Você está na página 1de 4

1.

Distinguir juízos a priori de juízos a posteriori; analíticos de sintéticos;


necessários de contingentes.
Para compreender o que separa racionalismo de empirismo, temos de nos apoiar em
instrumentos conceptuais e ter presentes quatro distinções que acompanham a disputa: a priori
vs. a posteriori, analítico vs. sintético, necessário vs. contingente.

- O conhecimento a priori é independente da experiência, não precisamos de recorrer à


observação ou experiência para estabelecer a verdade (exemplo: 3+3=6), o conhecimento a
posteriori é dependente da experiência, é necessário recorrer a uma observação ou experiência
para estabelecer a verdade (exemplo: existem elefantes em Lisboa).

-Uma proposição analítica é aquela em que o predicado está contido no conceito do sujeito, a
verdade de uma afirmação é evidente apenas e só em virtude da compreensão do sentido e da
relação dos termos envolvidos (os triângulos têm três ângulos; os vivos não estão mortos), uma
afirmação sintética é aquela em que predicado não está contido no sujeito, este acrescenta algo
novo (os gatos são animais de companhia, as ervilhas são verd es).

-Uma verdade necessária tem de ser verdadeira em quaisquer circunstâncias ou em todos os


mundos possíveis, baseia-se no princípio da não contradição (ex: se os felinos são carnívoros e os
gatos são felinos, então os gatos são carnívoros); uma verdade contingente é verdadeira, tal
como as coisas são num dado lugar ou tempo, mas poderia não o ser numa outra circunstância (os
dias de invernos são frios).

2. Explicar as diferentes característica s atribuídas à dúvida na filosofia de


Descartes.

Descartes institui a dúvida como método e como instrumento de trabalho na busca das verdades
indubitáveis. O objetivo de alcançar a verdade começa a cumprir-se a partir do momento em que se
duvida de tudo aquilo em que se encontra a mínima suspeita. Neste sentido, Descartes usa a
dúvida como um meio para atingir a verdade. Assim, a dúvida é metódica, pois é a ferramenta que
permite evitar e prevenir de cair no erro; a dúvida é também provisória, porque Descartes duvida
com o objetivo de reconstruir o edifício do saber, ou seja, chegar à primeira verdade (cogito). A
dúvida é universal, uma vez que, Descartes coloca todos os saberes sob o domínio da dúvida
incluindo, as ciências da matemática; é hiperbólica e radical, uma vez que a dúvida é exagerada
no sentido de ser aplicada a todos os saberes, pondo a hipótese do génio maligno e duvidando da
sua própria existência, e até sobre as questões metafísicas e por isso, é voluntária e metafísica.

3. Referir os diferentes níveis da aplicação da dúvida até ao cogito (1ª princípio


verdadeiro).

Descartes aplicou o método da dúvida para chegar ao primeiro princípio, à primeira verdade.

1º Rejeita a informação com base nos sentidos, pois eles são enganadores.

2º Rejeita o conhecimento racional, porque muitas vezes nos enganamos ao raciocinar. (génio
maligno)

3º Rejeita tudo que até aí havia entrado na sua mente, porque muitas vezes o sonho se confunde
com a vigília.

4. Explicitar a função do argumento do génio maligno.


O Génio Maligno foi uma metáfora utilizada por Descartes para evidenciar que nenhum
pensamento por si mesmo traz garantias de corresponder a algo no mundo, ou seja, nem tudo o
que pensamos é verdadeiro. No seu discurso, Descartes diz que o Génio Maligno é um ser que se
coloca no nosso pensamento, e nos faz crer em pensamentos aparentemente evidentes e
verdadeiros, porém falsos que não passavam de meras ilusões (raciocínios matemáticos).
Concluindo, Descartes mostrou que o próprio ser humano é falível e que é necessário um cuidado
rigoroso e detalhado na examinação dos nossos próprios pensamentos, para evitar sermos
enganados pelo tal Génio Maligno.
5. Caracterizar o Cogito (eu pensante): “Penso, logo existo” (Cogito, ergo sum) e
mostrar a sua importância na construção do conhecimento verdadeiro.
O cogito é a primeira verdade que aparece ao espírito com o carácter de indubitável. Descartes
escolhe-o como primeiro principio para a construção de um conhecimento seguro e como critério de
todo o conhecimento verdadeiro. O “penso, logo existo” é uma verdade clara e distinta e
absolutamente a priori pois é um conhecimento independente da experiência sensível.
Com o cogito, Descartes conclui que, mesmo que o tal génio maligno o quisesse enganar, ele não
o conseguia por a duvidar da sua existência, estabelecendo-se assim o pilar central do
conhecimento, o ponto de partida para todo o conhecimento verdadeiro.

6. Caracterizar os três tipos de ideias, segundo Descarte s.


As ideias que cada indivíduo possui são, segundo Descartes, de três tipos: adventícias, factícias e
inatas. As ideias são o que está na mente de qualquer ser pensante, deste modo as ideias
adventícias são aquelas que nos chegam a partir dos sentidos, que surgem do mundo exterior,
através da experiência, como por exemplo: sinto calor. As factícias que são provenientes da
imaginação, são ilusórias ou quiméricas, como por exemplo a existência de sereias o u bruxas. Por
fim, as inatas que nascem connosco e que não são produto da experiência, por exemplo o "cogito".
Estas são verdadeiras e perfeitas sendo a origem do conhecimento.

7. Reconhecer o papel de Deus no sistema cartesiano.


A duvida permitiu a Descartes afirmar, por intuição intelectual, a existência do cogito, isto é, a sua
existência enquanto ser pensante. Todavia, Descartes também pretendeu afirmar a existência do
mundo e das leis da natureza, se, como vimos, os sentidos são enganadores, a pro va da
existência do mundo tem de ser também ela de outra natureza: tem de ter origem em ideias
claras e distintas, ou seja, a razão. Descartes sabe que muitas vezes se engana e que, por isso,
não é um ser perfeito Porém, a afirmação da sua imperfeição traz subjacente a ideia de perfeição:
para saber que é imperfeito tem de ter em si a ideia de perfeição. Por conseguinte, a ideia de
perfeição só pode ter sido colocada nele por um ser perfeito: Deus.

8. Explicar as provas/argumentos da existência de Deus, segundo Descartes.


Se Deus existe e é perfeito, não o pode querer enganar (pois a bondade é uma
característica da perfeição), o que garante a verdade das ideias claras e distintas. Com
Deus como garantia, Descartes pode deduzir outras verdades -a existência do mundo, por
exemplo- e construir o conhecimento verdadeiro, pois se é certo que o nosso
conhecimento provém da razão, a garantia da verdade desse conhecimento é dada por
Deus. Deus, garante que tudo o que é claro e distinto é verdadeiro. Para garantir este
critério existem alguns argumentos:
-argumento de causalidade (a origem da ideia de infinito e perfeição): Descartes
descobre a imperfeição da sua natureza em comparação com a ideia de um ser perfeito,
esse ser é Deus.
- argumento ontológico: baseado no argumento de Santo Anselmo, Deus existe, porque
necessariamente tem de existir para que tudo possa ter existência. Se Deus é perfeito,
então existe. Para ser perfeito, um ser tem de possuir todos os predicados que lhe
conferem a perfeição, logo tem de possuir o predicado da existência, ou seja, tem de
existir.

9. Mostrar a posição de Descartes quanto à possibilidade do conhecimento.


Há assim dois pilares centrais na teoria do conhecimento de Descartes: o cogito e Deus. O
cogito é o primeiro conhecimento claro e distinto que encontra. O segundo é a ideia de um
Deus perfeito, omnipotente, omnisciente e sumamente bom, que existe e garante que
sempre que encontrar algo mais com carácter de evidência, pode aceitá-lo como
conhecimento verdadeiro. Assim, para Descartes não há limites quanto ao conhecimento
sendo possível todas as questões serem explicadas e compreendidas incluindo as
questões metafísicas. Neste domínio, Descartes é um dogmático pois tudo pode ser
conhecido e compreendido.
10. Reconhecer David Hume como um empirista.
Frequentemente apresentado como empirista e também como cético, Hume é um
naturalista, pois o seu objectivo central foi mostrar que fazemos parte da ordem natural.
Foi o último de uma longa tradição de importantes empiristas britânicos. À semelhança dos
demais defensores da doutrina, afirmou que: todo o conhecimento deriva da experiência, a
mente é, à partida, uma tábua rasa e não existem ideias inatas. Para percebermos o
empirismo de Hume, colocaremos três questões fundamentais: de onde provém o
conhecimento? Como procede o espírito ao racionar e construir o conhecimento? Que tipo
de conhecimento se pode obter?

11. Distinguir os dois tipos de percepções: impressõe s de ideias.


Impressões: Podem ser impressões de sensação (cores, sons..) e impressões de reflexão
(alegria, ódio..). Correspondem a experiências; são mais vívidas, mas fortes do que as
ideias, isto é, mais claras e mais pormenorizadas.
Ideias: São um produto da memória ou da imaginação, da memória, quando recordamos
uma impressão passada; da imaginação, quando formamos no nosso espírito a imagem de
um objecto possível ou existente. São cópias das impressões, representações e imagens
das impressões; são menos vívidas, menos fortes, são as imagens enfraquecidas das
impressões no pensamento e no raciocínio.
12. Explicar a existência de ideias simples e ideias complexas e exemplificar.

As ideias necessitam de um critério de sentido. Tem sentido uma ideia se é apoiada em


impressões. As ideias de sangue ou de dor de dentes são ideias com sentido. Outras, como
as ideias de alma e Deus, carecem de impressões, sendo, por isso, ideias sem sent ido.
Hume afirma a existência de ideias simples e ideias complexas. As ideias simples são ideias
que não podem ser decompostas, como a ideia de cor ou de forma; derivam de impressões
simples. As ideias complexas são combinações de ideias simples. A ideia de uma montanha
dourada, por exemplo, é uma ideia complexa, pois é composta pelas ideias simples de
montanha e de dourado.

13. Explicar os dois tipos de conhecimento, segundo Hume.


Podemos obter dois tipos de conhecimento: conhecimento de ideias (sobre relações de
ideias) e conhecimento de factos (sobre questões de facto)
Conhecimento de ideias ou relações de ideias: afirmações como “doze é o triplo de
quatro” ou “um triângulo é um polígono de três lados” são exemplos de relações de ideias; é
um conhecimento a priori e consiste em estabelecer relações entre ideias que constituem
cada um das proposições; a sua verdade pode ser conhecida pela mera inspecção lógica do
que afirmam. São verdades necessárias baseadas exclusivamente no princípio da não
contradição; as verdades da lógica ou da matemática, são deste tipo e podem ser conhecidas
sem recurso às impressões; diríamos que são verdades analíticas e, como tal, nada nos
dizem sobre o que existe e acontece no mundo.
Conhecimento de questões de facto ou conhecimento de factos: afirmações como “a
neve é branca e fria” ou “o calor dilata os corpos” são, segundo Hume, verdades que
implicam justificação pela experiência; o seu valor de verdade está dependente do teste
empírico, é um conhecimento a posteriori; diríamos que estamos perante verdades sintéticas,
que nos dizem qualquer coisa sobre o que acontece e se passa no mundo e que não está
presente nos elementos relacionados.
Ora, as questões de facto assentam justamente sobre a relação de causa e efeito, que é uma
conexão especialmente importante.

14. Reconhecer o papel do hábito/costume no conhecimento de questões de facto.


As questões de facto assentam justamente sobre a relação causa e efeito, que é uma
conexão causal importante que ocorre entre dois elementos, por ex: a chama e o calor.
Hume defende que a crença na regularidade causal dos fenómenos que ocorrem no mundo é
justificada como sendo um produto do costume ou do hábito. É pelo costume ou hábito que
somos levados a acreditar na relação causal entre fenómenos. Habituámo-nos a ter a
experiência de sequências naturais que se repetem ao longo dos tempos, desde a
experiência vivida no passado, no presente e daí se infere que poderá vir a acontecer no
futuro.
15. Explicar a ideia de conexão causal e o problema da indução na explicação do
conhecimento.
A ideia de conexão causal entre acontecimentos é algo de que não temos qualquer
impressão e qualquer ideia. Limitamo-nos a projetar para os acontecimentos a nossa própria
tendência para inferir um acontecimento a partir do aparecimento de outro. Se B sucede a A,
não podemos observar desta relação mais do que uma mera contiguidade no espaço e no
tempo. Quando a conjugação se torna constante e somos levados a esperar B sempre que
observamos A, dizemos então que A causa B. É a imaginação e não a razão que produz esta
ideia de conexão entre ocorrências contínuas. O método de raciocínio que David Hume usa
para a compreensão dos fenómenos naturais é a indução que por si próprio apresenta um
problema, uma vez que parte de observação de casos verdadeiros ocorridos no passado mas
não é garantida uma conclusão verdadeira no futuro havendo sempre a probabilidade de ser
ou não ser verdadeira e estar por isso sujeito à contradição.
Assim, a indução levanta problemas e David Hume percebeu as limitações deste tipo de
raciocínio, onde de um número finito de casos particulares se infere uma conclusão geral ou
um caso ulterior que não sustenta as premissas anteriores.
16. Mostrar a posição de David Hume quanto à possibilidade do conhecimento.
Hume é considerado um cético e evidencia o seu ceticismo ao sublinhar os limites da
inteligência humana, mostrando que a parte mais considerável do nosso saber se resolve
nos termos de uma convicção que assenta apenas no costume ou hábito na compreens ão
e explicação dos fenómenos da natureza. As questões de relações de ideias e as
questões metafísicas considera que a inteligência humana não consegue explicar nem
compreender. Neste sentido afasta-se dos céticos radicais ao sustentar que somos
incapazes de suspender o juízo sendo o seu ceticismo é moderado pois afirma que não
podemos considerar o conheciment o como absolutament e verdadeiro, mas admite a
possibilidade de conhecer o mundo exterior.

17.Distinguir as duas teorias quanto à origem do conhecimento (Racionalismo/


Empirismo).
Quanto à origem do conhecimento e segundo a teoria do racionalismo defendida por René
Descartes, a razão é a única fonte de conhecimento seguro, os sentidos e a imaginação são
enganadores, a mente possui, à partida, ideias inatas que são essenciais para o
conhecimento, sendo claras e evidentes. Para a teoria do empirismo defendida por David
Hume, a experiencia sensível é a única fonte de conhecimento, nada existe na mente que
não tenha tido proveniência da experiência sensível, ou seja, a mente é como uma tábua
rasa ou uma folha em branco quando se nasce, não havendo qualquer ideia inata.
Os racionalistas sustentam o seu conhecimento em juízos a priori e, por outro lado, os
empiristas sustentam em juízos a posteriori, ou seja, em questões de facto. Na teoria de
Descartes, desprezam o conhecimento da experiência sensível porque os sentidos podem ser
enganadores, enquanto na teoria de Hume desprezam a razão e valorizam a experiência
sensível.
No racionalismo, a mente opera dedutivamente a partir de premissas evidentes, claras e
distintas e a conclusão é categoricamente verdadeira. Já no empirismo, todo o conhecimento
de factos tem por base as impressões sensíveis, existe um raciocínio indutivo e
consequentemente uma conclusão provavelmente verdadeira.
Para o racionalismo, o modelo do conhecimento é a matemática e para o empirismo, são as
ciências naturais, entre as quais, a física.

Você também pode gostar