A trajetória homóloga da CTS e dos Clubes de Ciências no Brasil.
O desenvolvimento da CTS no Brasil.
Nos três séculos após o descobrimento do Brasil, praticamente não ocorreram
evoluções e estímulos para o desenvolvimento em Ciência e Tecnologia - C&T. A exploração colonial marcada pelo latifúndio, monocultura e escravidão, seguia a função de abastecer a Europa de ouro, prata e alimentos, ignorando as necessidades da própria região. Assim, propiciou a formação de uma tradição prático-imediatista e a divisão entre atividades manuais e intelectuais, contribuiu pra formar uma cultura retórico literária em decorrência do colonialismo. Segundo Mancuso (1996, p. 34), "[..] inúmeros pesquisadores estrangeiros que aqui aportaram, fazendo observações e coletas de fauna, flora e solo para levar aos seus países de origem e lá então publicarem suas obras científicas". Os poucos investimentos que ocorriam ficaram sob a ótica do positivismo. Neste período, na Europa, aconteciam as grandes descobertas da ciência. Em 1957, os russos lançaram o Sputnik ao espaço, ocasionou questionamentos nas potências ocidentais sobre os métodos de ensino. Após revisados e reformulados, o método científico tomou corpo nos projetos de ensino implantados nos âmbitos educacionais, mais tarde introduzidos nos países da América Latina. Na década de 60, o Programa de Metas do governo de Juscelino Kubitschek incentivou as inovações tecnológicas para o crescimento nacional brasileiro, nos investimentos em C&T aconteceram a fundação da Universidade de Brasília (1961), a concretização da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), primeiro curso da Coordenação de Programas de Pós-Graduação em Engenharia (Coppe) e a criação do Fundo de Desenvolvimento Técnico-Científico (Funtec). (Auler, Bazzo, 2001). A partir de 1967 colocou-se em prática a 'operação retorno' por intermédio das Relações Exteriores seguido de cassações e aposentadorias compulsórias. Com o desfecho trágico da II Guerra Mundial, o governo brasileiro incentivou por via militar, a pesquisa no campo da energia nuclear. As pressões do governo americano influenciaram o governo brasileiro na compra de um reator de urânio enriquecido, em 1969, o que cessou os trabalhos de investigação nesta área. O golpe de 1964 e os tempos de crise que seguiram, propiciou o distanciamento da comunidade acadêmica ao processo econômico. O abismo entre o saber e o fazer, só não se agravou pelos interesses que aproximou militares, empresários e pesquisadores/professores universitários no desenvolvimento da indústria da informática e pesquisas acadêmicas. (Schwartzman coord., 1996)
Em 1970, há influência do pensamento Kuhniano, que em 1962 com a
publicação da obra 'A estrutura das revoluções científicas', apresenta........ No período dos anos 70 vieram também contribuir no debate epistemológico Lakatos e Feyerabend. Com a Nova República a partir de 1985, surgem novas perspectivas no desenvolvimento de C&T nacional, principalmente pela criação do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT). Em 2000 foi inaugurado o Centro de Estudos do Genoma Humano (CEGH), pelo Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo, devido a um projeto de pesquisa que desenvolveu o seqüenciamento do genoma da bactéria Xyllella fastidiosa que acometeu as plantações de laranjas em São Paulo. O sucesso do projeto repercutiu no governo americano, em acordo com a Fapesp financiou uma equipe de cientistas brasileiros para auxiliar na erradicação da doença de Pierce nos vinhedos da Califórnia. (Neto, 2002) Os aspectos do mercado mundial, incluindo a globalização, a competição internacional influenciam os países menos desenvolvidos a seguirem suas tendências. Assim as empresas determinam, de forma subjetiva, o desenvolvimento dos projetos de pesquisa, o que ocasiona o esquecimento das necessidades internas do país. De acordo com Bazzo (...., p. 133): Nem a ciência e muito menos a tecnologia são empreendimentos autônomos com vida própria, nem tampouco são instrumentos neutros que possam ser facilmente modificados e utilizados para as necessidades ou interesses de plantão. São, na realidade, complexos empreendimentos que têm lugar em contextos específicos configurados, e por sua vez configuradores de valores humanos que se refletem nas instituições culturais, políticas e econômicas.
Talvez explique a forma como a sociedade brasileira convive e aceita
determinações ao desenvolver C&T, o que influencia outras áreas, incluindo os espaços escolares. A ciência então, como atividade social, sofre influência das mudanças de paradigmas sociais, ditadas pelos interesses comerciais. Clubes de Ciências como espaço de pesquisa na escola.
A trajetória do desenvolvimento em C&T refletiu nas escolas, conta com a
lembrança da década de 50, no qual surgem os primeiros Clubes de Ciências. De acordo com Mancuso (1996, p. 38), os Clubes de Ciências eram "[..] locais considerados favoráveis à vivência da 'metodologia científica', então incentivada como uma repetição do que era feito nos verdadeiros laboratórios de pesquisa pelos cientistas". Suas atividades privilegiava a tecnologia acima da cientificidade, consideravam a montagem de componentes para realização dos experimentos. As Feiras de Ciências surgiram nesta época para expor materiais desenvolvidos no ensino e os experimentos dos Clubes de Ciências. Muitos destes, criados com a finalidade de expor os trabalhos nestas Feiras. O 'método científico' utilizado era associado a 'neutralidade científica' do pesquisador frente ao objeto de pesquisa. O paradigma da avaliação estava vinculado a forma tradicional de sala de aula, com o professor como ator principal e determinante no processo avaliativo. No final dos anos 80 os projetos de investigação fizeram parte dos currículos escolares na disciplina de ciências, muitos educadores e pesquisadores questionaram a prática pedagógica desta disciplina nas séries iniciais. Após os anos 90 os Clubes de Ciências seguem duas tendências de organização, a primeira que considera a forma inicial de organização, cuja prioridade era a exposição dos trabalhos nas Feiras de Ciências. Outra com caráter emancipado que espelha a diversidade na constituição dos Clubes de Ciências, que variam conforme a especificidade cultural do grupo. Nas escolas a criação dos Clubes de Ciências com caráter emancipado, segundo Marcuso (1996, p. 87), “[...] só passa a ser necessidade quando o contexto é favorável. Quando alunos [...] e professor [...] sentem que a sala de aula não está sendo suficiente [...]”, que não consegue dar suporte para a resolução de questionamentos e problemas levantados no grupo. Desta forma há um empreendimento de vontade, curiosidade por parte dos alunos que assumem esta jornada de pesquisa, nos encontros organizados no espaço escolar sob a mediação do professor.
Um paralelo entre C&T e os Clubes de Ciências: sintomas homólogos.
Na caminhada do desenvolvimento da C&T no Brasil, tem-se sintomas homólogos ao desenvolvimento da implantação dos Clubes de Ciências, bem como sua inserção nos ambientes escolares. Seu início conturbado com interesses que engessavam suas características, conduziam seu trajeto a mercê dos gestores. O desenvolvimento amalgamo de ambos reflete na condução dos trabalhos de pesquisa que vinculavam satisfazer interesses impostos pela sociedade comercial, que de início preocupava-se com a satisfação das necessidades dos colonizadores, mais tarde dos que incentivavam a economia. Os Clubes de Ciências no início estavam vinculados estritamente aos interesses das Feiras de Ciências, o que depois divide-se em concepções de articulação dependendo dos interesses culturais ao qual está inserido. Desta forma há alguns que ainda estão associados ao desenvolvimento de experimentos para amostras em Feiras, outros com intuito de desenvolver a alfabetização científica. Os Clubes de Ciências que pretendem desenvolver a alfabetização científica, objetivam desenvolver a observação e descrição do fato observado com letramento científico. Segundo Menezes (1996 apud Schroeder, 2008; Pozo; Crespo, 2009; Ward, et al., 2010) alfabetização científica compreende “[...] um processo que conduz os estudantes a níveis mais sofisticados de conhecimentos, o que caracterizaria uma cultura própria da ciência [...]”, no qual estes refletem sobre situações que afetam suas vidas e a do planeta. Os projetos desenvolvidos nestes espaços não estão vinculados a exposições em Feiras de Ciências, mas pretendem contribuir na comunidade ao qual estão inseridos. O ator que transita neste meio que une a escola e comunidade local na pesquisa científica, apresenta na figura do aluno, o mediador, ao questionar as problemáticas de seu cotidiano, com a interação mediada pela formação do professor, a fim de buscarem juntos, soluções ou respostas as indagações apresentadas.