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Trabalho Interprofissional e Colaborativo como

instrumento para fortalecimento da Rede de


Atenção Psicossocial

UNIDADE 2
Trabalho Interprofissional e
Colaborativo: uma aproximação
teórico/prática
APRESENTAÇÃO DA UNIDADE

Olá!

Na Unidade 1, pudemos percorrer por uma discussão sobre a trajetória do cuidado


em saúde mental, observando como suas diferentes atribuições interferiram no seu
“lugar” e tratamento. Observamos que a conjuntura atual propõe o cuidado
integral e humanizado para que pessoas com transtorno mental e usuários de
álcool e outras drogas possam ser cuidados dentro da sociedade, perto de suas
famílias e sobretudo como sujeitos de direito, através da RAPS.

Uma configuração em rede requer dos serviços de saúde uma abordagem que seja
continuada e articulada, visto que existem diversos pontos de atenção que são
corresponsáveis pelas diferentes necessidades de saúde.

Nesta unidade apresentaremos o Trabalho Interprofissional e Colaborativo, para


entendermos melhor como sua prática pode ajudar na qualidade da assistência.
AULA 01- O trabalho em saúde e suas especificidades

A discussão em torno do processo de trabalho tem se mostrado muito


importante para a compreensão da organização da assistência à saúde e,
fundamentalmente, de sua potência transformadora quando buscamos dialogar
sobre formas de responder às complexas necessidades de saúde atual.

✓ Você já percebeu como as necessidades e os problemas das pessoas


estão cada vez mais complexos?

✓ Já pensou que essas mudanças impõem cada vez mais desafios para
os trabalhadores de saúde?

Essas mudanças exigiram novas repostas na produção do cuidado, e isso


exige um esforço conjunto do Estado, dos trabalhadores de saúde, da população,
das instituições formadoras, do conjunto de atores sociais envolvidos na garantia
do direito inalienável à saúde (COSTA, 2016).
Nós, enquanto profissionais de saúde, temos uma grande responsabilidade
nesse contexto e nossa dinâmica de trabalho deve somar esforços ao objetivo de
responder as necessidades de saúde.
Mendes-Gonçalves (1994) discute sobre trabalho como termo nuclear para
compreensão as práticas de saúde, a partir do seu caráter histórico e com
compromissos sociais. O autor investiga nos seus estudos sobre processo de
trabalho, a aplicação da teoria marxista do trabalho ao campo da saúde e a
conformação dos seus elementos constituintes - objetos, instrumentos
materiais/intelectuais (saberes) e a atividade humana.
Em um processo de trabalho, existem alguns componentes que o
determinam (FARIA et al., 2009):
Finalidades ou objetivos
são projeções de resultados que visam a satisfazer necessidades e
expectativas dos homens, de acordo som sua organização social e
relativizado pelo momento histórico.
Os objetos
Podem ser matérias-primas, materiais já previamente elaborados ou, ainda,
certos estados ou condições pessoais ou sociais, que estão sendo
transformados.
Os meios de produção ou instrumentos de trabalho
Podem ser máquinas, ferramentas ou equipamentos em geral, mas também,
em uma visão mais ampla, podem incluir conhecimentos e habilidades.
os agentes
São os homens, que realizam a transformação de objetos ou condições para
se atingir fins previamente estabelecidos.

Para melhor entendimento dessa articulação, veja o mapa conceitual:

FARIA, et al. Processo de trabalho em saúde. 2. ed. Belo Horizonte: Coopmed, 2009. Disponível em:
https://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/imagem/Processos-de-trabalho-2009.pdf

Pode-se dizer, portanto, que a finalidade rege todo o processo de trabalho e


é em função dessa finalidade que se estabelecem os critérios ou parâmetros de
realização do processo de trabalho. Para Merhy (1995), o modo de operar os
serviços de saúde é definido como um processo de produção do cuidado. No
trabalho em saúde há uma imprevisibilidade do resultado final, configurado pela
intensa relação interpessoal, dependente do estabelecimento de vínculo entre os
envolvidos para a eficácia do ato.
Em determinados momentos, alguns profissionais podem até direcionar o
trabalho pelas suas especificidades, mas o resultado final é produto da intensa
relação pessoal e profissional (AGRELI, PEDUZZI e SILVA, 2016). Nessa
dinâmica, o usuário assume o papel de corresponsável também pelo resultado
final, fornecendo informações necessárias e reconhecendo seu protagonismo na
tomada de decisões que melhorem sua qualidade de vida e saúde (MENDES-
GONÇALVES, 1994).
Atualmente, a expressão multidimensional das necessidades de saúde, bem
como o conhecimento sobre a complexidade que envolve as intervenções ao
processo saúde-doença de usuários/comunidades, requerem múltiplos sujeitos
para darem conta da totalidade das ações, demandando a recomposição dos
trabalhos especializados, com vistas à assistência integral.
Vejamos algumas situações importantes nessa mudança do cenário
epidemiológico (FRENK et al., 2010):
• Aumento das doenças crônicas não transmissíveis, que apontam para outras
formas de enfrentamento dos problemas de saúde.
• Ampliação da população urbana, com aumento da concentração de pessoas em
espaços com condições sanitárias mais precárias.
• Novos riscos infecciosos, ambientais e comportamentais.
• Necessidade de racionalização dos custos dos serviços de saúde.
Pela natureza das necessidades de saúde, torna-se evidente que um
profissional sozinho não consegue dar conta de resolver certas situações,
apontando assim, para a importância do trabalho em equipe.
Partindo da lógica que a centralidade do processo de produção dos serviços
de saúde é o usuário e suas necessidades de saúde, essa percepção exige uma nova
forma de trabalho em saúde, mais integrada e marcada por uma comunicação
efetiva (AGRELI; PEDUZZI; SILVA, 2016).
Vale destacar que a mera aglomeração de profissionais de diferentes áreas
não garante um trabalho conjunto, visto que ações isoladas, justapostas e sem
articulação não permitem o alcance da eficiência dos serviços na atenção à saúde
(RIBEIRO, PIRES e BLANK, 2004).
É necessária uma integração de forma consciente entre os profissionais para
que se efetive a articulação almejada e necessária para a integralidade das ações
de saúde. Esta, não ocorre automaticamente nas intervenções produzidas pelos
vários profissionais na rotina, mas depende de conexões percebidas e introduzidas
conscientemente pelos sujeitos do trabalho (PEDUZZI, 2003).
A mudança do modelo de assistência em saúde, de um “modelo médico
produtor de procedimentos” para outro “produtor do cuidado”, requer um
enfrentamento com os interesses que representam o ideário de mercado, no
sentido de ressignificar a utilização da saúde enquanto bem social e não enquanto
mercadoria.
O enfrentamento não se dá de forma simples e os processos implicados com
as práticas mercantis na saúde estruturam-se também em modos de agir dos
trabalhadores e usuários que orientam as práticas assistenciais (FRANCO, 2003).
Assim sendo, para se pensar um novo modelo assistencial em saúde
centrado no usuário, é fundamental ressignificar o processo de trabalho. Para isso,
é necessária uma mudança na finalidade desse processo, que passa a ser a
produção do cuidado, na perspectiva da autonomização do sujeito, orientada pelo
princípio da integralidade e utilizando como ferramentas a interdisciplinaridade,
a intersetorialidade, o trabalho em equipe, a humanização dos serviços e a criação
de vínculos usuário/profissional/equipe de saúde (RODRIGUES e ARAÚJO,
2001).
As práticas profissionais devem se complementar (BARR, 1998) e, assim
buscar alcançar um único objetivo. Trabalho em equipe de modo integrado
significa conectar diferentes processos de trabalhos, aproximando os saberes e
valorizando a participação das diferentes áreas na produção do cuidado, partindo
de objetivos comuns, e consenso quanto a maneira mais adequada de atingi-los
(RIBEIRO, PIRES e BLANK, 2004)

Para refletir:

✓ Como tem se dado a dinâmica do trabalho em saúde em sua realidade?

✓ Existe trabalho em equipe, ou apenas divisão de um mesmo espaço?

✓ Você se sente preparado para trabalhar em equipe?

São questões que pouco paramos para refletir no cotidiano. No entanto, as


transformações na sociedade estão acontecendo e precisamos acompanhar esse
processo para poder garantir uma atenção resolutiva.

Desenvolver competências capazes de melhorar a capacidade para o trabalho em


equipe é uma necessidade no contexto atual e, nos últimos anos, essa discussão
vem ganhando ainda mais força.

Vamos aprofundar essa discussão?

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