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Os limites funcionais da justiça administrativa

Dentro do domínio material definido elas relações jurídicas administrativas públicas, a ordem
judicial administrativa vai julgar os litígios entre os interessados – em princípio, os sujeitos
respetivos – dando-lhes uma solução de carácter jurisdicional.

No entanto, essa atividade exercida pelos tribunais administrativos sofre, em virtude da sua
qualidade substantiva, limitações funcionais específicas, na medida em que se apresenta como uma
atuação que envolve um juízo sobre a legitimidade do exercício de um poder público: o poder
administrativo (executivo). De facto, do princípio da divisão dos poderes, da dimensão que separa
o poder judicial dos outros poderes públicos, há-de resultar alguma limitação para a justiça
administrativa visto que o juiz não pode pura e simplesmente ignorar nem se substituir à
competência e à autoridade prcpria das decisões jurídico-públicas da Administração.

O âmbito orgânico da justiça administrativa: a jurisdição administrativa

Segundo um critério orgânico, a justiça administrativa compreende exclusivamente a resolução das


questões de direito administrativo que sejam atribuídas à ordem judicial dos tribunais
administrativos. Esta dimensão não teria relevância autcnoma se fosse absolutamente decisivo o
critério material de delimitação da justiça administrativa. Tal dimensão sc tem influência na
determinação do âmbito da justiça administrativa se à jurisdição administrativa não for atribuída a
competência para conhecer de todas as questões de direito administrativo e exclusivamente dessas
questões.

O alcance da reserva constitucional da jurisdição administrativa

A primeira questão que se coloca é, da interpretação do atual artigo 212º/3º CRP – “compete aos
tribunais administrativos e fiscais o julgamento das ações e recursos contenciosos que tenham por
objeto dirimir os litígios emergentes das relações jurídicas administrativas e fiscais” – para saber se
aí se consagra uma reserva material absoluta de jurisdição atribuída aos tribunais administrativos,
no duplo sentido de que, por um lado, os tribunais administrativos sc poderão julgar questões de
direito administrativo, e de que, por outro lado, sc eles poderão julgar tais questões.

Delimitação da jurisdição administrativa segundo o ETAF

O ETAF, em 2015, no artigo 1º passou a remeter a definição do âmbito da jurisdição


administrativa para o artigo 4º, que inclui agora uma alínea nova, a o) do nº1, na qual se adota,
como critério residual, o critério substancial estabelecido na Constituição: o dos litígios que
tenham por objeto relações jurídicas administrativas. A enumeração positiva deve ser entendida
como concretizadora da cláusula geral fundada na Constituição, pode ser aditiva, devendo ser
considerada como tal quando seja inequívoco que visa atribuir competências que não caberiam no
âmbito definido por essa cláusula. A enumeração negativa sendo concretizadora da cláusula geral
e delimitadora do âmbito substancial da jurisdição, poe conter igualmente disposições que
restringem manifestamente tal âmbito, devendo reconhecer-se-lhes então um carácter e um efeito
subtrativos.

A enumeração contida no nº1 do artigo 4º visa a concretização positiva do conceito de litígios


emergentes de relações jurídicas administrativas, à tutela dos direitos e interesses legalmente
protegidos, de toda a atividade materialmente administrativa, como atos jurídicos e contratos, mas
também das ações materiais no exercício da função administrativa.
A organização da jurisdição administrativa

Os tribunais administrativos e fiscais constituem, desde 1989, uma categoria prcpria de tribunais,
separada dos ditos “tribunais judiciais” (209º/1º/b), formando uma hierarquia cujo crgão superior
é o Supremo Tribunal Administrativo (212º/1º).

O estatuto dos Tribunais Administrativos e Fiscais (ETAF) de 2002 mantém duas categorias
distintas de tribunais – os tribunais administrativos de círculo e os tribunais tributários – sujeitas a
diferentes Secções dos Tribunais Centrais Administrativos (TCA) e do Supremos Tribunal
Administrativo (STA) – respetivamente, as do Contencioso Administrativo e as do Contencioso
Tributário – de modo que essas sub-ordens de tribunais são relativamente autcnomas, tendo
apenas, no topo da hierarquia, como crgão comum, o Plenário do STA.

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