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MEIO SÉCULO DE TRADIÇÃO

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO


SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

D347

XVII Congresso Nacional de Estudos Tributários [recurso eletrônico] : meio sé-


culo de tradição / coordenação Paulo de Barros Carvalho ; organização Priscila
de Souza. - 1. ed. - São Paulo : Noeses : IBET, 2021. recurso digital ; 3 MB
Formato: epub
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Modo de acesso: world wide web
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ISBN 978-65-89888-40-6 (recurso eletrônico)
1. Direito tributário - Brasil. 2. Contribuições (Direito tributário) - Brasil. 3. Im-
postos - Arrecadação - Brasil. 4. Livros eletrônicos. I. Carvalho, Paulo de Barros.
II. Souza, Priscila de.

21-74175  CDU: 34:351.713(81)

Camila Donis Hartmann - Bibliotecária - CRB-7/6472


MEIO SÉCULO DE TRADIÇÃO

Coordenação: Paulo de Barros Carvalho


Organização: Priscila de Souza
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2021

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APRESENTAÇÃO

Há 50 (cinquenta) anos, mais precisamente no dia 1º de


abril de 1971, Rubens Gomes de Sousa (principal coautor do
Código Tributário Nacional), Antonio Roberto Sampaio Dória
(livre-docente da USP) e Fábio Fanucchi (professor da Fa-
culdade de Direito Mackenzie) fundaram o IBET – Instituto
Brasileiro de Estudos Tributários, entidade voltada a minis-
trar cursos de extensão, promover seminários sobre a maté-
ria, bem como desenvolver pesquisas acerca desse novo sub-
-ramo do Direito Financeiro e que acabara de apresentar-se
sistematizado, com o advento da Lei nº 5172/66. Sua sede e
ambiente de trabalho estavam instalados numa casa, outrora
residencial, situada na Avenida Angélica, bairro de Higienó-
polis, em São Paulo, Capital e seu primeiro presidente foi Ru-
bens Gomes de Sousa, considerado, naquele período, o nome
mais significativo para a comunidade jurídico-tributária bra-
sileira. Eis, em apertada síntese, as origens do Instituto, sur-
gindo, desde logo, impregnado pela serenidade e pelo talento
dos especialistas que o conceberam. Dois anos depois, porém,
falecia seu primeiro presidente, aliás, na véspera de confe-
rência magna, a ser realizada no Curso de Especialização da
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. justamente a
respeito das vicissitudes ocorridas no intervalo de tempo que
separou a entrega de seu anteprojeto de lei e a promulga-
ção e subsequente publicação do já mencionado documento
normativo. Assumiu a presidência, então, o Professor Fábio

V
IBET - INSTITUTO BRASILEIRO DE ESTUDOS TRIBUTÁRIOS

Fanucchi e, por igual motivo, foi a vez de Antonio Roberto


Sampaio Dória ocupar o posto maior. Ora, com as sucessivas
perdas, as atividades do Instituto permaneceram suspensas,
de tal modo que somente em 1977 foi escolhido o Professor
Paulo de Barros Carvalho, assistente do mestre Geraldo Atali-
ba, na PUC/SP, mantendo-se, ainda, como atividade principal,
cursos de extensão acerca dos tributos previstos na Constitui-
ção da República e atribuídos à competência das três pessoas
políticas de direito constitucional interno.
Daí o dizer-se, com ares de indisfarçável orgulho, que o
IBET veio do chão, mas de um chão nobilíssimo, marcado pela
iniciativa pioneira de três pessoas sumamente qualificadas e co-
mandado pela personalidade insubstituível de Rubens Gomes
de Sousa com toda a grandeza de sua reconhecida sabedoria.
O passar dos anos fez com que a Instituição obtivesse um cres-
cimento vertiginoso, acompanhado do respeito e admiração do
meio jurídico nacional, mas guardando sempre a objetividade
de seus propósitos, até chegar aos dias de hoje, envolvendo a
participação efetiva de 34 (trinta e quatro) unidades, plantadas
em todo o território nacional, além de ter instaurado, em 2019,
seu excelente e concorrido curso de mestrado.
Nada mais justo e compreensível, portanto, que celebrar
sua excelsa existência, como tema básico deste XVIII Con-
gresso Nacional de Estudos Tributários.
Que o encontro seja profícuo, sustentando o entusiasmo
de todos nós no sentido de atingir os melhores padrões de
qualidade e de seriedade, virtudes que o momento histórico
do Brasil tanto aguarda e necessita.
Afinal de contas tradição não se constrói segundo a sin-
gela vontade de um povo ou dos segmentos sociais que o in-
tegram: configura-se, antes, pela harmonia, perseverança e,
sobretudo, pela inspiração divina presente no esforço e no
trabalho da comunidade. Vamos respeitá-la e enaltecê-la!
Importa acrescentar, ainda, que o sentimento de tradição,
uma vez reconhecido e acatado como tal, há de ser prestigiado

VI
MEIO SÉCULO DE TRADIÇÃO

como um dos valores mais caros e difíceis de serem consoli-


dados no intermundo social. E nem sempre o Brasil tem de-
monstrado o apreço que muitas instituições merecem.
Convém intercalar aqui uma citação instigante do jusfi-
lósofo Lourival Vilanova, em trecho extraído de seu artigo “O
Poder de Julgar e a Norma”: Pois a vida humana é dinâmica e
estática, mudança e hábito, inovação e repetição, renovação e
rotina, desenvolvimento e tradição. Essas duas dimensões estão
coexistindo em cada época, variando o percentual de uma ou
outra. Se é possível vida humana rotinizada, em repouso, repe-
lindo a mudança, sociedades relativamente estagnadas, como
se o fluxo da corrente histórica adquirisse a dureza resistente
dos sólidos, não é possível vida social liquefeita numa dinâmica
incessante, uma como sociedade em permanente revolução (Es-
critos Jurídicos e Filosóficos, vol. I, pag. 359).
Aquilo que nos interessa proclamar, neste momento tão
especial, é a lembrança viva e manifesta, de que o IBET, pelo
exercício diuturno de suas atividades, atravessou esses 50
(cinquenta) anos com a força e a vibração de todos os seus
participantes (colaboradores, alunos, seminaristas, coordena-
dores, professores e integrantes do corpo dirigente) demons-
trando, por essa forma, ter plena consciência do papel que
cumpre na sociedade brasileira, cheia de proximidades e de
distâncias: Tradição é o nome semanticamente mais adequa-
do para fazer referência à sua trajetória existencial.

São Paulo, 07 de dezembro de 2021.

Paulo de Barros Carvalho


Professor Emérito e Titular de Direito Tributário da PUC/SP e da USP
Membro titular da Academia Brasileira de Filosofia

VII
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO.............................................................. V

A APLICAÇÃO DO DIREITO E A NOÇÃO DE ORDENA-


MENTO JURÍDICO – Álvaro Augusto Lauff Machado.. 1
INCONSTITUCIONALIDADE, ILEGALIDADE, ILOGI-
CIDADE E IMORALIDADE DO AUMENTO DO IO-CRÉ-
DITO PREVISTO NO DECRETO Nº 10.797/2021 EM
PLENA PANDEMIA DO COVID-19 – Ana Paula da
Costa Herrera......................................................................... 23
AUTUAÇÃO FISCAL POR CRÉDITO ADVINDO DE
NOTA FISCAL INIDÔNEA E A NÃO RESPONSABI-
LIZAÇÃO DO EMISSOR DO DOCUMENTO FISCAL
– André Felix Ricotta de Oliveira..................................... 43
INADMISSIBILIDADE DE SOLUÇÕES NÃO LEGISLA-
DAS NO CONTROLE DE PLANEJAMENTOS TRIBU-
TÁRIOS ABUSIVOS – André Mendes Moreira e Arthur
Maia Queiroz.......................................................................... 65
CONSIDERAÇÕES ACERCA DA TRIBUTAÇÃO SOBRE
OPERAÇÕES DE VENDA DE IMÓVEIS NO LUCRO
PRESUMIDO – Andréa Medrado Darzé Minatel, Gusta-
vo Froner Minatel e Guilherme Froner.......................... 99

IX
IBET - INSTITUTO BRASILEIRO DE ESTUDOS TRIBUTÁRIOS

O VALOR TRIBUTÁRIO MÍNIMO NO IPI E AS RECEN-


TES DECISÕES DO CARF SOBRE O CONCEITO DE
PRAÇA – Andréia Fogaça Rodrigues Maricato............. 137
POLÊMICAS NA ESFERA ESTADUAL: DA TRIBUTA-
ÇÃO À COBRANÇA DO ICMS ANTECIPADO – Antônio
Machado Guedes Alcoforado.............................................. 153
A DEDUÇÃO DAS DESPESAS COM A LGPD PARA
CÁLCULO DE PIS/COFINS – Betina Treiger Grupen-
macher..................................................................................... 189
CONSEQUENCIALISMO JUDICIAL: COMO ENTENDER
A MODULAÇÃO DAS DECISÕES JUDICIAIS EM MATÉ-
RIA TRIBUTÁRIA – Bianor Arruda Bezerra Neto........... 219
DIREITO TRIBUTÁRIO INTERNACIONAL E INTER-
DISCIPLINARIDADE: O CASO DO PLANEJAMENTO
TRIBUTÁRIO AGRESSIVO – Caio Augusto Takano.... 243
PRINCÍPIO DA SELETIVIDADE: A ESSENCIALIDADE
COMO CRITÉRIO CONSTITUCIONAL PARA FIXA-
ÇÃO DE ALÍQUOTAS DO ICMS – Carolina Romanini
Miguel...................................................................................... 271
TUTELA PROVISÓRIA E COMPENSAÇÃO TRIBUTÁ-
RIA: OS EFEITOS PRÁTICOS DA DECLARAÇÃO DE
INCONSTITUCIONALIDADE DO ART. 7º, § 2º, DA LEI
12.016/2009 – Cassio Scarpinella Bueno........................... 289
INCORPORAÇÃO DE SOCIEDADES. ERRO NA IDEN-
TIFICAÇÃO DO SUJEITO PASSIVO – Celia Maria de
Souza Murphy........................................................................ 307
IPTU. FINANCIAMENTO ESTRATÉGICO DOS MUNI-
CÍPIOS BRASILEIROS. ANÁLISE JURÍDICA DA
PROPOSTA DE REFORMA TRIBUTÁRIA (PEC 110/2019)
– Cintia Estefania Fernandes............................................ 329
BENEFÍCIOS FISCAIS NA TRIBUTAÇÃO DE E-COM-
MERCE E MARKETPLACES – Daniel Moreti................ 341

X
MEIO SÉCULO DE TRADIÇÃO

DRAWBACK INSTITUTO E JURISPRUDÊNCIA ATUAL


– Daniela de Andrade Braghetta....................................... 363
OS DESAFIOS DA FACILITAÇÃO DO COMÉRCIO
INTERNACIONAL – PONTOS DE ATENÇÃO AOS
IMPORTADORES BRASILEIROS – Daniela Floriano. 375
O ALCANCE DO ART. 98 DO CTN E OS COMANDOS
CONSTITUCIONAIS SOBRE OS TRATADOS INTER-
NACIONAIS – Danielle Mariotto Sanches Dias da Silva
e Jacqueline Mayer da Costa Ude Braz........................... 397
COMPENSAÇÃO TRIBUTÁRIA, COISA JULGADA E
OS §§ 5º A 8º DO ART. 535 DO CPC – Danilo Monteiro
de Castro.................................................................................. 425
ADSTRIÇÃO, SUPERAÇÃO E DISTINÇÃO DOS PRECE-
DENTES NO CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO
TRIBUTÁRIO – Diógenes Teófilo de Jesus...................... 445
PROCESSO TRIBUTÁRIO E COMPENSAÇÃO: PRES-
SUPOSTOS TEÓRICOS DO INDÉBITO TRIBUTÁRIO
– Eduardo de Paiva Gomes................................................. 485
IPTU VERDE E PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS – Edvaldo
Brito.......................................................................................... 503
AQUISIÇÃO DE PARTICIPAÇÃO SOCIETÁRIA SEM
MUDANÇA DE CONTROLE – Elidie Palma Bifano..... 529
PROVA ILÍCITA E SEUS IMPACTOS NA FENOMENO-
LOGIA DA INCIDÊNCIA TRIBUTÁRIA – Fabiana Del
Padre Tomé............................................................................. 549
DA RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA DA CONTRI-
BUIÇÃO PARAFISCAL AO SENAR – Fábio Chilo e
Stéfano Vieira Machado Ferreira..................................... 567
MATERIALIDADE DO IMPOSTO TERRITORIAL
RURAL – ITR – ANÁLISE E DEFINIÇÃO DE CONCEI-
TOS - IMPACTOS NO VALOR E NA RELAÇÃO – Fernan-
da Teodoro Arantes............................................................... 591

XI
IBET - INSTITUTO BRASILEIRO DE ESTUDOS TRIBUTÁRIOS

ZONA DE PROCESSAMENTO DE EXPORTAÇÃO (ZPE)


E O HIDROGÊNIO VERDE: UM PROJETO JURÍDICO
DE DESCARBONIZAÇÃO DO PLANETA – Flávia
Holanda Gaeta....................................................................... 617
O PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO E A INCIDÊNCIA
DE ITCMD E DE ITBI – Francielli Honorato Alves...... 635
MULTA QUALIFICADA E PLANEJAMENTO TRIBUTÁ-
RIO – Gabriel Caldiron Rezende e Júlio M. de Oliveira... 661
VOTO DE QUALIDADE: PARA ALÉM DO PRECONCEI-
TO DECISÓRIO – Galderise Fernandes Teles e Pablo
Gurgel Fernandes................................................................. 687
CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA SOBRE A RECEITA
BRUTA DECORRENTE DA COMERCIALIZAÇÃO DOS
CRÉDITOS DE DESCARBONIZAÇÃO – “CBIO” PELAS
AGROINDÚSTRIAS SUCROALCOOLEIRAS – Gilsom
Machado Bento e Viviane Camara Strachicini................ 709
GARANTIAS AO CRÉDITO TRIBUTÁRIO E SEUS
EFEITOS SOBRE O FLUXO DE COBRANÇA FISCAL
– Íris Vânia Santos Rosa e Paulo Felipe Souza.............. 733
O PAPEL DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL NA
SUPERAÇÃO DA DISSONÂNCIA DOUTRINÁRIA
ACERCA DO PRIMADO DAS NORMAS INTERNA-
CIONAIS DE NATUREZA TRIBUTÁRIA – Isabelle
Cristinne Morais................................................................... 753
(DUPLA) RESIDÊNCIA FISCAL INTERNACIONAL
EM UM CONTEXTO PÓS-MLI – Jaqueline de Paula
Leite Zanetoni........................................................................ 775
BIG DATA, INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E SECRET
COMPARABLES NOS PREÇOS DE TRANSFERÊNCIA
– Jonathan Barros Vita........................................................ 799
SOLUÇÃO DE CONTROVÉRSIAS TRIBUTÁRIAS
E RESPEITO À CONSTITUIÇÃO FEDERAL – José
Antonio Minatel.................................................................... 817

XII
MEIO SÉCULO DE TRADIÇÃO

REFLEXÕES SOBRE RECENTES DECISÕES DO STF


E DO STJ ENVOLVENDO A ECONOMIA DIGITAL – José
Eduardo de Paula Saran..................................................... 839
A EXCLUSÃO DO ICMS DA BASE DE CÁLCULO DO
PIS E DA COFINS E O PARECER COSIT N. 10/2021 –
José Eduardo Soares de Melo............................................. 871
A DOSIMETRIA DAS MULTAS FISCAIS (CONFORME
A LEGISLAÇÃO DO ICMS DO ESTADO DE SÃO PAULO)
– José Orivaldo Peres Júnior.............................................. 889
O DILEMA ENTRE A EXTRAFISCALIDADE E A
IGUALDADE: O CASO DOS INCENTIVOS TRIBUTÁ-
RIOS AO TURISMO – José Roberto Vieira e Maurício
Dalri Timm do Valle............................................................. 917
QUAL REGIME TRIBUTÁRIO É MAIS VANTAJOSO NO
AGRO: SER PESSOA FÍSICA OU PESSOA JURÍDICA?
– Leonardo Furtado Loubet................................................ 973
SINCRETISMO PROCESSUAL NA COBRANÇA DO
CRÉDITO TRIBUTÁRIO – Luis Claudio Ferreira
Cantanhêde............................................................................. 991
O ICMS, A TRANSFERÊNCIA DE MERCADORIAS
ENTRE ESTABELECIMENTOS DO MESMO CONTRI-
BUINTE PARA DIFERENTES ESTADOS DA FEDE-
RAÇÃO E A REGULAR MANUTENÇÃO DO CRÉDITO
TRIBUTÁRIO NO CONTEXTO DO AGRONEGÓCIO
– Luiz Paulo Jorge Gomes................................................... 1011
O MANDADO DE SEGURANÇA EM MATÉRIA TRIBU-
TÁRIA E AS TESES VINCULANTES FIXADAS NA
ADI 4.296 – Mantovanni Colares Cavalcante................. 1025
ASPECTOS CONTROVERTIDOS NO GANHO DE CAPI-
TAL DECORRENTE DA ALIENAÇÃO DE IMÓVEIS
RURAIS – Marcelo Guaritá Borges Bento...................... 1051

XIII
IBET - INSTITUTO BRASILEIRO DE ESTUDOS TRIBUTÁRIOS

CARACTERIZAÇÃO DA INTERPOSIÇÃO FRAUDU-


LENTA DE TERCEIRO NA IMPORTAÇÃO À LUZ DA
JURISPRUDÊNCIA – Marcos André Vinhas Catão e
Tania Emily Laredo Cuentas............................................. 1077
INCONSTITUCIONALIDADE DA INCLUSÃO DO ISSQN
NA BASE DE CÁLCULO DO PIS/COFINS – Mariana
Barboza Baeta Neves Matsushita...................................... 1091
O CONCEITO DE RENDA E A TRIBUTAÇÃO DOS
LUCROS NO EXTERIOR – Martha Leão........................ 1107
A CONTABILIZAÇÃO DE INCENTIVOS FISCAIS
SETORIAIS: EVOLUÇÃO REGULATÓRIA E ASPECTOS
TRIBUTÁRIOS – Mary Elbe Queiroz e Antonio Carlos
de Souza Júnior..................................................................... 1129
NOVAS SÚMULAS DO CARF E AS IMPLICAÇÕES
PARA O PROCESSO ADMINISTRATIVO TRIBUTÁRIO
– Maurício Pereira Faro e Bernardo Motta Moreira... 1149
COISA JULGADA TRIBUTÁRIA COM EFICÁCIA
PROSPECTIVA E AS QUESTÕES CONSTITUCIONAIS
DISCUTIDAS NOS TEMAS 881 E 885 DO STF – Misabel
de Abreu Machado Derzi, Valter de Souza Lobato e
Tiago Conde Teixeira........................................................... 1167
OPERAÇÕES DE HEDGE – IMPACTOS NA BASE DOS
TRIBUTOS DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS E O
DESAFIO DE SUA PROVA – Nereida de M. Finamore
Horta........................................................................................ 1193
AS CONSEQUÊNCIAS DA ADC 49 PARA O ICMS: A
(IN)DECISÃO DO “ASNO DE BURIDAN” – Osvaldo
Santos de Carvalho e José Mauro de Oliveira Junior.. 1217
RESERVA DE LEI COMPLEMENTAR PARA DISPOR
SOBRE PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE EM MATÉ-
RIA TRIBUTÁRIA: ANÁLISE DO RE 636.562- SC –
Renata Elaine Silva Ricetti Marques............................... 1247

XIV
MEIO SÉCULO DE TRADIÇÃO

O ÁGIO NA VISÃO DOS TRIBUNAIS: EMPRESA


VEÍCULO E ÁGIO INTERNO – Roberto Duque Estrada
e Eduardo Barboza Muniz................................................... 1259
DELAÇÃO EM MATÉRIA CRIMINAL E A CONFIGU-
RAÇÃO DO FATO JURÍDICO TRIBUTÁRIO – Robson
Maia Lins e Marina Vieira de Figueiredo...................... 1283
O TEMA 745 DE REPERCUSSÃO GERAL: A SELETI-
VIDADE SEGUNDO O SUPREMO E A MODULAÇÃO
EM MATÉRIA TRIBUTÁRIA – Rodrigo Garcia Duarte
e Fernanda Oppermann Iizuka......................................... 1313
TEORIA DA INCIDÊNCIA TRIBUTÁRIA OU FENOME-
NOLOGIA DA TRIBUTAÇÃO E PRINCÍPIOS RETORES
– Sacha Calmon Navarro Coêlho....................................... 1337
SUBFATURAMENTO E SUBVALORAÇÃO: DIVERGÊN-
CIAS NA CARACTERIZAÇÃO NA JURISPRUDÊNCIA
– Solon Sehn............................................................................ 1363
BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE A MODULAÇÃO
DOS EFEITOS DAS DECISÕES DO STF SOBRE RECEN-
TES JULGADOS EM TEMAS TRIBUTÁRIOS – Susy
Gomes Hoffmann e Fabiana Vicedomini Coelho............. 1381
UMA CLASSIFICAÇÃO ANALÍTICA DAS SENTENÇAS
– Tárek Moysés Moussallem e Yuri de Oliveira Dantas
Silva .......................................................................................... 1397
A INSCRIÇÃO DO DÉBITO EM DÍVIDA ATIVA E OS
DIREITOS DO SUJEITO PASSIVO TRIBUTÁRIO –
Carla de Lourdes Gonçalves e Hendrick Pinheiro...... 1417

XV
INCONSTITUCIONALIDADE, ILEGALIDADE,
ILOGICIDADE E IMORALIDADE DO AUMENTO
DO IO-CRÉDITO PREVISTO NO DECRETO Nº
10.797/2021 EM PLENA PANDEMIA DO COVID-19

Ana Paula da Costa Herrera1

I. INTRODUÇÃO

Desde o início, gostaríamos de deixar claro que não pre-


tendemos com este artigo fazer qualquer apologia às discus-
sões políticas, mas o leitor mais atento não poderá deixar de
considerar o contexto da publicação do Decreto nº 10.797/2021,
que majorou as alíquotas do Imposto sobre Operações de Cré-
dito, realizadas por pessoas jurídica e físicas, possui sensível
relevância para as nossas conclusões.
Por isso, alertamos que precisamos fazer um corte do mo-
mento econômico, social e político antecedente à publicação

1. Advogada, Professora nos cursos de Pós-Graduação em Direito Tributário no


IBET, na PUC/SP-Cogeae, no EBRADI e na APET. É Mestre em Direito Tributário
pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Especialista em Di-
reito Tributário pela PUC-SP e graduanda em Ciências Contábeis na FIPECAFI.
E-mail: anapaula@costaherrera.com.br

23
IBET - INSTITUTO BRASILEIRO DE ESTUDOS TRIBUTÁRIOS

do Decreto nº 10.797/2021, publicado em 17 de setembro de


2021, para assim, demonstrar ao nosso leitor, que seguimos
firmes no caminho metodológico do constructivismo-lógico
semântico, com vistas sempre a aliar o estudo acadêmico com
a prática em contínua busca do “ponto de intersecção entre
a teoria e a prática, entre a ciência e a experiência” tal como
ensinado por Lourival Vilanova2.
Importante ressaltar que já nos manifestamos anterior-
mente, no sentido de que entendemos que a interpretação
somente ocorre quando o intérprete alcança o sentido da nor-
ma, inserido no contexto de uso3. Por isso que sempre preferi-
mos avaliar o contexto em que o texto normativo foi publica-
do, antes de tratarmos do objeto do estudo em específico, que
no nosso caso é o Decreto nº 10.797/2021.

II. OPERAÇÕES DE CRÉDITO, CÂMBIO E SEGURO


OU RELATIVAS A TÍTULOS OU VALORES MOBI-
LIÁRIOS – BREVES NOÇÕES

Já de início é importante ressaltar que que a sigla comu-


mente utilizada par indicar Imposto sobre Operações de Cré-
dito, Câmbio e Seguro ou relativas a Títulos ou Valores Mobi-
liários “IOF” é criticada por vários autores por ser imprópria,
em razão da insuficiência de sua denominação.
Já nos manifestamos em estudo anterior sobre o tema4
que em realidade, esta sigla traz uma carga que pode levar
o intérprete a erro, já que este tributo não se trata apenas de

2. VILANOVA, Lourival. Estruturas Lógicas e o Sistema de Direito Positivo. São Paulo:


Noeses, 2005, p. 18.
3. HERRERA, Ana Paula da Costa. A responsabilidade tributária e a instituição financei-
ra. Dissertação de Mestrado apresentada à Banca Examinadora da PUC-SP, 2011, p. 19.
4. HERRERA, Ana Paula da Costa. Imposto sobre Operações Financeiras e Opera-
ções de Cessão de Crédito e Desconto. In: Instituto Brasileiro de Estudos Tributá-
rios, et al. (Org.). PRODIRIEITO: Direito Tributário: Programa de Atualização em
Direito: Ciclo 3. Porto Alegre: Artmed Panamericana; 2017. p. 125-166. (Sistema de
Educação Continuada a Distância, v.1), p. 129.

24
MEIO SÉCULO DE TRADIÇÃO

um “Imposto sobre Operações Financeiras”, mas de um im-


posto cuja incidência se dá sobre operações. E a curta sigla
em realidade alberga cinco impostos, os quais recaem sobre
operações de crédito, câmbio, seguro, relativas à títulos ou va-
lores mobiliários.
Este também é o entendimento do saudoso Professor Ai-
res F. Barreto:

“A consequência dessa constatação está em que essas atividades


ocorrem no bojo de atos ou negócios jurídicos, ou seja, é imposto
que incide eminentemente sobre contratos, envolvendo sempre
operações, que se desdobram em (a) de crédito, (b) câmbio e (c)
seguro, abrangendo, ainda, as (d) relativas a títulos ou a (e) valo-
res mobiliários. Rigorosamente têm-se cinco diferentes impostos,
embora com a mesma radicação. Um imposto sobre operações de
crédito, outro sobre operações de câmbio, outro sobre operações
de seguro, outro mais, relativo a títulos mobiliários e, finalmente,
mais um, desta feita sobre outros valores mobiliários.”

Assim, preferimos guardar coerência com o quanto já vi-


mos estudando sobre o tema, e, a partir deste momento, pas-
saremos a indicar o imposto ora em análise, que possui rela-
ção com a operação de crédito, com a sigla IO-Crédito.

III. DO CONTEXTO SOCIAL, POLÍTICO E ECONÔMICO


QUE ANTECEDERAM A PUBLICAÇÃO DO DECRETO
Nº 10.797/2021, EM 17 DE SETEMBRO DE 2021.

Pensamos que seja importante contextualizar que o


Mundo ainda está passando pela pandemia do Covid-19 e
que continuamos com a sombra persistente da amplitude da
pandemia por conta das variantes Delta e, mais recentemente
mapeada, a Ômicron.
Sem dúvida, os principais acontecimentos do resto do
planeta impactam diretamente os mercados do Brasil prin-
cipalmente no que tange às operações de crédito, câmbio, de
título e valores mobiliários.

25
IBET - INSTITUTO BRASILEIRO DE ESTUDOS TRIBUTÁRIOS

Embora a vacinação contra o Covid-19 venha ocorrendo


no Brasil e no Mundo, agora de forma mais consistente, os
mercados ainda estão ressentidos e sem dúvida o clima ainda
é de atenuação nas previsões de crescimento das economias
do mundo, que está cercada de um aumento recente nos pre-
ços das commodities internacionais, marcado por problemas
climáticos desfavoráveis e, em razão das condições inflacio-
nárias das Emergentes. Tudo isso vem apontando para um
cenário de constrição do crédito.
As economias mais desenvolvidas questionam estas altas
das condições inflacionárias, o que pode fazer com que haja
menos negócios com os Países que apresentam alta inflacio-
nária. O estímulo e a retomada das principais economias dão
suporte para os Países Emergentes.
Tema de destaque internacional recente e importante
que deixou os Mercados com receito, foi a crise da Evergran-
de (listada como a segunda maior incorporadora imobiliária
da China), que acendeu o alerta para uma possível crise que
poderia impactar o Brasil, diante do fato de que a China é o
maior destino de exportações de ferro do Brasil. Em rodas de
discussões econômicas especulou-se inclusive risco de bolha,
ao estilo da ocorrida nos idos de 2007-2008.
No Brasil notamos constrição em investimentos, nitida-
mente causada em razão da postura do Governo Federal em
razão da forma desastrosa em que vem lidando com questões
como orçamento federal (com destaque para forma de su-
porte para o programa Bolsa Família), a pauta de interesse
principal do Presidente Jair Bolsonaro, que é a Proposta de
Emenda à Constituiçao nº 23/2021, a “PEC dos Precatórios”,
em que o Governo demonstra o claro objetivo de dar o famoso
“calote” em dívidas públicas judiciais reconhecidas pela Jus-
tiça de modo a pagar os valores em novo parcelamento em até
mais dez anos5, a falta de agenda propositiva e a incerteza da

5. Em 02 de dezembro de 2021 o Plenário do Senado aprovou a PEC. Mas considerando


que houve modificação no texto, a proposta deverá retornar à Câmara dos Deputados.

26
MEIO SÉCULO DE TRADIÇÃO

reforma tributária, são temas que geraram insatisfação dos


Fundos e Empresários e, estes temas, considerados sensíveis,
fatalmente agravam a situação do mercado brasileiro.
Percebemos ainda que há uma alta nos preços dos bens
industrializados, que são originários de repasse dos custos, li-
mitações de oferta e da reorientação da demanda relacionada
a bens. Esta situação tende a continuar no curto prazo. Já os
serviços tiveram uma alta, tendendo ao retorno das ativida-
des. Ainda ocorrem aumentos significativos dos preços das
comodities, muito em razão dos impactos do cenário inter-
nacional, tais com alimentos, combustíveis, minérios, petró-
leo e energia elétrica (decorrente da crise hidrológica – com
anúncio da Aneel com tarifa extra, por exemplo e a presença
do Ministro de Minas e Energias que compareceu em cadeia
nacional, em comentário de rádio e TV, pedindo a redução de
consumo – o que denota a gravidade do tema). Portanto, há
um impacto na taxa de câmbio, nos valores das commodities
internacionais, que também ocorre em razão das condições
de clima que não estão favoráveis.
Outro tema que chamou atenção dos Investidores foi o or-
çamento federal que não foi detalhado, sem indicação de deci-
são estratégica ou qualquer alteração de política pública, o que
denota a falta de agenda do Governo Federal. O risco fiscal é
ponto de atenção diária dos investidores. Há patente alta no de-
semprego (atualmente há cerca de 15 milhões de brasileiros de-
sempregados). E, como dito acima, a tão falada reforma tribu-
tária está travada por enquanto e o governo Bolsonaro não tem
previsão de fonte de receita para a ampliação do Bolsa Família.
As pesquisas indicam queda na popularidade do Senhor
Presidente. A avaliação positiva – bom ou ótimo da gestão Bol-
sonaro - soma apenas 19% da população adulta, o que denota
o pior patamar de sua aprovação, desde início de seu manda-
to, em janeiro de 2019.6

6. Acesso em 30 de novembro de 2021 em https://www.jota.info/dados/popularida-


de-bolsonaro-entenda-diferenca-institutos-pesquisa-30112021 - “Onde está a popu-
laridade de Bolsonaro? Entenda a diferença entre institutos”.

27
IBET - INSTITUTO BRASILEIRO DE ESTUDOS TRIBUTÁRIOS

Vale ainda salientar que o Senhor Bolsonaro conta com


mais de 120 pedidos de impeachment7, sendo este o Presiden-
te brasileiro campeão neste ranking.
Percebe-se um claro desagrado de alguns “aliados” no
Congresso Nacional, o que certamente leva o Senhor Presi-
dente a não pensar em cortes nas “emendas do relator”8.
Mas em setembro de 2021, foi dada largada para a cor-
rida pelas urnas presidenciais e o Senhor Presidente Bol-
sonaro de repente lembrou de um truque importante para
melhorar sua popularidade: a ampliação de um programa
popular, o Bolsa Família.
Importante ressaltar que a súbita preocupação com os mais
pobres é estranha, dado que é patente que o auxílio-emergencial
indicado pelo governo em razão da pandemia do Covid-19 foi
bem menor do que o aprovado pelo Congresso Nacional.
Assim, nos pareceu inegável que o “novo Bolsa Famí-
lia” claramente tem um fim bem claro - ajudar a melhorar a
imagem do Senhor Presidente Bolsonaro – com um objetivo
essencialmente eleitoreiro.
E foi exatamente neste contexto que o Senhor Presidente
lançou mão da canetinha mágica, aquela que alguns Chefes
do Executivo no Brasil acreditam que possuem, para o exer-
cício, ao seu bel-prazer do “poder de usar da extrafiscalida-
de” quando “a coisa aperta” para então assinar “decretinhos”,
que supostamente possam ser a solução para os problemas de
falta de recursos para cobrir algum rombo ou alguma necessi-
dade que julga ser necessária.

7. Acesso em 30 de novembro de 2021 em https://apublica.org/impeachment-bolso-


naro/quantos-pedidos-de-impeachment-os-ultimos-presidentes-receberam/
8. PISCITELLI, Tathiane. Aumento de IOF como cabo eleitoral. Legislação. Coluna
Fio da Meada. Jornal Valor Econômico. Publicado 17.09.21. Disponível em: valor.
globo.com/legilacao/fio-da-meada/post/2021/09/aumento-de-iof-como-cabo-eleito-
ral.ghtml. Acesso em 25 de novembro de 2021

28
MEIO SÉCULO DE TRADIÇÃO

E foi este o cenário que a equipe econômica do Senhor


Presidente, claramente com falta de técnica econômica, jurí-
dica e equívocos de análise, entendeu que seria interessante
aumentar as alíquotas do Imposto sobre Operações de Cré-
dito realizadas pelas pessoas jurídicas e pessoas físicas, o IO-
-Crédito, para conseguir recursos que pudessem subsidiar o
novo Bolsa Família. Assim, como em um passe de mágica, o
time do Presidente surgiu com uma solução para conseguir
aumentar a popularidade do Senhor Presidente da República
na corrida pelas urnas e evitar cortes nas emendas do relator
da PEC dos Precatórios.
E, neste sentido, embora o Senhor Bolsonaro já tivesse
alardeado o tema em entrevistas, o próprio Ministério da Eco-
nomia publicou, em 16 de setembro de 2021, às 21h35, nota à
Imprensa, com a seguinte justificativa, que com certeza deve
ser trazida para esta análise, embora saibamos dos estreitos
limites de um artigo científico:

“Com o fim do Auxílio Emergencial e a necessidade legal de in-


dicar fonte para o programa Auxílio Brasil, sucessor do Bolsa
Família, e reduzir a fila de espera pelo benefício, o governo fe-
deral, por intermédio do Ministério da Economia, elevou tempo-
rariamente a alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras
A decisão foi tomada em razão da observância das regras fiscais.
Apesar da arrecadação recorde, a Lei de Responsabilidade Fis-
cal (LRF) determina que é necessária a indicação de fonte para o
aumento de despesa obrigatória. A instituição do programa so-
cial Auxílio Brasil acarretará um acréscimo na despesa obri-
gatória de caráter continuado em R$ 1,62 bilhão neste ano.
Em 2022, o financiamento do programa terá como fonte a recria-
ção do imposto de renda sobre lucros e dividendos, que está em
discussão no Senado Federal.” (Grifos nossos)

E, já no dia seguinte, em 17 de setembro de 2021, foi pu-


blicado o Decreto nº 10.797/2021, nos seguintes termos:

Art. 1º O Decreto n 6.306, de 14 de dezembro de 2007, passa a


vigorar com as seguintes alterações:

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“Art.7º
(...)
§ 22. Nas operações de crédito cujos fatos geradores ocorram en-
tre 20 de setembro de 2021 e 31 de dezembro de 2021, as alíquo-
tas do IOF previstas nos incisos I, II, III, IV, V e VII do caput fi-
cam reduzidas, conforme o caso, a:
I - mutuário pessoa jurídica: 0,00559%;
II - mutuário pessoa física: 0,01118%;
III - mutuário pessoa jurídica: 0,00559% ao dia; e
IV - mutuário pessoa física: 0,01118% ao dia.” (NR)
Art. 2º Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 16 de setembro de 2021; 200º da Independência e 133º
da República.
JAIR MESSIAS BOLSONARO
Paulo Guedes”

Assim, do período de 20 de setembro a 31 de dezembro


de 2021, houve um aumento nas alíquotas do IO-Crédito. As
pessoas jurídicas, que possuíam a alíquota diária de 0,0041%
(com alíquota anual de 1,5%) passam a recolher 0,00559% (com
alíquota anual de 2,04%) e as pessoas físicas, que possuíam a
alíquota diária de 0,0082% (referente à alíquota anual de 3%)
passam para 0,01118% (referente à alíquota anual de 4,08%).
Este Decreto reativou várias polêmicas que circundam
os limites do Poder Executivo no manejo de tributos extrafis-
cais, como é o caso do Imposto sobre Operações de Crédito,
Câmbio, Seguro e Títulos e Valores Mobiliários, os quais que
devem ser utilizados com o fim precípuo para intervenção do
Estado na economia com uma finalidade regulatória.

IV. DA VEDAÇÃO PELA CONSTITUIÇÃO FEDERAL


À VINCULAÇÃO DE RECEITA DOS IMPOSTOS

Qualquer estudante de Direito um pouco mais desavi-


sado já deve ter ouvido falar que na Constituição Federal de

30
MEIO SÉCULO DE TRADIÇÃO

1988 há vedação expressa prevista no artigo 167, IV, no senti-


do de que os impostos não podem ter vinculação de receita a
órgão, fundo ou despesa. O que significa dizer que a receita de
impostos deve ser para custear os serviços públicos, sem que
haja qualquer especificação. Senão, vejamos:

“Art. 167. São vedados:


(...)
IV - a vinculação de receita de impostos a órgão, fundo ou
despesa, ressalvadas a repartição do produto da arrecadação
dos impostos a que se referem os arts. 158 e 159, a destinação
de recursos para as ações e serviços públicos de saúde, para
manutenção e desenvolvimento do ensino e para realização de
atividades da administração tributária, como determinado, res-
pectivamente, pelos arts. 198, § 2º, 212 e 37, XXII, e a prestação
de garantias às operações de crédito por antecipação de receita,
previstas no art. 165, § 8º, bem como o disposto no § 4º deste ar-
tigo.” (Grifos nossos).

Assim, com este simples recorte, pensamos necessário


retomar a mensagem feita pelo Ministério da Economia à im-
prensa, um dia antes da publicação do Decreto nº 10.797/2021,
no ponto abaixo:

“A decisão foi tomada em razão da observância das regras fis-


cais. Apesar da arrecadação recorde, a Lei de Responsabilida-
de Fiscal (LRF) determina que é necessária a indicação de fonte
para o aumento de despesa obrigatória. A instituição do progra-
ma social Auxílio Brasil acarretará um acréscimo na despe-
sa obrigatória de caráter continuado em R$ 1,62 bilhão neste
ano.” (Grifos nosso)

Ora, no destaque acima, o Ministério da Economia indica


claramente que o aumento do IO-Crédito terá como objeti-
vo a instituição do programa social Auxílio Brasil, em clarís-
sima afronta à previsão da Constituição Federal, que indica
de forma tão patente que é vedada vinculação de receita de
impostos a despesa, ressalvadas as repartições do produto da
arrecadação de impostos, que obviamente não se enquadram
nesta situação trazida pelo Governo Bolsonaro.

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Sem qualquer sombra de dúvida e de forma bastante sim-


ples é fácil de verificar que o Decreto nº 10.797/2021 é incons-
titucional, eis que os impostos, sejam eles com função fiscal
ou extrafiscal, jamais podem ter destinação vinculada, exceto
nas exceções previstas na Constituição e, este não é o caso.
Portanto, já por esta razão o Decreto nº 10.797/2021 deve
ser considerado inconstitucional.

V. O PODEROSÍSSIMO INSTRUMENTO DA EXTRA-


FISCALIDADE

A Constituição Federal de 1988 (CF/88) efetuou modifi-


cações importantes no Imposto ora em análise e estabeleceu
a competência ao Poder Executivo para efetuar alteração de
alíquotas via Decreto, desde que sejam seguidos os critérios
e limites previstos em lei. Note que a CF/88 não permite que
o Poder Executivo modifique as bases de cálculo do Imposto
sobre Operações de Crédito, Câmbio e Segurou ou relativas a
Títulos ou Valores Mobiliários.
A CF delegou ao legislador infraconstitucional o poder
de estabelecer as condições e os limites que o Poder Executi-
vo deve seguir para a alteração da alíquota do Imposto sobre
Operações de Crédito, Câmbio e Segurou ou relativas a Títulos
ou Valores Mobiliários. e, também garantiu que tais alterações
possam ter efeito inclusive no mesmo dia de sua publicação.
Assim, alguns autores inclusive mencionam que o prin-
cípio da legalidade tributária possui uma mitigação, ou como
entendem alguns, uma exceção9.
Pela leitura do artigo 153, parágrafo 1º da CF, verifica-se
que existem quatro impostos federais que poderão ter suas
alíquotas alteradas por uma decisão do Poder Executivo: Im-
posto sobre a Importação (II); Imposto sobre a Exportação

9. BOTALLO, Eduardo Domingos. Lições de Direito Público. São Paulo: Dialética,


2003, p. 62.

32
MEIO SÉCULO DE TRADIÇÃO

(IE), Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e Imposto


sobre Operações de Crédito, Câmbio, Seguros e Títulos e Va-
lores Mobiliários (IOF).
Assim, resta claro que o Poder Executivo não possui o
pleno e irrestrito direito de alterar as alíquotas conforme o
seu entendimento, mas que detém uma possibilidade de utili-
zar deste poder com uma finalidade mapeada e circunscrita à
lei e que nunca, jamais, poderia utilizar deste poder de altera-
ção de alíquotas ao seu bel-prazer.
O Professor Paulo de Barros Carvalho10, como sempre,
muita preciso e, ao mesmo tempo com um estilo tão elegante,
assim nos ensina:
“A experiência jurídica nos mostra, porém, que vezes sem conta
a compostura da legislação de um tributo vem pontilhada de ine-
quívocas providências no sentido de prestigiar certas situações,
tidas como social, política ou economicamente valiosas, às quais
o legislador dispensa tratamento mais confortável ou menos gra-
voso. A essa forma de manejar elementos jurídicos usados na
configuração de tributos, perseguindo objetivos alheios aos me-
ramente arrecadatórios, dá-se o nome de extrafiscalidade.”

Pela leitura dos ensinamentos de nosso grande Mestre,


há um alerta de que a extrafiscalidade é um instrumento para
que o Poder Executivo possa atuar para prestigiar as situa-
ções social, política ou econômicas para então agir.
Importante ressaltar que este poder se dá para o aumento
e para a redução das alíquotas destes impostos acima citados
indicados. Mas esta flexibilização tem por substrato a lógica
da anuência do Poder Legislativo, como inclusive acima pon-
tuado pelos ensinos do Professor Paulo de Barros Carvalho.
E o Código Tributário Nacional em 1966, no artigo 65,
ainda que não seja totalmente recepcionado pela CF/8811, já

10. CARVALHO, Paulo de Barros. Direito Tributário, Linguagem e Método. São Pau-
lo: Noeses, 2008, pág. 240.
11. Pois indica a antiga condição que o Poder Executivo detinha no cenário altera-
ção feita pela Emenda Constitucional 18/1965 à então Constituição vigente, para al-
terar as alíquotas ou a base de cálculo do imposto.

33
IBET - INSTITUTO BRASILEIRO DE ESTUDOS TRIBUTÁRIOS

dispunha que este poder possui condições e limites estabele-


cidos em lei e que deve ser exercido com o fim de ajuste aos
objetivos da política monetária.
Mas a Lei 8.894/94, no artigo 1º, parágrafo 2º, instituída
sob a égide da Constituição Federal de 1988, que dispõe sobre
o Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro, ou
relativas a Títulos e Valores Mobiliários, faz referência à limi-
tação ainda mais específica, eis que determina que o Poder
Executivo somente efetue as mudanças nas alíquotas, desde
que o faça com a observância dos objetivos das políticas mo-
netária e fiscal. Senão, vejamos:

“Art. 1º O Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Se-


guro, ou relativas a Títulos e Valores Mobiliários será cobrado à
alíquota máxima de 1,5% ao dia, sobre o valor das operações de
crédito e relativos a títulos e valores mobiliários.
(...)
§ 2o O Poder Executivo, obedecidos os limites máximos fixados
neste artigo, poderá alterar as alíquotas tendo em vista os obje-
tivos das políticas monetária e fiscal.” (Grifos nossos).    

Mas o leitor mais atento há de se perguntar, o que são


estas políticas monetária e fiscal? Será que a alteração feita
pelo Presidente Bolsonaro e previamente noticiado por seu
Ministério da Fazenda não foram exatamente para cumprir
com estes requisitos?
É importante esclarecer que política monetária é um dire-
cionamento composto pela reunião de medidas que são execu-
tadas pelo Banco Central do Brasil para possibilitar o controle
da quantidade de moeda que circula na economia do País, para
garantir a meta principal, que é o controle da inflação.
Assim, pretende-se assegurar o poder de compra real que
a população brasileira possui. E cabe ao Conselho Monetário
Nacional determinar a meta da inflação. Para efetuar o contro-
le, o Banco Central dispõe dos seguintes mecanismos: controle
de reserva bancária (o recolhimento compulsório), a compra

34
MEIO SÉCULO DE TRADIÇÃO

e venda de títulos públicos (as operações de open market), as


operações compromissadas lastreadas em títulos públicos fe-
derais e o controle de taxas de juros (que são estabelecidas na
reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).
É a política monetária que determina a forma de manu-
tenção da taxa básica de juros – a Selic. E isso interfere direta-
mente nos investimentos e no poder de compra da população,
eis que a decisão afeta o valor da moeda, os preços de produ-
tos e serviços.
Já a política fiscal é o conjunto de medidas pelas quais o
Governo administra as suas receitas e despesas.
A política fiscal pode ser restritiva quando impõe a dimi-
nuição dos gastos públicos para buscar o equilíbrio do orça-
mento e pode prescindir do aumento de impostos para ampliar
a arrecadação. E quando faz o aumento da tributação, de uma
forma indireta promove a redução da circulação da moeda.
A política fiscal expansionista é marcada por uma pro-
moção do aumento dos gastos públicos como maneira de es-
timular a economia para recuperar o crescimento em curto
período, o que pode ser feito com medidas como estímulo à
exportação, diminuição da carga tributária para estimular o
consumo e o investimento, algumas medidas para valorizar a
produção nacional.
Como dito acima, a União Federal, diante do disposto no
art. 153, possui 4 tributos que o Poder Executivo poderá utili-
zar do instrumento poderosíssimo, que é a Extrafiscalidade.
Importante ressaltar que a Extrafiscalidade não é um
princípio constitucional, mas é um fortíssimo instrumento fi-
nanceiro que deve ser utilizado pelo Estado de forma seríssi-
ma e categórica com a finalidade de incentivar ou intimidar
determinadas condutas, tendo como objetivo não exatamente
a percepção de recursos para o Erário público, mas sim efe-
tuar correções em condutas.

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IBET - INSTITUTO BRASILEIRO DE ESTUDOS TRIBUTÁRIOS

E no caso específico dos impostos federais como o (i) Im-


posto de Importação, (ii) Imposto de Exportação, (iii) Imposto
Produtos Industrializados e (iv) Imposto sobre Operações de
Crédito, Câmbio e Segurou ou relativas a Títulos ou Valores Mo-
biliários o que se espera do Poder Executivo é que este exerça
condutas de correções relacionadas com os movimentos das re-
lações econômicas e sociais para incentivar ou coibir condutas.
Assim, toda e qualquer intervenção feita pelo Poder Exe-
cutivo, com o manejo das alíquotas dos tributos federais acima
indicados, necessariamente precisa ter como pano de fundo a
intervenção em dados das conjunturas sociais e de estrutura
da economia.
E, de volta aos ensinamentos de nosso mestre Paulo de
Barros Carvalho12, verifica-se que ele é categórico neste sen-
tido e esclarecem que a fiscalidade e a extrafiscalidade são
objetivos que o ente tributante deve ter, mas que por vezes,
um deve ser preponderante. Senão, vejamos:

“Há tributos que se prestam, admiravelmente, para a introdu-


ção de expedientes extrafiscais. Outros, no entanto, inclinam-se
mais ao setor da fiscalidade. Não existe, porém, entidade tributá-
ria que se possa dizer pura, no sentido de realizar tão-só a fisca-
lidade, ou, unicamente, a extrafiscalidade. Os dois objetivos con-
vivem, harmônicos, na mesma figura impositiva, sendo apenas
lícito verificar que, por vezes, um predomina sobre o outro.”

Assim, quando se diz que um tributo é extrafiscal, como


o caso do Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Se-
gurou ou relativas a Títulos ou Valores Mobiliários, então, se
quer significar que tal imposto deve ter o afastamento do intui-
to puro e simples da arrecadação, já que este tipo de tributo foi
criado com o objetivo de ser utilizado para a correção ou incen-
tivo de determinadas situações com finalidades econômicas ou
sociais. Portanto, não deve prevalecer o objetivo simplesmente
arrecadatório de levar dinheiro aos cofres públicos.

12. CARVALHO, Paulo de Barros. Direito Tributário, Linguagem e Método. São


Paulo: Noeses, 2008, pág. 241.

36
MEIO SÉCULO DE TRADIÇÃO

Embora seja inegável que os Impostos sobre Operações


de Crédito, Câmbio e Segurou ou relativas a Títulos ou Valo-
res Mobiliários sejam tributos que também arrecadem muito
dinheiro aos cofres da União Federal, não se pode esquecer
que a função demarcatória não é a fiscal, com vista apenas
arrecadatória, mas sim a extrafiscal.
Portanto, a magia da extrafiscalidade apenas e tão so-
mente pode ser utilizada para atender aos requisitos previs-
tos na lei e não podem ser utilizados ao bel-prazer do Poder
Executivo, em razão de nítida proibição legal.
Mas a dúvida ainda persiste: O Decreto nº 10.797/21 pode
ser considerado como resultado de uma regulação advinda da
política monetária e fiscal? O programa Auxílio Brasil pode
ser enquadrado dentre de algum estudo específico para o
equilíbrio objetivado pelas políticas monetária e fiscal?
Ao nosso ver o Decreto nº 10.797/21 falece de falta de mo-
tivação do ato administrativo para alteração das alíquotas do
IO-Crédito e, por esta razão deve ser considerado inconstitu-
cional. Diante de todo o cenário apresentado e a própria nota
do Ministério da Economia à Imprensa, realmente fica muito
dissonante que o Governo alegue qualquer motivo que indi-
que a necessidade de manipulação da política monetária para
aumentar as alíquotas do IO-Crédito.
Sergio André Rocha13, em recente artigo, também enten-
de que o Decreto nº 10.797/21 é inconstitucional em razão da
falta de motivação:

Se há uma inconstitucionalidade no Decreto nº 10.797/2021,


não é ter finalidade meramente arrecadatória, não é ter igno-
rado a legalidade e a anterioridade mesmo sem ter finalidade
extrafiscal identificável, mas sim falta de motivação deste ato
administrativo normativo, que simplesmente impede que se

13. _______, Sergio André. O aumento do IOF é inconstitucional? O Perfil Constitucional


do IOF e a possibilidade de alteração por decreto presidencial. Jota. Opinião & Análise.
Publicado em 22.09.21: Disponível em: https://www.jota.info/opiniao-e-analise/artigos/o-
-aumento-do-iof-e-inconstitucional-22092021. Acesso em 25 de novembro de 2021.

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IBET - INSTITUTO BRASILEIRO DE ESTUDOS TRIBUTÁRIOS

verifique se as condições e limites previstos no artigo 65 do CTN


e no § 2º do artigo 1º da Lei nº 8.894/1994 foram observados.
Este, segundo nos parece, é o único tema relacionado a este de-
bate que remete à Constituição Federal. No mais, teríamos uma
discussão sobre (i)legalidade. É importante que os Tribunais
sejam provocados para que possamos avançar nessa discussão.
(Grifos nosso)

Assim, resta claro que não foi por uma questão de regula-
ção das políticas monetária e fiscal que o Presidente Bolsona-
ro publicou o Decreto nº 10.797/21 para majorar as alíquotas
do IO-Crédito. Isso porque se o País ainda vive um cenário
marcado pela condução desastrosa da pandemia ainda per-
sistente, com a alta da inflação, com a indicação alarmante
de 15 milhões de desempregados, e a constatação diária de
aumento deste número. Sem dúvida o momento é de altíssima
necessidade de obtenção de crédito pelas pessoas jurídicas e
físicas para arcar com suas obrigações, como salário, aluguel,
tributos, alimentos e moradia em um cenário econômico há
muito tempo não visto no Brasil.
Qualquer leigo em questões de Economia chegaria à con-
clusão de que há um descasamento lógico deste aumento do
IO-Crédito perpetrado pelo Decreto nº 10.797/21 em razão do
cenário econômico em que as pessoas jurídicas e físicas se en-
contram, com claríssima necessidade de obtenção de crédito
e, encarecê-lo exatamente neste momento jamais poderia ser
considerado como uma medida real com vista à regulação da
política monetária.
Tão pouco nos parece que o aumento do IO-Crédito para
as pessoas jurídica e físicas tem qualquer indício de regulação
da política fiscal. Isso porque a própria equipe econômica do
Senhor Presidente sempre deixou muito claro que seu foco
nunca foi tratar dos mais desvalidos e ao longo da pandemia
deixou esta situação ainda muito mais clara.
Como dito anteriormente, a equipe Econômica do Presi-
dente Bolsonaro foi inclusive contra o teto do auxílio emer-
gencial aprovado pelo Congresso Nacional. E não podemos
38
MEIO SÉCULO DE TRADIÇÃO

alegar que houve qualquer mudança de postura do Governo


Bolsonaro que o fizesse revisar sua política fiscal para rever
os desvalidos e direcionar recursos para esta nobre necessida-
de. Não, não é isso.
O aumento do IOF tem um destino certo: aumentar a
popularidade do Senhor Bolsonaro que está despencando e
nada mais propício que dar uns trocos para uma camada da
população que eventualmente poderá esquecer que perdeu
seus familiares e amigos ou mesmo que tenha sofrido com a
Covid, por não ter recebido a vacinação em tempo, já que o
Senhor Bolsonaro preferiu usar de quase dois anos de pande-
mia para atacar a Ciência e o bom senso.

V. DAS CONCLUSÕES

Em nosso sentir, o Decreto 10.797/21 é inconstitucio-


nal, ilegal, ilógico e imoral e deve ser rechaçado pelo Poder
Judiciário.
É inconstitucional por ter ferido de forma tão evidente a
vedação expressa prevista no artigo 167, IV, da Constituição
Federal, que indica que os impostos não podem ter vinculação
de receita a despesa.
É ilegal por ter maculado o disposto no artigo 1º, parágra-
fo 2º, da Lei 8.894/94, que dispõe sobre o Imposto sobre Ope-
rações de Crédito, Câmbio e Seguro, ou relativas a Títulos e
Valores Mobiliários, pois tal dispositivo indica que claramente
que para alterar alíquotas o Poder Executivo deve ter em vista
os objetivos das políticas monetária e fiscal.
É ilógico, eis que no contexto em que foi publicado deveria
ocorrer exatamente o oposto, para propiciar a redução do im-
pacto na tomada de crédito, para propiciar o investimento pro-
dutivo, com vistas à geração de empregos e consumo sustentado.
É imoral, pois aumentou a carga tributária para os toma-
dores de crédito exatamente em um momento em que mais
precisam para arcar com suas obrigações.

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IBET - INSTITUTO BRASILEIRO DE ESTUDOS TRIBUTÁRIOS

Como dito, outros Governantes também utilizaram da


magia da Extrafiscalidade para aumentar as alíquotas do IOF,
à exemplo do Presidente Lula, que em uma canetada, após
ter sido derrotado no Congresso Nacional que não aprovou a
PEC para renovação do tempo da CPMF, reinstituiu a alíquo-
ta destinada a esta contribuição, que deveria ter sido conside-
rada extinta, mas que continua “disfarçada” no ordenamento,
eis que sua carga tributária foi agregada ao Imposto sobre
Operações de Crédito, Câmbio, Seguro e Títulos ou Valores
Mobiliários, com uma alíquota adicional de 0,38%, incrivel-
mente a mesma alíquota da CPMF.
Em 2008 foram ajuizadas duas ações perante o Supremo
Tribunal Federal, as ADINs 4002 e 4004, mas tristemente ape-
nas em 2018 o STF se manifestou e o Ministro Relator Ricardo
Lewandowski sequer avaliou o mérito, pois considerou perda
de objeto das ações, eis que as normas questionadas teriam
sofrido alterações.
Pensamos que deve haver uma insurgência maior com
este desvirtuamento dos tributos extrafiscais. Infelizmente a
comunidade jurídica propõe ações, mas é desolador o tipo de
resposta tão simplista, como a que o STF deu ao demorar tan-
to para analisar as Adins e justificar a não avaliação do mérito
em razão de perda do objeto. Isso precisa ser mudado, sob
pena de os Chefes do Poder Executivo do Brasil continuarem
achando que possuem o poder mágico da Extrafiscalidade.

REFERÊNCIAS

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Edição. São Paulo: Noeses, 2016.
BOTALLO, Eduardo Domingos. Lições de Direito Público.
São Paulo: Dialética, 2003.
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