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1.

Descrição e interpretação
da atividade cognoscitiva
FONTES DE CONHECIMENTO

JUSTIFICAÇÃO DO
CONHECIMENTO
PENSAMENTO SENTIDOS
OU RAZÃO (EXPERIÊNCIA SENSÍVEL)

Juízos a priori Juízos a posteriori


Exemplo: Exemplo:
«5 + 5 = 10» «O Sol brilha»

Juízos cuja verdade pode ser conhecida Juízos cuja verdade só pode ser conhecida
independentemente de qualquer experiência, através da experiência sensível.
tendo, portanto, origem no pensamento ou razão.

Não são estritamente universais (não são


verdadeiros sempre e em toda a parte) e são
São universais (são verdadeiros sempre e em toda a contingentes – são verdadeiros, mas poderiam
parte) e necessários (negá-los implicaria entrar em ser falsos, e negá-los não implica entrar em
contradição). contradição.
MODOS DE CONHECIMENTO

Conhecimento a priori Conhecimento a posteriori

Baseia-se em juízos a priori, tendo a sua fonte ou Baseia-se em juízos a posteriori, tendo a sua
origem apenas no pensamento ou na razão. É origem na experiência. É o conhecimento
justificado pela razão e não pela experiência. empírico, justificado pela experiência.

Todo o conhecimento começa com a experiência,


mas nem todo deriva da experiência , segundo Kant.
1.2.1. Origem do conhecimento
ORIGEM DO CONHECIMENTO

RACIONALISMO EMPIRISMO
(Racionalismo do século XVII) (Empirismo inglês do século XVIII)

Filósofos: Será que todo o nosso Filósofos:


René Descartes conhecimento provém da John Locke
(1596-1650) experiência? (1632-1704)
Ou será que provém
Gottfried Leibniz também da razão? George Berkeley
(1646-1716) Ou procederá de ambas (1685-1753)
Bento de Espinosa estas fontes, mas tem David Hume
(1632-1677) maior importância (1711-1776)
Nicolas Malebranche quando provém de uma
(1638-1715) do que de outra?
FUNDACIONALISMO

O conhecimento deve ser concebido como uma estrutura que se ergue e se


desenvolve a partir de fundamentos certos, seguros e indubitáveis.

RAZÃO Combinação da EXPERIÊNCIA


RAZÃO e da
EXPERIÊNCIA
RACIONALISMO EMPIRISMO

Valorização do Valorização do
conhecimento a conhecimento a
priori (mas não se posteriori (mas não
nega a existência se nega a existência
do conhecimento a do conhecimento a
posteriori). priori).
FUNDACIONALISMO De acordo com a definição tradicional de
conhecimento, uma crença encontra-se justificada se
tivermos razões para pensar que ela é verdadeira.

Uma crença é justificada por outra, a qual por sua vez


é justificada por outra e assim sucessivamente.

A justificação é inferencial: a crença justificada infere-


se daquela que a justifica.

Corre-se o risco da regressão infinita da justificação.

permitem evitar a

crenças básicas ou fundacionais


FUNDACIONALISMO

Crenças básicas Crenças não básicas

infalíveis – não podem estar erradas

incorrigíveis – não podem ser refutadas

indubitáveis – não podem ser postas em dúvida

Suportam o sistema do saber.


Não necessitam de uma
justificação fornecida por
outras crenças, porque se São justificadas por outras
justificam a si mesmas. crenças.
1.2.2. Possibilidade do conhecimento
Possibilidade do conhecimento

Será que o sujeito apreende efetivamente o objeto?


Será que o conhecimento é possível?

SIM NÃO

DOGMATISMO CETICISMO
CETICISMO RADICAL
Estado de
- É impossível ao sujeito apreender o objeto. neutralidade em
- O conhecimento não é possível. que nada se afirma
e nada se nega.
- Nega-se que haja justificações suficientes para as
nossas crenças.
Conduz à ataraxia
ou ausência de
Argumentos para a suspensão do juízo perturbação.

A existência, O facto de os A existência de O facto de nada se


relativamente ao objetos, pelas opiniões compreender por si
mesmo objeto, diversas formas divergentes a e o facto de nada
de sensações e como se nos respeito dos mais poder ser
perceções apresentam, variados assuntos verdadeiramente
diferentes, e até desencadearem compreendido com
incompatíveis. ilusões e base noutra coisa:
aparências (os regressão infinita
sentidos da justificação.
enganam-nos).

CONTRADIÇÃO: exprime o conhecimento de que o conhecimento não é possível.


CETICISMO
MITIGADO

Não estabelece a impossibilidade do conhecimento,


mas sim a impossibilidade de um saber rigoroso.

Não podemos afirmar se este ou aquele juízo é ou


não verdadeiro, se corresponde ou não à realidade,
apenas podemos dizer se é ou não provável ou
verosímil.

CONTRADIÇÃO: o conceito de «probabilidade»


pressupõe o de «verdade».
CETICISMO

Importante no nosso desenvolvimento intelectual.

Inconformismo perante as soluções apresentadas e


busca de novas soluções.

Ceticismo Ceticismo
metódico sistemático

É um meio para Adota a dúvida como


alcançar a verdade. um princípio definitivo
1.2.3. O racionalismo de René Descartes
RENÉ DESCARTES
(1596-1650)

Filósofo racionalista

A razão a fonte principal do conhecimento:


fonte do conhecimento universal e necessário.

Procurou na razão os fundamentos do conhecimento.

Tentativa de superação dos argumentos dos céticos radicais.


REGRAS DO MÉTODO

Permitem guiar a razão (o bom senso),


orientando duas operações fundamentais:

Intuição Dedução

Ato de apreensão direta Encadeamento de


e imediata de noções intuições, envolvendo
simples, evidentes e um movimento do
indubitáveis. pensamento, desde os
princípios evidentes até
às consequências
necessárias.
DÚVIDA

Recusar todas as crenças em que se note a


mínima suspeita de incerteza.

É um instrumento da luz natural ou razão, posto


ao serviço da verdade.

RAZÕES QUE JUSTIFICAM A DÚVIDA

Por causa dos Porque os Porque não Porque alguns Porque pode
preconceitos e sentidos são dispomos de um seres humanos se existir um deus
dos juízos muitas vezes critério que nos enganaram nas enganador, ou
precipitados que enganadores. permita discernir demonstrações um génio
formulámos na o sonho da vigília. matemáticas. maligno, que
infância. sempre nos
engana.
CARACTERÍSTICAS
DA DÚVIDA

Metódica e provisória Hiperbólica Universal e radical

É um meio para atingir Rejeita como se fosse Incide não só sobre o


a certeza e a verdade, falso tudo aquilo em conhecimento em
não constituindo um que se note a mínima geral, como também
fim em si mesma. suspeita de incerteza. sobre os seus
fundamentos e as suas
raízes.
DÚVIDA

EXERCÍCIO SUSPENSÃO DO JUÍZO


VOLUNTÁRIO

FUNÇÃO DA DÚVIDA

Tem uma função catártica, já que liberta o espírito dos erros que o
podem perturbar ao longo do processo de indagação da verdade.

Abre caminho à possibilidade de reconstruir, com fundamentos sólidos,


o edifício do saber.
Dúvida – ato
livre

Ser que «Penso, logo


Cogito –
pensa e existo.»
verdade
duvida («Cogito,
incontestável
ergo sum.»)

Afirmação da
minha
existência
CARACTERÍSTICAS DO COGITO

É um princípio evidente e indubitável, uma certeza inabalável.

Obtém-se por intuição, de modo inteiramente racional e a priori.

Serve de modelo do conhecimento: fornece o critério de verdade.

É uma crença fundacional relativamente a todo o sistema do saber.

Apresenta a condição da dúvida e impõe uma exceção à sua universalidade.

Revela a natureza ou a essência do sujeito: o pensamento ou alma.

Refere-se a toda a atividade consciente, distinguindo-se do corpo.


CRITÉRIO DE VERDADE

CLAREZA DISTINÇÃO

Separação de uma
ideia relativamente a
Presença da ideia ao EVIDÊNCIA outras: não lhe estão
espírito. associados elementos
que não lhe
pertençam.

Ainda não afastámos a hipótese do deus enganador. Necessitamos de demonstrar a


existência de um deus que não nos engane.
SER IMPERFEITO: possuir o saber é uma
SUJEITO PENSANTE
perfeição maior do que duvidar.

Dispõe de ideias Tipos de ideias

Adventícias Factícias Inatas

Têm origem na São fabricadas pela São ideias


experiência sensível. imaginação. constitutivas da
própria razão.

Exemplos: ideias de Exemplos: ideias de Exemplos: ideias de


árvore, cebola, sereia, unicórnio, pensamento,
relógio. dragão. existência, triângulo,
ser perfeito.
IDEIA DE SER PERFEITO : noção de um ser
omnisciente, omnipotente e sumamente bom.

PROVAS DA EXISTÊNCIA DE DEUS

1.ª prova 2.ª prova 3.ª prova

Argumento Argumento da marca A causa da existência


ontológico: na ideia de impressa: a causa que do ser pensante e
ser perfeito estão faz com que a ideia de imperfeito não é ele
compreendidas todas ser perfeito, que próprio. De contrário,
as perfeições; a representa uma daria a si próprio as
existência é uma substância infinita, se perfeições de que tem
dessas perfeições; encontre em nós não ideia. Além disso,
logo, Deus existe pode ser outro ser como o sujeito finito
necessariamente. O senão Deus, que não possui o poder de
facto de existir é possui todas as se conservar no seu
inerente à essência de perfeições próprio ser, o seu
Deus. representadas nessa criador e conservador
ideia. é Deus (causa sui).
É um ser perfeito e não é É infinito, a fonte do bem e
enganador. da verdade.

É a garantia da verdade É omnipotente, eterno e


objetiva das ideias claras e omnisciente.
distintas.
Embora criador do
É o criador das verdades DEUS Universo, não é autor do
- a sua
eternas, a origem do ser e mal nem responsável pelos
importância
o fundamento da certeza. no sistema
nossos erros.
cartesiano
Garante a adequação entre É o princípio do ser e do
o pensamento evidente e a conhecimento.
realidade.
Permite superar os
Legitima o valor da ciência argumentos dos céticos
e confere objetividade ao radicais e provar a
conhecimento. existência do mundo
exterior.
Três tipos de
substâncias e seus
atributos essenciais

Substância pensante Substância extensa Substância divina


(res cogitans) (res extensa) (res divina)

Pensamento Extensão Vários atributos, todos


eles numa perfeição
infinita.

Alma Corpo Qualidades objetivas

Qualidades subjetivas
Ser humano
Fundacionalismo de Descartes

Ideias inatas
– conhecimento claro e distinto

Principais verdades:
- a existência do pensamento (alma), traduzida no cogito;
- a existência de Deus, ser perfeito, com os atributos respetivos;
- a existência de corpos extensos em comprimento, largura e altura.

O fundamento do conhecimento é o cogito, enquanto crença básica ou


fundacional e primeira verdade, e outras ideias claras e distintas da razão.

Todavia, este fundamento do conhecimento depende daquele que é o


princípio de toda a realidade: Deus.

CÍRCULO CARTESIANO: o facto de a ideia que temos de Deus ser clara e


distinta garante-nos que Deus existe; mas é Deus quem garante a verdade e a
objetividade das ideias claras e distintas.

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