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Em “O diário de bitita” (Editora Nova Fronteira, 1986, ed. 2013, página 139), Carolina afirma que o nascimento do poema
“O colono e o fazendeiro” deve-se ao sofrimento vivido nas fazendas. O livro, publicação póstuma, pincela sua juventude
após anos do lançamento de “Quarto de despejo”. Tendo Carolina sido nascida e criada em área rural, os mesmos olhos
críticos que observavam a vida na cidade, despertavam reflexões sobre as condições dos trabalhadores do campo.
Colonos e proprietários viviam em condições que remetiam facilmente à escravidão, com a balança pendendo para o
lado dos poderosos, restando aos prestadores de serviços direitos, oportunidades e conforto quase nulos.
O meu padrasto era triste, todos os colonos eram tristes. Depois do almoço, o Loló ia percorrer a fazenda e
ver se os colonos estavam trabalhando e contava.
– Está faltando um, por que é que ele não veio trabalhar?
– Está doente.
– Aqui na minha fazenda é proibido adoecer.
Montado num cavalo preto e roendo as unhas, nos olhava reclamando que o
nosso serviço não rendia. Na presença dele, nós carpíamos mais depressa. Quando
ele saía, nós sentávamos porque estávamos fracos.
“O colono e o fazendeiro”
Diz o brasileiro
Que acabou a escravidão
Mas o colono sua o ano Inteiro
E nunca tem um tostão
Se o colono está doente
É preciso trabalhar
Luta o pobre no Sol quente
E nada tem para guardar
Cinco da madrugada
Toca o fiscal a corneta
Despertando o camarada
Para colheita
Chega à roça ao Sol nascer
Cada um na sua linha
Suando para comer
Só feijão com farinha
Nunca pode melhorar
Esta negra situação
Carne não pode comprar
Para não dever ao patrão
Fazendeiro ao fim do mês
Dá um vale de cem mil réis
Artigo que custa seis
Vende ao colono por dez
Colono não tem futuro
E trabalha todo dia
O pobre não tem seguro
E nem aposentadoria
Ele perde a mocidade
A vida inteira no mato
E não tem sociedade
Onde está o seu sindicato
Ele passa o ano inteiro
Trabalhando. Que grandeza.
Enriquece o fazendeiro
E termina na pobreza
Se o fazendeiro falar
Não fique na minha fazenda
Colono tem que mudar
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10/10/2020 Um poema nascido da dor da opressão | Carolina de Jesus
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