Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1 Introdução
Acredita-se que a cultura organizacional é capaz de uma transformação enorme dentro de uma
empresa, fato, a empresa japonesa Toyota Motors Company consegue resultados
consideráveis através da sua cultura organizacional que é focada na melhoria contínua e na
autonomação (habilidade de detectar anomalias e interromper o processo, melhorando assim a
qualidade).
Porém nem tudo são glórias, muitas empresas que tentam implantar a cultura enxuta e não
conseguiram, mesmo com algum foco na cultura dentro da organização. Existem várias
causas para não ter dado certo, muitas delas nunca foram descobertas; para dar certo é
necessário engajamento de “todos” dentro da organização, desde o auxiliar de serviços gerais
ao gerente geral da empresa. Para otimizar esse processo de aprendizagem, o melhor caminho,
além de profissionais qualificados, é focar nos líderes da organização, responsáveis estes por
divulgar/difundir a essência Lean.
É neste contexto que se enquadra este trabalho, o qual será demonstrado um inicio de
mudança para muitas empresas que esbarram na implementação do Lean Manufacturing no
que diz respeito à cultura organizacional.
2 O líder
Para Sant’Anna (2008) o líder é um condutor, o guia, aquele que comanda. Ser líder é ter uma
visão global, uma relação entre o homem e seu ambiente de trabalho. É saber ensinar e
também aprender, sendo este ultimo de vital importância. A principal atividade de um gestor
ou líder é de conduzir pessoas, como o próprio nome indica, sabendo para isso lidar com elas
e conseguir os melhores resultados.
Fica claro que a diferença entre o sucesso e o fracasso começa com a liderança. Isso inicia no
topo, mas basicamente o processo é realizado no nível intermediário que dá apoio aos
funcionários que agregam valor. Em muitas organizações, esses “gerentes de nível médio” são
vistos apenas como uma necessidade para manter as coisas em ordem. As pessoas que
assumem esse posicionamento quase sempre os veem como “um passo acima na escada”, uma
necessidade temporária ou rito de passagem no caminho para oportunidades mais importantes
e lucrativas. Certamente, parece que as pessoas mais talentosas ou ambiciosas não tem
vontade de ficar “nas trincheiras”. Dado período inerentemente longo dos líderes
profundamente qualificados no Sistema Toyota de Produção, isso cria desafios (LIKER,
MEIER, 2007).
Figura 1 – Organograma Empresarial (LIKER, MEIER, 2007)
Aqui temos uma observação interessante a considerar. Na Toyota, o modo de agir ao passar ao
passar pelo processo de melhoria é definido pelo kata de melhoria, enquanto o assunto fica
em aberto e varia de acordo com o que se está a trabalhar. Até certo ponto, isso é o contrário
da forma como temos tentado imitar a Toyota até agora: definimos o assunto, as técnicas de
produção como o kanban ou o heijunka que seriam implementadas, mas deixamos o “como
agir” para que todos decidam por si mesmos (ROTHER, 2010).
Uma vez que você começa a trabalhar com o kata de melhoria num processo, isso não tem
fim. Se a condição-alvo for alcançada com alguma consistência um dia após o outro, pode ser
o momento de elaborar a próxima condição-alvo para esse processo. Sem uma condição-alvo
(desafio) a qual buscar, um processo tenderá a retroceder (ROTHER, 2010).
Este é o momento de fazer uma reflexão global, de resumir o que aprendido nesse ciclo
completo de kata de melhoria em preparação para o próximo. Enquanto você esta trabalhando
para alcançar a condição-alvo atual, geralmente você começa a enxergar os elementos que
consistiriam na próxima condição-alvo. Se não enxergar, então você provavelmente não está
se esforçando o bastante nos detalhes do processo (ROTHER, 2010).
Você pode não chegar a 100% de uma condição-alvo. Por exemplo, é improvável que um
processo de produção possa ser 100% estável. Nos processo de produção você pode atingir
um estado onde esteja apenas reagindo aos desvios e anomalias, em vez de ainda estar se
esforçando para alcançar uma condição-alvo desafiadora. Uma pergunta que me faço de vez
em quando: “Ainda estamos trabalhando sob um desafio aqui?” Se não estivermos, então
pode ser o momento de definir a próxima condição-alvo (ROTHER, 2010).
2.3 O kata de coaching
Segundo Rother (2010) uma questão que vem sendo discutida por muitos anos é: “quem deve
exercer as melhorias de processo?” Seguem três respostas comuns, embora problemáticas
para a pergunta.
a) Os operadores do processo? Uma das opiniões mais difundidas sobre a melhoria contínua
na Toyota é que ela é autodirigida, com as equipes de operadores de produção realizando
melhorias em seus próprios processos de forma autônoma. Alguns comentários típicos,
são:
“Os operadores estão mais próximos do processo e tem autonomia”.
“Como podemos fazer com que os nossos operadores de linha de produção solucionem
problemas?”.
“Como podemos fazer com que a melhoria contínua acontece por si mesma?”.
A autonomia do operador é um equivoco difundido e infeliz sobre a abordagem da Toyota.
Não é assim que os operadores e o aprimoramento são manipulados na Toyota. É injusto e
ineficaz pedir aos próprios operadores que produzam peças, lutem com problemas e
melhorem o processo, sendo esse o porquê da Toyota chamar os conceitos de
operador/equipe autônoma de “desrespeitoso para pessoas”. É fisicamente impossível os
operadores de produção trabalharem em carga máxima, no tempo de ciclo planejado, num
fluxo de produção 1x1 e realizar simultaneamente as melhorias do processo. Além disso,
muitos operadores estão apenas começando a desenvolver a sua compreensão do kata de
melhoria e as suas habilidades de resolução de problemas. Atualmente, não existem
equipes autônomas e autodirigidas na Toyota;
b) Deixar ao acaso? A quantidade de sistemas com lâmpadas de alerta, tipo as do andon, que
foram instalados nas fábricas nos últimos 20 anos, por exemplo, é impressionante. Ainda
assim, em muitas fábricas as lâmpadas vermelhas são acesas e ninguém responde. A
questão básica aqui é que se presumirmos que qualquer um (ou todos) é responsável,
então ninguém é responsável;
c) Uma equipe especial? Isso não vai funcionar se quisermos que a melhoria ocorra
diariamente em cada processo. Na Toyota, entre os funcionários da fábrica não existem
agentes específicos para melhoria contínua. O kata de melhoria faz parte de todos os
processos de trabalho e todas as pessoas são ensinadas a trabalhar aplicando o kata de
melhoria.
Então quem é responsável por realizar as melhorias?
O professor Shimizu (2004 - adaptado) em seu artigo publicou que a melhoria contínua nos
processos da Toyota acontece de duas maneiras:
Melhoria executada pelos próprios operadores de produção, por meio de círculos de
qualidade, sistemas de sugestões e iniciativas similares. Shimizu chama isso de “atividade
voluntária de melhoria”.
Melhoria executada pelos líderes de equipe, supervisores de produção e engenheiros, como
parte das suas funções profissionais.
A maior parte da melhoria no chão de fábrica numa instalação da Toyota é gerada pelos
líderes. Esses líderes de equipe, líderes de grupo, superintendentes e os vários níveis de
engenheiros de produção são as pessoas que aplicam e orientam a aplicação do kata de
melhoria nos processos de produção. Essa atividade de melhoria de processo representa bem
mais de 50% do seu tempo de trabalho, o que não é de surpreender, já que na Toyota o kata de
melhoria é realmente uma maneira de gerenciar (Os engenheiros de produção na Toyota são
responsáveis pela melhoria nas operações do chão de fábrica. Isso é diferente do significado
que as palavras “engenheiro industrial” têm para nós. A Toyota também possui o que ela
chama de “engenheiros de produção”, que, da mesma forma que os engenheiros industriais
em nossas fábricas, são responsáveis pelo desenvolvimento de ferramentas, processos
máquinas e equipamento) (ROTHER, 2010).
O mapeamento do fluxo de valor – VSM (Value Stream Map) é uma ferramenta que utiliza
papel e lápis e o ajuda a enxergar e entender o fluxo de material e de informação na medida
em que o produto segue o fluxo de valor. O que queremos dizer por mapeamento do fluxo de
valor é simples: siga a trilha da produção de um produto, desde o consumidor até o fornecedor
(de trás para frente), e cuidadosamente desenhe uma representação visual de cada processo no
fluxo de material e informação. Então formule um conjunto de questões chave e desenha um
mapa do “estado futuro” (figura 5) de como o valor deveria fluir (ROTHER, SHOOK, 2003).
Figura 5 – Etapas do mapeamento do fluxo de valor (ROTHER, SHOOK, 2003)
Na figura 6 temos um exemplo e estado atual de uma fábrica de peças para automóveis
denominada Estamparia ABC, nota-se que temos os dados de todos os processos como
estoques, tempos de ciclos, takt time, lead time, número de operadores, frequência de pedidos,
etc. e que serão úteis na criação de um estado futuro.
Segundo Valle (2009) na figura acima, estado atual da podemos ver problemas fundamentais
como a produção em massa – cada processo é uma ilha isolada, os defeitos ficam encobertos
até que o processo seguinte use, o tempo que agrega valor é pequeno mas apresenta um longo
lead time.
Para chegarmos ao estado futuro deste mapa, devemos seguir alguns procedimentos citados
por Valle (2009):
Procedimento um: produza de acordo com o tempo takt (figura 7) (o tempo takt ou takt
time é a frequência com que você deve produzir uma peça para atender a demanda do
cliente (o ritmo das vendas)).
Produzir de acordo com o takt time pode parecer fácil mas requer: fornecer resposta rápida,
dentro do takt, para problemas; eliminar as causas não planejadas de paradas de máquinas;
eliminar tempos de troca de processos tipo fluxo abaixo como processo de montagem.
Qual é um bom tempo takt? A princípio ele está regulado pela demanda, mas também
podem ser exigidas mudanças nas configurações dos pedidos ou dos produtos para atender
os seguintes valores: menor que 10 segundos (trabalho altamente repetitivo) e maior que
120 segundos (trabalho com dificuldades para ser padronizados);
Procedimento dois: desenvolver fluxo contínuo aonde for possível – fluxo contínuo
significa uma peça de cada vez, com cada item sendo passado imediatamente de um
estágio para outro, sem paradas – uma boa abordagem pode estar em iniciar com a
combinação de um fluxo contínuo e um pouco de FIFO e sistema puxado. Depois ampliar
o fluxo contínuo.
Procedimento três: use um supermercado para controlar a produção onde o fluxo contínuo
não se estende aos processos de fluxo acima. Há pontos no fluxo onde fabricar em fluxo
contínuo não é possível e fabricar em lotes é necessário: (1) ciclos muito rápidos ou lentos,
(2) processos distantes com transporte longo (ou indo para fornecedores), (3) processos
com lead time elevados ou pouco confiáveis.
Em alguns casos o processo puxado por supermercado é substituído pelo FIFO para manter
o fluxo entre dois processos. Além de ser mais rígido na sequencia ele atende uma
quantidade limitada pela capacidade do processo posterior. Se o FIFO encher o processo
fornecedor deve parar de produzir;
Procedimento quatro: tente enviar a programação de um cliente para um único processo de
manufatura. Processo puxador: maneira como se controla a produção neste processo define
o ritmo para todos os processos anteriores. No mapa de estado futuro o puxador é o
processo de produção que é controlado pelos pedidos dos clientes externos. Com o produto
sob encomenda, o ponto de programação geralmente precisam estar mais próximos dos
processos iniciais. Portanto na linha FIFO o processo puxador é o processo fornecedor;