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João Leonel
o menino e o reino
Meditações
diárias para
o natal
O MENINO E O REINO - MEDITAÇÕES DIÁRIAS PARA O NATAL
4
Outro motivo que inspirou a elaboração deste livro é a
convicção quanto ao valor do exercício devocional. A qualidade de
nossa experiência cristã está diretamente relacionada com a nossa
disposição para ler as Escrituras, meditar e orar diariamente. Estes
breves textos funcionam como encorajamento e provisão para as
horas devocionais. Uma espécie de “Meditações do Advento”.
O termo “Advento” vem do latim e quer dizer: vinda, visita.
No calendário cristão, é o tempo de comemorar a vinda do
Senhor Jesus, tanto a primeira quanto a segunda vinda. Trata-se
de um momento muito importante na vida da Igreja cristã
que marca o início do calendário litúrgico, que começa com o
Advento, segue para o tempo comum, depois a Páscoa, depois
outro tempo comum.
Durante o período do Advento, preparamo-nos para celebrar
a vinda de Jesus. Relendo os profetas e passagens dos evangelhos,
vamos refletindo sobre o significado de Sua encarnação. Lem-
bramos da esperança de salvação e graça acalentada pelo povo de
Israel quanto à chegada do Messias e o estabelecimento do reino
de Deus. Lembramos também da segunda vinda de Jesus, em
poder e glória. Enfim, tomamos consciência de que precisamos
de um Salvador.
O Natal pode parecer uma festa bem estranha para os que
não creem nas promessas das Escrituras. Também é estranho o
modo como a secularização tomou conta da festa: o consumismo
exagerado, os enfeites de gosto bastante duvidoso (para dizer o
mínimo), as convenções e costumes que conseguem, no máxi-
mo, fazer ecoar mensagens vagas de boa vontade entre os seres
humanos.
Queremos mais. Queremos o Natal centrado na pessoa e na
mensagem de Jesus. Concordamos com o que disse certa vez o
místico alemão Angelus Silesius: “Se Cristo nascer mil vezes em
Belém e não nascer em nossos corações, ainda não chegou o
Natal em nós”.
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Neste livro você encontrará diariamente uma mensagem
sobre o Natal e, depois dele, sobre o novo ano que se aproxima.
Queremos refletir sobre a encarnação, sobre o menino Deus, sobre
a salvação que irrompeu em graça em nosso mundo. Acompanhe-
nos. Dê-nos a alegria de compartilhar com você o que temos
ouvido, visto e experimentado a respeito do nosso Salvador.
6
1 de dezembro
REFLITA
“Toda a natureza humana resiste vigorosamente à graça porque a
graça nos transforma, e mudar é doloroso” (Flannery O’Connor).
8
2 de dezembro
O SENHOR DO TEMPO
1. Senhor, tu tens sido a nossa morada
de geração em geração.
2. Antes que nascessem os montes
ou que tivesses formado a terra e o mundo,
desde a eternidade até a eternidade, tu és Deus.
3. Tu reduzes os mortais ao pó
e dizes: Tornai-vos, filhos dos homens.
4. Pois mil anos aos teus olhos
são como o dia de ontem, ao findar-se,
e como vigília noturna.
5. Tu os arrebatas, como por uma torrente, são eles qual um sono.
De manhã são como a relva que cresce,
6. de manhã, brota e cresce;
de tarde, é ceifada e seca.
7. Pois somos consumidos pela tua ira
e, pela tua cólera, somos conturbados.
8. Diante de ti, puseste as nossas iniquidades
à luz do teu rosto, os nossos pecados secretos.
9. Pois todos os nossos dias se passam na tua ira;
gastamos os nossos anos como um suspiro.
10. Os dias da nossa vida elevam-se a setenta anos
ou, em caso de vigor, a oitenta anos.
O que lhes faz o orgulho é enfado e miséria,
porque depressa passa, e voamos.
11. Quem conhece o poder da tua ira
e a tua cólera, segundo o temor que te é devido a ti?
12. Ensina-nos a contar os nossos dias,
de sorte que alcancemos um coração sábio.
13. Volta, Jeová, até quando?
E tem compaixão dos teus servos.
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14. Sacia-nos de manhã com a tua benignidade,
para que cantemos de júbilo e nos alegremos em todos os nossos dias.
15. Alegra-nos por tantos dias quantos nos tens afligido
e pelos anos em que temos visto a adversidade.
16. Apareçam aos teus servos as tuas obras,
e a tua glória, sobre seus filhos.
17. Seja sobre nós a graça do Senhor, nosso Deus.
Estabelece tu sobre nós as obras das nossas mãos,
sim, a obra das nossas mãos, estabelece-a.
(Salmo 90)
10
Mais poderoso que o tempo é o Senhor do tempo. O salmista
vê, nas ruínas do corpo e na velhice, a sombra de uma pena, uma
condenação, uma ira que consome. Mas não se desespera, não
se entrega aos pensamentos sombrios da culpa e do medo. Ele
clama ao Senhor do tempo para que ensine a habilidade rara de
contar os próprios dias, de saber de cor sua própria finitude e,
assim, encontrar sabedoria. Ele também clama por compaixão,
misericórdia, benignidade e alegria. O salmista sabe que o Senhor
do tempo é também Senhor da alegria, que é fruto da sua graça
e bondade.
As Escrituras nos falam de um Deus que não se deixa afetar
pelo tempo, um Deus que jamais fica velho ou ultrapassado.
Ele mesmo habita a eternidade e é Senhor do infinito, mas vem
visitar e redimir as criaturas que vivem na dimensão do tempo.
Em Cristo Jesus, o Deus Eterno vem habitar conosco, seres que
precisam contar as horas, os dias, os meses e as estações.
REFLITA
“Habitantes do tempo, permanecemos às vezes com um pé na
eternidade. Deus, como diz Isaias (57.15) ‘habita a eternidade”,
mas permanece com um pé no tempo” (Frederick Buechner).
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3 de dezembro
12
Eles não se perguntaram se teriam condições de criar mais
uma criança entre as muitas que já haviam nascido naquele lar.
Não refletiram se teriam condições de passar noites acordados, de
assumir cuidados médicos e de educação daquele pequenino. Não
pensaram no que os vizinhos e parentes diriam daquela loucura.
Não. Era uma criança abandonada que precisava de um lar. E
havia achado. Simples assim.
Jesus também chegou a um lar de modo incomum. José e
Maria estavam noivos e não haviam ainda assumido a intimidade
física de casal. De repente, Maria aparece grávida. O texto diz
apenas que ela “achou-se” grávida. Em bom português, apareceu
grávida! Bem, ela sabia que estava grávida e nós, que lemos o
texto, também sabemos. Mas José não. Diante do fato consu-
mado, aquele homem justo resolve não denunciar a mulher às
autoridades por adultério, mas sair de casa.
Só não levou adiante o plano porque um anjo o informou
em sonho sobre o que acontecera. Ao acordar, desistiu da ideia e
aceitou a gravidez de Maria. E, em obediência ao anjo, batizou o
filho com o nome de Jesus, o salvador do seu povo.
José e Maria assumiram um alto preço ao aceitarem serem
canais pelos quais o Salvador viria ao mundo. Ela, levando em
seu corpo o ser divino-humano. Ele, tomando sobre si a respon-
sabilidade de manter o casamento, mesmo diante do falatório de
conhecidos e religiosos. Cada um com sua parcela de compro-
misso. Cada um com sua fé em ação.
Natal. Tempo de celebrar a chegada do menino Deus, do
Salvador Jesus. Tempo de sermos gratos àquele casal palestino e
de exaltarmos a fé que tiveram. Tempo de pensarmos nas consequ-
ências de sermos discípulos de Jesus no mundo em que vivemos.
Temos acolhido a criança como fizeram José e Maria? Temos
disposição para assumir os sacrifícios decorrentes dessa decisão?
Se temos, então Natal significa para nós “boas novas de grande
alegria!”.
13
REFLITA
“Olha o que foi meu bom José
Se apaixonar pela donzela
Entre todas a mais bela
De toda a sua galileia” (Georges Moustaki).
14
4 de dezembro
O MENINO E O REINO
1. Então, do tronco de Jessé sairá um rebento, e das suas raízes sairá um
renovo que dará fruto.
2. Descansará sobre ele o Espírito de Jeová, Espírito de sabedoria e
de entendimento, Espírito de conselho e de fortaleza, espírito de
conhecimento e de temor a Jeová,
3. e terá o seu prazer no temor a Jeová. Não julgará segundo a vista dos
seus olhos, nem reprovará segundo o ouvir dos seus ouvidos;
4. porém com justiça julgará os necessitados, e com equidade reprovará
em defesa dos mansos da terra. Ferirá a terra com a vara da sua boca
e matará ao perverso com o assopro dos seus lábios.
5. A justiça será o cinto dos seus lombos, e a fidelidade, o cinto dos seus rins.
6. O lobo habitará com o cordeiro, e o leopardo se deitará ao pé do cabrito;
o bezerro, o leão novo e o animal cevado andarão juntos, e um menino
pequenino os conduzirá.
7. A vaca e a ursa pastarão, as suas crias se deitarão juntas, e o leão comerá
palha como o boi.
8. A criança de peito brincará sobre a toca do áspide, e a criança desmamada
meterá a mão na cova do basilisco.
9. Não farão dano, nem destruirão em todo o meu santo monte, porque
a terra será cheia do conhecimento de Jeová, assim como as águas
cobrem o mar.
(Isaías 11.1-9)
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muitos planos frustrados em toda parte deste mundo: repúblicas
democráticas, repúblicas ditadas pelos sábios, como as que
desenharam Platão e Thomas Morus, experiências anárquicas, até
mesmo o Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley, verdadeiras
reconstruções de uma sociedade aparentemente sem conflitos.
Isaías fala de um sonho maravilhoso que pouco a pouco vai
tomando forma na cultura judaica: o sonho de um Reino de
Deus. O diferencial entre o Reino de Deus e as demais utopias
é que o Reino de Deus acontece por manifestação direta do
Eterno, e não por esforço ou planificação humanos. O Reino de
Deus não estabelece castas sociais nem reprime liberdades, não
surge de acordos políticos nem de pactos sociais. Ele nasce da
esperança teimosa no poder que o Senhor tem de recriar céus e
terra conforme a sua vontade.
O Reino de Deus se torna presença com a chegada do menino
Jesus, torna-se pleno e dramático no momento da crucificação,
torna-se narrativa boa que se espalha pelo mundo afora, liberta,
redime, transforma, faz pulsar corações e tremer impérios. A
esperança do Reino divino resiste às repressões políticas, aos
planos de extermínio e sobrevive à sedução do poder, tornando-
se dissidente quando a corrupção invade sacerdotes e crentes.
Essa esperança alcança o nosso tempo e continua apontando
inquietamente para o futuro, para o retorno de Jesus e a
implantação do Seu Reino, que não pode se compara a nada
do que é deste mundo.
Os sinais do Reino são muitos, as bênçãos que ele traz trans-
cendem valores políticos ou interesses internacionais. O Salvador
será cheio do Espírito Santo e receberá dele inúmeros dons, como
a sabedoria, o conhecimento, a competência, o poder, o temor
do Senhor e o conhecimento da vontade de Deus. Esse Reino
trará plena justiça para os necessitados do povo, para os pobres, os
esquecidos, incluindo a completa punição dos maus e a eliminação
de todo foco de corrupção.
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O Reino de Deus será também caracterizado pela paz plena
entre povos e nações, e até mesmo entre homens e animais.
Mais do que paz, será um reino de harmonia, onde a violência
será completamente superada. Para que isso ocorra, é preciso
um recomeço, uma obra de restauração, é preciso regeneração
completa de todas as coisas.
Finalmente, o Reino será marcado e assinalado pela glória de
Deus, que se espalhará por toda a terra, que se dará a conhecer
e encherá cada recanto deste universo. A fé no Menino que
implanta o Reino nos põe em movimento e nos faz desejar a
mudança das coisas.
REFLITA
“Vejam o menino: mãos tão delicadas,
despidas de glória... ainda assim é Deus
Deus virou menino, Deus desceu na estrada
do tempo e da história para os que são Seus” (Jorge Camargo).
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5 de dezembro
SINAL DIVINO!
10. De novo, falou Jeová com Acaz:
11. Pede a Jeová, teu Deus, um sinal embaixo nas profundezas, ou em
cima, nas alturas.
12. Respondeu, porém, Acaz: Não pedirei, nem tentarei a Jeová.
13. Disse Isaías: Ouvi, agora, ó casa de Davi; porventura, não vos basta
fatigardes aos homens, mas ainda fatigais também ao meu Deus?
14. Portanto, o Senhor mesmo vos dará um sinal; eis que uma donzela
conceberá, e dará à luz um filho, e por-lhe-á o nome de Emanuel.
(Isaías 7.10-14)
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em Deus, ele pensou em nós. Antes que o amássemos, ele nos
amou. E que a relação que temos originou-se no chamado divino.
Por vezes, a falta de compreensão sobre a vida com Deus é tão
grande que alguns se julgam no direito de exigir sinais a ele. “Se
Deus quer que eu me case com tal pessoa, que me dê um sinal!”.
“Se Deus deseja que eu fale de evangelho para meu amigo, que
ele me conceda um sinal!”. “Se Deus quer que eu vá à igreja, que
me envie um sinal do céu!”. Esse linguajar está muito próximo
daquele utilizado por Satanás ao tentar Jesus (Mt 4.1-11).
Entretanto, há momentos em que o próprio Deus não apenas
se dispõe, mas decide a nos dar sinais. O texto de Isaías 7.14 é
um deles. Acaz, rei de Judá, estava aflito porque Síria e Israel se
uniram para destruir Jerusalém. Deus, por sua vez, assegura que
os inimigos do rei seriam derrotados e permite que Acaz peça
um sinal de que isso se realizaria. O rei, temeroso, rejeita fazê-lo.
Deus, então, por intermédio do profeta, afirma que daria um sinal
de que tal aconteceria: a virgem conceberia e daria à luz um filho
que seria chamado de Emanuel.
Sabemos como o Novo Testamento atualizou o texto de Isaías.
Mateus 1.23 atribui a Jesus Cristo o título e o papel de Emanuel:
Deus conosco.
Diante das dificuldades e complexidades da vida, em lugar de
pedirmos sinais da bondade de Deus, é necessário que vejamos o sinal
já dado a nós: Jesus Cristo. Ele é o grande, o maior sinal de que Deus
está conosco. Jesus, Emanuel, sinal maior do amor de Deus neste Natal!
REFLITA
“Emanuel
Nosso Deus está conosco
E se Deus está conosco
Quem será contra nós
Nosso Deus está conosco
Emanuel” (Michael Card).
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6 de dezembro
20
um “Não tenha medo” ao já dito “Paz seja com você”. Mesmo
assim, o estranhamento da jovem Maria foi grande. Afinal, ela
não prestava culto a anjos nem os procurava por meios de velas,
invocações e rituais.
O anjo fez uma saudação que já é em si impressionante. Maria
deve ter ficado pensativa ao ouvir o “Você é muito abençoada” e
“O Senhor está com você”. A saudação do Anjo faz unir três graças
fundamentais na vida de uma pessoa e presentes em Maria: paz,
bênção e presença do Senhor. Contra todas as estatísticas, contra
todas as probabilidades, Maria era uma mulher feliz, não por ter
muitas propriedades, por estar prometida a José ou por ser muito in-
teligente, mas porque em sua vida se confirmava a vida de Alguém.
A reação de Maria foi de estranhamento, como compreender
aquela aparição e aquelas palavras? O Anjo entrou em detalhes,
anunciou uma gravidez sobrenatural, como seria o processo de
fecundação e quais seriam o gênero e o nome da criança: “Jesus”.
E o estranhamento não se deu por falta de inteligência ou por
ignorância, pelo contrário, a jovem sabia muito bem que certas
coisas eram impossíveis.
A resposta do Anjo enfatiza o poder do Senhor de transcender
as possibilidades e extrapolar as expectativas humanas: “Para Deus
não haverá impossíveis”. E a atitude final da jovem Maria foi de
consentimento humilde e sincero: “Sou serva de Deus. Cumpra-se
em mim o que tu dizes”.
Essa jovem inteligente, sensível à fé e disposta a servir ensina
muita coisa a nós que vivemos muitas vezes estagnados em nos-
sas esperanças e expectativas em relação à vida e à história, a nós
que ficamos travados diante das impossibilidades e das fobias
tantas que nos cercam e sufocam. Ela se abriu corajosamente à
mensagem do Anjo e se preparou para transcender os limites de
sua vida bastante limitada.
21
REFLITA
“Alegra-te, favorecida
Teus caminhos Deus já conheceu
Maria, não temas
O Senhor contigo estará” (Guilherme Kerr & Jorge Rehder).
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7 de dezembro
A LUZ DA VIDA!
1. No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.
2. Ele estava no princípio com Deus.
3. Tudo foi feito por ele; e nada do que tem sido feito foi feito sem ele.
4. Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens.
5. A luz resplandece nas trevas, e contra ela as trevas não prevaleceram.
(João 1.1-5)
REFLITA
“Não podemos ver a luz em si mesma. Podemos apenas ver o
que a luz ilumina, como o pequeno círculo da noite onde a vela
brilha – o brilho do mogno, uma taça de vinho, um rosto que
nos contempla na sombra” (Frederick Buechner).
24
8 de dezembro
VIDA DE REFUGIADO
13. Depois de haverem partido, eis que um anjo do Senhor apareceu em
sonhos a José, dizendo: Levanta-te, toma contigo o menino e sua mãe,
foge para o Egito e fica ali até que eu te chame; pois Herodes há de
procurar o menino para o matar.
14. José levantou-se, tomou de noite o menino e sua mãe e partiu para
o Egito,
15. e ali ficou até a morte de Herodes; para que se cumprisse o que dissera
o Senhor pelo profeta: Do Egito chamei a meu Filho.
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voltam contra as crianças de Belém. Os corações de José e Maria
estão aflitos. Não conhecem a estrada, muito menos o que a vida
lhes reserva além da fronteira, mas seguem adiante, confiados na
orientação de Deus. Sabem que, ainda que o pior aconteça, Deus
estará com eles.
José e Maria encarnam a angústia de todos os refugiados deste
mundo, todos os que têm a vida a preço, caçados nas matas e
desertos, vivendo no provisório das barracas e dos campos de
refugiados, passando pelos olhares desconfiados dos guardas de
fronteira e das pessoas que olham de soslaio das frestas e janelas
das casas por onde passam. Deus tem um carinho todo especial
pelos refugiados deste mundo, Seu Filho amado também foi um
refugiado, um perseguido político, alvo da ira dos homens.
Há tantos refugiados de guerra por este mundo afora. Cada
grito de dor, cada choro abafado é uma súplica que chega aos
ouvidos de Deus. Que ele ouça esses gritos e console aqueles que
têm que abandonar seus lares e aqueles que nem têm mais lar
para abandonar. Amém.
REFLITA
“Na estrada, na estrada, José e Maria,
Pelos pampas gelados, cardos e urtigas.
Na estrada, na estrada, cortando campo
Sem abrigo nem pousada, sigam andando.
[...]
Na estrada, na estrada, José e Maria,
Com um Deus escondido… ninguém sabia!”
(Félix Luna e Ariel Ramirez).
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9 de dezembro
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QUANDO somos crianças, a concepção de “tempo” é diferente
daquela que teremos décadas à frente.
Em minha infância, presentes só eram vistos no aniversário e
no Natal. Como faço anos em junho, tinha de esperar exatamente
seis meses para ver um presente. E como o tempo demorava para
passar!
Crianças e jovens são impacientes. Para eles, não é fácil ad-
ministrar o tempo.
A genealogia de Jesus trata do tempo. Longo tempo. Tempos
antigos. Fala daqueles que vieram antes, muito antes de Jesus Cris-
to. O evangelista retrocede a Abraão e caminha até José e Maria.
Por que começar a história de Jesus com uma genealogia?
Afinal, ele é o Deus encarnado, aquele que se manifestou no
tempo e espaço para salvar o ser humano. Não é isso que importa?
A genealogia nos lembra que Jesus, enquanto homem, precisou
de uma família, de ascendentes que se sucedessem até chegar a ele.
E, desse ponto de vista, Jesus carregou traços físicos, psicológicos
e de personalidade de seus familiares. Provavelmente, deve ter sido
parecido com um tio ou primo. Talvez ao nascer os familiares
discutiram sobre a semelhança da criança com outras da família.
E, certamente, José e Maria devem ter identificado olhos, boca,
nariz e cabelo semelhantes aos seus.
Há mais. Para que Jesus viesse até nós seus familiares enfren-
taram lutas e provas. Pense em Abraão, nas mulheres Tamar,
Raabe, Rute, Bate-Seba, no rei Davi, em Josias e em outros até
chegar a Maria, sua mãe. Quantas dificuldades! Quantas barreiras
a serem vencidas!
No entanto, Jesus não é apenas resultado de uma sequência
genealógica. Por sua morte e ressurreição, ele alargou ao hori-
zonte sua genealogia. Agora, todos quantos o reconhecem como
Senhor podem ser chamados de “filhos de Deus” (Jo 1.12). Ele
nos introduziu em sua família!
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Eu e você fazemos parte de uma família.
Talvez não seja a família ideal, mas é nossa família. Devemos
muito àqueles que vieram antes de nós.
Natal é tempo de reconhecimento. Reconhecer o quanto de-
vemos aos nossos queridos, dos quais vários já partiram. Tempo
de reconhecer que devemos louvar a Deus por suas vidas.
Por outro lado, é tempo de ter convicção de que a continuidade
de nossa família depende de nós, de nossas ações. Como influen-
ciamos nossos filhos? Como preparamos a próxima geração?
E, acima de tudo, é tempo de refletirmos sobre a alegria de
podermos trazer outras pessoas para participarem da família
cristã, da celebração do Natal, da continuidade da genealogia de
Jesus Cristo.
REFLITA
“A família humana. Essa é uma boa frase a nos lembrar de que não
apenas viemos da mesma origem e vamos em direção ao mesmo
final, mas que enquanto isso nossas vidas são complexamente e
inescapavelmente ligadas. A fome em uma parte do mundo afeta
pessoas em todas as partes. Um assassinado em Dallas ou Saraie-
vo afeta a todos. Ninguém é uma ilha. É muito bom lembrar”
(Frederick Buechner).
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10 de dezembro
LÁ VEM O SOL
1. Mas para a que estava aflita não continuará a obscuridade. No tempo
passado, ele tornou desprezível a terra de Zebulom e a terra de Naftali,
porém, no tempo vindouro, tornará glorioso o caminho do mar, além do
Jordão, o distrito das nações.
2. O povo que anda nas trevas vê uma grande luz; aos que estão de assento
na terra da sombra da morte, a estes raia a luz.
3. Tens multiplicado a nação; tens-lhe aumentado a alegria; alegram-se
diante de ti segundo a alegria do tempo da ceifa, como exultam quando
repartem os despojos.
4. Pois tens despedaçado o jugo da sua carga e o bordão do seu ombro,
que é a vara do seu exator, e como fizeste no dia de Midiã.
5. Todo calçado de quem anda calçado no tumulto e toda capa revolvida
em sangue hão de ser queimados como pasto do fogo.
6. Porque a nós nos é nascido um menino, e a nós nos é dado um filho; o
governo está sobre os seus ombros, e ele tem por nome Maravilhoso,
Conselheiro, Poderoso Deus, Eterno Pai, Príncipe da Paz.
7. Do aumento do seu governo e da paz, não haverá fim sobre o trono de
Davi e sobre o seu reino, para o estabelecer e para o firmar com juízo e
com justiça, desde agora e para sempre. O zelo de Jeová dos Exércitos
cumprirá isso.
(Isaías 9.1-7)
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Esse menino um dia vai se chamar Jesus, nossa mais preciosa
esperança.
REFLITA
“E que as crianças cantem livres sobre os muros
E ensinem sonho ao que não pode amar sem dor
E que o passado abra os presentes pro futuro
Que não dormiu e preparou o amanhecer...” (Taiguara).
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11 de dezembro
MADIBA MORREU
5. Tende em vós este sentimento que houve também em Cristo Jesus,
6. o qual, subsistindo em forma de Deus, não julgou que o ser igual a
Deus fosse coisa de que não devesse abrir mão,
7. mas esvaziou-se, tomando a forma de servo, feito semelhante aos
homens;
8. e, sendo reconhecido como homem, humilhou-se, tornando-se
obediente até a morte e morte de cruz.
9. Por isso, também Deus o exaltou soberanamente e lhe deu o nome
que é sobre todo o nome,
10. para que em o nome de Jesus se dobre todo joelho dos que estão nos
céus, na terra e debaixo da terra,
11. e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor para glória de
Deus Pai.
(Filipenses 2.5-11)
REFLITA
“Ninguém nasce odiando outra pessoa por causa da cor de sua
pele, ou de sua origem, ou de sua religião. As pessoas aprendem
a odiar, e se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a
amar, pois o amor vem mais naturalmente ao coração humano
do que seu oposto” (Nelson Mandela).
34
12 de dezembro
MARIA MARIA
39. Naqueles dias, levantando-se Maria, foi apressadamente à região
montanhosa, a uma cidade de Judá,
40. entrou na casa de Zacarias e saudou a Isabel.
41. Apenas Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança deu saltos no ventre
dela, e Isabel ficou cheia do Espírito Santo
42. e exclamou em alta voz: Bendita és tu entre as mulheres, e bendito é
o fruto do teu ventre!
43. Como é que me vem visitar a mãe do meu Senhor?
44. Pois, logo que a voz da tua saudação chegou aos meus ouvidos, a
criança deu saltos de alegria no meu ventre.
45. Bem-aventurada aquela que creu que se hão de cumprir as coisas que
lhe foram ditas da parte do Senhor!
(Lucas 1.39-45)
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Quanta felicidade pode trazer essa moça chamada Maria? A
felicidade de alguém que abriga em seu ventre o Filho de Deus,
o Redentor da história, e dará à luz Àquele que é a luz do mun-
do. Maria traz também a felicidade dos que creem de coração
completo nas palavras do Senhor, pois nela se deu o milagre da
fé genuína. Maria é moça pobre, humilde em sua mais bruta e
singela verdade, mas dentro dela em estado de gestação, agita-se
um mundo.
Bendito é o Senhor, que visita nossa casa com seu imenso
amor. E que se fale sempre bem de Maria, sua mãe bendita que
o acolheu com fé e amor plenos.
Jesus é nossa alegria, nossa festa, nossa esperança de mudança
e redenção. Amém!
Milton Nascimento escreveu certa vez uma canção que se
tornou um hino da dignidade de toda mulher brasileira. Toda
mulher, jovem ou idosa, grávida ou estéril, casada, solteira ou
viúva, deveria mesmo aprender e cantar esse hino todos os dias:
“Maria Maria”. Segundo ele, Maria era uma mulher simples, de
infância breve, operária, lavadeira de roupa, viúva com seis filhos,
que trazia em si a força da alegria e da esperança indestrutível,
pessoa humilde, pobre, guerreira, que se autodefinia como solitária
e solidária, mulher de fibra, dessas que fazem o Brasil ser um país.
Maria, a mãe de Jesus, se torna de certa maneira um símbolo
de toda mulher que aprende a rir, em esperança, quando sabe
que “deve chorar”, pois “não vive, apenas aguenta”. Ao mesmo
tempo em que representa a figura de toda mulher que tem “raça
e gana sempre”, Maria aprende que nada se pode fazer sem “graça
e sonho”. Ela é “dor e alegria”. Ela é “pele e marca”. Ela “possui
a estranha mania de ter fé na vida”, pois tem fé no Redentor da
vida, Aquele para o qual nada é impossível.
Como disse certa vez Martinho Lutero a respeito de Maria, a
mãe do nosso Salvador: “Nenhuma mulher é igual a ti. És mais que
Eva ou Sara, bendita acima de toda nobreza, sabedoria e santidade”.
36
REFLITA
“Não se pode negar que Deus, ao escolher e destinar Maria para
ser a Mãe do seu Filho, concedeu a ela a maior honra que existe”
(João Calvino).
37
13 de dezembro
38
OUÇO o som de buzinas e de autofalantes. Em seguida, vejo o
caminhão com várias pessoas sobre a carroceria e com um grande
número de pacotes coloridos passar chamando a criançada. Após
o caminhão seguem vários carros de apoio.
A carreata do bem acontece todo final do ano. Ela percorre
a rua de minha casa e segue até o final do bairro onde moram
pessoas de condições humildes.
Lá chegando, é feita a distribuição de presentes às crianças.
Terminada a entrega, algumas passam em frente de casa. Da janela
de meu quarto consigo ver as carinhas de alegria. Não importa
se a boneca é uma imitação de grifes famosas, ou se a bola de
plástico dali a alguns dias estará furada, ou mesmo se o carrinho
logo perderá as rodas.
Não importa. O fato é que essas crianças, tomadas de alegria,
foram lembradas. Pessoas vieram até elas e trouxeram presentes.
Que festa! Em um mundo desumano e de apagamentos sociais,
lembrar de uma criança pobre significa muito.
Os pais ficam gratos. Afinal, por mais baratos que sejam
os presentes, liberam o pouco de dinheiro que possuem para
comprar talvez um panetone, ou, quem sabe, com um pouco
mais de esforço, uma carne que poderá até ser a surpresa da ceia
humilde de natal.
O texto bíblico indicado acima testemunha a sensibilidade de
pessoas importantes que se lembraram de uma humilde criança
na Palestina.
Embora o relato se revista de tensões, afinal, o falso rei Herodes
deseja utilizar os magos para seus intentos assassinos, há também
no texto um elemento de delicadeza e de alegria. Protegidos por
Deus, os magos conseguem se desvencilhar das garras de Herodes
e, dirigidos pela estrela, chegam à humilde Belém e visitam a
criança.
39
Imagine a surpresa da família de Jesus ao ver aqueles homens,
certamente muito bem vestidos, com ares aristocráticos, entrarem
na pequena casa e, após saudarem seus moradores, depositarem
presentes diante daquela pequena e pobre criança!
O recém-nascido era considerado por eles o rei dos judeus.
Claro que a sequência do evangelho de Mateus corrigirá essa visão
demonstrando que Jesus é o rei do universo, senhor de tudo e de
todos. Mas, naquele momento, reconhecer aquela criança como
rei dos judeus significava muita coisa.
O texto relata que eles estavam cheios de alegria e de júbilo.
Sim, pois faziam parte do restrito círculo de pessoas que consegui-
ram ver e reconhecer o menino Jesus. E mais, tiveram o privilégio
de presenteá-lo. O texto silencia a respeito da reação da criança.
Certamente não entendeu o que ocorria ao seu redor. Também
não revela a reação de Maria. O mais importante é realçar a alegria
de quem presenteia.
Sim, é verdade. As pessoas que passam diante de minha casa
conduzindo o caminhão e os carros com presentes são as mais
felizes, mais até do que as crianças que recebem os presentes. E
têm razão para isso. Afinal, elas são privilegiadas por poderem dar
presentes. E para crianças que precisam deles.
Que tal, neste Natal, levar presentes para crianças carentes?
Para um orfanato, para uma entidade de assistência social. Existem
tantas! Ao dar presentes, pense no menino Jesus, pense que poderá
alegrar, em nome de Jesus Cristo, crianças que talvez, sem você,
permanecerão esquecidas neste natal.
REFLITA
“Aqueles reis do distante oriente,
Vieram a Belém para adorar
O menino que traz alívio pra alma cansada
De quem o buscar.
40
“Louvado seja o pequeno menino de Belém.
Glórias a Deus nas maiores alturas.
O mistério da vida naquela manjedoura se desfez.
A alegria invadiu a casa em santa folia” (Carlinhos Veiga).
41
14 de dezembro
MAGNIFICAT
46. Disse Maria:
A minha alma engrandece ao Senhor,
47. e o meu espírito alegrou-se em Deus meu Salvador,
48. porque pôs os olhos na baixeza da sua serva.
pois, de ora em diante, todas as gerações me chamarão
bem-aventurada,
49. porque o Poderoso me fez grandes coisas.
Santo é o seu nome.
50. E a sua misericórdia estende-se de geração em geração
sobre os que o temem.
51. Manifestou poder com o seu braço,
dissipou os que tinham pensamentos soberbos no coração.
52. Depôs os poderosos dos seus tronos
e exaltou os humildes.
53. Encheu de bens os famintos
e despediu vazios os ricos.
54. Socorreu a Israel, seu servo,
lembrando-se de misericórdia
55. (Como falou a nossos pais.)
para com Abraão e a sua posteridade, para sempre.
(Lucas 1.46-55)
42
mãe, como a de um povo que descobre a alegria de ser livre, como
a de um guerreiro que descobre o caminho da paz. Essa voz “nos
alerta” e ensina que “é preciso ter força, é preciso ter raça sempre”,
ainda que essa força venha misturada à fraqueza.
É preciso que o riso aformoseie o rosto, ainda que molhado
pelo choro. É preciso que o som da alegria quebre o silêncio do
terror e da morte. É preciso que a vida “severina” aprenda a vencer
as incontáveis léguas dos descaminhos da morte.
Maria sabe que vive, e “não apenas aguenta”, pois traz em
seu corpo a prova maior de que o tempo é de mudança e graça:
o Deus conosco. Então ela canta: “Minha alma engrandece ao
Senhor!”. O canto de Maria declara que há Alguém maior que
reis e poderosos, Alguém que traz esperança e vida aos pobres e
famintos. Ela anuncia a presença de Deus na história humana, a
presença redentora de Deus no mundo.
A experiência de Maria confirma que o Senhor faz o pobre
cantar de esperança. Ele anima o abatido, enxuga as lágrimas dos
que já não encontram consolo em si mesmos e em ninguém. Ele
torna grande nossa vida breve. Quebra o orgulhoso, derrota os
poderosos e redime o humilde.
Certamente, Maria haveria de provar em sua própria vida
mistérios de fazer calar seu pobre coração. Aliás, muitas coisas
sobre o menino Jesus ela guardaria a sete chaves em seu humano
coração (Lc 2.19).
REFLITA
“Tu já foste indefesa criança
Não consigo entender,
Como pude tomar-te em meus braços
E envolver o teu ser,
Tantas noites ouvi o teu choro
43
A pedir pão e leite, consolo.
Carecias pra tudo de alguém,
E até pra dormires também
Um balanço e a minha voz pra te ninar.
44
15 de dezembro
E VIMOS…!
14. O Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade,
e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai.
(João 1.14)
REFLITA
“Deus te chama para o lugar onde tua mais profunda alegria
se encontra com a mais profunda fome do mundo” (Frederick
Buechner).
46
16 de dezembro
47
tão perto dali, o menino que um dia também foi pastor, mas que
se tornou o maior rei de Israel. Um deles comenta que Deus cuida
de seu povo como um pastor amoroso e cuidadoso.
A noite é fria, mas bela e estrelada. Enquanto compartilham
o pão e as palavras, uma voz quebra o silêncio da noite: “Não
tenham medo!”. É um anjo do Senhor que veio anunciar o
nascimento do Salvador, na mesma cidade em que nasceu Davi.
De repente, uma multidão de anjos aparece cantando no céu:
“Glória a Deus nas alturas! Paz na Terra às pessoas a quem ele
quer bem!”.
Os anjos do Senhor visitaram os pastores que trabalhavam
nos campos. Propositalmente, o Senhor não procurou os palácios
e mansões de Jerusalém ou Roma. Ignorou teólogos, sacerdotes
e mestres da religião. Preferiu habitar corações aquecidos pela
esperança, pessoas em cujos olhos ainda brilhava o lume da fé.
Misterioso é o sinal que o Senhor escolheu para confirmar as
palavras do anjo: “uma criancinha enrolada em panos e deitada
numa manjedoura”.
A glória do Senhor brilha no céu estrelado de anjos que vi-
sitam pobres pastores e de pastores que visitam uma estrebaria
para saudar uma criancinha recém-nascida enrolada em panos e
deitada numa manjedoura. São pessoas simples, de poucas pala-
vras, visto que quase ninguém dá crédito a palavras de pastores
de ovelhas. Contudo, a glória do Senhor também se revelou a
eles e os fez porta-vozes de uma grande novidade: “na cidade de
Belém nasceu o Salvador, o Messias, o Senhor”.
Certa vez, um monge celta orou da seguinte maneira: “Meu
querido Senhor, sejas tu uma chama brilhante diante de mim.
Sejas tu uma estrela-guia acima de mim. Sejas tu um suave ca-
minho sob mim. Sejas tu um pastor bondoso atrás de mim hoje
e para sempre” (Columba, 521-597).
48
REFLITA
“Olhem para cima, vocês cujo olhar está fixo nesta Terra, que estão
enfeitiçados pelos pequenos acontecimentos e mudnças na face da
Terra. Olhem para estas palavras, vocês que, desapontados, aban-
donaram o céu. Olhem para cima, vocês cujos olhos estão pesados
de tantas lágrimas e que estão sobrecarregados de tanto chorar
pelo fato de a terra ter-nos excluído de modo tão desgracioso.
Olhem para cima, vocês carregados de culpa e que por isso já não
podem mais erguer os olhos. Olhem para cima, sua redenção está
próxima. Algo diferente do cotidiano está para acontecer. Fique
atento, vigie, espere por mais um breve momento. Espera e algo
novo irá acontecer com você: Deus virá!” (Dietrich Bonhoeffer).
49
17 de dezembro
REFLITA
“Cidadezinha de Belém
[...] em tuas ruas escuras brilha
A eterna Luz.
As esperanças e temores de todas as eras
Se encontram esta noite em ti” (Phillips Brooks & Lewis Redner).
51
18 de dezembro
53
REFLITA
“Quando há ferrugem, no meu coração de lata!
É quando a fé ruge, e o meu coração dilata!” (Fernando Anitelli).
54
19 de dezembro
REFLITA
“Voz do que clama no deserto
Prepara o caminho do Senhor
Chama essa gente é hoje o tempo
56
De ouvir a voz de Deus
O sol se levanta com seu ardente calor
A erva seca e cai sua flor
Mas a Palavra do Senhor resiste para sempre”
(Guilhere Kerr & Jorge Rehder).
57
20 de dezembro
58
Ora, como viver a alegria dos evangelhos em tempos de
apocalipse? O pastor Dietrich até comenta que, ali na prisão, os
presos detestavam ouvir os hinos de Natal, pois tornava a situação
ainda mais insuportável. O contraste era tão grande, que fazia
os prisioneiros mergulhar “num estado miserável de tristeza, de
modo que o dia lhes pesa ainda mais”. Melhor seria que, em lugar
do sentimentalismo e das músicas nostálgicas, houvesse uma boa
pregação ou uma palavra pessoal.
Sim, nem todos vivem o Natal em conforto, fartura ou liber-
dade. Para muitos, o Natal é mesmo tempo de tristeza e depressão,
de solidão profunda e separação. Em tempos assim vale ouvir de
novo a mensagem de esperança de Deus a um mundo perdido, o
conforto da sua presença ao nosso lado. Natal é tempo de oração
pelos que sofrem neste mundo agitado e confuso, é tempo de uma
boa e franca conversa pessoal, humana, cheia de afeto e verdade.
É também tempo se ouvir uma boa e honesta pregação, como
diria Dietrich Bonhoeffer.
“A cela de uma prisão, em que alguém aguarda, espera e se
torna completamente dependente do fato de que a porta da li-
berdade tem que ser aberta por fora, torna-se cenário ideal para
o Advento”, escreve Bonhoeffer, pois para ele o aspecto mais
importante do Advento é que ele nos propõe uma esperança de
libertação. “Você quer ser liberto? Esta é a única questão realmente
importante e decisiva que o Advento nos propõe”.
Este tempo de preparação para o Natal, este Advento, é tempo
propício para a reflexão e para a tomada de atitude. Há que se
olhar para o alto, há que se seguir adiante.
Certa vez perguntaram a Leon Gieco, cantor argentino que
viveu os tempos difíceis de ditadura militar e perseguição política,
como estava, e ele respondeu em forma de canção: “Sobrevivendo.
Sobrevivendo”. Diante das ameaças pendentes à vida, como nos
tempos na II Guerra na Europa ou especificamente do nazismo
na Alemanha, sobreviver já é uma grande façanha.
59
Contudo, o que o Advento nos propõe é mais que sobrevivência,
é vida plena e digna.
REFLITA
“A cela de uma prisão, em que a pessoa aguarda, espera – e está
completamente dependente do fato de que a porta da liberdade
tem de ser aberta por fora, não é uma comparação ruim com o
Advento” (Dietrich Bonhoeffer).
60
21 de dezembro
61
Israel encontra-se no exílio na Babilônia. Ali Deus faz questão
de afirmar que ainda tem um plano para seu povo. Deus garante
que o ama, que ele é seu servo, e que irá restaurá-lo.
O profeta, como servo, é convocado a proclamar a bondade
e a justiça de Deus às nações, mesmo vivendo em um contexto
de dúvidas, angústias e sofrimentos.
No texto indicado para leitura, o servo é caracterizado pela
presença do Espírito e como aquele que deve proclamar a justiça
(e não o “direito”, como está na versão de Almeida, v. 1 e 3) aos
gentios.
Justiça, no Antigo Testamento, é um conceito mais relacional
do que jurídico. A justiça deriva da aliança com Deus. Justo é
aquele que vive com Deus e, por decorrência, anda em seus
caminhos (v. 6). Portanto, proclamar justiça significa conclamar
os gentios a se relacionarem com Deus e a terem suas vidas trans-
formadas por ele.
Tal justiça visa aos desvalidos e desfavorecidos dentre os gen-
tios, caracterizados como “cegos, cativos, aqueles que jazem em
trevas”. Deus não divide nossa vida em departamentos, como se
o espiritual fosse mais importante do que o físico e o emocional.
A relação com Deus invade todos os segmentos do nosso ser.
A missão do servo é desempenhada de forma pacífica (v. 2-3)
e perseverante (v. 4). Ele não briga, não se impõe, não humilha.
Não é preciso. Os humildes de todos os povos o recebem e a sua
mensagem de braços abertos.
Quem é o servo? Israel, o profeta, Jesus. O evangelista atribui
a Jesus a missão do servo (Mt 12.15-21; Lc 4.18 ecoa Is 42.7). Ele
veio para os fracos e sofridos de Israel e de todo o mundo gentílico,
dentre os quais se apresentam nos evangelhos, como exemplo,
a mulher cananeia e sua filha endemoninhada (Mt 15.21-28).
Quem é o servo? Israel, o profeta, Jesus… nós. Essa é a razão
da ambiguidade da figura do servo em Isaías. A imagem vem se
62
atualizando na História até chegar a nós, e continuará depois de
nós. Como discípulos de Jesus, o Deus encarnado nascido na
manjedoura, cumpre-nos continuar sua missão de proclamação
aos cegos, aos cativos, aos que jazem nas trevas.
REFLITA
63
22 de dezembro
CANÇÃO DE NINAR
1. Naquela hora, chegaram-se os discípulos a Jesus e perguntaram: Quem
é, porventura, o maior no reino dos céus?
2. Jesus, chamando para junto de si um menino, pô-lo no meio deles
3. e disse: Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos
fizerdes como meninos, de modo algum entrareis no reino dos céus.
4. Quem, pois, se tornar humilde como este menino, esse será o maior no
reino dos céus.
5. Aquele que receber um menino, tal como este, em meu nome a mim é
que recebe...
(Mateus 18.1-5)
64
Escrituras. E é isso mesmo que torna o Natal um momento tão
raro e precioso. Ah, como é bom cantar uma canção de Natal e
ensiná-la aos nossos filhos.
É bom saber que Jesus aceita nosso amor e nossa ternura, tão
imperfeitos, tão fora do tempo. Abraçamos pela fé a Ele, que
nasce dentro de nós, e embalamos Seu ser em nossos corações.
Sua presença é nossa alegria. Sua alegria, nossa paz.
“No humilde presépio, sem ter nada seu, Jesus, pobrezinho,
sem teto nasceu” (Lutero).
Eis a letra da canção de Lutero:
REFLITA
“Menino Jesus, não chores
É noite e é hora de dormir
As estrelas que brilham não se comparam
Ao número daqueles que irão te conhecer” (Michael Card).
65
23 de dezembro
OVELHAS E PASTORES
20. Portanto, assim lhes diz o Senhor Jeová: Eis que eu, eu mesmo, julgarei
entre as ovelhas gordas e as ovelhas magras.
21. porquanto com o lado e com o ombro, dais empurrões e, com os vossos
chifres, impelis todas as adoentadas, até as terdes espalhado por
toda a parte,
22. portanto salvarei o meu rebanho, e ele não servirá mais de presa; e
julgarei entre ovelhas e ovelhas.
23. Suscitarei sobre elas um só pastor, que as apascentará, meu servo
Davi. Ele as apascentará e lhes servirá de pastor.
24. Eu, Jeová, serei o seu Deus, e o meu servo Davi será príncipe no meio
deles.
(Ezequiel 34.20-24)
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Nem sempre essa relação foi harmoniosa. Israel estava exilado
na Babilônia. As lideranças, em lugar de zelarem e cuidarem do
povo, agiam por si mesmas e a favor de si mesmas. Simplesmente
se esqueceram de suas obrigações para com os mais fracos.
Deus, então, levanta o profeta Ezequiel e lhe dá uma mensa-
gem: os líderes de Israel eram ovelhas gordas que apascentavam a
si mesmas, que desprezavam as fracas e roubavam sua pastagem.
Deus afirma que punirá tais ovelhas e suscitará Davi como pastor
das ovelhas oprimidas.
Ora, a muito Davi estava morto. Portanto, essa profecia foi
tomada como messiânica. Jesus se identifica como o bom pastor
que dá a vida pelas ovelhas (Jo 10.11). Jesus é aquele que reaviva
a imagem do pastor que cuida de seu rebanho e o ama, do pastor
divino que dispensa tudo quanto é necessário ao seu rebanho.
Mais do que nunca é necessário reconhecer que os inimigos
das ovelhas fracas e carentes são os religiosos, caracterizados como
ovelhas gordas e como lobos. Jesus os combateu, os afastou do
rebanho. Ele nos adverte contra esses lobos vorazes que se escon-
dem em pele de ovelha (Mt 7.15).
A religião e sua máquina institucional rapidamente se apos-
saram de Jesus e de seus ensinos. Hoje, muito do que se intitula
cristianismo e exige a devoção de fiéis nada mais é do que uma
alcateia de lobos insaciáveis em seu apetite.
Jesus Cristo é o bom pastor. Ao comemorarmos seu nascimento,
afirmamos que, como ovelhas carentes, ouvimos apenas a sua voz
e rejeitamos com todas as nossas forças os grilhões com que falsos
religiosos, ovelhas gordas, lobos assassinos, querem nos prender.
REFLITA
“Que alarido é esse no amanhecer, é o pastor fazendo festa no arraial
Como se tivesse achado o maior tesouro que jamais se viu
É só uma ovelha, mas como ele a estima” (Stênio Marcius).
67
24 de dezembro
O PRESÉPIO
15. Quando os anjos se haviam retirado deles para o céu, diziam os pastores
uns aos outros: Vamos já até Belém e vejamos o que aconteceu, o que
o Senhor nos deu a conhecer.
16. Foram a toda a pressa e acharam Maria, e José, e a criança deitada
na manjedoura;
17. e, vendo isso, divulgaram o que se lhes havia dito a respeito deste
menino.
18. Todos os que o souberam se admiraram das coisas que lhes referiam
os pastores;
19. Maria, porém, guardava todas essas palavras, meditando-as no seu
coração.
20. Os pastores voltaram glorificando e louvando a Deus por tudo quanto
tinham ouvido e visto, como lhes fora anunciado.
(Lucas 2.15-20)
70
25 de dezembro
A MANJEDOURA E A CRUZ?
1. Tendo Jesus nascido em Belém da Judeia no tempo do rei Herodes,
vieram do Oriente uns magos a Jerusalém, perguntando:
2. Onde está aquele que nasceu Rei dos Judeus? Porque vimos a sua
estrela no Oriente, e viemos adorá-lo.
3. O rei Herodes, ouvindo isso, perturbou-se, e, com ele, toda Jerusalém;
4. e reunindo todos os principais sacerdotes e os escribas do povo,
perguntava-lhes onde havia de nascer o Cristo.
5. Eles lhe disseram: Em Belém da Judeia, pois assim está escrito pelo
profeta:
6. E tu Belém, terra de Judá,
não és de modo algum o menor entre os lugares principais de Judá;
porque de ti sairá um condutor,
que há de pastorear meu povo de Israel.
7. Então, Herodes chamou secretamente os magos e deles indagou com
precisão o tempo em que a estrela tinha aparecido;
8. e, enviando-os a Belém, disse-lhes: Ide informar-vos cuidadosamente
acerca do menino; e, quando o tiverdes achado, avisai-me, para eu
também ir adorá-lo. […]
13. Depois de haverem partido, eis que um anjo do Senhor apareceu em
sonhos a José, dizendo: Levanta-te, toma contigo o menino e sua mãe,
foge para o Egito e fica ali até que eu te chame; pois Herodes há de
procurar o menino para o matar.
14. José levantou-se, tomou de noite o menino e sua mãe e partiu para o
Egito... […]
32. Ao saírem, encontraram um homem cireneu, chamado Simão, a quem
obrigaram a levar a cruz de Jesus.
33. Chegados a um lugar chamado Gólgota, que quer dizer Lugar da Caveira,
34. deram-lhe a beber vinho com fel; e ele, tendo-o provado, não o quis
beber.
35. Depois de o crucificarem, repartiram entre si as vestes dele, deitando
sortes;
36. e, sentados, ali o guardavam.
71
37. Puseram-lhe sobre a cabeça a sua acusação escrita: ESTE É JESUS, O
REI DOS JUDEUS.
38. Então, foram crucificados com ele dois salteadores, um à sua direita
e outro à sua esquerda.
39. Os que iam passando blasfemavam dele, meneando a cabeça
40. e dizendo: Ó tu que destróis o santuário e em três dias o reedificas,
salva-te a ti mesmo; se és Filho de Deus, desce da cruz.
41. Do mesmo modo, os principais sacerdotes, com os escribas e anciãos,
escarnecendo, diziam:
42. Ele salvou aos outros, a si mesmo não se pode salvar; rei de Israel é
ele! Desça agora da cruz, e creremos nele.
43. Confia em Deus; Deus que o livre agora, se lhe quer bem; pois disse:
Sou Filho de Deus.
44. Também os salteadores que foram crucificados com ele dirigiram-lhe
os mesmos impropérios.
(Mateus 2.1-8, 13, 14; 27.32-44)
73
quais Deus nos presenteia com seu filho amado. A manjedoura e
a cruz denunciam a exclusão social e espiritual que marca nossa
história. Elas testemunham do modo misterioso como Deus nos
acolhe em si.
Singela manjedoura, rude cruz – distantes de palácios, quartéis
e lugares de poder. Objetos de desprezo, talvez, dos que se tornam
senhores e reis. Entretanto, imperadores em geral e soberanos de
todas as eras tremem diante da manjedoura e diante da cruz. Como
disse certa vez Dietrich Bonhoeffer, “[p]ara os grandes e poderosos
deste mundo, há apenas dois lugares diante dos quais lhes falta a
coragem, lugares que temem no mais profundo de suas almas e
evitam: a manjedoura e a cruz de Cristo. Nenhum dos poderosos
ousa se aproximar da manjedoura, nem mesmo o rei Herodes,
pois é ali que os tronos tremem, os poderosos caem, os soberanos
perecem, porque Deus está do lado dos humildes. Ali a riqueza
de nada vale, porque Deus está com os pobres e famintos, mas os
ricos e opulentos Ele despede de mãos vazias. Diante de Maria, a
jovem serva, diante da manjedoura de Cristo, diante de Deus em
humildade, os poderosos nada conseguem; não têm direitos nem
esperança; eles são julgados” (in God is in the Manger).
REFLITA
“Se não fosse pela misericórdia de Deus, não haveria encarnação,
nenhum bebê na manjedoura, nenhum homem na cruz e nenhum
túmulo vazio” (A.W. Tozer).
74
26 de dezembro
LUZ E CAMINHO
1. Não se turbe o vosso coração; crede em Deus, crede também em mim.
2. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria
dito. Pois vou preparar-vos lugar;
3. depois que eu for e vos preparar lugar, voltarei e tomar-vos-ei para mim
mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também.
4. Sabeis o caminho para onde eu vou.
5. Disse-lhe Tomé: Senhor, não sabemos para onde vais; como saberemos
o caminho?
6. Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém
vem ao Pai senão por mim.
(João 14.1-6)
Me acusas de no quererte.
No digas eso…
Tal vez no comprendas nunca, viday
Porque me alejo…
Es mi destino
Piedra y camino…
De un sueño lejano y bello, viday
Soy peregrino…
Es mi destino,
Piedra y camino…
De un sueño lejano y bello, viday
Soy peregrino…
(Atahualpa Yupanqui)
REFLITA
“Se tu mesmo não fores conosco, não nos faças subir daqui”
(Moisés, em Êxodo 33.15)
77
27 de dezembro
PERDERAM O MENINO
41. Seus pais iam anualmente a Jerusalém pela Festa da Páscoa.
42. Quando o menino tinha doze anos, subiram eles conforme o costume
da festa;
43. findos os dias da festa, ao regressarem, ficou o menino Jesus em
Jerusalém, sem que seus pais o soubessem.
44. Mas estes, julgando que ele estivesse entre os companheiros de
viagem, andaram caminho de um dia, procurando-o entre os parentes
e conhecidos;
45. e, não o achando, voltaram a Jerusalém em procura dele.
46. Três dias depois, o acharam no templo, sentado no meio dos doutores,
ouvindo-os e interrogando-os;
47. todos os que o ouviam muito se admiravam da sua inteligência e das
suas respostas.
48. Logo que seus pais o viram, ficaram surpreendidos; sua mãe
perguntou-lhe: Filho, por que procedeste assim conosco? Teu pai e eu
te procuramos aflitos.
49. Ele lhes respondeu: Por que me procuráveis? Não sabíeis que eu devia
estar na casa de meu Pai?
50. Eles, porém, não compreenderam as palavras que ele dizia.
51. Então, desceu com eles, e foi para Nazaré, e estava-lhes sujeito. Mas
sua mãe guardava todas essas coisas no seu coração.
52. Jesus crescia em sabedoria, em estatura e em graça diante de Deus
e dos homens.
(Lucas 2.41-52)
80
28 de dezembro
81
A experiência religiosa seria assim uma forma de exílio, de
separação da terra natal, da fonte originária da vida, um assentar-se
à beira dos rios da Babilônia para assentar-se, lembrar de Sião e
chorar (Salmo 137). Essa é, portanto, a vivência de um lamento.
Em outra obra, Rubem Alves também disse: “Deus mora na sau-
dade, ali onde amor e ausência se assentam” (in Creio na ressurreição
do corpo). Mais adiante ele continua: “Coisa estranha. Saudade, a
gente não pode criar, por vontade. Ela nasce, sem querer, quando
o vento misterioso do Espírito sopra. E a gente sabe que é coisa do
Espírito pelas coisas novas que se começa a ver. Os olhos mudam.
O coração também. E é porque o coração fica diferente que os
olhos começam a ver coisas que ninguém mais vê. São invisíveis”.
Na verdade, em Cristo Jesus, Deus deseja participar da vida
de cada um de nós de uma maneira plena. Ele não quer habitar
apenas nossos sonhos, mas também nosso corpo, nossa existência
completa. O Senhor procura um encontro com o ser humano no
meio da história, no tempo e no espaço. Sua voz deseja uma res-
posta; seu olhar, um sinal; suas mãos, um contato. E sua presença
pode mudar a face do mundo e o rumo de nossa vida.
É no relacionamento pessoal e íntimo entre Deus e os seres
humanos, como chamado e resposta, participação e interação, que
a fé deixa de ser mera fantasia para fazer-se vida. Isso acontece
no aqui e no agora, no tempo que se chama hoje, na urgência do
nosso próprio momento. O encontro com Deus se dá nos limites
da vida, embora inspire também nossos sonhos, fecunde nossa
saudade e encha nossos jardins de perfume e poesia.
REFLITA
“Se cada vez que eu penso no teu rosto,
vento virasse um vendaval,
desabaria o céu com muito gosto,
que temporal!
82
Tormenta no mar da memória,
rimando com essa saudade
a me invadir enquanto eu canto,
sobretudo quando chove” (Gerson Borges).
83
29 de dezembro
84
um ser que havia vivido em trevas. Senti-me próximo de Jesus.
Aquele que curou cegos de nascença certamente olhava para um
adolescente como eu.
Vivi mais uma década com o texto. Naquele novo momento,
jovem pastor com olhares teológicos, a frase: “Uma coisa sei: eu
era cego e agora vejo” era acompanhada, mesmo que entre pa-
rênteses, ainda que com fontes menores, discretamente, por uma
perturbadora interrogação. Como afirmar que a cura determina
a identidade de Jesus? E a teologia? E a doutrina do caráter te-
antrópico de Jesus Cristo? Como ser curado por Jesus sem saber
quem ele é? Jesus é um mero milagreiro?
E o texto continuou comigo, teimoso. Agora, tempos depois,
não fico mais surpreso e não sou tomado por dilemas teológicos.
Agora… sim, agora leio o texto como um simples e maravilhoso
testemunho de que, acima de tudo, tudo mesmo, Jesus Cristo é
Deus encarnado. Ele é a plenitude da manifestação de Deus no
ser humano. E, como tal, ele é repleto de amor, de sentimentos,
de bondade. Jesus trouxe luz àquele homem. O que isso significa?
Que ele, de forma pragmática, concreta, maravilhosamente divina,
espetacularmente humana, aproveitou a chance que se apresentou
de fazer o bem. E fez muito bem.
Jesus, meu Senhor, continua me cativando e propondo diaria-
mente um relacionamento profundo, onde aprendo com o que
ele faz e com o que ele fala. “Uma coisa sei: eu era cego e agora
vejo”. Para mim, isso basta para todo o ano que se aproxima.
REFLITA
“Esse poder que tanto nos fascina
é o próprio amor que tudo ilumina
Qual natureza que tudo nos doa
qual a bondade que tudo perdoa” (Telo Borges).
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30 de dezembro
OS CALENDÁRIOS
1. Tudo tem a sua ocasião própria, e todo propósito debaixo do céu tem
o seu tempo.
2. Há tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de plantar e tempo de
arrancar o que se plantou;
3. tempo de matar e tempo de curar; tempo de derrubar e tempo de edificar;
4. tempo de chorar e tempo de rir; tempo de prantear e tempo de dançar;
5. tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar
e tempo de abster-se de abraçar;
6. tempo de buscar e tempo de perder; tempo de guardar e tempo de
lançar fora;
7. tempo de rasgar e tempo de coser; tempo de calar e tempo de falar;
8. tempo de amar e tempo de odiar; tempo de guerra e tempo de paz.
(Eclesiastes 3.1-8)
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bifurcação. Ele tem de decidir que caminho seguir, se o da direita
ou o da esquerda, e está mergulhado em profundos pensamentos,
todos eles temperados de dúvida e uma certa nostalgia.
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que passou. Quero também pedir pelo ano novo, para que sua
presença se confirme em cada dia, em cada batida do relógio, em
cada pulsar do coração.
E no futuro, daqui a anos e anos, que eu possa dizer, não com
suspiro mas com alegria, que escolhi o caminho que “fez toda a
diferença”.
REFLITA
“Retrovisor mostra meus olhos com lembranças mal resolvidas
Mostra as ruas que escolhi
Calçadas e avenidas
Deixa explícito que se foi para frente
Coisas ficarão para trás
A gente só nunca sabe que coisas são essas” (Fernando Anitelli).
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31 de dezembro
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O grande desafio deste dia talvez não seja o de olhar para trás
e fazer balanços nem olhar para o futuro e fazer projetos, mas
aprender a olhar para Jesus, em quem se funde misteriosamente
o passado, o presente e o futuro. Quanto a mim, desejo começar
este novo ano com o Senhor e tentar viver cada dia nessa decisão.
Que Ele tome os meus dias, que escreve neles a sua vontade. Que
Ele me deixe o seu recado e ensine-me a perceber sua presença
perto de mim, dentro de mim e no mundo ao meu redor.
Dietrich Bonhoeffer, que enfrentou como ninguém tempos
sombrios e que assumia uma postura otimista diante da vida,
afirmou certa vez que “[o]timismo, entretanto, não é essencial-
mente uma opinião sobre a presente situação, mas representa
uma força vital, uma energia de esperança, onde outros resignam,
uma resistência de manter erguida a cabeça, quando tudo parece
fracassar, uma força que jamais entrega o futuro ao adversário, mas
o reclama para si”. É isso, uma santa teimosia, um não entregar-se
à tristeza e ao pavor.
Uma canção emblemática dos anos 1970 falava da passagem
do tempo e do futuro: “Clube da Esquina”, uma composição
de um trio de músicos inesquecíveis – Lô Borges, Milton Nas-
cimento e Márcio Borges. Nessa canção, o poeta fala de alguém
que um dia foi jovem, alguém que “se chamava moço”, mas que
“[t]ambém se chamava estrada / Viagem de ventania”, isto é,
processo, movimento, um ser incompleto que “[n]em se lembra
se olhou pra trás / Ao primeiro passo”. Mais adiante na canção
se ouve a famosa frase: “também se chamavam sonhos. E sonhos
não envelhecem”.
REFLITA
“O que faz andar a estrada? É o sonho. Enquanto a gente sonhar
a estrada permanecerá viva. É para isso que servem os caminhos,
para nos fazerem parentes do futuro” (Mia Couto).
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