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ANÁLISE COMPARATIVA DO MAPEAMENTO DE VEGETAÇÃO SECUNDÁRIA DOS


PROJETOS TERRACLASS E MAPBIOMAS

Conference Paper · April 2019

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Samia Nunes
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ANÁLISE COMPARATIVA DO MAPEAMENTO DE VEGETAÇÃO
SECUNDÁRIA DOS PROJETOS TERRACLASS E MAPBIOMAS

Luis Oliveira Junior 1, Sâmia Nunes 2, Carlos Souza Junior 1, Frederic Kirchhoff1 e João Victor
Siqueira 3
1
Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia – Imazon
Caixa Postal 66.055-200 – Belém – PA, Brasil
[luis, souzajr, frederic]@imazon.org.br
2
Intituto Tecnológico da Vale – ITV
Caixa Postal 66.055-090 – Belém – PA, Brasil
samia.nunes@itv.org
3
Analista em GIS e Sensoriamento Remoto
joaovsiqueira1@gmail.com

MapBiomas classify automatically on Google Earth Engine.


RESUMO The agreement between the data was 15% considering the
total area mapped by these two projects. The differences
A vegetação secundária (VS) exerce funções estratégicas between the methods directly influence the agreement,
para os ecossistemas atuando na fixação do carbono, improvements in frequency of mapping, reduction of
manutenção da biodiversidade, manutenção do regime subjectivity in visual interpretation and increase in the
hidrológico e recuperação do solo. Por isso, sua proteção e historical series can raise the quality of both products,
monitoramento são fundamentais. Fontes de informações providing more accurate and reliable information about
geoespaciais em larga escala sobre VS são poucas. Porém, secondary vegetation.
duas iniciativas se destacam na Amazônia. Analisamos os
projetos MapBiomas e TerraClass quanto aos dados de VS. Key words — Secondary vegetation, Agreement,
Foram mapeados aproximadamente 93.100 km² de VS MapBiomas, TerraClass, Pará.
somando os dois projetos. Existem diferenças metodológicas
entre os mapeamentos. O TerraClass utiliza análise visual, 1. INTRODUÇÃO
enquanto o MapBiomas classifica automaticamente no
Google Earth Engine. Em relação à área total mapeada A presenca vegetação secundária (VS) é comum em
pelos projetos, a concordância da VS foi de 15%, e as ambientes que já foram alterados pelo homem, e se
diferenças metodológicas influenciam diretamente. caracteriza pelo crescimento da vegetacao em areas
Melhorias no aumento da frequência do mapeamento, anteriormente desmatadas ou degradadas. Possui uma
diminuição da subjetividade na interpretação visual e importância estratégica principalmente em regiões onde
aumento da série histórica podem elevar a qualidade de grande parte das florestas primarias ja foram suprimidas [1].
ambos, disponibilizando informações mais precisas e A VS tem funções importantes para os ecossistemas como
confiáveis sobre a cobertura de VS. fixação de carbono, manutenção da biodiversidade,
estabelecimento de conectividade de remanescentes
Palavras-chave — Vegetação secundária, florestais, manutenção do regime hidrológico e recuperação
Concordância, MapBiomas, TerraClass, Pará. da fertilidade do solo [2]. Sua ocorrência está diretamente
ligada as mudancas deuso do solo (intervenção humana) que
ABSTRACT podem ser motivadas por diversas atividades como
agricultura, pecuária, mineração e abertura de estradas [3].
Secondary vegetation (SV) has strategic functions for A dinâmica do desmatamento na Amazônia é
ecosystems in carbono fixation, maintenace of biodiversity monitorada desde 1988 pelo Instituto Nacional de Pesquisas
and hydrological regime, and soil recovery.Their protection Espaciais – INPE através do PRODES (Programa de
and monitoring are fundamental. Sources of geospatial Monitoramento da Floresta Amazônica por Satélite) [4].
information about secondary vegetation are few, but two Este projeto quantifica o desmatamento na Amazônia sem
initiatives provide data that enable research on this topic. definir o tipo de uso das áreas desmatadas. Visando
We analised the MapBiomas and TerraClass projects identificar e quantificar as principais atividades responsáveis
comparing the secondary vegetation class in both. pelo desmatamento na região foi criado o Projeto TerraClass
Approximately 93,700 km² of SV were mapped by adding para mapear o uso e cobertura do solo nas áreas desmatadas
these two projects. There are methodological diferences na Amazônia Legal [5]. O TerraClass mapeia, entre outras
between the projects, TerraClass uses visual analysis, while classes, a vegetação secundária sendo uma das poucas fontes
de informações geoespaciais sobre o assunto. Possui dados Em 2014 o TerraClass mapeou 63.400 km² e o MapBiomas
para os anos de 2004, 2008, 2010, 2012 e 2014. mapeou 43.700 km² de VS no estado do Pará. O Mapbiomas
A partir de 2015 outro sistema permitiu a geracao de teve uma área de VS 31% menor que o TerraClass (Gráfico
informacoes sobre VS. O MapBiomas, criado pelo Sistema 1).
de Estimativa de Emissões de Emissões de Gases de Efeito
Estufa (SEEG) do Observatório do Clima, realiza o 70000
mapeamento de todos os biomas brasileiros anualmente.
Com as informações sobre a cobertura de desmatamento e
floresta geradas a partir do MapBiomas é possível definir as 60000
áreas com ocorrência de VS e suas respectivas idades.
Este trabalho visa comparar os dados de VS dos
mapeamentos do TerraClass e MapBiomas, avaliando (1) a 50000
área total de VS mapeada, (2) a concordância e as diferenças
entre os mapeamentos e (3) propor acoes que possam 40000
melhorar o mapeamento de VS na Amazonia. Vegetação
Secundária
2. MATERIAIS E MÉTODOS 30000 (km²)

A área de estudo selecionada foi o estado do Pará que possui


20000
uma área total de aproximadamente 1.248.000 km² [7] e está
localizado no bioma amazônico. Foram comparados os
dados de VS para o ano de 2014 em ambos os mapeamentos 10000
(TerraClass e MapBiomas). O TerraClass é mapeado dentro
das áreas apontadas como desmatadas pelo PRODES na
Amazônia Legal, por meio de interpretação visual de 0
Mapbiomas TerraClass
imagens de satélite e o auxílio de algumas camadas de
informação importantes para a definição das classes [5]. Gráfico 1. Área de vegetação secundária mapeada pelo
Dentre as 12 classes de cobertura e uso do solo mapeadas TerraClass e MapBiomas no estado do Pará em 2014.
pelo TerraClass [5], foi selecionada para este trabalho
somente a classe vegetação secundária, definida como áreas Alguns fatores podem explicar essa diferença.
que foram desmatadas e estão em estágio avançado de Dentre eles estão algumas especificidades metodológicas de
regeneração, com árvores e arbustos. Inclui áreas que foram cada mapeamento. Para identificar a VS utilizando a
usadas para silvicultura ou agricultura permanente com o metodologia do MapBiomas é necessário que o pixel seja
uso de espécies nativas ou exóticas [5]. De acordo com essa classificado anteriormente como desmatamento e, no
definição os analistas classificam áreas previamente decorrer da série histórica, esse mesmo pixel seja
desmatadas e que no ano do mapeamento apresentam sinais classificado como floresta. Como a coleção 2.3 gerou dados
de regeneração. entre 2000 e 2016, a VS mais antiga (>16 anos) nao foi
O MapBiomas define a VS com base nos mapas anuais quantificada, sendo chamada de ”floresta” no mapeamento.
produzidos. Foi considerada VS áreas que foram Sendo assim há uma grande probabilidade de parte da
previamente desmatadas e, no decorrer da série histórica, Floresta que foi mapeada no Mapbiomas ser classificada
são reclassificadas como floresta. Ou seja, se um pixel foi como VS pelo TerraClass. Da área classificada como
classificado como desmatamento e no ano seguinte passou a floresta pelo MapBiomas em 2014 no Pará, ~63.480 km²
ser floresta, esse pixel passa a ser chamado de VS. No estão em áreas desmatadas até 2000 de acordo com o
mapeamento do MapBiomas foi utilizada a coleção 2.3 que Prodes. Isto significa que parte desta area provavelmente e
mapeou os biomas brasileiros no período de 2000 a 2016. O VS, reduzindo a diferenca entre os sistemas. A tendência é
produto de VS do MapBiomas foi gerado por meio de que com a atualização dos dados do MapBiomas (coleção
classificação automática na plataforma GEE [8]. Ambas as 3), que ira abranger a série histórica de 1985 a 2017, a área
camadas de VS (TerraClass e MapBiomas) foram inseridas de VS mapeada pelo MapBiomas seja maior para o ano de
na plataforma GEE para os cálculos da área mapeando 2014.
estado do Pará em 2014, assim como da correspondência A área de concordância entre os mapas de VS do
entre os dois mapeamentos. Foi feita uma análise de TerraClass e do MapBiomas em 2014 no estado do Pará foi
correspondência entre os mapas de VS no GEE analisando de 14.051 km² (15%). Aproximadamente 49.300 km² (53%)
pixel a pixel a concordâncias entre os mapeamentos. de VS foram mapeados apenas no projeto TerraClass, e
29.700 km² (32%) de VS foram mapeados somente no
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO projeto MapBiomas, totalizando quase 93.130 km² de VS
mapeadas juntando os dois projetos (Tabela 1).
classe no mapeamento TerraClass (Figura 1). Seria
Categoria Área (km²)
interessante para as próximas versões do TerraClass a
automatização do mapeamento visando diminuir os erros no
VS TerraClass 63423,50 processo de classificação e reduzir o tempo necessário para
gerar o produto para toda a Amazônia Legal, possibilitando
VS MapBiomas 43755,04 a divulgação anual dos resultados, o que facilitaria a
determinação da idade da VS.
VS Total 93127,44

VS Concordância 14051,10
Tabela 1. Categorias de vegetação secundária em 2014 no
estado do Pará e suas respectivas áreas.

Neves et al. (2017) compararam TerraClass e


MapBiomas (coleção 2.3) de maneira geral (analisando
todas as classes) para o ano de 2014 no estado do Pará
apontando uma concordância média de 84% entre todas as
classes. No entato, para a VS houve uma grande
discordância na classificação: 80,77% da VS do TerraClass
foi considerado Floresta no MapBiomas. Por outro lado,
38,76% e 25,08% da VS do MapBiomas foi classificado
como Floresta e Pasto pelo TerraClass respectivamente [6],
isso corrobora com a baixa concordância apontada neste
artigo. Figura 1. Análise do mapeamento da vegetação secundária
Ao analisar espacialmente os dados de concordância entre os municípios de Moju, Acará e Tailândia em 2014.
dos mapeamentos, neste estudo, observou-se que parte do
que foi mapeado como VS pelo Mapbiomas pertence a 4. CONCLUSÕES
outras classes no TerraClass, o que pode explicar parte da
discordância entre os mapeamentos. Os estágios iniciais de De maneira geral a concordância entre o mapeamento de VS
regeneração (de 1 a 5 anos) do MapBiomas podem ser nos projetos TerraClass e Mapbiomas é baixa no ano de
classificados como pastagem ou agricultura para o 2014 dentro do estado do Pará (15%), possivelmente pelas
TerraClass podendo aparecer na forma de Regeneração com razões citadas ao longo do texto. A baixa concordância para
Pasto, Agricultura Anual (em estágio mais avançado) ou a classe de VS foi observada também em outros estudos.
Pasto Sujo. Os dois sistemas sao importantes e O MapBiomas tem uma limitação em sua série histórica
complementares para o mapeamento de VS na Amazonia, e na coleção 2.3 (2000 a 2016), isso compromete o
podem aumentar ainda mais a acuracia de sua classificacao. mapeamento de VS secundárias com mais de 16 anos de
O MapBiomas, por ter um método de classificação regeneração, porém foram identificados mais de 63.000 km²
automatizado, classifica como VS qualquer sinal de de florestas em regiões onde o Prodes apontou
regeneração na série historica, mesmo essa regeneração desmatamento até 2000, essas regiões possuem grande
sendo monoculturas para fins comerciais. O aumento da probabilidade de serem de fato VS. A tendência é que o
série histórica de imagens pode possibilitar o mapeamento mapeamento da VS no MapBiomas seja aprimorado com a
de áreas de VS em estágios mais avançados de regeneração disponibilização da coleção 3, que traz 33 anos de imagens
e permitir a separacao entre VS e moncultivos, do satélite Landsat (1985 a 2017).
diferenciando os diferentes padroes ao longo do tempo. O TerraClass possui alguns aspectos que podem ser
Atualmente o produto do MapBiomas não consegue detectar ajustados, melhorando consequentemente o produto final de
automaticamente as áreas de agricultura anual podendo VS, seria importante um esforço para divulgação do dado
classificá-las como VS. Apenas a classe de silvicultura é anualmente para que sejam possíveis novas aplicações como
detectada já que seu ciclo de corte é capturado durante a a determinação da idade da VS por exemplo. Outra sugestão
série histórica. que surge é o aumento da automatização do processo de
O TerraClass apresenta interpretações diferentes para classificação do TerraClass, diminuindo a parcela de
regiões com características semelhantes. O cultivo de Dendê subjetividade depositada ao analista, já que o desafio e o
localizado na fronteira entre os municípios de Tailândia, esforço necessário para mapear o uso e cobertura do solo em
Moju e Acará, parte é classificado como VS e parte é toda a Amazônia Legal é imenso.
classificada como Agricultura Anual. Essa cultura é Pelas características específicas de cada método
permanente, o que deveria garantir que essa área fosse algumas situações acabam favorecendo a baixa
classificada como VS de acordo com a definição dessa concordância entre os mapeamentos, grande parte da VS
mapeada no TerraClass é mapeada como floresta no [4] Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
MapBiomas e parte da VS mapeada pelo MapBiomas Monitoramento da floresta amazônica por satélite, Projeto
aparecem como agricultura ou pasto no TerraClass. Ajustes PRODES, 2018. Disponível em <
como a automatização da metodologia do TerraClass, e o http://www.obt.inpe.br/OBT/assuntos/programas/amazonia/prodes
>:
aumento da série de imagens no MapBiomas poderiam
contribuir de forma decisiva no aumento da qualidade da [5] Almeida, C. A. de; Coutinho A. C.; Esquerdo, J. C. D. M.;
informação de VS na Amazônia. Adami, M.; Venturieri, A.; Diniz, C. G.; Dessay, N.; Durieux, L. e
Gomes, A. R., “High spatial resolution land use and land cover
mapping of the Brazilian Legal Amazon in 2008 using Landsat-
5. REFERÊNCIAS 5/TM and MODIS data”, Acta Amazonica, v. 46, n. 3, pp. 291-302,
2016.
[1] Vieira, I. C. G.; Gardner, T.; Ferreira, J.; Lees, A. C. e Barlow,
J., “Challenges of Governing Second-Growth Forests: A Case [6] Neves, A. K.; Körting, T. S.; Fonseca, L. M. G.; Queiroz, G. R.
Study from the Brazilian Amazonian State of Pará”, Forests, v. 5, de, Vinhas, L.; Ferreira, K. R. e Escada, M. I. S., “TerraClass x
n. 7, pp. 1737-1752, 2014. MapBiomas: Comparative assessment of legend and mapping
agreement analysis”, XVIII GEOINFO, pp. 295-300, 2017.
[2] Almeida, C. A.; Valeriano, D. M.; Escada, M. I. S. E Rennó,
D., “Estimativa de área de vegetação secundária na Amazônia [7] Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Cidades.
Legal Brasileira”, Acta Amazonica, v. 40, n. 2, pp. 289-302, 2010. 2018. Disponível em: <
https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pa/panorama >

[3] Schwartz, G.; Ferreira, M. do S. e Lopes, J. do C., [8]MapBiomas. 2018. Disponível em: < http://mapbiomas.org/>
“Silvicultural intensification and agroforestry systems in secondary
tropical forests: a review”, Amazonian Journal of Agricultural and
Environmental Sciences, v. 58, n. 3, pp. 319-326, 2015.

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