Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
FEBRACT
Federação Brasileira de Comunidades Terapêuticas
CNPJ 71.753.263/0001-10
Rua Mogi Guaçu, 1182, Alto da Barra CEP 13090-605 | Campinas, SP
Fone: (19) 3255-7950 - (19) 3259-1467 - (19) 99841-2815
Homepage: www.febract.org.br
Email: contato@febract.org.br
Equipe FEBRACT
Presidente
Luis Roberto Chaim Sdoia
Presidente Executivo
Ricardo Valente de Souza
Gestor Geral
Pablo Kurlander
Coordenador de Operações
Kátia Isicawa de Souza Barreto
Os autores ............................................................................. 11
2
IBOGAÍNA PARA TRATAMENTO DA DEPENDÊNCIA QUÍMICA
1
Fernandez JW. Bwiti: an ethnography of the religious imagination in Africa. Princeton, New Jersey:
Princeton University Press 1982.
2
H.S. Lotsof, U.S. Patent 4,499,096; Chem. Abstr. 1985. 102,160426w.
3
H.S. Lotsof, U.S. Patent 4,587,243; Chem. Abstr. 1986 106,12967r.
4
Alper KR. Ibogaine: a review. Alkaloids Chem Biol 2001; 56: 1-38.
5
R. Goutarel, O. Gollnhofer, and R. Sillans, Psyched. Mono.1992. Essays 6, 70.
6
Goutarel R, Gollnhoffer O, Sillans R. Pharmacodynamics and therapeutic applications of iboga and
ibogaine. Psychedelic Monographs and Essays 1993; 6: 71-111.
7
R. Goutarel, O. Gollnhofer, and R. Sillans, Psyched. Mono. 1993 Essays 6, 70.
3
Em 1957, antes do uso da ibogaína no tratamento de dependência de drogas, o
laboratório Ciba Pharmaceutical patenteou seu uso com o objetivo de aumentar os efeitos
analgésicos dos opiáceos.
No final dos anos 1950 e 1960, a ibogaína foi utilizada como um adjunto ao
tratamento psiquiátrico pelo psiquiatra chileno Claudio Naranjo, que relatou a tendência
da ibogaína na recuperação de memórias pessoais subjetivas por parte de seus pacientes
e que facilitou o encerramento de conflitos.
Em 1969, Naranjo recebeu uma patente francesa para o uso psicoterapêutico da
ibogaína na dosagem de 4 a 5 mg / kg.8
No ano 1970, a Food and Drug Administration dos EUA classificou a ibogaína
como uma droga Schedule I. Hoje, a ibogaína não é regulamentada na maioria das nações,
mas é ilegal nos EUA, Austrália, Bélgica, Dinamarca, França, Suécia e Suíça.9
A partir de 1989, os tratamentos com ibogaína ocorreram em ambientes não
médicos e com base em evidências pré-clínicas precoces e relatos de casos sugerindo
possível eficácia da ibogaína, o NIDA dos EUA começou a apoiar pesquisas
toxicológicas pré-clínicas com ibogaína e o desenvolvimento de ensaios clínicos em
humanos.
No ano de 1993, o Painel Consultivo para Abuso de Drogas do FDA dos EUA
concedeu apoio à equipe de Deborah Mash, da Universidade de Miami, para um estudo
farmacocinético e de segurança de fase I da ibogaína em homens e em 1995 a FDA
aprovou um protocolo para estudo com indivíduos dependentes de cocaína.
Durante o mesmo período (1993-1994), o NIDA desenvolveu protocolos de fases
I / II envolvendo dosagens fixas de 150 mg e 300 mg de ibogaína HCl versus placebo
para dependência de cocaína.
Esses promissores estudos foram interrompidos em 1993 devido à morte de uma
paciente da Holanda, inibindo os financiamentos para pesquisas com ibogaína.
Informações disponibilizadas sobre esse caso mostraram que a paciente fez uso de heroína
concomitantemente à ibogaína, o que é contra indicado por sabidamente aumentar a
toxicidade da heroína 10.
8
D.P. Bocher and C. Naranjo, French Special Drug Patent No. 138.081;081713m, Inst. Class 1969, A61k
9
R. Goutarel, O. Gollnhofer, and R. Sillans, Psyched. Mono. 1993. Essays 6, 70.
10
Alper, RK. Fatalities Temporally Associated with the Ingestion of Ibogaine. J Forensic Sci, March 2012,
Vol. 57, No. 2 doi: 10.1111/j.1556-4029.2011.02008.x .Available online at: onlinelibrary.wiley.com.
4
A falta de apoio oficial para estudo da ibogaína na Europa e nos Estados Unidos,
fez com que a ibogaína se tornasse cada vez mais disponível em ambientes alternativos
em diversos países. Também devido ao status da ibogaína como substância Schedule I
nos EUA, o desenvolvimento do uso da ibogaína no tratamento da dependência de drogas
ocorreu fora dos ambientes clínicos e médicos convencionais. Assim, as preocupações
com a segurança do uso da ibogaína, bem como a escassez de dados sólidos de estudos
em humanos, dificultaram o progresso de seu desenvolvimento como medicamento.
A ibogaína no Brasil
11
Schemberg, E. et al. Treating drug dependence with the aid of ibogaine: A qualitative study.Journal of
Psychedelic Studies DOI: 10.1556/2054.01.2016.002.
12
Schemberg, EE. et al. Treating drug dependence with the aid of ibogaine: A retrospective study. Journal
of Psychopharmacology 2014, Vol. 28(11) 993–1000.
5
Conforme Resolução RDC nº 28, de 28 de junho de 2011, a importação de
interesse à saúde por pessoa física, para uso próprio, está dispensada de autorização pela
Anvisa. Ressalte-se que a dispensa de autorização não representa dispensa da fiscalização
tanto da Anvisa quanto dos demais órgãos anuentes.
Conforme artigo 1º, Capítulo XII, item 1.2 da referida Resolução, para caracterizar
uso individual deverá constar em cada receita médica a quantidade e a frequência de uso
do produto, compatíveis com a duração e a finalidade de tratamento.
O mesmo entendimento foi mantido com a publicação do Decreto 8.077/2013 que
diz:
Artigo 10º - Paragrafo 2º - Independe de autorização a importação, por
pessoas físicas, dos produtos abrangidos por este Decreto não submetidos a
regime especial de controle e em quantidade para uso individual, que não se
destinem à revenda ou ao comércio, desde que atendida a regulamentação
específica da Anvisa.
O Decreto nº. 8.077/2013 complementa que o produto importado não deve possuir
controle especial no Brasil (produtos que contenham substâncias listadas na Portaria
Anvisa nº. 344/98 ) e deve estar de acordo com a quantidade para uso individual e não ser
entregue à revenda ou ao comércio.
Qualquer que seja a modalidade escolhida para importação, a única documentação
solicitada pela Anvisa é a prescrição por profissional habilitado, ou seja, receita médica
no caso dos medicamentos. Essa documentação é requerida somente para comprovar o
uso próprio do produto pelo importador.
Finalmente, acompanhando a demanda aumentada pelo uso da ibogaína por
usuários de drogas e seus familiares no país e as manifestações acima da ANVISA,
pesquisadores da Universidade de São Paulo obtiveram aprovação recente para a
realização de ensaios clínicos para avaliar a segurança e a eficácia da ibogaína no
tratamento de dependentes químicos em ambientes hospitalares.
6
Um alerta: os falsos tratamentos com ibogaína no Brasil
7
Um caso emblemático é o relatado por J. P., que inclusive foi veiculado num jornal
televisivo da região de Campinas, SP. Ela entrou em contato com a FEBRACT para
relatar a sua história:
Estava tendo um problema com meu marido com drogas, então o internamos.
Ele ficou 4 meses e saiu e ficou 15 dias bem, porém depois disso teve um surto
e sumiu por 3 dias com meu carro, coisa que até então nunca havia acontecido.
Ele sumia mais sempre voltava. Fui em todas as delegacias de Campinas,
hospital e até mesmo IML e nada. Então, grávida de 8 meses, fui para as ruas
e biqueiras procura-lo, e o encontrei em uma Cracolândia aqui de Campinas
do jeito que já imagina. Bom, a partir daí comecei a procurar uma clínica pra
interna-lo novamente, e foi quando em pesquisa na internet achei a tal clínica
(nome da clínica). Eu sendo evangélica e procurando por uma clínica
evangélica, imaginei que essa tal seria (o nome da clínica tinha conotação
religiosa), foi quando clicando no ícone do WhatsApp que tem na página da
clínica nos retornou um (nome da pessoa que respondeu). Falando com a minha
sogra a induziu a uma tal de ibogaína até o momento desconhecida. Como já
estávamos cansados e sem mais saber o que fazer, aceitamos tentar esse
tratamento. O tal (nome da pessoa que respondeu) veio a minha casa, deu
cápsulas para meu marido que tinha acabado de acordar, e saiu dizendo que já
voltava. Mandou meu marido ficar em um quarto escuro, após menos de duas
horas fui ver meu marido e ele já havia falecido.
Lamentavelmente o caso de J. P. não foi o único. Mas mesmo que não levam à
morte, a ineficácia desses supostos tratamentos causa o aumento do estigma para com o
dependente químico, ao aumento do desespero da família, e ao aumento da desesperança
em relação à possibilidade de melhora por parte do dependente químico.
Também precisa ser lembrado que esse tipo de prática é ilegal e passível de
processo criminal.
8
Como evitar os falsos tratamentos com ibogaína?
Como visto acima, a ibogaína não pode ser vendida no Brasil, porém pode ser
importada para uso pessoal. Portanto, se alguma instituição ou pessoa promete aplicação
imediata de ibogaína, sem passar pelo processo de importação, ou esse produto é falso
ou é ilegal.
O tratamento com ibogaína é um tratamento médico, que deve ser realizado por
profissionais da saúde, em hospitais ou clínicas com estrutura e equipe hospitalar,
para garantir a segurança do paciente. Não existe tratamento com ibogaína feito em casa
ou em locais que erroneamente se autodenominem Comunidades Terapêuticas ou
Clínicas.
A ingestão de ibogaína faz parte de um tratamento mais amplo, que deve ser
precedido por uma triagem minuciosa, realização de exames médicos de acordo com a
triagem, e acompanhamento profissional anterior e posterior à ingestão da substância. O
tratamento com ibogaína nunca se resume unicamente à ingestão da substância.
9
Conclusões
10
Os autores
Célia Moraes
11
técnica da Comunidade Terapêutica Desafio Jovem de Brasília. Conselheira da
FEBRACT – Federação Brasileira de Comunidades Terapêuticas, Conselheira do
CONEN – Conselho de Políticas Sobre Drogas do Distrito Federal e Vice-Presidente da
FECOMTE – Federação das Comunidades Terapêuticas do Centro-Oeste. Palestrante em
escolas, seminários e congressos, com a abordagem familiar para prevenção ao uso de
drogas e para tratamento do dependente químico. Faz pesquisas clínicas na área da
neurociência em dependência de substâncias psicoativas. Tem projetos em andamento na
UFU – Universidade Federal de Uberlândia e na USP – Universidade de São Paulo –
Capital.
Pablo Kurlander
12