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VII Encontro Brasileiro de Administração Pública, Brasília/DF, 11, 12 e 13 de novembro de 2020

VII Encontro Brasileiro de Administração Pública


ISSN: 2594-5688
ebap@sbap.org.br
Sociedade Brasileira de Administração Pública

A Reinvenção do Trabalho 50+ e o Desenvolvimento Territorial


Marcelo de Jesus Alves Sousa, João Paulo V. Mendonça Junior, Diana Cruz Rodrigues, Luciana
Rodrigues Ferreira, Jones Nogueira Barros

Disponível em: http://ebap.sbap.org.br/

Resumo: Analisar a reinvenção dos profissionais 50+ e sua contribuição para o desenvolvimento territorial
é o objetivo deste artigo. Toma-se como referência de estudo o município de Belém, capital do Estado do
Pará. O tipo de pesquisa é qualitativa exploratória. Como instrumento de coleta de dados utilizou-se
questionários online no Google Forms, bem como a realização de entrevistas com profissionais. O estudo
aponta para contribuição tanto no campo teórico, pela necessidade de estudos que minimizem a lacuna
existente sobre a temática do trabalho 50+ e sua relação com o desenvolvimento territorial, com para o
campo empírico, por mais estudos que desvelem o trabalho dessa faixa etária da população que cresce
consideravelmente no município de Belém. O estudo demonstrou que o trabalho a partir dos 50 anos de
idade pode influenciar o desenvolvimento territorial de Belém por meio de políticas que estimulem o
empreendedorismo maduro.

Palavras-chave: Trabalho 50+. Empreendedorismo. Desenvolvimento Territorial.


VII Encontro Brasileiro de Administração Pública, Brasília/DF, 11, 12 e 13 de novembro de 2020

A Reinvenção do Trabalho 50+ e o Desenvolvimento Territorial

Resumo: Analisar a reinvenção dos profissionais 50+ e sua contribuição para o desenvolvimento territorial é o
objetivo deste artigo. Toma-se como referência de estudo o município de Belém, capital do Estado do Pará. O
tipo de pesquisa é qualitativa exploratória. Como instrumento de coleta de dados utilizou-se questionários online
no Google Forms, bem como a realização de entrevistas com profissionais. O estudo aponta para contribuição
tanto no campo teórico, pela necessidade de estudos que minimizem a lacuna existente sobre a temática do
trabalho 50+ e sua relação com o desenvolvimento territorial, com para o campo empírico, por mais estudos que
desvelem o trabalho dessa faixa etária da população que cresce consideravelmente no município de Belém. O
estudo demonstrou que o trabalho a partir dos 50 anos de idade pode influenciar o desenvolvimento territorial de
Belém por meio de políticas que estimulem o empreendedorismo maduro.

Palavras-chave: Trabalho 50+. Empreendedorismo. Desenvolvimento Territorial.

Introdução

Desde os anos 1960, o avanço das políticas públicas na saúde, habitação e na educação
proporcionaram avanços na qualidade de vida da população, que contribuíram para a
longevidade dos cidadãos. Bem como, a divulgação e uso de métodos contraceptivos, além do
ingresso da mulher no mercado de trabalho tem influenciado a diminuição do crescimento
populacional no Brasil, e, portanto, de sua população jovem (FREIRE; MURITIBA, 2012).
A expectativa de vida no ano de 2019, no Brasil, foi de 80 anos para as mulheres e 73
anos para os homens (FOLHA, 2019). De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (IPEA, 2019), o pico populacional brasileiro levará a um envelhecimento
significativo da população, cuja projeção é de mais 43 milhões de idosos em 2031.
Consequentemente, as mudanças populacionais impactam no mercado de trabalho. Os novos
empregos deverão se encontrar nas pessoas com mais de 45 anos, faixa etária que deverá ser
responsável por cerca de 56,3% da futura população em idade ativa a partir de 2030
(FOGUEL; RUSSO, 2019).
Esses dados apontam para o desenvolvimento do empreendedorismo maduro no país, o
qual já tem reflexos significativos na economia brasileira, mediante o crescimento contínuo de
negócios gerenciados por profissionais com 50 anos de idade ou mais, além do aumento de
consumidores dessa faixa etária. Os consumidores maduros movimentaram cerca de R$ 402.3
bilhões no Brasil em 2012 (SEBRAE, 2018).
O envelhecimento da população, aliado às pressões do sistema previdenciário, deverá
manter o trabalhador ativo por um maior tempo. Por isso, Foguel e Russo (2019) consideram
necessária uma política de saúde ocupacional para diminuir as saídas do mercado de trabalho.
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Não obstante, será necessária a redução de preconceitos com relação ao trabalho dos idosos,
além de capacitação para que eles possam acompanhar as mudanças tecnológicas.
Diante desse cenário que se mostra alarmante e, simultaneamente, desafiador, os
profissionais 50+ podem gerar novas soluções para os problemas cotidianos da população,
renda, novos empregos, desenvolvimento, consumo e receitas para o país, por meio de
geração de impostos, já que estarão ativos, economicamente, por mais tempo.
O termo “50+” se aplica às pessoas com 50 anos de idade ou mais, de modo que
profissionais nessa faixa etária também são denominados “maduros”. Compreende-se que
profissionais com mais de 50 anos de idade, no futuro, terão potencial cada vez maior para
desenvolver atividades consideradas empreendedoras. Esse potencial empreendedor está
relacionado são somente pela questão do aumento da população e da qualidade de vida nessa
faixa etária, mas, também, porque os idosos do futuro são os jovens atuais, criados em uma
era de informação, com um nível de escolaridade superior ao de seus antecedentes, com
capacidade, assim, de contribuir significativamente para o desenvolvimento de seus
territórios.
Neste artigo, vislumbra-se que o desenvolvimento territorial requer o protagonismo de
todos os atores que compõem tal território, na reflexão e ação para seu desenvolvimento.
Assim, o desenvolvimento territorial não pode vir a depender somente do setor público, mas
também do envolvimento da iniciativa privada e do terceiro setor para que, em conjunto,
possam criar ações que promovam bem-estar social, sustentabilidade e competitividade de
negócios.
Tal movimento de desenvolvimento territorial requer a identificação das necessidades e
potencialidades territoriais, o que necessariamente inclui as pessoas de todas as faixas etárias,
no que identificamos os desafios ocupacionais postos aos profissionais 50+. Esses desafios,
em geral, envolvem aos profissionais percorrem caminhos de atualização ou até mudança
ocupacional, busca de novos aprendizados (inclusive tecnológicos) e, mesmo, de superação de
preconceitos. Neste artigo, caracterizamos esse processo enquanto reinvenção profissional.
Considerando esse contexto, surgiu a seguinte questão problema: como a reinvenção
dos profissionais 50+ pode contribuir para o desenvolvimento territorial do município de
Belém? Especificamente, o artigo busca identificar o perfil e o potencial empreendedor
maduro para o desenvolvimento territorial do município de Belém e examinar processos de
reinvenção do trabalho 50+ em Belém por meio das percepções de profissionais maduros.

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A pesquisa em Belém, capital do estado do Pará, é considerada pertinente, uma vez que
sua população é classificada como envelhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS),
pelo município ter um quantitativo de idosos a partir de 7% da população (IBGE, 2020).
Belém, capital do estado do Pará, tem uma população estimada de 1.492.745 pessoas, em
2019, sendo que 9,3%, da população possuem de 60 anos ou mais e 21,9% possuem de 40 até
59 anos.

Concepções sobre o Trabalho 50+


O Brasil apresenta cerca de 17% das pessoas no mercado formal de trabalho com idade
entre 50 e 64 anos, segundo o Ministério do Trabalho. Um novo comportamento das empresas
aponta um crescimento desse número nos próximos anos: a contratação de funcionários 50+
está começando a fazer parte da rotina dos setores de recursos humanos, inclusive com
seleções específicas de profissionais maduros, semelhantes aos programas de trainees
(GAZETA DO POVO, 2018).
Segundo Carvalho (2009), repensar o envelhecimento populacional no que diz respeito
ao mercado de trabalho é uma estratégia preventiva para a economia do país que, brevemente,
contará com um contingente reduzido de trabalhadores ativos, o que pode prejudicar o
crescimento econômico. A autora relata que o envelhecimento da força de trabalho, em
diversos países, será um dos principais desafios a serem enfrentados pelas empresas e
instituições públicas no futuro próximo.
A mudança demográfica populacional que se edifica demandará a necessidade de
adequação do mercado de trabalho para atender a essa nova configuração e faixa etária
disponíveis, requerendo a retenção da força de trabalho com mais idade. O Brasil precisa de
um novo contingente de pessoas maduras, não somente pelo significativo aumento em
números, mas que seja acompanhado de um novo perfil mais ativo e saudável (ARIGONI,
LEMOS, 2019).
Levando em consideração que profissionais mais velhos tendem a ocupar um espaço
mais expressivo no mercado de trabalho futuro, entender as motivações e expectativas sobre o
trabalho maduro tornam-se temas relevantes para os acadêmicos, empresas e setor público
(ARIGONI, LEMOS, 2019). Argoni e Lemos (2019) destacam a importância das mudanças
estruturais que acontecerão nas próximas décadas. Entre essas mudanças, os autores sugerem,

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em curto prazo, a necessidade por parte do mercado de gerar oportunidades suficientes para a
população em idade ativa, entre esses atenção à inclusão produtiva dos profissionais maduros.
No que diz respeito aos indivíduos aposentados, Carvalho (2009) acrescenta que as
oportunidades para trabalhar temporariamente, ou meio período, após a aposentadoria, podem
reduzir a ansiedade de profissionais maduros e suas preocupações financeiras, diminuindo as
resistências no próprio processo de aposentadoria.
É necessário entender o sentido do trabalho para essa parcela da população madura,
possibilitando a elaboração e adoção de políticas e programas que sejam capazes de incluir
esses profissionais. Esse entendimento norteará as organizações para gerar maior retenção e
inclusão dos trabalhadores maduros, considerando que a oferta de profissionais mais jovens
não será suficiente para repor a geração que intenciona se aposentar nos próximos anos
(ROSSO; DEKAS; WRZESNIEWSKI, 2010).
Outra opção aponta para o desenvolvimento do empreendedorismo maduro no país, o
qual já tem reflexos significativos na economia brasileira, mediante o crescimento contínuo de
negócios gerenciados por profissionais com 50 anos de idade ou mais, além do aumento de
consumidores dessa faixa etária.
Assim, ser dono do próprio negócio torna-se uma alternativa para os profissionais 50+
para inclusão produtiva. Segundo Rosso, Dekas e Wrzesniewski (2010), pesquisas apontaram
que os profissionais maduros que escolheram empreender, conseguiram estender as carreiras
por mais tempo e com mais qualidade de vida, ainda que, às vezes, a renda diminua. Neri
(2009) também relata que profissionais maduros que empreenderam experimentaram
considerável aumento na qualidade de vida, incluindo a satisfação das necessidades
psicológicas fundamentais: controle, autonomia, auto realização e prazer.
Cabe acrescentar, ainda, que o trabalho voluntário também é uma alternativa para
preencher de sentido o tempo livre de pessoas maduras e para compartilharem experiências
(ROSSO; DEKAS; WRZESNIEWSKI, 2010). A permanência ou inclusão produtiva desses
profissionais 50+ também dialoga com aspectos de coesão social mais abrangente de cidades
e territórios, os quais podem potencialmente se articular com processos de desenvolvimento
territorial.

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Desenvolvimento territorial a partir do protagonismo do trabalho 50+


O debate em torno da temática do desenvolvimento territorial (RIBEIRO, 2019) é
cada vez mais abordada nas diferentes esferas do governo, suas instituições, pela academia e
por organizações da sociedade civil. O desenvolvimento territorial vincula-se a “uma
apropriação social” do espaço, ou seja, um espaço que é socialmente organizado, podendo ser
um bairro, uma rua, um município, ou um aglomerado de cidades, desde que esteja
organizado em busca de objetivos e esteja engajado numa agenda pactuada com a sociedade
em si (ZAPATA, 2013).
A concepção de desenvolvimento territorial, aqui adotada, está no campo do
desenvolvimento regional/local, destoando fortemente dos planos de desenvolvimento
centralizados no Estado e que sempre atenderam a uma política industrial, que na maioria das
vezes desconhece ou ignora as características territoriais locais e a organização social de uma
região (RIBEIRO, 2019).
Sant’Anna e Oliveira (2019) ao abordar o desenvolvimento territorial endógeno
realçam a importância do fortalecimento do governo local como um espaço de fomento da
economia, uma vez que os territórios possuem potencial para instituir sistemas e processos
capazes de transformá-la, gerar conhecimento acerca das atividades econômica e produtiva da
região, de modo a criar instrumental que a torne competitiva e apta a atrair investidores.
Esse enfoque na sociedade local do desenvolvimento também se fazem presentes por
Piacenti (2016) que ressalta a relevância de aspectos não-tangíveis no processo de
desenvolvimento, como a cultura local (PIRES et al, 2011) , o comportamento da sociedade
civil e a organização institucional e produtiva. No âmbito local, novas formas de competição e
de cooperação se articulam para convergência das ações e o uso dos recursos disponíveis no
território (PIACENTI, 2016).
A dinâmica do empreendedorismo é um processo que se identifica com essa
articulação de formas competitivas e cooperativas de ação no território. Os territórios que
oferecem um ambiente favorável ao empreendedorismo proporcionam melhoria de
competitividade empresarial, novos postos de trabalho, inovações tecnológicas e a geração de
novos conhecimentos para os atores diversos envolvidos no desenvolvimento (FROEHLICH,
2012). A estratégia de fomento ao empreendedorismo envolve a cooperação entre diferentes e
setores como o governo, a sociedade civil e empresas, desenvolvendo formas de

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aprendizagem e novas oportunidades de negócios, com o objetivo de formar um círculo


virtuoso de crescimento econômico.
Neste sentido, o empreendedorismo maduro pode atuar como uma vertente específica
de ação societal. A articulação de oportunidades para as pessoas que habitam o local,
incluindo os profissionais de 50+, segmento crescente da população, pode gerar impactos
positivos tanto em termos de geração de renda, satisfação no trabalho a estes profissionais,
quanto crescimento econômico e coesão social ao município.
Contudo, o fomento ao empreendedorismo demanda conectar pessoas e instituições
para discutir sobre as necessidades e oportunidades existentes. Preparar as pessoas para
atuarem de forma cooperada é um desafio nos territórios. A cooperação pode ser entendida
como um elemento primordial para o surgimento de propósitos coletivos de base endógena,
que crie consensos mínimos para uma agenda de desenvolvimento PECQUEUR, 2005;
PIRES et al, 2011).
O envolvimento dos atores locais e a utilização de recursos (tangíveis e intangíveis)
endógenos contribuem para o fortalecimento das potencialidades do território e de fomento da
economia, uma vez que os territórios possuem potencial para instituir sistemas e processos
capazes de transformar sua base econômica e gerar conhecimento, de modo a criar
instrumental que a torne competitiva e apta a atrair investidores (PIACENTI, 2016;
SANT’ANNA,OLIVEIRA,2019; TAVARES, 2019).

Aspectos metodológicos da pesquisa


Trata-se de uma pesquisa qualitativa de caráter exploratório. A coleta de dados foi
dividida em duas etapas, a primeira de levantamento inicial com uso de questionário e a
segunda de realização de entrevistas com profissionais de 50 anos ou mais. O tratamento dos
dados foi realizado por meio da análise interpretativa, possibilitando a interpretação em busca
do sentido mais amplo das respostas, o que é feito mediante a ligação com outros
conhecimentos obtidos (TEIXEIRA, 2003).
Os questionários aplicados na primeira etapa foram desenvolvidos na ferramenta
Google Forms e o público-alvo foram profissionais com 50 anos ou mais de múltiplas áreas
de atuação, residentes em Belém, participantes de programas de capacitação e requalificação
profissional. Este primeiro levantamento foi realizado no período de 10 de dezembro de 2019

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até 14 de janeiro de 2020, em que ao todo se alcançou 43 respondentes, sendo 48,8% do sexo
feminino e 51,2% do sexo masculino.
Na segunda etapa, foram escolhidos cinco profissionais de 50 anos ou mais para a
realização de entrevista estruturada, os quais passaram por processo caracterizado como de
reinvenção profissional a partir dos 50 anos de idade. As áreas de atuação destes 5
profissionais são: (a) Corretor de Imóveis; (b) Médico Retinólogo; (c) Sócia da Barbearia; (d)
Professora Universitária; (e) Engenheiro Civil.

Análise dos levantamento: Perfil e potencial do empreendedor maduro para o


desenvolvimento territorial do município de Belém.
A pesquisa contemplou respondentes das seguintes faixas etárias: 44,2% dos
respondentes estavam entre 55 até 59 anos; 18,6% dos respondentes de 50 a 54 anos; 20,9%
dos respondentes de 60 até 64 anos, e 16,3% de 65 anos ou mais. De modo que, alcançou-se
considerável amplitude de faixa etária no público de 50+.
No que diz respeito às ocupações dos respondentes, a pesquisa contemplou autônomos
(32,6%), desempregados (2,3%), servidores públicos (18,6%), empregados do setor privado
(20,9%), aposentados (18,6%) e outras ocupações (7%). No que se observa também
diversidade de ocupações de profissionais 50+ participantes de programa de capacitação.
O setor declarado de predominância na experiência profissional pelos profissionais
maduros foi o de Serviços, com 72,1% dos respondentes. Em seguida, 16,3% dos
respondentes declarou como predominante o setor do Comércio, seguido por 11,6% no setor
da Indústria.
Em relação à formação profissional, dentre os respondentes 39,5% apresentava pós-
graduação completa, 27,9% tinha ensino superior completo e 23,3% ensino médio completo.
Ainda tinham ensino superior incompleto 7% dos pesquisados e 2,3% tinham ensino médio
incompleto.
Quando perguntados sobre as escolhas de atividades para aposentadoria, a maioria dos
respondentes, conforme gráfico 1 selecionou opções relacionadas à continuidade de atividades
profissionais remuneradas, sendo a resposta preponderante “abrir um negócio ou empresa”
(30,2%), seguida de “prestar algum tipo de consultoria” (14%) e “continuar trabalhando no
próprio negócio” (11,6%), esta última com percentual empatando com a opção “viajar
bastante” (11,6%). O que é realçado nesta questão é o forte predomínio de opções

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relacionadas à continuidade de atividades em ocupações remuneradas por pessoas de 50+,


mesmo após o processo de aposentadoria, corroborando com as perspectivas de
prolongamento das atividades profissionais apresentadas nas seções anteriores.

Gráfico 1 - Qual a principal escolha para a aposentadoria?

Fonte: a pesquisa.

Outra questão inclusão na pesquisa referia diretamente ao interesse em empreender.


Entre os respondentes, somente 20,9% não pretendem empreender. Quanto aos demais
respondentes interessados em empreender, os segmentos de atuação apontados para foram:
11,6% em “Alimentação”, 11,6% em “Consultoria empresarial”, 9,3% em “Artesanato”, 9,3%
em “Vendas e marketing”, 7% em “Construção, reparos e reformas”, 4,7% em “Vestuário e
calçados”, 4,7% em “Produtos de informática”, 2,3% em “Serviços de beleza e estética”,
“Saúde e bem-estar” e “Contabilidade” e 14% direcionados para “Outros segmentos”.
Os dados coletados a partir dos sujeitos respondentes durante a pesquisa possibilitam
corroborar a existência de potencial do trabalhador 50+ enquanto empreendedor maduro no
município de Belém. O que aguça a necessidade de pesquisas que aprofundem questões
relacionadas ao diálogo deste prolongamento de atividades profissionais e desenvolvimento
territorial. Por um lado, é necessário levantar as condições de qualidade de vida e
oportunidades dignas de permanência e inclusão socioprodutiva destes profissionais no
município. Por outro lado, cabe articular o papel destes profissionais em ações potenciais para
o desenvolvimento territorial, seja em seus aspectos de organização e crescimento econômico
diretamente impactado pelo prolongamento das atividades, seja em termos de organização
social e comunitária.

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Tais evidências desvelam a convergência para a inserção do trabalhador 50+ no


processo de desenvolvimento territorial, na medida em que tal desenvolvimento requer a
pactuação com a sociedade e o protagonismo dos atores que compõem o território de uma
forma organizada, o que não pode vir a depender somente do setor público, mas também do
envolvimento da iniciativa privada e do terceiro setor para que, em conjunto, possam criar
ações que promovam a competitividade e o desenvolvimento sustentável (SACHS, 2000).

A reinvenção do trabalho 50+ em Belém - as percepções dos profissionais


Visando compreender a reinvenção do trabalho 50+ em Belém por meio das percepções
de profissionais maduros que contaram as próprias histórias. Utilizou-se elementos da Análise
do Discurso (AD) proposta por Gill (2003). Quatros critérios de análise foram priorizados de
acordo com o quadro 1.
Quadro 1 – Critérios de análise da reinvenção laboral dos profissionais 50+ em Belém
PROFISSIONAIS MADUROS

CRITÉRIOS Corretor de Sócia da Médico Professora


Engenheiro Civil
Imóveis Barbearia Retinólogo Universitária

Idade de
53 anos 69 anos 62 anos 51 anos 50 anos
reinvenção

Motivação
Falência e Desejo de A parceria Desejo de se Hipertensão e a
para
indicação do filho ocupação com o genro reinventar necessidade
reinvenção

O medo: “será Falta de A falta de Diminuir os


Maior Encontrar
que vai dar expertise em domínio da ganhos
dificuldade clientes
certo?” Barbearia tecnologia financeiros

Aprendizado
Experiências com Orientação Oftalmologia Gestão Voluntariado e
recente ou
clientes espiritual e Tecnologia Educacional Engenharia Civil
atual

Usufruir dos Agregar na


Viver a melhor Ganhar Trabalhar até
Objetivo benefícios do empresa e na
década da vida dinheiro morrer
trabalho universidade

Fonte: a pesquisa.

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Nas entrevistas, visando compreender as percepções, indagou-se quando aconteceu a


reinvenção, possibilitando que o profissional 50+ atue no trabalho atual? Como aconteceu
esse processo?
A escolha das palavras para contar as próprias motivações perpassa, ainda que
inconscientemente, por vocábulos que ressaltem tanto algumas problemáticas enfrentadas
quanto o desejo de reinvenção do profissional maduro, conforme evidenciadas no quadro 1.
O discurso do Engenheiro Civil deixa claro que o estilo de vida e a maneira como ele
trabalhava eram extremamente desgastantes, classificando a construção civil como causadora
da ansiedade e da hipertensão. Carvalho (2009) ressalta que os profissionais maduros podem
trabalhar meio período, ou em horários flexíveis. Esses modelos de trabalho podem reduzir a
ansiedade e o estresse.
O corretor de imóveis enfatizou as derrotas e vitórias do passado, argumentando sobre
a própria experiência e relatando já foi um empreendedor de sucesso, devido à riqueza
adquirida, posteriormente perdida. O entrevistado apresentava claras necessidades de estima,
o que leva a entender que o profissional precisava fortalecer a autoconfiança, o respeito, a
independência e a autonomia.
O percurso da dificuldade é mencionado principalmente em relação ao tempo passado
e está explícito em diversos trechos analisados. Tais percursos discursivos dos maduros
destacam o medo de diversas formas: medo da tecnologia, do novo, da mudança, do
desconhecido, ou medo do fracasso. Não obstante, existe o quarto pilar do Estatuto do Idoso,
de aprendizagem ao longo da vida. Segundo Todaro (2010), este pilar instrumentaliza o
indivíduo para melhorar o bem-estar físico e mental, de forma a se permanecer saudável, com
poder de decisão, maior segurança pessoal e engajamento na sociedade, o que demanda
atualização tecnológica.
Os profissionais maduros foram entrevistados se estão aprendendo algo relevante para
o crescimento profissional, ou para o próprio empreendimento. Perguntou-se se eles procuram
algum curso, formação, ou apoio para auxiliar.
Os discursos revelam aprendizados técnicos e comportamentais, além de superação
das dificuldades. Destacaram-se: o aprendizado tecnológico, a adaptação, a convivência, a
flexibilidade, o conhecimento acadêmico, a coragem e a persistência após a reinvenção
profissional. O envelhecimento comumente conhecido abre espaço para o envelhecimento

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ativo, como período oportuno para produzir atividades de significado pessoal, articular os
aprendizados conquistados ao longo da carreira e da vida (MINARELLI, 2010).
Perguntou-se qual é o objetivo para essa fase madura da carreira (ou negócio, ou
voluntariado) para cada um dos profissionais e empreendedores 50+.
Notou-se um discurso relacionado a um trabalho intimamente conectado com a
vocação, o interesse pela longevidade do trabalho e do voluntariado. Segundo Carvalho
(2009), o trabalho voluntário é uma alternativa para os maduros se sentirem importantes, além
de uma oportunidade de ajudar outras pessoas que precisam do benefício voluntariado. Esse
tipo de trabalho altruísta pode ser uma alternativa para preencher o tempo livre e para
compartilhar experiências, saciando as necessidades sociais, de aceitação por parte dos
colegas.
Observou-se ainda pelas falas dos entrevistados a ambição e o desejo de crescimento
profissional. O argumento revela um anseio de atendimento das necessidades e de realização
pessoal, que estão no topo da hierarquia. Elas são intimamente ligadas com a realização do
próprio potencial e autodesenvolvimento contínuo. Elas se expressam por meio da vontade
que a pessoa tem de se tornar mais do que é e de ser o melhor que pode ser (MASLOW,
1954).

Considerações finais
Incentivar o trabalho a partir dos 50 anos de idade é uma alternativa de valorização dos
profissionais maduros brasileiros, antes que o cidadão se torne um idoso, fomentando a
economia e desenvolvendo o território.
O profissional 50+ tem muitas chances de oferecer o know-how diferenciado para o
mercado. Entretanto, como a competitividade, a conectividade e os grandes avanços da
tecnologia se fazem presentes, a reinvenção desses profissionais é necessária e pode ser
facilitada por meio de aprendizado tecnológico e comportamental. São necessárias, então,
políticas públicas de capacitação específica para os profissionais maduros, que atenda as
peculiaridades, dificuldades e potenciais desses cidadãos.
Os resultados da pesquisa demonstram que os profissionais 50+ formam um grupo de
pessoas experientes, motivadas e comprometidas, que possuem diversas competências uteis
para empreender. Considera-se que esse público ainda está aberto ao aprendizado e

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interessado em conhecimentos úteis ao empreendedorismo, bem como à reinvenção


profissional e constituem-se em ativos para o desenvolvimento terrirtorial.
Cabe ao Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) do Pará, às
instituições de ensino superior (IES) e aos centros profissionalizantes desenvolverem e
disseminarem as capacitações focadas nos empreendedores 50+, contribuindo para o
crescimento de negócios formais. As formações precisam contemplar aspectos tecnológicos,
gerenciais e comportamentais, demandadas pelos profissionais maduros.
O SEBRAE, bem como o Serviço Social da Indústria (SESI) e o Serviço Nacional de
Aprendizagem Comercial (SENAC) podem estimular a participação dos negócios de
empreendedores maduros em feiras e eventos de maneira mais acessível e econômica, além de
facilitar o acesso às compras públicas com orientações técnicas.
Considerando que o Instituto Euvaldo Loidi oferece agilidade e custo acessível no
encaminhamento de jovens aprendizes, estagiários e efetivos para as empresas paraenses,
seria interessante, também, a instituição desenvolver programas de incentivos ou vantagens
para as organizações públicas e privadas contratarem profissionais 50+. Pode ser interessante
para empresas belenenses mesclar a experiência e serenidade dos maduros com a agilidade e
atualização dos mais jovens em diversas áreas de trabalho. As empresas multinacionais que
enxergaram a oportunidade de contratar profissionais maduros podem inspirar as empresas
paraenses.
A mudança demográfica populacional que se edifica demandará, inevitavelmente, a
necessidade de adequação do mercado de trabalho para atender a essa nova configuração e
faixa etária disponíveis, requerendo a retenção da força de trabalho com mais idade. O Brasil
precisa de um novo contingente de pessoas maduras, não somente pelo significativo aumento
em números, mas, principalmente, pelo novo perfil mais ativo e experiente.
O estudo demonstrou que o trabalho a partir dos 50 anos de idade pode influenciar o
desenvolvimento territorial de Belém por meio de iniciativas que estimulem o
empreendedorismo. O desafio do governo, das empresas, das universidades, bem como da
sociedade civil é promover a vida laboral saudável e economicamente ativa dos cidadãos
maduros (com 50 anos ou mais). Esses profissionais precisam encontrar significados pessoais,
promover valores humanos, além de impacto social, econômico e ambiental para o território
que vivem.

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Referências

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