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J. Health Inform.

2020 Outubro-Dezembro 12(4): I

EDITORIAL
A Estratégia da Saúde Digital para o Brasil

Juliana P. Souza-Zinader
Coordenadora-Geral de Inovação em Sistemas Digitais do DATASUS/MS
Responsável pelo Programa Conecte SUS e pela Estratégia de Saúde Digital para o Brasil 2020-2028
Professora Doutora do Instituto de Informática da Universidade Federal de Goiás, cedida ao Ministério da Saúde

A Informática em Saúde, as áreas correlatas e, por extensão, a própria Sociedade Brasileira de Informática
em Saúde (SBIS) passam por um ponto de inflexão relevante. O enorme avanço da tecnologia digital, a
consequente redução de custos e a popularização do uso de telefones celulares inteligentes trouxeram, e
ainda trazem, uma transformação profunda para a Saúde, seja na pesquisa e desenvolvimento, no ensino
ou na nossa atividade profissional. Algumas mudanças são óbvias e frequentemente associadas à adoção
da tecnologia móvel e aos processos de atenção, como a Telessaúde. O uso de aplicações baseadas em
tecnologias de alto desempenho como Inteligência Artificial, aprendizado de máquina, Internet das Coisas,
Analytics e Big Data, por exemplo, tem sido viabilizado pelo avanço digital. Da mesma forma, a concepção
e a implementação de aplicativos, em co-criação com o usuário dos serviços de saúde e o profissional de
saúde, só se tornaram viáveis porque a tecnologia atual permite que sejam implementadas. Em suma, a
qualidade das interfaces e da usabilidade de aplicativos e sistemas é visível e transformadora.
Persiste, no entanto, a questão central da falta de integração conceitual e de interoperabilidade entre
aplicativos. Grandes e pequenas organizações de saúde orientam o uso da tecnologia digital para atender
as suas necessidades e as dos seus parceiros e clientes, incluindo-se, aqui, os seus usuários e seus profissionais
de saúde, com pouca atenção para as necessidades da Saúde como um todo. Usuários e pacientes trafegam
por serviços de saúde públicos e privados, porém continua havendo a fragmentação da informação de
saúde e, portanto, dos processos de atenção.
A necessidade de estratégias nacionais para a tecnologia da informação em saúde já se encontra bem
estabelecida em todo o mundo, inclusive no Brasil, que publicou sua Visão para a e-Saúde em 2017.
Recentemente, a Organização Mundial de Saúde (OMS) entendeu a necessidade de extensão do conceito
de e-Saúde para Saúde Digital, acompanhando o avanço tecnológico e ampliando a sua abrangência para
incluir e-Saúde, Telessaúde em todas as suas formas e, também, mHealth ou saúde Móvel. A Assembleia
Geral de Países-Membros da OMS reconheceu, também, a necessidade de uma Estratégia Global de Saúde
Digital que, através, de ampla colaboração entre países e organizações públicas e privadas, contribua para
viabilizar serviços de saúde de qualidade para todos, em todos os lugares.
De forma semelhante, o Brasil, liderado pelo Departamento de Informática do SUS (DATASUS) da
Secretaria Executiva do Ministério da Saúde, vem desenvolvendo conceitos e práticas voltados para a
Estratégia de Saúde Digital, com a ampla participação do Conselho Nacional de Secretários de Saúde
(CONASS) e do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS), e com a contribuição
de especialistas, como a própria SBIS. Tal esforço propiciou a aprovação do documento da “Estratégia de
Saúde Digital para o Brasil 2020-2028 (ESD28)” pelo Comitê Gestor da Estratégia de Saúde Digital
(CGESD), a pactuação na Comissão Intergestores Tripartite (CIT) e, consequentemente, a publicação. A
ESD28 está alinhada à nova Política Nacional de Informação e Informática em Saúde (PNIIS), expande e
atualiza a Visão declarada no documento de 2017, incluindo ainda, um Plano de Ação, voltado para
atender sete prioridades e um Plano de Monitoramento e Avaliação de Saúde Digital, todos com foco em
2028.
O centro da Estratégia de Saúde Digital é o usuário dos serviços de saúde e, em especial, a informação,
os serviços e o apoio aos processos de trabalho para melhor atendê-lo, tanto do ponto de vista individual
como coletivo, otimizando o uso dos recursos da saúde. A Visão de Saúde Digital para 2028 é expressa
como: “Até 2028, a Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS) estará estabelecida e reconhecida como a plataforma
digital de inovação, informação e serviços de saúde para todo o Brasil, em benefício de usuários, cidadãos, pacientes,
comunidades, gestores, profissionais e organizações de saúde”.
Além de fortalecer as iniciativas de Saúde Digital do SUS, tanto do ponto de vista da informatização
dos Estabelecimentos de Saúde quanto da qualidade dos dados e serviços, a ESD28 tem como um dos

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seus eixos, promover a construção de um Espaço de Colaboração entre todos os atores da Saúde pública e
privada para que se possa promover a inovação, fortalecer a RNDS e, assim, alcançar a visão esperada.
A recente pandemia de Covid-19 demonstrou claramente, e em todo mundo, a inerente necessidade de
coordenação e organização de esforços e, sobretudo, de acesso à informação oportuna, precisa e relevante
para a tomada de decisão rápida e segura em Saúde. Novas pandemias poderão surgir e, em um mundo
globalizado, com impactos potencialmente avassaladores. Temos que estar melhor preparados. A iniciativa
da Estratégia Global de Saúde Digital da OMS e a Estratégia de Saúde Digital para o Brasil são instrumentos
orientadores para todos nós.
A Estratégia de Saúde Digital para o Brasil abre uma grande oportunidade para que a SBIS, entre outras
sociedades, conselhos de classe, universidades, instituições públicas e privadas ampliem a sua presença e a
sua relevância no cenário nacional. A SBIS, em particular, pelos seus quase 35 anos de imparcialidade,
conhecimento, consistência e capacidade de mobilização, deve se posicionar como articuladora e facilitadora
dos esforços de colaboração para que a RNDS seja a plataforma nacional de inovação, informação e serviços
de Saúde Digital, contribuindo para melhorar a qualidade e o acesso aos serviços de saúde para todos.

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