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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 11ª


VARA DE FAMÍLIA DA COMARCA DA CIDADE DO RIO DE
JANEIRO/RJ

TJRJ CAP FM11 202007444595 19/10/20 09:24:20138297 PROGER-VIRTUAL


Processo nº 0046788-69.2020.8.19.0001

THALES LEONE KISS, brasileiro, solteiro, estudante, portador do RG


25811117-8 expedida pelo Detran, inscrito sob o nº de CPF 189.515.427-85,
com endereço eletrônico thaleskiss99@gmail.com residente e domiciliado
na Rua Engenheiro Gama Lobo, nº 650, casa 49, no bairro de Vila Isabel, na
cidade do Rio de Janeiro/RJ, por intermédio de sua advogada integrante do
Núcleo de Prática Jurídica da Universidade Estácio de Sá – Unidade Dorival
Caymmi (procuração fls.93), com endereço profissional na Rua Raul
Pompéia, nº 231, 4º andar, Copacabana/RJ, CEP:22080-000, onde deverá
receber intimações em caso de divulgação através do portal eletrônico ou
imprensa oficial, sejam as mesmas realizadas em nome de Dra. Rosana
Tostes Machado, OAB/RJ 110.710, rosana.safi@estacio.br em observância
aos artigos 77 inciso V e 272 ambos do CPC, vem, respeitosamente, à
presença de Vossa Excelência, apresentar CONTESTAÇÃO Nos autos da
AÇÃO DE EXONERAÇÃO DE ALIMENTOS que lhe move HELIO KISS
JUNIOR, já devidamente qualificado na exordial, pelos motivos de fato e
direito expostos a seguir.

DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA
Requer a V.Exa., a concessão do benefício da gratuidade de justiça
assegurado pelo art. 98 CPC, por ser o réu hipossuficiente financeiro
(declaração fls.94), visto não possuir condições de arcar com as despesas
processuais e honorários de advogado, sem prejuízo de seu sustento e de sua
família.
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TEMPESTIVIDADE
A presente contestação tempestiva, haja vista que o prazo para sua
apresentação é de 30 (trinta) dias úteis, nos moldes do artigo 186, §3º, do
NCPC, visto que concede aos escritórios de prática jurídica das faculdades
de Direito, reconhecidas na forma da lei, e às entidades que prestam
assistência jurídica gratuita em razão de convênios firmados com a
Defensoria Pública o mesmo benefício.
Assim, o mandado de citação foi juntado aos autos em 03/09/2020
(fls.88), passando o prazo para a apresentação da defesa ser contabilizado
desta data em dias úteis, excluindo-se os dias (05,12,19 e 26 de setembro/
sábados – 06, 13, 20 e 27 de setembro/ domingos), 07/09/2020 feriado
nacional, suspenção dos prazos 14 e 15 de setembro Ato Executivo nº 120,
Outubro ( 03, 10, 17 de outubro/ sábados – 04, 11 e 18 de
outubro/domingos) - 12/10/2020 feriado nacional , expirando no dia
18/1/2020 (domingo) sendo a presente defesa protocolizada no dia útil
subsequente, qual seja, 19/10/2020 portanto tempestiva.

DOS FUNDAMENTOS

Da tutela de urgência

O autor pleiteia a exoneração de alimentos com pedido de tutela de


urgência com justificativa de “probabilidade de direito” e suposto “perigo de
dano ou risco ao resultado útil do processo”.

Não merece ser acolhido tão pedido, visto que não se configuram os
requisitos adequados à tutela de urgência, visto não haver perigo de dano ou
risco ao resultado útil do processo.

Por outro lado, a concessão de tal benefício ao autor ocasionaria a


impossibilidade do alimentando de arcar com o mínimo necessário para sua
subsistência e prosseguimento de seus estudos.

Depreende-se da inteligência do Art. 300 do CPC que a tutela de


urgência requer a demonstração irrefutável de que o direito material do autor
está em risco caso não se obtenha o provimento.
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Tal hipótese não restou comprovada, visto que o autor anexou aos
autos comprovantes de pagamento aleatórios, sem demonstrar com exatidão
o montante de seus gastos mensais.

Além disso, anexou contas de energia com valores exorbitantes,


irregulares e de titularidade de pessoa diversa.

Não é possível se chegar a uma média fidedigna dos custos mensais


de subsistência.

Pode-se observar na conta de celular que o endereço do autor é diverso


do apontado na inicial e das demais contas que o autor junta para comprovar
seus gastos.

Assim, não está claro se as contas de água e aluguel apresentadas pelo


autor são realmente custeadas por ele, uma vez que estão em nome de pessoa
diversa.

Por fim, há que se ressaltar que não há fato novo, ou seja, a doença
que o Autor alega ter e que nela se ampara para pedir sua exoneração de
pensão alimentícia, não ocorreu neste momento e nem nos últimos meses, o
Autor já a possui e certamente já realiza tratamentos a muitos anos, não seria
por este motivo o pedido de aposentadoria por invalidez?

Nesse sentido o Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo


informa:

“AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO


DE EXONERAÇÃO DE ALIMENTOS – Decisão
que indeferiu pedido de tutela de urgência para exonerar
o agravante da obrigação alimentar em relação ao filho,
que teria atingido a maioridade – Insurgência – Não
acolhimento - Maioridade que, por si só, não é suficiente
para autorizar a imediata exoneração, nos termos da Súmula
358 do C. STJ – Inexistência de situação de urgência a
justificar a concessão da medida "inaudita altera parte"
- Agravado que nem sequer foi citado, não tendo havido
ainda instauração do contraditório – Inexistência, por ora,
de elementos que permitam autorizar a imediata
exoneração - Necessidade de aguardar o contraditório e
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a regular instrução do processo - Pedido alternativo de


que o valor dos alimentos seja depositado em juízo que
também não pode ser acolhido, tendo em vista a natureza
e a finalidade da obrigação alimentar - Decisão mantida -
Recurso desprovido.” (TJSP; Agravo de Instrumento
2210232-58.2020.8.26.0000; Relator (a): Marcus Vinicius
Rios Gonçalves; Órgão Julgador: 6ª Câmara de Direito
Privado; Foro Regional II - Santo Amaro - 11ª Vara da
Família e Sucessões; Data do Julgamento: 15/09/2020; Data
de Registro: 15/09/2020)

Diante do exposto, o réu impugna os documentos anexados pelo autor,


e requer seja indeferida a tutela de urgência que, cuja concessão poderia, sim,
acarretar enorme prejuízo ao réu em detrimento de um direito não
comprovado pelo autor.

DOS FATOS

O autor pleiteia a exoneração de alimentos (fixados nos autos do


processo 0102012-85.2003.8.19.0001) com a justificativa de que o
alimentado já possui 18 anos completos e condições de arcar com o seu
próprio sustento, uma vez que exerce atividade laboral, requer ainda que seja
deferida tutela provisória de urgência, com a suspensão dos descontos
mensais de alimentos realizados em seu contracheque, até o deslinde do
presente feito.

Aduz também que possui problemas de saúde que supostamente


demandam gastos diversos com medicações e tratamentos; e que o
pensionamento que paga ao filho no valor de 01 (um) salário mínimo está
impedindo que o autor goze de uma vida digna e realize tratamentos
terapêuticos.

DA NECESSIDADE DO ALIMENTANDO

Inicialmente cumpre destacar que em que pese o alimentando já haver


completado 18 anos, encontra-se cursando no segundo período do curso de
Farmácia da Universidade Estácio de Sá.
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Em que pese as alegações trazidas pelo autor, os alimentos prestados


configuram importante parcela no orçamento necessário para a subsistência
do alimentando.

Não obstante o autor ter alegado que o réu exerce atividade laborativa
na função de soldado categoria (S2), integrando o quadro TEMPORÁRIO
das Forças Armadas (Aeronáutica) e recebe de soldo o montante líquido
mensal de R$ 2.036,01 (dois mil e trinta e seis reais e um centavo), como
pode-se aferir no contracheque em anexo.

Ressalte-se que a permanência do réu nas Forças Armadas será até o


mês de junho de 2021, haja vista integrar o quadro temporário, após esta data
o réu não terá qualquer outra renda que lhe auxilie a custear os seus estudos,
sendo indubitável o fato de que a exoneração dos alimentos prestados ao réu,
implicarão em sérios prejuízos ensejando inclusive a interrupção dos seus
estudos.

O autor por sua vez, aduz fazer tratamento de saúde, contudo as


condições de saúde do autor sempre foram estas, o que inclusive ensejou a
aposentadoria precoce do mesmo por invalidez, portanto, não se trata de
condição nova que justifique que o autor se desobrigue de prestar alimentos,
ao contrário do réu, por tratar-se de aposentadoria o autor possui estabilidade
financeira, ao passo que a renda do réu é temporária com prazo para o
término.

DO MÉRITO

O autor pleiteia a exoneração de pensão alimentícia com a justificativa


de o réu já ter completado 18 anos e ter capacidade de arcar com sua própria
subsistência. Tal afirmação não procede, visto que como militar temporário
de baixa patente recebe soldo, não possuindo vínculo permanente com a
instituição.

Ademais, vale destacar a Súmula 358 do STJ que postula que a


maioridade civil não extingue automaticamente o direito ao recebimento de
pensão alimentícia. Segundo o enunciado, é necessário que o cancelamento
se processe mediante decisão judicial que garanta o contraditório.

Em consonância com o artigo citado do Código Civil, Maria Berenice


Dias ensina, na obra Manual do Direito de Família que o adimplemento da
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capacidade civil, aos 18 anos ainda que enseje o fim do poder familiar, não
leva à extinção automática do encargo alimentar.

Outra questão pacificada na doutrina é a observância do binômio


necessidade e possibilidade para que se mantenha a obrigação de alimentos.

Deve-se observar, nessa toada, a decisão da relatora Ministra Nancy


Andrighi no RESP 1218510-SP ao aduzir que o STJ estabelece presunção
relativa de permanência da necessidade dos filhos receberem a pensão
alimentícia, ainda que após a maioridade, sendo, portanto, admissível, prova
em contrário.

Além disso, Roberto Senise Lisboa, em seu livro Manual de Direito


Civil (p. 25), explica que é comum a manutenção da obrigação de prestar
alimentos enquanto o alimentando estiver matriculado em curso de nível
superior ou técnica, sendo isto, portanto, a representação do encerramento
do ciclo de formação profissional do alimentado.

Não obstante já ter o réu atingido a maioridade, segundo a tese do STJ


de edição número 65, é devido alimentos ao filho maior quando comprovada
a frequência em curso universitário ou técnico, por força da obrigação
parental de promover adequada formação profissional.

Pode-se ressaltar ainda a importância da pensão como forma de


garantir a conclusão do curso superior do réu, aumentando as chances para
sua entrada no mercado de trabalho.

No mesmo sentido, encontram-se diversas decisões seguidas pelas


cortes brasileiros, como por exemplo, o seguinte acórdão proferido pelo
Tribunal de Justiça de Minas Gerais:

EMENTA: RECURSO DE APELAÇÃO - AÇÃO DE


EXONERAÇÃO DE ALIMENTOS - ALTERAÇÃO DO
BINÔMIO NECESSIDADEPOSSIBILIDADE - NÃO
DEMONSTRAÇÃO - MAIORIDADE - FILHO QUE
PRETENDE CURSAR A FACULDADE E QUE
AINDA NÃO EXERCE ATIVIDADE LABORATIVA
QUE GARANTO SEU SUSTENTO - NECESSIDADE
MANTIDA - PRESTAÇÃO DE ALIMENTOS DEVIDA
- SENTENÇA MANTIDA. Os alimentos são devidos aos
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filhos em função do pátrio poder. Uma vez completada a


maioridade, a obrigação se extingue, caso o alimentado
não consiga se desincumbir do ônus de demonstrar a
persistência da necessidade. No entanto, verificando-se
que o filho apesar de atingir a maioridade ainda não
consegue prover sua subsistência por si só e necessita dos
alimentos para completar seus estudos, não há razões para
a desoneração do alimentante de contribuir com a verba
alimentar. (TJMG - Apelação Cível 1.0027.13.021169-
4/001, Relator(a): Des.(a) Vanessa Verdolim Hudson
Andrade , 1ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em
20/10/2015, publicação da súmula em 29/10/2015) -
(GRIFO NOSSO)

Ademais, o Superior Tribunal de Justiça, já consolidou entendimento


ao positivar a Súmula 358 que informa:

“Súmula 358 - O cancelamento de pensão alimentícia de


filho que atingiu a maioridade está sujeito à decisão judicial,
mediante contraditório, ainda que nos próprios autos.”
(Súmula 358, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 13/08/2008,
DJe 08/09/2008, REPDJe 24/09/2008)

Por sua vez, quanto à exoneração de pensão alimentícia nos moldes do


caso em tela, a jurisprudência possui um entendimento consolidado quando
aborda a questão da impossibilidade de exoneração de alimentos ao
alimentando quando este, mesmo que já tenha atingido a maioridade, ainda
necessitar de auxílio por ainda estar estudando e tem o vínculo de trabalho
precário e temporário, ou seja, enquanto perdurar o tempo de serviço
obrigatório militar, o que conforme o caso será somente até 30/06/2021.

Dito isso colacionamos as seguintes decisões para melhor ilustrar o


entendimento dos diferentes tribunais:

“CIVIL. FAMÍLIA. EXONERAÇÃO DE ALIMENTOS.


FILHO QUE SE ENCONTRA CURSANDO
FACULDADE. Pretensão do pai em exonerar-se de
alimentos prestados a filho que atingiu a maioridade, mas se
encontra cursando faculdade. Prova dos autos que não
corroborou diminuição na capacidade contributiva do
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alimentante, com conseqüente possibilidade de suportar a


pensão nos termos fixados. Sentença de improcedência do
pedido de exoneração, incensurável, desprovimento do
recurso. Unânime.” (TJRJ, Apelação, 0012269-
72.2019.8.19.0205, VIGÉSIMA CAMARA CIVEL, DES.
MARILIA DE CASTRO NEVES VIEIRA, RIO DE
JANEIRO CAMPO GRANDE REGIONAL 3 VARA DE
FAMILIA, Publicação
21/09/2020 ).

“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO


DE EXONERAÇÃO DE ALIMENTOS. DIREITO DE
FAMÍLIA. Autor pretende exonerar-se da obrigação de
prestação de alimentos, ao fundamento de que o
alimentando alcançou a maioridade e possui meios de
sustento próprio, ante a prestação do serviço militar
obrigatório. Serviço militar que é temporário, com
engajamento previsto somente até março/2021. Réu que
possui 20 anos de idade e cursa ensino superior.
Possibilidade de a parte Apelada receber o pagamento
de alimentos do seu genitor, em que pese já ser pessoa maior
de idade, posto que ostenta condição de estudante.
Obrigação que se mantém, em atenção à solidariedade
devida pelos pais aos filhos. DESPROVIMENTO DO
RECURSO.” (TJRJ, APELAÇÃO, 0016252-
09.2019.8.19.0002 , LEILA MARIA RODRIGUES PINTO
DE CARVALHO E ALBUQUERQUE - Julgamento:
16/09/2020 - VIGÉSIMA QUINTA CÂMARA CÍVEL –
grifos nossos).

Conforme demonstrado, o caso se assemelha e muito a diversos


julgados, que corroboram o entendimento jurisprudencial consolidado no
sentido de que a obrigação da pensão alimentícia deve ser estendida, ainda
que o alimentado tenha maioridade, mesmo que esteja em serviço militar
obrigatório (que tem caráter temporário), se ainda estiver estudando. Nesse
sentido, as pensões alimentícias devem ser mantidas até o término do curso
superior.
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 CONCLUSÃO
 Requer a concessão do benefício da Gratuidade de Justiça ao réu;
 o indeferimento da tutela de urgência pleiteada pelo autor;
 a total improcedência dos pedidos formulados pelo autor
 a designação de data para audiência de conciliação ou mediação;
 a condenação do autor aos ônus de sucumbência, na forma da lei.

DAS PROVAS

Requer a produção de todos os meios de prova na amplitude do artigo


art. 369 do CPC.
Nestes termos, pede deferimento.

Rio de Janeiro, 18 de outubro de 2020.

ROSANA TOSTES MACHADO


OAB/RJ 110.710

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