INVESTIGAÇÃO

Videovigilância

€ 36
custou cada
uma das
câmaras
adquiridas
via internet

Pedro Costa
Informático
Moita

De olho na casa
No trabalho, em férias ou em qualquer outro local, pode olhar para a sua casa e garantir
que tudo está na paz dos anjos. Basta uma câmara e um telemóvel
Texto Ana Santos Gomes
Fotografia João Ribeiro

S
etenta e dois euros. Foi este o in-
vestimento que Pedro Costa, de
33 anos, fez no ano passado para
olhar para o telemóvel a qualquer
hora do dia ou da noite e ter a certeza de
que ninguém está dentro de sua casa. “A
minha mulher trabalha por turnos, en-
quanto eu tenho um horário fixo. A casa
acaba por ficar muitas horas sem ninguém
durante a semana. Mas preocupavam-me
sobretudo as férias”, adianta. Já tinha ins-
talado um alarme, mas não ficou descan-
sado enquanto não deu seguimento à tese
de final de curso, que havia dedicado pre-
cisamente à videovigilância. “Só que, há
dez anos, quando acabei o curso, não ha- EM DESTAQUE
via metade dos equipamentos que há hoje. O melhor local para
Tive de pesquisar e pedir aconselhamento a posicionar as câmaras
colegas mais experientes. Comprei primeiro Ver e ouvir através
uma câmara, instalei-a e mais tarde comprei do smartphone
uma segunda.” Custo das câmaras
Onde colocar a câmara? Primeiro ponto fixas e móveis
a reter: cada aparelho substitui um par de
olhos, logo, não espere que capte imagens
de todas as divisões. Também o consumi-
dor, quando está em casa, não consegue
visualizar todos os espaços em simultâneo.
Se quer que a câmara seja o vigilante do lar,
há que instalá-la no ponto de acesso mais vul-
nerável a arrombamento, ou seja, o local

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Videovigilância

por onde é mais fácil um ladrão entrar.

Se leu com atenção o artigo que publicá-
mos da PROTESTE de abril, já conseguiu
identificar os principais pontos de acesso
da sua casa, que tipicamente coincidem com
portas, janelas, terraços ou varandas.

O hall de entrada no telemóvel

Nos apartamentos situados em pisos in-
termédios e superiores, em regra, a maior
probabilidade de entrada fortuita está con-
centrada na porta, pelo que convém investir
numa fechadura de alta segurança e numa
porta resistente. Não sendo possível, ins-
talar uma câmara no hall de entrada pode
aumentar o nível de segurança que a porta
e a fechadura conferem. Nas casas térreas,
os pontos de acesso multiplicam-se e há que
escolher os locais ideais para posicionar as
câmaras.
Para vigiar o exterior da casa, há que escolher Trio de segurança Um sistema de alarme Foi o caso de Pedro, que vive numa mo-
um ângulo de filmagem que não capte imagens e uma fechadura complementam o elevado radia com quintal, na Moita. Para garantir
da via pública grau de segurança que a videovigilância confere que vê quem entra na casa, concentrou a
sua atenção no quintal. Instalar uma câmara
no portão de entrada do mesmo estava fora
de questão. Além de mais cara, é proibido
apontar o equipamento para a via pública:
quem se aproximasse da porta de Pedro
seria filmado sem a devida autorização.
A solução adotada pelo jovem informáti-
co passou, então, por filmar a entrada da
casa, dentro do quintal, a partir da janela.
“Consigo ver praticamente todo o espaço
e o único constrangimento é não poder
fechar na totalidade o estore da janela da
cozinha. Mas, se alguém se aproximar da
minha porta, recebo de imediato um alerta
no smartphone”, revela.
E é aqui que entra em ação o sistema de
alertas programável a partir do computador
No computador ou no telemóvel, Pedro consegue visualizar imagens da sua casa, 24 horas por dia ou do telemóvel. “Não é nada difícil. Pode-
mos escolher o tipo de alertas que queremos
receber e a duração da vigilância. Como os
horários lá de casa são variáveis, optei por
manter a gravação 24 horas por dia. Já os
alertas são enviados para o meu telemóvel
de cada vez que a imagem capta um mo-
Como funciona? vimento”, explica. E não corre o risco de
ter o telemóvel a apitar sempre que passa
uma mosca à frente da câmara? “Não, esses
pequenos movimentos não são detetados.
Mas já recebi um alerta por causa de uma
CLOUD andorinha que passou lá por perto”. Cães
e gatos, aliás, são os principais responsá-
veis pelos falsos alarmes das câmaras de
videovigilância.
As imagens Através da O programa Esteja onde
captadas pela internet, todas de visualização estiver, o
Sem internet, nada feito
câmara ficam as imagens de imagens utilizador tem
Ter uma ligação de internet por wi-fi (rede
guardadas na captadas são da câmara pode acesso às
sem fios) é a melhor forma de garantir a
memória do remetidas para ser instalado imagens
transmissão de dados entre a câmara e o
equipamento o dispositivo no tablet, no de sua casa.
telemóvel ou o computador, sem recorrer
ou num cartão móvel adicionado computador ou Pode guardá-las
a cabos. Pedro tinha essa ligação já dispo-
de memória. pelo utilizador. no smartphone. ou apagá-las.
nível em casa, pelo que apenas precisou de

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manter a câmara ligada à eletricidade em

permanência. Contudo, quem não dispuser
de wi-fi em casa também pode assegurar a
transmissão de dados, desde que mantenha
a câmara conectada à internet por uma li-
gação com cabo. E esta é, provavelmente,
a principal razão para a videovigilância não
ser uma opção fácil para quem quer moni-
torizar uma casa de férias ou qualquer ou-
tra habitação de utilização pontual, onde é
difícil haver internet ativa 24 horas por dia.
A alternativa é colocar uma câmara de vi-
deovigilância apenas para dissuadir e que
grave imagens para um cartão de memória.
Estas poderão ajudar a identificar algum
intruso.
De resto, o esquema de transmissão de
dados é simples e pode acompanhá-lo na
página 26. As imagens captadas pela câma-
ra são direcionadas pela rede wi-fi para o
computador ou para o telemóvel do utiliza-
dor, que pode guardá-las no seu arquivo (no
Funções para todos os gostos
computador ou na cloud, por exemplo) ou ir
Há que escolher as funções mais indicadas para o fim a que se destina o aparelho,
apagando o cartão de memória e gravando
uma vez que influenciam o preço, que pode ir de poucas dezenas às centenas de
cada dia por cima do anterior. “Apesar de ter
euros. No último teste que realizámos a estes equipamentos, constatámos que,
cloud, para já, só uso o cartão de memória
a partir de € 70, é possível comprar uma câmara boa e completa.
da câmara. Cabem lá as gravações de uns
três dias e depois gravo por cima. Felizmen-
te, até hoje, nunca precisei das imagens”,
comenta o informático. FIXA OU ROTATIVA Ter a câmara em constante rotação pode ser
Ainda assim, convém deixar bem claro uma grande vantagem para uma sala de jantar muito ampla.
que eventuais imagens recolhidas por este Já num pequeno hall de entrada, será um verdadeiro desperdício.
tipo de câmaras não serão usadas em tribu- As câmaras móveis são mais adequadas para grandes divisões,
nal como meio de prova. Apesar de poderem onde é preciso assegurar o controlo de vários ângulos de visão.
ser consideradas na investigação e de até Em geral, o utilizador pode optar pelo varrimento constante
auxiliarem as forças policiais a identificar ou pelo comando direto, mediante a programação efetuada
o assaltante, as imagens recolhidas por câ- através do smatphone ou do computador.
maras de videovigilância nunca poderão ÂNGULO DE VISÃO Há que escolher aquele que abrange a
ser legalmente usadas como fundamento maior área a controlar, o que, com frequência, implica posicionar
de uma condenação judicial. Ou seja, o juiz a câmara num ponto alto. Não aponte a câmara para janelas,
terá de basear-se noutras provas que confir- para não captar imagens de terceiros sem autorização, nem
mem a presença do assaltante naquela casa, para espelhos ou candeeiros, para evitar o reflexo da luz.
àquela hora.
RESOLUÇÃO DE IMAGEM Em regra, está definida em píxeis.
“Até falo lá para dentro” Quantos mais tiver, melhor será a nitidez da imagem captada.
Dependendo das competências informáti- Esta servirá para detetar a entrada, mas também para permitir
cas de quem instala o sistema em casa, é a identificação do intruso. No último caso, é importante uma
possível, na maioria dos modelos, perso- maior resolução.
nalizar quase tudo: a definição da imagem, VISÃO NOTURNA Assegura a captação de imagens nítidas
a captação de movimentos noturnos, a durante a noite ou em divisões com a luz apagada. Se o lugar
(des)ativação do som e ainda a possibilida- a controlar tiver grandes variações de luz ou a captação das
de de emitir para o interior da casa. “Eu imagens decorrer 24 horas por dia, é uma opção a considerar.
ativei essa opção. Significa que, se detetar
a presença de uma visita indesejada, pos- INTERNET SEM FIOS OU POR CABO É imprescindível
so interpelá-la, falando para o telemóvel”. assegurar que a zona onde ficará a câmara tem uma tomada
As vantagens dessa função ficam a cargo elétrica por perto, mas também internet. Neste caso, pode
da imaginação de cada um. É provável que optar por uma ligação sem fios ou através de cabo. A última
um ladrão que ouça a voz de Pedro se sinta é mais segura e o cabo também pode alimentar a câmara.
dissuadido e fuja. Ainda assim, é sempre Contudo, exige mais trabalho de instalação com a passagem
aconselhável chamar também a polícia... de cabos. Já um modelo sem fios tem uma instalação mais
A definição da imagem está, em geral, simples e rápida. Mas requer uma largura de banda razoável,
definida em píxeis. Tanto pode programar principalmente quando se pretende a transmissão de vídeo.
o aparelho para detetar apenas a presen-
ça de alguém, como pode aperfeiçoar a

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Videovigilância
Não use câmara aqui!
O respeito pela privacidade de cada um obriga
a ter alguns cuidados na hora de instalar sistemas
de videovigilãncia e de captar imagens de terceiros.
NA VIA PÚBLICA A câmara até pode estar colocada
na sua propriedade privada, mas, se captar imagens
de transeuntes na via pública, já está a cometer
uma infração. E nem mesmo a colocação de um dístico
a informar sobre a captação de imagens permite
avançar com este procedimento. Será preciso requerer
uma autorização da Comissão Nacional de Proteção
de Dados, o que só é conseguido em situações Sinalizações como esta
que verdadeiramente o justifiquem. informam os cidadãos
da presença de câmaras
EM CASA Usar a câmara de videovigilância para de videovigilância no local
monitorizar todos os passos da empregada doméstica
também não é uma conduta recomendável. Mesmo
que a avise de que a câmara está ali instalada, não pode
mantê-la sob vigilância durante o seu horário de trabalho.
O TÉCNICO EXPLICA
A que configurações
da câmara deve dar-se
especial atenção?
É essencial que a câmara
fique corretamente
posicionada, e transmita,
com eficácia, uma imagem
Alexandre Marvão da parte da casa que vigia
Especialista em segurança para o telemóvel.
A definição da imagem A definição da imagem e do
e do som pode ser ajustada som poderá ser ajustada
ao gosto do utilizador ao gosto do utilizador
e dentro dos limites do
próprio equipamento.
Há câmaras que permitem
enviar imagens com maior
resolução do que outras.
Todos os modelos têm
instruções de
configuração em
português?
Nem todos, sobretudo se
forem adquiridos junto de
vendedores estrangeiros,
através da internet.
Mas, em regra, há sempre
instruções em inglês.
Se essa não for uma
opção para o utilizador
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e só conseguir usar um
sistema em português,
terá de escolher uma
câmara com essa opção
entre as várias
comercializadas em lojas
nacionais. De facto,
é fundamental garantir
uma correta instalação
do sistema, para que seja
eficaz.
Uma vez detetada a
presença de alguém
dentro de casa, como
deve agir
o proprietário?
Há que contactar de
imediato as autoridades
policiais. Alguns
utilizadores preferem
afugentar os assaltantes,
falando para o interior da
casa, através do telemóvel.
Outros preferem manter a
vigilância em silêncio, para
que as autoridades
tenham tempo de chegar
à residência e capturar os
assaltantes em flagrante.
captação de imagens ao ponto de identi-
ficar claramente o invasor. Pedro optou pela
última, intensificando a nitidez da imagem.
Quanto à visão noturna que algumas câ-
maras asseguram, até pode ser desnecessá-
ria. Imagine, por exemplo, que a divisão a
filmar está bem iluminada por um candeeiro
de rua durante a noite. Não vai precisar de
ativar essa opção. Caso contrário, pode ser
útil, sobretudo se os amigos do alheio pro-
gramarem uma escapadinha noturna à sua
sala de jantar.
A minha tranquilidade
por menos de 40 euros
A pesquisa de Pedro Costa foi feita com cal-
ma, ouvindo os conselhos de alguns colegas.
Ainda conseguiu que um deles lhe empres-
tasse um modelo para experimentar e ficou
fã. Mas o preço estava fora do orçamento
disponível. Custava mais de 100 euros e
não procurava algo tão caro. Pesquisou na
internet um modelo com características si-
milares e arriscou encomendar uma Escam
Qf001, no site da Gearbest. Custou 36 euros.
“Demorei cerca de duas horas a instalá-la
por completo, porque quis fazer algumas
configurações avançadas. Mas quem quiser
seguir as definições padrão deve demorar
menos tempo”, calcula Pedro. E detalha:
“tudo começou com um QR Code [uma espé-
cie de código de barras], que o smartphone
leu e direcionou para a página de instalação
da câmara. A partir daí, o aparelho foi dando
indicações, por voz e em inglês, que auxili-
aram a instalação”.
Um pouco estupefacto com o resultado
conseguido, em termos de qualidade de
som e de imagem, não tardou que Pedro
ponderasse a aquisição seguinte. “Comprei
outra câmara igual para o interior. A par-
tir do local onde a instalei, consigo vigiar
vários acessos da casa”, concluiu. Seguiu
os mesmos passos. Gastou mais 36 euros.
Mas acha que teve azar com a segunda
compra, “porque o modelo da câmara é o
mesmo, mas o som não é tão nitído”. Ainda
assim, repetiu as configurações. “Consigo
falar para dentro de casa e, se o ladrão me
responder, também o ouço”.
Pedro está convicto de que duas câmaras
são suficientes. Controla os principais pon-
tos de acesso à habitação e eleva o grau de
segurança que o sistema de alarme já ins-
talado lhe conferia. “Estou muito satisfei-
to. Acabei por não gastar muito dinheiro e
tenho a casa equipada com um sistema de
videovigilância”, conclui Pedro. “Agora, só
desejo que este tenha sido um investimen-
to praticamente inútil, porque, na verdade,
espero que nunca seja preciso dar-lhe uso
a sério”.
Dossiê técnico Alexandre Marvão
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