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A evolução do modelo organizativo do contencioso administrativo português

Três grandes fases, tendo em conta a configuração do modelo organizativo:

1) Época liberal de 1832 a 1924. Ao nível local, verifica-se a existência de um modelo judiciarista ou quase-
judicialista. Os litígios relativos à atividade administrativa “em matéria contenciosa”, foram submetidos,
sucessivamente, aos Conselhos de prefeitura” (de 1832 a 1835), aos Conselhos de Distrito e aos Tribunais
administrativos distritais, que eram crgãos da função administrativa que detinham uma competência deciscria,
funcionando praticamente como tribunais, mas fora da ordem judicial (209º/1º/b), a quem compete a jurisdição
comum em matéria administrativa (e fiscal) 212º/ 3º.
Ao nível central, existe, embora sc a partir de 1845, um modelo administrativista mitigado, do tipo de recurso
hierárquico em processo jurisdicionalizado, em que havia uma intervenção consultiva obrigatcria do Conselho de
Estado.
Em termos globais, o modelo se pode descrever como um modelo misto, de predominância administrativista,
embora mitigada.
2) Período autoritário-corporativo, 1930 a 1976, que se desenvolve um sistema de tribunais administrativos, que
representou, para uns, um modelo quase-judicialista e, para outros, um modelo judicialista mitigado.
O contencioso era feito, a nível local, pelas auditorias administrativas e, a nível central, pelo Supremo Tribunal
Administrativo (STA), - isto é, por crgãos independentes, não integrados na orgânica dos tribunais comuns, cuja
natureza administrativa ou jurisdicional era discutida pela doutrina.
3) Atual Constituição, institui um modelo judicialista, de contencioso integralmente jurisdicionalizado, atribuído a
uma ordem judicial autcnoma, embora de competência especializada:
Consagra-se a existência de tribunais administrativos e fiscais (obrigatcrio desde 1989), como verdadeiros
tribunais, integrados numa ordem judicial (209º/1º/b), a quem compete a jurisdição comum em matéria
administrativa e fiscal (212º/3º).
Estabelecem-se garantias de autonomia (212º/1º e 2º) e de imparcialidade dos juízes administrativos
(216º).

A evolução do contencioso administrativo português deu- se a partir de um modelo


administrativista mitigado, que transitou para um modelo quase-judicialista e, para um modelo
judicialista puro de competência especializada. De 1924 a 1925 e de 1926 a 1930, foi atribuída aos
tribunais comuns a competência para resolução das questões jurídicas administrativas, na
sequência de um período de grande desprestígio do STA durante a 1ª República.

A evolução do modelo de justiça administrativa

Adoção do modelo francês, em que o contencioso-regra se consubstanciava no recurso de anulação


de atos administrativos, de base claramente objetivista, admitindo-se um contencioso de plena
jurisdição em matérias limitadas.

Quanto aos meios de acesso valia o princípio da enumeração: o contencioso-regra era o do recurso
contra atos, o particular teria de esperar, provocar ou, em caso de silencio da administração,
ficcionar um ato administrativo para poder recorrer aos crgãos de controlo. Havia ainda um
contencioso por atribuição, abrangendo as ações em matéria de responsabilidade civil e de
contratos administrativos, que era de plena jurisdição. Se estivessem em causa direitos subjetivos
havia possibilidade recurso aos tribunais judiciais, que eram os tribunais comuns, com competência
residual; se assim não fosse (não invocam direitos subjetivos) teriam de se contentar com as
garantias políticas e administrativas- a reclamação e os recursos hierárquicos ou tutelares.

Sobre o processo, desproteção do particular na posição dominante da autoridade administrativa,


sobre o procedimento e sobre os fundamentos da decisão (não havia dever de fundamentação até o
DL nº256-A/77. Contudo, o particular tinha de defrontar um formalismo excessivo e desrazoável
do recurso, que a lei permitia ou induzia e a jurisprudência exercia – condições de recorribilidade
armadilhadas que faziam soçobrar grande número de processos; uma ordem de conhecimento de
vícios, com prioridade para os vícios formais, que conduzia frequentemente a sentenças inúteis.

Sc com a revisão de 1982 temos uma segunda fase, como transitcria, em que se assiste a um
alargamento do âmbito do contencioso administrativo e uma intensificação da proteção dos direitos
e interesses legalmente protegidos dos cidadãos. O texto original tinha ainda uma visão tradicional
da justiça administrativa como contencioso de legalidade de atos administrativos. Consagrou o
dever geral de fundamentação dos atos administrativos desfavoráveis permitindo o controlo
judicial do exercício dos poderes discricionários. Foi com esta revisão que implicou (269º, atual
268º) o alargamento do âmbito da jurisdição administrativa, subjetivação do modelo de justiça
administrativa.

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