é de direito, todavia, nem sempre as mesmas conseguem
um final feliz. A cor vermelha muita associada ao feminino e a sensualidade é muito utilizada
por Almodóvar em seus filmes como forma de fazer referência a sua própria cultura, que em
muita valoriza a sensualidade feminina, mas em contra partida a oprime. As mulheres
representadas por Almodóvar sempre se purificam e se renovam, lidam com violências,
abusos e abandono, a todo tempo procurando se encaixar, sem serem julgadas ou presas a
costumes e deveres. Porém, a sexualidade é algo sempre presente em seus trabalhos, seus
personagens lidam com as vicissitudes da vida gozando ao máximo seus amores, lidando com
adversidades que por vezes impossibilitam suas realizações, mas isso é Almodóvar, o mesmo
retrata a vida cotidiana de maneira mais íntima e sútil possível. E não há maneira de retratar o
cotidiano para o mesmo, sem retratar a mulher e sua feminilidade. O mesmo consegue utilizar
os dramas de suas personagens para articular toda uma trama que envolve inúmeros outros
personagens e contextos, sempre com algum fundo social que acha importante colocar de
forma provocadora ou não.
O diretor em muito reluta ao retratar o período franquista, segundo o mesmo, é uma
época para ser esquecida e superada, todavia, em seus filmes sempre existem traços desse
passado sombrio em uma sociedade pós-Franco. Carne Trêmula se inicia em 1970, quando
Franco ainda estava no comando do país, o filme se inicia com mulheres, uma prostituta
grávida e sua cafetina, pedindo ajuda em uma Madri vazia pelo toque de recolher, onde não
havia socorro, o último ônibus que passa se nega a ajudar, só o faz por meio de chantagem.
Uma clara maneira de Almodóvar de demostrar como era desolador viver em uma Espanha
que não ajuda, que só havia regras e censuras, onde a liberdade de prestar socorro poderia ser
um risco a ser cobrado posteriormente, mesmo que esse não tenha sido um fato na história. E
duas mulheres que estão a margem dessa sociedade pudica, duas prostitutas, é que
protagonizam esse início.
Uma característica interessante de Almodóvar é sua referência as grandes divas do
cinema clássico Hollywoodiano dos anos 40 e 50, uma herança muito marcante em suas
obras que em muito tem a ver com sua representação do feminino, junto com a presença das
grandes estrelas desse cinema que ele sempre se fez fiel. As divas que Almodóvar retrata são
sempre de temperamento forte, carentes e implacáveis para o que querem algo visível em
seus filmes. As mulheres de Almodóvar são mulheres modernas e contemporâneas, vivem em
grandes apartamentos e desfrutam de trabalhos liberais (BAZO,2008).
Em Carne Trêmula, Isabel – interpretada por Penélope Cruz - é uma prostituta
grávida, que vive em um bordel, aparentemente comandado pela cafetina – interpretada por
Pilar Bardem – que ajuda a socorrer Isabel em momento onde a mesma está em trabalho de
parto e não há quem lhes ajude. A mesma se arruma e desce para pegar um ônibus que as
levar para o hospital, em um horário onde não circula mais transportes coletivos. O que
podemos destacar da cena, que ocorre na primeira parte do filme, é que Centro, a cafetina, faz
de tudo para poder ajudar à amiga, até mesmo se ajoelhar em frente ao ônibus que não queria
parar para a mesma. As mulheres dos filmes de Almodóvar tendem a se unir por propósitos e
ideais, mesmo que a em determinados momentos sejam rivais. No mesmo filme, já em sua
última parte, Clara desiste de seu casamento abusivo para viver com o seu amante Victor,
porém o mesmo havia rompido com o relacionamento, Clara descobre que ele está envolvido
com Elena, e em momento algum se mostra com raiva de Elena ou amargurada com a
mesma, e sim, consigo mesma.
A maneira como as personagens desse filme fora representada por Almodóvar, no faz
refletir sobre as referências do mesmo sobre o feminino no cinema e em seu cotidiano. Os
personagens masculinos de Almodóvar estão sempre ligados às grandes mulheres ou em
busca das mesmas, em alguns filmes, de maneira até obcecada. Victor, por exemplo, passa
toda a trama, obcecado por Elena, mulher muito à frente de seu tempo, que não se mostrou
obrigada a seguir padrões ou estigmas sociais, porém, quando casada foi fiel ao marido, até o
momento em que reencontra Victor. Este por sua vez, filho de uma prostituta, não desmerece
a mãe, quando vai ao seu túmulo, após os anos em que passou na prisão, ao contrário, tenta
honrar sua imagem, alegando quanto esforço a mesma teve que fazer para poder lhe deixar
algumas pesetas (moeda corrente na época em Espanha). Tal obsessão, também ocorre com
Sancho – interpretado por Pepe Sancho – que é casado com Clara, esposa adultera que vive
um relacionamento abusivo física e emocionalmente com o mesmo, que não aceita o seu
alcoolismo e o seu ciúme doentio, tornando o seu relacionamento doentio e cruel para ambos,
mas o Sancho, incapaz de reconhecer os seus erros e se redimir, culpa Clara pela infelicidade
do relacionamento, a prende, controla e espanca, levando os dois a um fim trágico, onde ele a
mata e depois se suicida, na casa onde ela se relacionava com seu amante, Victor. Clara, pode
ser encarada como a grande regra de uma sociedade conservadora e hipócrita, onde o
adultério masculino pode ser considerado normal, e as surras que podem acorrer
eventualmente ou não, são certamente merecidas.
As mulheres dessa sociedade não têm voz ou direitos, Elena é o nítido oposto disto,
uma mulher que possui a própria voz e vontades, sem se esconder por valores hipócritas, a
cena onde se expõe para seu marido David, que o traiu, é a prova disto. Elena e Clara são
formas que Almodóvar encontra em seu filme de criticar os costumes ainda presentes em sua
sociedade, que se debate entre as paixões cotidianas e os valores morais da Igreja, ainda tão
importante para o país.

A Espanha erotizada, dos espaços abertos, que cultua o banho, o corpo e as festas
laicas, ao se mesclar com a devota, cristã, das procissões e crucifixos, revela a
possibilidade de convivência entre elementos distintos sem enfraquecer nem um
nem outro (SILVA, 2009, p. 10).

Ao se debruçar sobre os filmes de Almodóvar é possível se perceber as referências


que o mesmo faz à própria cultura constantemente, não somente com a religião presente
direta ou indiretamente em seus filmes, por vezes de maneira mais sutil, mas, ainda existente.
A cor vermelha, por exemplo, está sempre em seus filmes, em Carne Trêmula, a cor pode ser
vista em inúmeros momentos, do início ao fim do filme. Seja no cabelo de Centro, ou em seu,
sobretudo, ou em um vestido utilizado por Elena para ir ao trabalho na ONG que patrocina o
diretor sempre encaixa a cor vermelha em seus filmes, muito utilizada para criar um quadro
de passionalidade e desequilíbrio entre os personagens (SILVA, 2009).

O vermelho é a cor que os toureiros usam para enfurecer os touros e induzi-los à


agressão. Almodóvar, como cineasta provocativo que é, sempre buscou a fúria
emocional de seus espectadores, despertando-lhes o lado mais passional. Por meio
de um elemento cultural, a cor vermelha, Almodóvar cria a atmosfera ideal para
ambientar seus filmes (SILVA, 2009, p.12)

Almodóvar nunca está disposto a fazer um discurso neutro, este, sempre pretende
justificar em seus filmes suas escolhas, quase sempre, de maneira crítica e ácida. O mesmo
traz muitos elementos de outros cineastas de gerações anteriores, como Luis Buñuel. Logo no
início da segunda parte do filme Elena assiste ao filme de Buñuel, Ensaios de um Crime,
onde uma governanta morre por uma bala perdida, logo em seguida, ocorre uma briga
corporal entre Elena e Victor pelo porte de uma pistola, guardada no apartamento da mesma,
e mais a frente um disparo deixa um policial, David, paraplégico e coloca Victor na cadeia,
mas não se sabe ainda, quem foi o autor do disparo, Victor ou Sancho com quem brigava no
momento.
Os primeiros filmes de Almodóvar trazem muitos elementos de outros cineastas, o
final da carreira de Luis Buñuel, coincide com o início da de Almodóvar, que faz alusão não
somente a Luis Buñuel, como a Carlos Saura e Bigas Luna, grandes referências para o
cinema espanhol, até hoje estudados e reconhecidos. Almodóvar faz questão em seus
trabalhos de mesclar as melhores características de seus antecessores, buscando dar-lhes a
devida importância, mas também, se utilizar de seus feitos de uma maneira original.

Influido por el cine clásico, Pedro Almodóvar no ha renunciado a su lenguaje, sus


códigos y sus temáticas, sino que se adentra en el modelo y lo rescribe apropiándose
de sus recursos, de su sintaxis y de sus valores sin perder nunca su espíritu creativo
(BAZO, 2008, p.299)

Os seus trabalhos iniciais careciam muito de uma boa qualidade técnica e estética,
algo muito cobrado, há que os padrões hollywoodianos estavam atrelados ao público, mas ao
longo do processo Almodóvar se aproveitou da proximidade que o público já possui com
Hollywood e as suas próprias referências, criando personagem em sintonia com o que ele
almejava e com o que o público queria. E fez isso, sem deixar de ser rebelde e revolucionário,
criando trabalhos marginalizados e nada comuns ou repetitivos. No início de sua carreira,
Almodóvar ainda trazia em seus trabalhos, muitas características do período franquista, muito
embora, seus trabalhos fossem originais, carregavam muitos resquícios da censura imposta
pelo regime de Franco.

Na era franquista, um cinema que criticava as mazelas sociais e morais, enquanto os


cineastas comerciais faziam filmes para embriagar o povo, transformou se nos anos
80 numa linguagem altamente criativa, embora necessitasse atingir melhores
condições estética e técnica (SILVA, 2009, p. 65)

A obra de Almodóvar foi se aprimorando ao longo do seu processo de criação e seus


personagens, nesse caso os femininos, também se modificam, os trabalhos seguintes a Carne
Trêmula, elaboram de maneira muita mais aprofundada e complexa o mundo feminino, diga-
se por Tudo sobre mi Madre (1999), que foi considerado uma das maiores obras primas de
Almodóvar. Que trata as travestis, por exemplo, a todo tempo no feminino, sem qualquer
constrangimento, ou mesmo, Volver (2006), em que a trama se desenvolve de maneira muito
intimista a todo o tempo, sob a perspectiva de uma mulher, a protagonista do filme.
Os traumas emocionais são colocados pelo mesmo como motores da história de seus
personagens, sempre lidando com abandonos, ou rupturas familiares, sendo responsável, por
vezes, pela incansável busca por suas identidades, algo evidente quando analisamos Clara,
por exemplo, e os traumas causados pelo seu malfadado casamento, que corroborou para o
trágico fim de ambos, em Carne Trêmula.
Porém, a mesma, obtém êxito em sua libertação sexual, sua própria conquista, se faz
uma mulher livre e dona de seus desejos e paixões. Algo recorrente nos filmes de Almodóvar,
onde suas personagens femininas são donas de seu sexo, Elena, também em Carne Trêmula,
é outro exemplo disto, após ter uma relação sexual com Victor, em um lapso de adultério,
após o ocorrido, a mesma se lava e se toca em seu sexo, induzindo o espectador a pensar que
ela gostaria de purificar-se do ato e se manter fiel ao marido, algo que falhou, mas, nos revela
que ela é uma mulher dona e consciente do seu corpo e de seus desejos ao aceitar o ocorrido e
admitir para David, seu marido, quando o mesmo regressa de uma viagem.
Ainda assim, a mulher representada por Almodóvar, ainda é um ser oprimido por suas
próprias emoções, onde constantemente tentam se libertar dessas opressões e contradições,
aqui podemos utilizar como exemplo, a relação amorosa de Clara e Victor, uma mulher
madura e um jovem, que rompe com ela bruscamente, acarretando em um grande
desequilíbrio e descontrole por parte da personagem, como consequência.

El melodrama es una fuente de la que continuamente bebe y sus huellas se


extienden a todo su filmografía. La mujer, eje argumentan de todo su obra, es la
heroína, un ser que sufre por amor. Esposa, hij, madre o amante, se enfrentará
valientemente a sus sentimentos. Para el cineasta la autenticidad emana del corazón,
ocupado una privilegiada posición el universo femenino frente al masculino (...)
Almodóvar recurre a una época del cine norteamericano, mazclando géneres,
transformándolod y experimentado com ellos, siendo el Glamour de Hollywood, sus
estrellas y los personajes favoritas uno de sus estigmas argumentales (BAZO, 2008,
p. 300)

As mulheres representadas por Almodóvar, estão sempre prontas para amar e serem
amadas, sempre prontas para assumir as consequências de suas escolhas. O universo criado
pelo cineasta em seus filmes gira em torna da mulher e dos seus sentimentos e do sentimento
que causa a terceiros. Não se pode desconsiderar, sob alguma hipótese, o lugar privilegiado
do sentimento, do amor segundo Almodóvar, que é trágico e sofrido, mas que também, pode
ser feliz e frutífero, vide pelo fim de Carne Trêmula, onde Victor e Elena terminam juntos a
caminho do hospital, para poder ter o seu filho. Para Almodóvar, não existe somete o trágico,
também existe o feliz.
Dentro do universo complexo criado por Almodóvar em seus filmes o desejo é o
grande estimulo de seus personagens, sejam homens ou mulheres, por seus desejos que por
vezes, são obsessivos, estes fazem de um tudo. E o cineasta utiliza a cor vermelha como
forma de elucidar esse desejo. Uma cor utilizada pelos toureiros para enfurecer os touros e os
induzir a agressão, impelindo seus espectadores ao mesmo sentimento, seja de fúria ou de
desejo, estimulando o seu lado mais passional possível aos que lhe assistem, empregando um
componente cultural para ambientar seus filmes (SILVIA, 2009).

Muitas são as linhas de interpretação da obra Almodóvar, uma inegavelmente


sempre se levanta como talvez a principal: o papel efusivo do desejo e suas
múltiplas possibilidades de representação ao longo da sua filmografia. Podemos
dizer que este sentimento se “materializa” e se “personifica” sob as mais variadas
linguagens e sobre os mais diferentes objetos: são fantasias, sonhos, vontades
recônditas, anseios desenfreados e busca de novas experiências que povoam as
mentes e moldam o comportamento dos seus personagens. Neste afã, não podemos
ignorar que um dos seus filmes venha a se chamar justamente (1986); Almodóvar
explora A Lei do Desejo e dá novos sentidos às leis universais que regem o desejo
humano e a prática do mesmo, não é à toa que a principal fonte de intertextualidade
de Tudo Sobre Minha Mae é justamente a peça Um Bonde Chamado Desejo, de
Tennessee Williams (RODRIGUES, 2011, p. 33).

A frustação feminina é colocada nos personagens de Almodóvar, de maneira até


melancólica, nos levando a recordar de Um Bonde Chamado Desejo, de Tenneesse Williams,
referenciado em vários filmes feitos por Almodóvar. Tais personagens femininas se iludem e
se enganam frequentemente, vide por Clara, a esposa maltratada por seu marido, Sancho.
Esta mulher, neste caso em específico, Clara, está ciente e consciente de sua situação, se
permitindo permanecer nela e só no fim tenta romper com esse círculo vicioso e doentio, não
cabendo mais chances de mudança de sua trajetória. As citações ao cinema clássico, feito por
Almodóvar direta ou indiretamente, não são somente uma homenagem cultural e sim uma
proposta argumentativa que marca os rumos de suas obras, verificável em vários filmes e não
somente em Carne Trêmula (BAZO, 2008).
Carne Trêmula não é considerado um dos melhores filmes de Almodóvar, nem o mais
marcante em sua trama ou em seus personagens. Todavia, o filme nos revela muitos
elementos cabíveis aqui para considerações. Como a referência que o cineasta faz ao período
natalino, o filme se inicia em janeiro de 1970, ainda no período franquista, e ainda havia
decorações natalinas por Madri e o fim do filme, está com as mesmas referências natalinas. O
natal no cristianismo, religião dominante em Espanha e com forte envolvimento político
durante o regime de Franco, traz consigo um significado muito forte de renovação é o
momento do nascimento de Cristo, o responsável por mudanças. Momento em que o Victor
nasce, mesmo que o mesmo não tenha uma importância no contexto político ou social, este
serve de modelo para o momento em que a Espanha se via sozinha, isolada e com medo. No
fim, quando o filho de Victor está para nascer, parecer ser natal, as ruas estão cheias e existe
um grande clima alegre na cidade, um grande contraste da atmosfera do nascimento de
Victor, em janeiro de 1970. O próprio fala que seu filho nasceria em uma Espanha melhor,
feliz e sem medo.
Almodóvar faz questão de exibir a grande alegria de se viver em uma Espanha livre,
em uma Espanha com possibilidade de um futuro feliz, uma Espanha sem medo, onde a
sociedade se mostrava solidária e humanizada, sem ter que lidar com o controle moral e
comportamental do Estado de Franco.
Compreender a forma de representação do feminino por Pedro Almodóvar, é um
trabalho árduo e desafiador, porém, indiscutivelmente incrível. Todas as mulheres que o
mesmo criou em seus filmes são fortes e desafiadoras, maneiro que o mesmo encontra de
criticar a hipocrisia de sua sociedade. Aqui o fizemos de maneira sucinta e discreta, mas o
tema possui muitas possibilidades instigantes em toda a sua filmografia.
Bibliografia

1. Fonte Primária

1.1 Fonte Fílmica

Carne Trêmula
Nome Original: Carne Trémula
Origem: Espanha e França
Direção: Pedro Almodóvar
Roteiro: Pedro Almodóvar com a colaboração de Jorge Guerricaechevarria
Elenco: Javier Bardem, Francesca Neri, Liberto Rabal, Ángela Molina, José Sancho,
Penélope Cruz e Pilar Bardem.

2. Fontes secundárias
BAZO, Francisco Perales. Pedro Almodóvar: heredero del cine clásico. ZER. Sevilha, v.
13, n. 24, p. 281 – 301. 2008.
BIOSCA, Vicente Sánchez. El elixir aromático de la potmodernidad o la comedia según
Pedro Almodóvar. In: HURTADO, José A.; PICÓ, Francisco M. (Orgs.). Escritos sobre
el cine español: 1973 – 1987. Valência: Filmoteca G. Valenciana, 1989. p. 111 – 123.
CAPARRÓS, José María; CRUSELLS, Magí. Las películas que vio Franco (y que no
todos pudieron disfrutar): Cine em El Pardo, 1946 – 1975. Madrid: Cátedra, 2018.
ESCUDERO, Javier. Rosa Montero y Pedro Almodóvar: miseria y estilización de la
movida madrileña. Arizona Journal of Hispanic Cultural Studies. Arizona, v. 2, p. 147
– 161. 1998.
FIORANVANTE, Karina Eugenia. Da geografia às imagens do cinema: uma discussão
sobre espaço e gênero a partir de Pedro Almodóvar. Revista Discente Expressões
Geográficas. Florianópolis, SC, nº 07, ano VII, p. 11 – 31, junho de 2011.
MAUROS, Ives. Doença nos filmes um estudo de caso: Tudo Sobre Minha Mãe.
REVISTA ESBOÇOS. Florianópolis, SC, v. 13, n. 16, p. 147 – 165. 2006.
PERROTT, Michelle. ESCREVER UMA HISTÓRIA DAS MULHERES: relato de
uma experiência. Conferência proferida no Núcleo de Estudos de Gênero Pagu em 06 de
maio de 1994 (Unicamp). Tradução de Ricardo Augusto Vieira - Mestrando em Filosofia,
UNICAMP.
RODRIGUES, Leandro Garcia. Pedro Almodóvar e Susan Sontag – Interseções Camp.
Crítica Cultural. Palhoça, SC, v. 6, n. 1, p. 31-47, jan./jul. 2011.
ROMÁN, Manuel Redero San. El cambio político postfranquista en el cine de su tiempo:
el disputado voto del Senñor Cayo. In: CAPARRÓS, José María Lera. Historia crítica
del cine español (desde 1987 hasta hoy). Barcelona: Ariel Historia, 1999. p. 148 – 150.
SÍLVIA, Cristina Aguetoni Marques. O cinema da paixão: Cultura espanhola na mídia.
2009. Doutorado (Tese Comunicação e Semiótica) – Programa de Pós-Graduação em
Comunicação e Semiótica – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, PUC, São
Paulo, 2009.
VEIGA, Ana Maria. Uma virada epistêmica feminista (negra): conceitos e debates.
Tempo e Argumento, Florianópolis, v. 12, n. 29, e0101, jan./abr. 2020.

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