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Apelação Cível Nº 1.0040.09.

097447-4/001

<CABBCAADCBAADDAACBDAACADBAADADAABCDAA
DDADAAAD>
EMENTA: REMESSA NECESSÁRIA /APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO CIVIL
PÚBLICA – MUNICÍPIO DE ARAXÁ – AGENTE POLÍTICO –
GRATIFICAÇÃO NATALINA – ARTIGO 39, § 4º, DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL – LEGISLAÇÃO LOCAL – PREVISÃO – POSSIBILIDADE –
CONSTITUCIONALIDADE RECONHECIDA PELA CORTE SUPERIOR
DESTE TRIBUNAL – IMPRODECÊNCIA DOS PEDIDOS – SENTENÇA
CONFIRMADA – RECURSO NÃO PROVIDO. 1. Embora a Constituição
Federal não estenda os direitos sociais, previstos em seu artigo 39, §3º,
aos agentes políticos, os Municípios detêm autonomia para fixar os
subsídios de tais agentes (art. 29, V e VI, da CF/88), podendo, assim,
estabelecer o pagamento dos referidos direitos. 2. Havendo
comprovação de que, no âmbito do Município de Araxá, há legislação
autorizativa própria acerca da extensão dos direitos previstos no §3º do
art. 39 da Constituição Federal, mostra-se devido o pagamento
de gratificação natalina aos agentes políticos. 3. A Corte Superior deste
e. Tribunal de Justiça, nos autos da ADI nº 1.0000.09.493036-9/001,
rejeitou a arguição de inconstitucionalidade da Lei Municipal nº 5.347/08
e da Lei Municipal nº 5.348/08, que determinam o pagamento de
gratificação natalina para o Prefeito, Vice-Prefeito, Secretários e
Vereadores do Município de Araxá.
APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0040.09.097447-4/001 - COMARCA DE ARAXÁ - APELANTE(S): MINISTÉRIO PÚBLICO DO
ESTADO DE MINAS GERAIS - APELADO(A)(S): MUNICÍPIO DE ARAXÁ, DAÍLSON LETTIERI, JOSÉ GASPAR
FERREIRA DE CASTRO, MATEUS VAZ DE RESENDE, JOSÉ CINCINATO DE ÁVILA, JOSÉ MARIA LEMOS JÚNIOR,
CÉSAR ROMERO DA SILVA, AGNO ROSA DE CASTRO, JOSE DOMINGOS VAZ, JAIRO SÁVIO BORGES, JOÃO
BOSCO, EUSTÁQUIO JOSÉ PEREIRA, CARLOS ROBERTO ROSA, MARCIO ANTONIO DE PAULA DUARTE, EDNA
DE FÁTIMA ALVES DE CASTRO, AIRES DUMONT DE PAIVA BORGES E OUTRO(A)(S), MARCO ANTÔNIO RIOS,
JOÃO BOSCO BORGES, WELLINGTON RODRIGUES GONÇALVES REPDO(A) P/CURADOR(A) ESPECIAL
FLORENCE ALEIXO MONTEIRO, LUCIANO PIRES DE MENDONCA DIAS, ANDRÉ LUÍS SAMPAIO BORGES, ALDA
SANDRA BARBOSA MARQUES, JEOVA MOREIRA DA COSTA E OUTRO(A)(S), MIGUEL ALVES FERREIRA JUNIOR,
CÂMARA MUNICIPAL DE ARAXÁ, LIDIA MARIA DE OLIVEIRA JORDAO ROCHA DA CUNHA, JOAO BOSCO SENA
DE OLIVEIRA, MARLENE BORGES PEREIRA, JOSÉ CLEMENTINO DOS SANTOS E OUTRO(A)(S), LEANDRO
HADDAD, ANTONIO LEONARDO LEMOS DE OLIVEIRA, GIOVANA MARIA MESQUITA DE PAULA GUIMARÃES,
FRANCISCO CARLOS ANTONELLO, ANTÔNIO MARCOS BELO, ÉRICO RIOS FERES, LUIZ ALBERTO BALIEIRO,
CAMILO JOSÉ DE PAIVA, JOSÉ DONALDO BITTENCOURT JÚNIOR

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 2ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal


de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos
julgamentos, em NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO E, NA
REMESSA NECESSÁRIA, CONHECIDA DE OFÍCIO, CONFIRMAR A
R. SENTENÇA.

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DESA. HILDA TEIXEIRA DA COSTA


RELATORA.

DESA. HILDA TEIXEIRA DA COSTA (RELATORA)

VOTO

Trata-se de ação civil pública, com pedido liminar, ajuizada pelo


Ministério Público do Estado de Minas Gerais em face de Município de
Araxa, Câmara Municipal de Araxá, Antônio Leonardo Lemos Oliveira,
Miguel Alves Ferreira Júnior, José Clementino Dos Santos, Edna De
Fátima Alves e Castro, Érico Rios Feres, Marco Antônio Rios, Luiz
Alberto Balieiro, Marlene Borges Pereira, Lídia Maria de Oliveira Jordão
Rocha da Cunha, Camilo José de Paiva, Leandro Haddad, José
Donaldo Bittencourt Júnior, Agno Rosa de Castro, Ayres Dumont de
Paiva Borges, Carlos Roberto Rosa, Dailson Lettieri, Eustaquio José
Pereira, Jairo Sávio Borges, João Bosco, José Cincinato de Ávila, Jose
Domingos Vaz, Wellington Rodrigues Gonçalves, Jeová Moreira da
Costa, Marcio Antonio de Paula Duarte, José Maria Lemos Júnior,
Cesar Romero da Silva, Matheus Vaz de Resende, Jose Gaspar
Ferreira de Castro, Francisco Carlos Antonello, João Bosco Borges,
André Luís Sampaio Borges, Luciano Pires Dias, Alda Sandra Barbosa
Marques, Giovana Maria Mesquita de Paula Guimarães e Antônio
Marcos Belo.
Sustentou o autor, em síntese, que o Município de Araxá pagou
13º no subsídio, anualmente, para os requeridos Prefeito/Ex-Prefeito,
VicePrefeito/Ex-Vice-Prefeito e Secretários/Ex-Secretários, com
fundamento na Lei Municipal nº 4.512, de 29/10/2004, substituída pela
Lei Municipal nº 5.347, de 20/10/2008.

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Asseverou que, da mesma forma, Câmara Municipal de Araxá


pagou 13º no valor do subsídio aos Vereadores/Ex- Vereadores, com
fundamento na Resolução nº 338, de 28/09/2004.
Alegou os referidos pagamentos são ilegais, porquanto
lastreados em atos normativos inconstitucionais, em afronta ao que
estabelece o art. 39, § 3º, da Constituição Federal, texto este reiterado
pela Constituição Estadual de Minas Gerais, em seu art. 31, inexistindo
amparo constitucional para pagamento de 13º salário aos agentes
políticos.
Ao final, pugnou pela procedência dos pedidos para: a) em sede
de liminar, cessar o pagamento de 13º no subsídio; b) confirmar a
liminar, determinando-se ao Município de Araxá e à Câmara Municipal
de Araxá que se abstenham de efetuar o pagamento de 13º no valor
do subsídio aos agentes políticos municipais; c) condenar os
requeridos agentes políticos a ressarcirem para os cofres públicos do
Município de Araxá os valores recebidos, a título de 13º, constantes da
planilha de cálculo que instrui a inicial.
Com a inicial vieram os documentos de fls. 15-219.
Notificados, o Município de Araxá e a Câmara Municipal de
Araxá apresentaram manifestações preliminares acerca do pedido
liminar formulado (fls. 227-233 e 235-245).
Pela decisão de fls. 250-252, foi concedida medida cautelar,
condicionando o pagamento das gratificações natalinas à prestação de
caução real e à obtenção de autorização judicial.
Citados, os requeridos ofereceram contestações,
acompanhadas de documentos (fls. 293-297, fls. 304-329, fls. 330-347,
fls. 413-433, fls. 434-466, fls. 467-544, fls. 608-622, fls. 628-671, fls.
679-719, fls. 886-887 e fls. 992-1.009), todos alegando, em breve
síntese, a inexistência de vedação na Constituição Federal para o
pagamento de 13º no subsídio aos agentes políticos, impondo-se a

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improcedência dos pedidos, porquanto há previsão na legislação local


acerca do referido pagamento.
O d. Juiz „a quo’, Rodrigo Fonseca Caríssimo, em seu „decisum’
de fls. 1.054-1.057, julgou improcedentes os pedidos inicial,
determinando que, após o trânsito em julgado da sentença, sejam
expedidos alvarás para levantamentos das cauções prestadas pelos
réus. Não houve condenação ao pagamento de custas processuais ou
de honorários advocatícios.
Inconformado, o autor interpôs recurso de apelação pelas
razões de fls. 1.059-1.063, alegando, em síntese, que a ADI nº
1.0000.09.493036-9/001, na qual foram julgadas constitucionais as leis
municipais de Araxá que concedem 13º salários aos agentes políticos
ainda não transitou em julgado, porquanto sobrestado o julgamento de
recurso extraordinário, que aguarda decisão de caso paradigma pelo
Supremo Tribunal Federal (RE nº 650898).
Assevera que, não obstante a autonomia do Município,
assegurada nos art. 18 e 29 da CF/88, a aplicabilidade dos direitos
sociais, arrolados no art. 7º da Magna Carta, somente tem cabimento
se expressamente autorizada pelo texto constitucional.
Sustenta que a gratificação natalina é indevida aos agentes
políticos, detentores de mandato eletivo, posto que estes não se
enquadram na definição de servidores ocupantes de cargo público.
Ao final, pugnou pelo provimento do recurso, para que sejam
julgados procedentes os pedidos iniciais.
Recurso isento de preparo.
Contrarrazões às fls. 1.071-1.077, fls. 1.084-1.089, fls. 1.096-
1.101, fls. 1.102-1.109, fls. 1.116-1.121 e fls. 1.136-1.147.
A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer da lavra do
ilustre Procurador de Justiça Geraldo Magela Carvalho Fiorentini,
opinou pela reforma da sentença, na remessa necessária.

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É o relatório.
Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do
recurso voluntário. Conheço, ainda, da remessa necessária e o faço de
ofício, sob entendimento de aplicação analógica do art. 19 da Lei nº
4.717/65, diante de sentença de improcedência em ação civil pública.
Inicialmente, cumpre registrar que o recurso extraordinário,
interposto pelo autor nos autos da ADI de nº 1.0000.09.493036-9/001,
por não possuir efeito suspensivo, não tem o condão de obstar o
reconhecimento da constitucionalidade da legislação local, pertinente
ao pagamente de gratificação natalina aos agentes políticos do
Município de Araxá.
Por outro lado, o sobrestamento do presente feito, em razão de
sua vinculação ao caso paradigma apontado (RE nº 650898) somente
seria possível no caso de haver expressa determinação para tal,
conforme previsão do artigo 543-B do Código de Processo Civil de
1973, vigente à época do reconhecimento da repercussão geral da
matéria tratada naquele recurso.
No caso, na decisão que acolheu a tese de existência de
repercussão geral, não há determinação de sobrestamento dos
processos que versassem sobre matéria idêntica.
A propósito, a decisão da Suprema Corte restou assim
ementada, ‘in verbis’:
“CONSTITUCIONAL. REPERCUSSÃO GERAL.
TRIBUTÁRIO. SERVIDOR PÚBLICO FEDERAL.
REGIME PREVIDENCIÁRIO. CONTRIBUIÇÃO.
BASE DE CÁLCULO. TERÇO CONSTITUCIONAL
DE FÉRIAS. GRATIFICAÇÃO NATALINA (DÉCIMO-
TERCEIRO SALÁRIO). HORAS EXTRAS. OUTROS
PAGAMENTOS DE CARÁTER TRANSITÓRIO. LEIS
9.783/1999 E 10.887/2004. CARACTERIZAÇÃO DOS
VALORES COMO REMUNERAÇÃO (BASE DE
CÁLCULO DO TRIBUTO). ACÓRDÃO QUE
CONCLUI PELA PRESENÇA DE PROPÓSITO
ATUARIAL NA INCLUSÃO DOS VALORES NA BASE
DE CÁLCULO DO TRIBUTO (SOLIDARIEDADE DO

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SISTEMA DE CUSTEIO). 1. Recurso extraordinário


em que se discute a exigibilidade da contribuição
previdenciária incidente sobre adicionais e
gratificações temporárias, tais como 'terço de férias',
'serviços extraordinários', 'adicional noturno', e
'adicional de insalubridade'. Discussão sobre a
caracterização dos valores como remuneração, e,
portanto, insertos ou não na base de cálculo do
tributo. Alegada impossibilidade de criação de fonte
de custeio sem contrapartida de benefício direto ao
contribuinte. Alcance do sistema previdenciário
solidário e submetido ao equilíbrio atuarial e financeiro
(arts. 40, 150, IV e 195, § 5º da Constituição). 2.
Encaminhamento da questão pela existência de
repercussão geral da matéria constitucional
controvertida.” (RE n.° 593068 RG, Relator(a): Min.
JOAQUIM BARBOSA, julgado em 07/05/2009, DJe-
094 DIVULG 21-05-2009 PUBLIC 22-05-2009 EMENT
VOL-02361-08 PP-01636 LEXSTF v. 31, n. 365, 2009,
p. 285-295).

Registre-se, por oportuno, que também no Novo Código de


Processo Civil de 2015 há previsão (art. 1.036, §1º) para que se
determine a “suspensão do trâmite de todos os processos pendentes”,
devendo tal comando emanar do Presidente ou Vice-presidente do
Tribunal, situação não verificada no caso em apreço.
Assim, verificando-se que não restou determinado o
sobrestamento das ações com matérias idênticas à demanda, a qual
possuiu a repercussão geral reconhecida pelo Supremo Tribunal
Federal, inexiste razão para a suspensão do presente feito.
Cinge-se a controvérsia dos autos em aferir a existência de
direito dos réus, ocupantes de cargos de agentes políticos do Município
de Araxá, à percepção de gratificação natalina (décimo terceiro
subsídio).
Data venia, em que pese os doutos argumentos lançados pelo
autor em suas razões recursais, tenho que a sentença não merece
reparos.

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Inicialmente, observa-se que a natureza jurídica do cargo


ocupado pelos réus é política, sendo sabido que os Prefeitos,
Vereadores e Secretários Municipais exercem um múnus público,
atuando como agentes políticos.
Acerca do tema, mostra-se pertinente a citação dos
ensinamentos de Hely Lopes Meirelles, in verbis:
"Agentes políticos: são os componentes do Governo
nos seus primeiros escalões, investidos em cargos,
funções, mandatos ou comissões, por nomeação,
eleição, designação ou delegação para o exercício de
atribuições constitucionais. Esses agentes atuam com
plena liberdade funcional, desempenhando suas
atribuições com prerrogativas e responsabilidades
próprias, estabelecidas na Constituição e em leis
especiais. Têm normas específicas para sua escolha,
investidura, conduta e processos por crimes
funcionais e de responsabilidade, que lhes são
privativos". (in. Direito Administrativo Brasileiro. 41ª
edição. São Paulo: Malheiros Editores, 2015, p. 78).

Em relação aos agentes políticos, estabelece a Constituição


Federal de 1988, in verbis:
“Art. 39 - A União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios instituirão conselho de política de
administração e remuneração de pessoal, integrado
por servidores designados pelos respectivos Poderes.
(...)
§ 3º Aplica-se aos servidores ocupantes de cargo
público o disposto no art. 7º, IV, VII, VIII, IX, XII, XIII,
XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XX, XXII e XXX, podendo a
lei estabelecer requisitos diferenciados de admissão
quando a natureza do cargo o exigir.
§4º - O membro de Poder, o detentor de mandato
eletivo, os Ministros de Estado e os Secretários
Estaduais e Municipais serão remunerados
exclusivamente por subsídio fixado em parcela única,
vedado o acréscimo de qualquer gratificação,
adicional, abono, prêmio, verba de representação ou
outra espécie remuneratória, obedecido, em qualquer
caso, o disposto no art. 37, X e XI.
(...)
Art. 37 - (...)
X - a remuneração dos servidores públicos e o
subsídio de que trata o §4º do art. 39 somente

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poderão ser fixados ou alterados por lei específica,


observada a iniciativa privativa em cada caso,
assegurada revisão geral anual, sempre na mesma
data e sem distinção de índices”.

Dessa forma, pela análise dos referidos dispositivos


constitucionais, extrai-se que a pretensão de recebimento de direitos
trabalhistas pelos agentes políticos somente é possível diante previsão
expressa em lei específica.
Neste sentido, já se manifestou o c. Superior Tribunal de
Justiça:
“AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL.
ADMINISTRATIVO. AGENTES POLÍTICOS.
PRETENSÃO AO PAGAMENTO DE DÉCIMO
TERCEIRO SALÁRIO. A aplicabilidade dos direitos
sociais, como a gratificação natalina, aos agentes
políticos somente é cabível se expressamente
autorizada por lei (precedente: REsp 837.188/DF, 6ª
Turma, Rel. Min. Hamilton Carvalhido, DJe de
04.08.2008). Agravo regimental desprovido. (AgRg no
REsp 742.171/DF, Rel. Ministro FELIX FISCHER,
QUINTA TURMA, julgado em 03/02/2009, DJe
02/03/2009)

Dessa forma, embora a Constituição Federal não estenda os


direitos sociais, previstos em seu artigo 39, §3º, aos agentes políticos,
os Municípios detêm autonomia para fixar os subsídios de tais agentes
(art. 29, V e VI, da CF/88), podendo, assim, estabelecer o pagamento
dos referidos direitos.
Ocorre que, no caso específico dos autos, conforme o próprio
autor reconhece na inicial, há previsão na legislação local para o
pagamento da referida verba (gratificação natalina) aos réus (agentes
políticos), razão pela qual não há que se falar na ilegalidade dos
pagamentos discutidos nos autos.
No tocante à constitucionalidade das Leis Municipais
questionada nos presentes autos (Lei nº 5.347/08 e Lei nº 5.348/08),
que determinam o pagamento de gratificação natalina para o Prefeito,

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Vice-Prefeito, Secretários e Vereadores do Município de Araxá, vê-se


que a Corte Superior deste e. Tribunal de Justiça, rejeitou a arguição
de inconstitucionalidade, nos autos da ADI nº 1.0000.09.493036-9/001,
cujo acórdão ficou assim ementado:
“Ação Direta de Inconstitucionalidade. Leis
Municipais. Pagamento de gratificação natalina a
Prefeito e Vereadores. Constitucionalidade. A Lei
Municipal que assegura o pagamento de gratificação
natalina para Prefeito, Vice-Prefeito, Secretários
Municipais e Vereadores não é inconstitucional, à
medida que o benefício é conquista do trabalhador,
previsto no art. 7º, VIII da Constituição Federal. Ação
direta julgada improcedente.” (TJMG - Ação Direta
Inconst 1.0000.09.493036-9/000, Relator(a): Des.(a)
Almeida Melo , CORTE SUPERIOR, julgamento em
28/10/2009, publicação da súmula em 12/02/2010).

O referido posicionamento apenas espelha a jurisprudência


consolidada neste e. Tribunal de Justiça, no sentido de que é possível
o pagamento de gratificação natalina a agentes políticos, desde que
haja expressa determinação legal.
Neste sentido, cito os seguintes julgados:
“EMENTA: AÇÃO CIVIL PÚBLICA - GRATIFICAÇÃO
NATALINA PAGA AOS VEREADORES DO
MUNICÍPIO DE BOM DESPACHO - REJEIÇÃO DE
ARGUIÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE, PELO
ÓRGÃO ESPECIAL DESTE EG. TJMG, DE ATOS
NORMATIVOS DE OUTROS MUNICÍPIOS,
ENVOLVENDO A MESMA QUESTÃO ORA POSTA À
APRECIAÇÃO DESTA TURMA JULGADORA -
PEDIDO INICIAL JULGADO IMPROCEDENTE -
RECURSO DESPROVIDO. - O Órgão Especial deste
eg. Tribunal de Justiça tem entendido, por maioria,
constitucionais atos normativos municipais que
dispõem acerca do pagamento de gratificação
natalina (décimo terceiro salário) a Vereadores. -
Pedido julgado improcedente. Recurso desprovido.
(TJMG - Apelação Cível 1.0074.09.054529-9/002,
Relator(a): Des.(a) Eduardo Andrade , 1ª CÂMARA
CÍVEL, julgamento em 12/08/2014, publicação da
súmula em 21/08/2014);

“EMENTA: AÇÃO DIRETA DE


INCONSTITUCIONALIDADE - LEI MUNICIPAL -

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PREVISÃO DE PAGAMENTO DE 13º SUBSÍDIO


AOS AGENTES POLÍTICOS MUNICIPAIS -
PREFEITO, VICE-PREFEITO E VEREADORES -
POSSIBILIDADE - PRECEDENTE DO COLENDO
STJ - INCONSTITUCIONALIDADE - NÃO
CONFIGURAÇÃO - IMPROCEDÊNCIA DA AÇÃO. -
Não há que se falar em inconstitucionalidade de Lei
Municipal que concede aos agentes políticos do
Município o direito à percepção do 13º salários, haja
vista que, conforme precedentes do STJ, embora a
remuneração dos vereadores seja fixada sob a forma
de subsídio, tal fato não lhes retira a possibilidade de
percepção dos direitos assegurados aos
trabalhadores em geral, previstos na Constituição
Federal (art. 7ª), neles incluída a gratificação natalina,
notadamente porque a interpretação dos direitos
fundamentais deve ser ampliativa e não restritiva.
(TJMG - Ação Direta Inconst 1.0000.11.042600-
4/000, Relator(a): Des.(a) Elias Camilo , ÓRGÃO
ESPECIAL, julgamento em 24/04/2013, publicação da
súmula em 01/07/2013);

“EMENTA: AÇÃO CIVIL PÚBLICA - PREFEITO,


VICE-PREFEITO E SECRETÁRIOS MUNICIPAIS -
DÉCIMO TERCEIRO SALÁRIO - LEI MUNICIPAL -
EXPRESSA PREVISÃO - POSSIBILIDADE. - É
possível o recebimento de gratificação de natal (13º
salário) pelos agentes políticos na hipótese em que
houver expressa previsão em dispositivo de lei
municipal.” (TJMG - Apelação Cível
1.0133.09.047331-4/002, Relator(a): Des.(a) Vanessa
Verdolim Hudson Andrade , 1ª CÂMARA CÍVEL,
julgamento em 04/12/2012, publicação da súmula em
14/12/2012).

Assim, havendo comprovação de que, no âmbito do Município


de Araxá, há legislação autorizativa própria acerca da extensão dos
direitos previstos no §3º do art. 39 da Constituição Federal, mostra-se
devido o pagamento de gratificação natalina aos agentes políticos,
impondo-se a confirmação da sentença que julgou improcedentes os
pedidos inicias.
Com tais considerações, nego provimento ao recurso e, na
remessa necessária, conhecida de ofício, confirmo a r. sentença.

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Custas recursais pelo apelante, mas observada sua isenção


legal.
DES. AFRÂNIO VILELA

Também conheço do recurso e acompanho a e. Relatora,


Desembargadora Hilda Teixeira da Costa, para manter a sentença em
reexame necessário e negar provimento ao recurso.
Isso porque há muito comungo do entendimento sufragado pela
e. Relatora, segundo o qual, não obstante a Constituição da República
não preveja direitos sociais aos agentes políticos (artigo 39, §3º), os
Municípios possuem autonomia para fixar os subsídios e estabelecer
estes direitos (art. 29, V e VI, da CR/88).
Com efeito, agentes políticos são espécie do gênero agentes
públicos que se ligam à ideia de governo, função política, que
investidos em cargos, funções, mandatos ou comissões, por
nomeação, eleição ou designação exercem atribuições que compõe o
arcabouço constitucional do Estado.
Em substituição à remuneração ou vencimento, auferem
subsídio, que é importância paga pelo Estado a determinadas
categorias de agentes públicos, com caráter alimentar, disposto no
artigo 39, §4º, introduzido pela EC 19/98, verbis:
“Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios instituirão, no âmbito de sua competência,
regime jurídico único e planos de carreira para os servidores
da administração pública direta, das autarquias e das
fundações públicas. (...)
§ 4º O membro de Poder, o detentor de mandato eletivo, os
Ministros de Estado e os Secretários Estaduais e Municipais
serão remunerados exclusivamente por subsídio fixado em
parcela única, vedado o acréscimo de qualquer gratificação,
adicional, abono, prêmio, verba de representação ou outra
espécie remuneratória, obedecido, em qualquer caso, o
disposto no art. 37, X e XI.”

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Apelação Cível Nº 1.0040.09.097447-4/001

A norma veio vedar o padrão fixado em lei mais vantagens


variadas previstas no estatuto, já que há expressa proibição à
cumulação de gratificação, adicional, abono, verba de representação
ou outra espécie remuneratória.
Entretanto, embora fale em parcela única, a própria Constituição
da República, no artigo 39, §3º, determina a aplicação aos ocupantes
de cargo público do disposto no artigo 7º. Veja-se:

“§ 3º Aplica-se aos servidores ocupantes de cargo público


o disposto no art. 7º, IV, VII, VIII, IX, XII, XIII, XV, XVI, XVII,
XVIII, XIX, XX, XXII e XXX, podendo a lei estabelecer
requisitos diferenciados de admissão quando a natureza do
cargo o exigir.” (grifei)

O supracitado parágrafo não distingue a forma de contribuição


do servidor para que faça jus às vantagens, de modo que, conquanto
haja a previsão de pagamento em parcela única, a própria constituição
consagrou entre seus fundamentos o direito a estas vantagens ainda
que, num primeiro momento, a interpretação das normas possa
parecer conflitante.
Conclui-se que o que se veda é a concessão de aumentos,
denominados vantagens pessoais, e não as parcelas remuneratórias e
indenizatórias previstas na Constituição, sob pena de afronta ao
princípio da isonomia.
Nesse sentido, manifestei-me em algumas ocasiões:

“EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - MANDADO DE


SEGURANÇA - AGENTE POLÍTICO - SECRETÁRIOS
MUNICIPAIS - MUNICÍPIO DE SÃO PEDRO DO SUAÇUÍ -
GRATIFICAÇÃO NATALINA - ARTIGO 39, §§ 3º E 4º DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL - LEI MUNICIPAL 771/2004 -
PREVISÃO - DIREITO ASSEGURADO - SEGURANÇA
CONCEDIDA - SENTENÇA MANTIDA.
A hermenêutica da regra constitucional contida nos
parágrafos 3º e 4º, do artigo 39, faz concluir que o servidor
público efetivo nomeado para a função de secretário

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municipal, cargo público, tem direito à percepção de


gratificação natalina quando a lei local a preveja. (TJMG -
Reexame Necessário-Cv 1.0486.08.017614-3/001,
Relator(a): Des.(a) Afrânio Vilela , 2ª CÂMARA CÍVEL,
julgamento em 30/04/2013, publicação da súmula em
13/05/2013)”

“APELAÇÃO CÍVEL - MANDADO DE SEGURANÇA -


AGENTE POLÍTICO - SECRETÁRIO MUNICIPAL DE MEIO
AMBIENTE DE SETE LAGOAS - GRATIFICAÇÃO
NATALINA - ARTIGO 39, §§ 3º E 4º DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL - LEI MUNICIPAL 6.421/00 - PREVISÃO -
DIREITO ASSEGURADO - SEGURANÇA CONCEDIDA -
SENTENÇA MANTIDA.
A hermenêutica da regra constitucional contida nos
parágrafos 3º e 4º, do artigo 39, faz concluir que o servidor
público efetivo nomeado para a função de secretario
municipal, cargo público, tem direito à percepção de
gratificação natalina quando a lei local a preveja.” (Ap
Cível/Reex Necessário 1.0672.08.318647-4/001, Rel.
Des.(a) Afrânio Vilela, 2ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em
04/05/2010, publicação da súmula em 02/06/2010)”

O Colendo STJ possui entendimento nesse sentido:

“AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL.


ADMINISTRATIVO. AGENTES POLÍTICOS. PRETENSÃO
AO PAGAMENTO DE DÉCIMO TERCEIRO SALÁRIO.
A aplicabilidade dos direitos sociais, como a gratificação
natalina, aos agentes políticos somente é cabível se
expressamente autorizada por lei (precedente: REsp
837.188/DF, 6ª Turma, Rel. Min. Hamilton Carvalhido, DJe
de 04.08.2008).
Agravo regimental desprovido.
(AgRg no REsp 742.171/DF, Rel. Ministro FELIX FISCHER,
QUINTA TURMA, julgado em 03/02/2009, DJe 02/03/2009)”

RECURSO ESPECIAL. PREVIDENCIÁRIO E


ADMINISTRATIVO. PENSÃO DE EX-DEPUTADO
FEDERAL. INSTITUTO DE REVIDÊNCIA DOS
CONGRESSISTAS. AGENTES POLÍTICOS. PRETENSÃO
AO PAGAMENTO DE DÉCIMO TERCEIRO SALÁRIO.
AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL. RECURSO
PARCIALMENTE PROVIDO.
1. A Lei nº 9.506, de 30 de outubro de 1997, nos próprios
termos de seu artigo 1º, aplica-se aos benefícios em
manutenção, concedidos sob a égide da lei anterior.

Fl. 13/14
Apelação Cível Nº 1.0040.09.097447-4/001

2. A percepção da pensão por morte no valor


correspondente à integralidade dos proventos de
aposentadoria do ex-parlamentar falecido é devida a partir
da vigência da Lei nº 9.506/97, atualizados com base na
legislação vigente à data da publicação desta lei.
3. A gratificação natalina depende de previsão legal.
4. Recurso especial parcialmente provido. REsp 837188 /
DF, rel. Ministro HAMILTON CARVALHIDO, j. 26/02/2008”

No caso em exame, o Município de Araxá possui leis locais (Leis


n. 5.347/08 e 5.348/08) prevendo o pagamento da referida verba
(gratificação natalina) ao Prefeito, Vice-Prefeito, Secretários e
Vereadores.
E referidas normas, como muito bem observou a e. Relatora,
foram consideradas constitucionais quando arguido perante o Órgão
Especial deste Sodalício (ADI nº 1.0000.09.493036-9/001).
Não se olvida este julgador de que a matéria foi reconhecida
como de repercussão geral (RE nº 650898), não havendo, todavia,
expressa determinação de sobrestamento dos feitos que discutem a
mesma matéria, o que seria imprescindível para tanto.
Isso posto, acompanho a e. Relatora, Desembargadora Hilda
Teixeira da Costa, em seu judicioso voto, para confirmar a sentença
em reexame necessário, negando provimento ao apelo voluntário.
É como voto.

DES. CAETANO LEVI LOPES - De acordo com o(a) Relator(a).

SÚMULA: "NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO


E, NA REMESSA NECESSÁRIA, CONHECIDA DE OFÍCIO,
CONFIRMARAM A SENTENÇA."

Fl. 14/14

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