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17 de janeiro de 2012
Três meses antes, haviam celebrado Convenção antenupcial da qual constam as seguintes cláusulas:
1. António doa a Beatriz o seu imóvel X, declarando que tal doação é irrevogável.
2. Beatriz declara que nunca assumirá qualquer responsabilidade na educação dos filhos que
venham a ter.
3. Nos três primeiros anos do casamento vigorará o regime de comunhão de bens adquiridos.
Se, então, Beatriz vier a integrar um escritório de advocacia, o que sempre desejou, o regime
de bens passará a ser um regime misto.
Em fevereiro de 2011 Beatriz descobre que António casara com ela só e só para adquirir a
nacionalidade portuguesa. Apesar de António se revelar um companheiro “irrepreensível”,
Beatriz quer “providenciar a invalidade do casamento”.
Em maio de 2011 o casal compra uma viatura para facilitar a vida profissional de António.
Em junho, António gasta 700 euros, que Beatriz deixara numa carteira, para decorar o seu
local de trabalho. Beatriz fica muito irritada com o sucedido: nunca tinham falado sobre o
assunto, era uma verba auferida por ela.
As desavenças aumentam depois do nascimento da Iva, em junho de 2011. António sustenta
não ser o pai da criança e pretende tomar as medidas necessárias a tal demonstração e
subsequente produção de efeitos legais.
O advogado que acompanha o caso diz então que afinal tudo decorreria facilmente, caso
terminasse a divergência acerca de Iva: Beatriz quer que a filha estude, a partir dos três anos,
num colégio religioso. António pretende, por sua vez, proporcionar a Iva uma educação
laica, “e ela um dia resolverá a questão religiosa”.
Quid juris?
(13 valores)
II
“… o novo artigo 1671º… emerge com enorme ganho de causa na segunda metade dos anos
setenta”.
(5 valores)
De acordo com a primeira, B faz uma doação a A. Trata-se de doação entre nubentes (artigo 1753º e
ss.) Nos termos do artigo 1758º, estas doações não são revogáveis por mútuo consentimento dos
contraentes.
Este factor afigura-se impeditivo da validade da cláusula. Assim, esta sempre seria nula. É-o ainda
pelo facto de afirmar a opção vaga por um regime “misto”: tal regime só seria aceitável desde que
delimitado nos seus traços, o que não acontece ( artigos 1713º e ss.).
Descobre-se que A só pretendera adquirir a nacionalidade portuguesa com este seu casamento, não
tendo dado conhecimento da intenção a Beatriz.
Não se vislumbram fundamentos de invalidade. O dolo é irrelevante nesta sede (artigos 253º e 254º;
omissão do dolo no elenco das invalidades matrimoniais).
Os 700euros auferidos por Beatriz são bens próprios (artigo 1724º): regime de administração (alínea
a) do nº 2 do artigo 1678º; nº 1 do artigo 1681º).
Pode B interpor deste modo ação contra A, a fim de reaver a quantia, caso não se concretize outra
forma de pagamento.
Surgem problemas atinentes aos Direitos dos Menores: base constitucional, artigo 36º CRP.
O advogado que acompanha a causa afirma que “tudo se resolverá” caso o casal chegue a acordo
acerca da educação da criança.
O interesse da Menor não é “moeda de troca” em apaziguamento conjugal! Iva tem o direito a conhecer a sua
proveniência em qualquer circunstância e independentemenete das consequências. Se dúvidas subsistirem, deve
o Ministério Público atuar
Resolverá nos termos da lei: não condicionando o direito da menor ao conhecimento da sua
identidade/origem familiar, que decorre da dignidade humana.
Estão agora esses problemas concentrados na educação da criança: os pais, (ora assumidos),
pretendem sistemas educativos diferentes para ela.
Trata-se de questão essencial na vida da menor, em que impera o seu interesse superior. Na falta de
acordo, o Tribunal deverá intervir. Será este o momento? Ou antes, uma vez que se presume
divergência n meio? Ou deverá aguardar o desenvolvimento da menor, uma vez que a questão não
se coloca de imediato? (referências legais ao regime das responsabilidades parentais: matérias de
especial importância para a vida do meenor, artigo
II
III
A União de Facto pressupõe na sua última versão legal, como condição de produção de efeitos
jurídicos, a existência de estado permanente de lucidez mental. Se isso não se verificar considera-se
que deverá reiniciar a contagem do prazo de dois anos.
Assim parece dever entender-se a alteração operada com a Lei 23/2010: agora, o artigo 2º b) ressalva
dos obstáculos à produção de efeitos da União os casos de anomalia subsequente à vida comum.
Por uma das soluções alternativas caminharia o comentário pretendido. Não está vedada
interpretação teleológica e atualista da lei. O termo “união de facto” não possui, no diploma em
vigor, um sentido unívoco. Todavia, o artigo 1º identifica a União de facto com a situação que perfaz
dois anos e produz efeitos jurídicos. Cremos que deva constituir o critério de interpretação de todo o
instituto positivado.