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Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas. Nomes, personagens, lugares
e acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com
nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência.
Criado no Brasil
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº 9.610/98 e punido pelo
artigo 184 do Código Penal.
Para todos os que acreditam que o amor merece ser celebrado.
Sumário
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Agradecimentos
Biografia
Alisei a renda do vestido com as mãos enquanto me olhava no espelho. Em cima do
pedestal, eu me sentia como uma princesa em seu baile de gala, e era para isso que eu estava
vestida.
Segundo dizem: o vestido de noiva é o traje mais especial na vida de uma mulher, mas eu
nunca sonhei com este momento. No entanto, poder realizar este sonho com o seu propósito real
e também com a minha ideia de propósito para ele era ainda mais incrível.
Meio desesperada por não ter com quem compartilhar o momento, limpei uma lágrima de
emoção que escorreu pelo meu rosto ao mesmo tempo em que ria ao imaginar a cara de surpresa
de todos os presentes.
Mirei novamente o espelho de bordas douradas que ocupava quase que toda uma parede
da sala de provas. O imenso lustre que descia do teto clareava a sala e sua luz amarelada
destacava o sutil toque de brilho do tecido, dando uma áurea angelical para o momento e
deixando o vestido ainda mais irresistível.
— Tem certeza que não quer provar o véu? — questionou, me olhando através do
espelho.
Helena e eu estávamos conversando sobre este vestido há menos de dois meses, mas já
pareciam anos. Cheguei ao ateliê com uma ideia fixa de como seria o meu vestido de noiva, mas
durante a construção do modelo, toda a ideia foi modificada e hoje eu percebia que não poderia
ter sido outro modelo.
— Sim — respondi rapidamente —, quero ter essa sensação no meu grande dia. Até lá,
me ver dentro do vestido já é suficiente.
Ela anuiu em resposta, me ajudando a abrir os botões na parte de trás do traje e logo me
tirando de dentro do monte de tecido off-white.
Após pendurar o vestido em um gancho atrás de mim, Helena saiu da sala me dando
espaço para vestir os jeans skinny azul escuro e a camiseta de botões branca, feita de linho e que
combinavam com o calor do verão baiano, especialmente para quem trabalha em um escritório.
Ao se dar conta da minha presença, ele logo encerrou a conversa e se aproximou de mim,
me oferecendo o copo de café que até aquele momento eu não percebi que segurava.
— Tudo certo? — questionou, após eu tomar o primeiro gole do precioso líquido negro
que devolvia as minhas forças vitais, tal como o sangue para um vampiro.
—Tudo mais do que certo — respondi sorrindo, revivendo em minha mente a memória
de poucos minutos atrás, quando eu ainda vestia o vestido. — A gente não tá sendo muito louco?
— perguntei, ainda um pouco assustada com a repentina surpresa, mas ansiosa na mesma
medida.
Resolvi os últimos detalhes com relação à entrega do vestido e logo saímos do ateliê. Era
assustador pensar que estaríamos nos casando em sete dias e ninguém da família sabia do feito.
Sabíamos, no entanto, que para alguns fins jurídicos ele se fazia necessário, assim como
tínhamos certeza que seria difícil para a nossa família aceitar um simples casamento civico, já
que ambos os lados adoravam uma boa comemoração. E lá no fundo, queriamos um pouco dessa
áurea especial que todo mundo fala.
— Então agora está tudo certo — comentou Guilherme, assim que entramos no carro
estacionado em frente ao ateliê. Abri as janelas rapidamente, tentando driblar o calor sufocante
dentro do veículo, enquanto tirava os scarpins dos pés e pressionava o freio para dar partida no
carro.
— Repassa a lista para termos certeza de que não estamos esquecendo nada e envia uma
mensagem para Antônia, só para confirmar que está tudo sob controle — pedi, enquanto já
engatava a ré. Antônia era nossa assessora e uma das escolhas mais certeiras que fizemos durante
todo o curto processo de organizar o casamento.
Balancei a cabeça concordando, enquanto me focava no trânsito que nos levava de volta
para o escritório — que por sorte ficava no mesmo bairro. O céu azul quase sem nuvens era uma
lembrança do calor que fazia do lado de fora do carro, mas ainda assim abri as janelas quando
entramos na Av. Otávio Magalhães e o mar se fez presente.
— Eu amo isso em você — Guilherme declarou, o encarei por poucos segundos, logo
voltando minha atenção para o tráfego.
— Não importa o inferno que esteja do lado de fora ou seja lá o que esteja acontecendo
dentro do carro, você sempre vai abrir as janelas quando estiver próxima ao mar.
Sorri concordando, mas não sabendo muito bem como responder. O mar sempre foi ao
mesmo tempo atrativo e amedrontador, para mim. A brisa que vinha dele era uma fonte de
calmaria por anos e mesmo tendo morado a vida inteira a menos de um quilômetro da praia, essa
sensação nunca me abandonou.
Perceber que Guilherme observava esses pequenos detalhes no nosso dia a dia me fazia
ter ainda mais certeza de que eu queria estar ao lado dele pelo maior tempo possível, e eliminou
as incertezas que o casamento surpresa estava gerando em mim.
A tarde seguiu sem mais percalços. Trabalhar no mesmo escritório que meu marido era
no mínimo interessante e mesmo sendo um pouco antiético ter a família dele como meus chefes,
ainda assim não quisemos modificar a situação, já que foi ali que nos conhecemos. Eu como
gerente de RH da pequena empresa familiar, ele como representante da família na capital e
Diretor Geral do escritório.
Fomos direto para o supermercado após sairmos do trabalho, era horário de pico, então as
avenidas estavam movimentadas, o que fez com que o nosso percurso durasse um pouco mais
que o normal, mas surpreendentemente o estabelecimento estava vazio, especialmente para uma
segunda-feira.
— Você vai acabar com todos os perus do mercado antes mesmo do Natal chegar —
Guilherme mencionou ao me ver colocando duas aves dentro do carrinho de compras. Lhe
respondi com uma careta da qual ele riu e seguimos adiante.
O ponto é que nós temos duas situações para organizar: o casamento e a ceia de natal, já
esta segunda é o motivo da reunião de todos em nossa casa. Como a família dele vive afastada da
capital, as comemorações de fim de ano trouxeram a oportunidade perfeita para nos
reencontrarmos e para eles explorarem um pouco mais Salvador. Meus pais vivem em Lauro de
Freitas, cidade vizinha, então temos muito mais contato com eles. No entanto, também se
mudarão para a nossa casa durante o período de festas.
O casamento eu deixei nas mãos da organizadora, mesmo que a todo momento eu esteja
checando a situação. A ceia, no entanto, eu queria protagonizar, entregar um banquete digno de
filmes de Natal.
O grande porém é que Guilherme e eu não fazíamos ideia de como fazer a ceia. É meio
óbvio que o arroz e as saladas seriam simples, mas o peru estava nos dando um pouco de dor de
cabeça.
— Não consigo entender como um troço tão parecido com frango pode dar tanto trabalho
para fazer — comentei, enquanto olhava a lista de especiarias que uma nova receita pedia.
— Na real a gente nunca fez frango assado, Ju — revidou Guilherme e foi ponto pra ele.
— Isso foi uma ideia de jerico, não foi? — questionei, tirando os olhos da lista em mãos.
— A ceia e o casamento, tudo ao mesmo tempo. Ainda mais sendo só a gente pra fazer.
Pensamos na reunião familiar natalina antes da ideia do casamento e quando este segundo
surgiu, parecia que ia dar tudo certo. Podíamos ter sido mais espertos e jogar o casamento para a
noite de Natal, aí não precisaríamos de uma ceia, ou teríamos um álibi para comprá-la. Mas lá no
fundo, o que eu queria mesmo era impressionar minha sogra.
— Talvez tenha sido, mas agora não adianta dar pra trás. Vamos focar de que vai dar
tudo certo. — Me deu um selinho e voltou a consultar a lista que, graças à tecnologia, estava no
meu celular e no dele e ainda se atualizava em tempo real. Obrigada, Google!
Peguei as especiarias pedidas pela receita e segui para a adega do supermercado, já que
vinho era um dos ingredientes. Aproveitei que tanto o peru quanto eu precisávamos beber para
refazer o estoque de casa. E tendo como base as últimas quatro tentativas falhas de assar a temida
ave, hoje à noite derrubaríamos duas garrafas.
Saímos do local pouco tempo depois e a cidade já estava mais calma. O relógio marcava
quase oito da noite, seguimos direto para nossa casa, que ficava em um condomínio próximo ao
mar, na Pituba.
— Quanto antes a gente se livrar disso melhor. Preciso tirar a saga do peru da minha
cabeça. — Ele riu assentindo, já abrindo a mala do carro para tirarmos as compras. — Só vou
precisar resolver uns detalhes do casamento, parece que uma das flores que escolhemos não
estará disponível e a Antônia me mandou algumas substituições.
— Eu preciso enviar mais dois e-mails para alguns fornecedores, depois disso vamos
lidar com o peru.
Subi as escadas direto para o nosso quarto. Passei pela porta do escritório, que estava
aberta, lá dentro Guilherme conversava com alguém pelo telefone, já sem camisa. O peito negro
liso brilhava na luz amarelada do abajur e ele piscou para mim quando me viu o encarando. Eu
sorri baixinho, sinalizando de forma completamente inapropriada para menores e segui até a
última porta do corredor, que dava acesso ao nosso quarto.
A cama grande chamava atenção assim que a porta era aberta, os lençóis brancos
destacavam o edredom preto que servia apenas como decoração, já que dormir com ele no calor
de Salvador, era praticamente impossível. Tirei as joias que usava, inclusive meu anel de
noivado, e segui direto para o closet, largando as roupas pelo caminho. A ducha fria relaxou meu
corpo de imediato e a minha vontade era de ficar lá eternamente.
Usando um vestido soltinho e confortável, pesquei o notebook dentro da maleta que havia
trazido do escritório, abrindo o grupo com a organizadora do casamento para ver a situação das
flores. Fui surpreendida por uma mensagem de Guilherme opinando sobre a que ele escolhia e
sorri diante da sorte que tive ao encontrar esse homem. Desde o momento em que decidimos
surpreender nossos pais, ele entrou de cabeça na organização do casamento, tornando esse
momento ainda mais nosso.
Respondi rapidamente no grupo, mas logo chamei Antônia no privado para lhe atualizar
sobre o meu vestido.
Enviei todas as fotos que tirei durante a prova do vestido mais cedo.
Ao pensar no vestido tudo o que vinha a mente era um modelo fluído, porém sem
volume. Especialmente porque realizaríamos a cerimônia no nosso jardim. Mas quando fui
provar, todos insistiram para que testasse um modelo que caminhava entre o princesa e o evasê,
quando coloquei ele no corpo, senti no meu coração que era o formato certo. A partir da li, foi só
criar o modelo de busto, escolher tecidos e rendas. Uma brincadeira divertida e emocionante.
Finalizei a conversa com Antônia brincando para que ela não me importunasse durante o
meu último fim de semana “solteira” e ela concordou de bom grado, especialmente porque teria
duas festas para assessorar durante o fim de semana. Então logo desci para a cozinha a fim de
começar a minha luta.
— Agora somos eu e você — desafiei o peru assim que o tirei do plástico no qual veio
embalado.
— Eu só queria me livrar disso, mas acho que funciona melhor se fizermos desse jeito —
respondi e logo nos colocamos para trabalhar. Guilherme pegou uma das garrafas de tinto que
tínhamos colocado para gelar, quando chegamos e serviu em duas taças, atravessando a ilha da
cozinha em direção a sala de estar.
Dei o primeiro gole no mesmo momento em que a voz de José James se fez presente,
sorri abertamente enquanto meu futuro marido vinha dançando devagarinho, seguindo o ritmo da
música e cantando:
— Descobriu meu plano infame — sussurrou no meu ouvido, me fazendo sorrir ainda
mais.
— Puta que pariu! Já é sinal divino dizendo que não vai dar certo, nem adianta tentar. —
Fiz drama diante da quantidade de tentativas falhas de fazer o peru. — Como você abriu esse
outro? — perguntei levando a taça que eu já tinha agarrado.
– Essa é a ideia mais logicamente ilógica que eu já ouvi na minha vida, mas vai que...
Segui até a área de serviço e peguei a furadeira portátil que mantínhamos por lá, junto
com muitas outras ferramentas. Escolhi uma broca intermediária para madeira e voltei para a
cozinha, entregando tudo a Guilherme.
— É melhor fazermos do lado de fora, se sujar a gente não precisa arrumar hoje.
Concordei com a ideia e seguimos para os fundos de casa. Acendi as luzes externas após
passarmos pelas portas de vidros que conectavam o interior e o exterior. Aproveitei o momento
para acionar os irrigadores da grama, visando deixa-la perfeita para a segunda seguinte, quando a
cerimônia aconteceria.
— Só queria pular nessa piscina — comentou Guilherme, após a mesma ser iluminada
pelas luzes que eu tinha acabado de acender. — Calor da porra!
— Os técnicos pediram para deixar acesa por alguns minutos ao dia, só pra ter certeza de
que as luzes não vão falhar no grande dia.
Ele assentiu concordando, mas logo voltou a colocar a mão na massa. Apertou
lentamente o botão que fazia a furadeira funcionar e foi se aproximando aos poucos da rolha.
Guilherme colocou muita força na mão e acabou atravessando a rolha com a furadeira,
com o susto causado pela situação, ele puxou a mão com tudo e o que sobrou da rolha acabou
despencando dentro da garrafa.
Olhamos um para o outro meio assustados com o rumo que a situação tomou estourando
em gargalhadas.
De repente senti que o mundo caminhava em câmera lenta enquanto eu observava o riso
solto de Guilherme. O momento era completamente inusitado, mas não poderia ser mais nosso.
Uma ideia maluca que resultava em algo dando errado e muitas risadas. Foi assim quando nos
vimos à primeira vez, eu trancada no banheiro feminino do escritório depois de derrubar café na
minha camisa branca e ele contando piadas sem graça tentando me acalmar enquanto
aguardávamos um chaveiro.
— Acho que se a gente coar com um pano não dá ruim — respondi dando de ombros e
ele concordou. Então voltamos para a cozinha, eu peguei um pano de prato limpo,ele virou a
garrafa de vinho em cima dele e direto dentro do saco que havíamos apoiado em uma jarra. —
Madeira não mata, se passar alguma coisa não tem problema.
Após mexer bastante a mistura dentro do saco, lavei o peru que já estava completamente
descongelado e coloquei dentro. Guilherme fechou o ziplock, apoiou em uma travessa de vidro,
tendo certeza de que a mistura cobria a maior parte da ave, e colocou na geladeira. Só o veríamos
no dia seguinte.
— Uma mais relax? — questionei da sala e ele concordou da cozinha. O ponto positivo
da casa em conceito aberto era não precisar gritar entre os cômodos, além do eterno contato
visual enquanto estivéssemos no piso térreo. Obrigada, Irmãos à Obra.
Deixei, então, um episódio de The Good Place pronto para dar play, seguindo para
desligar o som que ainda tocava José James. Minutos depois Guilherme se aproximou da sala,
trazendo a tábua de queijos nas mãos.
Sentamos diretamente no tapete felpudo que tomava conta de quase toda a sala de estar,
ignorando o confortável sofá cinza, utilizando-o apenas para nos apoiar. Dei play na série e
começamos a comer, concentrados no que passava na tela e rindo nos momentos oportunos —
que eram quase todos, já que era uma comédia.
Guilherme utilizava apenas uma mão para jantar, a outra alojada na minha nuca, puxando
os fios escuros do meu cabelo que cresciam por ali e despertando arrepios em diversas partes do
meu corpo. A situação não durou muito tempo, minutos depois já estávamos ambos bocejando,
desligando a tevê e colocando a louça na pia, para ser lavada no dia seguinte.
O vinho tinha deixado meu corpo mole e tudo o que eu queria era minha cama, mas
enquanto Guilherme desligava as luzes externas — bem como o irrigador do gramado, eu
molhava algumas das poucas plantas dentro de casa e desligava todas as luzes térreas.
Juntos subimos direto para o quarto, já capotando na cama. Quem diz que todo o casal
que tem intenção de transar no começo da noite de fato transa no final dela está mentindo. Ainda
mais numa segunda-feira.
Natal era época de casas decoradas, filmes clichês, presentes incríveis, paz no coração e
mesa farta; quase todos esses detalhes estavam arranjados, iriamos até incrementar com um
casamento, mas estávamos em falta com o último. A mesa não estaria farta, especialmente
porque nós já tínhamos estragado quatro tentativas de fazer o prato principal, cinco com o que
estava em mãos.
Suspirei frustrada e quase chorando em solidariedade à gorda ave que morreu para se
tornar essa gororoba preta e dura que estava na minha mão, mas antes de dar espaço ao choro,
abri a lata de lixo da cozinha e o joguei lá, com travessa e tudo.
A cozinha, que brilhava de limpa antes de chegarmos, agora estava parecendo um cenário
de guerra. A furadeira utilizada ontem, quando começamos os preparativos do prato em questão,
ainda habitava o balcão de granito que eu havia escolhido com todo cuidado do mundo.
Comecei a limpar o ambiente tentando me desvencilhar da raiva que tomava meu corpo e
fazer faxina sempre organizava meu chacras, seja lá o que isso fosse, mas vi no programa da
Sônia Abraão e achei interessante.
Guilherme tinha me deixado olhando o peru enquanto ia para o baba de terça com os
amigos. Mas obviamente que a culpa do peru ter queimado era nossa. Somos um casal, uma só
carne e tudo mais, mesmo que o casamento de fato só vá acontecer daqui a seis dias.
Após deixar a cozinha brilhando de tão limpa, segui para os outros cômodos da casa para
terminar de organizar esse chacras era todo!
O surto não durou trinta minutos, logo eu estava guardando os utensílios na área de
serviço e buscando por uma taça no armário planejado acima da pia, pegando a garrafa de vinho
aberta pela metade na geladeira e seguindo para o quintal.
Liguei o irrigador para a grama, porque daria tudo errado, mas a grama estaria verde e
saudável, acendi as luzes ao redor e liguei a cascata da piscina, juntamente com as luzes da
mesma.
Retirei o avental que ainda estava vestida, assim como minha roupa, ficando apenas de
lingerie e me acomodando em uma das espreguiçadeiras. Apoiei a taça e a garrafa de vinho na
mesa lateral e pesquei meu celular no bolso do short para observar a vida perfeita das pessoas
nas redes sociais.
O calor sufocante me tirou do sério poucos minutos depois e eu bebi de guti guti o vinho
que estava na taça, seguindo para a borda da piscina e me deitando na parte rasa. Deus abençoe
os celulares à prova d’água, já que segui com o meu em mãos.
A água morna aliviou o calor de imediato e ajudou a refrescar minha cabeça. Talvez eu
estivesse fazendo tempestade em copo d’água, especialmente diante de tudo o que eu já tinha na
vida, mas eu só queria controlar todos os detalhes.
Fiquei suspirando e olhando pra cima por alguns segundos até ser desperta pelo barulho
do carro de Guilherme entrando na garagem. Ergui o rosto e tive um vislumbre no portão
automático fechando ao mesmo tempo em que o barulho da porta do carro batendo chegou aos
meus ouvidos. Segundos depois sua voz chamava meu nome e ele não demorou muito para
chegar até onde eu estava.
— Perdemos mais um? — perguntou ao se deparar com o meu estado. Tenho certeza que
aparentava estar pior do que de fato estava.
Guilherme começou a tirar o uniforme e foi jogando no chão ao seu lado, segundos
depois o barulho do seu mergulho fez com que eu erguesse a cabeça e já desse de cara com ele se
aproximando de mim, colando o corpo, que agora eu sentia nu, ao meu.
— Eu sei que você quer que dê tudo certo e admiro muito o quanto gosta de manter tudo
sob controle, mas você precisa relaxar um pouco, meu amor — Guilherme tinha uma mania de
conversar olhando nos olhos e por muitas vezes ele faz isso tão fixamente que parece entrar
dentro da gente e controlar nossa alma. Os olhos escuros presos aos meus me dava uma sensação
de conforto tão grande que às vezes eu até me esquecia do que estava acontecendo. — Não
adianta agora eu te pedir para desistirmos da ceia, pois eu sei que você não vai. Então vamos
focar nos outros pratos e no dia acendemos umas velas pra todos os santos conhecidos, pedindo
uma bênção para o momento do peru.
Gargalhei com o final. Não importava o quão difícil fosse a situação, ele sempre me faria
sorrir com ela.
— Agora vamos tirar essa lingerie porque nessa piscina só entra de biquíni ou pelada, e
quando estamos só nós dois tem que ser pelada.
Deixei que ele soltasse o fecho do sutiã nas minhas costas, para em seguida deslizar a
calcinha pelas minhas pernas. Sem perder tempo, ele me puxou para seu colo, encaixando
minhas pernas nas suas costas e roçando seu sexo no meu.
Sorri em resposta, mas logo minha boca foi tomada pela dele, em um beijo intenso,
molhado e com gosto de hortelã do chiclete que ele estava sempre mascando. Quando nossos
corpos pediram por ar, Guilherme desceu a boca pelo meu pescoço e colo, até chegar ao meu
seio, o qual ele soprou o bico e em seguida colocou com tudo na boca.
Um gemido escapou dos meus lábios e eu esfreguei meus quadris no seu sexo que já
inchava, buscando fricção no lugar que eu mais necessitava no momento. O riso rouco dele ao
perceber o que eu buscava me incitou a friccionar ainda mais o quadril, transformando seu som
de riso em rugido.
Puxou meu corpo para o seu colo e nos levou até o lado mais fundo da piscina, prensando
meu corpo no ladrilho frio que aplacava o incêndio que acontecia dentro de mim. Sua boca agora
sugava o outro seio e a mão direita já se alojava entre as minhas pernas, massageando meu
clitóris, meu coração falhou algumas batidas enquanto um formigamento me assolava da ponta
do dedo do pé até os dedos da mão. Tentei fechar as pernas quando senti os sinais do orgasmo
chegando, mas ele me impediu, friccionando os dedos com ainda mais empenho.
Puxei a boca dele de volta para a minha e apertei ainda mais minha perna em torno dos
seus quadris, mas a intenção dele era outra. Guilherme soltou minhas pernas do seu corpo e com
um impulso só, me ergueu até a borda da piscina, onde me colocou sentada. Suavemente soprou
minhas coxas, perto da junção dentre elas e o frescor da menta em contraste com a quentura do
meu corpo me tirou ainda mais do sério.
Com as mãos firmes, puxei sua cabeça de encontro ao meu centro e ele não se fez de
rogado, usou a língua para lamber de um canto a outro, para depois chupar meu clitóris
suavemente, alternando sucções com lambidas generosas.
Mesmo estando do lado de fora e sem saber o alcance dos meus sons para os vizinhos,
gemi sem nenhum pudor. As mãos dele apertavam minha coxa, deixando marcas vermelhas com
as quais eu não me importava nem um pouco. O contraste entre os tons das nossas peles era
grande, ele negro como a noite e eu branca como a lua, combinávamos até nisso e de certa forma
tinha um quê erótico aí.
Quando senti que estava à beira do abismo, puxei sua cabeça com as duas mãos e
encaixei minha boca na sua, pulando de volta para dentro da piscina e rodeando seu corpo com
minhas pernas. Guilherme me prensou no ladrilho novamente e seu pau logo fez o caminho para
dentro de mim. As primeiras arremetidas foram lentas, mas ele não tardou a ganhar força e foi
me penetrando com cada vez mais vontade.
– Caralho, gostosa pra porra! – gemeu no meu ouvido, enquanto apertava minha cintura.
Minhas costas batiam contra o ladrilho causando um ardor gostoso e ele suspirava no
meu ouvido ao mesmo tempo em que xingava todos os palavrões conhecidos. Uma mistura de
suor e água escorria pelos meu rosto, embaçando minha visão. Passei a mão molhada, tentando
limpar tudo aquilo e ali foi a deixa para que Guilherme nos mudasse de posição.
— Ah, tô quase lá, amor. Vira de costas — pediu e eu desgarrei minhas pernas de sua
cintura, me colocando de costas e empinando a bunda para ele.
O pau dele buscou meu centro e ele foi entrando aos poucos, sabendo que a água da
piscina tirava parte da lubrificação. Já lá dentro, seus movimentos voltaram com força e
enquanto ele estocava, sua mão tocava delicadamente o meu clitóris, me auxiliando na busca
pelo orgasmo. A boca sugando meu pescoço também me excitava e logo eu estava à beira do
precipício novamente.
Guilherme chegou ao orgasmo primeiro, mas não saiu dentro de mim até que eu me
libertasse em pequenas estrelas cadentes, mal conseguindo ficar de pé graças.
Saí do banheiro direto para o closet, secando os cabelos com uma toalha. Pelas divisórias
de madeira que dividiam o cômodo do quarto, pude ver Guilherme encostado na cabeceira da
cama, com o notebook no colo.
O quarto estava iluminado apenas pelas luzes dos abajures e pela televisão, que estava no
mudo. Ele ergueu os olhos em minha direção logo que acendi a luz da penteadeira para encontrar
uma calcinha.
Morria de medo de dormir pelada e algum bicho adentrar meu corpo exatamente por
aquele lugar.
— Tem viagra pra mulher? — questionei e ele sorriu, voltando a atenção para o
computador.
— Moramos juntos há quatro anos, você quer mais casamento que isso? — insultei e ele
se contorceu na cama, derrotado.
Deitei na cama puxando da cabeceira o Kindle e abrindo o livro que eu estava lendo há
não sei quantos séculos. Decidi que iria me dedicar a leitura enquanto ele estivesse no
computador, mas só acordei no dia seguinte.
Entre organizar os últimos detalhes do casamento, alinhar a chegada dos nossos
familiares e tentar preparar a ceia de natal, a semana passou como um borrão. Quando dei por
mim já era tarde de sexta-feira e eu tinha voltado da última prova do meu vestido de noiva.
Incrivelmente perfeito, a caixa contendo ele estava na mala do carro e eu mal podia me
conter em saber que aquele pedaço de paraíso era meu. Gastei grande parte das minhas
economias para fabricar o meu sonho de vestido.
Atualmente minha sogra, uma das herdeiras, gerencia a fazenda, ao lado do marido, já
que os outros irmãos não tiveram muito interesse pelo cultivo e recebem os lucros da produção.
Guilherme veio para Salvador a fim de resolver as questões burocráticas da empresa, pois além
de cultivar eles mesmos torram, moem, embalam e comercializam o café, dentro do Brasil e
também no exterior.
Nos conhecemos de maneira inusitada e ele não perdeu tempo em me convidar para sair.
Mesmo visualizando a situação como algo antiético, não pude reprimir o desejo que senti por ele
e aceitei de cara. Nos primeiros encontros já era namoro e para irmos morar juntos não demorou
seis meses. Foi difícil me habituar a vida de luxo que ele levava, não que ele ou sua família
fossem esnobes, mas não precisar mais escolher entre os itens mais baratos do mercado foi um
pouco estranho.
Mais estranho foi não poder dividir as contas de casa com ele. Meu salário dava para me
sustentar muito bem, obrigada. Mas logo que fomos morar juntos, a casa que ele estava
construindo em um condomínio de luxo ficou pronta, então decoramos e nos mudamos para lá.
As contas fixas da casa eram quase o dobro do meu salário, então era muito óbvio que eu não
poderia ajudar com muita coisa, mas ele não deu muita importância para isso. Eu pagava o que
podia e ele cuidava do grosso, seguíamos assim.
Então poder comprar o meu vestido de noiva, feito do jeitinho que eu desejei, e pagar
com o meu próprio dinheiro foi uma vitória para mim.
Saí do carro na garagem do prédio do escritório, correndo para acertar os últimos detalhes
com a equipe antes das nossas férias coletivas, que durariam todo o período de festas e mais o
começo de janeiro.
— Amor, passei para pegar os documentos do casamento, mas tem uma coisa errada
aqui... — Guilherme começou, entrando na minha sala com os documentos em mãos segundos
após eu passar pela porta.
— Hm... O que tem de errado? — Tentei bisbilhotar por cima dos papéis, mas estavam
muito inclinados em sua direção.
— Ah, isso. Não tá errado, então — respondi dando a volta na mesa e sentando na minha
cadeira. Me inclinei para ligar o computador e ergui os olhos para ele. — Eu pedi assim.
A cara dele se contorceu, até pensei que ele estivesse tendo um derrame, mas poucos
segundos voltou a sua posição normal, só que aliada a uma carranca.
— Nós não tinhamos conversado sobre isso? – perguntei, agora voltando toda a minha
atenção para o assunto. — Eu disse que queria assim e nós concordamos.
— E como você não falou nada, imaginei que tivesse concordado comigo — respondi
sucinta, e sem a mínima vontade de criar tempestade em copo d’água. — Estávamos juntos
quando demos entrada nos papéis, eu marquei a opção na sua frente.
— Porra digo eu, Guilherme. Podemos conversar sobre isso em casa, mas vir à minha
sala falar da nossa vida pessoal e elevando a voz é um pouco demais pra mim.
— Caralho, amor... Eu... Porra, Juliana. Eu falei que queria comunhão parcial —
chacoalhou os papéis em mãos.
— E eu falei que queria separação total — me mantive firme. — Qual é, eu não tenho
nada pra dividir com você e você quer dividir parte da sua fortuna comigo? Nem a pau!
Agora, por favor, sai da minha sala. Eu tô um pouco irritada com essa cena sua e não vai
passar rapidamente. Depois conversamos.”
Coloquei um ponto final na situação, abrindo a porta para que ele saísse. Guilherme
passou por mim feito um furacão e eu suspirei de alívio e raiva diante de tudo o que cinco
minutos tinham me proporcionado.
Sem deixar me levar pelos sentimentos, me servi de um pouco de café e sentei na minha
mesa, finalizando os relatórios necessários para enviar à diretoria antes das férias e resolvendo
todas as outras pendências existentes.
As horas se passaram rápido e quando me dei conta, Guilherme estava batendo na porta
da minha sala, me chamando para irmos. Desliguei o computador e conferi se todos os
eletrônicos estavam desligados. O pessoal da limpeza ainda passaria por aqui, mas eu queria ter
certeza de que estava tudo okay, diante da quantidade de dias que ficaríamos fora.
Guilherme havia informado aos membros da equipe sobre a cerimônia que realizaríamos
e que seria algo bem intimista e familiar, então quando saímos fomos recebidos por buquês de
flores e felicitações dos nossos colegas. Sorri diante de tanto entusiasmo, quase tão animada
quanto antes de ter a discussão com ele.
O silêncio sepulcral dentro do carro não deveria existir entre um casal às vésperas do
casamento, mas eu tentei fingir inocência diante da situação. Foi uma discussão boba diante das
tantas que iriam existir e eu tentei não me abalar com aquilo.
— Abre a mala, por favor. E se der, leva essas pastas para o escritório — apontei para o
banco de trás, onde tinha colocado alguns arquivos que queria organizar durante as férias. —
Meu vestido está na mala, não quero dar duas viagens.
Segundos depois Guilherme já estava catando tudo o que tinha no banco de trás enquanto
eu pegava a pesada caixa do vestido.
Com o cotovelo acendi a luz que iluminava a escada e fomos subindo os degraus aos
poucos, ele entrou no escritório e eu segui direto para o nosso quarto, acomodando a caixa do
vestido em uma prateleira vazia no closet. No dia da cerimônia, uma representante do ateliê viria
me ajudar a vestir o traje e ver se necessitaria passar alguma parte do tecido.
— Olha, eu fui um babaca — A voz dele fez com que eu abrisse os olhos rapidamente,
me virando ao seu encontro. — Me desculpa é que... Sei lá, eu perdi a cabeça. Senti como se
você tivesse negando uma parte minha.
— Não é uma parte sua, é seu dinheiro. Para mim não tem diferença você com ele ou sem
ele — respondi pacientemente.
— É parte de mim, de certa forma, mas eu sei que não faz diferença pra você —suspirou
alto, passando a mão pelo rosto. A cabeça quase raspada brilhava em razão do suor que seu
corpo expulsava. — Eu não deveria ter agido daquela forma com você, ainda mais lá na empresa.
Isso não voltará a acontecer. Me perdoa.
Fechei o chuveiro e ele me entregou a toalha, com a qual sequei meu corpo e me enrolei,
antes de lhe responder.
— Eu te perdoo e sei que não voltará a acontecer, você não costuma errar duas vezes —
sorri. — Eu nunca recusei seu dinheiro. Nunca recusei as coisas que você quis e pode me dar. Só
não preciso me aproveitar disso e a sensação que eu tive ao pensar no casamento com comunhão
parcial de bens era a de que eu estaria me aproveitando.
— Tudo bem, podemos encontrar outras maneiras, pode... — cortei sua fala, colocando a
mão em seus lábios.
— Não precisamos encontrar nada, não precisamos mudar nada. Estamos perfeitos como
estamos, vamos seguir assim.
Guilherme concordou, mas ainda ficou um pouco amuado ao longo da noite. Descontou
todo o seu estresse na cozinha e quando desci para jantar, um belíssimo risoto de funghi me
aguardava. Às vezes eu queria irritar esse homem só para poder comer bem.
— Diante do casamento, acho que poucas pessoas vão se importar com o peru.
— Queria agradar sua família. Sabe, a gente não se encontrou muito. Tô um pouco
apreensiva quanto ao que eles vão achar dessa coisa toda — comentei, mexendo no risoto com o
garfo, mas sem levar nada a boca.
— Eles vão ficar felizes — Guilherme se virou na minha direção. — Eu sei das suas
inseguranças e sei que muitas delas nem são pelo que você vai oferecer aqui, mas por quem você
é. Minha família percebeu o quão feliz eu estou com o nosso relacionamento e eles estão felizes
com isso.
Fiz um muxoxo dando de ombros, para tentar findar o assunto, mas ele me conhecia mais
do que isso. Meus sogros sempre me trataram bem, no entanto o fato de trabalhar na empresa
deles antes de conhecer Guilherme, e de seguir trabalhando lá mesmo após o relacionamento,
aliado ao fato de que eu era um estranha para todos eles me abalava um pouco.
Os irmãos dele haviam se casado com moças da região com as quais conviveram por
muito tempo, então já eram conhecidas da família. Eu cheguei de supetão e na primeira visita à
casa minha sogra nem sabia que eu estava indo — isso gerou a primeira grande briga entre mim
e o Gui.
A situação ficou um pouco mais esquisita quando descobri que Helena, minha sogra, era
uma excelente cozinheira e sua especialidade eram pratos com raiz na culinária africana, a
grande maioria eu nunca tendo provado, mesmo sendo baiana. Junte tudo isso ao irmão dele
brincando sobre como ele era o primeiro a palmitar na família e o desastre estava feito.
— Eu sei, mas isso não anula meu subconsciente de criar milhares de histórias —suspirei.
— Só tô com medo.
Larguei os talheres dentro do prato com o risotto quase no fim e coloquei as mãos no
rosto, tentando frear o choro compulsivo que se apossou de mim. Guilherme pulou do banco e
me envolveu em seus braços, levantando meu rosto e fixando o olhar no meu.
— Eu sei que você deve estar com um bilhão de sentimentos rodando aí dentro, eu
também estou — lentamente, me tirou do banco, sentando-se no meu lugar e me apoiando em
seu colo. Eu era tão pequena se comparada a ele, que o sentimento de proteção se apossou de
mim de imediato. — A gente não imaginava que decidir se casar traria tantas coisas à tona. Eu
amo você, você me ama e nós já somos mais felizes do que eu achei que fosse possível. Vai ser
lindo, único e exatamente como nós.
— Bom dia, amor — sussurrou, com a voz rouca ao me ver parada em sua frente. A porta
da varanda seguia aberta e a brisa que vinha do mar balançava as cortinas claras.
— Bom dia, meu nego — respondi, me jogando ao seu lado na cama e escondendo o
rosto no seu pescoço.
— Que horas são? Por que tirou o blackout? — questionou se referindo as persianas que
cobriam as portas de vidro e que eu havia aberto assim que levantei.
— Cedo — respondi amuada, absorvendo o cheiro da sua pele e arrastando meu rosto
pela sua barba, buscando mais atrito. — Mas lá fora já está um caos,temos um café da manhã
com a Antônia daqui a trintas minutos. Ela me ligou há pouco e disse que temos um problema
para resolver.
— Hm... Se ela vem em trinta minutos, então ainda temos uns vinte para ficar aqui —
respondeu nos virando na cama e jogando o peso do seu corpo em cima de mim, grudando sua
boca na minha. Correspondi ao beijo com avidez, pousando minhas mãos nas suas costas e o
puxando para mim.
No entanto, quando ele começou a descer os beijos pelo meu pescoço enquanto tentava
tirar a alça da minha camisola, fui me afastando e rindo.
— A gente não consegue se livrar disso em vinte minutos e eu definitivamente não ficarei
pronta em dez, então é melhor deixar esse fogo para mais tarde — comentei me desvencilhando
do seu aperto e erguendo a alça da camisola que ele havia abaixado.
— Estraga prazeres!
— Sou nada, seus prazeres são todos meus, só não vai ser agora — pisquei e ele sorriu,
cobrindo o rosto com o travesseiro. — Anda, levanta daí que a gente precisa se arrumar.
—Já que não vou ter sexo, pelo menos posso dormir mais vinte minutos.
— Não pode não! Se sua esposa vai acordar cedo, você também vai — argumentei.
— Guilherme Antônio Bezerra Souza — gritei me jogando em cima dele e lhe atacando
com cosquinhas. O golpe mais antigo do mundo, mas que sempre dá resultado. Infelizmente o
feitiço virou contra o feiticeiro e no segundo seguinte eu já estava prensada no colchão tendo
meu corpo atacado por suas mãos.
Percebendo a análise, ele sorriu, mostrando a fileira de dentes brancos que reluzia para
mim. O maxilar anguloso lhe dava um ar másculo que me derretia cada vez que eu o olhava. A
barba rala era recente e me arranhava sempre que eu me aproximava, mas me encantava na
mesma proporção.
— Siga admirando seu homem, nasci pra isso — comentou quebrando o clima e eu lhe
bati com o pincel que estava em mãos.
— É uma modéstia...
Quando descemos para o térreo, Guilherme foi logo ver como estava a situação no jardim
e na piscina e eu aguardei por Antônia na cozinha. Aproveitei para encher a bancada com itens
necessários para um bom café da manhã. Cinco minutos depois o celular apitou com uma
mensagem informando que nossa assessora de casamento já estava aqui e da cozinha mesmo eu
abri o portão da garagem, para que ela entrasse com seu carro.
Nos sentamos próximas ao balcão da cozinha e eu lhe ofereci o café da manhã. Enquanto
comíamos, ela foi apontando o que precisava ser solucionado e tudo o que já estava
confirmando.
— Tenho a sensação de que vou precisar decidir coisas vinte minutos antes de subir ao
altar — comentei, o que despertou risos na assessora.
— Não vai! Segunda-feira você não fará nada além de relaxar. Já confirmei o horário
com a Helena e levamos as mulheres da família lá bem cedo na segunda, para escolherem os
vestidos.
— Ela me contou que deixou os modelos em tamanhos aproximados aos delas e que
teremos duas costureiras para ajustar, isso tá certo, não é?
Questionei sobre uma das minhas maiores preocupações. Era meio óbvio que ninguém
viria preparado para um casamento e mesmo que não fosse uma grande cerimônia, não
queríamos que ninguém se sentisse mal na ocasião, por isso Guilherme reservou alguns ternos e
eu consegui alguns vestidos para que nossos familiares pudessem escolher. Os poucos amigos
que estariam presentes já sabiam da festa.
— Sim, está tudo acertado com ela e com o pessoal dos ternos também. — Nesse
momento Guilherme passou pela porta que ligava a cozinha aos jardins dos fundos e
cumprimentou Antônia.
— Bom dia, xará. Me conte, se em um casamento pequeno a coisa é desse jeito, como é
que funciona num supercasamento?
Antônia sorriu e deu um gole na xícara de café que estava em mãos, antes de responder:
— Bom dia, noivo participativo — ele riu diante do seu apelido. Antônia nos
confidenciou que era muito difícil um noivo se importar tanto com os detalhes do casamento
como Guilherme fazia e eu não poderia ficar mais orgulhosa. — Na verdade não difere muito.
Têm bem poucos detalhes em um casamento para mais convidados que não vai ter no de vocês,
então são os mesmos detalhes, porém em uma quantidade mais expressiva. Na verdade, acho até
que pequenos casamentos acabam dando mais trabalho, pois a perfeição dos detalhes é mais
evidente.
— Um ponto que precisamos discutir e que foi o que me trouxe aqui hoje é com relação
ao vidro que irá cobrir a piscina. — Me mantive atenta a explicação dela. Havíamos escolhido
cobrir a piscina com um imenso e resistente vidro e ali seria a pista de dança. A engenhoca era
muito inteligente e já havia sido usada várias vezes, o que atestava sua segurança. — Os
fornecedores me informaram ontem à noite que tiveram um problema com o vidro fosco que
escolhemos e só vão ter disponível o transparente.
— Correto. Conversei com o pessoal da iluminação e não seria tão difícil suavizar as
luzes – Antônia comentou. — Outra possibilidade seria buscar por um outro fornecedor...
— Não, deixa o transparente — opinei. — Faltam dois dias e nenhum dos outros
fornecedores me pareceu tão confiável quanto esse, prefiro não arriscar.
Diante da nossa confirmação, Antônia nos mostrou alguns esboços de como ficaria a
pista de dança com o vidro transparente, poderíamos acrescentar algumas decorações dentro da
piscina e elas seriam vistas através do vidro.
— O último detalhe é com relação ao seu buquê, Ju — vendo que o assunto seria look da
noiva, Guilherme não tardou a sair de perto, voltando para o jardim. — Consegui algumas
peônias.
Conversei com Antônia por mais alguns minutos, mas ela precisou sair logo, pois
precisava encontrar os noivos que se casariam hoje. Após sua saída, busquei por Guilherme no
jardim e resolvemos ir logo até o supermercado e riscar aquele item da lista.
Foi quando estávamos lá que meu telefone tocou e o nome de minha mãe apareceu
brilhando na tela.
Uma das coisas mais difíceis de toda a preparação do casamento foi esconder isso de
minha mãe, mas ela seria uma das que gostaria de convidar o mundo para a festa, então contar
não seria uma boa opção.
— Oi, mãe — apoiei o telefone na orelha, enquanto escolhia os morangos perfeitos para
as saladas.
— A senhora sabe que não... Acho que na última vida eu fui um peru, agora meu
subconsciente se recusa a cozinhar algo da mesma espécie que eu era.
— É, você tem um jeito de peru mesmo, bem agressiva... Ganso também combina.
— Tá, só queria avisar que eu e seu pai devemos chegar por volta das dezenove.
— Maravilha! A Júlia vem com vocês? — perguntei sobre minha irmã mais nova, já com
medo da reação dela ao casamento. Com certeza iria me matar!
— Não. Dormiu na casa do Fernando essa noite e disse que vai direto de lá, com ele —
respondeu.
— Hm... Vou ligar para ela e perguntar que horas ela vem.
— Só me confirme se eu vou ou não ser avó — soltou a bomba de uma vez e eu quase
soltei a vasilha de uvas que tinha acabado de pegar na prateleira, após colocar os morangos no
carrinho de compras.
— Bate na madeira, dona Laura. Se uma criança entra aqui ela vai ter que sair e a senhora
sabe muito bem por onde sai uma criança — respondi assustada.
— Sei sim, despachei duas. Mas volta ao normal, é tranquilo. Seu pai nem notou a
diferença.
— O que foi? — Quando Guilherme se aproximou eu estava parada feito uma estátua,
encarando o celular em mãos e tentando entender o conceito da conversa com minha mãe.
— Tira o olho que não tem nada aqui, garoto — ergui seu rosto. — Ela só está
confabulando sobre o nosso afastamento.
Ele concordou, jogando no carrinho tudo o que havia pegado durante sua volta sozinho
no mercado.
— Tem que aproveitar a promoção, meu amor. Natal é a melhor época do ano! —
exclamou encantado.
Um fato estranho sobre Guilherme: ele ama uva passa. Come como se fosse lanche. Para
mim é uma atitude meio psicopata, afinal quem ama uva passa, ainda mais pura? Mas ele acaba
com estoques na mesma velocidade com que eu acabo com chocolate, que é um tanto absurda.
— Vamos fazer dois pratos de cada, pois eu não sou obrigada a comer uva passa.
– Só vão ser cinquenta convidados mesmo? – questionei a Guilherme, que olhava para
tudo aquilo tão em choque quanto eu.
O gramado que rodeava toda a casa já estava repleto de peças de madeira oriundas da
decoração, assim como mesas, cadeiras e muitos funcionários. Quase não dava para ver grama,
no entanto eles seguiam entrando e saindo, esvaziando os caminhões.
— Boa tarde — ele respondeu sorrindo. — É bastante coisa mesmo, tem alguns itens
extras para caso algo quebrar. Sempre bom prevenir, né?
— E o quanto você acha que farão hoje? — questionei curiosa e ansiosa para saber o
quão casamento tudo aquilo pareceria ao final do dia.
— Acredito que vamos montar parte do gazebo que será o altar e o caminho até ele,
amanhã vamos montar as mesas e bancos e também chegam as árvores que compõe o cenário.
— Então vamos conseguir concluir toda a montagem até amanhã à noite e na segunda só
fica a decoração, certo? — Guilherme questionou interessado.
— Sim, flores e itens de decoração só chegam na segunda, junto com a Antônia e seu
exército.
Ainda não dava para ter muita noção de como o jardim ficaria para a cerimônia, na
verdade estava tudo um caos e era basicamente impossível de acreditar que as coisas entrariam
nos eixos.
Após alguns minutos, Guilherme voltou a se aproximar de mim, para tirarmos as compras
do porta-malas do carro, fato que eu já havia esquecido. Juntos pegamos alguns dos itens e eu
fiquei na cozinha organizando enquanto ele seguia trazendo sacolas.
A tarde passou voando e ficar observando a montagem estava me deixando ansiosa, mas
eu não sabia mais o que fazer. Talvez começar o pré-preparo da ceia de natal fosse uma boa, mas
eu não sabia se o nervosismo me deixaria fazer as coisas direito.
Guilherme havia saído há dez minutos para buscar os pais no aeroporto, contando a
viagem de ida e de volta, demoraria mais de uma hora e meia . Para aliviar o estresse, tomei uma
ducha bem quentinha, fiz uma máscara facial e me joguei na nossa cama para assistir uma
comédia romântica.
Fui surpreendida com um carro estranho, mas logo me lembrei que eles precisariam de
dois carros para comportar a quantidade de pessoas. Helena Bezerra foi a primeira pessoa que vi.
Os cabelos escuros elegantemente presos no topo da cabeça, muito propício para o calor que
fazia. Guilherme estava atrás da mãe e me olhava de um jeito estranho, acho que minha tentativa
de sorriso estava mais para uma careta.
Assenti sorrindo da forma franca. Helena era uma mulher diferente do costume, sua
aparência denotava a empresária bem-sucedida que era. Aos quase sessenta anos, não aparentava
a idade que tinha, a pele negra bem-cuidada carregava poucas marcas de expressão, o corpo
magro sempre estava envolvido em roupas com caimento perfeito, desta vez uma calça preta
justa, acompanhada de uma camisa branca e nos pés, mocassins.
— Ah, que maravilha — respondi sorrindo, após nos soltarmos. — Eu também odeio
avião, especialmente esse pequeno que faz o percurso de Conquista para Salvador.
Ela sorriu concordando e abrindo espaço para que eu cumprimentasse o resto da família.
Carlos, o pai de Guilherme, foi tão amoroso e prestativo quanto sua mãe, seus irmãos, Gabriel e
Gustavo, não perderam tempo para começar com as brincadeiras, mas logo foram soterrados pela
mãe que os mandou descarregar os carros.
— Nossa, parece que o sol está mais perto da Bahia esse verão — comentou minha sogra,
entrando em casa e aproveitando o vento frio do ar-condicionado central.
— Sim, está impossível ficar aqui em casa sem ar-condicionado. Ainda tivemos sorte da
frente da casa não ser poente.
—Vocês realmente fizeram uma ótima escolha com esse terreno — ela comentou
olhando ao redor e se aproximando da porta que dava acesso ao jardim, onde a estrutura do
casamento estava sendo montada.
—Na verdade foi o Guilherme — respondi sorrindo. — Eu entrei com a casa já pronta, só
opinei na decoração.
— A qual vocês fizeram com muito bom gosto — Se voltou para onde eu estava, o que
me fez suspirar aliviada. — E como ficaram as coisas na empresa? — questionou entrando no
modo empresária.
— E como! Deixei para contar no dia 10, porque fiquei receosa de acontecer alguma
mudança e a gente precisar revogar, mas quando contei só faltaram soltar fogos. Em janeiro vão
voltar com força total.
— É assim que eu gosto dos meus funcionários — concordei sorrindo e logo Guilherme
voltou para a sala com seu pai e irmão.
— Os pais da Ju chegam daqui a pouco, pensamos em pedir algo para jantar aqui hoje,
vocês devem estar cansados da viagem — Guilherme comentou e todos concordaram.
— E essa ceia, Ju. Tudo pronto? — Gustavo questionou. Ele era o irmão do meio e
também o mais divertido. Guilherme sempre foi muito focado na empresa e Gabriel cresceu
mimado pelos pais, por ser o caçula. Coube a Gustavo animar um pouco a casa e ele levou isso
até a fase adulta.
— Quase tudo — relembrei de todas as tentativas de fazer o peru e quis afundar no sofá.
— Mas vocês não decoraram a casa? — Bruna questionou e foi como se uma luz se
acendesse no meu cérebro naquele momento. Olhei desesperada para Guilherme, que assim
como eu havia esquecido completamente do assunto.
— A verdade é que vocês estavam com preguiça de fazer tudo sozinho e esperaram a
gente pra dividir o trabalho — Gabriel comentou e acabamos todos rindo.
Guilherme e eu aproveitamos esse momento para irmos até a cozinha pegar alguns
petiscos para comermos enquanto meus pais não chegavam.
— Caramba, como esquecemos da decoração? – questionei enquanto abria a geladeira e
pegava uma garrafa de vinho.
— Quantas vezes fomos ao mercado e nem pensamos em comprar uma daquelas árvores?
— ele completou e quando demos conta estávamos caindo da gargalhada, tentando conter o
barulho com as mãos.
Foi difícil esconder as risadas e as lágrimas que vieram com elas, o lado negativo da casa
em conceito aberto é a falta de privacidade no piso térreo; isso os Irmãos à obra não contaram.
— Tá tudo bem com vocês? — Carlos perguntou quando voltamos para a sala,
carregando uma travessa com frios e algumas torradas. Apoiamos tudo na mesa de centro e
Guilherme voltou para a cozinha, a fim de buscar o vinho.
A conversa fluiu rápido e as horas voaram, meu telefone vibrou em cima da mesa de
centro e eu aceitei a ligação de minha mãe num átimo, eles já estavam parados em frente à casa.
— Oi, meu amor — ela desceu do carro envolvendo os braços no meu pescoço. — Estava
com saudades da minha pequerrucha, parece que esqueceu que tem mãe.
— Precisei lidar com um peru nos últimos tempos, foi difícil — sussurrei no seu ouvido,
o que lhe despertou risos.
— Oi, boneca. Como você tá? Sua irmã disse que chega em dez minutos.
— Tô bem, feliz que vocês estão aqui — respondi sorrindo e ele me apertou mais,
beijando minha testa.
Meus pais entraram na sala cumprimentando todos os presentes, nossas famílias haviam
se encontrado poucas vezes e mesmo nossos pais sendo bem opostos — os meus mais efusivos e
os de Guilherme mais calmos — eles se deram bem de cara e os poucos encontros foram muito
divertidos.
A conversa fluiu solta entre eles, recheada de provocações por nunca termos feito uma
reunião de família em casa, mesmo morando juntos há quase quatro anos. Eu e Guilherme só
ríamos das provocações e do clima gostoso implantado . Minha irmã não tardou a chegar e junto
com o namorado, se enturmou na conversa da família, sempre buscando motivo para atacar uns
aos outros.
De repente um banco imobiliário surgiu em cima da mesa e eu já não fazia ideia do que
estava acontecendo, minha cabeça estava voando para continentes distantes ao perceber que a
hora de revelar o mistério se aproximava.
Levantei meio desnorteada para a cozinha e só percebi que estava sendo seguida quando
Júlia se aproximou de mim enquanto eu me servia de água na porta da geladeira.
Júlia e eu tínhamos uma mínima diferença de idade, ela nasceu quando eu tinha recém-
completado um ano de vida, então crescemos como melhores amigas que sempre estavam
vivendo uma etapa parecida da vida. Lidar com todo o casamento sem poder contar para ela foi
um martírio maior do quê não poder falar com a minha mãe; Júlia era quase uma parte de mim.
— Respondeu rápido demais e você sabe que sempre fica com o olhar vago quando está
mentindo, não é? — questionou enquanto abria a geladeira e pegava outra garrafa de vinho. –
Algo grave? Vou ser tia?
— Você e a mamãe precisam parar de tentar enfiar um filho na minha barriga – joguei as
mãos para o alto tentando me livrar do estigma de casou tem que ter filho, sendo que nem era
casada, ainda.
— Alguém tem que enfiar uma criança aí, né? Se não é o Guilherme... Além disso, estou
ansiosa para ser tia.
Gargalhei diante do uso do mesmo argumento que utilizei mais cedo com nossa mãe. Se
tivesse sido planejado a gente não seria tão igual.
— Já que o banco imobiliário está a toda, acho que podemos pedir algumas pizzas e
começar o feriado enfiando o pé na jaca culinária, que tal?
— Boa! Vou ver os sabores com a galera.
Ela saiu da cozinha me deixando sozinha novamente, pronta para exorcizar meus
demônios do desespero. O lado competitivo de Guilherme estava à tona enquanto ele jogava na
sala, mas a veia tensa na testa afirmava que ele estava tão ansioso quanto eu.
Suspirei passando a mão molhando na nuca que estava suada mesmo com o ar-
condicionado a toda potência na sala. Bebericando a água, minha mente ia e vinha pensando
sobre o quanto seria bom que a situação acabasse logo ao mesmo tempo em que eu queria voltar
dois meses no tempo para o começo de tudo.
Guilherme e Júlia pediram o nosso jantar e eu voltei para a sala, carregando o copo de
água para intercalar com o vinho e não ser a covarde que anunciou o casamento quando estava
bêbada.
Me sentei ao lado de Guilherme no sofá e ele buscou minha mão com a sua, apertando
meus dedos como um sinal de apoio. Talvez eu estivesse agindo de forma mais estranha do
estava imaginando, pois os olhares dos nossos familiares eram no mínimo desconfiados.
— Não estamos grávidos, podem ficar tranquilos — Guilherme quebrou o silêncio tenso
que se estabeleceu após a minha volta e os irmãos dele gargalharam, ajudando no momento.
— Pera aí que eu não entendi direito — Gustavo começou. —Vocês vão casar...
— Segunda-feira? — minha sogra completou com um grito agudo que eu até duvidei ter
saído dela.
Abri a boca para começar a responder, mas fui interrompida por minha mãe que se
infiltrou na conversa.
— Vocês estão loucos? Como é que casa assim, gente?! Sem avisar a ninguém!
—Tenha a santa paciência! Não eram vocês que não queriam casar, agora isso... – minha
mãe e sogra seguiram exprimindo suas opiniões sobre a situação e no mesmo momento meus
olhos encheram de lágrimas. Virei para Guilherme que no mesmo minuto me puxou pro seu
colo, sussurrando no meu ouvido:
A balbúrdia cessou e todos os olhos se voltaram para nós. Guilherme tinha os braços
protetoramente em volta da minha cintura e mirava todos com um olhar confiante. No seu colo,
todavia, eu sentia o coração acelerado e o suor das mãos que seguravam meus braços.
— Eu sei que é um pouco assustador — ele começou respirando fundo –, mas as coisas
aconteceram meio rapidamente. Falamos com vocês que não queríamos um casamento grande e
na verdade a ideia era só ir ao cartório e assinar uns papéis. Talvez vocês só soubessem quando
tudo estivesse pronto.
— É, mas um casal de amigos nossos fez uma pequena comemoração de casamento há
três meses e foi tudo tão emocionante e feliz que a gente sentiu necessidade de comemorar o
nosso amor também — completei. — Queríamos que fosse só nós, vocês e alguns poucos amigos
que fazem parte do nosso dia a dia, mas não queríamos que vocês se sentissem mal por não
poderem convidar quem quisessem.
— Por isso resolvemos fazer uma surpresa para vocês também – Guilherme seguiu. – Eu
imagino que seja um pouco assustador, eu estou assustado e já sei disso há dois meses — ele riu
e eu segui. — Mas a gente tá muito feliz, também.
— Pensamos em vocês em cada detalhe na concepção disso tudo. Mãe, eu queria ter tido
você e a Juju em cada parte, mas foi maravilhoso tentar pensar como vocês. Helena, eu espero
que você não veja isso como uma afronta.
— Só fomos nós dois querendo celebrar o nosso amor do nosso jeito, com as pessoas que
amamos, na nossa casa e na nossa época favorita do ano — Guilherme finalizou.
O olhar de todos estava paralisado em nós dois e o silêncio que seguiu após a fala de
Guilherme não foi nem um pouco acolhedor. Mordi os lábios enquanto encarava meu noivo, sem
saber muito bem como me portar na situação.
— Ah, meus filhos, vocês não poderiam ter nos dado um presente de Natal melhor – se
levantou do sofá, aproximando-se de mim e Guilherme e me puxando no colo dele, me
envolvendo em seus braços e secando as lágrimas que escapavam dos meus olhos que deixaram
de significar nervoso e passaram a ser de alegria.
Helena fazia o mesmo com Guilherme ao meu lado e de repente os braços dos nossos
pais também estavam ao nosso redor.
Com os olhos arregalados, fiquei tentando entender o rompante das duas e em como os
ânimos mudaram tão rapidamente, mas desisti de entender e me entreguei aos abraços.
— Calma aí, então tu foi frouxo e nem pediu a mão da Ju em casamento? Eu não te
ensinei nada, Guilherme? — Gabriel perguntou rindo e levando todos ao riso.
A pizza já havia chegado e estávamos explicando sobre todos os passos para a cerimônia
de casamento.
— Para começar você é mais novo que eu, não me ensinou nada. E outra, a gente já
estava organizando o casamento, você acha que eu ia pensar em pedir a mão dela? Pra mim já
estava tudo certo — ele respondeu se explicando.
Determinada a não deixar que toda a preparação do casamento fosse desse jeito, resolvi
fazer uma surpresa para Guilherme. A ideia era sair de casa e passar um fim de semana na Praia
do Forte, com os celulares desligados e sem pensar em qualquer coisa relacionada ao casamento,
mas quando vi já estava com um plano traçado para surpreender meu namorado e transformá-lo
em noivo, já que estávamos pulando essa etapa.
— Ah, na hora eu não sabia o que fazer. Me senti meio otário por não ter pensado em
fazer o pedido, mas também fiquei feliz por ela ter feito — ele acariciou minha face e eu sorri ao
me lembrar com exatidão do rosto dele naquele momento; os olhos arregalados tentando
entender a situação, mas que foi logo substituído por um olhar brilhante acompanhado de um
sorriso tímido.
Foi divertido contar a todos sobre a preparação do casamento. Nossa família se mostrou
interessada e buscando sempre respostas para as dúvidas que surgiram. Minha mãe e Helena
ainda estavam um tanto contrariadas quanto as nossas escolhas e, demonstravam isso por meio
de alguns comentários, mas os olhos brilhando diziam que na verdade elas estavam mais felizes
do que enciumadas por não terem participado de todo o processo.
— Tem uma coisa para vocês verem — comentei, levantando do sofá e seguindo até a
porta de vidro que liga o térreo a área da piscina, onde a decoração do casamento estava sendo
montada.
— Meu Deus, filha, está incrível — minha mãe comentou, enquanto se aproximava do
local da cerimônia.
— A ideia de casar em casa foi genial — Bruna ressaltou —, agora estou arrependida por
não termos feito algo assim na fazenda.
— Pelo amor de Deus, amor, não inventa outro casamento — Gabriel suspirou,
colocando as mãos na cabeça e nós rimos.
— Mas é sério, não poderia combinar mais com vocês dois — minha irmã se aproximou
de nós, enquanto falava. – Vocês dois são as pessoas mais caseiras que eu conheço, vivem pra
juntar os amigos aqui ao invés de saírem para um barzinho. Nada melhor do que fazer a festa da
vida de vocês aqui.
Após admitirmos que de fato esquecemos a decoração de natal e de, em consenso geral,
opinarmos que seria estranho uma ceia sem casa decorada e a troca de presentes sem uma árvore
onde eles estivessem aguardando, resolvemos nos desconectar um pouco do casamento e focar
na decoração.
— Pelo amor de Deus, árvore branca está na última moda, precisamos disso —Paola
opinava, tendo Júlia como sua ajudante. Era meio óbvio que minha irmã só queria ver o circo
pegar fogo, mas não posso negar o quanto a discussão pelo modelo da árvore de natal estava
acalorada.
— Árvore branca é brega e nada sustentável — minha mãe opinou. — Olha essa aqui,
imitando neve na ponta. Coisa mais linda!
— Não neva no Brasil, Laura. Você quer coisa mais brega que neve falsa? — meu pai
argumentou e eu tive que concordar.
— Pensem bem, um pinheiro branco, luzes rosas; fashion — Júlia opinou e eu tive que
rir.
— Mas nem a pau! — Respondi, tirando a atenção deles da situação e voltando para
mim.
— Nada de árvore branca, vai ser um pinheiro comum, verde e simples. Enfiar um
casamento no natal já é diferente o suficiente, vamos poupar na decoração.
Michael Bublé tocava ao fundo o meu disco favorito de natal, enquanto começavamos a
pendurar a decoração natalina.
Escolher um local na sala para montar a árvore foi o que desencadeou outra discussão.
No fim, a colocamos perto da imensa janela de vidro na entrada, deixando a árvore em evidência.
Após montarem a estrutura da árvore, os meninos foram para a cozinha a fim de preparar algo
para comermos, enquanto nós garotas ficamos na sala separando os itens que iriam compor a
decoração do pinheiro natalino.
Lá no fundo eu sabia que Guilherme queria dar uma escapada para ver como estavam os
detalhes da estrutura para o casamento. Eu evitava ao máximo olhar para fora, mesmo que meu
coração estivesse palpitando de curiosidade. No entanto, eu sabia que ficar observando o tempo
inteiro só iria aumentar a minha curiosidade e tudo o que eu queria era passar esse dia
tranquilamente.
— Estou tentando focar nessa árvore, mas tudo o que quero é ir lá fora conferir como está
tudo — minha mãe externou meus pensamentos e eu sorri amarelo, com ainda mais vontade de
correr porta a fora.
— O mesmo está acontecendo aqui — minha sogra completou. — Mas fico pensando em
como o impacto vai ser maior quando vermos tudo pronto, amanhã.
— Estou tentando focar nisso, Helena — suspirei, tentando fazer meu coração entender
minhas palavras. — Os detalhes primordiais da decoração só virão amanhã, mas eu imagino que
até ver a disposição dos móveis já vai me tirar o impacto.
Desde a infância sempre gostei de surpresas. Não saber o que esperar me deixava ansiosa
ao extremo, mas também me fazia aproveitar ainda mais o momento e era exatamente isso o que
eu estava buscando para a cerimônia de casamento.
Voltamos a atenção para a decoração e ter compartilhado esse momento em família foi
ainda mais prazeroso. Enquanto distribuíamos os enfeites pela árvore e também ao redor da sala,
nossos pais se dividiam em contar história de natal da nossa infância, o que rendeu inúmeras
gargalhadas.
Quando o assunto chegou na comida a tensão dos perus estragados voltou com tudo.
— O peru ao molho de laranja é uma tradição de família. Lembro de minha mãe fazer
desde que eu era pequena, faço em todos os natais — Helena comentou e eu gelei por dentro no
mesmo instante. — Estou ansiosa para experimentar o tempero da Ju e do Gui neste natal.
Mirei meu noivo do outro lado da sala, que deu de ombros. Se à segunda-feira seria
emocionante, com certeza à terça viria acompanhada de um desastre.
— Ah, tenho certeza que vai ser delicioso — minha mãe comentou, me olhando de lado e
eu segurei o riso que não sabia ser da cara de dona Laura ou de nervoso.
Refleti sobre contar ou não os percalços do peru, mas por fim decidi me manter quieta
sobre a situação. O clima estava agradável o suficiente para eu não quebrá-lo contando que,
juntamente com Guilherme, levamos mais de cinco perus para o lixo.
— É amanhã — comentei com Guilherme, quando nos deitamos algumas horas depois.
— Até que não foi difícil — me aconchegou em seus braços. — Passou rápido.
— Sim! Dois meses atrás parecia uma eternidade e olha agora, só falta uma noite.
Ficamos nos encarando por alguns segundos, absorvendo um ao outro. Mesmo com as
discussões iniciais e até com as discussões mais recentes por conta do sistema do casamento, não
podemos negar o quanto realizar essa cerimônia nos uniu.
Foi incrível ver um lado mais dedicado dele, realmente empolgado em fazer tudo dar
certo e especialmente em atender às minhas vontades. Para mim, foi aprender a ceder e observar
o ponto de vista do outro. Organizar o casamento foi a premissa do resto de nossas vidas, mesmo
sendo uma vida que já estávamos vivendo há quatro anos. A grande maioria das nossas decisões
agora seriam compartilhadas, tudo o que fizéssemos iria impactar no outro e mesmo ainda tendo
as nossas vidas individuais, iriamos sempre pensar no outro, em qualquer circunstância.
— É louco pensar que nós nunca mais vamos estar sozinhos, né? — comentei,
externando a nuvem de pensamentos que se espalhavam pela minha mente. — Digo, eu sempre
vou contar com você e você comigo.
— Nós já fazemos isso há um tempo — ele comentou. — Mas eu também estou sentindo
esse peso a mais e, é assustador.
Abri os olhos e fui invadida pela claridade do quarto. Ele já havia recolhido as persianas
e as cortinas finas balançavam com a brisa do mar. Da cama eu conseguia ver o céu azul, quase
sem nuvens e agradeci pela previsão que se manteve firme, sem chuva para nos atrapalhar.
Me virei na cama e envolvi o pescoço dele com os braços, logo encostando minha boca
na sua e lhe enchendo de pequenos beijos. Sorrindo, ele se virou para trás e foi então que eu vi o
imenso buquê de rosas em cima da cama. Guilherme o ergueu na minha direção e por alguns
segundos fiquei sem reação, olhando para a quantidade incontáveis de rosas presa por um fino
laço vermelho.
— Flores para começar o dia mais encantador das nossas vidas — sussurrou me olhando.
— Eu amo você, Ju. Sei que não queriamos tudo isso no início, mas eu não poderia estar mais
feliz por termos mudado de ideia. Vamos celebrar o nosso amor o quanto pudermos, porque o
que vivemos aqui merece ser reverenciado todos os dias.
Tentei me segurar, mas quando me dei conta as lágrimas já desciam pelas minhas
bochechas. Imaginei o quão medonha eu estaria, inchada após acordar e chorando como um
bebê.
— Eu amo você — respondi. — E agradeço todos os dias pelo esbarrão naquela manhã
que nos trouxe até aqui.
— Se não tivesse aquele esbarrão eu daria um jeito de me aproximar. Você nunca passou
desapercebida para mim.
Sorri encostando minha boca na sua, ele não perdeu tempo e transformou os tímidos
beijos em um digno de cinema, tirou as flores das minhas mãos e colocou ao nosso lado na cama.
Logo suas mãos grandes cruzaram nas minhas costas, me puxando para ainda mais perto de si.
Conseguia sentir o calor do corpo dele através da fina camisola que me cobria e isso estava
despertando um desejo latente dentro de mim.
Zonza com o beijo, demorei para me dar conta de que ele descia a alça da camisola pelo
meu braço, mas não me fiz de rogada e logo o ajudei a me desvencilhar da peça. Segundos
depois sua boca agarrou meu mamilo, me segurei para não gemer alto e chamar atenção dos
nossos familiares que estavam no mesmo andar.
—Vai foder, garota — gritei, jogando um travesseiro na porta e ela saiu gritando e
gargalhando:
— Já fodi hoje!
Guilherme se jogou na cama frustrado com o sexo interrompido, assim como eu estava. A
sensualidade do momento se dissipou e eu me deitei ao lado dela, mirando seus olhos.
Suspirei me lembrando da pilha de nervos que eu estava durante quase todo o fim de
semana, mas que aparentemente tinha se dissipado. Poderia me descrever como absolutamente
relaxada.
— Eu falei que todos iriam amar a ideia — ele sussurrou, alisando meu rosto com a mão
livre.
— Eu sei, aconteceu comigo. Tentei conter o máximo para não te deixar ainda mais
pilhada.
Sorri assentindo. Guilherme era muito emocional e para mim foi perceptível o quanto ele
estava ansioso para que todo o segredo fosse revelado, mas a forma como tentava passar uma
calma que nem ele mesmo tinha, me fez o admirar ainda mais.
Encostei meus lábios nos seus em um beijo demorado e repleto de sentimentos. Ele
envolveu os braços ao meu redor e ficamos assim por um tempo, aninhados um no outro, como
seria para sempre.
Quando descemos para o café da manhã, toda a família já estava à mesa. A animação de
todos era a certeza de que tomamos a decisão certa ao escolher esta época do ano para realizar a
cerimônia e também ao decidir fazer disso algo bem intimista e tão próximo.
Pelo vidro da sacada dava para ver a organização da festa a todo vapor e o que antes
parecia um monte de madeira, já dava as caras de cenário de casamento. Virei o rosto para o
outro lado, disposta a não ter mais nenhum spoiler do que acontecia lá fora.
— Bom dia, meus amores — mamãe se aproximou, abraçando nós dois. Estava vestida
em uma mom jeans clara acompanhada de uma camiseta branca, nos pés calçava um mule
amarelo. Os cabelos loiros presos em um rabo de cavalo alto. — Dormiram bem? Estão
ansiosos? Eu estou uma pilha de nervos, mas nem deveria estar falando isso pra vocês, preciso
passar calma.
Sorri da tagarelice de minha mãe, uma confirmação de que ela realmente estava uma
pilha de nervos.
— Que bom, minha filha — Helena se aproximou, colocando na mesa uma travessa que
segurava em mãos. Meu pai veio logo atrás e colocou o quente-frio com café no centro da mesa,
garrafa que foi logo atacada pelos presentes. — Vai dar tudo certo e vocês vão ficar relaxados até
a hora do casamento.
— Excelente, porque não tenho nada para ser usado em um casamento. — Júlia
comentou. — Você tem alguma exigência?
— Eu não dispenso um vestido da Helena, fiz o meu de noiva com ela e foi perfeito —
Bruna comentou sorrindo.
— Sendo assim, vamos todas — minha mãe respondeu e elas concordaram.
— Nada disso, mocinha. Pode virar de costas — assustada, quase me enrolei nas minhas
próprias pernas e me estabaquei no chão, mas recuperei o equilíbrio a tempo. —Quero o impacto
de ver toda a decoração pronta, então nada de pisar neste jardim hoje. Bom dia, à propósito — se
aproximou de mim, envolvendo os braços em torno do meu corpo que ainda estava tremendo
com o susto.
— Ah, querida, obrigada por cuidar desses dois quando a gente não pôde — meu sogro se
levantou, a cumprimentando com um aperto de mãos. — Sei bem como podem ser difíceis.
Guilherme fez careta para a fala do pai, mas no final eu sorri concordando.
— Foi um imenso prazer trabalhar com esses dois — ela comentou. — Guilherme foi um
dos noivos mais participativos que eu conheci.
— Era a mulher da minha vida, queria ter certeza de que nada daria errado para ela.
— Queria mais noivos assim. Normalmente são as noivas desesperadas para escolher
tudo, acompanhada de uma família que nem sempre entende que o casamento é do casal —
nossos pais sorriram assentindo e sabendo que, muito provavelmente, se eles estivessem
envolvidos a situação seria um pouco assim. — Mas fiquem tranquilos, esses dois pensaram em
vocês em cada etapa do casamento.
Fui raptada para o dia de noiva e não posso negar o quanto amei o sequestro. A nossa
suíte se transformou em um SPA de luxo e entre limpeza de pele e massagem, nem senti que boa
parte da manhã havia passado.
— Seu futuro marido pediu para lhe entregar isso — a voz de Antônia me despertou e eu
me virei, dando de cara com ela segurando uma caixinha preta e um amontoado de flores presas
por um laço branco. Admirei as flores por alguns minutos, sorrindo como uma boba, mas logo
me dediquei à outra embalagem.
Abri a embalagem e uma pulseira de prata rodeada de pingentes estava bem acomodada
no tecido de veludo. Passei a mão pelo metal frio, já sentindo as lágrimas se acumularem nos
meus olhos, mas me segurando para não chorar.
“Amor,
Cada pingente dessa pulseira representa um momento marcante para a gente, e ainda
tem espaço para muitos outros. Aí você vai ver a xícara de café que dominou o nosso primeiro
encontro, a margarida que eu te dei quando saímos pela primeira vez, o livro que comprei pra
você quando te pedi em namoro...
Adoraria ver você com ela quando estivermos celebrando o nosso amor.
Lavei o rosto novamente para me livrar das lágrimas que ainda escorriam e me posicionei
na mesa de massagem, voltando a me perder nas minhas memórias enquanto minha pele era
apertada em diversos pontos.
O tempo passou rapidamente, as mulheres da família voltaram do ateliê e nós passamos o
resto da tarde na suíte, bebendo champanhe e rindo de histórias de família. Estar com elas nesse
momento foi uma das minhas escolhas mais assertivas, até me esqueci do peru que precisaria
lidar no dia seguinte ou se a decoração da festa estava do jeito que imaginamos, compartilhar
esse momento com a nossa família já era suficiente.
Entreguei o buquê à minha mãe, que veio ao meu encontro e tratei de desembrulhar o
quadro. Com um fundo azul-marinho e emoldurado em branco, milhares de estrelas compunham
uma constelação lindíssima. Tentei encontrar algo que me fosse familiar, mas falhei
miseravelmente. Na parte de baixo, no entanto, o dia em que começamos a namorar estava
estampada.
—Também tem bilhete — meu sogro sorriu e me entregou um envelope branco idêntico
ao que recebi mais cedo.
“Amor,
Essa era a posição das estrelas no céu no dia em que você me disse sim pela primeira
vez. Como você é uma apaixonada pelos astros, nada melhor do que guardar a memória daquele
dia através das estrelas.
Hoje vamos dizer sim juntos e quem sabe isso não renda um novo quadro?
Seu Gui.”
As mulheres presentes vibraram com o bilhete e eu aproveitei para testar a durabilidade
da maquiagem, já que não consegui conter as lágrimas. Apoiei o quadro em cima da cama, ainda
admirada com o presente.
— Não sabia que meu filho poderia ser tão romântico — Helena comentou, admirada
com os gestos de Guilherme.
— Ele sempre foi romântico, mas está me surpreendendo nos preparativos para o
casamento — confirmei, com os olhos vidrados na surpresa. — Acho que no fundo a gente
estava com medo do casamento, sabe? É um passo grande, tem um significado enorme. Sempre
tive receio de que acabasse pesando na gente de maneira diferente e deixássemos de sermos nós,
não sei — desabafei pela primeira vez.
— Pensamos muito nisso. Eu não quero ser uma esposa psicótica e nem que ele vire um
marido controlador — suspirei, mexendo na barra do robe.
– Vocês não vão ser, Ju — minha mãe se aproximou. – Eu e Maurício temos muito
orgulho da criação que demos a você e sua irmã, sempre lhes ensinamos que a confiança é a base
de tudo e vocês confiam um no outro. Helena e Carlos fizeram o mesmo com os filhos — minha
sogra assentiu do outro lado do quarto. – Tenho certeza que esse casamento será o que vocês dois
desejam que seja: uma celebração. Só vai fortalecer o amor e a dedicação que vocês têm um com
o outro.
O fotógrafo nos convidou para fazer algumas fotos na varanda do quarto e a emoção do
momento foi transformada em animação novamente. Nos divertimos fazendo caras e bocas para
a câmera e tomando todo champanhe. As brincadeiras – e o álcool – foram excelentes para me
distrair da ansiedade que já estava tomando o meu corpo.
Helena, minha mãe, irmã e concunhadas já haviam saído do quarto quando uma batidinha
na porta soou e Helen colocou o rosto através dela.
— Acharam que eu deixaria a noiva se vestir sozinha? — perguntou sorrindo. Fiquei
aliviada com a sua presença, já que como estilista do vestido ela saberia como deixá-lo no lugar
melhor do que ninguém.
Helen entrou no quarto junto com o seu ferro steamer, cumprimentou a todos nós e tirou
o vestido do cabide onde estava pendurado.
— Vamos? — perguntou.
Indiquei o closet acenando com a cabeça e fiquei mais do que satisfeita pela imenso
espaço que tínhamos. Nunca entendi o motivo de tanto espaço em um lugar que usamos tão
pouco, mas hoje só pude agradecer por isso.
Tirei o robe e vesti a lingerie escolhida para o dia, então Helen e Antônia se juntaram
para passar o vestido pela minha cabeça. Após ajeitar todas as partes, Helen prendeu os botões na
parte de trás e então eu voltei ao quarto para terminar o cabelo.
As aplicações de flores se estendiam em toda a parte de cima até o começo da saia, onde
começavam a ficar mais espaçadas, até que se dissipavam a partir da coxa. Passei a mão pelo
tecido, ainda sem acreditar que o grande momento havia chegado. O véu comprido não tinha
qualquer bordado, mas o tule do qual era feito brilhava tanto quanto o do vestido, não consegui
conter a emoção ao me ver completamente noiva pela primeira vez.
O relógio marcava cinco minutos para as dezessete horas quando batidas soaram na porta.
Antônia foi atender e meu pai surgiu, segurando o meu buquê de noiva e uma caixinha preta.
— Você está estonteante, meu amor — ele disse, assim que pousou os olhos em mim,
visivelmente emocionado.
— Obrigada, papai — sorri, tentando segurar as lágrimas que já queriam voltar a cair.
— Você sempre voou sozinha, lembra que a primeira vez que você andou de bicicleta
sem rodinhas não tinha nenhum adulto por perto?
— Claro, caí no chão e quebrei os dois dentes da frente, lembro da dor como se você hoje
– respondi sorrindo.
Meu pai riu manejando a cabeça, provavelmente se lembrando do desespero ao ver a filha
com a boca cheia de sangue.
— Eu tenho muito orgulho da mulher que você é, e estou muito contente com a escolha
que você fez, Guilherme é um homem incrível e eu tenho certeza que vocês serão muitos felizes.
Assenti sorrindo.
— O casamento não é fácil, mas lembre que a arma secreta é o diálogo. Conversem
sempre e façam o possível para não perderem a confiança um no outro, o amor sozinho não
sustenta uma relação — balancei a cabeça e ele se aproximou, me abraçando antes de entregar os
itens que carregava em mãos. – Pedi ao Guilherme para ter a honra de dar o último presente.
Abri a caixa e encontrei um lindo anel oval, num tom de ouro rosado e com uma pedra
azul no centro.
— Dizem que existe uma tradição para um casamento bem-sucedido. Algo azul, algo
velho, algo novo e algo emprestado. Este anel pertenceu a sua avó — sorri admirando a joia que
coloquei no dedo anelar da mão esquerda, onde meu anel de noivado habitava até pouco tempo, a
pedra azul cintilava aos feixes de luz do sol que entrava pela janela do quarto — este é o algo
azul e velho. A pulseira que Guilherme te deu representa o novo.
— E este terço que sua sogra pediu pra te entregar é o algo emprestado — o terço era em
ouro velho com pequenas pedras transparentes. Delicado, porém comprido, combinou
perfeitamente com o meu buquê, que pela primeira vez eu pude admirar. As peônias estavam
organizadas de forma displicente, junto com algumas folhagens e flores que eu não sabia definir
quais eram. O toque clássico das flores era quebrado pelo ar despojado da arrumação, deixando o
pequeno buquê a cara do nosso casamento.
— Tá pronto, Gui? — fechei a caixa com o par de alianças e coloquei no bolso assim que
ouvi minha mãe me chamar na porta. Suspirei profundamente e me virei para encará-la.
— Você sempre foi o meu filho mais centrado — disse quando me soltou e foi se
aproximando da cama, no quarto em que estávamos. — Desde criança buscou ajudar na fazenda,
na adolescência se interessou pela papelada e logo começou a estudar para administrar essa parte.
— O papai e você gostavam de lidar com a terra, alguém tinha que lidar com os números
— provoquei e ela sorriu concordando.
— Que bom que foi você, meu filho — respondeu, sorrindo maternalmente. — Durante
muito tempo eu me preocupei com a forma como você lidava com o trabalho, mal tendo tempo
para momentos pessoais — tentei interromper, mas ela foi rápida em me cortar. — Eu sei que te
fazia feliz, que você era realizado, mas olha o quão mais realizado é hoje.
Assenti sorrindo e tentando me recobrar desse momento da minha vida. Durante toda a
adolescência e começo da vida adulta, abdiquei de toda diversão para lidar com os negócios da
família. Foi nesse período que tivemos as maiores expansões e começamos a exportar para o
exterior, o que me gerou ainda mais trabalho e necessidade de foco.
— Agradeço a Deus por ter colocado a Ju no seu caminho. Desde que a encontrou, você
voltou a ser o meu garotinho brincalhão e arteiro, que sempre busca uma maneira inusitada para
nos surpreender e fazer rir. A prova é este casamento! Ela te transborda, Gui e eu estou
extremamente feliz com a união de vocês.
“Mas quando eu a encontrei e a gente seguiu se encontrando, pensei que pudesse ser,
sabe? “ — elevei meus olhos aos seus. — Ela falava e falava e falava e eu não cansava de
escutar. Várias vezes eu me peguei sem saber de qual assunto estávamos conversando, por estar
entretido demais observando os trejeitos dela e agora a gente vai se casar — disse essa última
parte em um crescente desespero.
— Quando encontramos o amor de nossas vidas é estranho assim, Gui — Como imãs, as
mãos de meus pais buscaram uma a outra. — Helena e eu começamos brigando, ela sempre
encontrava um defeito para os serviços que eu fazia na fazenda. Com o passar do tempo eu
percebi que amava vê-la irritada, então sempre buscava fazer algo errado, só para que ela viesse
brigar comigo. Num piscar de olhos eu me vi ao lado dela no altar e ter a certeza de que
estaríamos lado a lado pro resto da vida foi tão prazeroso quanto amedrontador.
— Nada muda, mas tudo muda, meu filho. O casamento é uma festa, é comemorar essa
relação, mas também é fortalecê-la. Vocês já tiveram coragem para fazer isso do jeitinho que
imaginaram, agora vivam essa festa e o pós ela da mesma forma que vocês viveram até aqui. Se
apoiando, se respeitando e se amando.
Parei no lugar quando a nossa música favorita começou a tocar. Ela não havia me
contado a música que escolheu para entrar na cerimônia, mas não é como se eu já não soubesse.
Fiquei buscando Juliana com o olhar, mas ela ainda não havia entrado no meu campo de
visão. Os convidados, no entanto, já podiam vê-la e os sons que soltavam aumentava ainda mais
a minha necessidade de encará-la.
Juliana entrou no pequeno corredor branco apoiada em seu pai e sua mãe. Os olhos
brilhantes encaravam os meus e um imenso sorriso iluminava o rosto. O impacto daquela visão
me desestabilizou ainda mais. Pensei que já amava a Ju ao máximo, mas meu coração explodiu
naquele momento.
O trajeto pode ter durado pouco tempo; no entanto, enquanto eu mantinha meus olhos
fixos no dela, parecia que o mundo estava rodando em câmera lenta. Todos os meus amigos
casados falavam sobre a emoção e o impacto do momento, mas nada me preparou para o que eu
estava sentindo ali.
Eu não via nada ao redor, somente Juliana. Envolta em uma nuvem branca e brilhante, ela
sorria enquanto derramava pequenas lágrimas pelo rosto de porcelana. A maquiagem fraca,
transmitia a mulher que esteva comigo durante todos os dias dos últimos quatro anos da minha
vida, e que ficaria por muito mais tempo.
Mais rápido do que eu imaginei, Maurício me entregou a mão dela, mas antes me
cumprimentou com um abraço apertado e o desejo de felicidades, o qual foi seguido por Laura.
Me virei para Juliana, que com as bochechas coradas, olhos brilhantes e lábios tremendo, parecia
ainda apaixonante. Sorri olhando nos seus olhos, antes de levar meus lábios até a sua testa e
depositar um beijo ali.
De mãos dadas, nos viramos para Rennier, o juiz de paz que celebraria a cerimônia e que,
não por acaso, era nosso amigo e noivo em questão no casamento que despertou em nós a
vontade de celebrar o nosso.
Rennier recebeu com alegria o pedido para celebrar a nossa união e criou uma cerimônia
diferente do comum. Durante os trinta minutos em que ficamos de frente para ele, pudemos
reviver um pouco do nosso casamento a cada nova fala. Desde o esbarrão no primeiro encontro,
até a viagem para Porto Seguro com quase todos os dias de chuva, cada detalhe que animou ou
fortaleceu o nosso relacionamento foi mencionado.
As mãos de Juliana apertavam a minha com força e o lenço que enfeitava o bolso no meu
terno, já estava todo espremido nas mãos dela. Decidimos por não declarar votos um para o
outro, deixando os tradicionais falar por nós. O sim foi nítido, alto e claro e a troca de alianças
tornou perceptível o nosso nervosismo.
A gente riu, chorou e riu mais um pouco e, apesar da presença de todos os convidados, eu
só sentia a Ju ali.
— Pode beijar o noivo — Rennier declarou ao final da cerimônia e todos riram com ele
deixando Juliana tomar a iniciativa do beijo.
Ela se colocou na ponta dos pés e delicadamente colou os lábios dos meus. Seus braços
passaram ao redor da minha cabeça e ela me puxou para perto pelo pescoço. Talvez um beijo
mais curto e espalhafatoso tivesse sido o conveniente, mas um beijo quente e demorado fazia
mais o nosso estilo.
Quando nos soltamos, todos os convidados estavam de pé, assoviando e batendo palmas.
Nos bancos mais próximos ao altar, nossa família ria, chorava e comemorava, não sabendo muito
bem o que fazer primeiro. Eu e Ju desfilamos pelo tapete e quando chegamos ao fim dele, decidi
fazer uma cena hollywoodiana. Segurei ela pela cintura e inclinei seu corpo, grudando minha
boca na sua.
Os risos dos convidados, acompanhados de gritos de ‘hoje tem’ tornou a cena ainda mais
divertida.
— Você está deslumbrante — declarei para a Ju, assim que entramos na sala de casa. Os
convidados seriam remanejados para a área de festa enquanto nós dois faríamos algumas fotos.
— Queria ter dito isso assim que nos encontramos, mas minha cabeça não estava funcionando
muito bem naquele momento.
Ela deu uma voltinha sorrindo, fazendo com que o vestido flutuasse ao redor dela e
pequenas partículas de brilhos que eu ainda não tinha percebido, fizessem com que ela
resplandecesse.
— Você também está um galã — respondeu sorrindo — e um galã todo meu. —Piscou.
A noite caiu rapidamente e quando voltamos à festa, todas as luzes já estavam acesas e os
convidados se balançando ao som de uma balada que tocava. A decoração em tons de branco e
madeira se mesclava ao nosso jardim, tornando o lugar aconchegante e iluminado.
Enquanto o DJ era alertado para tocar a música da valsa, Gabriel e Bruna foram
atravessar o jardim por cima da piscina, mas descobriram, assim como nós, da pior forma
possível que a piscina não estava coberta.
— Puta que pariu! — Juliana exclamou ao meu lado, levando as mãos a boca.
Como um canhão, os dois caíram na piscina, espalhando água por toda a parte e causando
comoção nos convidados. Segundos depois emergiram encharcados e olhando ao redor, tentando
entender o que aconteceu. Busquei Gustavo com os olhos e este já tapava a boca, tentando conter
o riso. Eu, no entanto, não fui tão educado e quando percebi que ambos estavam bem gargalhei
tão alto que com certeza fui ouvido em Vitória da Conquista.
Os convidados não conteram o riso e de repente todos estávamos rindo da cena grotesca
que por pouco não foi protagonizada por mim e pela Ju.
— Mas eles não trouxeram o vidro hoje cedo? — Ju me questionoue e eu dei de ombros,
sem ter uma resposta concreta para aquilo.
— Você não presta, Guilherme — ela respondeu, me dando um tapa no braço e rindo em
seguida.
Sorri para o verso que ela sussurrou de forma safada e, vendo o clima esquentar, os
convidados não perderam tempo antes de nos mandar buscar por um quarto, especialmente a
irmã da minha esposa.
O relógio marcava três da manhã quando subimos para a suíte. Por ser quase véspera de
Natal, não prolongamos tanto a festa, já que ainda teríamos lidar com a ceia quando
acordássemos.
— Tô morto! — declarei jogando em uma das poltronas o terno e a gravata que carregava
nas mãos.
— Claro, ficou bêbada e morgou no sofá por uns quarenta minutos — respondi,
cutucando a onça. — Você não tinha me mostrado esse seu lado.
Juliana gargalhou, enrugando os olhos e fazendo com que lágrimas escorressem pelos
cantos, borrando ainda mais a maquiagem.
— Eu acho que a gente merece um banho de banheira — resmungou, tentando fazer
malabarismo para abrir os botões do vestido nas costas.
— Acho que concordo com você — respondi, indo em seu socorro. Delicadamente soltei
os poucos botões de suas casas e em seguida desci o zíper que complementava o fechamento.
Após abrir a roupa, encostei os lábios na sua nuca, que com o penteado quase desfeito estava
cheia de fios de cabelo.
Ela sorriu, virando-se para mim e encostando os lábios nos meus, antes de seguir para o
banheiro largando o vestido no meio do caminho.
Me despi rapidamente e quando entrei no banheiro, Ju estava tomando uma ducha rápida
enquanto a banheira enchia.
— Meu pé estava preto — ela comentou, apontando para a água escura que escorria pelo
box e eu só dei risada da situação. A noite após o casamento é no mínimo divertida.
Nos aconchegamos na banheira alguns minutos depois. Algum bom samaritano havia
deixado uma garrafa de champanhe e um balde de gelo que agora era quase água, mas mesmo a
bebida não estando na temperatura ideial, abrimos e brindamos.
A conversa mole, aliada aos afagos constantes, fez o clima esquentar rapidamente. Os
beijos que eu dava nos ombros de Juliana foram bruscamente interrompidos quando ela se
levantou da banheira, apenas para sentar-se em meu colo, de frente para mim.
— Acho que a gente tem uma coisa com lugares com água — ela comentou, envolvendo
os braços pelo meu pescoço e aproximando a sua boca da minha. O beijo profundo mexeu com
partes do meu corpo que já estavam acordando há um tempo. Passei meus braços pela sua
cintura, lhe trazendo para mais perto.
Ela se apoiou nos joelhos, fazendo com que seu sexo tivesse ainda mais contato com o
meu e eu grunhir em resposta, mordendo seu lábio.
— Opa! — exclamou, sorrindo arteira ao mesmo tempo em que rebolava no meu colo.
Desci a boca pelo seu pescoço e colo e ela gemeu, jogando a cabeça para trás.
— Não sei se vai ser uma boa fazer isso aqui, com esse tanto de sabão – ela comentou,
quando separamos os lábios em busca de um pouco de ar.
A boca dela mordiscando minha orelha me fez gemer alto e ela riu, tapando minha boca
com a sua própria. Apesar da grande vontade, não queria que a nossa primeira vez de casados
fosse contra a parede do banheiro, então suavizei as investidas, descendo seu corpo para o chão e
nos tirando do banheiro em seguida, para a jogar em cima da cama coberta com lençóis brancos.
— Ah, porra! —Ju exclamou, quando minha mão acertou sua bunda branca, deixando as
marcas dos meus dedos ali.
A senti pingando em minhas mãos e não aguentei mais, alinhei meu pau a sua entrada e
de uma vez busquei seu calor. Ela levou o braço ao rosto e o mordeu, para não gritar, mas seus
olhos brilhantes revelavam toda as sensações do momento.
Demorei alguns poucos minutos para levantar da cama e convencê-la a fazer o mesmo,
seus braços se enroscaram nos meus enquanto seguíamos para o banho.
— Para quem fala que não tem noite de núpcias... Não tem para os fracos — ela
comentou e eu gargalhei em resposta.
O café da manhã aconteceu no início da tarde, toda a família estava reunida em torno da
mesa e apesar de todos termos dormido muito pouco a noite, a empolgação para ceia de Natal era
geral.
Depois do incrível dia de ontem, até deixei de lado o medo de não conseguir fazer o peru
ou de dar tudo errado no preparo da comida, a preparaçñao para o casamento e a comunhão de
todos na festa me fez perceber que um assado a mais ou a menos não estragaria essa maravilhosa
reunião.
Engoli, bebericando um pouco do café que estava na minha xícara e assenti sorrindo.
— Talvez a gente tenha estragado uns dez perus na tentativa de fazer um certo – ele
comentou, fazendo Gustavo e Gabriel caírem na gargalhada e por pouco não cuspir comida em
todo mundo.
— E esse certo nunca chegou — respondi vermelha. Minha sogra olhava para nós dois,
tentando segurar o riso, mas quando meu sogro não o fez, ela o seguiu.
— Você acredita que a primeira ceia na nossa casa também foi assim? – ela perguntou
retoricamente e eu neguei, aproximando meu corpo na intenção de que ela seguisse com o relato.
— Os pais do Carlos iriam jantar na nossa casa e eu fiquei desesperada. Nunca tinha cozinhado
na vida, mas queria fazer bonito pra minha sogra. No final das contas, estraguei o peru,
empestiei a casa com o cheiro de queimado e a gente foi para a casa dos meus pais e passamos
todos o Natal por lá.
— E foi o melhor primeiro Natal que poderia existir — meu sogro comentou, se
aproximando da esposa e encostando os lábios nos seus.
— No nosso caso foi seu pai quem queria impressionar meus pais, então eu passei ilesa
— mamãe comentou, gerando riso em todos os que estavam na mesa.
— E pode ser, contanto que vocês não fiquem tristes com a falta de peru – Guilherme
comentou rindo.
— Acho que se a gente transformar essa coisa de vocês dois em algo de todos nós, que
tal? – minha sogra opiniou. — Se já foi divertido decorar a casa, imagina fazer a ceia.
— Opa, agora eu tenho uma receita de peru infalível. Receita da minha sogra! – Helena
exclamou e a gente sorriu, concordando.
Após o café da manhã, assistimos uma comédia clichê de Natal e depois migramos todos
para a cozinha, a fim de preparar o jantar. Helena me explicou sobre a temperatura do forno,
tempo de imersão do peru na marinada e como massagear a ave de forma que ela ficasse mais
macia e suculenta, ainda tinha um molho de laranja e mel para acompanhar que tornava tudo
mais perfeito. O passo a passo foi seguido de perto por Guilherme, que vez ou outra tecia
comentários sobre as memórias de sua infância que tudo aquilo estava lhe causando.
— Puta que pariu! — exclamei quando tirei o peru da marinada para colocar na assadeira
e ele escorreu das minhas mãos, deslizando por debaixo da ilha da cozinha e parando quase na
sala de estar.
— Olha a boca, Juliana — meu pai gritou da sala ao mesmo tempo que Gustavo salvava
o peru.
— Regra dos três segundos — ele disse, erguendo a ave por uma das coxas.
— Pelo tempo do escorrega, eu acho que foram mais de três — Gabriel opinou
Rapidamente lavamos o peru com parte da marinada e seguimos adiante, como se nada
tivesse acontecido.
As horas se passaram raidamente entre fazer os pratos salgados e doce e decorar a mesa
para a ceia. Meus pais e sogros compartilharam receitas e histórias de família nas quais os mais
jovens prestavam muita atenção. A reunião em torno do fogão foi regada a muito vinho, o que
fez com que alguns pratos queimassem levemente, animando ainda mais a galera.
— Você não tem jeito — comentei rindo e me virando para o espelho ao lado da tevê. –
Mas eu tô gostosa mesmo.
Virei para ele, que vestia uma bermuda de tecido verde musgo com uma camisa branca e
nos pés calçava um chinelo. Eu havia trocado os chinelos por uma rasteirinha nude, prendido os
cabelos em um coque alto e passado uma maquiagem rápida no rosto.
— Não é louco que a gente se arruma pra ficar na sala e ver o show do Roberto Carlos
que é igual todos os anos? — ouvimos Gustavo dizer da sala quando nos aproximamos da
escada.
— Não tem show do Roberto Carlos esse ano... – comentei, quando alcaçamos metade
do caminho.
— Como assim? Que Natal é esse? Oh, meu Deus, estragaram tudo! — ele dramatizou,
se jogando no sofá e caindo no colo do pai, que lhe deu um cascudo.
A casa estava com poucos pontos de luz, tornando o lugar uma penumbra aconchegante e
dando mais atenção para as luzes de Natal que piscavam na árvore e para a grande mesa posta no
centro da sala de jantar tinha os mesmos tons da decoração.
— Eu voto por mais um filme brega de Natal — Bruna disse, erguendo os braços e sendo
logo seguida por minha irmã, sogra e mãe.
— Será que podíamos jantar antes? — Paola perguntou e todos entraram em acordo. Era
meio óbvio que não esperaríamos à meia-noite para jantar, especialmente por não termos
almoçado, apenas beliscado durante a preparação da ceia.
Jantamos entre conversas e risos, tendo parte da ceia repleta de uva passa — culpa do
Guilherme — e a outra com quase nenhuma. O peru suculento de minha sogra estava como nos
últimos anos e é aqui que eu confesso que repeti duas vezes.
— Acho que vamos ter que fazer a ceia aqui no próximo ano pra ver o Gui vai saber
mexer com o peru — Gabriel comentou, logo sendo rebatido por Guilherme:
— Não preciso saber das suas mexidas com peru, Guilherme — minha mãe comentou, o
que rendeu risos em todos.
— Sei que ainda não é hora dos presentes, mas eu não aguento mais manter essa surpresa
para mim — Paola começou, olhando ao redor, mas logo mantendo o rosto fixo em Gustavo.
Meu cunhado, que até o momento ria de algum comentário, logo se colocou sério,
olhando em expectativa para a esposa que torcia as mãos em frente ao corpo.
— Daqui a alguns meses vocês vão ganhar um sobrinho e um netinho — ela sussurrou
olhando para gente, com lágrimas nos olhos e a mão agora apoiada na briga. — E você, meu
amor — virou-se para Gustavo — vai ser papai.
A mesa foi tomada por um silêncio que durou poucos segundos até gritos serem ouvidos
e Gustavo puxar Paola para seu colo, colando sua boca na dela para logo em seguida descer o
rosto até a barriga da esposa.
Meus pais sorriam empolgados com a ideia de um bebê na família, assim como minha
irmã e o namorado. Minha sogra estava abraçada ao meu sogro, comemorando a felicidade do
primeiro neto, enquanto Gabriel, Guilherme, Bruna e eu nos juntamos em um choro que se
misturava ao riso e denotava o misto de emoções que o momento passava.
O resto da noite foi um misto de questionamentos à Paola sobre como ela descobriu a
gravidez e conseguiu disfarçar tão bem em meio a tantas situações, assim como períodos de
adoração a sua barriga quase inexistente e muito brigadeiro de colher para acompanhar a
comédia natalina que passava na tevê.
Mais uma vez, fomos dormir no meio da madrugada, sorrindo como bobos e com coração
acelerado por tantas coisas boas.
— Que Natal perfeito para finalizar uma década, não? — Guilherme perguntou assim que
me aconcheguei ao seu lado entre os lençóis.
— Não poderia ser melhor — respondi, passando o braço em torno do seu corpo e
apoiando minha cabeça no seu peito. — E ainda temos amanhã — sussurrei.
— Tempo bom.
Satisfeita, me aconcheguei em Guilherme sorrindo, grata pela família que nasci e também
pela que escolhi. Ao longo da vida, descobri que família vai muito além de laços de sangue, são
laços de coração e poder fortificar essas relações ao longo do final de semana mais incrível de
minha vida me fez ainda mais agradecida.
Enxuguei uma pequena lágrima que escorreu pelo canto do olho e deixei o sono me levar,
enquanto a brisa do mar entrava pela janela esquecida aberta, beijava meu corpo e me dava a
certeza de casa, de um lar, o meu lar.
Começo agradecendo a todos os que acreditaram na minha primeira história, é por causa
dela que essa daqui ganhou vida. Vocês que acompanham o meu trabalho e torcem por mim:
muito obrigada! Este ano não foi fácil, mas concluí-lo entregando essa história para vocês faz
com tudo tenha valido a pena.
Agradeço a minha mãe, que apoia e torce por mim desde que escrevi a primeira história,
com três linhas. Você formou quem eu sou e serei eternamente grata por isso. Ao meu incrível
namorado, que me alimenta e cuida enquanto estou me dedicando as coisas que amo fazer. Você
é a minha pessoa favorita no mundo. Obrigada por tudo. Amo vocês!
À Alba Milena, minha agente, que entende o meu tempo, puxa minha orelha, me apoia e
tem as melhores ideias. Essa história não seria metade do que ela é sem as suas piadas.
Obrigada a você, que leu, espero que tenha rido, chorado e senti a importância de se
comemorar o amor.
Barbara Sá é baiana, nasceu em 1995 e é blogueira há sete anos, durante esse período se
formou em letras pela Unifacs. Enfurnada no mundo dos livros desde criança, recentemente
descobriu que também poderia criar suas próprias histórias. Criadora do Segredos Entre Amigas,
é apaixonada por romance, filme de época e chá de limão.