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Emer, Guillaume
Vítimas da moda? : como a criamos, por que a seguimos
/ Guillaume Emer ; tradução Eric Roland René Heneault. -
São Paulo : Editora Senac São Paulo, 2005.
05-7092 CDD-391
Vítimas da moda?
Como a criamos, por que a seguimos
Tradução
Eric Roland René Heneault
Administração Regional do Senac no Estado de São Paulo
Presidente do Conselho Regional: Abram Szajman
Diretor do Departamento Regional: Luiz Francisco de Assis Salgado
Superintendente Universitário: Luiz Carlos Dourado
Traduzido de:
Victimes de la mode? Comment on la crée, pourquoi on la suit
© Editions La Découverte, Paris, France, 2004
Conclusão 245
Bibliografia 249
índice geral 251
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Alexis de Tocqueville,
A democracia na América
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Prefácio
1
Raymond Boudon, Lart de se persuader des idées douteuses, fragiles ou fausses
(Paris: Fayard, 1990), p. 7.
16 Vítimas da moda? Como a criamos, por que a seguimos
* Essa frase faz referência a um verso de René Char em "Tli as bien fait de
partir, Arthur Rimbaud!”, em Fureur et mystère (Paris: Gallimard, 1962). (Nota
do tradutor.)
181 Vítimas da moda? Como a criamos, por que a seguimos
Ela mudava de vestido várias vezes por dia; um para cada oca¬
sião. Mas seu assunto predileto eram os penteados. Obviamen¬
te, ela não deixava qualquer um cuidar de seus cabelos: para um
assunto tão sério, entregava-se aos cuidados de um inglês, um
verdadeiro esnobe, pelo que se comentava. Ele se permitia
selecionar seus clientes, e às vezes recusava mulheres da mais
alta sociedade. O dia inteiro ela pensava nisso, procurando o
melhor creme, caçando as novas tendências, que suas amigas
traziam de fora. Sim, mas um belo dia essa cabeça tão bem
cuidada caiu. Ela não era Gwyneth Paltrow, mas Maria Antonieta.
^ Naomi Klein, No Logo: la tyrannie des marques [Aries: Actes Sud), 2001.
Introdução (27
1
Didier Grumbach, Histoires de mode (Paris: Seuil, 1993), p. 19.
0 nascimento do costureiro
florido que lhe propôs - desculpe; lhe impôs - Worth. Como não
era rancorosa, Eugênia - como outra lendária aristocrata, Sissi
(Elizabeth da Áustria) - imortalizou essas criações no retrato fei¬
to pelo pintor Winterhalter, para o qual serviu de modelo usando
um vestido de tule de seda adornado de bordados de ouro. Worth
não se considerava um fornecedor dessas damas; ele queria ser
igual a elas, seu amigo, seu confidente. Explicava que, como per¬
tencia ao mundo delas, podia entender as expectativas da rainha
Vitória ou da mulher do czar. E para convencê-las a comprar
suas criações, ele teve a idéia de apresentá-las sendo usadas por
mulheres verdadeiras: assim, inventou os manequins, que origi¬
nalmente eram chamados “sósias”.
® Ibid., p. 52.
0 nascimento do costureiro
7 Norbert Elias, Mozart, sociologie d'un génie, La Librairie du XX® Siècle (Paris:
Seuil, 1991), p. 95.
40 A marca de fábrica
8
Isabelle Fiemeyer, Coco Chanel, un parfum de mystère (Paris: Payot, 1999),«
p. 37.
0 nascimento do costureiro 41
Ibid., p. 70.
" Ele explica: "Era uma mulher muito bonita. Hoje ela tem 68 anos, é a geração
dos anos 1960. Quando tinha 20 anos, foi modelo de maiôs; existem fotos
dela com biquínis de leopardo. [...] Ela era, e ainda é, uma mulher de muito
glamour, com muitas jóias, um guarda-roupa que cintilava; ela adorava tudo
que brilhasse. [...] Sobretudo, era fascinada por Hollywood, pelos filmes em
preto-e-branco de Hollywood, especialmente os de Fred Astaire e Ginger
Rogers. Ela assistia aos filmes deles na tevê, sabia tudo sobre eles. Thmbém
eu gostava desses filmes, desse lado de glamour, romance, mistério, brilho,
dessas histórias que sempre acabam bem. Fui criado de maneira engraçada,
sobretudo para um rapaz”. Cf Mixt(e), primavera-verão de 2002.
44 A marca de fábrica
Criadores de diferenças
o criador de moda é um especialista da diferença, suscetí¬
vel de transcrevê-la com o tecido. Entre os criadores, vários
são os indivíduos dotados de uma identidade minoritária: ju¬
deus, homossexuais, mulheres solteiras em uma época em que
deviam ser esposas, e hoje jovens dos subúrbios. Como explicar
essa situação?
0 criador superstar
Se para muitos franceses Mohamed Dia já é um nome co¬
nhecido, talvez logo se torne um people, uma celebridade, como
seus pares Tbm Ford (que em pouco tempo se tornou diretor
artístico de Gucci, função que já não exerce mais) ou John Galliano
(que arquitetou a volta de Dior ao palco). Com certeza, cada um
desses três indivíduos tem seu estilo próprio; as respectivas mar¬
cas para as quais eles criam têm pouca relação entre si. Mas,
como no mundo do cinema, a moda tem seu Olimpo, onde se
reúnem criadores que vieram de todos os horizontes. Para ser
admitido nesse clube, basta ser uma estrela no sentido que Edgar
Morin^^ dava a esse termo: ao mesmo tempo próxima e distante,
a estrela vive no mesmo planeta que nós, mas nele tem uma
outra existência. O criador de moda se tornou um personagem
irreal, a meia distância entre a realidade e a ficção.
15
Edgar Morin, Les stars (Paris: Seuil, 1972).
A marca de fábrica
16
Ihid, p. 102.
17
Ibidem.
0 nascimento do costureiro
21
Elle, 5 de julho de 1999.
22 Colombe Pringle, "On devient ce que Ton crée", em LExpress, 2-1-2003.
56 A marca de fábrica
23
Ihidem.
0 nascimento do costureiro
28
Apud Marie-France Pochna, Chrisãan Dior, cit., p. 264.
0 nascimento do costureiro
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2
0 milagre da marca
Um capitalismo ostensivo
Não somos artistas, mas criativos realistas. Levamos uma vida agra¬
dável, viajamos na classe husiness, freqüentamos determinados ho-
téis, usamos roupas apropriadas, mais chiques que elegantes, muito
bem cortadas, com alguns detalhes notáveis, mas que não nos fa¬
zem parecer trendy demais ou estupidamente na moda.®
Aqui ninguém reivindica "moda”, mas tendência. [...] isso quer dizer que
queremos proporcionar um toque antenado à moda dos executivos
9
íloiàem.
poderiam ter financiado sua alta-costura. Em 1993, Saint Laurent
perdia nessa atividade mais de 5 milhões de dólares por ano;
subsistia apenas graças à renda dos perfumes.
A receita da moda Dior aumentou 75% de 1998 a 2001. Hoje, ela representa
um terço da receita do perfume, 1 bilhão de euros em 2001, que progrediu
30% em três anos. Alguns itens, a preço de luxo, são vendidos como produtos
de grande consumo. A grife, deficitária em 2001, teve um resultado positivo
em 2002. Mais impressionante ainda é a receita, que aumentou 41% entre
2001 e 2002, para 492 milhões de euros. Em Journal du Textile, 26-5-2003.
Segundo uma avaliação da consultora Interbrand, hoje referência internacio¬
nal nesse setor.
A marca de fábrica
26
Cf. Managment, setembro de 2001, p. 29.
para evocar sua imagem. Uma incógnita ainda permanece: du¬
rante um leilão em 2003, Gérard Darei adquiriu o famoso ques¬
tionário de Proust. Será que a marca quer se lançar no prêt-à-
porter masculino?
27
Naomi Klein, Lo logo: la tyrannie des marques, cit.
92 A marca de fábrica
28
Agradeço a Serge Liminana por ter permitido que eu tomasse conhecimento
do estudo Sorgem que realizou, por conta da Régie Autonome des TLansports
Parisiens (RATP), sobre os jovens dos subúrbios.
0 milagre da marca (93
29
Michèle Lamont e Virag Moinar, "How Blacks Use Consumption to Shape
Collective Identity", em Journal of Consumer Culture, 1(1), pp. 31-45.
A moda não é dominada
Hoje, Chalayan tenta dar a volta por cima. Para isso, mar¬
tela uma mensagem cuja quinta-essência é resumida por sua
porta-voz: “O que Hussein faz para o homem não é de forma
alguma conceituai”.^ Ele se contenta timidamente em seguir
31
JTN Monthly, fevereiro de 2001, p. 14.
0 milagre da marca
1
Ver adiante, em "A moda é o que sai de moda".
104 A fábrica das tendências
Misteriosas tendências
A conspiração imaginária
[...] o que ainda hoje é, para o resto do triângulo, apenas uma tolice
incompreensível que tem sentido somente para a ponta extrema,
amanhã parecerá, para a parte que dela está mais próxima, carrega¬
da de emoções e de novos significados.^^
14
Vance Packard, The Hiãden Persuaãers (Londres: Longmans, 1957).
15
N. K. Jack & B. Schiffer, “The Limits of the Fashion ControT, em American
Sociological Review, 13(6), dezembro de 1948, pp. 730-739.
A moda está no arbitrário 119
Georg Simmel, La tragédie de la culture et autres essais (Paris: Rivages, 1988), p. 94.
Tbid., p. 95.
James Laver, apud Quentin Bell, Mode et société (Paris: Presses Universitaires
de France, 1992), p. 103.
120 A fábrica das tendências
21
Georg Simmel, “La mode", em La tragédie de la culture, cit., p. 90.
A moda está no arbitrário 123
Le Figaro, l“-7-2002.
Ver a terceira parte, "A beleza do preço".
A moda está no arbitrário 125
Le Figaro, P-7-2002.
Em relação a esse tema, consultar Stanley Lieberson, A Matter of Tàste, cit.,
pp. 81-83, e Edward Tfenner, "Tãlking through Our Hats", em Harvard Magazi¬
ne, n“ 91, 1989, pp. 21-26.
126 A fábrica das tendências
A moda não tem fundo, motivo pelo qual pode utilizar to¬
das as formas. Mesmo que dissequemos as tendências, não en¬
contraremos em seu âmago a essência que permitiria apresen¬
tar, para dada época ou de maneira mais geral, as suas escolhas.
A única lógica que a moda aceita é uma lógica interna.
A moda está no arbitrário 127
28
Le Monde, 7-5-2003.
A moda está no arbitrário 129
29
Elle, Especial Beleza, 5-5-2003.
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4
As tendências são dirigidas?
1
Anne Boulay, em Vogue, agosto de 2003.
As tendências são dirigidas? (133
permite desenhar sua coleção. A cada seis meses, ele leva sua
equipe até um país longínquo - para o verão de 2003, a índia -,
de onde traz roupas, idéias, esboços, objetos, fotografias, peda¬
ços de tecido, etc. O conjunto é agrupado dentro de uma "bíblia"
em que cada um vai procurar sua inspiração.® Esse agiupanien-
to não constitui uma coleção acabada, longe disso. É difícil tra¬
çar o vínculo entre elementos escolhidos na índia e uma coleção
finalmente articulada em torno da dança, com saias de bailari¬
nas, roupas de flamenco e chinelos. Trata-se mais de “snacks
criativos”, conforme o termo consagrado, que permitem a to¬
dos inspirar-se na mesma fonte de idéias.
8
Entrevista de John Galliano, em LExpress, 2-1-2003.
As tendências são dirigidas? 1143
Provocar o sucesso
10 Peggy Moffit & William Claxton, The Ruãi Gernreich Boók (Colônia: làschen,
1991), p. 241.
150 A fábrica das tendências
11 íbid., p. 243.
152 A fábrica das tendências
12
Izvéstia, 15-7-1964.
As tendências são dirigidas? 153
A onda do pornô-chique
17
Stéphane Marchand, Les guerres du luxe, cit., p. 159.
18
Tferry Richardson, em Max, 139, agosto de 2001.
As tendências são dirigidas? ( 157
[...] trabalhar com grandes fotógrafos para expressar uma visão que
supostamente atraia a atenção do público, incitando-o a empurrar as
portas das lojas, experimentar roupas e, idealmente, comprá-las. [...]
O sexo não é vulgar, nem mesmo quando evocamos as formas de
coitos assimiladas a atos perversos, desde que praticados consensual¬
mente entre adultos. [...] Sabemos por que as imagens que dizem
respeito ao sexo são assim classificadas. Túdo está ligado à religião,
que o sataniza. [...] É por isso que escolhi viver na Europa [em vez de
nos Estados Unidos].'®
19
Tbm Ford, em Vogue, Paris, abril de 2003.
158 A fábrica das tendências
20
Estudo de Christian Pinson & Vikas Tibrewala, United Colors of Benetton
(Fontainebleau: Insead, 1996), apud Michel Chevalier & Gérard Mazzalovo,
Pro logo (Paris; D'Organisation), 2003.
As tendências são dirigidas? 159
21
Management, janeiro de 2003, p. 16.
5
As leis das tendências
A lei de Poiret
1
Paul Poiret, En hàbülant Vépoque, cit., p. 212.
2 Ihidem.
As leis das tendências 163
A profecia auto-realizadora
Colette, a profetisa
® Cf. o desopilante documentário de Loic Prigent e, para aqueles que não têm
televisão, o artigo do mesmo autor publicado na Mixte, 1-2-2003.
170 A fábrica das tendências
8 Max Weber, Économie et société: íes catégories de la sociólogie, vol. I (Paris: Plon,
1995), p. 231 [edição em português: Economia e sociedade: fundamentos da
sociologia compreensiva, vol. 1 (Brasília: UnB, 1991)].
172 A fábrica das tendências
0 people profeta
16
Marie-Pierre Lannelongue, "Quand la mode griffe les stars", em Elle,
12-5-2003, p. 78.
176 A fábrica das tendências
0 concurso de beleza
Explicar a difusão de uma moda circunscrita pode ser coi¬
sa fácil. Mas todas as outras tendências não são tão simples de
17
Tteri Agins, The End of Fashion (Nova York: William Morrow, 1999), p. 137.
As leis das tendências 177
18
Essa parábola é descrita por John Maynard Keynes no capítulo XII da Théorie
générale (Paris: Petite Bibliothèque Payot, 1971) [edição em português.: John
Maynard Keynes, Tboria geral do emprego, do juro e da moeda, trad. Mario
Ribeiro da Cruz (São Paulo, Atlas, 1992)].
A fábrica das tendências
atores deram seu voto ao jeans. Havia duas estações, pelo me¬
nos, a moda do vintage^^ fazia muito sucesso, principalmente
em relação aos tênis; começava a crescer para algumas calças
jeans - tipo 501 - e alguns modelos raros de jaquetas jeans das
marcas Levi's, Wrangler, Fiorucci. Simultaneamente, o merca¬
do foi mantido por meio de várias inovações, que não permiti¬
ram que a tendência se esgotasse. Vários métodos de lavagem,
de desbotamento, de branqueamento se desenvolveram. A cal¬
ça de cintura baixa apareceu, enquanto em um outro segmento
do mercado foi lançada a baggy, calça que, por sua vez, é
extralarga. Em suma, tudo foi feito para dar crédito à idéia de
que estava acontecendo algo novo no setor dos jeans. Nasce¬
ram marcas cujo sucesso foi planejado para grupos específicos,
desde os homossexuais até os rappers, passando pelos skatistas,
as mulheres maduras, etc. Ao mesmo tempo, o leque de preços
se ampliou além do que antes era considerado possível. As gran¬
des marcas de criadores acompanharam o movimento e, em
certos casos, até o anteciparam, seguindo o exemplo de Helmut
Lang. O jeans tem um valor tão seguro do concurso de beleza
que Karl Lagerfeld não hesitou em unir seu nome à marca Die¬
sel para lançar sua própria coleção de denim. As pequenas
marcas, obviamente, seguiram a tendência. Essa volta foi igual¬
mente possível graças a uma renovação das silhuetas. Antes
usada de maneira sportswear, a calça jeans se tornou legítima,
tanto para os homens quanto para as mulheres, usada com pa¬
letó social. No concurso das tendências, a panóplia de Anna
Mouglalis, nova imagem de Chanel, teve certamente sua influ¬
ência, casando um jeans com um dos famosos paletós de
tweed.^^
23
o vintage designa roupas antigas, já usadas, que, pelo seu caráter de rarida¬
de, apresentam um interesse especial.
As leis das tendências 181
30 Em 2003, representava 20% das vendas de Sara Lee, líder do mercado das
roupas de baixo femininas, com 60% (JDD, 27-7-2003).
184 A fábrica das tendências
31
Inès de la Fressange, Profession mannequin (Paris: Hachette, 2002), pp. 79-81.
As leis das tendências 185
32
Christian Lacroix, Repères modes et textües, cit., p. 50.
Terceira parte
Por que é marcante?
6
0 espírito da moda é irracional?
’ Le Figaro, 25-1-2002.
2 Elle, 24-3-2003.
seriam incapazes de falar do perfume, por falta de domínio do
vocabulário adequado. Ibdavia, no setor dos vinhos, em que a
verbalização também é árdua, as degustações são muito mais
freqüentes. Se esses procedimentos são raramente utilizados
para o perfume, é que se considera que a decisão de comprar se
baseia principalmente em outros fatores. Ao contrário, o marke¬
ting do perfume é objeto de estudos: são testados o nome, a
embalagem, a comunicação, etc. Nesse sentido, geralmente são
constituídos alguns focus groups, que juntam consumidores que
se encaixam no perfil-alvo, ou são fiéis à marca. Não se divulga
o nome de quem solicita o estudo. Essas investigações se ba¬
seiam em um postulado irracionalista, já que consideram que a
decisão de comprar é fundada, em última instância, em razões
inconscientes. A metodologia recorre a testes que supostamen¬
te contornam a racionalidade do indivíduo. Como explicaram
dois especialistas desse tipo de estudos em um artigo antológico,
A beleza do preço
" Jacques Marseille, “Le luxe est-il cher?”, em Le Luxe en France: du Siècle des
Lumières à nos jours, cit.
Caroline Müller (Le luxe en France: du Siècle des Lumières à nos jours, cit.)
distingue três períodos. Entre 1962 e 1974, o valor do lenço passou de 150 F
a 75 F, e as vendas se estabeleceram em cerca de 240 mil exemplares por ano.
Depois, de 1974 a 1989, o valor do lenço, sempre em francos constantes,
passou de 75 F a 130 F, e as vendas aumentaram 30% por ano até atingir o
número recorde de 1,123 milhão de exemplares por ano. Enfim, de 1990 a
1993, o preço do lenço “estagnou" em 130 F e as vendas caíram de 1,123
milhão a 640 mil exemplares por ano.
"La dynastie Hermès", em Elle, 26-1-1987, pp. 66-73.
Por que é marcante?
15
Georges Perec, Les choses (Paris: J'ai Lu, 1955), p. 93.
16
Ibid., p. 110.
17
Al Ries & Jack Trut, Les 22 lois du marketing (Paris: Dunod, 2003).
Por que é marcante?
Alain Petitjean, Le luxe ou Vécho du désir, cit., p. 19. Outros exemplos podem
ser escolhidos em um dos raros manuais consagrados ao marketing do luxo:
Luxe... stratégie, marketing (Paris: Economica, 1997), de Danièle Allérés, diretora
do Dess Gestion des Industries du Luxe et des Métiers de l'Art. Pode-se
igualmente consultar o livro de Marie-Claude Sicard, que ensina no Celsa
(École des Hautes Études en Sciences de Plnformation et de la
Communication) e aconselha empresas no setor da moda. Cf. Marie-Claude
Sicard, Luxe, mensonge et marketing (Paris: Village Mondial, 2003).
Por que é marcante?
19
Liberation, 14-9-2002.
20
Líbération, 12-10-2000.
21
TM: Trade Mark (marca registrada).
0 espírito da moda é irracional? 205
22
Daniel Bell, Les contradictions culturelles du capitalisme (Paris: Presses
Universitaires de France, 1979), pp. 30-31.
Por que é marcante?
27
Pierre Bourdieu, "Le couturier et sa griffe: contribution à une théorie de la
magie”, cit., p. 11.
210 ) Por que é marcante?
[...] os que iludem [porque] são iludidos, e iludem tanto mais quanto
mais são iludidos; são ainda mais mistificadores quanto mais são
mistificados. Para entrar nesse jogo, é necessário acreditar na ideo¬
logia da criação, e, quando se é jornalista de moda, não é bom ter
uma visão sociológica da moda.^®
35
Pierre Bourdieu, Questions de sociologie, cit., p. 205.
36
Philippe Besnard & Cyril Grange, “La fin de la diffusion verticale des goúts?”,
em LÍAnnée Sociologique, n“ 43, 1993, pp. 269-294.
0 espírito da moda é irracional? 213
37
Nicolas Herpin, "Uhabillement: une dépense sur le déclin", em Économie et
Statistique, n“ 192, 1986, pp. 65-74.
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7
A moda para o indivíduo
se tornar ele mesmo
Doentes da moda
Koba S. tem uma grande responsabilidade: ele deve encar¬
nar a loucura consumista de seus contemporâneos. Esse japo¬
nês de 30 anos tem somente um ídolo, que é uma marca. Sua
existência se resume em colecionar metodicamente todas as
roupas do estilista belga Dries Van Noten. Para ter certeza de
não perder nenhuma peça, ele as encomenda com antecedên¬
cia e vai até Osaka, onde se encontra sua loja predileta. Uma
imagem o mostra em sua minúscula quitinete em Tóquio. Ele
está deitado na cama, e à sua volta, dispostos na forma de uma
corola, os artigos grifados por seu criador preferido. Koba é um
dos inúmeros japoneses fotografados por Kyoichi Tzusuki^ na
série que consagrou às "Happy Victims”, indivíduos que se tor¬
naram dependentes de uma marca.
1
UOffíciel, maio de 2003, p. 178.
A moda para o indivíduo se tornar ele mesmo 217
^ lan Hacking, Les fous voyageurs (Paris: Les Empêcheurs de Penser en Rond,
2002), p. 9.
218 Por que é marcante?
Vestir 0 ser
da, uma atitude, mas não são os únicos a tê-la. Muito provavel¬
mente, a preocupação com a aparência se junta a vários mo¬
mentos de busca de identidade.
Da distinção à imitação
8
Marie Claire, setembro de 2003, p. 89.
A moda para o indivíduo se tornar ele mesmo
14
Ibidem.
15
Ihidem.
234) Por que é marcante?
16
Alain Ehrenberg, La fatigue d'être soi (Paris: Odile Jacob, 1998), p. 11.
A moda para o indivíduo se tornar ele mesmo 235
A necessidade de ficção
Para o Japão inteiro, os números são de 48% e 23%; Cf. Philippe Pelletier,
Japon, crise d'une modemité, coleção Asie Plurielle (Paris: Belin, 2003), p. 119.
Cf Jean-Claude Jugon, Phobies sociales au Japon (Paris: Êditions Sociales
Françaises — ESF, 1998).
A moda para o indivíduo se tornar ele mesmo 237
Paul Ricoeur, Jbmps et récits, coleção Points Essais, vol. 1 (Paris: Seuil, 1991).
É notadamente a tese desenvolvida por Pierre Rosanvallon em Le peuple
introuvable: histoire de la représentation démocratique en France (Paris: Gallimard,
1998).
Um estudo norte-americano demonstrou assim que os jurados, para resolver
um caso de consciência, recorriam a uma história, utilizando todos os deta¬
lhes obtidos durante o processo - qualquer tipo de índice, acusação, etc. -
para criar uma narração e ver se ela parece coerente. Cf. Nancy Pennington
& Reid Hastie, “Reasoning in Explanation-Based Decision Making”, em
Cognition, n“ 49, 1993, pp. 123-163.
238 Por que é marcante?
22
LOfficiel, maio de 2003, p. 54.
240 Por que é marcante?
Barbey d'Aurevilly, apud Rose Fortassier, Les écrivains français et la mode (Pa¬
ris: Presses Universitaires de France, 1988), p. 81.
Vladimir Jankélévitch, Lironie (Paris: Flammarion, 1964).
A moda para o indivíduo se tornar ele mesmo
26 Marie de Gandt, "La place de rironie", em Revue des Deux Mondes, janeiro de
2003, pp. 102-107.
2421 Por que é marcante?
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Bibliografia
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REDE DE UNIDADES SENAC SÃO PAULO
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CMtra URhnnHério S*m( Coppai kito Aimn W.: (11) 272-6588 «Fm: (11)6163-3219 Tá: (14)3433-8933 • Fm: (14)3422-2004
M: (11) Si82-730e • fm: (11) S682-7441 E-omíI: «llapnHÍea)e<S>ipienat.b( E-mail: marilio@sp.senoLbr
E-noil; (aiiipessatHoanara@spj«nac.br Ipfwfar p lAonrf Seaot Mogi-Goo(a
S««« Adlnrafio (g«dM idionos) lá: (19)3891-7676 • Fox: (19)3891-7771
Centro Unbieriltdrio Senot
M: (11)5573-9790 E-moil: nMgigaoa)@sp.senacbr
Compus Lgum da S6o Pedro
E-moil: odimocaa@s)ijeiiaciii lá: (19) 3482-7000 • Fm: (19) 3482-7036 Senot Piretlcsbo
Swn Coiitoi(i{6o E-moíl: tDmpu30gaosdesoopedro@spjenot.br lél.: (19) 3434-9700 • Fnx: (19) 3434-7303
TeL: (11)3236-2050 • Fm: (11) 32S5d)792 E-meil: piracicobo@sp.seflot.br
Centro Unhorsitdrio Senot
E-raoll: a)ns(ilocao@spjcfliK.br Compos Campos do Jorddo Senot Presidente Prudente
Tá: (12) 3688-3001 • Foj: (12) ^2-3529 Tá: (18)222-9122 * Ffli: (18)222-8778
Seioi Fniidsto Mgtomzo
E-moil: tampuscomposdojordoo@spjenatJ>r E-moil: presidenteprudenle@spjenaLbr
lei.: (11) 3S79-3600 • Ftn: (11) 3864-4597
E-moil: fronciscomalorano@s|i.senoLbr Senot Ara{otaba Senot Ribeiròo Preto
U.: (18) 36238740 • Fot: (18) 3623-1404 W.: (16) 624-2900 * Foi: (16) 624-3997
Smo< Guorellios
E-fflod: arototabo@spLtenodir E-mail: ribeirooprelo@sp.senot.bt
M: (11)6443-1622 • Foi: (11)6443-6042
E-m«1: guonilhos@spje«iocbr Senot Aroroquoro Senot Rio Cloro
W.: (16) 3336-2444 • Fo»: (16) 3336-9337 U: (19)3524-6631 • Foi: (19)3523-3930
SoMK Doqiero
E-mo8: oraroqoara@spjeaod)r E-moil: riodarc@$pjenot.br
lél; (11) 6944-5488 • Ftu: (11) 6944-9022
Senot Borretos Senot Sontos
E-moii: itaquera@sp.Mnod)r
U: (17) 3322-9011 • Fox: (17) 3322-9336 lá: (13) 3222-4940 * Fm: (13) 3235736S
Soioc Joboqaaro
E-moil: bo(Tetos@spjenQtbr E-mail: santo@i^j«iot.br
W.: (11)5017-0697 • Fm: (11)5017-2910
Senot Boura SenK Sdo Corlos
E-ndI: j[iboquaro@í(Lseflocbr
W.: (14) 2278702 • Fox: (14) 227-0278 M: (16)3371-^ • Fm: (16)3371-8229
SewK Logo Feeâolo E-mod: bouni@spjeflaü>t E-mail: saocarlos@spjeflaLbr
U. (11) 3865-4888 • Fm: (11) 3862-9680 Senot Bebedouro SenK S6o Jo&i do Boo Visto
E-moíl: lapai(8ntolo@s|)jenocbr W.: (17) 33428100 • Fm: (17) S42-3S17 lélTFfli: (19)3623-2702
Seeoc Sdpiòo E-fl»íl: bebedoaro@spjenacbr E-ffloil; sib<i<tnsto@spjeniK.br
lél.: (11) 3866-2500 • Fm: (11) 3862-9199 Senot Bolutoto SenK S6a José do Rio Prato
E-moil: lapasàpio»@spj«noüir lá: (14) 3882-2536 • Foi: (14) 38153981 Tá: (17) 3233-1565 • Fm: (17) 3233-7686
SoMK Upo THo E-moil: boiDtiilv@spjenad)r E-moil: sjnoprmo@spjenac.bc
lél.: (11) 3868-6900 • Fm: (11) 3868-6^ Senot Compinos SeoK S6o José dos Compos
E-mml: lopoHto@spjenocbr U: (19)2117-0600* Fox: (19)2117-0601 TélTFoi: (12)3929-2300
Seaot Noaa de Jvfto E-moil: tgmpinas@spjeiKK.á E-mail: sitoiiqx»@spjenatbr
M: (11) 3016-5601 SenK Cotoadinro SenK Soroo^o
E-moii: iK)«edejoiho@tp.5eflgLbf lél.: (17) 3522-7200 • Fm: (17) 3522-7279 Tá: (15) 3227-2929 • Fm: (15) 3227-2900
E-mod: tDlondino@spjenotá E-moil: 8i)tocidio@q]jenoc.br
Sêloc Osflsco
M: (11) 36854100 • Fm: (11) 3681-7056 Senot Franca Senot Toaboté
E-moii: as<BCO@spjeni)cJir H: (16) 3723-9944 • Fox: (16) 3723-9086 Tá: (12) 3632-5066 * Fm: (12) 3632-3686
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Saao( Peobo E-maíl: laubote@spjengc.bT
Senot Gaorotingaád
Tél.: (11) 2135-0300 • Fm: (11) 213S4B98 Senot Voluporoego
Tá: (12) 3122-2499 • Fm: (12) 3122-4786
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Soao( Sonto Cadiio E-mail: »otaporonga@spj8natbr
Senot Itopetiningo
lél.: (11) 3662-2152 • Fm: (11) 3667-2743
M: (15) 3272-5463 • Foi: (15) 3272-5177 OfUnu IhMaths
E-moil: ]ontocodlio@5pjenocJ>r
E-moil: itopelirHngG@9Jenocbr Editara Senot S6o Paulo
Soaoc SoRtoBO Tá: (11) 21874450 * Fm: (11) 21874486
Senot llopiro
M: (11) 69730311 • Fm: (11) 69730704 E-mail: edilKa@spjenot.br
lá: (19) 3863-2835 • Fm.- (19) 3863-1518
E-moil: sontono@^jenad>r E-moil: itopira@spjenac.br kde SescSanoc de Tele«b&o
Seaot Souto Amoto Senot Ita bd.: (11) 2123-7150 * Fm: (11) 2123-7186
léL: (11) 55238822 • Fm: (11) 5687-8253 lél.: (11) 40234881 • Foi: (11) 4013-3008 E-mait: stv@spje(HK.br
E-bkhI: sontaonioro@spjenocbr E-moil: in)@spjenot.bi Grande Hotel S6o Pedro - Hotel-esralo SeoK
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lél.: (11) 6842-8300 • Fox.- (11) 6842-8301 lélTFbi: (16)3204-3204 E-moíl: grondehatelsoopedro@spjeflaLbr
E-moil: sefltoatidre@jpjenacbt E-moil: fflbotlcobol@sp.senot.br Gronde Hotel Campos do Jordão -
Seaot Totoopé Senotio6 Hotel-escolo Senot
M: (11) 2939188 «Foj: (11) 294-2437 W.: (14) 3622-2272 • Foi: (14) 36218166 Tá: (12) 3668-6000 * Fm: (12) 3668-6100
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E-moil: firadefit«@spjenat.br E-moil: {undiai@spjenot.br cHtica, «togto.
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Seaot 24 de oib» Senot Limeira «ôcA praâMs CMto •
H: (11) 221-9622 • Fm: (11) 221-9407 W.: (19) 34S144M • Fm: (19) 3441-6039 aCutahMallSW
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E-moil: 24demalo@tpjenatÍK E-moil: liffleiro@spjenocJ)t aeaLBNaaDQsfumcAr
alfaiates, filho de dono de confecção, tra¬
balha nessa área desde os 12 anos de
idade. Na sua história, o ohcio da moda e
a cultura judaica são partes de um mes¬
mo contexto, que ele busca apreender
através da sociologia, mas sem perder a
ligação afetiva com essa história.
O Senac São Paulo espera, com esta obra, responder a essas questões e
aprofundar o estudo do complexo e glamoroso mundo da moda.
ISBN 85^7359-454-3
9788573 594546