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GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO | SECRETARIA DE ESTADO DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E DESENVOLVIMENTO SOCIAL
SUMÁRIO
12
3 | ASTRONOMIA
Software desenvolvido por
19
pesquisador no Observatório de
Valongo pode ajudar a desvendar
detalhes dos corpos celestes no
Sistema Solar
15 | REPORTAGEM DE CAPA
Estudo de sítios paleontológicos
6 | MATEMÁTICA no Nordeste, com a participação
Brasil entra no grupo das nações de pesquisadores da Uerj, ajuda a
mais desenvolvidas do mundo em desvendar como era a vida na região
pesquisa na área da Matemática nos últimos 125 milhões de anos
19 | SAÚDE
9 | CULTURA Pesquisador da UFRJ avalia os riscos
Voltado ao público infantil, livro O
do uso dos parabenos, usados como
Corcovado conta histórias estimula o
conservantes nos fotoprotetores
conhecimento histórico do bairro de
Botafogo
24 | MEMÓRIA
Reedição de livro de autoria de
12 | BIOLOGIA Castro Maya celebra a memória da
Pesquisa desenvolvida na UFRRJ testa
Floresta da Tijuca
controle biológico do mosquito Aedes
aegypti
28 | MUDANÇAS CLIMÁTICAS
Organizado por FAPERJ e UFRJ,
workshop visa promover o estudo
e monitoramento do Atlântico Sul,
conectando tecnologias diversas
por meio cooperação científica
internacional
9 30 | EDITORAÇÃO
Programa Auxílio à Editoração (APQ
3) da FAPERJ, criado em 2000,
vem promovendo a preservação da
memória fluminense e fornecendo
obras de referência para várias áreas
do conhecimento
O
aprendizado da Matemática, O Impa, felizmente, não é uma ilha
disciplina que em anos recen- refugiada em sua excelência, isolada
tes vem ganhando, ao lado do do resto do País. Desde 2005, o insti- SECRETARIA DE
CIÊNCIA, TECNOLOGIA E
DESENVOLVIMENTO SOCIAL
Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo
à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro
Foto de capa:
Minicânion em Lajedo de Soledade (RN),
por Hermínio Ismael de Araújo Júnior
As opiniões expressas em
Retratada na gravura acima, realizada pelo empresário e mecenas Raymundo Ottoni artigos de colaboradores e
francês Fisquet no início do século XIX, a de Castro Maya. Cinquenta anos depois da pesquisadores convidados são de
Cascatinha da Tijuca está na reedição da edição de estreia, o volume ganhou uma responsabilidade de seus autores
obra A Floresta da Tijuca, de autoria do nova impressão. Confira à pág. 24.
Batizado de ‘Praia’,
S
ejam eles românticos, sonha-
dores, aventureiros, apaixo- software desenvolvido
nados, pensadores ou apenas
distraídos. Muitos são os admirado- por pesquisador no
res de uma noite estrelada. Contudo,
além de “enfeitar” o céu, o brilho Observatório de Valongo
das estrelas tem uma função extre-
mamente importante para a Astrono- pode ajudar a desvendar
mia. Essa luz que as estrelas emanam
pode revelar diversos aspectos dos
nosso Sistema Solar
corpos celestes mais longínquos do
Sistema Solar. Quando um objeto es-
pacial, por mais distante que esteja,
e por menor que seja, passa na frente
Foto: Divulgação
de uma estrela, seja um planeta, um
asteroide ou um satélite, a conse-
quente queda aparente do brilho da
estrela é capaz de revelar a presença
ou não de atmosfera, o tamanho,
forma e até densidade e composi-
ção desse corpo. Esse fenômeno
é chamado de ocultação estelar. E Imagem de Júpiter, captada em 2009
descobrir quais as datas precisas em pelo telescópio do Observatório
que determinados corpos celestes do Pico dos Dias (MG): o software
Praia foi usado na fotometris das
passarão na frente de uma estrela, observações de uma rara ocultação
e de onde na Terra isso poderá ser estelar do próprio planeta
visto, tem sido o trabalho de um
grupo de astrônomos brasileiros, roides, satélites – do nosso Sistema Para ajudar nesse trabalho tão im-
conhecidos no Brasil e no exterior Solar por serem a única técnica que portante, Assafin criou e desenvol-
como o “Grupo do Rio”, em alusão permite, da Terra, inferir o tamanho veu um software chamado Pacote
ao fato de praticamente todos eles e a forma do corpo com precisão de de Redução Automática de Imagens
estarem sediados em instituições de poucos quilômetros, mesmo que este Astronômicas (Praia), uma ferra-
pesquisa e ensino na cidade do Rio seja relativamente pequeno e se en- menta que, entre outras funções,
de Janeiro. contre a grandes distâncias de nós”, ajuda na predição de quando um
O grupo brasileiro mantém estreita afirma Marcelo Assafin, professor corpo celeste passará em frente a
colaboração com grupos internacio- do Observatório do Valongo (OV), uma estrela, e onde na Terra isso
nais de observação de ocultações vinculado a Universidade Federal do será visível. “A partir do uso de
estelares. “As ocultações estelares Rio de Janeiro (UFRJ), e astrônomo modernos catálogos astrométricos,
ganharam enorme importância no afiliado ao Laboratório Interinstitu- que contém posições de referência
estudo de corpos – planetas, aste- cional de e-Astronomia (LIneA). precisas para as estrelas do céu, o
Fotos: Divulgação
análise precisa das características de outros profissionais, os astrôno-
desse objeto, de forma independen- mos Roberto Vieira Martins, Julio
te das observações feitas pela sonda I. B. Camargo e Gustavo Benedetti
Cassini. “Essas descobertas são Rossi, do Observatório Nacional
fundamentais para que possamos (ON); Felipe Braga-Ribas, da Uni-
entender os mecanismos prováveis versidade Tecnológica Federal do
para a evolução do sistema solar até Paraná (UTFPR); e Altair Ramos
hoje e também para que saibamos o Gomes Júnior, que recentemente
que pode vir a acontecer no futuro”, defendeu seu doutorado na UFRJ
conta Assafin. sob minha orientação. Estamos
empenhados em divulgar o Praia
O software desenvolvido pelo as-
para toda a comunidade nacional
trônomo também tem sido utilizado
e internacional e disponibilizá-lo
por pesquisadores internacionais,
em uma plataforma on-line. Para
sendo os últimos a fazer trabalhos
isso, tenho contado com o apoio
com essa ferramenta, do Instituto de
do LIneA, que tem cedido toda a
Mecânica Celeste e Cálculo de Efe-
infraestrutura para que isso se torne
Marcelo Assafin, o astrônomo que criou mérides do Observatório de Paris,
o software Praia: utilização em pesquisas possível”, finaliza o astrônomo.
nacionais e internacionais
França (IMCCE – Observatoire de
Paris). O Praia também vem sendo Pesquisador: Marcelo Assafin
usado para auxiliar na colaboração Instituição: Universidade Federal do
aparente da sua silhueta causa uma do levantamento internacional Dark Rio de Janeiro (UFRJ)
variação da luz refletida com o tem- Energy Survey (DES), que tem o Fomento: Auxílio à Pesquisa (APQ 1)
po. O Praia processa essas imagens objetivo de estudar a natureza da
captadas de asteroides e gera as energia escura, responsável pela
chamadas curvas de luz oriundas da expansão acelerada do universo.
variação do brilho com o tempo. A
análise dessas curvas de luz permite O astrônomo conta que, para de-
determinar quais são as dimensões senvolver o Praia, ele se baseou em
relativas desse asteroide, ou seja, quase 30 anos de experiência obser-
as proporções dos eixos principais vacional e no tratamento de posi-
do corpo”. ções e brilho de objetos em imagens
digitais. Agora, ele trabalha na
Com o auxílio do Praia, importantes atualização de algumas caracterís-
descobertas foram feitas recente- ticas da ferramenta. “Nessa tarefa,
mente no campo da Astronomia. venho contando com a colaboração
Uma delas foi a descoberta que
o objeto Chariklo, um pequeno
asteroide de 200 quilômetros de
diâmetro, atualmente confinado Febe de Saturno: com
entre as órbitas de Saturno e Urano o auxílio do software,
em torno do Sol, possui dois anéis foi realizado a predição
bem-sucedida da primeira
bem definidos, com um espaça- ocultação estelar
mento de aproximadamente nove observada até hoje de um
quilômetros entre eles. É a primeira satélite irregular
Foto: Reprodução
Um Rio de histórias
Danielle Kiffer nhecimento in loco através de pas-
seios que podem ser realizados pelo Destinado a
crianças, livro
J
á imaginou poder embarcar em bairro, especialmente para crianças
um passeio para conhecer me- do 2° ao 4° ano fundamental e,
lhor Botafogo, um dos bairros dessa forma, viabilizar e estimular O Corcovado
mais tradicionais do Rio, com todo um turismo diferente, em que esses
o seu conteúdo histórico? Com o jovens passam a reconhecer o lo- conta histórias
livro recém-lançado pela editora cal e, ao mesmo tempo, aprendem
Ex-Libris O Corcovado conta his- sobre seu legado histórico, vendo a estimula o
tórias, isso é possível. Dando asas cidade com outros olhos”, explica
à imaginação, a historiadora Kaori Kaori. A publicação contou com conhecimento
Kodama, da Fundação Oswaldo
Cruz (Fiocruz), se utilizou da ficção
o auxílio da FAPERJ por meio do
edital Apoio à Produção e Publi-
histórico do
para mostrar o bairro, desde a era de
um Brasil recém-descoberto pelos
cação de Livros e DVDs Visando
à Celebração dos 450 Anos da Ci-
bairro de
portugueses, no ano de 1568, e dade do Rio de Janeiro. O projeto Botafogo
habitado primordialmente pelos ín- foi idealizado pela historiadora
dios. “A intenção, ao escrever esse com a equipe da Espaço e Vida,
livro, foi proporcionar um material empresa especializada em turismo
que unisse história, geografia e co- educacional.
Reprodução de um trecho do
livro, em que os personagens
são apresentados a Botafogo
por um índio tupinambá
Foto: Divulgação
Tudo começa quando dois amigos,
Clara e Pedro, decidem subir o Cor-
covado, o personagem central do
livro. Em determinado momento, é
o próprio morro-símbolo da cidade
que toma vida e passa a conversar
com as crianças, contando a história
do bairro. “Além de o Corcovado
ser um ponto de referência turística
na cidade, lá do alto consegue-se
ver Botafogo por inteiro”, diz a his-
toriadora. Ainda perplexas por con-
versar com o próprio Corcovado,
Clara e Pedro acham uma máquina
do tempo. A partir daí, começa o
mergulho histórico no bairro.
Em 1568, as crianças encontram
O ilustrador, Guto Lins, e a autora, Kaori Kodama: para ela, ilustrações têm papel fundamental
o indiozinho tupinambá Teçá, que para tornar a leitura atraente, não apenas para as crianças, mas também para os adultos
lhes mostra os rios que corriam pelo
bairro e que hoje, em sua maioria,
passam por debaixo do asfalto. Em res, por exemplo, podem tornar-se bairro. Neste ano de 2018, o livro
uma canoa, passam pelo rio Ber- mediadores e guias turísticos para tem sido levado a escolas propondo
quó, que, conforme explica o livro, os mais jovens, criando roteiros atividades para as crianças do ensi-
pode ter um trechinho canalizado, que permitam conhecer histórica e no Fundamental I.
visto dentro do Cemitério São João culturalmente o bairro”, explica. O Pesquisadora: Kaori Kodama
Batista. Elas veem, deslumbradas, livro pode ser adquirido através do Instituição: Fundação Oswaldo Cruz
um bairro bastante diferente, ainda shotsite https://espacoevida2017. (Fiocruz)
despovoado. Depois de aprender wixsite.com/corcovado Além do Fomento: edital Apoio à Produção
um pouco da linguagem dos tu- livro à venda, é possível baixar o e Publicação de Livros e DVDs
pinambás e de ver os botos-cinza, caderno de atividades em formato Visando à Celebração dos 450
figurinhas fáceis na enseada de de e-book. Anos da Cidade do Rio de Janeiro
Botafogo à ocasião, Clara e Pedro O Corcovado conta histórias foi
continuam sua viagem pelo tempo. lançado em maio de 2017, no pátio
Agora, eles rumam para 1700 e do Museu Villa-Lobos, situado
são recepcionados por Rita, filha na tradicional Rua Sorocaba, em
de escravos, que lhes apresenta Botafogo, em evento marcado pela
um Botafogo ainda rural, cheio de apresentação da orquestra Tuhu,
plantações. Em cada época, as duas formada por jovens do projeto
crianças encontram personagens social “Villa Lobos e as Crianças”.
que lhes contam curiosidades e Uma equipe de recreação e outra
diferentes aspectos do bairro. de contadores de histórias leram
Tudo isso se soma às divertidas trechos do livro e brincaram com
ilustrações de Guto Lins, tornando as crianças. Certamente, foi um
o livro aprazível não só para crian- jeito divertido de aprender sobre o
ças, como também para adultos.
“É muito interessante que todos se
interessem pela leitura, pois com- A obra reúne História, Geografia
e conhecimento in loco, com
plementa muito o objetivo do meu sugestões de passeios que podem
trabalho. Pais, mães, tios, professo- ser realizados pelo bairro
A
lguns fungos podem ajudar, ferentes espécies de invertebrados, volvimento de formulações que
naturalmente, no combate incluindo mosquitos e carrapatos. potencializem a virulência desses
a mosquitos, como o Aedes fungos é um passo extremamente
Ao entrarem em contato com esses
aegypti, transmissor de vírus que importante para a implementação
invertebrados, os fungos normal-
causam doenças como dengue, zika, de novas estratégias de controle
mente aderem à superfície externa
febre amarela urbana e chikun- desses mosquitos. A ideia não é
do corpo deles, na forma de espo-
gunya, e ao inseto conhecido popu- substituir totalmente o uso de pro-
ros microscópicos – geralmente
larmente como “mosquito-palha”, dutos químicos, mas pelo menos
esporos assexuados, denominados
do gênero Lutzomyia, responsável minimizar o seu uso, a partir de
conídios. Quando submetidos a
pela transmissão do agente etioló- um manejo integrado de controle.
condições adequadas de tempe-
gico da leishmaniose. Denominados Reduzir o uso de inseticidas artifi-
ratura e umidade elevada, esses
fungos entomopatogênicos, pela ciais é importante para gerar menos
esporos germinam, desenvolvem
capacidade de parasitar e até de impactos ambientais e evitar danos
hifas e colonizam a cutícula do
matar esses insetos, agindo como a humanos e animais, além de ser
inseto, podendo perfurá-la e atin-
“inseticidas” biológicos, eles são o bastante eficaz”, destaca.
gir a cavidade corporal do inseto,
objeto de um estudo desenvolvido
causando sua morte. Inseticidas sintéticos têm sido uti-
na Universidade Federal Rural do
lizados para o controle de larvas
Rio de Janeiro (UFRRJ), no mu- “Estamos desenvolvendo uma
e adultos de Aedes aegypti, entre-
nicípio fluminense de Seropédica, formulação líquida, à base de
tanto vários estudos mostraram a
sob a coordenação da professora e fungos e óleo natural de aroeira,
resistência desse mosquito a três
médica veterinária Isabele da Costa que protege os fungos contra a
importantes grupos de inseticidas:
Angelo, que é Jovem Cientista do radiação solar, para ser adicionada
organofosforado, piretroides e car-
Nosso Estado, da FAPERJ. em locais de risco, que costumam
bamatos. “O uso indiscriminado
acumular água e onde nascem as
“O objetivo da pesquisa é testar a de pesticidas químicos também
larvas de mosquitos. No laborató-
eficácia de isolados fúngicos, sele- apresenta essa desvantagem. Já o
rio, estamos testando a virulência
cionando os mais virulentos, que
de isolados de fungos, nas formas
tenham potencial de controle sobre
de conídio e blastosporos. Os re-
os mosquitos Aedes aegypti e Lut-
sultados preliminares já indicam
zomyia sp”, diz Isabele, professora
que os blastosporos são ainda mais
do Departamento de Epidemiologia
virulentos quando comparados com
e Saúde Pública. No Laboratório de
os conídios”, conta Isabele. “Em
Controle Microbiano, localizado no
uma segunda etapa do projeto, ao
Instituto de Veterinária da UFRRJ
longo desse ano de 2018, vamos
e chefiado pela médica veterinária
testar também a eficácia dessa
Vânia Bittencourt, que é Cientista
formulação no combate a mosquitos
do Nosso Estado da FAPERJ, a
na fase adulta”, acrescenta.
equipe envolvida no projeto testa
os efeitos da aplicação dos fungos A vantagem da pesquisa é propor
Metarhizium anisopliae e Beauve- a utilização de um método de con-
Estudo desenvolvido na
UFRRJ testa controle
biológico do mosquito
Aedes aegypti
Foto: Divulgação/UFRRJ
Teste de laboratório para verificar o potencial do fungo B. bassiana como inseticida biológico: à esq., larvas de mosquito são colocadas
em meio de cultura para propiciar o crescimento fúngico; à dir., observa-se o crescimento do fungo e a morte das larvas, dez dias depois
controle biológico não gera resis- nandes e Caio Marcio de Oliveira Pesquisadora: Isabele da Costa
tência por parte dos insetos e têm Monteiro; na Universidade Federal Angelo
se mostrado uma alternativa impor- do Recôncavo Baiano (UFRB), o Instituição: Universidade Federal
tante para reduzir a sobrevivência professor Wendell Marcelo de Sou- Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)
desses mosquitos, que são vetores za Perinotto; e na Utah University Fomento: Programas Cientista
do Nosso Estado (CNE) e Jovem
de diversas doenças tropicais que State, nos EUA, o doutor Donald
Cientista do Nosso Estado (JCNE)
representam um enorme prejuízo à Roberts.
saúde pública”, conclui.
Além de Vânia e Isabele, participam Foto: Divulgação/UFRRJ
Foto: Divulgação/Uerj
O trabalho de campo da equipe envolve a escavação de fósseis de dinossauro no Ceará (à esq.); em um tanque fossilífero em Pocinhos, na Paraíba ...
as mudanças por que passou toda grandes savanas de clima seco e grandes extensões de plataforma
aquela região, que viveu, como árido, habitadas por preguiças-gi- marinha. Era um ambiente para
todo o planeta, a Era do Gelo e o gantes, mastodontes, tatus-gigantes os fortes!
surgimento e a extinção de animais. e tigres dentes-de-sabre. Anfíbios
Para reconstituir esse cenário, pes-
Além disso, viu chegar o degelo e basais e peixes povoavam am-
quisadores, como Hermínio Ismael
as transformações locais, que foram bientes aquáticos continentais e as
de Araújo Júnior, do Departamento
tornando as áreas de terra firme em águas rasas dos mares que cobriam
de Estratigrafia e Paleontologia,
da Faculdade de Geologia, da
Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (Uerj), recorrem a técnicas
da tafonomia. “Estudamos os pro-
cessos biológicos e geológicos que
se sucedem à morte de um orga-
nismo vivo até sua transformação
em fóssil. E com a paleoecologia,
pesquisamos como seriam os ecos-
sistemas e o modo de vida dos
animais extintos”, explica Araújo
Júnior, Jovem Cientista do Nosso
Estado, da FAPERJ. Ele e sua
equipe se ocupam em estudar justa-
mente como se formaram os vários
sítios paleontológicos nordestinos,
onde permaneceram acumulados
restos dos diferentes vertebrados
que habitaram a região durante eras
distintas.
... e em outro tanque localizado em Taperoá, na Paraíba; além da análise de ovos de dinossauro encontrados na Bacia do Potiguar, no Ceará
Foto: Divulgação/Uerj
sítios, porque eles é que sabiam a
exata localização. Nossa presença
também despertou a curiosidade
dos moradores dos municípios
próximos e por isso mesmo preten-
demos realizar palestras explicando
a importância dos fósseis e, por
tabela, dos sítios paleontológicos
e de toda aquela área. Muitos deles
também ofereceram ajuda e termi-
naram contribuindo para o trabalho
de escavação. Com isso, temos o
envolvimento da comunidade no
trabalho. Conhecer e saber da im-
portância é o primeiro passo para
se comprometer com a preservação.
Além do mais, tudo isso certamente
Em atividade em sítio paleontológico na Bahia, Hermínio de Araújo Jr., Jovem Cientista do
Nosso Estado da FAPERJ, exibe fóssil de animal que viveu durante o período Cenozóico atrairá turistas para a região, geran-
do alternativas de trabalho e renda
para os moradores.” O começo de
homem tenha chegado mais tarde “Quero que o meu trabalho seja
uma nova fase para aqueles muni-
às Américas – numa época em que o pontapé inicial para novas dis-
cípios nordestinos.
os animais já estavam morrendo por sertações de mestrado e teses de
influência do clima –, ou que esse doutorado. E que não fique apenas Pesquisador: Hermínio Ismael de
humano ainda não havia desenvol- no trabalho científico, mas que con- Araújo Júnior
vido técnicas de matança.” tribua para o desenvolvimento da Instituição: Universidade do Estado
do Rio de Janeiro (Uerj)
comunidade local”, diz. Ele explica
Baseada em Mossoró, na Univer- Fomento: Programa Jovem Cientista
como isso acontece. “Antes de mais do Nosso Estado (JCNE)
sidade do Estado do Rio Grande
nada, foram os habitantes da região
do Norte (Uern), a equipe vem se
que nos ajudaram a chegar até esses
deslocando para o Maranhão, Cea-
rá, Paraíba, Pernambuco, Bahia e
o próprio Rio Grande do Norte, Foto: Divulgação/Uerj
onde há quatro sítios paleontoló-
gicos para visitar. “No Ceará e no
Maranhão, esses sítios, da era me-
sozoica, são de ambientes fluviais,
que preservam restos de dinossau-
ros, peixes e crocodilos”, explica.
Para Araújo Júnior, esses estudos
são importantes não apenas pelas
informações que revelam, mas tam-
bém por funcionar como subsídios
para novas pesquisas.
Protetores solares
excluem parabenos
de suas fórmulas
Em países europeus, algumas
marcas já excluem os parabenos
de seus fotoprotetores. A
medida deve ser adotada por
aqui também, já que o uso
repetido e constante dessas
substâncias pode deixar danos
na pele humana
Vilma Homero
M
uito se fala das conse-
quências da exposição
ao sol e dos riscos de
câncer de pele. A recomendação dos
dermatologistas é para o uso diário
de protetor solar, sobretudo para os
que têm pele muito clara. Em al-
guns países da Europa, no entanto,
muitos fabricantes estão mudando
a formulação de seus produtos e
deles excluindo os parabenos, usa-
dos como conservantes. Segundo o
farmacêutico Bryan Hudson Hossy,
recém-doutor pelo Programa de
Pós-graduação em Clínica Médica
Foto: Divulgação
Foto: Divulgação/UFRJ
Camundongo sem pelos, sob analgesia, é mantido no interior de equipamento que simula a emissão da luz solar, com a radiação UV
da Universidade Federal do Rio de vêm alertando para seu potencial Para embasar seu trabalho, Hossy
Janeiro (UFRJ), mestre em Ciências alergênico, que afetaria até 1% analisou a fórmula de um dos pro-
Farmacêuticas pela mesma univer- da população mundial”, adverte tetores solares comercializados no
sidade e doutorando “Nota Dez”, da Hossy. Ainda não se preconiza Rio de Janeiro, com Fator de Pro-
FAPERJ, essa restrição, cada vez complementar estes ensaios com a teção Solar (FPS) 30, contendo em
mais adotada mundialmente, tam- observação de possíveis alterações sua composição parabenos (metil e
bém deveria ser seguida no Brasil, histológicas e moleculares. “Mas os propilparabeno) e outras substân-
já que o uso repetido e constante pesquisadores têm voltado seus es- cias. A pesquisa, coordenada por
dessas substâncias pode deixar da- tudos para avaliar a segurança des- ele, sob a orientação das professoras
nos na pele humana. ses conservantes e seus possíveis Nádia Campos de Oliveira Miguel,
Em geral, os protetores solares efeitos fotossensibilizantes. É nesse do Instituto de Ciências Biomédicas
contêm em sua fórmula filtros caso que se enquadram os parabe- (ICB) e Márcia Ramos e Silva, do
solares e substâncias conservantes nos. Alguns autores apontam, por Serviço de Dermatologia, da Facul-
– entre eles, metilparabeno, propi- exemplo, que o metilparabeno pode dade de Medicina (FM), contou ain-
lparabeno e aminometilpropanol. induzir estresse oxidativo, produção da com a colaboração do professor
“Os parabenos são conservantes de óxido nítrico, oxidação lipídica Marcelo de Pádula, da Faculdade
bastante comuns em cosméticos. das células e sua consequente morte de Farmácia (FF), todos da UFRJ.
Atualmente, no entanto, um nú- quando submetidos à radiação UV”, No laboratório, Hossy submeteu o
mero crescente de ensaios clínicos explica. produto a testes in vivo, usando para
No esquema, na etapa A, camundongo sem pelos é submetido, sob analgesia, a crescente tempo de exposição no aparelho simulador de
luz solar. Na etapa B, amostras de pele são coletadas e, em C, passam por exame histológico, que revela os danos da radiação à pele
Extrapolando para os humanos, “No caso de exposições extremas, tos. “Em alguns países europeus,
Hossy explica que, como a aplica- como a de pessoas que trabalham marcas como a francesa L’Oreal,
ção do produto sobre a pele dificil- ao ar livre, por exemplo, e para já excluem os parabenos de seus
mente é regular – o que significa indivíduos de pele muito clara ou fotoprotetores. E, mesmo sem ter o
que sempre há camadas mais densas com histórico familiar de câncer de uso proibido, várias delas alardeiam
em determinados pontos –, pode pele, a foto proteção é necessária e no rótulo e em sua publicidade que
acontecer de uma maior quantidade indispensável. Já pessoas de pele seus produtos são ‘livres de parabe-
de conservante ficar concentrada escura, que têm maior concentração no’. Pelo que estamos vendo, a ten-
em uma área mais sensível da de melanina e uma maior capacida- dência é de retirá-los das fórmulas.”
pele. Isso pode levar a dermatites de de eritematosa – ou seja, o quanto
Segundo o pesquisador, no Brasil,
contato e alergias, gerando também de radiação solar aquela pele mais
estamos num momento de transi-
fototoxicidade. “Como se indica resistente é capaz de suportar –, não
ção. “Embora 63% de marcas de
que o uso do protetor solar seja precisam de um uso tão constante
protetores solares pesquisadas nas
diário, e muitas vezes sua aplicação de protetores solares”, afirma o
farmácias do estado do Rio de Ja-
acontece mais de uma vez por dia, farmacêutico.
neiro tenham feito um movimento
pode haver uma repetição dessas
E para todos, sejam os de pele clara de mudança de conduta, ainda há
dermatites e alergias. E isso pode
ou pele escura, o melhor é procu- 36% que, de acordo com o que
acabar levando exatamente ao que
rarem produtos que não contenham registram nos rótulos, fazem uso
se deseja prevenir, ou seja, à forma-
parabenos. “Embora seja uma de parabenos em suas fórmulas.
ção de fotodermatoses e, em casos
alternativa barata de conservante Mas a tendência é de que progres-
extremos, a câncer de pele”, afirma
para a indústria e esteja presente em sivamente isso mude”, acredita
o pesquisador.
diversos produtos, como as pastas Hossy, que também acha que isso
Segundo Hossy, a pele humana con- de dentes, os parabenos estão sendo não acontecerá em curto ou médio
ta com a proteção natural biológica progressivamente substituídos nas prazo. “Até porque é preciso que
da melanina, da ação antioxidante formulações, como consequência antes haja uma mudança na nossa
da melatonina e do ácido urocânico. dos estudos que vêm sendo fei- legislação sanitária. Metilparabeno,
propilparabeno e aminometilpro- Segundo Hossy, pesquisas sobre (ICB), Instituto de Biofísica Carlos
panol sequer constam das listas de insumos e formulações cosméticas Chaga Filho (IBCCF), Faculdade
risco da legislação brasileira. Ao ainda representam um universo pe- de Farmácia (FF), Faculdade de
contrário, estão presentes em di- queno no País. “Mas com um mer- Medicina (FM), a que se soma-
versos cosméticos comercializados cado aquecido e uma infinidade de ram o Instituto de Biologia (IB) e
no País, como xampus e produtos insumos que podem ser estudados a Faculdade de Medicina (FM) da
de maquiagem”. De acordo com o partir de nossa biodiversidade, em- Universidade Federal Fluminense
pesquisador, o Brasil movimenta presas nacionais e até estrangeiras (UFF). A partir de contribuições
o quarto maior mercado mundial vêm estudando e produzindo ativos, expressivas e de diferentes olhares
no setor, atrás de Estados Unidos, excipientes e formulações cosmé- dos pesquisadores, conseguimos
na primeira posição nesse ranking, ticas aproveitando este potencial. atingir os resultados publicados.
a China, o segundo colocado, e o Mas para que possamos inovar e Estimular e fortalecer essas intera-
Japão, que ocupa o terceiro lugar. encontrar soluções para problemas ções subsidiará ainda mais novos
“Sendo um mercado tão importante, como os pesquisados pelo nosso avanços.”
o mais provável é que, a exemplo grupo são necessárias a formação Pesquisador: Bryan Hudson Hossy
do que já vem ocorrendo na Europa, de redes de pesquisa, como a que Instituição: Universidade Federal do
isso também aconteça com a indús- conseguimos criar entre diferentes Rio de Janeiro (UFRJ)
tria brasileira.” institutos e faculdades da UFRJ: Fomento: Programa Doutorado
Instituo de Ciências Biomédicas Nota 10
Hossy ressalta ainda que, mesmo
com a possibilidade de fototoxici- Foto: Divulgação/UFRJ
dade, o uso de protetores solares
ainda se impõe como umas das
únicas estratégias eficazes e consi-
deradas seguras para a prevenção
dos danos causados pela radiação
solar. Diante de exposição aguda
e prolongada ao sol, indivíduos de
pele clara e sensível, portadores de
doenças induzidas pelo sol – como
erupção polimórfica à luz e ceratose
actínica crônica –, pacientes com
risco potencial de desenvolvimen-
to de câncer de pele, bem como
aqueles que já tenham removido
lesões e estejam curados – precisam
ser orientados por um profissional
quanto ao uso de fotoprotetores de
alta proteção solar. Nesses casos,
como orienta a Sociedade Brasileira
de Dermatologia, recomendam-se
os de FPS 30, usados com critério
e parcimônia para evitar-se os ex-
cessos.
Homenagem
ao espaço
verde mais
visitado do País
Reedição de
livro de Castro
Maya celebra
a memória da
Floresta da Tijuca
Gravura: J. M. Rugendas
24 | Rio
Rio Pesquisa
Pesquisa -- nº
nº 42
42 -- Ano
Ano XI
XI
MEMÓRIA
Gravura: J. B. Debret
Débora Motta
C
onsiderada a maior floresta
urbana do mundo, a Flo-
resta da Tijuca é um dos
grandes símbolos do Rio. Para ce-
lebrar a memória desse patrimônio
carioca, o livro A Floresta da Tijuca
– escrito por Raymundo Ottoni de
Castro Maya (1894-1968) e lançado
inicialmente em 1966 (Bloch Edito-
res, 102 p.) –, ganhou uma segunda
edição, revisada e comentada, por
ocasião do aniversário de 450 anos
do Rio de Janeiro (Ed. Andrea
Jakobsson Studio, 2015, 112p).
A reedição foi contemplada pela
FAPERJ, por meio do edital Apoio
à produção e publicação de livros e
DVDs visando à celebração dos 450
anos da cidade do Rio de Janeiro.
Imagens que contam a história do Rio: aquarela de Debret, intitulada ‘Carregamento de café a
Na primeira metade do século XX, caminho da cidade’, de 1826, reproduz uma caravana de escravos descendo a Serra da Tijuca
o multifacetado Castro Maya – que
era administrador da Companhia
implantou paisagismo decorativo O livro nasceu a partir de um relató-
Carioca Industrial e da Companhia
em recantos pitorescos, organizou rio escrito por Castro Maya sobre o
Nacional de Óleos Vegetais, entre
serviços de drenagem e beneficia- seu trabalho de revitalização e traz
outros empreendimentos, além
mentos no represamento de água e um conjunto de 33 pranchas com
de ser advogado, editor de livros,
muros de contenção. Para realizar imagens de rara beleza e informa-
colecionador de obras de arte e,
essa empreitada, trabalhou volun- ções sobre os principais pontos da
sobretudo, um mecenas e humanista
tariamente, tendo recebido apenas Floresta da Tijuca, como cascatas,
– assumiu o desafio de restaurar a
o simbólico valor de um cruzeiro jardins, pontes e caminhos inter-
extensa área da Floresta da Tijuca.
por ano. Contou com uma equipe de nos. Há reproduções de aquarelas
Ele esteve à frente da comissão res-
cerca de 60 homens e mobilizou o
ponsável por remodelar o principal
premiado paisagista e artista plásti-
parque da então capital do País, de
co Roberto Burle Marx e o arquiteto
1943 a 1947, durante a gestão do
Wladimir Alves. Sua vida, por sinal,
prefeito do antigo Distrito Federal,
foi retratada no documentário Cas-
Henrique Dodsworth.
tro Maya, dirigido pelo cineasta
Castro Maya realizou diversas carioca Sylvio Tendler, que conta a
intervenções, combinando melho- relação dele com a cultura e as artes
rias para recuperar a infraestrutura no Rio de Janeiro.
e ampliar a visitação ao local.
Demarcou os limites do parque,
reconstruiu inúmeras edificações
e instalações de restaurantes, re- Capa da segunda edição, revista e
cuperou estradas, pontes e cami- comentada, da obra que celebra
nhos, limpou lagos e cachoeiras, a recuperação da Floresta da Tijuca
Portão simbólico da entrada da Floresta da Tijuca, que foi revitalizada durante as obras conduzidas por Castro Maya, entre 1943 e 1947
30 ||Rio
30 RioPesquisa
Pesquisa--nº
nº42
42--Ano
AnoXIXI