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REGISTRO DE NASCIMENTO
HOMOPARENTAL E MULTIPARENTAL
Foi somente ao final dos anos 1940 que se observou uma tendência nos
tribunais da Capital Federal e de São Paulo ao reconhecimento do direito da
mulher a ser beneficiada com pensões relativas a seus companheiros, com os
quais tivessem formado família e mantido longa convivência marital.
*
Bacharel em Direito em 1991 pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Exerceu a advocacia na iniciativa privada,
em seguida, admitida em concurso público, exerceu o cargo de Procuradora do Estado do Rio de Janeiro e, a partir de
1998, passou a atuar como quinta Tabeliã do 15º Ofício de Notas da Comarca da Capital do Estado do Rio de Janeiro.
Membro da UINL – União Internacional do Notariado Latino.
Em 1962 foi promulgada a Lei nº 4.121, que devolveu à mulher casada a
plena capacidade, dispensou a necessidade da autorização marital para o
trabalho e instituiu o bem reservado. Esse bem reservado era aquele
conquistado pela mulher casada, fruto do seu trabalho, que, por sua vez, não
respondia pelas dívidas do marido. Ressalte-se que o bem reservado, previsto
no Estatuto da Mulher Casada, não foi recepcionado pela Constituição da
República de 1988.
No ano de 2002 nos deparamos com o Novo Código Civil, que, a meu
ver, provocou um enorme retrocesso em relação aos direitos dos companheiros,
ao não incluir o companheiro no rol dos herdeiros necessários, limitando o
direito sucessório, além de não conferir o direito real de habitação, distorção
corrigida pela Egrégia 4ª Turma do Superior Tribunal de Justiça, em acórdão da
lavra do Ministro Luis Felipe Salomão, no Resp. nº 132.993, quereconheceu e
devolveu ao companheiro o direito real de habitação.
c) proibição do preconceito;
Não obstante, foi preciso que o CNJ interviesse, a meu ver, com a
necessária mão de ferro, nessa grande confusão para uniformizar os
entendimentos.
Por esse motivo, resolvi escrever um artigo sobre esse tema, com o
intuito de ser solidária com a minha colega de Tupã, que, pelo que soube,
estava sendo quase apedrejada!
Então o que falta à união poliafetiva para que seja reconhecida como um
novo modelo de família? Já que ela ostenta todos os requisitos para que isso
ocorra, tais como partes capazes, relação pública, contínua e duradoura, com o
objetivo de constituir família e sem que haja qualquer impedimento legal,
previsto no art. 1.521, do Código Civil.
Entendo que o debate sobre a possibilidade ou não do reconhecimento
da união poliafetiva como um novo modelo de família reside fundamentalmente
na indagação se essas relações merecem o mesmo respeito e reconhecimento
que a sociedade outorga às demais uniões.
E, na minha visão, não podemos impor a nossa moral a quem quer que
seja, mormente quando estamos na qualidade de um delegatário de um serviço
público.
Outro ponto que entendo ser igualmente relevante para que essas
uniões poliafetivas não tenham maior visibilidade é o desconforto e o
constrangimento que, normalmente, as pessoas vivenciam quando assumem
esse tipo de relacionamento.
Prova disso é que, no ano de 2014, no apagar das luzes, foi publicada a
nefasta Medida Provisória nº 664, de 30/12/2014, convertida na Lei nº 13.135 de
17.06.2015, que, na minha ótica, ao arrepio da lei e representando inegável
retrocesso, determinou que o benefício da pensão por morte somente poderia
ser conferido após comprovação de 2 (dois) anos de casamento ou de união
estável.
Para que eu possa lavrar uma escritura, tenho que observar a “Escada
Ponteana”, ou seja, os requisitos de existência e validade, previstos no art. 104,
do nosso Código Civil.
Isso quer dizer que, uma vez lavrada a escritura de união poliafetiva,
esta poderá produzir ou não os efeitos pretendidos nos órgãos competentes.
Aliás, o ato poderá ser ineficaz neste momento e não mais sê-lo num
futuro próximo.
Agora, gostaria que ficasse bem claro que a escritura pública de união
poliafetiva não tem o condão de transformar aquela união poliafetiva em união
estável, merecedora de proteção do Estado, nos moldes do art. 226, da
Constituição da República e do art. 1.723, do Código Civil.
Nessa hipótese, entendo que não será possível, posto que, como
explanei anteriormente, na escritura declaratória, o tabelião simplesmente
ratificará por meio do instrumento público uma situação de fato preexistente,
não garantindo a eficácia do ato nos órgãos competentes.
A sua base jurídica está prevista no art. 1.593, do Código Civil (ver
também Enunciado nº 103 da CJF), que assim determina:
A resposta é sim!
Ou seja, a lei não exige nenhuma outra prova, a não ser a declaração do
pai, para o reconhecimento da paternidade (§ 3º do art. 2º, da Lei nº
8.560/92).
Logo após, em São Paulo, ainda no ano de 2014, a CGJ paulista, por
meio do Parecer 321/2014-E, de 22 de outubro de 2014, da lavra do ilustre juiz
assessor Gustavo Henrique Bretas Marzagão, igualmente permitiu o registro da
filiação homoparental perante o Registrador Civil diretamente, sem ter que se
recorrer à via judicial.
Até então, esse registro só era efetivado por meio de decisão judicial,
com exceção dos Estados do Mato Grosso, São Paulo e Bahia (no que tange ao
registro homoparental), já que não havia regras específicas para esses tipos de
casos.
A MULTIPARENTALIDADE
CONCLUSÃO