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FACULDADE DE EDUCAÇÃO
1. RESUMO
Este projeto pretende realizar uma pesquisa historiográfica da época da ditadura militar,
estabelecendo uma reflexão no que se refere à tentativa de erradicação do
analfabetismo, durante os anos 1970. Objetivando-se dentro de uma reflexão à luz da
pedagogia histórico-crítica, postulada por Dermeval Saviani a partir dos anos 80, este
estudo visa trazer como pauta a discussão da incipiência e declínio das possibilidades de
alfabetização bem sucedida que se interpuseram à época e que ainda hoje se coloca como
uma questão problemática da política educacional. Além disso, para a realização deste
estudo analisar-se-á produções acadêmicas que versam sobre o tema, percebendo as
lacunas e possibilidades de avanço na produção sobre história da alfabetização de jovens
e adultos no Brasil. Serão considerados os determinantes dos currículos escolares
pensados à luz dos pressupostos tecnicistas.
2. INTRODUÇÃO
Pode-se pensar que a luta pela erradicação do analfabetismo pode ter fracassado por um
entendimento de que a metodologia pedagógica adotada não foi capaz de dar conta de tal
feito por não ter sido capaz de apreender a realidade, dentro de uma perspectiva que
levasse em conta seus antagonismos e sua complexidade, para, então, poder empreender
com sucesso tal feito. Por outro lado, pode-se considerar que a pedagogia tecnicista e
utilitária está ancorada numa ideologia a qual não tem como primazia educar para o
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desenvolvimento humano. Esta última se objetiva na utilização do indivíduo como
homem objeto a serviço do capital, e promove, portanto, a desigualdade e a injustiça
social, como bem comenta Marsiglia:
Tendo em vista que os anos 70 foram marcados pelo slogan do pra frente Brasil e que o
senso comum da memória coletiva nos trás um informativo de que nesta época o país
viveu uma fase de muita prosperidade em vários segmentos, constata-se que, de fato, este
foi, na verdade, o marco para o início do desencadeamento de um declínio em diversos
setores.
Com a queda de Jango – João Goulart - e o golpe militar de 1964, a educação foi o
segmento social que sofreu maior impacto com a repressão aos educadores, o exílio de
muitos, inclusive de Paulo Freire para o Chile, e com a eliminação de algumas disciplinas
como história e geografia, condensadas em ciências sociais e com a introdução da
disciplina Moral e Cívica, em caráter doutrinador e proclamador do ufanismo nacionalista
à pátria. Contávamos, ainda, com a infiltração de militares nos ambientes da educação, o
que significou a expressão vívida da repressão em caráter ostensivo.
Segundo Dermeval Saviani, em seu livro História das Ideias Pedagógicas no Brasil (pag.
367), com a instauração do governo militar a pedagogia nova foi deixada de lado e a
educação se voltou para a preparação de alunos com a finalidade de executar tarefas e não
para se construírem em seres conscientes e sujeitos de sua condição histórica e de classe.
Com a promulgação do Ato Institucional número 5 (AI-5) em 1968, pelo então presidente
General Arthur da Costa e Silva, e no ano seguinte o Decreto-lei nº 477, muitos estudantes
e docentes foram presos e torturados por fazerem oposição ao então governo. Com o golpe
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de 64 o país passou a ser dirigido por militares e com isso se instaurou uma ditadura que
violou os direitos humanos.
O que se pretendia no regime militar era um homem voltado para ocupar uma função
dentro do sistema de desenvolvimento econômico: para atuar em um posto de trabalho.
Esta visão estava em desacordo com os objetivos dos pressupostos da teoria criada por
Paulo Freire, qual era o de criar um indivíduo consciente de seu papel dentro do processo
histórico social no qual estava inserido. No entanto, a despeito de ser controverso a teoria
freireana, acabam por adotar procedimentos metodológicos para o trabalho com os
adultos.
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Infere que Conhecer não é o ato através do qual um sujeito transformado em
objeto, recebe dócil e passivamente os conteúdos que outro lhe dá ou lhe impõe.
O conhecimento pelo contrário, exige uma presença curiosa do sujeito em face
do mundo. Requer sua ação transformadora sobre a realidade. Demanda uma
busca constante e implica em inventar e reinventar. (FREIRE, 1970, p. 12).
O regime militar, além do mais, buscava construir uma identidade nacional onde o
indivíduo servisse apenas como um cumpridor de funções que deveriam estar de acordo
com as necessidades e determinações do mercado corporativo. Com isto, lançou uma
programação para uma educação alienante e utilitária, em favor da classe dominante e
dentro da qual uma pedagogia libertária não teria lugar.
Outro aspecto a ser considerado seria o fato dos escolanovistas acabarem por dominar o
cenário da educação e o dominam até hoje. Esta pedagogia, porém, quando aplicada para
o ensino público, deixou como herança a secundarização do conteúdo, centrando-se no
aluno como autor de seu processo de conhecimento em forma de projetos, como bem fala
Saviani. O objetivo primeiro da escola nova era o de estabelecer uma escola democrática
e de direito para todas as classes sociais: a conclusão desta foi, infelizmente, uma
discriminação ainda maior, visto que os alunos não conseguiram aprender. Somente os
que tinham acesso ao ensino privado é que se beneficiaram deste método pedagógico,
contando ainda que o fomento da privatização do ensino foi instaurado por ocasião da
ditadura militar, o que criou um processo impactante, pois, a partir daí o ensino passou a
ser para os que podem pagar.
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Para Romanelli, a Lei de Diretrizes e Bases da educação Nacional, aprovada em
20 de Dezembro de 1961, expressava não apenas a luta travada durante longos
anos entre forças que aparentemente se opunham, mas principalmente
representava uma vitória dos conservadores (ROMANELLI, 1978, p. 179). Para
Buffa e Nosella (1997) os benefícios que a legislação educacional acabou
trazendo, foi respaldar uma perspectiva conservadora da educação. A lei
possibilitou que recursos públicos fossem destinados às escolas particulares,
abrindo caminho para a privatização do ensino no país, o que se deu nas décadas
seguintes, sobretudo com o ensino superior. (LOMBARDI, 2016, p. 34).
Desta forma, vemos que a alfabetização de adultos, durante a ditadura militar, restringiu-
se a um direcionamento mecanicista, acreditando-se que com esta conduta e ação
fragmentada poderia, talvez, erradicar o analfabetismo. Ao analisarmos dados
disponíveis, deparamo-nos com resultados que indicam uma redução pouco significativa
do analfabetismo, além de se constituir num encaminhamento da massa escolarizada mal
formada a postos de trabalho precarizados.
3. OBJETIVOS E JUSTIFICATIVAS
Para tanto, algumas questões serão postuladas: a- Que conteúdos de ordem ideológica
estavam em vigor? b - Que práticas pedagógicas estavam em pauta e estariam estas
justificando o cumprimento da prerrogativa de erradicação do analfabetismo? c - Quais
determinantes históricos e sociais estavam materializados nos embates conjecturais? d -
Como se estabelecem os entendimentos e justificativas para a frustração da erradicação
do analfabetismo? f – Em que dimensão pode-se entender a repercussão do analfabetismo
em direção às possibilidades de humanização do sujeito e quais as implicações da negação
de tal competência?
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atuação de baixa qualidade, devido ao empobrecimento dos conteúdos clássicos que
deixam de ser socializados no ambiente acadêmico escolar.
Ainda, vale dizer que a palavra, em seu registro escrito e através do ato da leitura,
representa o signo do signo da palavra verbalizada, representante do objeto ao qual esta
designa. Assim sendo, a aquisição da escrita e da leitura traz a possibilidade de operação
de um estímulo de segunda ordem que se desencadeia em reelaborações mentais
qualitativamente superiores se comparadas com o indivíduo não alfabetizado. Baseados
na teoria do desenvolvimento de Vygotsky, assim complementa Martins:
Deparámo-nos, portanto, com uma pedagogia que se objetiva no capital, o que nos coloca
num perigoso panorama que ameaça a própria evolução da humanidade. Assim, conforme
Duarte (2008): “Consegue assim explicitar as armadilhas destas pedagogias, que
desqualificam as ações efetivamente educativas, ameaçando a transmissão dos
conhecimentos historicamente acumulados”.
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5. REFERENCIAL TEÓRICO METODOLÓGICO
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Dentre os estudos que foram identificados, nota-se que houve ênfase em aspectos
metodológicos das políticas de alfabetização e da forma como educadores pensam o
processo de alfabetização dos adultos: pode-se dizer que há ausência quanto aos
entendimentos que consideram a alfabetização em sua inserção material em nossa
sociedade, isto é, em seus compromissos políticos e econômicos. A pedagogia histórico-
crítica possibilita essa compreensão à luz da história.
Assim, o saber que diretamente interessa à educação é aquele que emerge como
resultado do processo de aprendizagem, como resultado do trabalho
educativo. Entretanto, para chegar a esse resultado a educação tem que partir,
tem que tomar como referência, como matéria-prima de sua atividade, o
saber objetivo produzido historicamente. (SAVIANI, p. 7, 2011)
Com este aporte, que advém, ainda, dos fundamentos marxistas a respeito da
sobreposição da classe dominante sobre a classe dominada, observar-se-á como se
estabeleceram os indutos éticos e morais que legitimaram valores sociais aos quais
contavam com a escola como entidade guardiã das aspirações burguesas, aspirações estas
firmadas através do engodo das ideias positivistas de Auguste Comte, na busca do
conhecimento que se justifica por sua finalidade de acúmulo do capital em detrimento da
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aquisição do conhecimento, que deveria se sintetizar em prol do desenvolvimento
humano e da humanização do homem.
BIBLIOGRAFIA:
COMTE, A. The Positive Philosophy. In the book Man & the Universe. The Philosophers
of Science. Edited by Saxe Commins and Robert N. Linscott, Washington Square
Press,New York. pp. 225-226. (1969).
DUARTE, Newton, Sociedade do conhecimento ou Sociedade das Ilusões? Quatro
ensaios críticos-dialéticos em filosofia da educação. Autores Associados. 2008.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio, Paz e Terra, 1970 (Coleção Leitura).
SAVANI, Dermeval e LOMBARDI, José Claudinei e SANFELICE, José Luis (orgs.). História
e história da educação. 2 ed. Campinas-SP: Autores Associados, 2000.
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