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Yoshiko Sassaki1
Nathalie Melo2
Danielle Maia3
Resumo
Na década de 1970, os países centrais passaram por intensas mudanças no universo do
trabalho, processo que hoje é conhecido como reestruturação produtiva. Este se configurou
pela transição do modelo fordista para o modelo de acumulação flexível. Essas
transformações foram sentidas no Brasil em meados de 1990, quando trouxeram inúmeras
perdas para a classe trabalhadora como: a redução dos postos de trabalho devido à automação
e robótica, os empregos temporários e terceirizados, além do aumento do desemprego e das
perdas dos direitos trabalhistas. Tais mudanças foram sentidas principalmente pela classe que
vive da venda da força de trabalhado, levando muitos ao mercado informal. Ao envelhecer
esses trabalhadores se tornam descartáveis para a lógica capitalista e muitos sem nenhum
direito previdenciário passam a viver em condições ainda piores, com a baixa renda e com o
aumento das doenças relacionadas à idade, vivendo num estado de vulnerabilidade social e
material. Buscamos analisar, portanto, de que modo as metamorfoses do mundo do trabalhado
incidiram na vida do trabalhador que envelhece na periferia do sistema capitalista brasileiro.
Este trabalho teve como base uma pesquisa financiada pelo CNPq no período de agosto de
2008 a julho 2009. A amostra foi composta por 60 idosos, sendo 30 homens e 30 mulheres da
cidade de Manaus, para isso foram aplicados formulários semi-estruturados. A pesquisa
verificou que mais da metade dos idosos possui baixa escolaridade, que refletiu nas atividades
econômicas em que estiveram inseridos, com maior destaque ao mercado informal, e este
fator explica o acesso a aposentadoria e a baixa renda atual. Diante dessa realidade, cabe a
sociedade e ao Governo a responsabilidade de criar condições para um envelhecimento digno.
Introdução
1
Docente do Curso de Serviço Social da Universidade Federal do Amazonas -UFAM. E-mail:
sassakiyo@uol.com..br
2
Mestranda no Programa de Serviço Social e Sustentabilidade na Amazônia- UFAM.
nathalie_samel@hotmail.com
3
Residente Multiprofissional do Hospital Universitário Getúlio Vargas. E-mail: daniellebmaia@hormail.com
públicas para sobreviver. Esses idosos que na maioria das vezes passam a vida inteira
trabalhando para provir seu sustento, quando envelhecem são simplesmente descartados pelo
capital, o que ocorre geralmente na população de baixa renda e com baixos índices
educacionais.
Isto posto, cabe mencionar o que significa trabalho e sua importância a quem depende
dele para se manter, haja vista que segundo Iamamoto (2007) o trabalho é uma atividade que
produz e reproduz a vida material. A autora, ao parafrasear Marx e Engels (1977), afirma que
para viver, os homens precisam comer, beber, ter habitação, vestir-se, dentre outras coisas,
mas para isso necessitam trabalhar, pois o trabalho é a base para sobrevivência humana.
Sabe-se que o trabalho ocupa lugar central na vida do homem, todavia, mediante a
reestruturação produtiva ocorrida na década de 70 - e as mudanças na dinâmica de produção –
ele se tornou escasso para uma enorme parcela da população. Essa reestruturação ao visar
maior produtividade do trabalhador descarta os idosos do mercado de trabalho.
Quando pensamos em envelhecimento, vemos que estabelecer conceitos universalmente
aceitáveis não é tarefa fácil, sabe-se, no entanto, que este é um processo intrínseco à vida. Na
concepção de Beauvoir (1990), autora da obra A velhice, estudo clássico sobre o
envelhecimento, publicado em 1970 na França e no Brasil em 1972, a velhice é percebida
como um fenômeno biossociocultural, isto é, é uma totalidade complexa que não pode ser
entendida por uma simples descrição de seus aspectos. Para esta autora, seu significado
ultrapassa a esfera estritamente biológica, pois, existem outras dimensões, tanto sociais, como
políticas e culturais que precisam ser levadas em conta para que haja uma compreensão de
totalidade sobre este complexo fenômeno.
Diante da fragilidade de uma concepção unilateral, a Organização Mundial da Saúde
(OMS) recomendou a idade de 60 anos para definir os “idosos” nos países em
desenvolvimento. Contudo, este indicador é homogeneizante uma vez que desconsidera as
diferentes dimensões envolvidas nesse processo, que são: diferenças de classe, gênero, cor,
educação, renda, e outros. Daí a relevância desse estudo ao voltar-se a velhice pobre na
realidade de Manaus, buscando contribuir ao debate sobre desigualdade e pobreza.
Projeções apontam que em 2025, o Brasil será a sexta população do mundo em número
de idosos. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2006), na
década de 60 a população idosa brasileira era estimada em 4,75%, na década de 70 aumentou
para 5,06%, nos anos 80 elevou-se para 6,06% tornando-se mais expressivo nos anos 90 com
8,3% chegando em 2000 a 9,1% e em 2006 ultrapassou os 10%. Para muitos estudiosos, uma
sociedade é considerada envelhecida quando o total de pessoas acima de 65 anos oscila entre
8% e 10% do total. Nessa perspectiva, pode-se afirmar que o Brasil é um país que está em
processo de envelhecimento.
A escolha dessa temática não é fortuita. Diante desse acelerado aumento da população
idosa, o processo de envelhecimento precisa ser objeto de pesquisa e investimentos sociais,
uma vez que este estrato populacional emerge com demandas muito específicas para o Estado.
Este estudo é relevante na medida em que propõe o debate de um tema ainda novo e
complexo, ao relacionar as categorias velhice e trabalho. Para tanto, primeiramente voltamos
nossa análise para a metamorfose do mundo do trabalho e a precarização do trabalho e dos
trabalhadores. Em seguida refletimos sobre vulnerabilidade em que estão inseridos de modo
geral e, finalmente fechamos com a análise e reflexão sobre os dados e informações da
pesquisa realizada em 2009 como membros do Grupo de Pesquisa GEPPSSAM 4 da
Universidade Federal do Amazonas.
5
Beauvoir, 1990, p. 286.
que possuem algum status não são chamados de velhos, são chamados pelo nome e
reconhecidos pelo lugar social que ocupam na sociedade, como por exemplo, alguns artistas
de renome e o presidente da república. Desse modo, parece que nas camadas mais abastadas
não existe velhice. Afinal, os ricos possuem além da estabilidade financeira, o acesso aos
melhores serviços de saúde, dois dos principais fatores necessários para obter qualidade de
vida.
Não por acaso Teixeira (2008) observa que é para os trabalhadores pobres e
envelhecidos que essa etapa evidencia a ampliação das desigualdades sociais, constituindo-se,
portanto, uma das expressões da questão social. Pois quando se torna “descartável” para o
capital, o idoso fica desprovido de renda e meios de subsistência, capazes de promover uma
velhice digna. A menos que tenha direito de aposentar-se, o que diminui, mas não extirpe sua
vulnerabilidade.
Tendo em vista esse processo Teixeira (2008, p.81) afirma ainda que “a questão de
envelhecimento decorre mais da diferença e das desigualdades de classe, da posição entre
exploradores e explorados, do que do conflito de gerações, de conflitos entre trabalhadores
ativos e inativos (...)”.
Segundo esta autora o processo de reconhecimento do envelhecimento como uma das
expressões da questão social, se inicia justamente com as primeiras gerações operarias que
envelhecem, por meio de lutas e reivindicações operárias. A conquista da aposentadoria faz
parte do conjunto de reivindicações do movimento operário, no inicio do século XX. Logo os
direitos previdenciários e as políticas sociais destinadas ao segmento idoso seguem uma
trajetória de lutas da classe trabalhadora a qual o Estado e a sociedade procuram atender de
acordo com as correlações de forças presentes nas diversas conjunturas.
Apesar de o direito a aposentadoria ser um avanço, muitas vezes, ela libera do trabalho
pessoas ainda produtivas, tornando-os inativos. Uma vez que nem sempre é necessário
completar 60 anos para ser considerado velho para o mercado de trabalho. Os idosos
descartados do emprego ficam envoltos a inúmeros questionamentos do tipo, que papel
desempenhar? Que atividade desenvolver? Como sobreviver? A solução para essa questão,
segundo Beauvoir (1990) é permitir que os trabalhadores continuem ativos o tempo que
puderam, ou aposentá-los cedo, desde que assegurem um nível de vida satisfatório.
É importante salientar que paralelo ao envelhecimento há o aparecimento de doenças,
muitas delas inerentes à própria idade. Algumas vezes, essas doenças impulsionam os idosos a
se retirarem da vida produtiva, quando passam a ser vistos pela sociedade como improdutivos
e doentes. O cenário de pobreza em que se encontram, agrava ainda mais essa situação.
Diante desta realidade, os idosos que adoecem e não possuem os meios de produção
enfrentam grandes dificuldades ao envelhecer, uma vez que dependem do Estado e seus
parcos “benefícios” para se manter.
Dentre esses benefícios, os da Previdência, Saúde e Assistência Social que constituem
o tripé da Seguridade Social, são os que mais requerem investimentos por parte da população
idosa. Assim, por demandarem tantos recursos públicos passam a ser vistos pela sociedade
como improdutivos e alavancadores de gastos.
Dados do Ministério da Saúde (2000) apontam que idosos apresentam mais problemas
de saúde que a população geral. Em 1999, dos 86,5 milhões de pessoas que declararam ter
consultado um médico nos últimos 12 meses, 73,2% eram maiores de 65 anos. Esse também
foi o grupo de maior coeficiente de internação hospitalar (14,8% de 100 pessoas no grupo)
que no ano anterior. Mais da metade dos idosos apresentava algum problema de saúde
(53,3%), sendo 23,1% portadores de doenças crônicas.
Segundo Veras (2007), os idosos brasileiros vivem cotidianamente angústias com a
desvalorização das aposentadorias e pensões, com depressão, com a falta de assistência e de
atividades de lazer, com o abandono em hospitais ou asilos. E sofrem ainda, todo tipo de
obstáculos para assegurar alguma assistência por meio de planos de saúde. À desinformação,
ao preconceito e ao desrespeito aos cidadãos da terceira idade, se somam a precariedade de
investimentos públicos para o atendimento de necessidades específicas da população idosa, a
falta de instalações adequadas, a carência de programas específicos e mesmo de recursos
humanos, seja em quantidade, seja em qualidade.
Apesar de os idosos serem muitas vezes considerados como fardo econômico para o
Estado e para a sociedade, o Censo de 2005 (PNAD) verificou que 65,3 % dos idosos eram
responsáveis pela renda familiar. Isso significa que sua renda (aposentadorias, pensões e
benefícios), mesmo baixa, tem garantido o sustento de inúmeras famílias brasileiras e tem
contribuído bastante com a economia nacional.
Doll (1999) afirma que a situação econômica tem influência na satisfação de vida dos
idosos. Essa satisfação não dependerá somente de um ou dois fatores mais de um conjunto
como: saúde, família, atividades sociais e renda. O autor afirma que o dinheiro em si não
obrigatoriamente tratará satisfação, mas ele é um pré-requisito para “uma vida independente e
necessário para se alimentar, vestir e cuidar da saúde de forma adequada” (Idem, p.141). O
autor trás a tona outro ponto em relação às condições financeiras:
Em uma sociedade que equivale o trabalho com dinheiro e onde um preço caro é
sinônimo de qualidade, faz uma enorme diferença para a auto-imagem, se o trabalho
de uma vida inteira vai ser reconhecido através de uma aposentadoria digna ou se o
aposentado recebe somente o mínimo para sobreviver. (...) A situação financeira
significa também um fator de integração social. (DOLL 1999, p. 142).
Por todos esses fatores, a velhice é considerada uma fase de perdas para a população
pobre. Perde-se a saúde, o vigor, o emprego, a beleza. Alguns teóricos argumentam que
muitas vezes ela é associada a uma etapa que precede a morte, portanto, a última fase do ciclo
vital, em que não há mais nada a ser feito, apenas esperar a morte chegar. Diante disso,
importa dar uma ressignificação a vida. Afinal, com o avanço da medicina a idade
cronológica tende a aumentar. Estaremos caminhando para a sociedade dos inúteis?
Metodologia
Este trabalho teve como base uma pesquisa financiada pelo CNPq no período de
agosto de 2008 a julho 2009. A amostra foi composta por 60 idosos, sendo 30 homens e 30
mulheres usuários das Unidades Básicas de Saúde das zonas Sul e Leste da cidade de Manaus.
Para alcançar os objetivos propostos, foram aplicados formulários semi-estruturados.
Discussão dos resultados
Segundo Peixoto (2004), o baixo nível educacional dos idosos brasileiros é resultado
da ausência de políticas de educação nacional nas três primeiras décadas do século XX,
revelando que o acesso à educação lhes foi negado, ao longo da vida, reduzindo, então, a sua
cidadania, apesar de a Constituição de 1946 ter estabelecido o ensino primário gratuito e
obrigatório nas escolas públicas (PNAD, 2005).
Faleiros (2007) aponta que o acesso à educação foi muito limitado para boa parte da
população idosa brasileira, principalmente os que viveram na área rural, limitando assim o
acesso aos direitos de cidadania. No Brasil a proporção de idosos de 60 anos ou mais sem
instrução ou com menos de um ano de estudo, em 2007, era de 32,2%. Mais da metade,
52,2%, dos idosos do Nordeste pertenciam a essa faixa de escolaridade. No Norte, o
percentual era de 45,9% dos idosos, seguido pelo Centro-Oeste (36,9%), Sudeste (22,8%) e
Sul (21,5%). (IBGE 2008).
Em relatos da pesquisa, os idosos afirmaram que não tiveram oportunidades de estudo
por morarem a primeira etapa da vida no meio rural. Uma idosa afirmou que por crescer em
um interior do Amazonas, ninguém queria dar aula no local. “Ninguém queria ir pro interior,
porque era longe e pagavam mal” (TR 66 anos). Hoje aos 66 anos voltou a estudar graças a
um projeto de alfabetização de adultos no único Centro de Convivência do Idoso - CCI
localizado na zona leste de Manaus.
“Nunca estudei não, nem meus pais sabiam ler, tudo era difícil no interior. Hoje em
dia qualquer pivete desses sabe ler e escrever e sabe tudo. Porque aqui na cidade tem
muita facilidade, não estuda hoje quem não quer. No meu tempo tudo era diferente,
era mais difícil. Nunca tive vergonha, mas tenho de não saber ler. Eu tenho
vergonha porque a minha lapiseira é o dedo”. (MRC 73).
Esta pesquisa revelou o baixo índice educacional dos idosos, onde 50% das mulheres e
40% dos homens são alfabetizados funcionalmente. Cumpre destacar que, alfabetização
funcional é definida operacionalmente como domínio de habilidades de leitura, escrita,
cálculos e ciências, em correspondência a uma escolaridade mínima de quatro séries
completas - antigo ensino primário - (IBGE 2006).
Esse dado é agravado quando se trata da questão de gênero. Os homens tiveram maior
acesso à educação, 27% concluíram o ensino médio, enquanto as mulheres apenas 13%,
conforme a tabela abaixo. Berzins (2003) aponta que até o início da década de 1960, o acesso
à educação era restrito às classes sociais mais altas e principalmente aos homens. Cabia às
mulheres apenas desempenhar o papel de esposas, mães e donas-de-casa, por isso são raras
aquelas que obtiveram diploma de primeiro ciclo.
Escolaridade
Ensino Ensino
Alfabetizados Ensino Médio Ensino
Gênero Analfabeto Fundamental Médio
Funcionalmente Incompleto Superior
Completo completo
Homens 13,00% 40,00% 27,00% 0,00% 20,00% 0,00%
Mulheres 17,00% 50,00% 13,00% 7,00% 10,00% 3,00%
Tabela 1 – Índice de Escolaridade
Fonte: Pesquisa de campo -2009
Pode se verificar que a trajetória de trabalho desses idosos foi marcada pela
precarização do mundo do trabalhado, pois muitos viveram da agricultura nas primeiras
décadas e ao chegarem à capital manauense grande parte trabalhou no setor informal, a
segunda maior parcela na indústria e no setor de serviços.
Antunes (2008, p. 106) declara que o índice de trabalho informal nas últimas décadas
tem crescido resultante da nova morfologia do trabalho. Desse modo, os trabalhadores deste
mercado encontram-se desprovidos de todo e qualquer tipo de direito trabalhista,
impossibilitando assim, o acesso ao sistema de proteção social e o direito à aposentadoria.
Poucos idosos têm acesso aos direitos previdenciários, pois, este sistema exclui os
brasileiros que vivem do trabalho informal. Peixoto (2004, p. 57) destaca que apenas 58% das
pessoas em idade de aposentar-se gozam plenamente desse privilégio.
Conforme a tabela abaixo cerca de 70%, dos entrevistados estão aposentados, mas isso
não significa qualidade de vida como será constatado na tabela 4 que quantifica a renda
mensal. O índice de pensionistas é de 37%, constituído apenas por mulheres, pois, nenhum
dos homens entrevistados encontra-se nessa condição.
Acesso Aposentadoria
Gênero Aposentado (a) Pensionista Beneficiário (a) Sem renda
Renda
Gênero 1 SM* 2 SM 3 SM 4 a 5 SM + de 8 SM Sem Renda
Homem 43,00% 7,00% 53,00% 27,00% 7,00% 3,00%
Mulher 43,00% 27,00% 27,00% 7,00% 3,00% 20,00%
Tabela 4 – Renda mensal
Fonte: Pesquisa de campo -2009
* Salário Mínimo
De acordo com Peixoto (2004, p. 67) a renda das mulheres é mais baixa, pois as
atividades que desempenharam são menos remuneradas que a dos homens. Muitas delas
apenas recebem pensão do marido, como é o caso daquelas que trabalharam no setor informal.
As condições de vida destes idosos são resultados de suas vivências pessoais e da
história da cidadania da sociedade em que vivem. Esta é a razão pela qual seus rendimentos
são baixos, afinal, o Brasil é um país cuja desigualdade social - concentração de renda - existe
desde seu descobrimento.
O envelhecimento populacional brasileiro se assemelha cada vez mais com os dos
países europeus, porém o que não se assemelha são os retrocessos nas políticas públicas de
educação, saúde, renda e principalmente no descompromisso dos governantes e políticos de
nosso país.
Ao serem indagados sobre o que seria necessário para se ter um bom envelhecimento,
os idosos afirmaram que um maior nível educacional, pois possibilitaria permanecer no
mercado formal de trabalho garantindo o acesso a aposentadoria que refleti diretamente nas
formas objetivas de vida.
Considerações finais
Este estudo mostrou que a década de 1970 foi o marco de mudanças ocorridas tanto no
cenário nacional quanto no internacional. Nesse período, o capitalismo entrou e crise, o que
provocou profundas alterações nas relações de trabalho mundiais. Os efeitos dessa crise
capitalista foram devastadores para a classe que vive do trabalho. Pois, houve um aumento
das taxas de desemprego, subemprego, terceirização, emprego informal, dentre outros, o que
gerou um aumento dos índices de pauperização. Desta forma, inúmeros direitos trabalhistas
foram perdidos.
Todo esse processo de reestruturação produtiva influenciou mudanças na estrutura do
emprego em Manaus. Houve um recrudescimento do setor agrícola e industrial, que passou a
exigir maior qualificação profissional, e uma expansão do setor de serviços.
Observamos que o sistema neoliberal transforma tudo e todos ao seu redor em algo
descartável. Transfere as responsabilidades do Estado aos próprios sujeitos, na busca
individualizada de solução de problemáticas sociais.
Em síntese é essa é a situação dos trabalhadores que envelheceram na periferia do
sistema: grande parte trabalhou a vida toda no mercado informal, por isso não tiveram direito
de aposentar-se, e mesmo os que tiveram acesso a esse direito são obrigados a reingressar no
mercado de trabalho, ainda que de forma precarizada, para a própria reprodução e para
chefiarem suas famílias, haja vista que seus rendimentos são muito baixos. Assim, o retrato da
velhice do trabalhador pobre está longe da tão propagada “idade do lazer” ou “terceira idade”
(TEIXEIRA, 2008, p. 142).
Diante dessa discussão, uma questão que se torna premente é respeitar os idosos como
ex-trabalhadores que são e pensar em condições dignas para eles, lembrando que, de algum
modo, ajudaram a construir as riquezas desse país. Pois, eles são sujeitos de direitos que já
contribuíram com a sociedade. Cabe, agora, que a sociedade e o Estado assumam a
responsabilidade, deferida por lei, de minimizar as desigualdades por eles vividas e criem
condições de um envelhecimento digno, ativo e saudável.
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