11-01-2020

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Aqui nunca muda as estações.

É sempre um calor insuportável, mas constantemente eu mudo


para saber mais sobre mim mesmo o universo a minha volta. Mudo mesmo que seja apenas no
modo de olhar. Mudo nem que for a cor do pensamento na parede da memória.

Eu andava sozinho pelas matas da cachoeira. Me afastei do meu grupo que falava alto se
banhando nas águas doces daquele rio antigo. As vezes pensar e imaginar o mundo cansa e
apenas queremos nos recolher em nossa própria morada. Em nossa própria natureza.

Eu fui seguindo, subindo e descendo pedras, subindo cada vez mais alto aquele morro e me
afastando cada vez mais do povo que fazia bagunça lá embaixo. Suas vozes ficavam cada vez
mais distantes e eu fui ficando só, apenas com o verde, o som dos pássaros e o chiado das
águas passando por mim. Sei que parar de pensar é inútil e o que podemos fazer é aceitar
nossos pensamentos e procurar a fonte dos nossos desejos.

Eu já estava cansado de andar pelas matas. Meu corpo transpirava e a sede agora fazia minha
garganta arder. Eu tinha sede não só de água, eu queria o mundo e saber quem eu era, onde
eu estava. O ar entrava nos meus pulmões e saía como alimento das plantas. O ar saía das
plantas e entrava em meus pulmões como alimento da vida. Eu precisava beber das águas
daquele rio e saber o que tudo queria dizer.

Busquei andar na direção do som das águas batendo nas pedras. Ao chegar na margem deixei
meu chinelo branco em cima de uma pedra e mergulhei de cabeça naquelas aguas calmas.
Bebi um pouco daquela e senti o liquido gelado esfriar meu corpo por dentro. Depois
mergulhei nas águas e fiquei algum tempo embaixo d’agua. Parecia que dava para ouvir o som
do mundo passando por mim naquele momento. E o mundo me dizia tudo eu podia ouvir e
nem sabia que existia.

Quando me faltou ar, subi novamente a superfície e meus pulmões se encheram com a vida
que saia daquele verde. Olhei ao redor e nada parecia estar igual antes. Eu não era o mesmo.
O rio não era o mesmo. As cores estavam mais vivas. Os sons mais vividos e os cheiros que
entravam eu meu nariz pareciam letras da mata. Eu via lá longe os pássaros no céu e no fundo
do rio os peixes se movimentando rapidamente. Mas o que me chamou a atenção foi uma
mulher sentada na beira do rio colhendo lírios tranquilamente enquanto cantava uma melodia
simples que nunca mais saiu de minha memória.

Olhei seu pé negro com as unhas pintadas delicadamente de branco passando nas águas. Em
seu tornozelo um colarzinho de outro combinava com seu vestido amarelo e em seu pescoço,
um colar de pérolas sob as tranças que desciam até seus peitos fartos.

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