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ESCOLA SUPERIOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE

SÃO PAULO

AMANDA BORGES MARUYAMA

A EXCEPCIONALIDADE DA PRISÃO PREVENTIVA SOB A


ÓTICA DOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS

Avaliação de conclusão do
módulo IV como um dos requisitos
para obtenção do título de Pós-
Graduação/Especialização em
Direito Penal e Processual
Penal à Banca Examinadora da
Escola Superior do Ministério
Público do Estado de São Paulo.

PIRACICABA
2020
A EXCEPCIONALIDADE DA PRISÃO PREVENTIVA SOB A
ÓTICA DOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS

Inicialmente, importante destacar que o Processo Penal possui um fim


em si mesmo, ou seja, funciona como um instrumento apto à tutela dos direitos
fundamentais, tanto na perspectiva Estatal (proteção de direitos coletivos e
potenciais) quanto na do sujeito de Direito (proteção das liberdades individuais),
de sorte que a infração penal seja encarada como um problema afeto a um
contexto geral, que envolve questões históricas, políticas, econômicas e sociais.
Analisando este sob a perspectiva constitucional, têm-se alguns
limites impostos ao poder punitivo do Estado, o qual não pode ultrapassar certas
barreiras outrora determinadas.
Um dos fundamentos da Constituição da República é a dignidade da
pessoa humana, disposto no artigo 1º, inciso III.
Por estar expressamente previsto na constituição o princípio da
dignidade da pessoa humana é um dos pilares da aplicação do direito em todas
as suas áreas, e, em especial, também quando tratamos do processo penal, haja
vista a possibilidade de segregação ou limitação de direitos. Assim, a dignidade
da pessoa humana é a base sobre a qual todo e qualquer direito e garantia
individual é erguido e sustentado.
Comungados a isso, estão também os princípios penais e processuais
penais constitucionais, que podem aparecer implícitos ou explícitos, além dos
mandados de criminalização.
Sabe-se que o processo penal é a ultima ratio, ou seja, deve ser
considerado a última opção para coibir as práticas ilícitas, sempre buscando
outros meios antes de se chegar ao mais gravoso. Sabe-se outrossim, que a
sanção penal mais grave é a prisão, a qual, em tese, só deve subsistir se
preenchidos os requisitos legais.
No nosso ordenamento jurídico há a previsão expressa da
possibilidade de decretação da prisão preventiva, que é considerada uma prisão
cautelar e se justifica pelos seguintes motivos: garantia da ordem pública, da
ordem econômica, assegurar a aplicação da lei penal e por conveniência da
instrução criminal.
Esta modalidade encontra embasamento jurídico no Capítulo III, mais
precisamente nos artigos 311 a 316 do Código de Processo Penal. Em um
primeiro momento, o artigo 311 apresenta a possibilidade de a prisão preventiva
ser decretada a qualquer momento, isto é, no que diz respeito à prisão preventiva
não se faz necessário à conclusão do processo judicial ou até mesmo do
inquérito policial para que esta seja decretada.
Mais adiante no mesmo artigo, observamos que esta poderá ser
decretada de oficio pelo juiz ou a requerimento do Ministério Público, pelo polo
ativo ou do assistente.
Entretanto, tal tipo de prisão é cabível quando preenchidos os
requisitos do artigo 313, do Código de Processo Penal, de forma cumulativa
àqueles retro mencionados.
O referido codex inclusive é expresso e taxativo quando aduz que a
prisão preventiva é excepcional e a sua decretação depende de fundamentação
concreta, não podendo subsumir-se a repetição de artigo, súmula ou
jurisprudência, sem que se demonstre o liame entre estes e o caso em concreto,
em respeito ao princípio constitucional da livre decisão motivada (art. 93, IX, da
CF).
Neste condão é que o legislador observou que existem outras
medidas a serem tomadas antes de se partir pro meio mais grave, que é a prisão.
Cabe ao Magistrado, na análise do caso concreto, decidir fundamentadamente
acerca do cabimento de tais medidas, as quais estão descritas no artigo 319, do
CPP.
No processo penal brasileiro vige o princípio da não culpabilidade ou
conhecido também como presunção de inocência (art. 5º, LVII, da CF), o qual
dispõe que ninguém será considerado culpado antes do transito em julgado da
sentença penal condenatória.
Tal brocardo tem por objetivo garantir, primordialmente, que o ônus
da prova cabe à acusação e não da defesa. As pessoas nascem inocentes,
sendo esse o seu estado natural, razão pela qual, para quebrar tal regra, torna-
se indispensável ao Estado-acusação evidenciar, com provas suficientes, ao
Estado-juiz, a culpa do réu.
O princípio da presunção de inocência reforça o princípio penal da
intervenção mínima do Estado na vida do cidadão, ao passo que o Direito Penal
só deve alterar o status de inocente para culpado se o delito praticado se mostrar
realmente importante.
Neste condão, conclui-se que o instituto da prisão preventiva deve ser
utilizado de maneira correta e inteligente, para não perder seu principal objetivo.
O princípio da necessidade ou intervenção mínima (art. 5º, LXVI, da
CF), considerado um dos três subprincípios do princípio da proporcionalidade
dispõe que as medidas que vierem a interferir nos direitos fundamentais do
indivíduo deverão ser aplicadas de maneira mais benévola possível a este. A
medida a ser tomada deverá ser aquela que ao mesmo tempo cumpra com o
objetivo necessário e mantenha os direitos individuais do acusado intactos.
Em resumo, o emprego de uma medida excepcional, tal como a prisão
preventiva, deve ficar estritamente limitada aos casos em que há necessidade
para a consecução de fim desejado.
Havendo mais de um meio para tal, diverso da segregação cautelar,
dentro dos fatos constantes no processo, o meio a ser escolhido para solucionar
as questões pendentes deve ser sempre o que trará menos prejuízos e
desvantagens ao feito.
A prisão preventiva não se pode fazer para agradar a sociedade ou
dar alguma resposta imediata ao fato ocorrido, mas sim, quando existem indícios
suficientes que provem que esta é a medida cabível para garantir a ordem
pública.
Nesse seguimento, a prisão preventiva não pode ser uma satisfação
à sociedade, mesmo que o crime seja de superior gravidade, mas apenas se
houver a necessidade de assegurar o curso do processo
Portanto, quando da análise do caso em concreto, primordialmente
deve se fazer conforme a constituição e aos princípios nela contidos, para que
seja cumprido o objetivo do instituto, sem que sejam cometidos abusos e
excessos, a fim de garantir maior efetividade para o processo penal como um
todo.

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