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Análise dos discursos de posse de Jair Bolsonaro


por Augusto de Franco
02/01/2019, 11:30

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O discursos de posse de Bolsonaro expressam, fielmente, o que foi a sua posse. Foi
uma posse para bolsonaristas, não para a maioria do eleitorado. Não foi uma posse
para os 90 milhões que não votaram nele, nem mesmo para todos os 58 milhões que
votaram.

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Nunca é demais repetir que Bolsonaro não foi eleito pela maioria dos brasileiros ou
sequer pela maioria dos eleitores. Claro que, segundo as regras eleitorais vigentes, ele
foi legitimamente eleito. Mas é preciso ressaltar sempre que ele recebeu votos de
pouco mais de 39% dos aptos a votar, o que está longe de ser maioria. Ocorre que –
tudo indica – ele não quer mesmo governar para ou com a maioria. Ele quer governar
para e com a minoria da minoria que o elegeu, os 10% de bolsonaristas dentre 58
milhões dos que votaram nele. Nesse sentido, seus discursos fazem sentido.

Significativamente, foi o primeiro conjunto de discursos inaugurais de um presidente


eleito em que não há nenhuma referência ao combate à pobreza.

Vamos fazer comentários interpolados nos textos abaixo.

DISCURSO NO CONGRESSO

Discurso do Presidente da República, Jair Bolsonaro, durante Cerimônia de Posse no


Congresso Nacional

Excelentíssimo presidente do Congresso Nacional, senador Eunício Oliveira,

Senhoras e senhores chefes de Estado, chefes de Governo, vice-chefes de Estado e


vice-chefes de Governo, que me honram com suas presenças.

Vice-presidente da República Federativa do Brasil, Hamilton Mourão, meu


contemporâneo de Academia Militar de Agulhas Negras,

Presidente da Câmara dos Deputados, prezado amigo e companheiro, deputado


Rodrigo Maia,

Ex-presidentes da República Federativa do Brasil, senhor José Sarney, senhor


Fernando Collor de Mello,

Presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Dias Toffoli,

Senhoras e senhores ministros de Estado e comandantes das Forças aqui presentes,


Procuradora-Geral da República, Raquel Dodge,

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Senhoras e senhores governadores,

Senhoras e senhores senadores e deputados federais,

Senhoras e senhores chefes de missões estrangeiras acreditados junto ao governo


brasileiro,

Minha querida esposa Michelle, daqui vizinha Ceilândia,

Meus filhos e familiares aqui presentes – a conheci aqui na Câmara.

Brasileiros e brasileiras,

Primeiro, quero agradecer a Deus por estar vivo. Que, pelas mãos de profissionais da
Santa Casa de Juiz de Fora, operaram um verdadeiro milagre, Obrigado, meu Deus!

Com humildade, volto a esta Casa, onde, por 28 anos, me empenhei em servir à nação
brasileira, travei grandes embates e acumulei experiências e aprendizados que me
deram a oportunidade de crescer e amadurecer.

Volto a esta Casa, não mais como deputado, mas como Presidente da República
Federativa do Brasil, mandato a mim confiado pela vontade soberana do povo
brasileiro.

Hoje, aqui estou, fortalecido, emocionado e profundamente agradecido a Deus, pela


minha vida, e aos brasileiros, que confiaram a mim a honrosa missão de governar o
Brasil, neste período de grandes desafios e, ao mesmo tempo, de enorme esperança.
Governar com vocês.

Aproveito este momento solene e convoco cada um dos Congressistas para me


ajudarem na missão de restaurar e de reerguer nossa Pátria, libertando-a,
definitivamente, do jugo da corrupção, da criminalidade, da irresponsabilidade
econômica e da submissão ideológica.

A expressão “restaurar e reerguer nossa Pátria” revela um espírito jacobino,


restauracionista.

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Qual é a “irresponsabilidade econômica” do governo que o precedeu? Ao que se


saiba, o governo Temer, empossado constitucionalmente após o impeachment, foi
responsável em termos econômicos. É qual é a “submissão ideológica” a que refere
Bolsonaro? Ele deve estar se referindo ao PT, mas esse partido foi apeado do
governo pelo impeachment, em 2016. Aqui começa a narrativa fantasiosa (urdida
por malfeitores ideológicos, como Olavo de Carvalho e seus discípulos no novo
governo, como Ernesto Araújo e Vélez-Rodrigues) de que todos que não são
bolsonaristas são comunistas.

Temos, diante de nós, uma oportunidade única de reconstruir o nosso País e de


resgatar a esperança dos nossos compatriotas.

Estou certo de que enfrentaremos enormes desafios, mas, se tivermos a sabedoria de


ouvir a voz do povo, alcançaremos êxito em nossos objetivos, e, pelo exemplo e pelo
trabalho, levaremos as futuras gerações a nos seguir nesta tarefa gloriosa.

Vamos unir o povo, valorizar a família, respeitar as religiões e nossa tradição judaico-
cristã, combater a ideologia de gênero, conservando nossos valores. O Brasil voltará a
ser um País livre das amarras ideológicas.

Qual a família que Bolsonaro quer valorizar? A família monogâmica patriarcal,


onde as mulheres eram submissas aos maridos, enganadas pelos maridos e onde
as crianças eram majoritariamente molestadas (pelos próprios familiares)?

Qual a ideologia de gênero que ele quer combater? A que diz que homens e
mulheres têm direitos iguais e que os cidadãos podem optar, com liberdade, por
sua orientação sexual?

Por que o Brasil voltará a ser um País livre das amarras ideológicas? Quais as
“amarras ideológicas” que ele viu no governo Temer? Ele estava se referindo ao PT,
mas o PT não está mais no governo. As ideias de Bolsonaro e dos bolsonaristas não
são também ideológicas? Ou ideologia é só a de esquerda? A extrema-direita
bolsonarista não tem “amarras ideológicas”?

Ademais, que história é essa de “tradição judaico-cristã”? Se a palavra “cristã” se


refere à vida e a morte (na verdade, ao assassinato, tramado pelos judeus) de Jesus

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de Nazaré, não faz sentido. O cristianismo nascente (ou a mensagem evangélica


original) foi uma ruptura com o judaísmo.

Pretendo partilhar o poder, de forma progressiva, responsável e consciente, de Brasília


para o Brasil; do Poder Central para Estados e Municípios.

Minha campanha eleitoral atendeu ao chamado das ruas e forjou o compromisso de


colocar o Brasil acima de tudo e Deus acima de todos.

Por isso, quando os inimigos da Pátria, da ordem e da liberdade tentaram pôr fim à
minha vida, milhões de brasileiros foram às ruas. Uma campanha eleitoral
transformou-se em um movimento cívico, cobriu-se de verde e amarelo, tornou-se
espontâneo, forte e indestrutível, e nos trouxe até aqui.

Aqui há uma clara falsificação. Bolsonaro levou uma facada de um desequilibrado


mental. Nenhuma investigação revelou indícios de que ele foi vítima de um
atentado político. Um ataque criminoso a um candidato é uma agressão a um
político, mas não um atentado político. O plural usado por Bolsonaro é uma
insinuação mentirosa, feita para desinformar: “os inimigos da Pátria, da ordem e
da liberdade tentaram por fim à minha vida”. Quais são estes inimigos (no plural)?
E por que eles seriam também inimigos da Pátria, da ordem e da liberdade (a não
ser no sentido de genérico de que todos os criminosos também são)? Bolsonaro
quer dizer que houve uma conspiração para lhe tirar a vida, mas a própria Polícia
Federal (majoritariamente bolsonarista) não conseguiu uma miserável evidência
de que a agressão tenha sido cometida por uma organização política. Isso é para
alimentar a dúvida de se a facada foi um atentado perpetrado pelos comunistas (do
PT ou do PSOL). É indigno que um presidente da República, no dia da sua posse,
repita essa acusação.

Por último, é falsa a afirmação de que o povo foi às ruas em razão do ataque que
ele sofreu. Muitas pessoas foram às ruas porque queriam mudança, porque não
queriam a volta do PT, porque estavam temerosas com a escalada da insegurança
pública ou porque estavam revoltadas com a corrupção – não em resposta ao
suposto atentado político que Bolsonaro sofreu.

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Nada aconteceria sem o esforço e o engajamento de cada um dos brasileiros que


tomaram as ruas para preservar nossa liberdade e democracia.

A liberdade e a democracia não estavam ameaçadas no governo Temer. A


afirmação é falsa e injusta.

Reafirmo meu compromisso de construir uma sociedade sem discriminação ou


divisão.

Daqui em diante, nos pautaremos pela vontade soberana daqueles brasileiros: que
querem boas escolas, capazes de preparar seus filhos para o mercado de trabalho e não
para a militância política; que sonham com a liberdade de ir e vir, sem serem
vitimados pelo crime; que desejam conquistar, pelo mérito, bons empregos e sustentar
com dignidade suas famílias; que exigem saúde, educação, infraestrutura e
saneamento básico, em respeito aos direitos e garantias fundamentais da nossa
Constituição.

O problema das escolas é que elas não preparam adequadamente seus alunos e
não que o insucesso escolar seja consequência de uma preparação para a
militância política. Aqui Bolsonaro acena para o projeto Escola Sem Partido (de
esquerda).

O Pavilhão Nacional nos remete à “Ordem e ao Progresso”.

Nenhuma sociedade se desenvolve sem respeitar esses preceitos.

O cidadão de bem merece dispor de meios para se defender, respeitando o referendo


de 2005, quando optou, nas urnas, pelo direito à legítima defesa.

Esta é uma referência ao armamentismo popular pregado pelos bolsonaristas e


pelo próprio Bolsonaro em campanha. Ter uma arma em casa ou no trabalho (pois
é da posse que ele está tratando, não do porte – espera-se) não reforça o direito à
legítima defesa. A maioria dos especialistas – inclusive da polícia – afirma o
contrário.

Vamos honrar e valorizar aqueles que sacrificam suas vidas em nome de nossa
segurança e da segurança dos nossos familiares.
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Contamos com o apoio do Congresso Nacional para dar o respaldo jurídico para os
policiais realizarem o seu trabalho.

Eles merecem e devem ser respeitados!

Aqui Bolsonaro deve estar se referindo às medidas, preconizadas por ele e pelos
bolsonaristas, para estimular a violência policial, como o excludente de ilicitude e
(espera-se que não) a autorização para abater criminosos quando não estão em
risco iminente as vida de terceiros e sem autorização judicial.

Nossas Forças Armadas terão as condições necessárias para cumprir sua missão
constitucional de defesa da soberania, do território nacional e das instituições
democráticas, mantendo suas capacidades dissuasórias para resguardar nossa
soberania e proteger nossas fronteiras.

A missão das Forças Armadas não é defender as instituições democráticas a não


ser quando convocadas para tanto pelo poder civil legitimamente eleito (ao qual
devem estar estritamente subordinadas). Em outras palavras, não cabe às FFAA
julgar se as instituições democráticas estão ameaçadas e tomar a iniciativa de
defendê-las (como sugere a expressão “missão constitucional”. O papel político dos
militares em uma democracia é bem conhecido: nenhum!

Montamos nossa equipe de forma técnica, sem o tradicional viés político que tornou o
Estado ineficiente e corrupto.

Vamos valorizar o Parlamento, resgatando a legitimidade e a credibilidade do


Congresso Nacional.

Na economia traremos a marca da confiança, do interesse nacional, do livre mercado e


da eficiência.

Confiança no cumprimento de que o governo não gastará mais do que arrecada e na


garantia de que as regras, os contratos e as propriedades serão respeitados.

Realizaremos reformas estruturantes, que serão essenciais para a saúde financeira e


sustentabilidade das contas públicas, transformando o cenário econômico e abrindo
novas oportunidades.
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Bolsonaro, inexplicavelmente, não menciona a principal reforma de todas: a da


Previdência.

Precisamos criar um círculo virtuoso para a economia que traga a confiança necessária
para permitir abrir nossos mercados para o comércio internacional, estimulando a
competição, a produtividade e a eficácia, sem o viés ideológico.

Quando é que a economia esteve presa pelo “viés ideológico”? Bolsonaro quer nos
dizer que a economia não será de esquerda, como se ela estive sendo (ou tivesse
sido algum dia)? É um absurdo.

Nesse processo de recuperação do crescimento, o setor agropecuário seguirá


desempenhando um papel decisivo, em perfeita harmonia com a preservação do meio
ambiente.

Dessa forma, todo setor produtivo terá um aumento da eficiência, com menos
regulamentação e burocracia.

Esses desafios só serão resolvidos mediante um verdadeiro pacto nacional entre a


sociedade e os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, na busca de novos
caminhos para um novo Brasil.

Não há clima para um “pacto nacional” como o proposto por Bolsonaro. E esse tipo
de discurso não ajuda. O que ele está propondo, ao que parece, é um pacto
ideológico da direita contra a esquerda. Como se não fizessem parte da nação,
quase 50 milhões de brasileiros que votaram num candidato de esquerda e, no
total, cerca de 90 milhões que não votaram nele (Bolsonaro).

Uma de minhas prioridades é proteger e revigorar a democracia brasileira,


trabalhando arduamente para que ela deixe de ser apenas uma promessa formal e
distante e passe a ser um componente substancial e tangível da vida política brasileira,
com o respeito ao Estado Democrático.

A construção de uma nação mais justa e desenvolvida requer a ruptura com práticas
que se mostram nefastas para todos nós, maculando a classe política e atrasando o
progresso.

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A irresponsabilidade nos conduziu à maior crise ética, moral e econômica de nossa


história.
Hoje começamos um trabalho árduo para que o Brasil inicie um novo capítulo de sua
história.
Um capítulo no qual o Brasil será visto como um País forte, pujante, confiante e
ousado.

A política externa retomará o seu papel na defesa da soberania, na construção da


grandeza e no fomento ao desenvolvimento do Brasil.

Bolsonaro se refere à política externa comandada pelo ideólogo ultra-direitista e


religioso Ernesto Araújo?

Senhoras e senhores Congressistas,

Deixo esta casa, rumo ao Palácio do Planalto, com a missão de representar o povo
brasileiro.

Com a benção de Deus, o apoio da minha família e a força do povo brasileiro,


trabalharei incansavelmente para que o Brasil se encontre com o seu destino e se torne
a grande nação que todos queremos.

Muito obrigado a todos vocês.

Brasil acima de tudo!

Deus acima de todos!

Deus não está acima de todos num Estado laico. Pode ser imaginado acima dos
que acreditam nele. Não cabe esse refrão na boca de um presidente da República,
que deve ser servidor de todos os brasileiros: dos que acreditam no seu deus (o
deus da cristandade ou o deus do seu chanceler, quer dizer o “deus de Trump”),
dos que acreditam em outros deuses e dos que não acreditam em deus algum.

Agora vamos ao segundo discurso, mais ideológico ainda do que o primeiro.

DISCURSO NO PARLATÓRIO DO PALÁCIO DO PLANALTO

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Amigas e amigos de todo o Brasil,

É com humildade e honra que me dirijo a todos vocês como Presidente do Brasil.

E me coloco diante de toda a nação, neste dia, como o dia em que o povo começou a se
libertar do socialismo, da inversão de valores, do gigantismo estatal e do politicamente
correto.

Não faz sentido a não ser para uma narrativa voltada para alimentar a guerra
cultural ou a guerra fria anticomunista dos anos 1960-1990. Quer dizer que Temer
era um governo socialista? Quando é que houve socialismo no Brasil? O fato dos
petistas se declararem socialistas não significa que houve no Brasil um governo
(muito menos um regime) socialista. E o PT foi apeado do governo em 2016, pelo
impeachment. É uma alegação inverídica, que aposta nas narrativas urdidas por
malfeitores ideológicos como Olavo de Carvalho, Ernesto Araújo e Steve Bannon.
Além de tudo é um desrespeito com o presidente que acabara de lhe passar a faixa
presidencial.

Ele fala de “inversão de valores”. Ora, de que ponto de vista os valores estavam
invertidos? Bolsonaro arroga-se como portador dos valores certos? Ele tem a régua
ética absoluta para medir os valores alheios?

Bolsonaro menciona ainda o “politicamente correto”. Mais uma referência


fabricada pela extrema-direita trumpista (sim, o bolsonarismo é uma espécie de
trumpismo caboclo).

As eleições deram voz a quem não era ouvido.

E a voz das ruas e das urnas foi muito clara.

E eu estou aqui para responder e, mais uma vez, me comprometer com esse desejo de
mudança.

Também estou aqui para renovar nossas esperanças e lembrar que, se trabalharmos
juntos, essa mudança será possível.

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Respeitando os princípios do estado democrático de direito, guiados por nossa


Constituição e com Deus no coração, a partir de hoje, vamos colocar em prática o
projeto que a maioria do povo brasileiro democraticamente escolheu, vamos promover
as transformações de que o país precisa.

É falso. A maioria da população brasileira não escolheu Bolsonaro (apenas menos


de 40% dos eleitores). E nem mesmo os quase 58 milhões que votaram em
Bolsonaro o fizeram porque concordam com seu projeto político e sim porque,
revoltados com a velha política (diante da avalanche de denúncias de corrupção),
queriam renovação, não queriam a volta do PT e estavam temerosos com os
problemas da segurança. Apenas uma pequena parcela, que não chega a 10% dos
seus eleitores, apoiaram um projeto bolsonarista.

Temos recursos minerais abundantes, terras férteis abençoadas por Deus e um povo
maravilhoso.

Temos uma grande nação para reconstruir e isso faremos juntos.

Os primeiros passos já foram dados.

Graças a vocês, eu fui eleito com a campanha mais barata da história.

Graças a vocês, conseguimos montar um governo sem conchavos ou acertos políticos,


formamos um time de ministros técnicos e capazes para transformar nosso Brasil. Mas
ainda há muitos desafios pela frente.

Não podemos deixar que ideologias nefastas venham a dividir os brasileiros.


Ideologias que destroem nossos valores e tradições, destroem nossas famílias, alicerce
da nossa sociedade.

Novamente, Bolsonaro insiste nas “ideologias nefastas” (referindo-se


anacronicamente ao comunismo). Valem aqui os mesmos comentários, feitos
acima, ao seu discurso no Congresso. Como se as ideologias de extrema-direita,
bolsonaristas, também não dividissem a sociedade (como, aliás, estamos vendo ao
examinar seus discursos). Quais os valores e tradições que estão sendo destruídos?

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Os valores e as tradições patriarcais que nunca foram democráticos? Qual tipo de


família está sendo destruída? A família do macho branco no comando?

E convido a todos para iniciarmos um movimento nesse sentido. Podemos, eu, você e
as nossas famílias, todos juntos, restabelecer padrões éticos e morais que
transformarão nosso Brasil.

A corrupção, os privilégios e as vantagens precisam acabar. Os favores politizados,


partidarizados devem ficar no passado, para que o Governo e a economia sirvam de
verdade a toda Nação.

Não haverá lugar para os partidos na “democracia” bolsonarista? Governo e


economia vão governar sozinhos?

Tudo o que propusemos e tudo o que faremos a partir de agora tem um propósito
comum e inegociável: os interesses dos brasileiros em primeiro lugar.

Quem interpreta os interesses dos brasileiros não é o processo político


democrático, onde interagem miríades de atores, com diversos valores, costumes e
visões de mundo? Ou será o governo Bolsonaro que, daqui para frente,
interpretará tais interesses?

O brasileiro pode e deve sonhar. Sonhar com uma vida melhor, com melhores
condições para usufruir do fruto do seu trabalho pela meritocracia. E ao governo cabe
ser honesto e eficiente.

Aqui há uma confusão entre meritocracia é valorização do mérito. Meritocracia é


um tipo de regime que confere a quem tem mais mérito poderes regulatórios
aumentativos em relação aos demais. É um conceito platônico, contrário à
democracia.

Apoiando e pavimentando o caminho que nos levará a um futuro melhor, ao invés de


criar pedágios e barreiras.

Com este propósito iniciamos nossa caminhada. E com este espírito e determinação
que toda equipe de governo assume no dia de hoje.

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Temos o grande desafio de enfrentar os efeitos da crise econômica, do desemprego


recorde, da ideologização de nossas crianças, do desvirtuamento dos direitos
humanos, e da desconstrução da família.

Mais uma vez Bolsonaro insiste nas narrativas falsificadoras de que as crianças
estão sendo violadas, os direitos humanos desvirtuados e as famílias destruídas
pelo comunismo. Adicional e obliquamente Bolsonaro quer dizer que os direitos
humanos não devem valer igualmente para todos os humanos e sim para os
humanos direitos.

Vamos propor e implementar as reformas necessárias. Vamos ampliar infraestruturas,


desburocratizar, simplificar, tirar a desconfiança e o peso do Governo sobre quem
trabalha e quem produz.

Também é urgente acabar com a ideologia que defende bandidos e criminaliza


policiais, que levou o Brasil a viver o aumento dos índices de violência e do poder do
crime organizado, que tira vidas de inocentes, destrói famílias e leva a insegurança a
todos os lugares.

O aumento da violência não é ideológico. Tem a ver com os níveis de capital social
da sociedade brasileira e não com uma maior licença estatal para a violência
policial. O caminho para reduzir a violência não é o aumento da repressão, como
mostram todos os rankings sobre violência no mundo.

Nossa preocupação será com a segurança das pessoas de bem e a garantia do direito de
propriedade e da legítima defesa, e o nosso compromisso é valorizar e dar respaldo ao
trabalho de todas as forças de segurança.

E mais uma vez aparece aqui – travestida como direito à legitima defesa – a
referência ao armamentismo popular como solução para a questão da segurança
pública.

Pela primeira vez, o Brasil irá priorizar a educação básica, que é a que realmente
transforma o presente e o futuro de nossos filhos e netos, diminuindo a desigualdade
social.

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17/11/2020 Análise dos discursos de posse de Jair Bolsonaro - DAGOBAH

Temos que nos espelhar em nações que são exemplos para o mundo e que por meio da
educação encontraram o caminho da prosperidade.

Vamos retirar o viés ideológico de nossas relações internacionais.

Chega a ser um escárnio esta frase. Nunca o Itamaraty – nem na época da ditadura
militar – foi dirigido por uma pessoa com tão forte viés ideológico como no
governo Bolsonaro. O que ele quer dizer com isso é que agora a política externa
brasileira terá um viés ideológico de extrema-direita e não de esquerda (como
ocorreu durante os governos petistas).

Vamos em busca de um novo tempo para o Brasil e os brasileiros!

Por muito tempo, o país foi governado atendendo a interesses partidários que não o
dos brasileiros. Vamos restabelecer a ordem neste país.

Bolsonaro tem uma fórmula para acabar com os partidos? Se for como ele diz os
“interesses partidários” são ilegítimos numa democracia. A frase final, porém, é
primorosa: ele quer “restabelecer a ordem”. Qual ordem?

Sabemos do tamanho da nossa responsabilidade e dos desafios que vamos enfrentar.


Mas sabemos aonde queremos chegar e do potencial que o nosso Brasil tem. Por isso
vamos dia e noite perseguir o objetivo de tornar o nosso país um lugar próspero e
seguro para os nossos cidadãos e uma das maiores nações do planeta.

Nós, os brasileiros não-bolsonaristas – a esmagadora maioria da população – não


sabemos aonde Bolsonaro quer chegar. Antes de qualquer coisa, porque ele não
disse.

Podem contar com toda a minha dedicação para construir o Brasil dos nossos sonhos.

Agradeço a Deus por estar vivo e a vocês que oraram por mim e por minha saúde nos
momentos mais difíceis.

Peço ao bom Deus que nos dê sabedoria para conduzir a nação.

Que Deus abençoe esta grande nação.

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Brasil acima de tudo, Deus acima de todos.

Repita-se o mesmo comentário já feito acima. Deus não está acima de todos num
Estado laico. Pode ser imaginado acima dos que acreditam nele. Não cabe esse
refrão na boca de um presidente da República, que deve ser servidor de todos os
brasileiros: dos que acreditam no seu deus (o deus da cristandade ou o deus do seu
chanceler, quer dizer o “deus de Trump”), dos que acreditam em outros deuses e
dos que não acreditam em deus algum.

Nos dois discursos, Bolsonaro repete 12 (doze) vezes a palavra ‘Deus’.

Democracy Unschool é um ambiente de livre investigação-aprendizagem


sobre democracia, composto por vários itinerários. O primeiro itinerário é
um programa de introdução à democracia chamado SEM DOUTRINA. Para
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