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A INDISPONIBILIDADE DE ENERGIA ELÉTRICA NAS

COMUNIDADES TRADICIONAIS DE PESCADORES


ARTESANAIS E CAIÇARAS: um conflito ambiental
no município de Guaraqueçaba-Pr
Erickson Costa Pinto¹
Roberto Martins de Souza²
¹Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade
PPGCTS/IFPR campus Paranaguá. erickeletro@hotmail.com
2Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade
PPGCTS/IFPR campus Paranaguá. roberto.souza@ifpr.edu.br

Através do Decreto nº 97.688, de 25 de abril 1989, cria-se no município de Com o Decreto nº 6.040, de 7 de
Guaraqueçaba-Pr o Parque Nacional do Superaguí, que teria uma expansão fevereiro de 2007, que instituiu a Política
territorial após a Lei nº 9.513, de 20 de novembro de 1997. Desta maneira, o Nacional de Desenvolvimento Sustentável
Estado Brasileiro assume seu posicionamento quanto a utilização daquele território, dos povos e Comunidades tradicionais, o
que seria destinado à preservação dos ecossistemas ali existentes, à preservação Estado Brasileiro tem por obrigação
dos recursos naturais, e seu uso pelo público seria controlado e reservado para garantir os direitos destes povos, garantir a
educação e pesquisas científicas. reprodução dos seus modos de vida.
Ressalta-se que nestes dodumentos não é citada a presença humana fazendo Em Guaraqueçaba-Pr, a reprodução
uso destes territórios. Como resultado, têm-se a invisibilidade das Comunidades destes modos de vida característicos das
Tradicionais de Pescadores Artesanais e Caiçaras de Guaraqueçaba-Pr. comunidades tradicionais se realizam: na
Somente quando é sancionada a Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000, que Barra do Ararapira; Varadouro; Saco da
instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC), é Rita; Sibuí; Abacateiro; Vila Fátima;
que o poder legislativo brasileiro admite a presença humana neste território. Porém, Canudal; Barbados; e Colônia.
ao denominar este território como uma Unidade de Conservação de Proteção Comunidades que apresentam
Integral, o Estado Brasileiro revela-se contrário à manutenção desta presença. características comuns entre si, como por
exemplo, a indisponibilidade de energia elétrica via rede convencional de
distribuição da concessionária de energia elétrica.
O fato de não haver disponibilidade de energia elétrica nestas comunidades
caracteriza a violação do princípio constitucional da dignidade humana, conforme
descrito no Art. 1º, III da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
Viola também a Lei do SNUC, que no Art. 28, parágrafo único, diz que “até que
seja elaborado o Plano de Manejo, todas as atividades e obras desenvolvidas na
Unidade de Conservação de Proteção Integral devem se limitar àquelas destinadas
a garantir a integridade dos recursos que a unidade objetiva proteger, assegurando-
se às populações tradicionais porventura residentes na área as condições e os
meios necessários para a satisfação de suas necessidades materiais, sociais e
culturais. Deve-se lembrar que o Parque Nacional do Superaguí não possui um
plano de manejo,
Há também a violação do Decreto nº 5.051, de 19 de abril de 2014, que
promulgou a convenção nº 169 da Organização Internacional do Trabalho – OIT
sobre Povos Indígenas e Tribais, que diz no seu Art. 2º que “os governos deverão
assumir a responsabilidade de desenvolver, com a participação dos povos
interessados, uma ação coordenada e sistemática com vistas a proteger os direitos
desses povos e a garantir o respeito pela sua integridade”, assegurando aos
Comunidades e localidades: Parque Nacional do membros destes povos “o gozo, em condições de igualdade, dos direitos e
Superaguí. oportunidades que a legislação nacional outorga aos demais membros da
Fonte: Pérez, 2012. população”.
REFERÊNCIAS

Têm-se, desta maneira, um cenário propício à geração de um conflito BRASIL. Decreto nº 6.040, de 7 de fevereiro de 2007. Institui a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e
Comunidades Tradicionais. Diário Oficial da União, Brasília, DF, n. 28, 8 fev. 2007. Seção 1, p.316.
ambiental territorial e distributivo entre o poder público brasileiro e os sujeitos que
BRASIL. Decreto nº 97.688, de 25 de abril de 1989. Cria, no Estado do Paraná, o Parque Nacional do Superaguí, e dá outras
residem neste território. Daí a importância destes sujeitos estarem organizados providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, n.78, 26 abr. 1989. Seção 1, p.6417.
através do Movimento dos Pescadores Artesanais do Litoral do Paraná
BRASIL. Decreto nº 5.051, de 19 de abril de 2004. Promulga a Convenção n.169 da Organização Internacional do Trabalho - OIT
(MOPEAR), pois, esta organização coletiva possibilita aos integrantes “denunciar sobre povos Indígenas e Tribais. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 20 abr. 2004. Seção 1, p.1.
medidas e tomadas de decisão autoritárias e arbitrárias de gestores em posição
BRASIL. Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000. Institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza. Diário Oficial
de poder, que tem promovido a ampliação da desigualdade e da exclusão social da União, Brasília, DF, n. 138, 19 jul. 2000. Seção 1, p.1.
em nossas comunidades, ao desconstituir direitos territoriais, ignorar o BRASIL. Lei nº 9.513, de 20 de novembro de 1997. Amplia os limites do Parque Nacional do Superaguí, criado pelo Decreto nº
reconhecimento e a efetivação de nossos direitos, e impedir a reprodução do 97.688, de 25 de abril de 1989. Diário Oficial da União, Brasília, DF, n. 226, 21 nov. 1997. Seção 1, p.27181.
modo de vida de nossas comunidades, compatíveis com a conservação dos MOVIMENTO DOS PESCADORES E PESCADORAS DO LITORAL DO PARANÁ (MOPEAR). Carta aberta à sociedade brasileira
recursos naturais” (MOPEAR, 2013). O MOPEAR, desde 2008 quando é criado, do Movimento dos Pescadores e Pescadoras do Litoral do Paraná. Guaraqueçaba, 2013. Disponível em:
http://peloterritoriopesqueiro.blogspot.com/2013/12/cartaaberta-sociedade-brasileira-do.html. Acesso em: 20 dez. 2018
mobiliza os pescadores artesanais de Guaraqueçaba-Pr, para que seus modos de .
PÉREZ, M. S. Comunidade tradicional de pescadores e pescadoras artesanais da Vila do Superagui-PR na disputa pela vida:
vida sejam reconhecidos pela sociedade e pelo estado brasileiro, e também pelo Conflitos e resistências territoriais frente a implantação de políticas públicas de desenvolvimento. 148f. Dissertação (Mestrado em
reconhecimento de seus direitos enquanto Comunidades Tradicionais. Geografia), Setor de Ciências da Terra da Universidade Federal d Paraná, Curitiba, 2012.

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