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ATIVIDADE 1 - PROCESSOS SOCIOAFETIVOS

PROF.ª CILENE REJANE RAMOS ALVES


GRUPO 1: Any Caroline Félix, Bruno Antônio da Silva, João Thomás Ramos Pinheiro, Julia
Furlani, Lílian Rafaeli Dutra Silveira, Lucilayne Albuquerque da Costa, Mário Pereira Lima e
Thamires Dayane de Sá Pereira.

Análise do Filme “Divertida Mente”

O filme “Divertida Mente” traz diversas reflexões acerca da natureza e da utilidade


das emoções. De início, podemos observar que as emoções vêm como uma reação a eventos
significativos da vida, as quais, independentemente de serem classificadas como “positivas” ou
“negativas”, sempre possuem uma razão de existir e servem a um propósito, especialmente
como alertas para alguma informação à qual se deva atentar.
Por exemplo, quando a protagonista, Riley, vê-se diante de uma mudança para uma
nova cidade - o que muda toda a sua rotina e, até mesmo, os padrões de comportamento de seus
pais - a tristeza, a raiva, o nojo e o medo da personagem vão se manifestando à medida que ela
se expõe a novas situações.
“Divertida Mente” também conduz a reflexões importantes, como, por exemplo, a
respeito da importância de darmos espaço para cada um de nossas emoções, pois cada uma delas
gera respostas importantes e necessárias à nossa vida. No filme, percebemos, em um primeiro
momento, que a emoção predominante de Riley é a Alegria, sempre eufórica e nunca parando
para pensar com clareza. Em frequentes estados de intensa alegria, a personagem apresentou a
tendência de reprimir sua tristeza como forma de sempre se manter “positiva”. Dessa maneira,
a partir do comportamento de cada vez mais suprimir o que verdadeiramente sente, Riley se vê,
de repente, agindo com impulsividade e rebeldia, gerando conflitos íntimos diversos.
A partir disso, o filme nos permite perceber a importância de se reconhecer e acolher
todas as emoções, pois, muitas vezes, somente podemos usufruir das emoções positivas quando
nos permitimos sentir e processar aquelas mais desafiadoras. Aliás, vemos no filme que as
emoções, mesmo as tidas como “negativas”, têm um componente social-expressivo
fundamental, promovendo conexões entre as pessoas. É justamente quando Riley decide deixar
que a sua tristeza se manifeste que finalmente consegue sair do torpor em que estava mergulhada
e demonstrar sua vulnerabilidade aos pais, que respondem com empatia e afeto.
Além disso, o filme também mostra a importância das emoções tanto para a
formação de memórias quanto para o acesso a elas em fases posteriores da vida. É interessante
perceber que, no filme, as memórias de Riley são armazenadas nas cores da respectiva emoção
que a gerou, o que demonstra uma correlação direta entre a ativação de uma particular lembrança
com a vivência da emoção que havia se associado a ela.
Já em relação ao processo de “esquecimento”, a obra o retrata como um armazém
de memórias enfileiradas, em que as mais antigas cada vez mais ficam para trás. Cada memória
que entra em desuso é colocada, portanto, no “vale do esquecimento”, a exemplo do amigo
imaginário de Riley, o elefante que lhe fazia companhia durante a fase de sua primeira infância.
Ainda sobre a cena em que Riley desiste de fugir, aceita a tristeza e se aproxima dos
pais, finalmente buscando ajuda e começando a aceitar o seu processo de mudança, notamos a
formação de uma primeira memória “híbrida”, feita da mistura entre alegria e tristeza, e
evidentemente mais complexa, associada ao sentimento de melancolia – este é um momento em
que poderíamos dizer que Riley avançou a um novo patamar de desenvolvimento cognitivo e
psicossocial e, portanto, a um novo nível de maturidade.
Isso nos mostra que as emoções são aprendidas e desenvolvidas para facilitar a
integração do indivíduo à sociedade. Inclusive, vale ressaltar que, quando as emoções negativas
não são extremamente intensas, elas também contribuem para que o indivíduo tenha uma visão
mais precisa da realidade. Essa ideia é retratada no filme através do fato de a personagem
Tristeza, por exemplo, saber muito bem como voltar para a sala de comandos e como gerenciar
as funcionalidades da complexa rede de informações ali existentes. De fato, a tristeza nos ajuda
a compreender e aceitar nossas perdas e a lidar melhor com elas, e é exatamente com equilíbrio
emocional que conseguimos agir de forma mais assertiva no mundo e abrimos todo o leque de
possibilidades para novas formas de ser no mundo – representadas, no filme, pelas “ilhas de
personalidade”.
Outra coisa a se observar no longa-metragem é a forte influência exercida pelas
emoções sobre o corpo e o comportamento da protagonista. Os personagens relativos às
emoções apertam botões no “painel de controle emocional” e logo já alteram o comportamento
de Riley, de modo que as suas expressões mudam rapidamente sem que ela sequer consiga
refletir a respeito. Isso mostra como as emoções exercem forte influência sobre mudanças em
nosso corpo, expressão e, até mesmo, fisiologia.
Como exemplo disso, temos a cena em que o pai de Riley lhe oferece brócolis e,
subitamente, a emoção chamada Nojinho assume o painel de controle, fazendo com que a garota
recuse o vegetal e expresse uma cara feia de desgosto. Na sequência, em resposta à objeção de
Riley, seu pai ameaça tirar a sobremesa da filha, o que, nesse momento, faz a emoção Raiva
entrar em cena, demonstrando que não tolera nenhum tipo de injustiça.
Com efeito, tanto a expressão de nojo de Riley, comunicando ao pai que considera
tal alimento repulsivo, quanto a reação animosa diante de uma contrariedade, são manifestações
da chamada “dimensão social-expressiva da emoção”.
Em outra cena, quando Riley está jogando rockey e fica irritada por fazer um mau
jogo, sua ira culmina em um acesso de fúria violento. Podemos interpretar a ação instintiva de
jogar o taco, o capacete e as luvas com violência no chão como uma resposta motora decorrente
da “dimensão excitação corporal” da raiva.
Já a “dimensão sentimental” das emoções é representada em parte pelas “ilhas de
personalidade”, as quais são constituídas a partir de experiências subjetivas e emocionalmente
intensas, armazenadas como memórias-base. São as “ilhas de personalidade” que dão a Riley
certos padrões de reação emocional diante dos acontecimentos da vida.
Esses padrões, no entanto, são mutáveis ao longo da vida e isso pode ser percebido
na cena em que as memórias-base acidentalmente saem da sala de controle e provocam a ruína
das “ilhas de personalidade”. Após esse momento, quando o pai de Riley tenta acionar a “ilha
da bobeira”, esperando uma reação alegre e brincalhona da filha, Riley não reage mais como
outrora, pois a tal “ilha da bobeira” deixou de fazer parte do psiquismo da protagonista.
Há ainda que se falar que o sono, fundamental na consolidação das memórias, é
mostrado no filme como fator importante não só para a formação de memória como também
para a estabilização do humor. A criação dos sonhos é representada como um estúdio de cinema
onde os cenários são criados a partir das situações captadas pelo consciente de Riley quando
estava acordada e também pelos detalhes que lhe passam despercebidos, mas que o seu
subconsciente guarda. O inconsciente, por sua vez, é representado no filme em forma de prisão
– talvez para fazer uma analogia ao processo de recalque sofrido pelos conteúdos dolorosos.
A obra também é perspicaz ao retratar os diálogos existentes dentro da cabeça dos
pais de Riley, mostrando como todo e qualquer indivíduo, independente de idade, classe social
ou gênero, está sempre em relação com seus conflitos íntimos, suas limitações e suas emoções.
Toda essa relação interna entre esses fatores é exatamente o que gera memórias ao longo da vida
e que constroi a personalidade, elementos estes que podem levar as pessoas a determinadas
escolhas e estilos de vida.
O filme “Divertida Mente”, em suma, nos mostra que a motivação e as emoções
estão longe de poderem ser operadas como uma máquina, pois elas possuem um componente
“biopsicossocial” que torna o ser humano deveras complexo. Isso significa compreender que as
emoções são as causas do comportamento, as quais, por sua vez, derivam de fatores externos e
internos. Nesse mesmo sentido, as motivações também se mostram vinculadas a fatores
externos, a exemplo das instituições sociais, como a família, a escola e as redes sociais.
Além disso, a obra nos relembra que cada memória-base faz menção a um momento
importante da vida associado a emoções, de maneira a moldar aspectos da personalidade do
indivíduo. Isso nos mostra que as emoções têm um papel fundamental na “decisão” da mente a
respeito daquilo que vai para a memória de longo prazo, bem como na harmonia e integração
do sistema psíquico como um todo organizado.
Pode-se dizer, por fim, que “Divertida Mente” demonstra de modo singular a
importância das emoções diante de variados aspectos a que somos submetidos durante nossas
vidas. O foco do filme é a valorização e legitimação das emoções e dos sentimentos, o que
propicia ao espectador a naturalização de sentir, de compreender que o outro também sente e de
que nenhuma emoção deveria ser anulada, isto é, de que todas elas são válidas.
No decorrer da trama trabalha-se a relação entre algumas emoções primárias, tais
como a raiva, o medo, a alegria, a tristeza e o nojo. Pode-se perceber que tudo ocorre
simultaneamente, mas de modo organizado. Nessa jornada de vida da protagonista, mostra-se
como a interferência das emoções podem ser geradoras de atitudes diferentes. É interessante
ressaltar também que, no filme, as emoções primárias estão presentes em todos os personagens,
desde Riley, até seus pais e, inclusive, nos animais.
As metáforas nas quais o filme se constroi corroboram para o entendimento da
imprescindibilidade das emoções no cotidiano de todos os seres humanos. A animação
cinematográfica traz a reflexão de que não há emoções simplistas, subdivididas entre boas e
ruins, mas revela, na verdade, que todas elas são fundamentais para o desenvolvimento da psique
humana.

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