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#LEGIS

Igor Henrique Vialli


Graduado em Direito pelo Centro Universitário Curitiba | Delegado de Polícia Civil do Distrito Federal

Especialista em Direito Penal e Processual Penal


E-mail: igorhevi@gmail.com

lei de organização criminosa (n. 12.850/2013)

VIALLI, Igor. Lei de organização criminosa (N. 12.850/2013).


Fortaleza: Ouse Saber, 2020.

Lei de organização Criminosa. Organização criminosa.

ISBN:– 978-65-990143-7-6.
#LEGIS

Proposta do Legis

A Coleção Legis tem como objetivo primordial preparar candidatos para os principais concur-
sos públicos do país.

Pela experiência adquirida ao longo dos anos estudando e lecionando para concursos públi-
cos, bem como conversando com centenas e centenas de alunos aprovados, a conclusão a que cheguei
é que, cada dia mais, torna-se indispensável para a aprovação em concursos, principalmente, na prova
objetiva, o conhecimento adequado da legislação.

Estudar a lei em sua literalidade, todavia, é algo árido e, normalmente, pouco estimulante.
Para vencer essa dificuldade, o Ouse Saber idealizou o Legis, a sua melhor maneira de estudar a legis-
lação. No Legis, a estrela é a “letra da lei”, mas um super time de Professores, com larga experiência na
preparação para concursos, destaca os pontos mais importantes da legislação, além de fazer comentários
rápidos e objetivos, apontar jurisprudência relevante sobre os temas e garantir questões para treinamen-
to do conteúdo estudado. Tudo isso em um material de leitura agradável, com espaços para anotações e
organização do estudo da lei em formato de plano dividido por dias.

É realmente tudo que você precisa para aprender a legislação da forma mais rápida e
agradável possível.

Bons estudos e Ouse Saber!

Filippe Augusto
Defensor Público Federal
Mestre e Doutor em Direito
Coordenador do Legis
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Sumário

Plano de Leitura da Lei:

Dia 01................................................................................. Dos Arts. 1º ao 9º


Dia 02............................................................................. Dos Arts. 13º ao 46º

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DIA 1 estruturalmente ordenada e caracteri-


zada pela divisão de tarefas, ainda que
informalmente, com objetivo de obter,
Disciplina: Legislação Criminal Extra- direta ou indiretamente, vantagem de
qualquer natureza, mediante a prática de
vagante - Lei n. 12.850/2013
infrações penais cujas penas máximas se-
Responsável: Prof. Igor Vialli jam superiores a 4 (quatro) anos, ou que
Dia 01: Artigos 1º ao 9º sejam de caráter transnacional.

Estudado Revisão 1 Revisão 2 Revisão 3 Aprofundando: Não podemos confundir o de-


talhado conceito de organização criminosa com
outros crimes plurissubjetivos (ou de concurso
necessário), tais como o de associação criminosa
PREÂMBULO - (antiga quadrilha ou bando, prevista no art. 288,
Define organização criminosa e dispõe so- Código Penal). Confira:
bre a investigação criminal, os meios de obten-
ção da prova, infrações penais correlatas e o pro-
cedimento criminal; altera o Decreto-Lei nº 2.848, ORG CRIM ASSOCIAÇÃO CRIM
de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal); revoga Quatro ou mais pessoas Três ou mais pessoas
a Lei nº 9.034, de 3 de maio de 1995; e dá outras
providências. Objetivo de prática de in-
frações penais (crimes
CAPÍTULO I ou contravenções), cujas
Para a prática de crimes
penas máximas sejam
(não contravenções pe-
DA ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA superiores (não iguais,
nais), independentemen-
superiores) a 04 anos ou
te da pena
Art. 1º Esta Lei define organização crimi- de caráter transcional
nosa e dispõe sobre a investigação criminal, os (independentemente da
meios de obtenção da prova, infrações penais pena)
correlatas e o procedimento criminal a ser apli-
cado. Estrutura ordenada e ca-
Não se exige qualquer es-
racterizada pela divisão
trutura ou divisão de tare-
Comentários: A primeira lei a tratar do tema de de tarefas, ainda que in-
fas
Organizações Criminosas no Brasil foi a Lei n. formalmente
9.034/95, que foi duramente criticada por sequer
ter trazido o conceito de organização criminosa. Especial fim de agir de
Para suprir a omissão legislativa, o STJ chegou a obter, direta ou indire-
considerar o conceito de “organização crimino- Especial fim de agir de co-
tamente, vantagem de
sa” trazido pela Convenção das Nações Unidas meter crimes
qualquer natureza, com
contra o Crime Organizado Transnacional (co- as práticas criminosas
nhecida como Convenção de Palermo), mas o
STF, invocando o princípio da legalidade, afastou
a aplicada técnica. O primeiro conceito legal veio
com a Lei n. 12.694/12, alterada posteriormente § 2º Esta Lei se aplica também:
pela Lei n. 12.850/13 (presente lei), que também I - às infrações penais previstas em trata-
tratou de temas importantes como investigação do ou convenção internacional quando,
criminal, meios de obtenção de prova, infrações iniciada a execução no País, o resultado
penais correlatadas e o procedimento criminal a tenha ou devesse ter ocorrido no estran-
ser aplicado. geiro, ou reciprocamente;
II - às organizações terroristas, entendidas
§ 1º Considera-se organização criminosa a como aquelas voltadas para a prática dos
associação de 4 (quatro) ou mais pessoas atos de terrorismo legalmente definidos.

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Comentários: Como visto no preâmbulo, a lei 2º, caput, da Lei nº 12.850/2013, 171 (seis vezes)
não só traz o conceito de organização crimino- e 299 (cinco vezes) do Código Penal e 1º da Lei nº
sa e o tipifica como crime, mas também aborda 9.613/98, não se sustentando a alegação de não
meios de obtenção especial de provas, tais como preenchimento do requisito contido no art. 313,
a infiltração de agentes, a colaboração premiada, inciso I, do Código de Processo Penal. 2. A juris-
etc. prudência desta Corte Superior que possui en-
tendimento pacificado no sentido de que, nas
Portanto, tais institutos também podem em ou- hipóteses de flagrante delito de crime perma-
tros casos que não envolvam organizações crimi- nente - no caso, organização criminosa -, não
nosas, acima apontados. há falar em autorização judicial - e, portanto,
limitação de horário - para os policiais aden-
trarem residência alheia. (...) (STJ, RHC 87.092/
Aprofundando: Em 2016 foi promulgada a Lei n. RJ, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSE-
13.260/16, que regulamenta o disposto no inci- CA, QUINTA TURMA, julgado em 20/02/2018, DJe
so XLIII do art. 5º da Constituição Federal, disci- 28/02/2018).
plinando o terrorismo, tratando de disposições
investigatórias e processuais e reformulando o
conceito de organização terrorista. § 1º Nas mesmas penas incorre quem im-
pede ou, de qualquer forma, embaraça a
investigação de infração penal que envol-
Art. 2º Promover, constituir, financiar ou
va organização criminosa.
integrar, pessoalmente ou por interposta pes-
soa, organização criminosa:
Para Fixação:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e
multa, sem prejuízo das penas corresponden- Ano: 2016/ Banca: VUNESP/ Órgão: TJ/RJ – Juiz
tes às demais infrações penais praticadas. de Direito Substituto

No que diz respeito aos crimes previstos na


Comentários: Trata-se de crime COMUM, que Lei que Define Organização Criminosa (Lei n.
pode ser praticado por qualquer pessoa, e FOR- 12.850/13), é correto afirmar que:
MAL, que se consuma com a mera formação da
organização criminosa, independentemente da Aquele que impede ou, de qualquer forma, em-
efetiva prática das infrações penais pretendidas. baraça a investigação de infração penal que en-
Trata-se, outrossim, de crime PERMANENTE, por- volva organização criminosa terá, além da pena
quanto a consumação se prolonga no tempo por relativa ao crime de promover organização crimi-
determinação dos agentes. nosa, uma causa de aumento de pena

De se ressaltar, nos termos do preceito secundá- Anotações gerais:


rio do tipo penal, que no caso da efetiva prática
de tais infrações penais, temos concurso material
de crimes com a somatória das penas.

Jurisprudência: RECURSO ORDINÁRIO EM


HABEAS CORPUS. ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA.
ESTELIONATO. FALSIDADE IDEOLÓGICA. LAVA-
GEM DE DINHEIRO. SUPOSTA SEITA RELIGIOSA.
NULIDADES. NÃO CONSTATAÇÃO. PRISÃO PRE-
VENTIVA. NECESSIDADE PARA INTERROMPER ATI-
VIDADES. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA. MEDIDAS
CAUTELARES ALTERNATIVAS. INSUFICIÊNCIA.
CIRCUNSTÂNCIAS PESSOAIS FAVORÁVEIS. IRRE-
LEVÂNCIA. RECURSO PARCIALMENTE CONHECI-
DO E, NESSA EXTENSÃO, DESPROVIDO. 1. Hipóte- GABARITO: Errado (não se trata de mera causa
se na qual os recorrentes foram denunciados pela de aumento de pena, mas sim de verdadeiro cri-
suposta prática dos delitos tipificados nos arts. me).

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§ 2º As penas aumentam-se até a meta- § 6º A condenação com trânsito em jul-


de se na atuação da organização criminosa gado acarretará ao funcionário público
houver emprego de arma de fogo. a perda do cargo, função, emprego ou
§ 3º A pena é agravada para quem exerce o mandato eletivo e a interdição para o
comando, individual ou coletivo, da orga- exercício de função ou cargo público pelo
nização criminosa, ainda que não pratique prazo de 8 (oito) anos subsequentes ao
pessoalmente atos de execução. cumprimento da pena.

Comentários: Trata-se de agravante especial que Comentários: Efeito AUTOMÁTICO da sentença


prevalece sobre a prevista no art. 62, I, do Código condenatória, não se exigindo motivação expres-
Penal. sa na sentença.
Atenção que se trata da única agravante prevista
no art. 2º, pois todas as demais hipóteses são cau- Para fixação:
sas de aumento de pena.
Ano: 2016/ Banca: VUNESP/ Órgão: TJ/RJ – Juiz
de Direito Substituto
§ 4º A pena é aumentada de 1/6 (um sexto)
a 2/3 (dois terços):
No que diz respeito aos crimes previstos na Lei
I - se há participação de criança ou adoles- que define Organização Criminosa, é correto afir-
cente; mar que:

A condenação com trânsito em julgado de funcio-


Comentários: A incidência desta majorante, se- nário público por integrar organização criminosa
gundo a maioria da doutrina, afasta a também acarretará sua perda do cargo, função, emprego
imputação do crime de corrupção de menores do ou mandato eletivo e a interdição para o exercí-
ECA (ainda que a título de concurso formal de cri- cio de função ou cargo público pelo prazo de 08
mes), em razão do ne bis in idem. (oito) anos subsequentes ao trânsito em julgado
da condenação.
II - se há concurso de funcionário público,
valendo-se a organização criminosa dessa
condição para a prática de infração penal;
III - se o produto ou proveito da infração
penal destinar-se, no todo ou em parte, ao
exterior;
IV - se a organização criminosa mantém co-
nexão com outras organizações crimino-
sas independentes;
V - se as circunstâncias do fato evidenciarem
a transnacionalidade da organização.

§ 5º Se houver indícios suficientes de que


o funcionário público integra organização
criminosa, poderá o juiz determinar seu
afastamento cautelar do cargo, emprego
ou função, sem prejuízo da remuneração,
quando a medida se fizer necessária à in-
vestigação ou instrução processual.

Comentários: Medida cautelar semelhante à pre- GABARITO: Errado (em razão do equívoco do
vista no art. 319, VI, do CPP (suspensão do exer- marco temporal ao final – o correto é subsequen-
cício de função pública), sem prejuízo dos venci- tes ao cumprimento da pena, e não do trânsito
mentos. em julgado.

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Mnemônica: ORGANIZA = 8 LETRAS = 8 ANOS. CAPÍTULO II


DA INVESTIGAÇÃO E DOS MEIOS DE OBTENÇÃO
DA PROVA
§ 7º Se houver indícios de participação de
policial nos crimes de que trata esta Lei, a
Corregedoria de Polícia instaurará inqué- Art. 3º Em qualquer fase da persecução pe-
rito policial e comunicará ao Ministério Pú- nal, serão permitidos, sem prejuízo de outros já
blico, que designará membro para acom- previstos em lei, os seguintes meios de obtenção
panhar o feito até a sua conclusão. da prova:
§ 8º As lideranças de organizações crimi-
nosas armadas ou que tenham armas à I - colaboração premiada;
disposição deverão iniciar o cumprimento II - captação ambiental de sinais eletro-
da pena em estabelecimentos penais de magnéticos, ópticos ou acústicos;
segurança máxima.
III - ação controlada;
§ 9º O condenado expressamente em sen-
tença por integrar organização criminosa IV - acesso a registros de ligações telefôni-
ou por crime praticado por meio de orga- cas e telemáticas, a dados cadastrais cons-
nização criminosa não poderá progredir tantes de bancos de dados públicos ou
de regime de cumprimento de pena ou ob- privados e a informações eleitorais ou co-
ter livramento condicional ou outros be- merciais;
nefícios prisionais se houver elementos V - interceptação de comunicações tele-
probatórios que indiquem a manutenção fônicas e telemáticas, nos termos da legisla-
do vínculo associativo. ção específica;
VI - afastamento dos sigilos financeiro,
Comentários: Os parágrafos acima foram intro- bancário e fiscal, nos termos da legislação
duzidos na Lei n. 12.850/13 pelo denominado específica;
Pacote Anticrime (Lei n. 13.964/19), traduzindo VII - infiltração, por policiais, em atividade
rigores no contexto da execução penal. de investigação, na forma do art. 11;
Atenção, no entanto, para o requisito da manu-
VIII - cooperação entre instituições e órgãos
tenção do vínculo associativo, isto é, não basta
federais, distritais, estaduais e municipais na
ter sido condenado, devem existir elementos
busca de provas e informações de interes-
probatórios que indiquem que o agente, ainda
se da investigação ou da instrução criminal.
dentro do sistema prisional, continua sendo in-
tegrante de organização criminosa ou com esta
contribua de qualquer maneira. Comentários: O art. 3º inaugura o Capítulo “Da in-
vestigação e dos meios de obtenção de Prova” e, a
Anotações gerais sobre as questões anteriores: despeito de listar vários meios de obtenção de pro-
va, apenas disciplina a colaboração premiada (arti-
gos 4º ao 7º), a ação controlada (artigos 8º e 9º) e a
infiltração de agentes (artigos 10 a 14).

Os demais meios seguem os termos da legislação


específica (como a interceptação telefônica – Lei
n. 9.296/96), certo, ainda, que tal rol é meramente
exemplificativo (não taxativo).

§ 1º Havendo necessidade justificada de


manter sigilo sobre a capacidade investi-
gatória, poderá ser dispensada licitação
para contratação de serviços técnicos espe-
cializados, aquisição ou locação de equipa-
mentos destinados à polícia judiciária para o
rastreamento e obtenção de provas previstas
nos incisos II e V.

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Comentários: Importante hipótese de DISPENSA Comentários: A existência desse Termo de Con-


(não confundir com inexigibilidade) de licitação. fidencialidade como documento que concretiza
a exigência do sigilo também é novidade da lei.
§ 2º No caso do § 1º, fica dispensada a pu-
blicação de que trata o parágrafo único do § 3º O recebimento de proposta de cola-
art. 61 da Lei nº 8.666, de 21 de junho de boração para análise ou o Termo de Con-
1993, devendo ser comunicado o órgão de fidencialidade não implica, por si só, a
controle interno da realização da contrata- suspensão da investigação, ressalvado
ção. (Incluído pela Lei nº 13.097, de 2015) acordo em contrário quanto à propositura
de medidas processuais penais cautelares
e assecuratórias, bem como medidas pro-
Seção I cessuais cíveis admitidas pela legislação
Da Colaboração Premiada processual civil em vigor.
§ 4º O acordo de colaboração premiada
Art. 3º-A. O acordo de colaboração premia- poderá ser precedido de instrução, quan-
da é negócio jurídico processual e meio de ob- do houver necessidade de identificação ou
tenção de prova, que pressupõe utilidade e in- complementação de seu objeto, dos fatos
teresse públicos. narrados, sua definição jurídica, relevân-
cia, utilidade e interesse público.
Comentários: A colaboração premiada já era, § 5º Os termos de recebimento de proposta
nos termos do caput do art. 3º, tratada como de colaboração e de confidencialidade se-
meio de obtenção de prova, mas agora a lei con- rão elaborados pelo celebrante e assina-
sagrou sua natureza jurídica de negócio jurídico dos por ele, pelo colaborador e pelo ad-
processual, agregando a ela os pressupostos de vogado ou defensor público com poderes
utilidade e interesse públicos. específicos.  
Comentários: Como já era exigência da lei,
Art. 3º-B. O recebimento da proposta para a presença de advogado/defensor público
formalização de acordo de colaboração demar- mostra-se indispensável para todos os atos
ca o início das negociações e constitui também que envolvam o colaborador.
marco de confidencialidade, configurando vio- § 6º Na hipótese de não ser celebrado o
lação de sigilo e quebra da confiança e da boa- acordo por iniciativa do celebrante, esse
-fé a divulgação de tais tratativas iniciais ou não poderá se valer de nenhuma das in-
de documento que as formalize, até o levanta- formações ou provas apresentadas pelo
mento de sigilo por decisão judicial. colaborador, de boa-fé, para qualquer
outra finalidade. 
Comentários: Antes da alteração legal promovi-
da, o art. 7º apenas tratava do sigilo já na parte da Comentários: O art. 4º, § 10º, já previa – e ainda
distribuição do pedido de homologação judicial. prevê – que as partes podem retratar-se da pro-
Agora, portanto, atenção para o marco temporal posta, caso em que as provas autoincriminató-
do recebimento da proposta para formalização rias produzidas pelo colaborador não poderão
do acordo pela parte como início da exigência de ser utilizadas exclusivamente em seu desfavor.
sigilo. A inovação legislativa veio para ampliar a veda-
ção de utilização dos elementos recebidos do co-
§ 1º A proposta de acordo de colaboração laborador, os quais agora não mais apenas não
premiada poderá ser sumariamente inde- podem ser utilizados contra ele, mas também
ferida, com a devida justificativa, cientifi- para nenhum outro fim.
cando-se o interessado.    
Trata-se de corolário da boa-fé processual, na
§ 2º Caso não haja indeferimento sumário, medida em que o titular da ação penal e cele-
as partes deverão firmar Termo de Con- brante poderia falsamente provocar a formaliza-
fidencialidade para prosseguimento das ção de acordo e, após obter elementos de prova
tratativas, o que vinculará os órgãos envol- que lhe interessem, desistir da proposta e valer-
vidos na negociação e impedirá o indeferi- -se de tais provas contra o pretenso colaborador.
mento posterior sem justa causa.    

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Art. 3º-C. A proposta de colaboração pre- III - a prevenção de infrações penais de-
miada deve estar instruída com procuração correntes das atividades da organização
do interessado com poderes específicos para criminosa;
iniciar o procedimento de colaboração e suas IV - a recuperação total ou parcial do pro-
tratativas, ou firmada pessoalmente pela parte duto ou do proveito das infrações penais
que pretende a colaboração e seu advogado ou praticadas pela organização criminosa;
defensor público.    V - a localização de eventual vítima com a
sua integridade física preservada.
Comentários: Percebam que o procedimento de
colaboração e suas tratativas não é personalíssi-
mo, pois o advogado pode, mediante procuração Comentários: A conhecida “delação premiada”
com poderes específicos, assim agir em nome do é espécie da qual a “colaboração premiada” é o
colaborador. gênero, tendo em vista que tal colaboração pode
ser traduzida também por outras condutas que
não apenas a identificação de outros coautores
§ 1º Nenhuma tratativa sobre colabora- ou partícipes, nos termos dos incisos do art. 4º.
ção premiada deve ser realizada sem a
presença de advogado constituído ou de-
Aprofundando: A colaboração premiada não é
fensor público.
novidade da Lei n. 12.850/13, lembrando-se que
§ 2º Em caso de eventual conflito de inte- a Lei de Proteção a Testemunhas e Vítimas amea-
resses, ou de colaborador hipossuficien- çadas (n. 9.807/99) já trazia em seus artigos 13 e
te, o celebrante deverá solicitar a presen- 14 benefícios aos réus colaboradores, inclusive o
ça de outro advogado ou a participação de perdão judicial.
defensor público.
§ 3º No acordo de colaboração premiada, Fala-se, ainda, que tal lei traz um “regramento
o colaborador deve narrar todos os fatos geral” sobre o tema, na medida em que tal le-
ilícitos para os quais concorreu e que te- gislação se aplica para todo e qualquer crime,
nham relação direta com os fatos inves- ao passo que a Lei n. 12.850/13 trata especifica-
tigados.     mente por crimes cometidos por organizações
criminosas (sem se esquecer das hipóteses de
§ 4º Incumbe à defesa instruir a propos- também aplicação da lei, nos termos do art. 1º,
ta de colaboração e os anexos com os fatos §2º - às infrações penais previstas em tratado ou
adequadamente descritos, com todas as convenção internacional quando, iniciada a exe-
suas circunstâncias, indicando as provas e cução no País, o resultado tenha ou devesse ter
os elementos de corroboração. ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente e às
organizações terroristas, entendidas como aque-
Art. 4º O juiz poderá, a requerimento das las voltadas para a prática dos atos de terrorismo
partes, conceder o perdão judicial, reduzir em legalmente definidos.)
até 2/3 (dois terços) a pena privativa de liberda-
de ou substituí-la por restritiva de direitos da- § 1º Em qualquer caso, a concessão do be-
quele que tenha colaborado efetiva e volunta- nefício levará em conta a personalidade
riamente com a investigação e com o processo do colaborador, a natureza, as circuns-
criminal, desde que dessa colaboração adve- tâncias, a gravidade e a repercussão so-
nha um ou mais dos seguintes resultados: cial do fato criminoso e a eficácia da co-
laboração.
I - a identificação dos demais coautores e § 2º Considerando a relevância da cola-
partícipes da organização criminosa e das boração prestada, o Ministério Público, a
infrações penais por eles praticadas; qualquer tempo, e o delegado de polícia,
nos autos do inquérito policial, com a ma-
II - a revelação da estrutura hierárquica
nifestação do Ministério Público, poderão
e da divisão de tarefas da organização cri-
requerer ou representar ao juiz pela con-
minosa;
cessão de perdão judicial ao colaborador,
ainda que esse benefício não tenha sido
previsto na proposta inicial, aplicando-se,

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no que couber, o art. 28 do Decreto-Lei nº caso, entre o Ministério Público e o inves-


3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de tigado ou acusado e seu defensor.
Processo Penal).
§ 3º O prazo para oferecimento de denún- Jurisprudência: No julgamento da ADI 5508, em
cia ou o processo, relativos ao colabora- 2018, o STF considerou “constitucional a possibi-
dor, poderá ser suspenso por até 6 (seis) lidade de delegados de polícia realizarem acordos
meses, prorrogáveis por igual período, de colaboração premiada na fase do inquérito po-
até que sejam cumpridas as medidas de licial”. Segundo o Min. Relator, a formulação de
colaboração, suspendendo-se o respecti- proposta de colaboração premiada pela autori-
vo prazo prescricional. dade policial como meio de obtenção de prova
§ 4º Nas mesmas hipóteses do caput deste não interfere na atribuição constitucional do Mi-
artigo, o Ministério Público poderá deixar nistério Público de ser titular da ação penal e de
de oferecer denúncia se a proposta de decidir sobre o oferecimento da denúncia, ressal-
acordo de colaboração referir-se a infra- tando-se que o MP deve opinar obrigatoriamente
ção de cuja existência não tenha prévio em todas as fases da elaboração do acordo.
conhecimento e o colaborador:
§ 7º Realizado o acordo na forma do § 6º
I - não for o líder da organização criminosa; deste artigo, serão remetidos ao juiz, para
análise, o respectivo termo, as declarações
II - for o primeiro a prestar efetiva colabo- do colaborador e cópia da investigação, de-
ração nos termos deste artigo. vendo o juiz ouvir sigilosamente o cola-
borador, acompanhado de seu defensor,
Comentários: A possibilidade de não ofereci- oportunidade em que analisará os seguin-
mento da denúncia caracteriza mais uma hipóte- tes aspectos na homologação:
se de mitigação do Princípio da Obrigatoriedade
da Ação Penal Pública Incondicionada.
I - regularidade e legalidade;
II - adequação dos benefícios pactuados
§ 4º-A. Considera-se existente o conhe- àqueles previstos no caput e nos §§ 4º e 5º
cimento prévio da infração quando o Mi- deste artigo, sendo nulas as cláusulas que
nistério Público ou a autoridade policial violem o critério de definição do regime
competente tenha instaurado inquérito inicial de cumprimento de pena do art. 33
ou procedimento investigatório para do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro
apuração dos fatos apresentados pelo co- de 1940 (Código Penal), as regras de cada
laborador. um dos regimes previstos no Código Penal
e na Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984 (Lei
Comentários: O referido dispositivo, acrescen- de Execução Penal) e os requisitos de pro-
tado pelo Pacote Anticrime, delimita a hipótese gressão de regime não abrangidos pelo § 5º
nova trazida no §4º da possibilidade de não ofe- deste artigo;
recimento de denúncia no caso de infração de III - adequação dos resultados da colabo-
cuja existência não tenha prévio conhecimento. ração aos resultados mínimos exigidos nos
incisos I, II, III, IV e V do caput deste artigo;
§ 5º Se a colaboração for posterior à sen- IV - voluntariedade da manifestação de
tença, a pena poderá ser reduzida até a vontade, especialmente nos casos em que
metade ou será admitida a progressão de o colaborador está ou esteve sob efeito de
regime ainda que ausentes os requisitos medidas cautelares.
objetivos.
§ 6º O juiz não participará das negocia- Mnemônica: RE LE ADE VO.
ções realizadas entre as partes para a for-
malização do acordo de colaboração, que
ocorrerá entre o delegado de polícia, o in- § 7º-A O juiz ou o tribunal deve proceder
vestigado e o defensor, com a manifesta- à análise fundamentada do mérito da de-
ção do Ministério Público, ou, conforme o núncia, do perdão judicial e das primeiras

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etapas de aplicação da pena, nos termos pelo seu defensor, ser ouvido pelo mem-
do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro bro do Ministério Público ou pelo delegado
de 1940 (Código Penal) e do Decreto-Lei de polícia responsável pelas investigações.
nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código § 10. As partes podem retratar-se da pro-
de Processo Penal), antes de conceder os posta, caso em que as provas autoincri-
benefícios pactuados, exceto quando o minatórias produzidas pelo colaborador
acordo prever o não oferecimento da de- não poderão ser utilizadas exclusiva-
núncia na forma dos §§ 4º e 4º-A deste arti- mente em seu desfavor.
go ou já tiver sido proferida sentença.
§ 7º-B. São nulas de pleno direito as pre-
visões de renúncia ao direito de impug- Comentários: A leitura do dispositivo deve, ago-
nar a decisão homologatória. ra, ser feita em conjunto com o art. 3º-B, §6º. No
caso de retratação da proposta (facultada a qual-
quer das partes), a limitação do uso das provas é
Comentários: A antiga redação do §7º limitava- contra o investigado/réu. Por outro lado, no caso
-se a dizer que o termo de colaboração, acompa- de não ser celebrado o acordo por iniciativa do
nhado das declarações do colaborador e de có- celebrante (titular da Ação Penal), esse não po-
pia da investigação, seria remetido ao juiz para derá se valer de nenhuma das informações ou
homologação, o qual deveria verificar sua regu- provas apresentadas pelo colaborador, de boa-
laridade, legalidade e voluntariedade, podendo -fé, para qualquer outra finalidade (inclusive con-
para este fim, sigilosamente, ouvir o colaborador, tra os demais).
na presença do defensor.
§ 10-A Em todas as fases do processo, de-
Agora, houve uma mais completa regulamenta-
ve-se garantir ao réu delatado a oportu-
ção da verificação judicial para, além da regula-
nidade de manifestar-se após o decurso
ridade, legalidade e voluntariedade, verificação
do prazo concedido ao réu que o delatou.
da adequação dos benefícios pactuados àqueles
previstos e dos resultados da colaboração aos
resultados mínimos, sendo também apontadas Jurisprudência: A alteração legal positivou o en-
cláusulas nulas de pleno direito. tendimento já manifestado pelo STF no sentido
de que “é direito dos delatados apresentarem
A possibilidade de oitiva do colaborador, pela le- as alegações finais depois dos réus que firma-
tra de lei, passa a ser um imperativo, pois a nova ram acordo de colaboração” (HC n. 166373/PR,
redação do art. 7º diz que o juiz DEVE ouvir sigilo- 2019, Rel: Min. Edson Fachin).
samente o colaborador para as supramenciona-
das verificações.
§ 11. A sentença apreciará os termos do
acordo homologado e sua eficácia.
§ 8º O juiz poderá recusar a homologação
da proposta que não atender aos requisi- § 12. Ainda que beneficiado por perdão
tos legais, devolvendo-a às partes para as judicial ou não denunciado, o colabora-
adequações necessárias. dor poderá ser ouvido em juízo a requeri-
mento das partes ou por iniciativa da auto-
ridade judicial.
Jurisprudência: A antiga redação do §8º dizia § 13. O registro das tratativas e dos atos
que o próprio juiz poderia adequar a proposta de colaboração deverá ser feito pelos
que não atendesse aos requisitos legais. meios ou recursos de gravação magnética,
estenotipia, digital ou técnica similar, inclu-
Agora, consagra-se sua imparcialidade e inati- sive audiovisual, destinados a obter maior
vidade de ofício, corolários de um sistema emi- fidelidade das informações, garantindo-se
nentemente acusatório, devendo o Magistrado a disponibilização de cópia do material
devolver o feito para que as próprias partes reali- ao colaborador.
zem as adequações necessárias.

Comentários: A antiga redação do §13º trazia re-


§ 9º Depois de homologado o acordo, o co- gra mais branda ao dizer que, sempre que possí-
laborador poderá, sempre acompanhado

8
#LEGIS

vel, deveria ser feito o registro dos atos por meio E uma delação premiada poderia, em tese, cor-
de gravações. roborar outra delação? É o que o mencionado
autor chama de “corroboração recíproca ou cru-
Agora, há imposição legal do procedimento. zada”. Segundo o autor, “não deve ser admitido
que o elemento extrínseco de corroboração de
uma outra delação premiada seja caracterizado
§ 14. Nos depoimentos que prestar, o cola- pelo conteúdo de outra delação premiada. Sen-
borador renunciará, na presença de seu do uma hipótese de grande chance de erro judi-
defensor, ao direito ao silêncio e estará ciário, a gestão do risco deve ser orientada em
sujeito ao compromisso legal de dizer a prol da liberdade. Neste, como em outros casos,
verdade. deve se optar por absolver um delatado culpado,
se contra ele só existia uma delação cruzada, a
correr o risco de condenar um delatado inocente,
Aprofundando: Parte da doutrina defende a in- embora contra ele existissem delações cruzadas”.
constitucionalidade de tal dispositivo por afron-
ta ao art. 5º, LXIII, da Constituição Federal, o qual
apregoa que “o preso será informado de seus § 17. O acordo homologado poderá ser
direitos, entre os quais o de permanecer calado, rescindido em caso de omissão dolosa so-
sendo-lhe assegurada a assistência da família e bre os fatos objeto da colaboração.
de advogado”. Defende-se, nesse sentido, que § 18. O acordo de colaboração premiada
embora a colaboração seja um ato voluntário, a pressupõe que o colaborador cesse o en-
“parte” não deixa a posição de investigado/indi- volvimento em conduta ilícita relaciona-
ciado/réu para passar a testemunha, para a qual da ao objeto da colaboração, sob pena de
se exige a obrigação de falar a verdade. rescisão.

§ 15. Em todos os atos de negociação, con-


firmação e execução da colaboração, o co- Comentários: A antiga redação do §17º impedia
laborador deverá estar assistido por de- apenas a sentença condenatória com base exclu-
fensor. sivamente nas declarações do colaborador.
§ 16.  Nenhuma das seguintes medidas Agora, houve ampliação das vedações e, ainda,
será decretada ou proferida com funda- a inclusão de novas hipóteses legais – as quais,
mento apenas nas declarações do cola- portanto, não precisam estar expressas no negó-
borador: cio – de rescisão: omissão dolosa e manutenção
do vínculo criminoso.
I - medidas cautelares reais ou pessoais;
Jurisprudência: Em casos de foro por prerrogati-
II - recebimento de denúncia ou queixa-
va de função, entende o STF que cabe ao Ministro
-crime;
Relator do caso (e não ao Colegiado), monocra-
III - sentença condenatória. ticamente, “homologar acordos de colaboração
premiada, oportunidade na qual se limita ao juí-
Aprofundando: É o que a doutrina, como zo de regularidade, legalidade e voluntariedade
GUSTAVO BADARÓ, aponta como “regra de da avença” (STF, Pet 7042/DF, rel. Min. Edson Fa-
corroboração”, instituto inspirado na legislação chin, DJ 29.6.17).
processual penal italiana sobre a valoração da
declaração do coimputado depender da análise
Anotações gerais sobre os artigos anteriores:
de um “tríplice perfil:

(i) em relação à credibilidade do delator;


(ii) em relação à coerência e verossimilhan-
ça da narração e
(iii) em relação aos chamados elementos
extrínsecos.

9
#LEGIS

Para fixação: Art. 5º São direitos do colaborador:

Ano: 2019/ Banca: MPE-SP/ Órgão: MPE/SP – I - usufruir das medidas de proteção previs-
Promotor de Justiça tas na legislação específica;
Sobre a colaboração premiada, é correto afirmar II - ter nome, qualificação, imagem e de-
que: mais informações pessoais preservados;
III - ser conduzido, em juízo, separada-
a) apenas o Ministério Público, como órgão titu- mente dos demais coautores e partícipes;
lar da ação penal, está legitimado para promover
IV - participar das audiências sem contato
o acordo.
visual com os outros acusados;
b) o juiz participará das negociações realizadas V - não ter sua identidade revelada pelos
entre as partes para a formalização do acordo. meios de comunicação, nem ser fotogra-
fado ou filmado, sem sua prévia autori-
c) o juiz poderá homologar o acordo ou recusá- zação por escrito;
-lo, caso não atenda aos requisitos legais, mas VI - cumprir pena ou prisão cautelar em es-
não poderá adequá-lo ao caso concreto. tabelecimento penal diverso dos demais
corréus ou condenados.
d) pratica crime o colaborador que imputar fal-
samente, sob pretexto de colaboração, a prática
de infração penal a pessoa que sabe ser inocente. Art. 6º O termo de acordo da colaboração
premiada deverá ser feito por escrito e conter:
e) rescindido o acordo, as provas colhidas contra
terceiros não poderão ser introduzidas no pro- I - o relato da colaboração e seus possíveis
cesso. resultados;
II - as condições da proposta do Ministério
Público ou do delegado de polícia;
Ano: 2019/ Banca: MPE-SC/ Órgão: MPE/SC – III - a declaração de aceitação do colabora-
Promotor de Justiça dor e de seu defensor;
IV - as assinaturas do representante do Mi-
Marque Certo ou Errado: nistério Público ou do delegado de polícia,
do colaborador e de seu defensor;
A Lei n. 12.850/2013, quanto ao meio de obten-
ção da prova da colaboração premiada, dispõe V - a especificação das medidas de prote-
que, em qualquer caso, a concessão do benefício ção ao colaborador e à sua família, quando
levará em conta a personalidade do colaborador, necessário.
a natureza, as circunstâncias, a gravidade e a re-
percussão social do fato criminoso e a eficácia da Art. 7º O pedido de homologação do acor-
colaboração, deixando o acordo de colaboração do será sigilosamente distribuído, contendo
premiada de ser sigiloso assim que oferecida a apenas informações que não possam identificar
denúncia. o colaborador e o seu objeto.
Anotações gerais sobre os artigos anteriores: § 1º As informações pormenorizadas da co-
laboração serão dirigidas diretamente ao
juiz a que recair a distribuição, que decidi-
rá no prazo de 48 (quarenta e oito) horas.
§ 2º O acesso aos autos será restrito ao
juiz, ao Ministério Público e ao delegado
de polícia, como forma de garantir o êxi-
to das investigações, assegurando-se ao
defensor, no interesse do representado,
GABARITO: d. | Errado (deixa de ser com o recebi- amplo acesso aos elementos de prova
mento, não mero oferecimento). que digam respeito ao exercício do direi-

10
#LEGIS

to de defesa, devidamente precedido de do ponto de vista da prisão, mas especialmente


autorização judicial, ressalvados os refe- mais eficaz à obtenção de provas e outras infor-
rentes às diligências em andamento. mações.

Comentários: Em não se tratando de Organiza- § 1º O retardamento da intervenção policial


ções Criminosas, o acesso aos autos pelo advo- ou administrativa será previamente comu-
gado é garantido, ainda que decretado sigilo dos nicado ao juiz competente que, se for o
autos, caso em que o acesso se condiciona à apre- caso, estabelecerá os seus limites e comu-
sentação de procuração outorgada pelo investiga- nicará ao Ministério Público.
do, e não a autorização judicial. No caso de Orga-
nizações Criminosas, trouxe a lei a necessidade de
Aprofundando: Diferentemente da Ação Contro-
prévia autorização judicial.
lada prevista na Lei de Drogas (n. 11.343/06), no
bojo da qual há necessidade de prévia autoriza-
Jurisprudência: Súmula Vinculante n. 14: É ção judicial, para o retardamento da intervenção
direito do defensor, no interesse do representado, policial ou administrativa nos casos de organiza-
ter acesso amplo aos elementos de prova que, já ção criminosa exige-se apenas a prévia comuni-
documentados em procedimento investigatório cação ao juiz competente.
realizado por órgão com competência de polícia
judiciária, digam respeito ao exercício do direito
de defesa. § 2º A comunicação será sigilosamente
distribuída de forma a não conter informa-
ções que possam indicar a operação a ser
§ 3º  O acordo de colaboração premiada e os efetuada.
depoimentos do colaborador serão manti-
dos em sigilo até o recebimento da denún- § 3º Até o encerramento da diligência, o
cia ou da queixa-crime, sendo vedado ao acesso aos autos será restrito ao juiz, ao
magistrado decidir por sua publicidade Ministério Público e ao delegado de polí-
em qualquer hipótese. cia, como forma de garantir o êxito das in-
vestigações.
Seção II § 4º Ao término da diligência, elaborar-
Da Ação Controlada -se-á auto circunstanciado acerca da ação
controlada.
Art. 8º Consiste a ação controlada em re-
Art. 9º Se a ação controlada envolver
tardar a intervenção policial ou administrativa
transposição de fronteiras, o retardamento da
relativa à ação praticada por organização crimi-
intervenção policial ou administrativa somente
nosa ou a ela vinculada, desde que mantida sob
poderá ocorrer com a cooperação das auto-
observação e acompanhamento para que a me-
ridades dos países que figurem como provável
dida legal se concretize no momento mais eficaz
itinerário ou destino do investigado, de modo a
à formação de provas e obtenção de informações.
reduzir os riscos de fuga e extravio do produto,
objeto, instrumento ou proveito do crime.
Comentários: Na doutrina, chama-se de flagran-
te “retardado” ou “diferido” aquela hipótese de
autuação na qual, embora o agente já esteja pra- Anotações gerais sobre os artigos anteriores:
ticando a infração penal e possa ser preso a partir
desse momento, a Autoridade Policial deixa para
realizar sua autuação em um momento futuro
(como no caso do agente que está transportando
a droga para encontrar-se com o traficante recebe-
dor) e mais oportuno do ponto de vista da perse-
cução penal.

A ação controlada traz a mesma ideia de permitir


a atuação policial ou administrativa (novidade da
lei) em momento posterior mais oportuno, não só

11
#LEGIS

Para Fixação:

Ano: 2015/ Banca: Própria / Órgão: MP/BA –


Promotor de Justiça

Segundo o dispositivo da Lei n. 12.850/13, se a


ação controlada envolver transposição de fron-
teiras, o retardamento da intervenção policial
ou administrativa não dependerá da cooperação
das autoridades dos países que figurem como
provável itinerário ou destino do investigado, o
que garantirá a efetividade da investigação crimi-
nal.

Anotações sobre os artigos anteriores:

GABARITO: Errado (pois dependerá).

12
#LEGIS

DIA 2 Também de modo diferente da ação controla-


da, exige-se autorização judicial PRÉVIA para sua
realização, não bastando mera comunicação.
Disciplina: Legislação Criminal Extra-
vagante - Lei n. 12.850/2013 § 1º Na hipótese de representação do de-
Responsável: Prof. Igor Vialli legado de polícia, o juiz competente, an-
Dia 01: Artigos 10º ao 27. tes de decidir, ouvirá o Ministério Público.
§ 2º Será admitida a infiltração se houver
Estudado Revisão 1 Revisão 2 Revisão 3 indícios de infração penal de que trata o
art. 1º e se a prova não puder ser produzi-
da por outros meios disponíveis.

PREÂMBULO -
Comentários: Percebam que os requisitos são
Define organização criminosa e dispõe so- CUMULATIVOS.
bre a investigação criminal, os meios de obten-
ção da prova, infrações penais correlatas e o pro- § 3º A infiltração será autorizada pelo pra-
cedimento criminal; altera o Decreto-Lei nº 2.848, zo de até 6 (seis) meses, sem prejuízo de
de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal); revoga eventuais renovações, desde que com-
a Lei nº 9.034, de 3 de maio de 1995; e dá outras provada sua necessidade.
providências.
Comentários: Assim como na interceptação te-
CAPÍTULO II
lefônica, não há limite de renovação, desde que
DA INVESTIGAÇÃO E DOS MEIOS DE OBTENÇÃO comprovada sua necessidade.
DA PROVA

Seção III § 4º Findo o prazo previsto no § 3º, o rela-


tório circunstanciado será apresentado ao
Da Infiltração de Agentes juiz competente, que imediatamente cien-
tificará o Ministério Público.
Art. 10. A infiltração de agentes de polícia § 5º No curso do inquérito policial, o de-
em tarefas de investigação, representada pelo legado de polícia poderá determinar aos
delegado de polícia ou requerida pelo Minis- seus agentes, e o Ministério Público pode-
tério Público, após manifestação técnica do rá requisitar, a qualquer tempo, relatório
delegado de polícia quando solicitada no cur- da atividade de infiltração.
so de inquérito policial, será precedida de cir-
cunstanciada, motivada e sigilosa autorização “Art. 10-A. Será admitida a ação de agen-
judicial, que estabelecerá seus limites. tes de polícia infiltrados virtuais, obedecidos
os requisitos do caput do art. 10, na internet,
Comentários: A infiltração de agentes é mais com o fim de investigar os crimes previstos
uma das técnicas especiais de investigação e sua nesta Lei e a eles conexos, praticados por orga-
previsão também existe na Convenção das Na- nizações criminosas, desde que demonstrada
ções Unidas contra o Crime Organizado Transna- sua necessidade e indicados o alcance das ta-
cional (art. 20), da qual o Brasil é signatário. refas dos policiais, os nomes ou apelidos das
pessoas investigadas e, quando possível, os
Aprofundando: Diferentemente da técnica es- dados de conexão ou cadastrais que permitam
pecial da ação controlada, que também pode ser a identificação dessas pessoas.
adotada por órgãos administrativos, a infiltração
de agentes é diligência exclusiva policial, pre- Comentários: Introduzida pelo Pacote Anticri-
vendo o caput do art. 10 que será realizada por me, a infiltração de agentes policiais em ambien-
“agentes de polícia”. te cibernético agora consta com previsão legal e
obedece aos mesmos requisitos da infiltração do

13
#LEGIS

caput, quais sejam, indícios da prática do crime praticados durante a operação, deverão
de organização criminosa e indispensabilidade ser registrados, gravados, armazenados e
da medida. apresentados ao juiz competente, que ime-
diatamente cientificará o Ministério Públi-
co.
Aprofundando: A infiltração de agentes em am-
biente virtual não foi novidade, pois já é prevista § 6º No curso do inquérito policial, o dele-
no Estatuto da Criança e do Adolescente para a gado de polícia poderá determinar aos
investigação de crimes contra a dignidade sexual seus agentes, e o Ministério Público e o
de crianças e adolescentes (artigos 190-A a 190-E juiz competente poderão requisitar, a
da referida lei). qualquer tempo, relatório da atividade de
infiltração.
§ 7º É nula a prova obtida sem a
§ 1º Para efeitos do disposto nesta Lei, con- observância do disposto neste artigo.
sideram-se:
I - dados de conexão: informações referen- Art. 10-B. As informações da operação de
tes a hora, data, início, término, duração, infiltração serão encaminhadas diretamente ao
endereço de Protocolo de Internet (IP) utili- juiz responsável pela autorização da medida,
zado e terminal de origem da conexão; que zelará por seu sigilo.
II - dados cadastrais: informações referen-
tes a nome e endereço de assinante ou de Parágrafo único. Antes da conclusão da
usuário registrado ou autenticado para a operação, o acesso aos autos será reservado
conexão a quem endereço de IP, identifica-
ao juiz, ao Ministério Público e ao delegado de
ção de usuário ou código de acesso tenha
sido atribuído no momento da conexão. polícia responsável pela operação, com o obje-
tivo de garantir o sigilo das investigações.
§ 2º Na hipótese de representação do de-
legado de polícia, o juiz competente, an-
tes de decidir, ouvirá o Ministério Público. Comentários: Com expressa previsão legal, e
por se tratar de diligência em andamento, não há
§ 3º Será admitida a infiltração se houver aplicação da Súmula Vinculante n. 14 aos autos
indícios de infração penal de que trata o onde ocorre a documentação da infiltração.
art. 1º desta Lei e se as provas não pude-
rem ser produzidas por outros meios dis-
poníveis. Art. 10-C. Não comete crime o policial que
oculta a sua identidade para, por meio da in-
ternet, colher indícios de autoria e materiali-
Comentários: Repetição dos requisitos já de- dade dos crimes previstos no art. 1º desta Lei.
monstrados no art. 10-A.
Parágrafo único. O agente policial infiltra-
§ 4º A infiltração será autorizada pelo pra- do que deixar de observar a estrita finalidade da
zo de até 6 (seis) meses, sem prejuízo de investigação responderá pelos excessos pratica-
eventuais renovações, mediante ordem dos.
judicial fundamentada e desde que o to-
tal não exceda a 720 (setecentos e vinte)
dias e seja comprovada sua necessidade. Comentários: Dispositivo idêntico foi inserido
no ECA quando da previsão inicial da infiltração
de agentes na Internet. Naquela alteração, justi-
Comentários: O prazo inicial e a possibilidade de ficou-se a introdução da causa de atipicidade da
sucessivas renovações é o mesmo da infiltração conduta para evitar a punição do agente infiltra-
comum, com a peculiaridade de um limite total do pelo cometimento do crime tipificado no art.
de 720 (setecentos e vinte) dias da duração da di- 154-A, do Código Penal. Todavia, diz a doutrina
ligência. que tal artigo seria desnecessário na medida em
que o dispositivo mais abaixo tratado (art. 13, pa-
rágrafo único), já prevê não ser punível, no âm-
§ 5º Findo o prazo previsto no § 4º deste
bito da infração, a prática de crime pelo agente
artigo, o relatório circunstanciado, jun-
infiltrado no curso da investigação, quando ine-
tamente com todos os atos eletrônicos

14
#LEGIS

xigível conduta diversa. Acrescente-se, ainda, a Comentários: O prazo legal foi fixado na hipótese
argumentação pelo estrito cumprimento de um de representação do delegado de polícia, haven-
dever legal na colheita dos elementos de infor- do vácuo legislativo quanto ao prazo no caso de
mação da investigação. requerimento do próprio MP, após manifestação
técnica do delegado de polícia. Entende a doutri-
na, em tal caso, que o prazo de manifestação do
“Art. 10-D. Concluída a investigação, to- Juiz será o mesmo (em até 24 horas).
dos os atos eletrônicos praticados durante a ope-
ração deverão ser registrados, gravados, arma-
zenados e encaminhados ao juiz e ao Ministério § 2º Os autos contendo as informações da
Público, juntamente com relatório circunstan- operação de infiltração acompanharão a
ciado. denúncia do Ministério Público, quando
serão disponibilizados à defesa, assegu-
rando-se a preservação da identidade do
Parágrafo único. Os atos eletrônicos re-
agente.
gistrados citados no caput deste artigo serão
reunidos em autos apartados e apensados ao § 3º Havendo indícios seguros de que o
processo criminal juntamente com o inquéri- agente infiltrado sofre risco iminente, a
operação será sustada mediante requisi-
to policial, assegurando-se a preservação da
ção do Ministério Público ou pelo delega-
identidade do agente policial infiltrado e a in- do de polícia, dando-se imediata ciência
timidade dos envolvidos. ao Ministério Público e à autoridade judi-
cial.
Art. 11. O requerimento do Ministério
Público ou a representação do delegado de
polícia para a infiltração de agentes conterão a Comentários: Pelo verbo impositivo, a suspen-
são da operação é dever no caso de indícios se-
demonstração da necessidade da medida, o
guros de risco iminente ao agente infiltrado.
alcance das tarefas dos agentes e, quando pos-
sível, os nomes ou apelidos das pessoas inves-
tigadas e o local da infiltração. Art. 13. O agente que não guardar, em sua
atuação, a devida proporcionalidade com a fina-
Parágrafo único. Os órgãos de registro e lidade da investigação, responderá pelos exces-
cadastro público poderão incluir nos bancos de sos praticados.
dados próprios, mediante procedimento sigiloso
e requisição da autoridade judicial, as informa- Aprofundando: Na doutrina, diferencia-se o ex-
ções necessárias à efetividade da identidade fic- cesso intensivo (ação desproporcional ou além
tícia criada, nos casos de infiltração de agentes da intensidade necessária para mera defesa) do
na internet. extensivo (ação já fora do momento autorizador
legal, ou seja, já cessada a injusta agressão, por
exemplo, há continuidade da reação por parte do
Art. 12. O pedido de infiltração será sigilo- agente).
samente distribuído, de forma a não conter in-
formações que possam indicar a operação a ser
efetivada ou identificar o agente que será infiltra- Parágrafo único. Não é punível, no âmbito
do. da infiltração, a prática de crime pelo agente in-
filtrado no curso da investigação, quando inexi-
gível conduta diversa.
§ 1º As informações quanto à necessidade
da operação de infiltração serão dirigidas
diretamente ao juiz competente, que deci- Comentários: Causa legal de exclusão da culpa-
dirá no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, bilidade (inexigibilidade de conduta diversa).
após manifestação do Ministério Público
na hipótese de representação do delegado Art. 14. São direitos do agente:
de polícia, devendo-se adotar as medidas
necessárias para o êxito das investigações
I - recusar ou fazer cessar a atuação infiltra-
e a segurança do agente infiltrado.
da;

15
#LEGIS

II - ter sua identidade alterada, aplicando- e) havendo indícios seguros de que o agente in-
-se, no que couber, o disposto no art. 9º da filtrado sofre risco iminente, a operação deverá
Lei nº 9.807, de 13 de julho de 1999, bem ser sustada mediante requisição do Ministério
como usufruir das medidas de proteção a Público ou pelo delegado de polícia, dando-se
testemunhas; imediata ciência ao Ministério Público e à auto-
ridade judicial.
Comentários: A Lei n. 9.807/99 estabelece nor-
mas para a organização e a manutenção de pro- Anotações sobre as questões anteriores:
gramas especiais de proteção a vítimas e a teste-
munhas ameaçadas, institui o Programa Federal
de Assistência a Vítimas e a Testemunhas Amea-
çadas e dispõe sobre a proteção de acusados ou
condenados que tenham voluntariamente pres-
tado efetiva colaboração à investigação policial e
ao processo criminal.

III - ter seu nome, sua qualificação, sua ima-


gem, sua voz e demais informações pes-
soais preservadas durante a investigação e
o processo criminal, salvo se houver deci-
são judicial em contrário;
IV - não ter sua identidade revelada, nem
ser fotografado ou filmado pelos meios de
comunicação, sem sua prévia autorização
por escrito.

Para fixação:

Ano: 2018/ Banca: EBCF/ Órgão: SEAP-MG –


Agente de Segurança Penitenciário

No que concerne ao instrumento da “infiltração


de agentes”,como tal preceituado na Lei das Or-
ganizações Criminosas, assinale a alternativa in-
correta:

a) o pedido de infiltração deve ser sigilosamente


distribuído, de forma a não conter informações
que possam indicar a operação a ser efetivada ou
identificar o agente que será infiltrado.

b) a infiltração será autorizada pelo prazo de até


12 (doze) meses, sem prejuízo de eventuais reno-
vações, desde que comprovada sua necessidade.

c) no curso do inquérito policial, o delegado de


polícia poderá determinar aos seus agentes, e o
Ministério Público poderá requisitar, a qualquer
tempo, relatório da atividade de infiltração.

d) o agente que não guardar, em sua atuação, a


devida proporcionalidade com a finalidade da
investigação, deverá responder pelos excessos GABARITO: E (prazo inicial de 6 meses).
praticados.

16
#LEGIS

Seção IV X e XII, da Constituição Federal, os “dados cadas-


Do Acesso a Registros, Dados Cadastrais, trais” se referem a informações de caráter objetivo
Documentos e Informações que todos possuem, não permitindo a criação de
qualquer juízo de valor sobre o indivíduo a partir
de sua divulgação. São essencialmente um con-
Art. 15. O delegado de polícia e o Ministé- junto de informações objetivas fornecidas pelos
rio Público terão acesso, independentemente consumidores/clientes/usuários sistematizadas
de autorização judicial, apenas aos dados ca- em forma de registro de fácil acesso por meio de
dastrais do investigado que informem exclusiva- seu armazenamento em banco de dados de pes-
mente a qualificação pessoal, a filiação e o en- soas jurídicas de direito público ou privado, con-
dereço mantidos pela Justiça Eleitoral, empresas tendo informações como nome completo, CPF,
telefônicas, instituições financeiras, provedores RG, endereço, número de telefone etc. (...) 15. Ao
de internet e administradoras de cartão de crédito. Ministério Público deve ser assegurado o aces-
so a informações não agasalhadas por sigilo
bancário (dados cadastrais de pessoas investi-
Comentários: Atenção para a palavra “exclusiva- gadas), para o fim de instruir os procedimentos
mente”. investigatórios de natureza penal e civil. (...)
(STJ, REsp 1561191/SP, Rel. Ministro HERMAN BEN-
JAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 19/04/2018,
Jurisprudência: PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL DJe 26/11/2018)
PÚBLICA. LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLI-
CO. FORNECIMENTO DE DADOS CADASTRAIS
DE CLIENTES DE INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS Art. 16. As empresas de transporte possibi-
MEDIANTE REQUISIÇÃO DIRETA DO PARQUET litarão, pelo prazo de 5 (cinco) anos, acesso dire-
OU DA POLÍCIA FEDERAL. DIREITOS DIFUSOS E to e permanente do juiz, do Ministério Público
COLETIVOS CARACTERIZADOS. SEGURANÇA PÚ- ou do delegado de polícia aos bancos de dados
BLICA. ACESSO A DADOS CADASTRAIS. POSSIBILI- de reservas e registro de viagens.
DADE. HISTÓRICO DA DEMANDA 1. Tratam os pre-
sentes autos de Ação Civil Pública proposta pelo
Ministério Público Federal buscando, em síntese, Art. 17. As concessionárias de telefonia
“assegurar o fornecimento de informações cons- fixa ou móvel manterão, pelo prazo de 5 (cinco)
tantes dos cadastros de clientes em instituições anos, à disposição das autoridades mencionadas
financeiras (nome completo, endereço, telefone, no art. 15, registros de identificação dos números
e-mail, número de documentos, etc.), quando dos terminais de origem e de destino das ligações
requisitadas por seus membros para instruir pro- telefônicas internacionais, interurbanas e locais.
cesso judicial, inquérito policial ou qualquer outro
procedimento de investigação criminal ou civil, Seção V
e por Delegados de Polícia Federal, para instruir
inquérito policial devidamente formalizado” (fl. Dos Crimes Ocorridos na Investigação e na
1.106, e-STJ). (...) MÉRITO DA CONTROVÉRSIA 4. O Obtenção da Prova
Ministério Público, em suas atividades precípuas,
depara-se constantemente com a necessidade de Art. 18. Revelar a identidade, fotografar ou
buscar dados e informações de usuários investi- filmar o colaborador, sem sua prévia autoriza-
gados para instruir processo judicial, inquérito po- ção por escrito:
licial ou qualquer outra investigação criminal ou
civil, constantes em bancos de dados de pessoas
jurídicas de direito público ou privado. O acesso a Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e
tais bancos é essencial para que haja sucesso na multa.
tarefa de individualização e identificação de agen-
tes praticantes das mais diversas infrações penais, Comentários: Trata-se de crime comum que tra-
seja na posição de autores, partícipes ou até mes- duz uma violação a um dos direitos do agente in-
mo como testemunhas de crimes. 5. Outro ponto filtrado (art. 14, IV).
imprescindível ao deslinde da presente con-
trovérsia é a distinção de dados e dados cadas- A autorização por escrito do agente infiltrado, por
trais. Enquanto os “dados” revelam aspectos da disposição do próprio tipo penal, traduz causa de
vida privada ou da intimidade do indivíduo e pos- atipicidade da conduta.
suem proteção constitucional esculpida no art. 5º,

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Art. 19. Imputar falsamente, sob pretexto CAPÍTULO III


de colaboração com a Justiça, a prática de infra- DISPOSIÇÕES FINAIS
ção penal a pessoa que sabe ser inocente, ou
revelar informações sobre a estrutura de orga- Art. 22. Os crimes previstos nesta Lei e as in-
nização criminosa que sabe inverídicas: frações penais conexas serão apurados mediante
procedimento ordinário previsto no Decreto-
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, -Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de
e multa. Processo Penal), observado o disposto no pará-
grafo único deste artigo.
Comentários: A primeira parte do tipo penal traz
o Princípio da Especialidade com relação ao cri- Parágrafo único. A instrução criminal de-
me de calúnia, do art. 138, do Código Penal, não verá ser encerrada em prazo razoável, o qual
se admitindo aqui o “dolo eventual”, pois o pre- não poderá exceder a 120 (cento e vinte) dias
ceito primário do tipo penal é expresso no senti- quando o réu estiver preso, prorrogáveis em
do de que a imputação é feita contra pessoa “que
sabe ser inocente”. até igual período, por decisão fundamentada,
devidamente motivada pela complexidade da
causa ou por fato procrastinatório atribuível
Art. 20. Descumprir determinação de sigi- ao réu.
lo das investigações que envolvam a ação contro-
lada e a infiltração de agentes:
Comentários: Novamente, a lei não fixou limite
máximo de prorrogação, desde que atendidos os
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, requisitos: complexidade da causa ou fato pro-
e multa. crastinatório atribuível ao réu, desde que respei-
tada, em cada prorrogação, o período máximo
Art. 21. Recusar ou omitir dados cadas- de 120 (cento e vinte) dias, quando o réu estiver
trais, registros, documentos e informações re- preso.
quisitadas pelo juiz, Ministério Público ou de-
legado de polícia, no curso de investigação ou Para fixação:
do processo:
Ano: 2018/ Banca: AOCP Órgão: SUSIPE/PA –
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) Agente Prisional
anos, e multa.
De acordo com a Lei nº 12.850/2013, que discipli-
Parágrafo único. Na mesma pena incorre na os crimes relacionados a organizações crimi-
quem, de forma indevida, se apossa, propala, nosas, quando o investigado estiver preso, a ins-
trução criminal deverá ser encerrada em prazo
divulga ou faz uso dos dados cadastrais de que
razoável, o qual não poderá exceder a:
trata esta Lei.
a) 90 dias.
Comentários: Mais um crime especial com re- b) 60 dias.
lação aos da parte geral do Código Penal, aqui, c) 120 dias.
especificamente, com relação ao crime de deso- d) 30 dias.
bediência (art. 330, Código Penal). e) 45 dias.

Aprofundando: TODOS os crimes previstos na


Lei admitem, em tese, o benefício da suspensão
condicional do processo, pois possuem pena mí-
nima cominada que não ultrapassa um ano (art.
89, caput, Lei n. 9.099/95), dependendo o ofereci-
mento no caso concreto do preenchimento dos
demais requisitos.
GABARITO: C.

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#LEGIS

Art. 23. O sigilo da investigação poderá ser Comentários: A Lei n. 9.034/95, primeira lei a tra-
decretado pela autoridade judicial competen- tar sobre organizações criminosas, foi revogada
te, para garantia da celeridade e da eficácia das integralmente, mas a Lei n. 12.694/12 continua
diligências investigatórias, assegurando-se ao existindo, tratando-se de importante diploma
defensor, no interesse do representado, amplo normativo que dispõe sobre o processo e o julga-
mento colegiado em primeiro grau de jurisdição
acesso aos elementos de prova que digam respei- de crimes praticados por organizações crimino-
to ao exercício do direito de defesa, devidamen- sas.
te precedido de autorização judicial, ressalva-
dos os referentes às diligências em andamento.
Art. 27. Esta Lei entra em vigor após decor-
ridos 45 (quarenta e cinco) dias de sua publica-
Comentários: Percebam a regra especial previs- ção oficial.
ta na lei no sentido de condicionar o acesso do
advogado à prévia autorização judicial, exigên-
cia esta não estabelecida para os demais casos, Anotações sobre os artigos anteriores:
nos termos do Estatuto da OAB (art. 7º, XIV, Lei n.
8.906/94).

Parágrafo único. Determinado o depoi-


mento do investigado, seu defensor terá asse-
gurada a prévia vista dos autos, ainda que clas-
sificados como sigilosos, no prazo mínimo de 3
(três) dias que antecedem ao ato, podendo ser
ampliado, a critério da autoridade responsável
pela investigação.

Art. 24. O art. 288 do Decreto-Lei nº 2.848,


de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), passa
a vigorar com a seguinte redação:

“ Associação Criminosa

Art. 288. Associarem-se 3 (três) ou mais pes-


soas, para o fim específico de cometer crimes:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.

Parágrafo único. A pena aumenta-se até a


metade se a associação é armada ou se houver
a participação de criança ou adolescente.” (NR)

Art. 25. O art. 342 do Decreto-Lei nº 2.848,


de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), passa
a vigorar com a seguinte redação:

“Art.342. ........................................................
...........................
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro)
anos, e multa.
.......................................................................
...........................” (NR)
Art. 26. Revoga-se a Lei nº 9.034, de 3 de
maio de 1995.

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