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RESUMO
A partir da concepção da arte “como oração de viver”(Lisboa, 2001), o trabalho
levanta algumas indagações sobre como realizar o encontro religião/ arte, religião/
subjetividades, com base na concepção de que a arte poderia constituir o caminho que leva a
diálogos sobre e entre diversas ciências, em busca de nuances e novas formas para aprofundar
um encontro que sempre existiu entre religião, arte e filosofia. A Religião e as Ciências da
Religião são discutidas e conceituadas sob a ótica de Greschat, Russel, Barbour, Faustino,
Geffré, alguns autores, seguindo uma metodologia comparativa e fenomenológica. Aborda
questões relacionadas ao hibridismo religioso na sociedade contemporânea, fruto do passado
histórico do país e das inquietações do homem moderno, face às rápidas e contínuas
modificações/ transformações às quais precisa se adaptar. Apresenta os motivos que levam a
buscar respostas nessa área do conhecimento, qual o problema, a realidade e o contexto
histórico atual, bem como os objetivos a serem alcançados, justificativas para a escolha do
tema a ser investigado, considerações conceituais e o método que se pretende seguir para
obter as respostas às questões delineadas no trabalho.
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¹Artista plástica e professora do Departamento de Teoria da Arte e Expressão Artística da
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Mestranda em Ciências da Religião na
UNICAP, analisboa333@ig.com.br.
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Em seu livro: “Quando a Ciência encontra a Religião”, Barbour (2004) faz um
apanhado sobre o tema e dá sua opinião sobre os quatro tipos de relações entre ciência e
religião: conflito, independência, diálogo e integração. Para ele:
Os paralelos conceituais entre determinadas teorias científicas e
determinadas crenças teológicas estão ainda mais próximos do trabalho
cotidiano dos cientistas e teólogos, e ocupam lugar de destaque em algumas
das mais criativas interações entre disciplinas hoje em dia ( BARBOU,
2004: 54).
O fenômeno religioso transita por todos os campos sociais, aponta e se reflete nas
variadas formas do conhecimento humano. Assim, o pesquisador terá que buscar na
psicologia, sociologia, antropologia...subsídios para poder, com eficiência e rigor, transitar
entre os contrastes e conflitos de cognição. Para maior esclarecimento, partiu-se de leituras
diversas e são apontados alguns autores com os respectivos conceitos que possibilitam
descortinar novos horizontes.
Pondé (apud TEIXEIRA, 2001:12) aprofunda as questões sobre epistemologia na
ciência e suas práticas. Para ele, “praticar epistemologia é experimentar, no sentido mais forte
do termo, a insegurança, o limite, o esforço de lidar com essa angústia da cognição”. O autor
cita os estudos realizados por alguns autores em epistemologia contemporânea das
controvérsias e encontra em Dascal alguns conceitos do campo científico de estudos do
fenômeno religioso, que classifica como um caso “clínico” de controvérsia. Pondé deixa
claro a complexidade do tema e o quanto é aberta a questão para os estudiosos em geral. Para
ele, a cultura epistemológica das controvérsias aplicada às ciências das religiões divide-se em
três possibilidades: o sagrado como uma autêntica fonte de sentido para a vida humana; o
sagrado como um epifenômeno sócio-psicológico ( a ciência das religiões sendo o exercício
do ateísmo); o contrato epistemológico da controvérsia: realismo crítico e suspeita que escapa
à observação, apreciação dialética, sempre aberta aos argumentos. Através de Dascal, abrem-
se as possibilidades do cruzamento da filosofia com a ciência cognitiva, de modo que possam,
através do diálogo, trazer novos resultados importantes de cognição e mente.
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Com base nos conceitos de epistemologia como o ramo da filosofia que trata dos
problemas que envolvem o conhecimento dos diversos autores, como encontrar a relação do
texto a partir do contexto? Seriao ponto principal da questão a resposta do domínio do círculo
hermenêutico; o ponto X da questão é encontrar o enfoque hermenêutico adequado que
possibilite dissecar o objeto e discutir o problema. Para Geffré (2004), a hermenêutica seria uma
corrente teológica como qualquer outra. Um novo paradigma de entendimento. “ Uma das tarefas da
hermenêutica é discernir os elementos fundamentais da experiência cristã e dissociá-los das linguagens
nas quais esta experiência foi traduzida” (GEFFRÉ, 2004:37).
As relações entre ciência e religião passaram do conflito e independência para o
diálogo e integração, numa combinação transdisciplinar de conceito em busca de um diálogo.
E a pesquisa em ciência das religiões transita em dois eixos metodológicos, o comparativo e o
fenomenológico, num pensamento sistemático em uma formulação que seja compreensível.
Com base no que foi apresentado pelos teóricos da ciência e da religião será
importante relacionar os motivos que levaram o investigador a buscar respostas nessa área de
conhecimento, qual o problema, situar a realidade e o contexto em que se encontra, objetivos
a serem alcançados, justificativas para o objeto que irá ser investigado, considerações
conceituais e o método que se pretende seguir.
CARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA
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Em momentos como este, de tantas incertezas, fragmentação de idéias e
transformações, o homem tende a se voltar para o sobrenatural, o espiritual, à procura de
apoio, de segurança. Jung (1995) observou que o fenômeno religioso esteve presente
constantemente na mente humana. Ele admite existir, na estrutura profunda da mente, uma
potencialidade nata que leva o ser humano a procurar Deus e com ele se relacionar através da
religião. Considera a religião uma das expressões mais antigas e universais da alma humana.
Para ele, a religião, além de ser um fenômeno sociológico e histórico, é sobretudo um tema
importante para os indivíduos.
Um tema que transcende o meramente espiritual e se insere em todos os aspectos
da vida, inclusive a inspiração/expressão artística. Não há fronteiras entre arte e vida. Na
medida em que a religião, o espiritual, é um componente extraordinariamente presente em
todos os momentos da vida, pode-se extrapolar, afirmando que também não há fronteiras entre
arte e religião.
Amaral (2000) fala em “religiosidade caleidoscópica”, um novo padrão de
relacionamento. Significaria a emergência, na contemporaneidade, de uma “cultura religiosa
errante”, porosa, performática, festiva, efêmera, sem rígidos marcos doutrinários, carente de
idioma teológico que desterritorializa o sagrado.
Nas artes, diferentes estilos convivem juntos, caracterizando um ecletismo e
pluralismo cultural. Não há grupos nem movimentos unificados, configurando uma gama de
experiências que expressam as diversas poéticas do artista. Essas subjetividades resultam em
produções que tratam de diferentes temas e contextos, materializados em múltiplas
linguagens. Causando um sentimento de perplexidade, de descontentamento e a sensação de
engano. Há um jogo de estranhamento do familiar e familiarização do exótico, ampliando o
entendimento das diferenças culturais, das subjetividades e do lugar do sujeito no mundo
social.
Com base nestes pressupostos, far-se-á uma pesquisa cujo objetivo é investigar as
variantes das subjetividades religiosas pós-modernas a partir da análise das imagens de
trabalhos plásticos e do processo criativo de artistas contemporâneos que participaram de
exposições no Museu de Arte Moderna Aluísio Magalhães (Mamam), e do Museu do Estado
de Pernambuco e contribuem nas múltiplas interfaces com a cultura e a sociedade, utilizando
o conceito de mito-poética como linguagem. Propõe-se realizar o cruzamento entre a religião
e a arte, levantando questões sobre o hibridismo na sociedade contemporânea.
O objetivo geral é, neste caso, analisar aspectos das subjetividades religiosas pós-
modernas, projetadas na arte contemporânea. E os específicos: apresentar a arte como reflexo
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de subjetividades de uma época; problematizar a relação entre arte e religião a partir dos
envolvidos no Mamam e no Museu do Estado de Pernambuco; analisar, nas imagens das
obras de artistas contemporâneos, aspectos da subjetividade religiosa.
JUSTIFICATIVA
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exposição intitulada: Maria, Mãe de Deus e outras marias. Contou com obras de artistas
plásticos pernambucanos contemporâneos junto às obras do acervo do Museu, integrando o
sagrado, o profano e o imaginário da cultura ocidental na simbologia do nome Maria. O
Mamam; criado pela Prefeitura do Recife, em 1997, conta com um acervo de cerca de 900
obras. Inaugurado no intuito de abrir um espaço para artistas de vanguarda, logo transformou-
se num centro de referência da produção moderna e contemporânea. Localizado às margens
do Rio Capibaribe, em um casarão do século 19, o Mamam já abrigou exposições de alguns
dos artistas mais importantes da História, como Francisco Goya, Jean Michel Basquiat,
Auguste Rodin, Pablo Picasso.
No percurso artístico dos possíveis artistas selecionados para o estudo está
presente o processo da assemblage, levantando a possibilidade de interligação com os
conceitos do bricolage e a subjetividade religiosa atual. Assemblage é um termo ligado à
collage exercitada por Picasso e Braque. O termo aparentemente foi usado pela primeira vez
por Marcel Duchamp, em exposição realizada no Moma, Nova York, denominada “The Art
of Assemblage”. A assamblage consiste na aproximação de elementos descontínuos,
provenientes de diversas origens e não de uma única peça. Portanto, assemblage e bricolage
têm a mesma natureza.
Nelson Leirner, aos 72 anos, continua sendo uma espécie de “enfant terrible” das
artes plásticas brasileiras. Em entrevista, diz:
...Estou seguindo minha maneira de pensar e ainda me acho preso. Não
atingi a loucura que eu gostaria. Eu queria ser um louco sem ter que ir ao
hospício, mas não consegui chegar a esse estado. Talvez eu seja até
internado e não saiba...
E ele continua:
... O artista hoje é livre. Tudo o que ele quiser ele pode fazer, mas é
muito difícil ser livre, na verdade. É muito mais fácil você estar amarrado e
querer explodir, atirar e ir contra algo. Há muito mais armas na mão para
isso do que as pessoas te dizerem "faça o que você quer". Hoje não tem que
ser contra. Você vai ser contra a globalização (...) O sistema se sofisticou de
tal maneira que as pessoas anteriormente lidavam com mecanismos mais
simples de contestação. Hoje essa crítica é cosumida. Mas eu pergunto:
onde eu peco ou não peco como artista? Por exemplo: hoje, todos que lidam
com a arte têm de ter um conhecimento sobre ela. Desde quem entrevista
até o curador e o galerista. Logo, todos são meus sócios; é como eu os
chamo. Eu sou metade e todos os outros são minhas outras metades. Ou
seja, há uma sociedade, hoje, entre o artista e o resto das pessoas que estão
no mesmo meio. A única coisa que eu faço é não esconder as coisas...
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Rosângela Rennó, uma das mais celebradas artistas contemporâneas brasileiras,
integra hoje o principal circuito internacional. Sua obra fala, em especial, de memória,
esquecimento e identidade. Rennó propõe ressignificações de imagens pré-existentes.
Trabalha com negativos de retratos adquiridos em estúdios populares. Apropria-se da
narrativa fotográfica, recolhe textos que falam de fotografia em jornais de circulação nacional.
Constrói um arquivo universal, um gigantesco banco de informações. A imagem é construída
a partir do espectador e seu repertório iconográfico. Propõe questões sobre a amnésia social
na sociedade em que ora vivemos. A colagem do que se propõe recolher faz de sua obra uma
fotografia do entorno esquecido e muitas vezes não visto.
Nelson Leirner e Rosângela Rennó apresentam requisitos, em seu discurso e obra,
que os tornem, a princípio, os possíveis investigados. A obra “Procissão”, de Leirner, é muito
pertinente para tal entendimento: são colagens de objetos escolhidos pelo artista nos mercados
públicos de cada cidade em que a obra se apresenta, uma representação do imaginário e
iconografia do lugar, expostos no chão, como uma procissão.
Rosângela Rennó tem um trabalho muito forte em imagem e tema, questões sobre
identidade e memória são explícitas. Poderia ser comparada aos idealistas religiosos que
deram suas vidas pelas peregrinações e denúncias. Utiliza-se das sobras, dos resto, do lixo
recolhido nos arquivos públicos. Realiza uma colagem caleidoscópica da identidade social
atual. O trabalho “Vulgo” é um bom exemplo.
Os artistas citados e outros que ainda irão ser escolhidos, no decorrer do processo
de investigação, apresentam, em sua produção plástica, as características simbólicas
religiosas. Possibilitando interpretações das religiões e das artes nos dias de hoje. O processo
criativo dos selecionados expressa uma auto-transcendência/ imanência, reflexo da
subjetividade do sujeito singular a partir da pressão do momento histórico, o entorno. A
religião constitui uma variação das mesmas experiências. Pretende-se, a partir das Ciências da
Religião, perceber como a obra de arte na contemporaneidade manifesta a religião e
subjetividades na atualidade.
Tal qual um bricoleur, começarei a bricolage observando autores e áreas
diferentes, na expectativa de realizar uma colagem com recortes, e poder, nesse carrossel de
desejos artístico/ religioso/ acadêmico/ contemporâneo, montar um caleidoscópio apurado e
apoiado na luz e, paradoxalmente, na dúvida. Gostaria que o jogo, o movimento incidental,
tão difíceis em nossa sociedade ofuscada pelo poder, pela falta de tempo, se fizesse presente
em um trabalho acadêmico em que o lúdico, tão bem lembrado por Jung, possa ser vivido no
processo da pesquisa e nos autores que fornecerão sua base teórica.
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CONSIDERAÇÕES CONCEITUAIS E REFERÊNCIAL TEÓRICO
Para Jung, citado por Hark (2000), a religião é a expressão de uma necessidade de
ajuste para o ser humano, não se define nos termos dogmáticos ou teológicos, mas como uma
experiência transpessoal do sagrado e deveria ser um “sistema psicoterapêutico”. Quando fala
em religião, Jung não se refere a um credo específico: ele vai além das confissões cristãs e
envolve figuras como Buda, Maomé ou Confúcio. Para Hark ( 2000: 107): “ A partir dos
inúmeros sonhos, visões e experiências religiosas do ser humano, Jung acredita comprovar a
existência de uma Função Religiosa da psique”. No pensamento de Jung, a religião é de
grande importância para o equilíbrio mental das pessoas e, em momentos de crise serve para
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ajustar a mente. “Para Jung, pois, não é a presença da religião que é sintoma de neurose, mas
sua ausência” (PALMER, 2001:122).
A religião, na contemporaneidade, tem se apresentado de forma caleidoscópica,
ou seja, com múltiplas nuances, o indivíduo é secularizado e enfrenta uma diversidade de
ritos, mitos e interditos. Dessa forma, a religião traduz a complexidade e indeterminações da
sociedade, favorecendo a mixagem entre diversos elementos da tradição e os múltiplos
fenômenos ocorridos nos tempos atuais. Para Luckmann, (apud Martelli 1995: 303-304):
A secularização é o sintoma de uma mudança mais ampla do que o simples
declínio do Cristianismo tradicional: é o surgimento de uma nova forma
social de religião, que ele chama de ‘religião invisível’. Com essa
expressão, Luckmann quer sublinhar o fato de que os temas religiosos, isto
é, as definições últimas de realidade, têm origem na esfera privada, fundam-
se sobre emoções e sentimentos do indivíduo – portanto, são bastante
instáveis e subjetivos - e são combinados em conjuntos mais amplos pelo
próprio indivíduo com uma atitude semelhante à brincolage “faça por você
mesmo”. O indivíduo elabora uma síntese de significados últimos, isto é,
religioso, inspirando-se na oferta de bens religiosos colocados à disposição
pelas Igrejas institucionais ou pelas ideologias políticas e econômicas,
recorrendo livremente a uma espécie de supermercado religioso.
Em seu livro, ela enfatiza os desafios éticos nos quais o respeito às diferenças é de
suma importância e se refletem nas práticas espirituais atuais.
Enfim, estão sendo interpretados, no decorrer deste trabalho, os diferentes
significados que a experiência Nova Era de comunidade vem adquirindo
frente aos desafios éticos da sociedade contemporânea para definir o que
significa ‘estar junto’ ou ‘viver com’ (AMARAL, 2000: 19).
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A religião e a arte contemporânea demonstram a realidade de uma época. Como
exemplo, pode-se citar a arte e suas representações na 27ª Bienal de São Paulo, cujo tema foi:
“Como viver juntos”, um título emprestado dos cursos e seminários ministrados por Roland
Barthes, auto-reflexivo para este processo, como resposta a um novo enfoque, presente nas
reflexões e atitudes nas diversas mostras de arte da atualidade, com idéias heterogêneas,
híbridas. Afirmando a autonomia e independência institucional, cultural e política num
momento de incertezas, mudança de paradigmas e das novas maneiras de pensar as relações
sociais .
Para compreender a subjetividade como produção e pressão das circunstâncias,
num viés deleuze-guattariano, pretende-se trabalhar a injunção entre uma subjetividade
produzida numa época, no encontro com os problemas , as matérias, os equipamentos, os
costumes etc. que nos rodeiam e constituem o movimento de singularização. Em termos
individuais, a singularização – corresponde a um movimento com a vida, em que nos
tornamos sempre outro e sempre nós mesmos. Porque a subjetividade é permanente, está em
toda parte, é fruto da pressão provocada no sujeito a partir do entorno.
A subjetividade é produzida por agenciamentos de enunciação. Os
processos de subjetivação ou de semiotização não são centrados em agentes
individuais (ou funcionamento de instâncias intrapsíquicas, egóicas,
microssociais), nem em agentes grupais. Esses processos são duplamente
descentrados. Implicam o funcionamento de máquinas de expressão que
podem ser tanto de natureza extrapessoal, extra-individual (sistemas
maquínicos, econômicos, sociais, tecnológicos, etnológicos, de mídia, ou
seja, sistemas que são mais imediatamente antropológicos), quanto de
natureza infra-humana, infrapsíquica, infrapessoal (sistemas de percepção,
de sensibilidade, de afeto, de desejo, de representação, de imagem e de
valor, modos de memorização e de produção de idéias, sistemas de inibição
e de automatismos, sistemas corporais, orgânicos, biológicos, fisiológicos e
assim por diante) (GUATTARI; ROLNIK, 2005:.39).
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A brincolagem e a mito-poética
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artesanais, ele confecciona um objeto material que é, ao mesmo tempo, um
objeto do conhecimento (LÉVI-STRAUSS, 1970: 43).
Confessa Lévi-Strauss:
Foi com os surrealistas que aprendi a não temer as aproximações abruptas e
imprevistas como as que Max Ernest usou nas suas colagens. A influência é
perceptível em ‘O Pensamento Selvagem’. Max Ernest construiu mitos
particulares por meio de imagens tomadas de empréstimo a uma outra
cultura(...) Em Mitológicas, eu também recortei uma imagem mítica,
recompus seus fragmentos para fazer com que deles brotasse mais sentido
(1990: 50).
METODOLOGIA
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- Análise do acervo do Mamam e Museu do Estado de Pernambuco, para seleção dos artistas e
das respectivas obras que constituirão o objeto de estudo.
- Entrevista com o diretor do Mamam, do Museu do Estado de Pernambuco e os mediadores
de arte, para explicar os objetivos e metodologia do trabalho e solicitar a devida autorização
para o estudo e análise das obras selecionadas dos respectivos acervos, sob o ponto de vista da
temática do trabalho.
- Entrevista estruturada com os artistas selecionados, para conhecimento/ análise/
interpretação/ inferências da mensagem/ sentimentos/ conexões com o espiritual consciente e
inconscientemente expresso em sua obra, bem como para registrar o ponto de vista pessoal
sobre sua arte.
- Análise das obras escolhidas para o estudo, observando a sistemática previamente
estabelecida, com base nos objetivos do trabalho.
A pesquisa seguirá o eixo fenomenológico, numa abordagem qualitativa,
utilizando o método da semiótica. Como recurso epistemológico será utilizada a
transdisciplinaridade. O que se pretende realizar, na verdade, é uma análise psícossocial,
perceber o sagrado na arte contemporânea, relacionar a arte com a religião, tentar interpretar
o sentido e a simbologia inconscientes nas obras de arte sob análise. Um trabalho minuncioso,
a ser realizado de forma assim sistematizada: no primeiro capítulo, conceituar subjetividade e
arte na pós-modernidade; no segundo, realizar a pesquisa de campo no Mamam e Museu do
Estado; no terceiro capítulo, comparar religião e subjetividades, a partir das obras analisadas.
Enfim, realizar um ensaio a partir de interpretações das obras escolhidas. E sempre com base
em Jung e Luckmann, os marcadores fundamentais.
REFERÊNCIAS
ECO, Umberto. Obra aberta – forma e indeterminação poéticas contemporâneas. São Paulo:
Perspectiva, 1997.
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GRESCHAT, H. O que é ciência da religião? São Paulo: Paulinas, 2005.
HARK, Helmut. Léxico dos conceitos Junguianos fundamentais – a partir dos originais de C. G.
Jung. São Paulo: Loyola, 2000.
LAGNADO, Lisette; PEDROSA, Adriano (Eds.). Como viver junto. In: BIENAL DE SÃO
PAULO, 27. São Paulo: Fundação Bienal, 2006.
LÉVI-STRAUSS, C.; ERIBON, D. De perto e de longe. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990.
LISBOA, Ana. Monte de montes – projeto Dumaresq de gravura. Folder da exposição individual,
Galeria Dumaresq. Recife, 2001.
PALMER, Michael. Freud e Jung – sobre a religião. São Paulo: Loyola, 2001.
PETERS, T.; BENNETT, G. (Orgs.). Construindo pontes entre a ciência e a religião. São Paulo:
Loyola/Unesp, 2003.
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