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INTRODUÇÃO:

Como sugerido pela professora tentarei avança na proposta da trajetória só que


descrevendo uma de minhas experiências profissionais enquanto assistente social.
Penso que será produtivo e também um exercício para melhor entender o objeto de
minha pesquisa.

A proposta de nossa pesquisa tem seu foco na expansão universitária, no


período que compreende 2007 a 2013. Sendo assim, estamos situados em um
espectro ideológico de politica pública denominado, Expansão e Reestruturação das
Universidades Federais (REUNI).

O REUNI tem como objetivo social promover, ou diminuir as diferenças sociais


no que se refere ao acesso à educação superior de qualidade, vinculando-se
diretamente ao desenvolvimento socioeconômico do discente.

Esse plano de expansão universitário traz, ainda, no seu bojo “politico social” o
desenvolvimento tecnológico operacional visando o aprimoramento de novas
tecnologias e a valorização do conhecimento técnico.

De certa forma pretende suprir as necessidades imbricadas no modelo


internacional de mercado e neste contexto iremos analisar a continuidade de um
projeto maior fundado no desenvolvimento humano politico social.

Pretendemos considerar como sujeitos da pesquisa, o discente vinculado ao


curso de engenharia do Instituto de Ciência e Tecnologia (ICET) da Universidade
Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).

É importante ressaltar que as causas e os caminhos que levam a continuidade


desse projeto politico educacional é fundado em princípios econômicos denominados
politica de mercado econômica.
As monadas trabalhadas em sala de aula e as orientações em vídeos
conferencias deram sustentação para podermos entender a essência da disciplina
Memória, Modernidade Capitalista e Educação.

O pensamento de Walter Benjamin ao mesmo tempo em que descreve sua


vivencia nas monadas da Infância em Berlim, nos faz refletir não só o aqui e o agora,
como descrição de um efeito sem causa, belo contrario vai além do seu tempo.

A critica de uma sociedade de classe é entendida dialeticamente levantando


problemas de um sistema capitalista corrosivo e individualista, onde o proposito maior
esta na reprodução de sua ideologia consumista, mecanicista e determinista. Ideia esta
já observada por Walter Benjamin no inicio do século XX com a expansão do
desenvolvimento industrial.

As guerras, o fascismo, a xenofobia, as perseguições, o cárcere e as


desigualdades sociais foram elementos amargos que subsidiaram a criatividade deste
pensador que ironicamente fez do sofrimento vivido a base para descrição de seu
memorial.

. A originalidade de Walter Benjamim está na observação da totalidade em


movimento utilizando o tempo vivido como um arcabouço para os relatos da memoria.

A formação da identidade esta explicitamente ligada ao enraizamento da onde é


extraída sua origem e o vinculo com passado, a essência da memoria reconstitui
elementos sensíveis de uma época e valores de determinado comportamento.

Do contrario o esquecimento ou omissões de fatos do passado como, por


exemplo, o holocausto, ideologias autoritárias e outras formas de dominação e
autoritarismo repetirão sem questionamentos.

Nesta perspectiva iremos analisar uma de minhas experiências profissional


articulando com o texto da Obra de Arte na Época de suas Técnicas de Reprodução,
procurando na observação da memoria a compreensão da essência humana e suas
possibilidades enquanto sujeito ontológico e biográfico, como também o papel da
educação no contexto do desenvolvimento humano.
(A garrafa de pimenta)

No ano de 2008 tive a oportunidade de trabalhar em uma organização chamada


Centro de Recuperação e Educação Nutricional – CREN. O objetivo desta instituição é
trabalhar orientando famílias independente de classe social sobre as questões da
desnutrição esclarecendo a importância do tratamento.

Tudo isso amparado no olhar total sobre o sujeito atendido, ou seja, a


comunidade, a família os amigos, uma rede de interligação da qual o sujeito estaria
inserido, o que possibilita contextualizar seu cotidiano, suas experiências, seu olhar de
mundo.

Porem minha entrada nesta instituição começou com uma experiência um tanto
quanto estranha, que jamais pensaria em ter vivido semelhante momento.

Por se tratar de uma instituição onde seu publico alvo na maioria é de famílias
que vivem a margem da sociedade e por este motivo carregam toda uma
desestruturação familiar com consequência graves de comunicação, ou melhor,dizendo
de expressão.

É importante ressaltar que apesar do público na sua maioria ser de famílias


carentes, não significa que famílias de classes mais privilegiadas se diferenciem de
alguns comportamentos que revelam a ausência critica da realidade vivida.

Enfim foi proposta uma dinâmica para saber entre os participantes que
ocupariam o cargo de Assistente Social, de que maneira, eles se sairiam em situações
que beiravam a loucura. A ideia era colocar o candidato em situações difíceis, mas que
através da observação poderiam contornar a situação e encontrar a melhor saída para
o caso.
Fui colocado em uma sala para atender ao mesmo tempo vários membros de
uma família representados por outros participantes da dinâmica, falavam todos ao
mesmo tempo, uns questionando sobre o que fazer com os filhos, outros com assuntos
totalmente fora de cogitação, crianças chorando, conversar paralelas, ou seja, um caos
e uma pergunta no ar como lidar com isso tudo.

O CREN tem como metodologia de trabalho o método de abordagem social que


se orienta pelo realismo, a racionalidade, a moralidade e a condivisão.

Confesso ter apanhado bastante ate entender como se processava este


instrumental metodológico na pratica e como tal método de abordagem possibilitaria
uma observação da realidade sem criar preconceitos ou mesmo fechar questões
impossibilitando maior exploração dos casos.

Entre todos estes conhecimentos que me eram passados tinha também como
norteador à frase do pensador e biologista Frances Alexis Carrel que dizia o seguinte:

“muito raciocínio e pouca observação conduzem ao erro, muita observação e pouco


raciocínio conduzem a verdade”.

Bom tudo isso foi maturando na minha cabeça comecei a organizar as ideias em
pequenas visitas domiciliares, acompanhamentos de casos já em plena intervenção por
outros profissionais da equipe interdisciplinar.

Nossa atribuição no CREN era de capacitar os agentes de saúde nas Unidades


Básicas de Saúde – as chamadas UBS, em relação aos casos de suspeita de
desnutrição e os procedimentos a serem realizados nestes casos.

Em uma dessas orientações junto às equipes da UBS, surgiu um caso no qual a


equipe não estava conseguindo acesso à família devido a dificuldades na abordagem o
que não permitia entender a problemática nem dialogar com a família.
A família em questão morava em uma comunidade onde o acesso era feito por
vielas muito estreitas e se localizava em uma invasão bastante íngreme os relatos das
agentes de saúde eram desconsoladores.

Diversas foram às abordagens feitas pelas equipes sem sucesso foi quando em
uma reunião sugeriram uma visita nossa acompanhada de uma agente de saúde
responsável pela área, fomos então tentar abordar a família.

No caminho a tal residência a agente de saúde ia expressando seu pessimismo


em relação à visita, “olha não querendo te desanimar, mas já vou falando a mulher não
vai passar do primeiro portão da casa e logo vai dizer que esta tudo bem não precisa
de nada ate logo e fim de papo”.

Chegamos a casa e como num passe de mágica tudo aconteceu como previsto
pela agente comunitária, ao batermos palma saiu um mulher toda desconfiada, só que
não havia apenas a agente de saúde tinha um rapaz do lado, o que causou nela outra
reação a “surpresa”.

O dialogo:

-Ola! como vai tudo bem?

-Sim tudo bem! Pode dizer!

- Pois é, venho de longe fazer esta visita, poderia vir ate aqui?

A mulher meio que desconfiada desce até o segundo portão o que já seria um
avanço.

- Ola! meu nome e Adenilson sou Assistente Social e gostaria de conversar com
você um instante!

- Ela logo se esquivando disse, pois não, pode falar!


- Então, só que gostaria que nossa conversa fosse dentro de sua casa e logo dei
um passo à frente sem deixar opção de escolha para ela que sem expressar reação
contraria tomou a frente e seguimos para a casa.

Foi ai que me deparei com uma coisa que jamais pensei que iria passar duas
vezes e que a dinâmica de grupo na seleção de Assistente Social tinha um propósito
bem fundamentado.

Era o caos, o som alto de um rádio meio que fora da estação zumbia feito
enxame de abelha, as crianças me cercavam por todos os lados e a mulher afoita me
fazia diversas perguntas ao mesmo tempo, estava ali no cenário da dinâmica de grupo
só que vivenciando a realidade concreta.

Tentava em meio a esta bagunça explicar a mulher o propósito de minha visita e


sobre as questões da desnutrição e etc.

Derepente ouço uma voz confusa gritando querendo saber quem estava ali,
nesta hora era tão grande a confusão que pedi para mulher abaixar o som, surgiu no
meio da cozinha um homem coberto só de toalha de banho me chamando de doutor.

- Olha seu doutor eu já passei na prefeitura logo que tiver ajeitados as coisas
aqui eu pago os impostos atrasados!

E por mais que eu tentava explicar o propósito da minha visita se identificando


como Assistente Social de nada adiantava.

- Meu senhor eu não sou da prefeitura!

O homem aparentando estar alcoolizado insistia.

- Pode ficar tranquilo doutor que eu vou pagar as contas!

Olhei para os lados vi uma garrafa de Velho Barreiro na pia da cozinha constatei
o motivo da perturbação do homem.
Neste meio tempo a agente de saúde estava na porta de entrada da casa
olhando com cara de derrota e pessimismo. Foi quando me lembrei da frase do
biologista Alex Carrel “muito raciocínio e pouca observação levam ao erro...”.

Não podia naquele momento sair sem procurar uma solução já tinha entrado na
casa, procurei observar as coisas me desligando um pouco daquela loucura. Foi
quando num olhar mais atento percebi garrafas coloridas em um canto do armário.

- Perguntei o que era aquilo?

- São pimentas disse o homem!

- Quem as faz?

- Eu mesmo ele disse!

- E como você as prepara nas garrafas?

- Eu as separo por qualidade das pimentas esta pimenta tal, misturo com aquela
ali amarela, esta verde eu ponho junto com as vermelhas!

- E onde o senhor arruma essas pimentas?

- Eu busco umas no interior de São Paulo, outras vêm da Bahia e assim por
diante, mas o segredo e saber separar as mais ardidas das que são de cheiro!

- Pois bem! . Disse ao homem.

- Você sabe estas coisas onde buscar como mistura os sabores enfim!

- Você é um homem de ciência!

Nessa hora ele parou fixou seu olhar na garrafa e disse.

- O senhor acha mesmo que sou um homem de ciência?

- Com toda certeza!


- Você transforma as coisas, procura saber a relação dos sabores a estética da
decoração das garrafas isso e ótimo!

- Com quem aprendeu este trabalho?

-Doutor desde que me entendo por gente, minha família meus pais lá do
nordeste a vida toda mexeram com isso, e o senhor sabe pouco estudo sem
oportunidades agente tem que se vira!

Nesta hora percebi o quanto se faz importante à memória, a história vivida para
percebermos nossa condição enquanto sujeitos protagonistas de ação e
transformação.

Aquele homem na condição em que se encontrava amparado na ilusão do


álcool, sofrendo os efeitos de um sistema reprodutivista estava alheio de sua própria
capacidade criadora.

Muito bem! Disse a ele.

- O senhor só precisa entender e perceber o quanto esta ação de transformar as


coisas também nos transforma!

Quando percebi estávamos sentados em volta de uma mesa discutindo o


propósito da minha visita domiciliar sobre as questões da desnutrição como também
das coisas da vida.

Conclusão:

Walter Benjamin analisou a memória meditando os efeitos do capitalismo


anônimo ecorrosivos que destrói a memória coletiva.

Ciente da luta de classe e embasado na dialética marxista, soube entender os


mecanismos das ideologias dominantes (o ovo da serpente) e como elas traçam seus
propósitos transformando ideias de transformação social em pretérito de um passado
sem importância o que afeta a reconquista da essência perdida, influenciado por um
mundo pré-categorizado.

É nessa hora que necessitamos de uma retomada de consciência para


podermos recusar o estabelecido como via única de existência.

O texto a obra de arte na época de suas técnicas de reprodução traz estas


questões como retomar o controle das inerências humanas a arte de viver,e como nos
é negado o desejo de criação.

Numa sociedade onde o fetichismo mercantilista direciona os sonhos e desejos


na ilusão da propriedade na sua mais perversa acepção o ser humano passa a ser
mercadoria dele mesmo.

Como descrito no texto “dizer que as coisas se tornam humanamente mais


próximas” pode significar que não se leva mais em conta a sua função social*.

E quando isso acontece significa que estamos trilhando um caminho rumo ao


abismo da ignorância se desconhecendo agentes de transformação da realidade
retidos em explicações simplistas do mundo imediato, produtivista e sem história.

Este é meu incômodo com o objeto de minha pesquisa o que é ser engenheiro
na atual conjuntura de economia de mercado?, Como entendem os alunos esta
profissão?, Quais foram a influencia na escolha da profissão? E como este programa
de expansão universitário REUNI,está subsidiando esta formação e quais os interesses
reais para o desenvolvimento da educação de ensino superior?.

A escolha da profissão será um influencia envolvida na memória da capacidade


humana de criar e desenvolver tecnologias para o bem comum, para o desejo e
satisfação em compartilhar os anseios de crescimentos para a humanidade, ou
reproduzir o que está estabelecido como absoluto e imutável?.

Aquele homem com suas garrafas de pimenta até hoje está em minha memória,
uma memoria triste de saber que existem pessoas que desconhecem suas virtudes,
seus potenciais e desejos que se afogam nos vícios do álcool e tantas outras
patologias sociais.

O seu saber foi diminuído aos interesses de um sistema que o entende como um
trabalho menor sem qualificação ou experiência mais profunda qualquer, um aprender
imediato sem lastro histórico, sua única importância é fazê-lo para subsistência mais
nada.

Eu não acredito nisso, acredito sim em uma educação que nos leva a pensar
nas varias formas de vida e como estas formas pode se transformar em tantas outras
formas e ao mesmo tempo nos transformando infinitamente humanos.

*nota de rodapé do livro os pensadores editora abril 1975, p. 15.

Bibliografia :

BOSI, Eclea. O tempo vivo da memória: ensaios de psicologia. – São Paulo :Atelie
Editorial, 2003.

BENJAMIN, Walter. Os pensadores. – São Paulo : Editora Abril, 1975.


Curso de Pós- Graduação/ Faculdade de Educação

ED -730 –Turma A- Memória, Modernidade Capitalista e Educação.

Professora : Carolina BovérioGalzerani

Aluno/ RA 144456 :Adenilson Correia da Silva

Trabalho individual relativo às contribuições da disciplina para o projeto de


pesquisa.

Janeiro / 2014
Teofilo Otoni, 20 de janeiro de 2014.

Ola! Professora.

Espero que esteja bem apesar de estar passando por uma fase difícil com sua saúde.

Não quero aqui fazer um livro, mas expor minha gratidão com o aprendizado com suas
aulas, hora presenciais, hora a distancia, mas isso não importa o que valeu foi sua
força de vontade e exemplo de amor ao trabalho.

Isso foi à essência de tudo o que a senhora queria passar sobre o pensamento de
Walter Benjamin.

Tenha certeza que a minha memória sobre este esforço do amor pela educação que a
senhora me passou será lembrado no meu percurso como educador.

Espero que o memorial esteja dentro do que a senhora esperava, mas se não estiver
farei outro sem problemas.

Um forte abraço e fique bem.

Adenilson Correia da Silva

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