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SALVADOR
2020
NATÁLIA FERREIRA LIMA
SALVADOR
2020
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP).
Catalogação na Fonte
Elaboração: BIBLIOTECA ___________________________
X p.
Contém referências
CDD:
NATÁLIA FERREIRA LIMA
Banca Examinadora:
__________________________________________________
Profª. Dra. Cleide Magáli dos Santos - Orientadora
___________________________________________________
Prof. Dr. Ivo Ferreira de Jesus
Universidade Federal da Bahia - UFBA
_____________________________________________________
Lourani Maria Carneiro dos Santos - Membro da Liga Transforma
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
Como dizia Paulo Freire, “Ninguém caminha sem aprender a caminhar, sem
aprender a fazer o caminho caminhando, refazendo e retocando o sonho pelo qual
se pôs a caminhar”, nenhuma caminhada é feita sem um “mapa” ou objetivo. Essa
caminhada em busca de uma resposta à minha “dor de mundo”, me rendeu muitos
momentos conflitantes e até vontade de desistir no meio do percurso, e foi
contando com o suporte e incentivo de algumas pessoas que consegui concluir
essa etapa.
Aos meus pais, Rita Maria e Carlos Alberto, por sempre me mostrarem o
amor em primeiro lugar. À minha “neguinha” Natali Ferreira, por me tirar do sério
sempre, e provar com sua existência que amor de irmã pode ir além e ser amor de
filha e segunda mãe; e meu companheiro guerreiro Edson Moreira, que me
mostrou o que é amar independente de corpo e idade. Agradeço a vocês por
suportarem as minhas dúvidas e questionamentos sobre o universo da educação
e sociedade, mesmo não concordando com tudo que eu falava e falo sobre meu
universo particular.
Aos amigos que conquistei ao longo da minha história, Ian Diniz, Mariana
Oliveira, Ingrid Vilela e Olivia Hinterholz (com quem compartilhei algumas
discussões e questionamentos sobre mim e a discussão), e demais amigos de
infância, que ao seu jeito, mandavam eu “tomar vergonha na cara” e acreditaram
no meu potencial, quando nem eu acreditava.
UBUNTU.
RESUMO
This investigation has the main theme of Gordophobia. Specifically, its general
objective is to analyze the actions of “A Liga Transforma” in activism against
Gordophobia and for the empowerment of women, with the communities of the city
of Salvador-Bahia and as specific objectives: describe the actions of the A Liga
Transforma project; characterize the actions considered educational adopted by
the League; reflect how this form of activism collaborates in the process of building
the identity of fat women for their empowerment. With regard to theoretical
contributions, there is a certain difficulty, since the theme is still exploratory, yet it is
based on authors such as: Sibilia (2010), Russo (2005), Fernandes (2012) and
Tomaz Tadeu da Silva (2005), among others. As methodological options, this
research is characterized as a qualitative approach, with an exploratory nature; the
preferred mode of investigation is the Case Study and as data collection
techniques, participant observations were made in events that the League
promoted / participated in, interviews with the project's founders, in addition to
documentary research. As conclusions: it is verified how “The League” takes
information, knowledge and awareness about prejudices, such as Gordophobia; on
patriarchal society; about feminism, etc., as well as, this report is presented from a
scientific perspective.
INTRODUÇÃO 14
CAPITULO 1 – DISCUTINDO CONCEITOS 16
1.1 Identidade social ....................................................................................... 16
1.2 Sobre a “identidade gorda”, estereótipo e “gordofobia” ............................ 17
1.3 Ativismo e “empoderamento” de mulheres gordas ....................................... 22
CAPÍTULO 2 – ASPECTOS METODOLÓGICOS 26
2.1 Sobre as escolhas técnicas .......................................................................... 26
2.2 Sobre o processo investigativo: facilidades e dificuldades ........................... 28
CAPÍTULO 3 – PROBLEMATIZANDO: DO INDIVIDUAL AO
ESTRUTURAL E VICE VERSA, O QUE UNE “A LIGA” 31
3.1 Conhecendo fatos ........................................................................................ 31
3.2 Conhecendo falas sobre os fatos ................................................................. 32
3.2.1 Carla Leal .............................................................................................. 32
3.2.2 Lourani Maria Baas .............................................................................. 36
3.2.3 Isabele da Costa ................................................................................... 37
CAPÍTULO 4 - ATIVISMO E EDUCAÇÃO, UM EXEMPLO CONTRA
A GORDOFOBIA: A LIGA TRANSFORMA. 42
4.1 O projeto "A Liga Transforma" ...................................................................... 42
4.2 De algumas observações participantes ........................................................ 50
CONSIDERAÇÕES FINAIS 52
REFERÊNCIAS 54
APÊNDICES 57
14
INTRODUÇÃO
discursos, nos tensos jogos de poder e, nesse sentido, pensar sobre a construção
de uma identidade de emancipação social, pensando em corpos gordos, perpassa
pela necessidade de uma discussão mais ampla, uma vez que esse processo está
intimamente ligado às questões de construções pessoais e sociais, impossíveis de
serem dissociadas.
Sendo assim, falar sobre identidade gorda requer “bater de frente” com
alguns discursos que, de certa forma, podem assegurar o preconceito, como o
discurso global a respeito da saúde dos indivíduos, por exemplo. No início do ano
de 2017, o Ministério da Saúde apontou que uma entre cinco pessoas no País
está acima do peso, o que equivale a um quinto da população. O órgão tem
21
Esses dados trazem à tona uma questão ainda negada e ignorada por
muitos: as pessoas gordas constituem uma quantidade representativa entre os
brasileiros. Porém nos apresentam também somente um lado dessa questão, em
meio a tantos fatores que merecem atenção e discussão, pois mesmo com essa
representatividade significativa, esses indivíduos enfrentam o caos da
invisibilidade e têm que encarar todos os dias um preconceito real. Para muitos, o
termo “gorda/gordo” traz conotações negativas, tornando-se até ofensa. Mas o
que destoa de como esse termo é tratado por muitos e o que é apresentado para
a pesquisa é de onde parte o discurso apresentado para constituição de um
estudo.
1
O biopoder, nos estudos de Michel Foulcault, é definido como assumindo duas formas: consiste,
por um lado, em uma anátomo-política do corpo e, por outro, em uma biopolítica da população. A
anátomo-política refere-se aos dispositivos disciplinares encarregados do extrair do corpo humano
sua força produtiva, mediante o controle do tempo e do espaço, no interior de instituições, como a
escola, o hospital, a fábrica e a prisão. Por sua vez, a biopolítica da população volta-se à regulação
das massas, utilizando-se de saberes e práticas que permitam gerir taxas de natalidade, fluxos de
migração, epidemias, aumento da longevidade.
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mesmo que não se tenha acesso à exames clínicos e físicos daquele indivíduo.
Fora isso, direcionamento de olhares quando uma pessoa gorda sobe em um
coletivo e demora em passar na catraca ou não passa. Além disso, a prática
gordofóbica consolida-se também no descumprimento da Lei 10.098/2000, onde
em seu Art. 2º, inciso IV, garante o acento preferencial a pessoas com mobilidade
reduzida, tal como é caracterizada como
Por fim, vale ressaltar aqui o que Morin (1985),citado emPadovani (2013)
nos diz:“para chegar-se à objetividade, é preciso percorrer um caminho que
perpassa a história e a cultura, pois estas definem o que é tradição e legitima o
que é tido como verdade, e ainda o que é dito por Spink (2010): “a verdade é a
verdade de nossas concepções, de nossas instituições, de nossas relações, de
28
Quando decidi de fato que iria falar sobre o tema, passei a enfrentar o velho
problema que surge nesse processo, que é encontrar alguém que aceitasse
enfrentar esse estudo comigo, que aceitasse construir um trabalho em parceria.
Encontrei a orientação da professora Dra. Cleide Magáli, que já havia me
despertado a possibilidade de discussão da temática a partir das teorias de Ações
Coletivas e Movimentos Sociais, e assim iniciei o novo desafio: a revisão do
projeto, reelaboração da proposta de pesquisa e escrita da mesma.
De tal modo, falar sobre preconceito não é somente repetir a sua definição:
“qualquer opinião ou sentimento concebido sem exame crítico”, entretanto, tomar
posse da profundidade que o termo possui para assim conceber e apresentar esse
exame crítico a quem ainda se mantém na definição. Assim, falar sobre
preconceito e enfrentamento é também buscar sua gênese, saber de onde parte
tal concepção, entender os fatores de sua reprodução. Falar sobre preconceito é
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tomar posse se seu(s) conceito(s), para sair dos (pré)conceitos estabelecidos com
o próprio termo.
O olhar preconceituoso sobre o corpo e o fato de ele estar fora dos padrões
normativos da sociedade, traz outra consequência, que pode ser encarada como
um produto negativo da Gordofobia Estrutural, que é a falta/dificuldade de acesso
a empregos. A patologização do corpo gordo é muitas vezes, levada em
consideração nos momentos de entrevistas para ocupação de uma vaga no
mercado de trabalho, pois pessoas que são gordas são consideradas mais
prováveis a adoecer com mais frequência, e inaptas para o cargo.
Carla Leal, Corretora e mulher ativista, foi gorda desde a sua infância.
Nasceu em uma família de pessoas magras, que sempre criticaram o seu corpo,
sempre tentando fazer com ela adotasse dietas no seu cotidiano. Ela relatou ainda
ter passado por isso durante um bom tempo da sua trajetória. Carla afirmou
sempre ser a única pessoa gorda dos lugares que frequentava, e ainda que as
33
questões do seu corpo e seu peso faziam as pessoas transformarem isso sempre
em algo a ser discutido.
Além disso,
Ainda sobre imagem, segundo Carla, algo que teve uma grande
importância na construção inicial da sua identidade enquanto mulher gorda: o seu
interesse por maquiagem.
[...] ali entendi que aquilo era uma causa e que a gente
tinha que começar a lutar contra a questão do
preconceito e rotulação e patologização do corpo
gordo. (Relato de Carla).
Foi durante o período de contato mais efetivo com pessoas gordas, que
uma outra questão chegou à Carla: refletir e discutir sobre questões que envolvem
o universo feminino e as relações patriarcais da sociedade. Questões de ordem
estruturais:
[...] por mais que você seja uma pessoa que se ama,
que se cuida, se você não for uma mulher vaidosa,
você fica meio que fora de muita coisa, e essa coisa da
vaidade passa pelo estar magra, e passa pelo além de
estar magra, além de cuidar do cabelo, das unhas,
cuidar da depilação, da maquiagem, da roupa. (Relato
de Carla).
36
Além disso,
têm o quadril, seios, região abdominal, pernas maiores que outras mulheres),
assim, em 2018 ela decidiu fazer faculdade de Moda, que concluirá em 2020.1.
Hoje como Blogueira, Digital Influencer e Modelo Plus Size, ela utiliza essas
inserções também como forma de empoderar outras mulheres. Participou da São
Paulo Fashion Week, ao qual pretende ir novamente esse ano, por gostar muito,
tem uma coluna de moda e um blog no site da TV(televisão) Aratu, recentemente,
criou o projeto chamado FreeSize, que trata da luta contra gordofobia através da
prática de atividades físicas, que também faz parte da Liga, por ser um projeto
social.
2
Trata-se de uma iniciativa que surgiu com o objetivo de fazer as mulheres pararem de se
comparar a um padrão de beleza único e inatingível. O objetivo do movimento é
proporcionar o olhar positivo para o próprio corpo e aparência. A ideia é entender que,
independentemente de seu tamanho, peso, cor ou forma, devemos valorizar quem somos.
Fonte: Site https://www.mulheresbemresolvidas.com.br/movimento-body-positive/)
38
Ainda, mantinha esse ritual até a chagar aos usos de medicamentos, como
o Femproporex3, Sibutramina, e a disseminação das anfetaminas.
3
Femproporex é um fármaco, também conhecida como Perphoxene, que tem como
propósito suprimir o apetite, agindo assim para o tratamento em casos de sobrepeso. Da
família das drogas sintéticas (anfetaminas) a substância em questão, é a coadjuvante
para tratamentos clínicos contra a obesidade. Ela é antiga, no entanto em muitos países
foi banida após constatação do consumo desenfreado. (Fonte: Site
https://www.dicasdetreino.com.br/o-que-e-a-femproporex-para-que-serve/)
39
Isabele afirma que ao olhar as suas fotos hoje, se questiona até se não
desenvolveu algum processo Anoréxico, por conta de não poder ser considerada
como nomeamos de “gorda menor”, pois não chegou a passar dos 65 kg quando
considerou estar gorda, e que o trabalho com os autorretratos, os encontros do
CCA, entendendo o que ela tinha e entendendo-se enquanto pessoa, fez crescer
seu olhar de carinho para si.
Fonte: Instagram
4
Os Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) são unidades públicas integrantes do
Sistema Único de Assistência Social (SUAS). Estão localizados em bairros com elevados índices
de vulnerabilidade e risco social. São oferecidos nesses espaços serviços e programas soco
assistenciais de proteção social básica, prestando acolhimento, informação e orientação sobre a
assistência social. (Fonte: Site https://www.mpba.mp.br/area/caoca/crascreas )
43
Fonte: https://www.faroldabahia.com/noticia/a-liga-transforma-rede-de-fortalecimento-e-
afirmacao-para-mulheres-em-salvador
Fonte: Instagram
A Liga também colabora com outros eventos e projetos, como o Baile das
Gordas, que esteve, agora em 2020 em sua terceira edição. O bloco
49
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BRASIL. Portal Brasil. Obesidade cresce 60% em dez anos no Brasil. Disponível
em<http://www.brasil.gov.br/saude/2017/04/obesidade-cresce-60-em-dez-anos-no-
brasil> Acesso em 05 abr. 2018.
Foucault, M. (1987). Vigiar e Punir – História da Violência nas Prisões. (27ª. ed.).
Petrópolis:Vozes. (Trabalho original publicado em 1975).
2C%20Graham.%20%20An%C3%A1lise%20de%20dados%20qualitativos.%20Col
e%C3%A7%C3%A3o%20Pesquisa%20Qualitativa&f=false Acesso agosto 2019.
______. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2007.
SITES
APÊNDICES
Carta de Apresentação
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ROTEIRO DE ENTREVISTA