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IBFE

Curso: Psicopedagogia

Disciplina: Bases neurológicas da aprendizagem 1 06/2019

O Cérebro e sua capacidade neuroplástica

aplicadas a sala de aula

“O cérebro emocional responde a um evento com


muito mais rapidez do que o cérebro racional.” Daniel Goleman

Aluna: Márcia Regina Albuquerque de Carvalho


No contexto da sala de aula é importante estarmos atentos aos vários
aspectos envolvidos no processo de ensino-aprendizagem.
Nesse trabalho o foco de estudo no que diz respeito, a esse processo, é o
nosso cérebro: do que se conhece sobre ele e em como se acredita até este
momento, que ele aprende. Assim possível falar um pouco de que forma podemos
proporcionar o ensino, em sala de aula, para estimular de forma mais eficiente este
órgão tão complexo e fantástico.
Vale a pena elucidar algumas definições:

Plasticidade Cerebral
É a capacidade adaptativa que o cérebro possui em se reorganizar
neuronalmente, modificando tanto em estrutura quanto em funcionamento.
Essa capacidade pode ser adquirida, ou melhor, estimulada diante que
algumas situações:

 Por meio do seu próprio desenvolvimento;


 Em resposta a alguma experiência;
 Reação a alguma lesão.

O processo da plasticidade torna a pessoa mais eficaz, e ocorre por toda a


vida do individuo.

A plasticidade relacionada ao desenvolvimento tem a ver com as podas que o


cérebro sofre durante a vida, exemplo a da primeira infância, onde até então este
cérebro se desenvolveu com inúmeras ramificações neuronais, e com o tempo
algumas ramificações são mais usadas que as outras. Estas menos utilizadas são
então ‘descartadas’ pelo cérebro.
Existem vários mecanismos de plasticidade, sendo a plasticidade sináptica
( relacionada a experiência) o mais importante – esta área de estudo procura
perceber como é que os neurónios alteram a sua capacidade para comunicar entre
si. Esta comunicação envolve entendimento e compreensão de alguns receptores
envolvidos nessa comunicação, em especial o AMPA e o NMDA ( conhecidos como

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moléculas de memória. Envolvidos também na mediação de importantes funções
dessa neurotransmissão, tais como: cognição e neurotoxicidade.
À medida que exercitamos o nosso cérebro, e novas memórias se tornam
mais consolidadas, alterações estruturais no cérebro ocorrem mudando a sua forma
e até podem aumentar de tamanho. Inclusive, pode acontecer de uma tarefa
desempenhadas por uma sinapse passa a ser desempenhadas por duas.
E quanto mais exercitamos o nosso cérebro mais numeroso e melhor
organizado nossas ligações sinápticas ficam, portanto o cérebro gosta de ser
estimulado intelectualmente.
E é esse tipo de plasticidade (sináptica) que está envolvida a capacidade do
cérebro em recuperar algumas funções muitas vezes tidas como perdidas.

A aprendizagem, sob a ótica funcional do cérebro:

‘’O desempenho de tarefas é aprendido através do treino deliberado e continuado,


enquanto que a aprendizagem das emoções tende a ser muito mais rápida.
Muitas vezes este processo tem mesmo que ser
mais rápido, especialmente para as condições que nos provocam medo.
A aprendizagem em ambos os casos faz-se por condicionamento.’
(Neurociência: A Ciência do Cérebro, pag. 31)

Entendemos assim que qualquer coisa se aprendida com emoção, terá maior
chance de se consolidar, se associarmos a isso uma repetição do ‘objeto’ a ser
aprendido esta consolidação ocorrerá de forma eficiente. Podemos então dizer que
formamos um engrama, ou seja "um traço de memória duradouro numa célula".
Nestes processos estão envolvidas várias áreas do cérebro – os gânglios da
base e o cerebelo são particularmente importantes para a aprendizagem do
desempenho de ações, e a amígdala para a aprendizagem das emoções.
A aprendizagem é resultado de um mix de influências fisiológicas, cognitivas e
ambientais.
Para ilustrar um pouco, da parte fisiologica podemos citar o hormônio cortisol:
Este hormônio é responsável por restaurar o equilíbrio interno do organismo,
após o stress. É observado que os níveis dele no sangue, durante o dia, são
variáveis. Esta variação pode ser consequência de fatores como: stress psicológico,
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stress fisiológico, como hipoglicemia, febre, trauma, cirurgias, medo, dor, exercícios
físicos e temperaturas extremas.
Se o nível desse hormônio se mantiver alto excesso, o cortisol pode provocar
insónias e elevar ou deprimir, marcadamente, o humor.
A exposição de longo prazo ao cortisol resulta na danificação das células
do hipocampo. Levando a diminuição da capacidade de aprendizagem. Entretanto, a
exposição de curto prazo ao cortisol ajuda no processo de criar memórias.
Um exemplo do aspecto cognitivo que podemos citar é a atenção:
Para falar de atenção é importante saber que as funções executivas estão
relacionadas a área pré-frontal do nosso cérebro, área essa que terminará de se
desenvolver por volta dos 24 anos. Uma das funções desta área é o Controle
inibitório: que possibilita controlar e filtrar pensamentos, e ter o domínio sobre
atenção e comportamento.
Portanto até essa idade a atenção dos alunos é algo a ser constantemente
‘conquistada’ pelo professor.
E quanto ao ambiente, ele fornece os estímulos externos que recebemos,
como e quanto recebemos e como os interpretamos.
Muitas outras coisas influenciam a aprendizagem, como o sono. Uma noite
bem dormida consolida o aprendizado, uma vez que permite a perpetuação e
memorização de todo o conteúdo que foi aprendido durante o dia.
Sendo assim devemos estar conscientes da importância da Neurociência em
sua contribuição não só para o entendimento do processo de ensino e
aprendizagem, unindo-se aos conhecimentos já demonstrados pela Psicologia e
Pedagogia.

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A sala de aula

Em sala de aula o professor deve ter uma boa noção destes conhecimentos,
entendendo em que momento eles se aplicam, vinculando-os a proposta didática que
ele vai elaborar na apresentação de um novo conteúdo.
A revista Mundo Escolar Online elenca alguns critérios para ajudar o professor a
repensar o processo ensino. São eles:

1 – Estimular os sentidos; 6 – Motivação – estimular o desafio;


2 - Recontar, rever e repassar; 7 - Tempo das aulas;
3 – Dormir bem; 8 – Ambiente;
4 – Despertar a curiosidade; 9 – Participação;
5 – Evocar emoção; 10- Avaliações.

As estratégias escolhidas pelo professor(a) devem estimular as funções


cerebrais para desenvolver o potencial da aprendizagem.

Um exemplo de estratégia que pode ser utilizada, em crianças, no


reconhecimento de texturas, trabalhando os sentidos, em especial o tato:
Na educação infantil por exemplo. Imaginemos crianças de 3 anos. Seu
córtex pré-frontal está em estágio bem imaturo, não conseguindo ainda se auto
regular seja para planejar suas ações e consequências, seja para manter sua
atenção por tempo prolongado em alguma atividade.
A aprendizagem neste estágio é proporcionada por uma riqueza lúdica. O
professor deve dispor de vários elementos e estratégias para ensinar a mesma
coisa. Permitindo assim que em primeiro lugar, a área da emoção seja estimulada, e
em consequência a atenção. E num processo de repetição, a criança formará seus
engramas de aprendizagem de forma mais consolidada.
De nada adianta, por exemplo, querer que a criança conheça várias texturas.
Ela precisa vivenciar este ‘’objeto de aprendizagem’’ de formas variadas. O
professor pode proporcionar, por exemplo:
- usar do recurso musical, que tenha um tema que remeta a textura tátil que
ele irá apresentar, ou que fale das sensações táteis.
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- usar o conto infantil, que também remeta a ideia de experiência tátil.
- montar com a criança algum elemento (um quadro, por exemplo) usando
material da proposta (se a proposta fo vivenciar o ‘macio’ ou ‘fofo’ ) – usar algodão
por exemplo.
- trabalhar o material algodão dentro de outro contexto, em uma máscara por
exemplo.
- intercalar esta proposta ao longo de algumas semanas, permitindo a re-
experiência ( repetição) com o objeto.
Outro exemplo, pode ser durante o processo de pré alfabetização. Quando as
crianças estão ainda conhecendo as letras do alfabeto:
- Vivenciar o formato da letra reproduzindo a mesma na massinha de EVA;
- Desenhar com o giz no chão, a letra bem grande, e com um borrifador de
água ela percorre a letra apagando. Caminhar sobre as letras desenhado com giz no
chão, permite que a criança fixe o desenho correto daquela letra enquanto
desenvolve o esquema corporal e a coordenação motora ampla.
- Desenhar a letra em uma caixa de areia.
Estas técnicas, associadas as práticas de sala de aula, fortalecerão o
aprendizado do alfabeto, permitindo que um mesmo objeto seja aprendido
utilizando-se de técnicas diferentes.

Exemplos ilustrativos, retirados da internet:

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Referências Bibliográficas

Plasticidade cerebral e aprendizagem: abordagem multidisciplinar


[recurso eletrônico] / Organizadores, Newra Tellechea Rotta, César Augusto Bridi
Filho, Fabiane Romano de Souza Bridi. - Porto Alegre : Artmed, 2018.

Neurociência: Ciência do Cérebro – uma introdução para jovens estudan-


tes. Associação Britânica de Neurociências,2003.

Souza, Angela da Silva Macedo - Plasticidade Cerebral e a aprendizagem,


2013 – Monografia - Universidade Candido Mendes - RJ
https://www.avm.edu.br/docpdf/monografias_publicadas/K225093.pdf

Comitê Científico do Núcleo Ciência Pela Infância (2016). Estudo nº III:


Funções Executivas e Desenvolvimento na primeira infância: Habilidades
Necessárias para a Autonomia. http://www.ncpi.org.br

Comitê Científico do Núcleo Ciência Pela Infância (2014). Estudo nº I: O


Impacto do Desenvolvimento na Primeira Infância sobre a Aprendizagem.
http://www.ncpi.org.br.

10 DICAS DA NEUROCIÊNCIA PARA A SALA DE AULA


https://www.mundoescolaronline.com.br/10-dicas-da-neurociencia-para-a-
sala-de-aula/

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