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EDUCAÇÃO EM SAÚDE: UM PANORAMA DOS TRABALHOS

APRESENTADOS NO ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM


EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS – ENPEC (2013-2017)
HEALTH EDUCATION: A PANORAMA OF WORKS PRESENTED AT THE NATIONAL
ENCONTRY OF RESEARCH IN EDUCATION IN SCIENCES - ENPEC (2013-2017)

Ana Claudia Siqueira


Universidade Cruzeiro do Sul / anaclaudia170572@gmail.com
Fabiana Aparecida Vilaça
Universidade Cruzeiro do Sul / fabiana_bio@hotmail.com
Prof. Dra. Rita de Cássia Frenedozo
Universidade Cruzeiro do Sul / ritafrenedozo@yahoo.com.br
Prof. Dr. Juliano Schimiguel
Universidade Cruzeiro do Sul/ schimiguel@gmail.com

Resumo

O presente artigo buscou traçar as tendências da produção científica sobre o tema


Educação em Saúde (ES) a partir da análise de trabalhos apresentados no Encontro
Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências, no período de 2013 a 2017. Utilizando
a metodologia de mapeamento, foi realizado uma busca das pesquisas para identificar os
diferentes assuntos para o tema e os diferentes níveis de escolaridades onde foram
abordados. Os resultados revelam que as produções ao longo desse período foram de
121 trabalhos publicados no evento. Na análise dos referidos artigos observou-se ampla
diversidade de conceitos e diferentes temas, baseado no pressuposto do que tange a
Educação em Saúde; temas transversais, interdisciplinares. Todos os trabalhos eram de
natureza qualitativa, com identificação das técnicas de pesquisa: questionários, análise de
documentos, entrevistas, análise de conteúdo, observação participante. Alguns
documentos se atentaram à divulgação da ES nas comunidades e também foram
encontrados alguns mapeamentos. Identificaram-se algumas lacunas, como baixa
interdisciplinaridade envolvendo a ES, nas propostas para todos os graus de ensino.

Palavras-chave: Educação em Saúde; ENPEC; Mapeamento.

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Abstract

The present article sought to trace the trends of scientific production on the topic of Health
Education (ES) from the analysis of papers presented at the National Meeting of Research
in Education in Sciences, from 2013 to 2017. Using the methodology of mapping, a search
of the researches was carried out to identify the different subjects for the theme and the
different levels of schooling where they were approached. The results show that the
productions during this period were 121 works published in the event. In the analysis of
these articles, a wide diversity of concepts and different themes was observed, based on
the assumption of what refers to Health Education; cross-cutting, interdisciplinary themes.
All the works were of qualitative nature, with identification of the research techniques:
questionnaires, document analysis, interviews, content analysis, participant observation.
Some documents have focused on the dissemination of ES in the communities and some
mappings have also been found. Some shortcomings, such as low interdisciplinarity
involving ES, were identified in the proposals for all levels of education.

Key-words: Health education; ENPEC; Mapping.

INTRODUÇÃO

Este artigo se enquadra dentro dos múltiplos esforços que estão sendo realizados,
por parte de instituições de ensino, pesquisa e extensão, envolvendo também grupos de
pesquisa, para a difusão da Educação em Saúde, ferramenta importante para promoção
da saúde, tanto na vertente educacional como na população em geral.
A educação em saúde é de caráter interdisciplinar, multidisciplinar e
transdisciplinar. É a prática voltada para o bem comum e que pode e deve ser tida como
disciplina nas escolas, seja de qual nível for, por poder promover a saúde e bem estar de
todas as pessoas.
Segundo Costa et al. (2008), ações educativas podem visar à sensibilização e/ou a
conscientização sobre algum problema de saúde, ou ações que possam evitar o
surgimento de males à clientela. Nesse sentido, não se pode deixar de lembrar o quanto
às ações preventivas são mais vantajosas que as ações curativistas; tanto do ponto de

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vista econômico, quanto do ponto de vista assistencial, uma vez que podem reduzir a
incidência de doenças e contribuir para a diminuição do número de pacientes que buscam
serviços de maior complexidade, mais dispendiosos e por vezes menos efetivos.
Torna-se importante compreender que a saúde no ambiente escolar, como objeto
de formação, representa uma prerrogativa da cidadania, visto que inclui a qualidade de
vida de todos os sujeitos envolvidos. Compreende-se que envolve a conciliação entre um
direito público e dever social, assim a educação em saúde é fundamental para a formação
de cidadãos conscientes de seu papel social (THOMPSON; BRANDÃO, 2013).
A educação em saúde pode ser entendida como capaz de promover mudanças
comportamentais através de transferência de conhecimento, requerendo a participação do
usuário em todo o processo (Machado & Vieira 2009).
A educação e a saúde são áreas de produção e aplicação de saberes destinado ao
desenvolvimento humano (PEREIRA, 2003). Há, portanto, consenso sobre o importante
papel das ações de promoção de saúde e educação em saúde desenvolvidas nas
escolas, com o intuito de garantir a formação integral dos alunos (GAVIDIA, 2003).

Segundo Brito e Domingos (2009), a educação em saúde contribui para o


entendimento do processo saúde-doença o que pode levar à adoção de novos hábitos e
condutas cotidianas relativas a saúde, favorecendo uma melhoria da qualidade de vida
das pessoas.
A Educação em Saúde é uma prática pouco conhecida pelos profissionais da área
da saúde, porém praticada de maneira involuntária na saúde coletiva, estendendo-se
principalmente nos serviços de saúde comunitários. Trata-se de uma prática social onde
os sujeitos envolvidos são os profissionais em suas diferentes níveis e habilitações e a
população.
A educação em saúde deve ser entendida como uma importante vertente à
prevenção e reparação da saúde, e na prática deve estar preocupada e preparada para a
melhoria das condições de vida e de saúde das populações em especial àquelas que
possuem pouco acesso às informações.
A Carta de Otawa, redigido da I Conferência sobre Promoção da Saúde, tornou-se
um documento de referência para subsidiar a prática e discussão sobre o tema:
A saúde deve ser vista como um recurso para a vida, e não
como objetivo de viver. Nesse sentido, a saúde é um conceito
positivo, que enfatiza os recursos sociais e pessoais, bem
como as capacidades físicas. Assim, a promoção da saúde não

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é responsabilidade exclusiva do setor saúde, e vai para além
de um estilo de vida saudável, na direção de um bem-estar
global” (Brasil, 2002, p. 19-20).

A Educação em Saúde é um campo interdisciplinar que articula conhecimentos


provenientes das ciências humanas, ciências da saúde e ciências sociais para o
desenvolvimento de práticas Inter setoriais. Historicamente, teve expressão a partir da
metade do século XIX sob a rubrica da Educação Higiênica, passando nas primeiras
décadas do século XX a ser denominada de Educação Sanitária. Nas décadas de
1950/1960, considerado um momento de auge da Educação Sanitária, a área se integrou
às políticas sociais, o que representou em avanços institucionais significativos. Ainda nos
anos de 1960, sob forte centralização administrativa da política nacional de saúde,
houveram movimentos para promover uma participação maior da comunidade nos
processos de educação em saúde, com forte influencia das ideias de Paulo Freire,
contudo isso não representou o contexto geral do pais. (SCHALL e MOHR, 1992;
VENTURI e MOHR, 2011).
Na lei 5.962/71, é inserida a Educação em Saúde como atividade obrigatória nos
currículos de 1º e 2º graus. Essa lei é promulgada em pleno regime militar, tinha como
propósito adequar a educação às determinações econômicas da época. O novo modelo
educacional, inseriu em seu ordenamento jurídico a Teoria do Capital Humano (TCH) que
deu apoio ao discurso economicista das políticas do capital internacional (FRIGOTTO,
1999). Neste cenário, o discurso liberal impôs uma tendência tecnicista como referencial
para a organização da educação brasileira dando ênfase na eficiência técnica do sistema,
na maximização dos resultados, nos meios e nas técnicas educacionais, portanto, na
dimensão quantitativa do sistema. (FICO, 2004).
A promoção à saúde nos faz pensar na construção de práticas que colaborem para
a construção e desenvolvimento de hábitos saudáveis, indivíduos responsáveis,
autônomos e conhecedores do direito político, econômico e social à saúde (Ministério da
Saúde apud Lervolino, 2000).
O trabalho com Educação em Saúde em ambientes formais depende de um
profissional preparado, que tenha uma postura crítica, reflexiva, não apenas preocupado
em transmitir conteúdos, mas interessado em fazer os alunos entenderem o contexto da
situação e, perceberem que não apenas o aspecto saúde deve ser considerado, mas
também os aspectos, sociais, políticos, éticos relacionados aos problemas de saúde
pública.

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Para se trabalhar efetivamente a saúde na escola é necessário,
também, realizar cursos de atualização para professores que
aperfeiçoem sua eficiência pedagógica e ampliem sua visão da
questão da saúde nos seus múltiplos aspectos. Isto é essencial para o
encaminhamento de uma ação participativa e criadora dos alunos. É
importante estimular os professores a planejarem e executarem
projetos em conjunto com seus alunos, investigando algum problema
de saúde relevante para a região da escola e propondo ações e
alternativas de solução. Tais projetos devem ser registrados e
avaliados sistematicamente quanto à sua eficácia no âmbito escolar e
fora dele (MOHR, 1992).
Definir campos de ação para a promoção da saúde. Dentre eles, estão: a
construção de políticas públicas saudáveis; a criação de ambientes favoráveis; a
reorientação dos serviços de saúde; o desenvolvimento de habilidades individuais; e o
reforço da ação comunitária, por meio da responsabilidade social (Silveira, 2000).
Uma das estratégias que promovem a responsabilidade social é a Educação em
Saúde, entendida, neste trabalho, como a combinação de atitudes e experiências de
aprendizagem com objetivo de desenvolver o conhecimento dos indivíduos “sobre os
determinantes da saúde, sobre o comportamento em saúde, e sobre as condições sociais
que afetam seu próprio estado de saúde e o estado de saúde dos outros” (Silveira, 2000,
p.34).
É essencial repensar a educação em saúde promovida nas instituições de ensino.
Existe hoje, dentro de algumas escolas, preocupação na forma de inseri-la dentro do
currículo dos seus cursos e, por conta disso, proliferam as diferentes maneiras de
abordagens em diversas disciplinas, mais notadamente àquelas ligadas às ciências
biológicas. Como essa abordagem está sendo feita? Quais os temas são abordados? Em
quais níveis de escolaridade? Quais disciplinas tratam a educação em saúde?
São estes questionamentos que motivaram a presente pesquisa, cujo principal
objetivo foi analisar os trabalhos apresentados no Encontro Nacional de Pesquisa de
Educação em Ciências (ENPEC) com o tema “Educação em Saúde”, no período de 2013
a 2017, examinando o conhecimento produzido e identificando os enfoques, sujeitos da
pesquisa, objetivos, resultados e as lacunas existentes.

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A EDUCAÇÃO EM SAÚDE NO AMBIENTE ESCOLAR

O conceito de educação em saúde está ligado à melhoria da qualidade de vida e a


prevenção de doenças.
O conceito de educação em saúde está atrelado a um conjunto de “regras” que
contribuem para a melhoria da qualidade de vida, bem como para a prevenção de
doenças. A esta definição agrega-se o conhecimento por ser o método mais eficiente para
se assimilar e corrigir as necessidades, possibilitando mudanças comportamentais tendo
em vista a prática como efetivação dessa mudança (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1998 apud
OLIVEIRA; GONÇALVES, 2004)
Considerando-se a evolução histórica do espaço escolar como um campo de
promoção da saúde, nos últimos 30 anos, o trabalho educativo em saúde, vivenciado na
escola, avançou consideravelmente no país, favorecendo a articulação entre a saúde e a
educação nos espaços institucionais (COSTA et al., 2013). Trata-se de uma iniciativa já
difundida em alguns países e que vem se desenvolvendo lentamente em escolas
brasileiras. A análise dos antecedentes históricos da promoção da saúde em escolas nos
remete ao seu país de origem, o Canadá, no qual a partir da década de 1970, configurou
as bases internacionais do ideário da escola enquanto cenário promotor de saúde
(VALADÃO, 2004). Experiência realizada na China demonstra, ainda, que modelos de
atenção pautados nos aspectos ambientais da saúde estão articulados a melhores
resultados (VALADÃO, 2004).
Atualmente o conceito de promoção da saúde está vinculado à compreensão de
que saúde não é apenas a ausência de doença, sua definição insere-se a uma rede
complexa de interdependências e inter-relações na qual não é possível estabelecer uma
causalidade linear (FRAGA et al., 2013). Diante deste contexto, nota-se ainda que o
incremento da violência, a pobreza e a desestruturação familiar comprometem os
resultados do processo de aprendizado escolar. A escola atual não é apenas um local
onde se ensina matemática, biologia e línguas, mas também um centro de multiplicação
de informações sobre prevenção de acidentes, hábitos de higiene, abuso de drogas e
outros temas de relevância. É importante que o aluno seja visto de forma integral uma vez
que o aspecto biopsicossocial do mesmo passa a influenciar de forma decisiva sobre seu
aprendizado (LIBERAL,2002). A escola é um ambiente propício para o desenvolvimento
de ações educativas em saúde visto que nela se constrói, destrói ou se perpetua uma
ideologia através da transmissão de valores e crenças. Diante da abordagem de pré-
escolares ressalta-se ainda que na infância ocorre a construção e solidificação dos

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hábitos e atitudes e, em vista disso, destaca-se a importância do papel da escola como
um ambiente potencializador para o desenvolvimento de um trabalho direcionado
(HARADA et al.,2013). Gardanoet et. al. (2013) destaca ainda que a concretização de
projetos de promoção da saúde (PS) no contexto escolar está apoiada no professor, o
qual representa um elo importante e fundamental neste contexto, sendo um multiplicador
de idéias.
Acreditamos que no ambiente escolar o indivíduo, em determinadas etapas da
vida, apreende atitudes e habilidades que são articuladas às suas experiências
vivenciadas no cotidiano. Essas conquistas orientam o aluno para o reconhecimento e
expressão de suas necessidades, possibilitando a oportunidade de refletir sobre seu
papel histórico e colaborando para possíveis transformações por intermédio da
consciência e mudança social (Lervolino, 2000).
Neste sentido, a Educação em Saúde pretende “colaborar na formação de uma
consciência crítica no escolar, resultando na aquisição de práticas que visem à promoção,
manutenção e recuperação da própria saúde e da saúde da comunidade da qual faz
parte” (Focesi, 1992, p.19).
Quando falamos em Educação em Saúde (ES), logo nos vem a concepção de
saúde como ausência de doenças. Porém, essa concepção é bastante ingênua, visto que,
ES é uma abordagem ampla, que vai desde a concepção de ausência de doenças até
mesmo estilo e qualidade de vida.
Segundo Grazzinelli (2006, p. 200-206), a intervenção educacional, na maioria das
vezes, apoia-se na ideia de que se pode educar para saúde, a julgar pela forma como os
projetos na área são concebidos. A grosso modo, esses projetos são voltados para
populações pobres e desfavorecidas sócio-econômico-culturalmente. O princípio de se
educar para saúde parte da hipótese de que vários problemas de saúde são resultantes
da precária situação educacional da população, carecendo, portanto, de medidas
"corretivas" e/ou educativas.
Para Bagnato (1987), por exemplo, a Educação em Saúde no espaço escolar
depende, em grande parte, do preparo acadêmico dos educadores e de quais as
metodologias que ele se utiliza nas aulas. Antes dele, Silva (1983) também já evidenciava
a necessidade da formação crítica de educadores para que esses soubessem articular
teoria e prática de acordo com as condições de vida da população. O próprio Ministério da
Saúde propõe a necessidade de formação e qualificação docentes para a abordagem da
promoção à saúde em ambiente escolar (Ministério da Saúde, 2002).

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De acordo com Paul (2005) há duas subdivisões no campo da educação em saúde,
considerando seus objetivos estritos: a prevenção das doenças e a promoção de saúde.
Propõe o autor três modelos justapostos: o modelo da saúde positiva como bem-estar que
precisa ser preservado; o da saúde negativa que representa a doença que deve ser
evitada e o modelo da saúde global, muito mais complexo que procura englobar os
determinantes biológicos, psicológicos e socioculturais que interferem na saúde ou na
doença. Destaca o autor que o modelo da saúde negativa, focado na doença, é muito
mais aceito e largamente reproduzido em nossa sociedade sob o paradigma do modelo
biomédico.
A educação em saúde é um campo multifacetado, para o qual convergem diversas
concepções, das áreas tanto da educação, quanto da saúde, as quais espelham
diferentes compreensões do mundo, demarcadas por distintas posições político-filosóficas
sobre o homem e a sociedade.
O conceito de educação em saúde é mais amplo do que o conceito de promoção
da saúde. Trata-se de um processo que abrange a participação de toda a população, das
instituições de ensino e dos órgãos governamentais e de saúde no contexto de sua vida
cotidiana.
Essa noção está baseada em um conceito de saúde ampliado, considerado como
um estado positivo e dinâmico de busca de bem-estar, que integra os aspectos físico e
mental (ausência de doença), ambiental (ajustamento ao ambiente), pessoal/emocional
(auto realização pessoal e afetiva) e sócio ecológico (comprometimento com a igualdade
social e com a preservação da natureza). Entretanto, a par dessa noção ampliada de
saúde, observando-se a prática, verifica-se que atualmente persistem diversos modelos
ou diferentes paradigmas de educação em saúde, os quais condicionam diferentes
práticas, muitas das quais reducionistas, o que requer questionamentos e o alcance de
perspectivas mais integradas e participativas (SCHALL, 1999).
Fica evidenciada, portanto, a importância do tema, visto que a Educação em Saúde
pode contribuir na formação de consciência crítica do educando, culminando na aquisição
de práticas que visem à promoção de sua própria saúde e da comunidade na qual
encontra-se inserido (COSTA, 2012).

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PERCURSO METODOLÓGICO

Este estudo é do tipo “estado do conhecimento” abordando a inserção da


Educação em Saúde nos diversos níveis de escolaridade, utilizando como base de coleta
de dados, os trabalhos apresentados no Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em
Ciências (ENPEC), no período de 2013 a 2017.
Para André (2009, p.43):

Estudos do tipo ‘estado do conhecimento’, que fazem uma síntese


integrativa da produção acadêmica em uma determinada área do
conhecimento e em um período estabelecido de tempo, têm sido
muito úteis ao revelar temáticas e metodologias priorizadas pelos
pesquisadores, fornecendo importantes elementos para aperfeiçoar a
pesquisa num determinado campo do saber.
Algumas pesquisas são desenvolvidas objetivando a sistematização da produção
em uma determinada área do conhecimento, sendo um tipo de estudo imprescindível para
apreender a amplitude do que é produzido e constitui-se em relevante fonte de referência
a outros pesquisadores (ALLEVATO; SANTOS, 2014).
Para a busca dos trabalhos no site do evento, utilizou-se os papers que estavam na
linha temática Educação em Saúde, relações entre educação em saúde e Educação em
Ciências; educação popular em saúde; promoção da saúde; formação docente e
profissional em saúde.
A partir dos resumos obtidos pelo termo já citado, obteve-se 126 trabalhos, onde na
primeira leitura foram excluídas cinco por não estarem diretamente relacionados a
questão central.
Em seguida fez-se a classificação por área da saúde abordada e níveis de ensino
onde os estudos foram realizados.
Também se observou a distribuição geográfica das instituições de ensino onde
foram realizadas as pesquisas bem como suas naturezas administrativas.
Alguns trabalhos tiveram que ser lidos em sua íntegra, pois o resumo não elucidava
exatamente aquilo que buscávamos em nossa pesquisa.
Assim, observou-se ou final de todas as leituras, que os trabalhos iam além da
educação em ambiente escolar e que esses, extrapolavam o ensino formal.

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ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Após leitura dos resumos e de alguns artigos em sua íntegra, podemos delimitar os
trabalhos por temas abordados, todos temas pertinentes à educação em saúde, temas
diversos que passam pela ES escolar, ensino básico onde aborda-se como práticas como
lavagem de mãos, assepsia, doenças parasitárias até educação sexual, doenças
reemergentes como Dengue e Sarampo, conforme podemos verificar na figura 01.

Figura 1: Distribuição dos temas abordados sobre Educação em Saúde no ENPEC,


período de 2013-2017.

Fonte: Autores

Em relação à distribuição dos trabalhos onde a pesquisa foi realizada


(sujeitos da pesquisa), os mesmos abrangiam todos, desde os Ensinos Fundamentais I e
II, Ensino Médio, Superior, e classificados como outros temos: formação de professores,
concepção de docentes, comunidades e outros mapeamentos, como podemos observar
na figura 02.

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Figura 02: Distribuição dos trabalhos de acordo com os sujeitos da pesquisa.

Fonte: Autores
A análise das publicações nos permite fazer algumas conclusões, como por
exemplo, que a educação em saúde não é abordada como metodologia profilática; muito
mais generalista (24,7%) e muito menos informativa.
Saúde ambiental é uma temática essencial para a promoção da saúde coletiva foi
minimamente abordada, o que poderia ter sido feito uma correlação com doenças
emergentes, o que não aconteceu em nenhum dos trabalhos apresentados.
Temas que abordam doenças sexualmente transmissíveis DST), educação sexual,
tabagismo e drogas foram restritos a alunos dos ensinos médio e fundamental II
(29,75%), o que mostra a dificuldade de inserir temas tão atuais e importantes nos anos
iniciais de ensino. Esse contraponto se dá pela sexualidade estar relacionada com
valores, religião, crenças e cultura. Não é algo pronto ou específico, mas pode ser
considerado de acordo com o conhecimento das pessoas, visto que ainda nos tempos de
hoje, muita gente desconhece questões da sexualidade e mesmo sentindo interesse pelo
assunto, se limita e restringe às importantes informações (SANTOS, 2013).
Boa parte dos trabalhos foram na área da nutrição, esses abordando
principalmente a obesidade e hábitos alimentares que desencadeiam doenças
metabólicas como o Diabetes tipo II.
Trabalhos realizados com grupos fora do ambiente escolar, em especial em
comunidades abordam principalmente assuntos como educação nutrição e educação
ambiental, esse último com foco em vetores de doença, o que podemos dizer ser
importante estratégia de promoção à saúde, promovidas por instituições de ensino.
Muitos trabalhos foram realizados nas comunidades próximas aos centros de
ensino e pesquisa, de as abordagens em sua maioria se referia à prevenção de doenças,

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controle alimentar e saúde ambiental, visando o controle de patologias mediadas por
vetores.
Segundo Maciel et al. (2010), as Escolas Promotoras buscam desenvolver
conhecimentos, habilidades e prontidão para o desenvolvimento do autocuidado e a
prevenção das condutas de risco, facilitando a análise crítica e reflexiva sobre valores,
atitudes, condições sociais e estilos de vida, fortalecendo tudo que favorece a melhoria da
saúde e o desenvolvimento humano.
No que se refere à fundamentação teórica e aos instrumentos de coleta de dados,
constatou-se que são bastante diversificados, fato que pode ser justificado pela
diversidade de assuntos e também de grupos onde os trabalhos foram propostos. Essa
análise nos permitiu perceber que não existe uma tendência única para as pesquisas
relacionadas à ES, e que essas são, ainda, muito diversificadas.
As metodologias utilizadas nas intervenções para a abordagem dos diversos temas
foram variadas, caracterizando-se predominantemente aplicação de conteúdos via
palestras, seminários, aulas teóricas e práticas, de acordo com as características do
público a quem pretendia-se dirigir.
No tocante às metodologias utilizadas, devem priorizar a participação e interação
dos protagonistas do processo, pois a avaliação de como pensam e agem os escolares
de determinada localidade facilita a identificação dessa realidade, direcionando as
políticas públicas saudáveis (CARDOSO; REIS; IERVOLINO, 2008).

Em relação à distribuição geográfica das instituições de pós-graduação, elas


abrangem 14 estados de todas as regiões brasileiras, com predomínio na região sudeste,
seguida pela região sul, nordeste, centro-oeste, norte e também 2 outros países,
Argentina e Portugal.
Percebe-se pelos dados que, a maioria dos trabalhos são de pesquisadores
residentes ou locados em grandes centros de pesquisa ensino e extensão nas áreas da
saúde e educação.

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Figura 3: Distribuição geográfica por região brasileira, dos trabalhos apresentados no
Encontro Nacional de Pesquisa em Ensino de Ciências, período 2013-2017.

5,78%

12,40%

11,59% 45,45%
%

21,48%

Fonte: Autores.

Outros países como Argentina e Portugal, participaram com 04 trabalhos,


totalizando 3,30% do total no período. Encontramos estudos em 13 instituições
diferentes, sendo que em relação à dependência administrativa, predominou oito de
natureza pública federal (61,53%), quatro estaduais (30,76%); e duas instituições
particulares (7,71%), distribuição essa que podemos observar na figura 04.

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Figura 4: Distribuição da produção de artigos apresentados no ENPEC, período de 2013-
2017, conforme a natureza administrativa das instituições.

Fonte: Autores

Foi possível perceber a existência de dificuldades e fragilidades para inserir a


educação em saúde nos cursos de formação de professores, havendo necessidade de
maior discussão e reflexão diante dos problemas no que cerne as práticas educativas,
com criticidade, envolvendo toda a comunidade acadêmica, quanto a população em geral,
sendo um longo caminho a percorrer.
É evidente, portanto, a importância do tema, visto que a Educação em Saúde pode
contribuir na formação de consciência crítica do educando, culminando na aquisição de
práticas que visem à promoção de sua própria saúde e da comunidade n
a qual encontra-se inserido (COSTA, 2012).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho mostrou que a inserção da educação em saúde na formação de


professores e também na educação escolar em seus diversos níveis vem sendo
pesquisada por diversas instituições e cursos diferentes, evidenciando que existe uma
preocupação em mediar essas importantes informações no espaço escolar e extraescolar.

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A Educação em Saúde é ferramenta importante para promover a inserção de
comportamentos que levem a qualidade de vida, bem-estar social e psicossocial.
A produção mostrou um maior número em educação básica escolar, focando nos
conceitos de saúde e principais doenças e como evita-las, seguido de trabalhos focando
práticas educativas na formação de professores, nutrição e ações promovidas em
serviços de saúde; concentrando-se em instituições de caráter público, com predomínio
de universidades federais, seguidas por universidades estaduais e apenas três
instituições privadas.
Com a leitura integral dos estudos apresentados nesse trabalho, será possível uma
análise mais aprofundada, mostrando outras tendências e perspectivas não identificada.
Observa-se claramente a necessidade de pesquisas que relacionem a educação
em saúde com a formação docente com a prática pedagógica dos egressos depois de
formados, levando os diversos temas para discussões em sala de aula e fora dela, na
perspectiva que as comunidades possam usufruir das pesquisas realizadas nos grandes
centros de ensino, pesquisa e extensão que temos tanto nas instituições públicas e
privadas no Brasil e o aumento de experiências interdisciplinares e transdisciplinares nos
cursos de graduação e na formação básica.
Educação em Saúde significa a formação de atitudes e valores que levam os
estudantes ou membros de uma comunidade a práticas conducentes à saúde. Deve estar
presente em todos os aspectos da vida escolar e integrada à educação global.
Ainda podemos destacar que as ações de saúde realizadas nas escolas alteram a
dinâmica escolar e que o profissional e os acadêmicos da área da saúde podem não estar
preparados para a interação com os estudantes ressaltando assim, a necessidade da
participação da comunidade educativa em todas as etapas das ações de saúde nas
escolas. Silva e Haddad (2006) discursam ainda sobre os importantes desafios para a
consolidação da escola como ambiente de promoção da saúde: o processo político-
institucional, ruptura do caráter prescritivo, desarticulado e focalizado das ações
geralmente desenvolvidas em programas de saúde escolar, transformação de
metodologias e técnicas pedagógicas tradicionais, entre outros.
Mas para tanto, é necessário a preparação adequada do pessoal que participa do
programa de educação em saúde na escola é essencial para assegurar seu êxito e sua
efetividade. Essa preparação deverá ser delegada a especialistas, profissionais da saúde
em suas diferentes especialidades.

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REFERÊNCIAS

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dez anos do mestrado profissional em Ensino de Ciências e Matemática da Universidade
Cruzeiro do Sul. In: ALLEVATO, N. S. G.; CURI, E.; AMARAL, L. H. Dez anos de
Mestrado Profissional: contribuições da pesquisa para o ensino. São Paulo, Terracota
Editora, 2014 p. 35-54.
ANDRÉ, M. E. D. A. A produção acadêmica sobre formação de professores: um estudo
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Docente, Belo Horizonte, v. 01, n. 01, p. 41-56, ago. /dez. 2009.
BAGNATO, M. H. S. Licenciatura em enfermagem: para quê? Tese (Doutorado) -
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Submissão: 13/11/2018
Aceite: 02/12/2018

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