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“Desregulamentação da circulação dos capitais, colapso do comunismo
e boom da eletrônica são os três eventos desencadeadores – econômico,
político e tecnológico – que nos últimos dez anos do século XX
permitiram um salto de qualidade à mundialização do capital, fenômeno
que havia começado a ser produzido com intensidade progressivamente
crescente desde as origens da era moderna. O conjunto de fenômenos
que resulta destes eventos é o desenvolvimento de algumas tendências
já em curso e uma profunda modificação das relações entre a economia
e a política; mais ainda, tão nova e radical é a globalização – o nome que
se dá para estes processos ainda in fieri – que pode ser assumida como
a palavra de ordem emblemática que qualifica o fim do século (e
provavelmente os próximos decênios), como a modalidade da ação, da
produção e da elaboração cultural que impregna e determina todos os
níveis de existência, isto é, como uma época.”
“A globalização é essencialmente, ruptura, ausência de limites,
deformação das geometrias políticas.”
“O nascimento da empresa transnacional marca o fim tendencial da
fábrica fordista e, ao mesmo tempo, de sua projeção multinacional, da
centralidade social e política das organizações operárias e do Estado
social. E é o fim da contenção do ilimitado no limitado, isto é, de um
dos pressupostos espaciais da política moderna, do comando da política
sobre a economia, ou ao menos da possibilidade de dar uma figura e
uma forma política aos espaços econômicos e sociais. A economia, tanto
a financeira como a produtiva, transpassa o espaço das fronteiras e das
formas vitais, e substitui a política na capacidade de conferir o sentido
do espaço, dando vida ao que agora se define como geoeconomia, na
qual o Estado constitui somente uma variável do processo econômico.
Portanto, a nova economia não é indiferente ao espaço em geral, mas
sim somente ao espaço moderno da política: mais ainda, organiza para
si de maneira inédita os novos espaços.”
“Na era da globalização observamos o fenômeno da superação tanto dos
limites soberanos do conflito no espaço cerrado da política, quanto das
linhas de conflito de classe não somente internas senão também
internacionais, entre o Norte e o Sul do mundo, entre o primeiro e
terceiro mundo (...) As consequências políticas são evidentes. A
moderna centralidade do espaço do Estado está gravemente
pressionada – muito mais do que pelo fenômeno migratório – pela
“dispersão” do fenômeno econômico, e pelo fato de que atualmente
carece da forma que lhe dava a política; o primeiro e mais notório efeito
é a tendência à restrição do Estado social (contra o qual, obviamente,
reagem forças e interesses que estão vinculados com ele), a diminuição
da pressão distributiva do Estado sobre a sociedade e, por fim, pela
liberdade de “mobilidade” que possui o sujeito individual e sua
capacidade de produção (...) É como se a política se debilitasse, como se
o seu espaço resultasse mais exíguo e sutil, e como se as tarefas de
governo diminuíssem em quantidade e intensidade e fossem delegadas
ao mercado, à sociedade e aos sujeitos intermediários, em um trend que
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progressivamente demoliu o big government do pós-segunda guerra
mundial.”
“A chamada “era do individualismo” manifesta o triunfo de uma
economia cuja potência transcende tanto os cálculos individuais,
quanto os racionais, e na qual é muito difícil reconhecer o moderno
universalismo do útil; nela o sujeito “livre” afirma a própria identidade
como a “soberania do consumidor”, prescindindo do Estado, da nação
ou sociedade (e, portanto, não é o Estado, mas sim o mercado que
ordena o espaço da identificação indispensável para formação da
identidade dos indivíduos), mas, ao mesmo tempo, o indivíduo também
aparece como um ser distante não somente da própria cultura (a
alienação contemporânea); vaga “livre”, mas inseguro e desorientado,
atravessa todos os limites e, simultaneamente, é atravessado por
diversas formas de exclusões.”
Carlo Galli, Spazi politici. L’età moderna e l’età globale, 2001
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segurança privadas, aos especialistas em lobby próximos aos grandes
centros supranacionais do poder executivo.”
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se deve também aos instrumentos de comunicação de massa: dos
jornais escritos aos televisivos, da publicidade comercial à “revolução da
informática”, em todas as formas encontramos uma verdadeira e
própria “máquina do medo” subliminal, que procura manipular pulsões
repressivas presentes na sociedade, e que o jurista francês Denis Salas
chamou por “populismo penal”.”
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particulares do mercado se coloca sempre, na hierarquia das fontes, em
um nível mais baixo da lei e, mais ainda, da Constituição. É o princípio
previsto nos artigos 41-43 da Constituição italiana: que não são normas
estatistas ou pior soviéticas, como disse Berlusconi, mas princípios que
refletem a razão de ser do Estado moderno, o qual nasce como esfera
pública separada, heterônoma e supraextraordinária com relação às
esferas privadas e autônomas do mercado. Foi sobre a base deste
modelo constitucional dirigista que se desenvolveu nos primeiros 35
anos do pós-guerra uma política econômica e social intervencionista – o
governo político da economia e a construção do Estado social.
Posteriormente, após este modelo ser derrubado pelo Tratado de
Maastricht, ocorre o decrescimento econômico, sob a bandeira da
impotência da política e do papel, confiado ao mercado, de restringir
todas as despesas sociais”.
“O segundo fator de descrédito da política é determinado pelos
privilégios dos políticos e da má gestão da coisa pública (...) A classe
política é percebida como uma casta, em grande parte corrupta,
condicionada pelos financiamentos indevidos e em perpétuo conflito de
interesses com os próprios concidadãos. E os políticos são vistos como
os responsáveis pelos cortes e pelas políticas econômicas recessivas
impostas pela Europa e pelos mercados globais, políticas que se
revelaram ineficazes e falimentares, pois não resolveram os problemas
contidos nas crises, ao contrário, ou as provocaram ou as agravaram.
Estas políticas determinaram um crescimento da desigualdade, que é o
principal fator das crises econômicas, como uma espiral: de um lado,
provocaram o crescimento da pobreza e, portanto, uma restrição da
demanda de bens e de serviços, com a consequente contração dos
investimentos e a redução do emprego e, logicamente, um novo
aumento da pobreza; por outro, o crescimento da riqueza obtido menos
pela conveniência dos investimentos produtivos e muito mais pela
rentável especulação financeira. Bastaria muito menos para produzir o
atual e generalizado descrédito da política.”
Luigi Ferrajoli, Dei diritti e delle garanzie,
2013
“A exaltação dos interesses individuais se conjuga com a lógica do
inimigo e do medo, manifestando-se na mobilização agressiva e
rancorosa de todos os egoísmos sociais – contra o Sul, contra os
imigrantes, contra os marginalizados – e dando lugar aos conflitos
identitários de tipo classista ou racista. É claro que está indiferença dos
cidadãos pelos interesses gerais e este isolamento nos seus interesses
privados formam o melhor terreno da cultura da passividade política e,
com ela, do populismo e da cultura do líder (capo) (...) É o que está
acontecendo na Itália, por um lado, com a queda da instrução pública e
com a crescente ignorância provocada pelos cortes nas escolas e na
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universidade e, por outro, com a difusão do medo, da instigação ao ódio
e ao racismo, da desvalorização da esfera pública e dos valores civis da
igualdade e da solidariedade postas em ação cotidiana pela televisão
com sua pedagogia incivil e com as campanhas políticas por segurança.
Ignorância e medo, egoísmos antissociais e desinteresse pela política
são pressupostos da guinada autoritária, entre outros.”
Luigi Ferrajoli, Poteri selvaggi,
2011
Zygmunt Bauman: sobre a sociedade capitalista contemporânea ou
a era da modernidade líquida
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ser descritos como territórios virgens, como aquelas zonas inexploradas
como os mapas dos pioneiros. É propriamente por isso, nunca como
hoje, o desafio que se situa perante os nossos olhos são emocionantes e
excitantes.”
Z. Bauman, La sociologia di fronte ad uma nuova condizione
umana
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f) a construção social da compulsão pelo novo.
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- para Hayek, o mercado quanto mais for autorregulado,
funcionando pelo princípio da livre concorrência entre a demanda
e a oferta, e por ser uma expressão espontânea, natural, garante
a plena liberdade de todos os indivíduos, que poderão agir para o
proveito próprio e contribuindo para o aumento da riqueza social.
Logo, para que o mercado funcione e produza a riqueza social e
garanta a liberdade do indivíduo, é preciso que se afaste do
Estado, do parlamento, da política, dos partidos que agem sempre
em proveito daqueles que os elegeram.
f) a liberdade negativa:
i) o mérito pessoal.
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- o reconhecimento do trabalho como direito fundamental.
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- “Não há alternativa.” (“There is no alternative” foi um slogan
político usado por Thatcher na década de 80, transformando no
acrônimo TINA)
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material para edificação de sociedade equilibrada e racional,
capaz de beneficiar um conjunto sempre maior de pessoas e
cidadãos.
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da racionalidade instrumental e do mercado: o custo e o benefício, a
eficiência e a eficácia, a produtividade e o desempenho, a execução
criativa e inventiva do trabalho e a resiliência.
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c) a supressão na ordem social da mediação política e social entre os
indivíduos e o mercado; a despolitização de massa e a atrofia da
importância da liberdade positiva; a hipertrofia da liberdade negativa e
particular.
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d) o sentido do tempo histórico foi esvaziado e desprovido de sentido
substancial e de certezas, de segurança e orientação, de vínculos entre
as pessoas e as gerações, de senso de pertencimento e orientação.
e) os estímulos ao hiperconsumismo e o hiper-hedonismo.
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a) a desnacionalização de massa: a decomposição do senso cívico (do
senso moral, histórico e político), da comunidade nacional de destino,
do senso de pertencimento e a generalização da forma de vida do
hiperindividualismo (o indivíduo livre e autônomo que deve construir a
si mesmo segundo seus desejos, gostos, vontades particulares).
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c) o aumento do tempo de detenção dos crimes de rua e a expansão
vertiginosa do sistema carcerário: o “populismo penal”.
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- a construção social do egoísmo.
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7) O capital móvel e global e o trabalho flexível
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dramática queda do nível de vida das pessoas comuns; a construção
social de pessoas incapazes de competir economicamente e
desnecessárias ao processo produtivo (o aumento das exclusões e
marginalidades sociais).
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A sociedade moderna foi constituída com o desejo de enfrentar os
perigos que ameaçavam a espécie humana e o desenvolvimento de suas
potencialidades; perigo implicava em tornar alguma coisa compreensível
– retirando-a do estado da indeterminação e do acaso –, e tornando-a
possível de ser enfrentada e/ou dominada mediante a previsibilidade
dos seus efeitos. Logo, perigo implicava no conhecimento da existência
de uma força e na busca científica em alcançar a previsibilidade e da
proteção dos seus efeitos. A noção de risco, própria da era global,
implica em uma força ainda desconhecida e que não pode ser
controlada, bem como os seus efeitos são imprevisíveis. A diferença
entre perigo e risco:
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criam profundos desafios para o pensamento sociológico e sua tarefa de
dotá-los de sentido e significado.
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