Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
PARA A ENFERMAGEM
Pollyanna Pellegrino
Professora do Curso de Enfermagem
Unaerp-Universidade de Ribeirão Preto – Campus Guarujá
pollyanna.pellegrino@gmail.com
1. Introdução
O termo estresse corresponde a um desgaste do organismo que pode causar
alterações psicofisiológicas, tais variações ocorrem quando o ser humano enfrenta
situações que geram medo, tensão ou irritação (MENEGHINI; PAZ; LAUTERT,
2011).
Em 1995, o estresse foi considerado uma epidemia global pela Organização
Mundial de saúde (OMS). O ser humano pode enfrentar diferentes situações de
estresse que surgem ao longo da vida (FRANÇA; FERRARI, 2012).
1
Considera-se estresse laboral o estresse resultante das experiências vividas
no ambiente de trabalho, que por sua vez interfere na qualidade de vida do
indivíduo. O trabalho é a principal fonte de bens e renda do ser humano e deve ser
exercido de forma agradável e prazerosa. O constante avanço no mercado de
trabalho tem exigido que o profissional se mantenha atualizado, muitas vezes a
pressão causada durante esse processo faz com que o indivíduo entre em um
estado de constante preocupação e ansiedade, caracterizando o estresse (ULHOA
et al., 2011).
A incidência do estresse laboral tem sido motivo de pesquisa nos últimos
anos devido às altas taxas de absenteísmo, incapacidade temporária,
aposentadorias precoces e risco à saúde associados ao mesmo (MORENO et al.,
2011).
Uma das consequências mais conhecidas do estresse ocupacional é a
síndrome do esgotamento profissional ou síndrome de burnout, considerada como
doença do trabalho pela Lei n° 3048/99, da Previdência Social, sendo que o
Ministério da Saúde preconiza o tratamento através do acompanhamento
psicoterápico e farmacológico e intervenções psicossociais (MORENO et al., 2011).
A síndrome de burnout é identificada como um conjunto de manifestações
físicas e emocionais geradas pela resposta ineficaz do indivíduo ao estresse no
ambiente de trabalho. Os profissionais que se dedicam ao cuidado alheio são mais
vulneráveis a esta síndrome. O termo burn significa queima e out significa exterior,
sugerindo que a pessoa se consome física e emocionalmente (CUNHA; SOUZA;
MELLO, 2012).
Não há um conceito único para a síndrome de burnout, no entanto, a
definição mais aceita concebe a síndrome de burnout como uma reação à
tensão emocional crônica do indivíduo, por lidar excessivamente com
pessoas. É um conceito formado por três dimensões relacionadas, mas
independentes: exaustão emocional, despersonalização e diminuição da
realização profissional (MORENO et al., 2011, p. 141).
2
Por ser considerada uma profissão desgastante, a enfermagem tem recebido
uma atenção maior dos pesquisadores, isso se deve ao fato de estar diariamente em
contato com doenças e exposta a riscos biológicos, químicos, físicos e psíquicos
(HANZELMANN; PASSOS, 2010).
Devido à vasta gama de atividades atribuídas à enfermagem, ao cuidado
direto com o paciente desde seu nascimento até a morte, ao vínculo criado durante
o processo terapêutico, bem como o acompanhamento dos anseios, medos e
complicações vivenciados pelo paciente, a equipe de enfermagem está propícia à
sobrecarga de trabalho e instabilidade emocional (CUNHA; SOUZA; MELLO, 2012).
Escassez de pessoal, sobrecarga de trabalho, trabalho noturno, a vivência
com usuários problemáticos, a falta de plano de cargos e salários, o sentimento de
injustiça nas relações laborais e os conflitos com colegas e/ou instituição também
são fatores que geram estresse no ambiente laboral (GALINDO et al., 2012).
A diminuição da incidência de burnout pode ocorrer através da habilidade
para administrar as situações estressoras do cotidiano, para isso, o profissional pode
fazer uso de estratégias, que pode ser definida como uma resposta comportamental
que o indivíduo emite para se adaptar de melhor forma diante do evento estressor
(GALINDO et al., 2012).
É necessário que o profissional desenvolva estratégias de enfrentamento
visando diminuir a sobrecarga de trabalho, o desgaste físico e emocional, a
insatisfação pessoal, e promover assim, uma melhor qualidade de vida, dentro e fora
do ambiente terapêutico (MORENO et al., 2011).
Devido ao trabalho exercido diariamente, os profissionais de enfermagem
possuem alto risco de desenvolver Síndrome de Burnout. Sendo assim, decidiu-se
realizar esta pesquisa para verificarmos na literatura quais são os fatores no
ambiente de trabalho que favorecem surgimento da síndrome de Burnout e como
podemos prevenir a esta síndrome em profissionais de enfermagem.
Segundo Cunha, Souza e Mello (2012), a síndrome de burnout acomete
profissionais que se dedicam a cuidar das necessidades de outras pessoas. Diante
do exposto, justifica-se esse estudo pela necessidade de adquirir estratégias para
prevenir o desenvolvimento da síndrome nos profissionais de enfermagem.
O objetivo geral dessa pesquisa foi realizar um levantamento bibliográfico
referente à presença da síndrome de burnout nos profissionais de enfermagem.
Os objetivos específicos foram discorrer sobre os principais fatores no
ambiente de trabalho que favorecem o surgimento da síndrome de burnout em
profissionais de enfermagem e realizar um levantamento bibliográfico sobre as
estratégias que podem ser utilizadas para a prevenção da síndrome de burnout.
2. Metodologia
Trata-se de uma pesquisa descritiva através de uma revisão bibliográfica,tendo
por base de dados a Biblioteca Virtual em Saúde (BVS).
Na pesquisa, foram acessadas as bases de dados no período de Abril à
Setembro de 2015. Nas bases de dados foram utilizados os descritores:
3
Esgotamento profissional, Saúde do trabalhador, Enfermagem do trabalho e Burnout
com operadores boleanos AND.
Para realização da seleção dos artigos científicos foram utilizados os filtros ano
de publicação 2010 a 2014, idioma português, artigos completos, limite adultos.
Após este levantamento e leitura dos resumos, procedeu-se a seleção dos artigos a
serem analisados.
3. Resultados
Estresse dos profissionais MONTE et al. 2013 Acta Paulista de LILACS NÃO
enfermeiros que atuam na Enfermagem/ Vo. 26/
4
unidade de terapia intensiva. Páginas 421-427
Caracterização dos sintomas FARIAS et al. 2011 Revista da escola de BDENF SIM
físicos de estresse na equipe enfermagem da USP/
de pronto atendimento Vo. 45/ Páginas 722-729
Estresse, coping e estado de GUIDO et al. 2011 Revista da escola de LILACS NÃO
saúde entre enfermeiros enfermagem da USP/
hospitalares Vo. 45/ Páginas 1434-
1439
Estresse ocupacional dos ULHOA et al. 2011 REGE/ Vo. 18/ Páginas LILACS SIM
trabalhadores de um Hospital 409-426
Público de Belo Horizonte: um
estudo de caso nos centros de
Terapia Intensiva
Assédio moral no trabalho e GARBIN e 2012 Rev. Saúde Pública/ Vo. LILACS SIM
suas representações na mídia FISHER 46/ Páginas 417-424
jornalística.
5
TÍTULO AUTOR ANO REVISTA/VOLUME/ BASE DE UTILIZADO?
DADOS
PÁGINAS
Síndrome de Burnout: Impacto NEVES, 2014 Revista PSICO/ Vo. 45/ INDEX SIM
da satisfação no trabalho e da OLIVEIRA e Páginas 45-54 PSI
percepção de suporte ALVES.
organizacional
Síndrome de burnout entre GALINDO et al. 2012 Revista da escola de LILACS SIM
enfermeiros de um hospital enfermagem da USP/ Vo
geral da cidade de Recife 46/ Páginas 420-427.
Imagens e representações da HANZELMANN 2010 Rev. esc. enferm. USP / LILACS SIM
enfermagem acerca do strees e PASSOS Vo. 3/ Páginas 694-701
e sua influência da atividade
laboral.
Burnout em residentes de FRANCO et al. 2011 Rev. esc. enferm. USP/ BDENF SIM
enfermagem. Vo. 1/ Páginas .12-18
Qualidade de vida no trabalho: RAMOS et al. 2014 Revista de pesquisa: BDENF SIM
repercussões para a saúde do Cuidado é fundamental
trabalhador de enfermagem online/ Vo. 6/ Páginas
em terapia intensiva 571-583
6
Síndrome de burnout e os FRANÇA e 2012 Acta Paul. Enferm/ Vo. LILACS SIM
aspectos sócio-demográficos FERRARI. 25/ Páginas 743-748
em profissionais de
enfermagem.
Condições de trabalho da MAURO et al. 2010 Anna Nery Rev. de LILACS SIM
enfermagem nas enfermarias Enferm./ Vo. 1/ Páginas
de um hospital uniiversitário. 13-18
Fim do quadro
Fonte: As autoras.
4. Discussão
4.1 Síndrome de Burnout e enfermagem
Segundo Versa et al. (2012), o estresse é considerado um dos principais
problemas de saúde no mundo atual, chegando a acometer aproximadamente 90%
da população. O termo estresse ocupacional é utilizado quando o estresse influencia
negativamente a vida profissional das pessoas.
Algumas profissões são mais suscetíveis ao estresse e desgaste emocional
devido ao tipo de atividade exercida diariamente, geralmente são ocupações que
exigem intenso contato interpessoal, como por exemplo, a enfermagem, medicina e
docência (FERNANDES et al., 2012).
A Síndrome de Burnout é considerada o estágio mais avançado do estresse
ocupacional. O excessivo desgaste de energia e de recursos são os fatores que
podem desencadear a síndrome (OLIVEIRA; COSTA; SANTOS, 2013).
Trindade e Lautert (2010) reforçam que a Síndrome de Burnout caracteriza-
se por um desgaste tanto físico quanto emocional do trabalhador, decorrente da falta
de recursos para enfrentar situações de estresse no ambiente laboral.
A síndrome de Burnout compreende três dimensões: Desgaste ou exaustão
emocional, é a fase inicial, onde o individuo sofre uma sobrecarga emocional, um
desgaste tanto físico quanto mental, sensação de esgotamento de energia para
realização das atividades diárias; despersonalização ou desumanização
caracterizado por uma mudança de comportamento, o indivíduo trata clientes e
colegas de trabalho com indiferença; sentimento de incompetência ou falta de
realização profissional caracterizado pela baixa-auto estima, frustração, sensação de
fracasso e baixa produtividade (TRINDADE; LAUTERT, 2010; FRANCO et al.,2011).
Para Oliveira, Costa e Santos (2013), a enfermagem está entre as profissões
que mais tem desenvolvido Burnout, e isso deve a falta de reconhecimento
profissional, sobrecarga de trabalho e sentimento de impotência por lidar
constantemente com a morte.
7
4.2 Fatores que desencadeiam a Síndrome de Burnout
O dever de cuidar do outro faz com que a enfermagem seja uma profissão de
grande responsabilidade, muitas vezes o profissional se preocupa muito com o
cliente e acaba esquecendo-se de cuidar de si mesmo, a dificuldade na articulação
desses dois eixos pode se tornar um fator de estresse (VALENÇA et al.,2013).
Neves, Oliveira e Alves (2014) ressaltam que a síndrome não é um problema
apenas do individuo, a estrutura do ambiente laboral vai determinar o modo em que
o trabalhador exerce sua função, quando o funcionário recebe grandes exigências,
porém os recursos disponíveis são insuficientes para realizar a tarefa, aumenta a
possibilidade de frustração e consequentemente, ocorrência do Burnout.
Segundo Oliveira, Costa e Santos (2013), o setor de trabalho também
interfere no desencadeamento ou não da síndrome, setores fechados como Unidade
de Terapia Intensiva, Centro Cirúrgico e Emergência onde há ritmo de trabalho
intenso e sobrecarga de trabalho são alvos maiores de pesquisa por suas
peculiaridades.
Os fatores que causam a Síndrome de Burnout estão interligados, são
gerados por conflitos organizacionais, como por exemplo, condições de trabalho
inadequadas, sobrecarga de trabalho, número reduzido de funcionários, dupla
jornada de trabalho, trabalho por turno e/ou noturno, falta de autonomia, conflitos
interpessoais, salário insatisfatório, falta de reconhecimento profissional, e também
por fatores característicos da profissão, como por exemplo, relação com o paciente e
seus familiares, contato com a dor, enfermidade e morte (CUNHA; SOUSA; MELLO,
2012; GALINDO et al., 2012; OLIVEIRA; COSTA; SANTOS, 2013).
Muitos enfermeiros optam por terem mais de um vínculo empregatício devido
à baixa remuneração, tal fator gera alterações no padrão de sono e concentração, o
que pode também ser um fator de estresse (OLIVEIRA, COSTA e SANTOS, 2013).
Outro fator causador de estresse e sofrimento é a violência praticada no
trabalho, que pode ser entendida como situações repetitivas que denigrem a
imagem do trabalhador e causam constrangimento. Muitos profissionais que são
vítimas de assédio moral no trabalho sentem-se intimidados para denunciar tal fato,
pois na maioria das vezes, a agressão acontece por parte de um superior (GABIN;
FISCHER, 2012).
Trindade e Lautert (2010) reforçam que a inexperiência profissional também é
um fator importante para desencadear o Burnout, visto que no inicio da vida
profissional o individuo tem a necessidade de aceitação na equipe, dificuldade de
realizar tarefas e instabilidade no emprego. Franco et al. (2011) também partilham
dessa idéia, destacando que a falta de experiência profissional é um dos fatores do
surgimento da síndrome em residentes de enfermagem.
8
relacionados ao bom desempenho profissional, isso só é possível quando o trabalho
proporciona condições para o funcionário desenvolver suas atividades sociais.
A Síndrome de Burnout causa sintomas físicos e mentais, tais como, cefaléia,
mialgia, fadiga, dores no estomago, taquicardia, dificuldade para dormir, diminuição
do interesse sexual, redução do apetite, ansiedade, irritabilidade, depressão,
diminuição da concentração, raiva, confusão, perda do senso de humor, também
podendo interferir na vida familiar e social (FARIAS et al., 2011; GALINDO et al.,
2012; RAMOS et al., 2014).
Além disso, o ambiente de trabalho também é afetado por absenteísmo, alta
rotatividade de emprego, baixa produtividade e condutas violentas, na tentativa de
aliviar o estresse, o profissional acaba adotando uma postura que agressiva com a
equipe e pacientes (GALINDO et al., 2012).
A qualidade da assistência também é afetada, já que o trabalhador fica
impaciente e não tem tempo de repor sua energia, sendo assim, a Síndrome de
Burnout gera riscos não só para o profissional de enfermagem, mas também para o
cliente que necessita de seus cuidados (RAMOS et al., 2014).
As consequências psicológicas do Burnout e a insatisfação no trabalho
também estão relacionadas aos índices de absenteísmo e abandono da profissão
(MACHADO et al., 2012).
9
diminuição de riscos, visto que o apoio profissional também é considerado um fator
de enfrentamento para o estresse.
Moreno et al. (2011), corrobora com a ideia de que se deve investir na
educação permanente, e relacionam os riscos psicossociais do trabalho com a falta
de preparo ou treinamento.
As ações para prevenção da síndrome de burnout devem ser educativas e
terapêuticas, e devem contemplar tanto o individual como o coletivo (TRINDADE;
LAUTERT, 2010).
Dentre as estratégias educativas e terapêuticas, podem-se citar reuniões de
equipe que possibilitem uma discussão do problema, palestras que informem aos
profissionais os riscos das atividades exercidas diariamente e também a
identificação das manifestações da síndrome e uma atuação mais efetiva do serviço
de saúde do trabalhador. Tais ações servem para otimizar as relações interpessoais,
possibilitar a troca de experiências e .redução dos anseios (MORENO et al., 2011).
Ressalta-se ainda a importância do acompanhamento médico e de um
profissional especializado em saúde mental para que haja uma possibilidade de
escuta dos problemas e anseios dos trabalhadores na tentativa de diminuir os
fatores que geram estresse (ROSSI; SANTOS; PASSOS, 2010; LIMA et al., 2013).
5. Conclusão
Diante do que foi exposto, fica evidente que o enfermeiro, pela função que
exerce, necessita de uma atenção maior por parte da instituição de trabalho. As
situações vivenciadas em seu dia-a-dia podem desencadear a Síndrome de Burnout.
O ambiente laboral interfere diretamente na saúde do profissional de
enfermagem, sendo assim, cabe a instituição oferecer condições favoráveis de
trabalho, com recursos humanos que sejam suficientes para atender a demanda,
diminuindo tanto o desgaste físico quanto mental.
Também é necessário que seja disponibilizado cursos de capacitação, visto
que a falta de conhecimento para realizar as atividades torna-se um fator de
estresse na vida do enfermeiro.
A criação de estratégias que promovam a saúde mental do trabalhador e
previna agravos á saúde é uma importante ferramenta para que o enfermeiro possa
realizar suas tarefas de maneira agradável e satisfatória, melhorando assim, a
qualidade da assistência prestada.
O trabalho não deve ser um fardo pesado, mas uma atividade que
proporcione satisfação e realização pessoal, portanto para se prevenir a Síndrome
de Burnout devem-se adotar ações que valorize o profissional e lhe permita
expressar a sua opinião sobre o ambiente de trabalho em que ele está inserido.
6. Referências bibliográficas
CUNHA, A.P.; SOUZA, E.M.; MELLO, R. Os fatores intrínsecos ao ambiente de
trabalho como contribuintes da síndrome de burnout em profissionais de
10
enfermagem. Revista de Pesquisa: Cuidado é Fundamental Online, v.1, n.1,
p.29-32, 2012. Disponível em: <http://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/bde-
22377>. Acesso em: 28 jul. 2015.
11
MACHADO, D.A. et al. O esgotamento dos profissionais de enfermagem: uma
revisão integrativa sobre a síndrome de burnout em UTI. Rev. Pesq.: Cuid.
Fundam. Online, v.4, n. 4, p. 2765-2775, 2012. Disponível em:
http://www.seer.unirio.br/index.php/cuidadofundamental/article/view/1605/pdf_615.
Acesso em: 20 de Out. de 2015.
12
2010. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0080-
62342010000200005. Acesso em: 15 set. 2015.
13